Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ESPM
ESPM-SP
São Paulo
2018
LUÍSA COSTA CAMPOS DE MOURA
São Paulo
2018
RESUMO
Este projeto de pesquisa se propõe a investigar o varejo fast fashion e o modus operandi da rede
Riachuelo. Desse modo, firmamos como objetivo principal da pesquisa compreender os processos
imbricados na configuração de uma rede de varejo fast fashion. Como objetivos específicos,
propomo-nos a refletir a concepção do conceito fast fashion, a estudar a constituição das redes
fast fashion no cenário brasileiro e a entender em que momento e de que modo a Riachuelo passa
a adotar o fast fashion. Para atingi-los, valer-nos-emos de pesquisas bibliográfica e documental,
além do estudo de caso de inspiração netnográfica, e nos apoiaremos em autores como Barbosa,
Slater, Lipovetsky, Cietta e Lemos. Ao longo do trabalho, exploramos conceitos como a cultura
do consumo, o hiperconsumo e o varejo fast fashion, discorrendo também a respeito da
constituição e da evolução da moda. Apreendemos que a moda representa uma relevante forma
de expressão individual e compõe um retrato de uma sociedade, de forma que a temos como uma
maneira de comunicação. Vimos, ademais, que o fast fashion requer condições específicas de
produção, distribuição, estocagem e venda dos produtos, a fim de que sua proposta seja firmada
de maneira desejada. Tomamos contato, portanto, com a postura da Riachuelo nas redes sociais,
de modo que verificamos um forte apelo comercial em suas postagens, refletindo a configuração
da essência do varejo fast fashion de rápida conversão de vendas, que conhecemos ao longo de
nosso estudo.
Este capítulo abre precedentes para atender ao primeiro objetivo específico deste
projeto, que consiste em refletir a concepção do conceito fast fashion. Tal empreitada
ocorre por meio de uma contextualização do ambiente de consumo estabelecido
atualmente e do posicionando a moda como segmento importante desse contexto, seguida
por uma conceituação do fast fashion em si. Para isso, nos baseamos fundamentalmente
em uma pesquisa de cunho bibliográfico, recorrendo a autores como Slater (2002),
Lipovetsky (2007), Rocha (2005), Erner (2005) e Cietta (2010). O primeiro discute
conceitos como o de cultura do consumo, enquanto o segundo comenta a respeito de um
hiperconsumo e o terceiro destaca o quão importante é o estudo do consumo no ambiente
acadêmico atualmente. Lipovetsky (1989), ademais, oferece uma análise mais
aprofundada do cenário da moda. Erner (2005) e Cietta (2010), no que lhes concerne,
discorrem a respeito do fast fashion e do ambiente social que o cerca, a fim de melhor
embasar o cenário exposto. Para melhor organizar o desenvolvimento do capítulo, a
seguir, são traçados subtemas: O consumo e o social; A evolução do consumo; O consumo
dinamizado; A moda além das roupas; Fast Fashion em sua essência; A relevância do
fast fashion.
O consumo é parte integrante do cotidiano, como destacou Rocha (2005). Por conta
dessa proximidade popular com o tópico, o que se tem é uma confusão a respeito de seu
real significado e papel perante a sociedade, haja vista as múltiplas interpretações
possíveis de serem depreendidas de seu conceito. Há, segundo o autor, quem o julgue
negativamente, aplicando-lhe um filtro apocalíptico, ao passo que há quem o considere a
solução dos problemas de insegurança e infelicidade que acometem a humanidade. À
parte disso, é relevado que o consumo é fortemente atrelado a um viés cultural, sendo
responsável por expor características muito pertinentes ao grupo populacional que lhe diz
respeito, o que traduz a necessidade de um estudo mais aprofundado nesse sentido.
O intercâmbio cultural, que se dá, segundo a visão de Stuart Hall (2006) em seu livro
A identidade cultural na pós-modernidade, por meio de uma projeção do interior no
exterior e de uma incorporação do exterior ao interior, estabiliza e unifica os sujeitos e o
ambiente que os cerca, como consequência da constituição da identidade. Essa realidade,
entretanto, está sendo alterada, uma vez que o sujeito já não é mais constituído por apenas
uma identidade, mas por múltiplas, por vezes diferenciadas ou mesmo conflitantes. Nesse
sentido, o estudo da amplitude cultural e não das características exclusivas
individualizadas, que atualmente se mostram ainda mais confusas, permite a identificação
de traços sociais relevantes.
Vislumbrando o papel do consumo num contexto social, Slater (2002) expõe em sua
obra que a prática está sempre atrelada a alguma manifestação cultural, exceto em casos
de carência extrema. Nessas poucas exceções, já não é possível identificar alguma
dignidade humana e é notável uma prevalência do desejo de sobrevivência em detrimento
do de uma vida digna. A partir desse cenário, é notável que enquanto o indivíduo mantiver
seus princípios e valores ele não abdicará de suas escolhas de consumo, e isso refletirá
tanto seu panorama de experiências prévias quanto sua personalidade. Dessa maneira,
analisando o consumo em larga escala, é possível apreender informações valiosas a
respeito de civilizações inteiras, como Rocha (2005) expõe, haja vista a sua capacidade
de denotar particularidades culturais.
Dando início a esse panorama, Slater (2002), em sua obra, remete aos séculos XIV,
XV e XVI para contextualizar o consumo relacionado ao status, uma associação presente
ainda nos dias de hoje. Ele comenta que, à época, a promulgação de leis suntuárias influía
nas decisões populares a respeito do que poderia ser comprado e utilizado, restringindo
alguns itens mais visados à nobreza. Nessa perspectiva, conquistar um bem era afirmar a
classe social e, consequentemente, o poder perante a comunidade como um todo. As leis
tinham uma conotação religiosa e foram, durante muitos anos, lidas dentro das igrejas, o
que culminou no repúdio ao exagero e ao luxo pela maior parte da sociedade, uma vez
que os itens não permitidos eram vistos como impróprios. Sucumbir a eles era uma
rebeldia sem fundamento, uma tendência à loucura, segundo Slater (2002). O luxo, nesse
caso, era interpretado como uma superação não só das necessidades básicas, mas também
do status individual, gerada quando a paixão ultrapassava a razão.
No período final do século XVII, de acordo com o exposto por Slater (2002), as
tradições são revisitadas, incluindo os dilemas a respeito do luxo e as leis suntuárias. Isso
se deu, como mostra o autor, como uma maneira de reagir às mudanças econômicas que
surgiam e, consequentemente, influenciavam toda a ordem social. Nesse ínterim, o
consumo deixa de ser visto como um mero “esgotamento” econômico e assume a posição
de demanda que movimenta a economia, algo indispensável para o seu pleno
funcionamento. Há uma ressignificação do consumo também na esfera política, que passa
a encarar como necessária a educação dos cidadãos de modo que suas necessidades
refletissem as do Estado, a fim de gerar lucro e riqueza. É o surgimento do liberalismo de
Adam Smith e da valorização do comércio, com o discurso pautado na defesa do “direito
do consumidor a adquirir bens produzidos com eficiência e, por isso, mais baratos nas
condições de desregulamentação econômica liberal, mas também [...] [no] potencial de
crescimento econômico (e da divisão de trabalho) [...] determinado pelo tamanho e
extensão dos mercados”. (SLATER, 2002, p. 173).
A ascensão do consumo de luxo, como expõe Slater (2002), estava fortemente
atrelada ao surgimento de uma economia baseada no dinheiro e suas novas concepções
de riqueza. Na Grã-Bretanha, onde houve a chamada “revolução financeira” entre o final
do século XVII e meados do século XVIII, tais aspectos se tornaram ainda mais
relevantes, com base também no aumento de frequência das trocas e do comércio. As
pessoas não mais se restringiam às compras determinadas às suas classes, mas desejavam
ser livres para decidirem o que lhes convinha comprar. O dinheiro, segundo Slater (2002),
foi o responsável por romper a velha ordem, ao permitir que as transações econômicas
fossem responsáveis, no lugar das tradições, pela legitimidade das relações.
Acompanhando a nova realidade econômica surgem novas medidas de controle,
materializadas, por exemplo, nos impostos e nas especulações monetárias. Aparecem,
dessa maneira, acusações de corrupção e debates a respeito da “riqueza móvel”, que se
opõe à antiga configuração de riqueza baseada na posse de terras, que era fixa. Surgem
também os assaltos, uma vez que o crime é consequência não da carência, mas da nova
possibilidade de ascensão.
Em segunda instância, como apresentado por Slater (2002), essa revisão da revolução
do consumo indica o surgimento do sistema de moda como consequência do aumento do
número de consumidores ativos. A aceleração do ritmo de substituição de estilos e o
anseio generalizado pelo “novo”, a partir daí, geram uma configuração inovadora da
demanda do consumidor, geralmente atrelada à evolução da sociedade tradicional para a
moderna. Anteriormente a isso, havia a já registrada ideia de posição fixa no status social,
de modo que o requinte no consumo era algo restrito às classes mais altas,
independentemente de questões de preço. Com a moda, a rigidez das classes se dissolve
paulatinamente e o status se torna algo fluido, o que posteriormente evoluiu para uma
espécie de competição causada pela revolução do consumo, sumarizada no conceito de
trickle-down: as classes mais baixas espelham seu consumo nas mais abastadas, a fim de
se tornar como elas.
Nesse sentido, a palavra “comércio” começou a simbolizar mais que simples trocas:
incorporou a perspectiva de um intercâmbio social, troca de experiências e interação entre
pessoas. Slater (2002) comenta que, para aqueles que criticavam o comércio, a palavra
também passou a ser sinônimo de orgia. Tal imagem, entretanto, não abalou a posição
comercial em meio à sociedade, que promovia a troca de experiências e opiniões
livremente e enaltecia esses valores de liberdade. O comércio se tornou um degrau para
atingir a civilização, por meio da interação entre diferentes nações, devido à busca pelo
interesse individual e consequente abandono de perspectivas que gerariam discordâncias.
Esses inovadores projetos, segundo Slater (2002), ainda não eram modelos industriais
com máquinas nem possuíam uma orientação de produção voltada para a moda, ou
mesmo eram frutos de grandes investimentos econômicos. Eles eram, verdadeiramente,
oportunistas comerciais, orientados para as vendas de itens produzidos em larga escala e
revendidos para clientes pulverizados geograficamente. Como trazido por Slater (2002),
são “a negociação e o comércio (e não a produção ou o consumo) que começam a tomar
vulto no início da era moderna” (SLATER, 2002, p. 29). Assim, constituíam um atalho
para o abandono da agricultura e a aceitação da modernidade e exibiam muitas das
representações pelas quais posteriormente a sociedade em questão seria compreendida e
associada a uma cultura do consumo.
O século XIX é apontado tanto por Slater (2002) quanto por Lipovetsky (2007) o
marco inicial para a formulação do consumo como o conhecemos hoje, quando surgiram
manufaturas especializadas em bens de consumo, diferentemente das manufaturas de
bens de capital anteriores. Conforme comentado por Slater (2002), nessa época era
possível identificar questões como a viabilização geográfica e social do mercado, uma
melhor formalização da produção e também a sua configuração de manufatura em massa,
fatores imprescindíveis para a constituição do consumo mais dinâmico vivenciado
atualmente.
Slater (2002) compartilha da visão de que é no período a partir de 1880 que todos os
fatores que formaram a atual configuração do consumo se consolidaram, considerando
também a existência de uma norma que regia a produção e a comercialização de bens. De
acordo com ele, a partir desse momento
A marca se torna fator determinante da compra dos mais variados itens, que eram
atrelados a uma ótica de tradição e proveniência de qualidade. O varejista, que até então
detinha essas características, perde sua fidelidade para as marcas reconhecidas pelo
público, num processo que “transformou o cliente tradicional em consumidor moderno,
em consumidor de marcas a ser educado e seduzido especialmente pela publicidade”.
(LIPOVETSKY, 2007, p. 30). É possível afirmar, logo, que o surgimento simultâneo do
acondicionamento, da marca e da publicidade foi responsável pela transformação do
consumo de objetos em um consumo de ideias.
De acordo com Slater (2002), entretanto, se consideramos tal época o berço da atual
configuração do consumo do consumo, isso se dá apenas porque esse conceito foi
representado pela massificação da produção e do consumo. Analisando o período anterior
mais a fundo seria possível notar que o contexto em questão é apenas uma consequência
do que aconteceu nas décadas que lhe precederam, tendo em vista que, mesmo antes da
produção em massa, os críticos sociais já o concebiam em teorias para justificar seus
ataques, a sociedade geral já o conhecia ideologicamente e a porção mais abastada já o
experienciava.
Observando, desse modo, o período de meados do século XIX, Slater (2002) comenta
a existência de uma ideia de modernização já consolidada, antes mesmo de isso se tornar
uma realidade social concreta. Isso é notável se considerarmos que, durante a Exposição
de Londres, em 1851, o desejo maior era exibir os grandes feitos da modernidade, e já na
de Paris, em 1889, os objetos eram precificados. Era registrada uma transformação da
realidade moderna em bens de consumo, em uma época ainda anterior ao surgimento da
indústria de massa, que foi viabilizada, segundo Lipovetsky (2007), somente após o
aumento da demanda popular por produtos industrializados.
A primeira fase do consumo traçada por Lipovetsky (2007) compreende o período até
o fim da Segunda Guerra Mundial e é marcada especialmente pela dinamização do
consumo e da produção. É nessa fase I que se situa o fordismo e popularização de
produtos padronizados, que eram distribuídos a baixo custo para toda a nação, a fim de
obter maior aproveitamento dos itens fabricados em ritmo frenético. As próprias fábricas
passavam por uma reformulação que permitia a aceleração do ritmo produtivo, com base
na especialização intensiva dos funcionários, que compartilhavam, cada um em sua
função, a produção do item.
Como outro ponto de destaque dessa época, Lipovetsky (2007) ressalta a ideia
difundida pelo marketing que, junto aos esforços de barateamento produtivo, mobilizou
o consumo para outro patamar. Foi necessário instruir os consumidores a comprar em
grandes quantidades, a fim de balancear as margens mais baixas de lucro. Oferecer
produtos com percentual de lucro mais alto porém preços igualmente altos ao consumidor
já não era vantajoso para os comerciantes. O foco, desse modo, era tornar os produtos
acessíveis à massa, que sustentaria o rebuscado sistema produtivo vigente. Durante a
chamada fase I, todavia, os itens ficaram restritos a uma parcela burguesa capaz de possuí-
los e ainda detinham uma imagem de luxo associada a eles, especialmente os
eletrodomésticos e os automóveis.
Na acepção de Slater (2002) esse período pode ser identificado como o pós-
fordismo, especialmente após a década de 1970, e engloba, tal qual mencionado por
Lipovetsky (2007), uma reorganização da lógica produtiva. Além da evolução na
distribuição dos produtos, é possível identificar, segundo ele, uma flexibilização do
sistema fabril, de maneira que era possível fabricar itens diferentes e não depender de um
estoque acumulado de grandes proporções. Para que isso funcionasse, por sua vez, deu-
se o surgimento de sistemas computacionais e de uma maior informatização de toda a
rede de produção, o que tornava os custos de fabricação de itens personalizados em
pequenas quantidades similares aos da fabricação de itens padronizados em larga escala.
A modalidade da personalização era preferível, no entanto, por se adaptar à efemeridade
dos desejos do mercado e aos seus anseios por diferenciação, que se concretizavam no
fortalecimento do design.
A flexibilização, por sua vez, vai além da linha de produção e atinge outros setores
envolvidos no processo da venda. Slater (2002) expõe que o pós-fordismo também se liga
a uma administração mais ágil, focada na transmissão de informações a respeito do que
vende em tempo real, para que não haja a necessidade de formar grandes estoques como
anteriormente. A própria estrutura das empresas se atualiza e não consiste mais na rígida
hierarquia fordista, mas numa diluída rede de transmissão de informações, com
trabalhadores que também assumem posições ativas em suas jornadas, e não uma mera
replicação de movimentos despidos de significado.
Essas mudanças, segundo Slater (2002), também podem ser encaradas como
provenientes do ambiente externo, ou seja, da própria demanda dos trabalhadores por
itens diferenciados. É notável uma substituição dos itens padronizados direcionados a
uma massa pelos itens personalizados direcionados para um público específico, o que
ocorre em conjunto com uma alteração de todo o marketing, que no caso fordista
englobava o desejo de expor as diferenças de um produto em relação a seu concorrente,
a fim de agregar sempre mais consumidores ao público atendido. No contexto pós-
fordista, todavia, o marketing trabalha com uma segmentação aprofundada, norteada por
questões que se relacionam ao modo de vida, às preferências e às aspirações do
consumidor, diferentemente da segmentação demográfica ou mesmo geográfica
encontrada em meio ao fordismo. A sociedade, portanto, já não pode ser vista como uma
estrutura coesa, mas como um ambiente com a pluralidade de significados atribuídos pelo
marketing.
A partir desses contextos exibidos por Slater (2002) e Lipovetsky (2007) se torna
mais clara a trajetória traçada pelo consumo até a sua fase contemporânea, em que ele se
dinamiza e interfere em esferas até então impensáveis do cotidiano populacional. Por
meio da análise do consumo vivenciado atualmente, é possível apreender um sem-número
de informações sociais e antropológicas, especialmente quando o relacionando ao
percurso cursado até o momento presente.
Alguns desses autores referenciados que defendem o consumo de signo são Douglas
e Isherwood (1979), que propõem que a mercadoria deveria ser vista como uma
representação do pensamento, além de um mero objeto que atendia a funções aos quais
eram direcionados. Numa acepção similar também é possível identificar Baudrillard
(apud SLATER, 2002), que afirma que o que consumimos não é a utilidade dos itens,
mas as interpretações que fazemos deles, de modo que o que é comercializado é uma
filosofia de vida, e não uma mercadoria física.
Nesse contexto de cultura de consumo, Slater (2002) comenta que o termo se tornou
tão pertinente que passou a ser encarado como sinônimo da sociedade civil. Em suas
palavras,
Essa autonomia individual, por sua vez, é apontada como um dos pilares
componentes da terceira fase do consumo determinada por Lipovetsky (2007), chamada
hiperconsumo, devido à perspectiva de intensificação da influência do consumo no
cotidiano. No período vigente, de acordo com o autor, o que se tem é a compra que visa
à satisfação pessoal, não a simples posse de um objeto despido de significado, numa
interpretação hedonista do consumo. O autor comenta que questões emocionais,
corporais, estéticas ou mesmo lúdicas são grandes motivadoras da afeição pelo produto,
que se dá de maneira distinta em relação a cada indivíduo. Se antes as mercadorias eram
degraus para a ascensão social ou mesmo marcos de distinção de classe, como expôs
Slater (2002), no caso se aproximam a serviços prestados ao consumidor, que quer se
sentir mais feliz e tranquilo, realizado ou mesmo completo com a ajuda delas. As
diferenças sociais de consumo continuam existindo, mas já não são um fator motivador
da compra, dentre tantos outros mais profundos e particulares. O consumo já não tem
enfoque no outro, mas em si mesmo, com as próprias escolhas, preferências e prioridades.
Independentemente de sua carga estética, ora interpretada como essencial, ora como
inexistente, a moda se relaciona intimamente com a expressão individualista e com o
hedonismo vivenciado atualmente, segundo Lipovetsky (1989), que identifica uma moda
consumada. Para ele, ela engloba a vida da sociedade de forma generalizada, tornando-a
imersa nesse sistema de efemeridade, sedução e diferenciação marginal. A sociedade
como um todo se torna mais burocrática e frívola, de modo que não há mais imposições,
mas a simples manifestação da vontade individual. A efemeridade, de acordo com
Lipovetsky (1989), decorre do próprio hedonismo individualista, já que se o item
adquirido não proporciona mais prazer ele é enxergado de maneira indiferente e pode ser
facilmente descartado, uma vez que seu valor se impõe não pelo objeto em si, mas pelas
sensações que ele é capaz de provocar. Os indivíduos, a partir daí, despem paulatinamente
os produtos possuídos de significados, tornando a relação de posse dos objetos mais
volátil.
Lipovetsky (1989) comenta que isso está atrelado a uma nova visão a respeito da
moda consumada, relacionada à trajetória do individualismo nesse setor. Houve a
multiplicação de opções disponíveis para o consumo, o que também se associa ao
crescimento de oportunidades para o exercício do poder de escolha particular. A moda
traduz uma unificação de padrões, mas também possibilita a autonomia e a ruptura com
esses próprios padrões impostos. Dessa forma, ao invés de um fortalecimento da
influência social, conforme críticos pensavam, o que se tinha de fato era uma
radicalização do individualismo, ao passo que as pessoas se tornavam mais independentes
não apenas no âmbito do consumo, mas em todas as esferas do cotidiano, como um
reflexo da moda.
Na perspectiva desse cenário, a Alta Costura imperou como influente durante muitas
décadas, haja vista a incapacidade de a moda industrial produzir de fato alguma
identidade original nesse contexto. Lipovetsky (1989) comenta, entretanto, que com a
chegada do prêt-à-porter a situação se alterou de maneira significativa. A expressão,
também representada como ready to wear, se refere ao modelo produtivo de moda
dominado pelos estilistas, que confeccionavam um número significativo de peças para
então comercializá-las, de modo que estivessem prontas para o uso no momento da venda,
mas trouxessem informação de moda. Passou a caber ao prêt-à-porter, portanto, a posição
de vanguarda na moda, dada a agilidade de seu sistema entre a idealização e a produção
das vestimentas, que também eram submetidas à linhagem industrial.
A fabricação industrial, por sua vez, tornava a moda mais acessível e viabilizava que
grupos sociais até então restritos às pequenas confecções de má qualidade acessassem
modelos atualizados e imprimissem aí a soberania da escolha individual, segundo
Lipovetsky (1989). O prêt-à-porter simbolizou a real democratização da moda,
encontrada também na possibilidade de a produção acompanhar o que era demandado
pelos consumidores, de modo que as ruas passaram a ter um papel relevante nessa
construção de tendências de representação comportamental ou estética. Já não havia mais
a percepção de uma confecção sob medida original e de uma produção em série mimetista,
mas a possibilidade de fabricação de modelos com identidade pelos mais variados preços,
dentro do sistema de prêt-à-porter. As produções mais baratas, associadas ao conforto e
ao humor, por exemplo, oferecem grande apelo aos jovens, e se tornam uma boa
representação do novo, assim como não é necessária a plena substituição do que foi
vestido na temporada anterior, destaca Lipovetsky (1989). Ele afirma, ainda, que “a alta
moda não é mais do que uma fonte de inspiração livre sem prioridade, ao lado de muitas
outras [...] dotadas de igual importância. Enquanto os focos de inspiração se multiplicam
e a subordinação aos modelos da última moda decresce, o vestuário industrial chega à era
da criação estética e da personalização”. (LIPOVETSKY, 1989, p. 114).
Ademais, o fast fashion pode ser retratado como a evolução natural da moda,
considerando sua essência frívola e efêmera delineada por Lipovetsky (1989). Ele é um
sistema regido pela efemeridade, em que as coleções são lançadas e esquecidas em poucas
semanas. Em matéria do portal The New York Times Magazine, Masoud Golsorkhi, editor
da revista inglesa Tank, afirma que, as principais marcas de moda comumente trabalham
com um intervalo de quatro meses entre o lançamento de uma coleção nas lojas e sua
completa substituição, enquanto na Zara, que corresponde ao modelo fast fashion, o
estoque é completamente renovado em cerca de onze dias.
Numa abordagem econômica, o portal Euromonitor destaca o fast fashion como saída
escolhida por muitos consumidores que visam diminuir os gastos nos tempos de crise,
especialmente pela sua capacidade de oferecer moda atualizada a baixo custo. O curto
ciclo de produção garante que as lojas comercializem aquilo que mais faz sucesso perante
o público e também mantenham o estoque de suas lojas a par do que está sendo desejado,
podendo fazer pedidos ou devoluções de modelagens ou numerações específicas,
otimizando também os investimentos no setor, que se desdobram num melhor retorno
financeiro.
Cietta (2010) afirma, por sua vez, que o sucesso do modelo fast fashion se dá
especificamente pelo modo com que se lida com três fatores: o problema do risco, a gestão
da cadeia criativa e a gestão da cadeia de produção. As constantes pesquisas e análises
empenhadas pelos participantes do setor garantem um desenvolvimento otimizado, seja
por meio do monitoramento de tendências, seja com o acompanhamento de pedidos. O
fast fashion, a partir desse ponto, pode ser interpretado como um caso de sucesso de
negócio para a atualidade, sendo necessário seu estudo mais aprofundado para a discussão
da viabilidade desse modelo numa perspectiva a longo prazo, especialmente na realidade
brasileira.
Cietta (2012) também comenta que o varejo fast fashion compõe uma indústria
híbrida, por relacionar aspectos tanto de objetos artísticos quanto de objetos industriais.
Enquanto no primeiro tipo é notável a ocorrência simultânea da produção e do consumo
do produto e, consequentemente, a influência de fatores como local de consumo ou
mesmo quem consome na composição da equação de valor, no segundo temos um sistema
mais linear e definido, que não está sujeito a tantas variações. A moda se impõe como
híbrida, principalmente, por carregar significados imateriais em si, independentemente do
cunho material dos produtos vendidos. Ademais, tem-se que “O valor do bem é [...]
estreitamente dependente da experiência do próprio consumidor” (CIETTA, 2012, p. 73).
Nesse sentido, tal experiência é orientada pelos chamados gatekeepers, que correspondem
a provedores de opiniões especializadas que esclarecem quais produtos merecem mais
atenção e, no caso da moda, equivalem a jornalistas, blogueiras ou mesmo instituições de
renome. Entretanto, devido a esse contexto, pode surgir a impressão de homogeneidade
por vezes encontrada na moda, como destaca o autor, devido à imagem distorcida
construída pela mídia, que seleciona aspectos semelhantes em meio a um conjunto plural.
Embora haja essa preocupação central com o potencial de consumo dos bens a
serem produzidos, o modelo de negócios requer uma gestão de riscos especializada. Nesse
sentido, é válido situar que tanto a indústria prontista tradicional quanto aqueles que se
valem da produção programada têm enfrentado crises específicas devido aos seus
modelos produtivos. Enquanto a primeira naturalmente se depara com um cenário de
incertezas por entregar suas peças antes de receberem pedidos e tendências surgirem e se
apagarem de maneira ainda mais acelerada, os segundos podem não acompanhar o ritmo
do mercado e se mostrarem obsoletos antes da consumação da venda de todo o estoque.
Marco Ferrone1, ademais, em entrevista concedida a Cietta (2012), afirmou que
1
Fundador da L’Altra Moda, fast fashion romana.
tempo de produção, tipologia do produto, e assim por diante (CIETTA, 2012,
p. 106).
Segundo estudo de Sull e Tuconi (2008, apud Cietta, 2012) a respeito da Zara,
maior varejista de moda do mundo, sua força está intimamente atrelada ao modo com que
recolhe dados, interpreta-os e verifica as hipóteses de aplicação. Tal abordagem, todavia,
incorpora apenas a consideração do risco relacionado à etapa criativo-produtiva, o que é
uma dentre as múltiplas encontrados em meio a esse negócio. Cietta (2012) ressalta que,
além dessa, distribuição, comunicação e consumo também trazem riscos a serem
estudados, que serão detalhados adiante.
A fim de evitar tal situação, é requerida uma expertise industrial, que traduza
adequadamente as características de cada produto no tempo esperado, confluindo a
qualidade e a rapidez, como enfatiza Cietta (2012). A gestão do risco de industrialização
engloba também o controle de parceiros como fornecedores, que podem colaborar com o
aspecto criativo da empresa. No modelo fast fashion, além disso, é essencial que os
parceiros mais próximos sejam aqueles mais envolvidos no desenvolvimento das
coleções, enquanto questões pontuais são direcionadas a ambientes periféricos. Isso está
atrelado também à gestão do risco de distribuição, haja vista a convergência entre
produção e distribuição encontrada nessa forma de negócio.
Considerando o papel das cidades para o fast fashion, ele se mostra ainda mais
particular que no caso das grandes marcas que desfilam nas semanas de moda. Esses
ambientes urbanos se impõem como espaços comerciais e laboratórios de tendências,
trazendo orientações a respeito da percepção dos consumidores em relação a novas
apostas dos produtos. Questões como riscos e custos fixos também são testadas em
ambientes característicos como esses e o desdobramento de todos esses fatores é levado
em consideração para a aplicação em outras regiões. Desse modo, o local de realização
de todos esses testes é tão importante quanto aqueles eleitos para comportarem os pontos
de venda da empresa. É comum para as empresas fast fashion, também, que haja uma
perspectiva local de atuação, dada necessidade de conhecer muito bem o seu público para
atender às demandas de maneira rápida. Mesmo no caso de redes multinacionais há a
preocupação em entender o mercado-alvo e adaptar o portfólio de produtos para a
necessidade de cada região, enfatizando o papel da distribuição na composição da oferta
de valor.
Tal evolução do negócio hoje distancia o fast fashion do quick response system,
de acordo com Cietta (2012), visto que o primeiro depende da sintonia entre produção e
demanda dos clientes, enquanto o segundo não permite interações de subfornecedores
com eles. Ele afirma, referindo-se ao fast fashion, que “o valor do seu produto está
extremamente ligado aos seus tempos de realização e à sua rapidez, e de acordo com isso
estabelece o contato com o cliente e adota as soluções produtivas melhores”. (CIETTA,
2012, p. 197). Além disso, o quick response está mais atrelado à padronização dos
produtos, visando à economia máxima na produção, enquanto o fast fashion se mostra
versátil e hoje engloba desde marcas de entrada até segundas linhas de algumas grifes. É
oportuno ressaltar, todavia, que a velocidade produtiva costuma ser inversamente
proporcional ao preço cobrado pelos produtos, principalmente pela necessidade de
diferenciação e, portanto, produção mais meticulosa dos produtos mais caros. Muito da
entrega do produto advém, pois, da necessidade mercadológica, que influi na qualidade e
na amplitude das ofertas.
A fim de situar nosso objeto de estudo como parte de um cenário amplo, trazemos
dados econômicos a respeito do setor e das principais empresas atuantes. Nesse sentido,
expomos que o setor varejista movimentou, no último ano, numa perspectiva mundial,
13,6 trilhões de dólares, o equivalente a cerca de 46 trilhões de reais, conforme trazido na
relação do Euromonitor2. O Brasil, nesse espectro, é responsável por 915 bilhões de reais
movimentados, situando-se como o décimo primeiro maior mercado do setor. É válido
destacar, ainda, que no cenário nacional as lojas especializadas, em contrapartida às
mercearias e similares, representam mais de 60% do valor gasto pelos consumidores,
diferentemente do contexto global, no qual essa divisão é mais equilibrada. O varejo de
roupas e sapatos, por sua vez, é responsável pela quinta parte da movimentação monetária
dessa porção especializada, o que o posiciona como essencial para a economia brasileira.
2
Disponível em: <http://www.portal.euromonitor.com/portal/statisticsevolution/index>. Acesso em: Out.
2017
pelas vendas, especialmente entre 2015 e 2016, é registrada uma diminuição em 6,3%,
por sua vez.
O cenário de consumo pouco promissor em larga escala, ademais, não impede que
algumas empresas se desenvolvam num ritmo acima da média. Dentre elas está a Renner,
que se tornou a marca líder do setor em 2015, já em meio a esse cenário de crise, e sustenta
a posição até então. Ela, nesse ínterim, cresceu 5,6% em faturamento, e se tornou
detentora de 5,3% do mercado. Como traz o relatório do Euromonitor, parte disso se deve
à estratégia de posicionamento acertada tomada pela empresa, que se insere
principalmente para a classe média alta, englobando também consumidores das classes
mais abastadas que se veem inseridos num contexto generalizado de busca por opções
mais baratas, a fim de não extrapolar o orçamento determinado previamente.
A Renner, no que lhe concerne, pratica o fast fashion como modelo produtivo e
de distribuição. Tendo isso em mente, é oportuno expor que mesmo no cenário de
recessão global encontrado em 2008 algumas companhias do setor detinham taxas de
crescimento acima dos 10%, como a Zara e a Forever 21, conforme registrado no
Euromonitor. Com o passar dos anos, todavia, o número de empresas nessa categoria
aumentou e as taxas de crescimento se estabilizaram em níveis mais baixos, apesar de
ainda acima da média, especialmente no caso dessas grandes redes.
3
Disponível em: <https://www.kantaribopemedia.com/setores-economicos-janeiro-a-junho-2017/>.
Acesso em Out. 2017.
Embora muitas companhias de fast fashion tenham programas de redução do impacto da
produção e deem preferência a materiais como o algodão orgânico, a proposta de
aceleração do processo de fabricação e venda é tida como insustentável por sua natureza,
pois leva a níveis de consumo e descarte excessivos.
4
Marca dirigida por Tom Ford e uma das principais representantes do cenário de luxo internacional em
suas variadas categorias de atuação, que incluem óculos, perfumes, maquiagens e vestuário.
5
Marca fundada pelo estilista homônimo que se consolidou a partir da moda masculina, ícone do estilo
americano essencialmente casual e hoje um dos desfiles mais incensados das semanas de moda
internacionais.
2.7 Principais competidoras
2.7.1 Riachuelo
A história da Riachuelo, conforme trazida pelo seu próprio site7, tem início no ano
de 1947, quando seus fundadores começaram a vender tecidos a preços atrativos em
algumas lojas de rua, e foi essa a realidade que perdurou até o ano de 1979. Nesse ponto,
a empresa foi comprada pelo Grupo Guararapes, da dupla de irmãos Nevaldo e Newton
Rocha, e passou a oferecer roupas prontas, algo que já era praticado pelo grupo, no
formato varejista habitual da empresa. A primeira fábrica da Guararapes, de acordo com
seu portal8, foi fundada em Natal, no Rio Grande do Norte, sede da empresa, ainda em
1958; no entanto, hoje em dia, essa unidade fabril está situada em Extremoz, distrito
industrial do mesmo estado.
6
Plataforma desenvolvida pelo Ipsos Marplan para a pesquisa do consumo de serviços, produtos e marcas
a partir da seleção de variáveis demográficas ou de estilo de vida. Acesso em Out. 2017.
7
Disponível em: < https://www.riachuelo.com.br/a-empresa/historia/>. Acesso em Set. 2017.
8
Disponível em: < http://ri.riachuelo.com.br/show.aspx?idCanal=vw1IOPp7f0b2cA+k+n7G3w==>.
Acesso em Set. 2017.
O portal da empresa expõe, também, que a partir de 2004 se deu o seu processo
de verticalização, algo que está muito atrelado às dimensões produtivas alcançadas na
atualidade. A Riachuelo, como parte do grupo Guararapes, se insere num ambiente de
produção holística, em que “desde o fio até a décima prestação”, tudo é mediado pela
empresa. Retomando então a perspectiva comunicacional, a presença nas mídias de massa
só foi reestabelecida em 2007, com o intuito de divulgar a oferta da moda democrática.
9
Disponível em: <http://www.istoedinheiro.com.br/no-moeda-forte-flavio-rocha-fala-sobre-adocao-do-
modelo-logistico-de-livrarias-e-entrada-da-riachuelo-nos-setores-de-telefonia-e-beleza/>. Acesso em Set.
2017.
10
Apresentação institucional do segundo trimestre de 2017. Disponível em: <http://ri.riachuelo.com.br/>.
Acesso em Set. 2017.
Em 2015, a empresa deu início a um processo de modernização de seu modelo de
distribuição, que passaria a operar inteiramente por SKU em 2016, substituindo o sistema
de grades anterior. Essa nova organização consiste na criação de um código de uso interno
que pode ser identificado facilmente por funcionários e por sistemas virtuais e categoriza
todos os produtos segundo uma sequência de variáveis, de modo que cada produto
disponível tem um código próprio. Diferentemente do código de barras, pode ser lido sem
o auxílio de instrumentos específicos e garante um maior controle de abastecimento,
evitando demarcações recorrentes. Dessa maneira, há menos estoques nas lojas, e as peças
são pedidas segundo a demanda encontrada, desdobrando-se em menos liquidações,
conforme trazido por Flávio Rocha na apresentação de resultados11 aos investidores.
2.7.2 C&A
11
Transcrição da teleconferência de resultados do segundo trimestre de 2017. Disponível em:
<http://ri.riachuelo.com.br/>. Acesso em Set. 2017.
12
Disponível em: < http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-riachuelo-quer-virar-fashion-imp-
,627105>. Acesso em Set. 2017.
13
Disponível em: < https://www.riachuelo.com.br/a-empresa/riachuelo-hoje>. Acesso em Set. 2017.
A C&A é uma empresa holandesa, fundada em 1841 na cidade de Sneek pelos
irmãos Clement e August Brenninkmeijer, detentores das iniciais da sigla, de acordo com
seu site brasileiro14. Ao longo desses anos, a rede se expandiu para 21 países e conta com
mais de 1900 lojas, sempre com enfoque na venda de roupas prontas. A primeira loja
brasileira foi inaugurada em 1976, no Shopping Ibirapuera, em São Paulo, e hoje a rede
dispõe de 279 lojas distribuídas por todos os estados e também no Distrito Federal. A
sede nacional está localizada em Barueri, no estado de São Paulo, e o desenrolar logístico
conta com centros de distribuição em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de um na
própria Barueri, responsável pelo recebimento e processamento de itens importados.
Ainda nos dias de hoje, a C&A é uma empresa familiar e de capital fechado,
pertencente à Cofra Holding AG, sediada na Suíça, como seu portal 15 destaca. Hoje, ela
oferece roupas, acessórios, eletrônicos e produtos financeiros, que são viabilizados pelo
Banco Bradesco, como o cartão C&A, criado ainda em 1984. A holding, por sua vez, atua
também com empreendimentos imobiliários e no segmento de energias renováveis. A
filosofia de trabalho da C&A é oferecer o melhor da moda a preços acessíveis e um de
seus pilares é a sustentabilidade, enfatizada desde 2009, com o primeiro relatório do
tópico de uma empresa de varejo de moda no Brasil, segundo os critérios do Global
Reporting Initiative (GRI). Atualmente há investimentos globais nesse sentido, por meio
de ações que vão desde o engajamento dos funcionários até disponibilização da lista de
fornecedores, passando também pelo desenvolvimento de produtos com materiais de
menor impacto ecológico, a fim de assegurar o cumprimento de questões trabalhistas e
ambientais, como expõe o relatório vigente16.
14
Disponível em: < http://www.cea.com.br/Institucional/Conheca-a-CEA>. Acesso em Set. 2017.
15
Disponível em: < https://saladeimprensa.cea.com.br/sobre-cea/nossa-jornada/>. Acesso em Set. 2017.
16
Disponível em: < http://sustainability.c-and-a.com/pt/sobre-a-ca/>. Acesso em Set. 2017.
2016, também, a C&A foi a fornecedora do uniforme usado pelos atletas brasileiros nas
cerimônias de abertura e encerramento, ganhando grande visibilidade nesse sentido.
2.7.3 Renner
17
Disponível em: < http://www.inteligemcia.com.br/ca-investe-em-colecoes-assinadas-por-grandes-
marcas/>. Acesso em Set. 2017.
18
Disponível em: <http://www.portalnovarejo.com.br/2015/07/14/e-commerce-da-ca-ja-representa-20-
das-vendas/>. Acesso em Set. 2017.
19
Disponível em: < http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,cea-volta-ao-e-commerce-apos-12-
anos-imp-,1626840>. Acesso em Set. 2017.
20
Disponível em: < http://www.lojasrenner.com.br/institucional;jsessionid=DpMvZHSV7L4LbJKsTvb1y
G4r4H4p1g8gRJ2W7btlSvGXWcgvpSyv!-1363725261>. Acesso em Set. 2017.
dita. Dois anos depois, a companhia se tornaria de capital aberto, como se mantém até
hoje.
21
Dispinível em: < http://www.mzweb.com.br/renner/web/conteudo_pt.asp?idioma=0&tipo=55261&
conta=28>. Acesso em Set. 2017.
Ela se tornou, ademais, em 2015, líder do setor em participação de mercado, considerando
o faturamento de cada companhia, e mantém a posição até o momento, conforme exposto
na plataforma Euromonitor22 (2017).
2.7.4 Marisa
O enfoque da Marisa é o público feminino, o que ecoa em seu slogan “De mulher
pra mulher”. Apesar disso, também em 1999 surgiu o conceito de loja Marisa Ampliada,
22
Disponível em: < http://www.portal.euromonitor.com/portal/statisticsevolution/index>. Acesso em Set.
2017.
23
Disponível em: <http://ri.marisa.com.br/show.aspx?idCanal=ljZpdHlJSkRxwNAAka9SXA==>. Acesso
em setembro de 2017.
que também oferece produtos aos homens e às crianças, presente até os dias de hoje.
Ainda nesse ano foi lançado o cartão da empresa, responsável por parte significativa de
suas vendas. A Marisa S. A. teve seu capital aberto em 2007, mas conta com membros da
família Goldfarb em sua grade executiva até a atualidade, quando já representa a maior
rede nacional de moda feminina e lingerie em número de lojas. Segundo apresentação
institucional da empresa, no momento são contabilizadas 388 unidades alocadas em todos
os estados e no Distrito Federal, com centros de distribuição em Goiás, São Paulo, Santa
Catarina e Pernambuco.
A Marisa tem como mote oferecer o melhor da moda para as mulheres da classe
C e, nesse sentido, busca ser inclusiva no desenvolvimento de produtos e também em suas
campanhas, que trazem representações dos mais diversos perfis femininos. Uma de suas
empreitadas mais recentes foi a associação com a atriz Mariana Xavier, famosa pelo papel
de Marcelina na franquia de filmes Minha Mãe É Uma Peça, que se tornou garota-
propaganda em uma campanha de lingeries, rompendo com o padrão geral da moda de
expor somente modelos com corpos irreais, como traz em seu último comunicado para a
imprensa24. As lingeries, ademais, correspondem a porção significativa da atuação da
empresa, contando, em alguns estados, com lojas dedicadas, nomeadas Marisa Lingerie,
e com uma seção exclusiva no site para a criação de listas de presentes para chás de
lingerie25.
24
Disponível em: < http://www.mynewsdesk.com/br/marisa/pressreleases/mariana-xavier-e-a-estrela-da-
campanha-loucas-por-lingerie-da-marisa-2156234>. Acesso em Set. 2017.
25
Disponível em: < http://www.marisa.com.br/cha-de-lingerie>. Acesso em Set. 2017.
26
Disponível em: <https://www.lilianpacce.com.br/moda/marisa-cynthia-hayashi-parceria/>. Acesso em
Set. 2017
Compondo a perspectiva de ações para o futuro há o projeto “TransforMAR”
instituído para geração de resultados até 2020. Nele, a empresa delineia planos de
definição mais aprofundada do mix de produtos destinado a cada loja, segundo perfis
específicos apreendidos por meio de pesquisas. Além disso, há projeções na direção da
otimização da organização do estoque e também a consideração da abertura de um
escritório na Ásia, a fim de auxiliar a negociação com fornecedores.
2.8 Quadro-resumo
Tendo por objetivo trazer maior clareza para o trabalho, construímos um quadro
comparativo, exposto abaixo, elencando as principais competidoras do fast fashion
brasileiro e características significativas para a compreensão de suas propostas. Os
critérios escolhidos retratam parte da trajetória das empresas e questões que formam a
situação atual. Todos os dados expostos dizem respeito à situação das empresas no Brasil,
tendo em vista que a C&A se vale de estratégias distintas neste país, em relação a outros
em que ela atua.
Sob a luz de Yin (2001), pois, conceituamos estudo de caso como “uma
investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto
da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos" (YIN, 2001, p. 32). Ele afirma, ainda, que o estudo de caso é uma
estratégia preferível quando a questão a ser atendida se relaciona com a maneira com que
algo funciona, ou mesmo à sua motivação, compreendendo satisfatoriamente o “como” e
o “por que”. Em nosso trabalho, encontramos questionamentos e objetivos similares a
esses relacionados pelo autor, o que nos traduz, com base nessa primeira abordagem, a
pertinência da escolha desse método de pesquisa para a concretização de nossos ideais.
Embora Yin (2001) afirme que pode haver confluências a partir das variadas
metodologias disponíveis e que elas não se excluem mutuamente, ele enfatiza a vantagem
da escolha do estudo de caso na situação supracitada. Ademais, comenta que a
generalização desenvolvida a partir desse método engloba a expansão de teorias, numa
perspectiva analítica, e não se assemelha a uma generalização estatística, que seria
relativa à ampliação da frequência dos fatos registrados em relação a um todo.
Considerando, ainda, o papel relevante do contexto na composição do objeto de estudo,
tem-se que o planejamento baseado em proposições teóricas auxilia na condução da coleta
e da análise dos dados.
A autora enfatiza, também, que tal metodologia se aplica a situações em que não
é possível ter contato com todo o universo de interesse, elegendo-se, dessa maneira, um
exemplo representativo que possa ser utilizado para a formulação de teorias e conclusões
a serem transmitidas para esse contexto mais abrangente. No âmbito da comunicação,
isso se mostra pertinente na avaliação de situações reais que sejam muito complexas para
permitirem a realização de um experimento ou mesmo para a ilustração de tópicos
específicos dentro de um sistema mais amplo.
Em nosso trabalho, essa coleta ocorre por meio da pesquisa documental, que diz
respeito, conforme afirma Lima (2008), ao “exame ou o reexame de materiais que ainda
não receberam qualquer tratamento analítico, no objetivo de fundamentar interpretações
novas ou complementares sobre o que está sendo investigado” (LIMA, 2008, p. 56). A
autora destaca que tal método é constituído por uma das mais relevantes fontes de dados
e informações que, por sua vez, podem proceder de fontes primárias ou secundárias.
Nesse sentido, as primeiras representam pessoas que vivenciaram de fato a situação
investigada, enquanto as últimas estão atreladas àquelas que não estavam diretamente
ligadas ao fato em questão.
Apesar das vantagens de analisar objetos não explorados, a autora também destaca
alguns empecilhos encontrados na realização de pesquisas documentais. Dentre eles estão
a falta de padronização dos documentos, o que se desdobra na necessidade de
desenvolvimento de processos distintos de análise. Mais além, há a ocasional dificuldade
em extrair fatores significativos desses documentos, visto que muitos deles não foram
concebidos com o intuito de fornecer informações precisas. Nessa perspectiva, Lima
(2008) ressalta que a aplicação da análise documental nas pesquisas acadêmicas deve
estar sempre associada a outra metodologia, a fim de obter resultados mais confiáveis e
também de afastar uma perspectiva enviesada do pesquisador, e pondera, nesse último
caso, sobre a necessidade de um referencial teórico bem sedimentado.
27
Disponível em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-10/relatorio-aponta-brasil-como-
quarto-pais-em-numero-de-usuarios-de-internet>. Acesso em Dez. 2017.
surge numa perspectiva livre e em rede, desenvolve-se permitindo personalizações e
debates, de modo que, conforme afirma Lemos (2010), a cibercultura pode ocasionar uma
reestruturação social, cultural e política.
28
Termo cunhado em 2004 por Tim O’ Reilly.
de cuja existência não há um consenso, que nomeia a mais recente fase colaborativa, em
que os receptores são também os principais produtores de conteúdo. Trazendo a visão de
Lemos e Lévy (2010), percebemos então que “o aperfeiçoamento da inteligência coletiva
(que supõe a liberdade) é o produto e o sentido da evolução cultural” (LEMOS E LÉVY,
2010, p. 38), numa perspectiva em que a personalização do uso das mídias gera também
a sua coletivização e a transformação das barreiras comunicacionais que conhecemos.
Tendo como intuito a conceituação das redes sociais, que servem como espaço a
ser utilizado em nossa análise, aproximamo-nos de Recuero (2009). Ela inicia sua
discussão partindo do conceito matemático de grafos, que equivalem a representações de
redes e auxiliam no estudo de propriedades estruturais de sua composição, o que pode ser
aplicado com sucesso aos estudos sociais, numa perspectiva transdisciplinar. Dessa
maneira, valemo-nos de uma abordagem metafórica para o entendimento das redes
sociais, aplicando também esse conhecimento ao recorte das redes sociais na internet.
Um ator, sob essa ótica, equivale a uma pessoa ou organização ativa na rede, que
atuam como representações de atores sociais. Um perfil em uma rede pode ser
considerado um ator, especialmente pela perspectiva de construção de identidade ali
encontrada, num contexto de “apropriações individuais do ciberespaço [...] como forma
permanente de construção de si” (RECUERO, 2009, p. 26). A autora enfatiza também
que esses perfis têm um caráter dúbio, de representação individual para uma percepção
geral, numa referência à percepção de Sibilia (2003) de que há um “imperativo de
visibilidade” que se impõe como uma necessidade prima de exposição particular. Isso se
atrela, também, à consideração de que a existência no ciberespaço é condicionada à
visibilidade adquirida ali.
Isso ocorre devido à pouca clareza a respeito da constituição dos atores numa rede,
considerando o intermédio dos computadores que possibilita, por exemplo, o surgimento
de interações assíncronas, que se referem àquelas em que não há expectativa de resposta
imediata. Há, ademais, interações que não compreendem mutualidade, entretanto
impactam de maneira igualmente significativa a organização social. Esse sem-número de
interações compõe, por sua vez, as relações, que crescem e se estabelecem como uma
unidade essencial da avaliação de uma rede social, segundo Recuero (2009).
A autora também comenta que esses sites também são direcionados para a
exposição das redes sociais de atores e têm por mote, recorrentemente, a ampliação dessas
redes. É oportuno ressaltar, nesse sentido, que cada site não possui uma rede
independente, mas que, na maioria dos casos, um ator social se vale de múltiplos sites a
fim de desempenhar diferentes atividades e, segundo essa lógica, compõe uma rede
complexa e dispersa por variados destinos. Trazemos, ademais, que esses sites de redes
sociais são apropriados de maneiras distintas de acordo com o grupo que os utiliza, o que
nos permite inferir alguns traços sociais a partir de uma análise mais aprofundada.
3.1.2 A internet compõe o método
Dentre todas essas redes, a conta mais antiga é a do Twitter, criada em julho de
2008. Em seguida temos a do YouTube, que data de maio de 2009, a do Facebook, que
surgiu em março de 2010, e a do Instagram, de junho de 2012. As frequências de
postagens são variadas, indo de várias por dia no Facebook a algumas por mês no
YouTube, atendendo a propostas variadas de uso das redes.
A fim de analisar, entretanto, a presença da Riachuelo nas redes sociais, de modo
a compreender sua inserção no contexto fast fashion brasileiro, estabelecemos aqui um
recorte de análise. Como já explanado anteriormente, nossa exploração se atém às redes
sociais da internet em que a Riachuelo está presente, mais precisamente o Twitter, o
Instagram e o Facebook, por serem redes de maior interação com o público e de postagens
mais frequentes. O período de atividades observado é entre julho e dezembro de 2017,
totalizando um semestre de acompanhamento. A análise é voltada à compreensão de sua
postura comercial a partir dos pontos de contato sugeridos, visando também ao
mapeamento de seu posicionamento como fast fashion na atualidade.
Os dados colhidos são tratados à luz das técnicas de análise de discurso e análise
de imagem trazidas por Manhães (2012) e Coutinho (2012), ambos com abordagem
voltada à pesquisa de Comunicação. Nesse sentido, é oportuno destacar que Manhães nos
traz que “discurso” está diretamente atrelado à uma ideia de movimento, “em curso”.
Dessa maneira, temos que a linguagem está em constante evolução, carregando
significados igualmente volúveis, atribuídos pelo emissor ou pelo seu interlocutor. O
autor afirma, pois, que o discurso “é a apropriação da linguagem [...] por um emissor, o
que confere a este um papel ativo, que o constitui em sujeito da ação social” (MANHÃES,
2012, p. 305). Ele destaca, ainda, a existência de um cunho de persuasão por parte do
emissor, que busca também exprimir assim o seu entendimento de mundo.
Coutinho (2012) afirma, dessa maneira, que após a compreensão dos aspectos
técnicos e artísticos e da intenção do autor da imagem, devemos passar o apreendido para
a forma textual, a fim de registrar a análise no trabalho em construção. Acrescentamos,
outrossim, que embora não seja citada a internet pela autora, adaptamos as suas
orientações para esse ambiente, levando em consideração também seus aspectos próprios.
O presente estudo é construído, conforme já citado, com base nas redes sociais na
internet em que a Riachuelo está presente e é mais ativa: Facebook, Instagram e Twitter.
Analisamos as postagens da marca ao longo do último semestre de 2017, de julho a
dezembro, contudo, considerando o volume de manifestações da Riachuelo nas redes e o
tempo viabilizado para o desenvolvimento do trabalho, fizemos uma seleção de postagens
mais relevantes para a nossa análise. Baseamo-nos, essencialmente, na mobilização do
público em relação a cada postagem e selecionamos aquelas que acumularam mais
curtidas29 no Instagram, no Facebook e no Twitter. Ademais, algumas postagens que
trazem um conteúdo diferenciado são trazidas, mesmo que não tenham obtido tanto
destaque perante o público, haja vista a necessidade de apresentar, em nosso trabalho, um
recorte que traduza ao máximo possível a postura da marca.
29
Interação que, no caso do Facebook, pode se desdobrar em reações como “amei”, “haha”, “uau”, “triste”
e “grr”.
frente à forma de emissão da mensagem, julgando que é uma maneira mais hábil para a
arquitetura do perfil da empresa em questão.
A imagem veiculada, por sua vez, confere um apelo emocional ao leitor, diferente
do argumento racional trazido pelo texto. O olhar sereno da criança deitada diretamente
para a câmera ecoa os momentos de afeto pais-filho, aspecto reforçado pelo plano médio
na imagem verticalizada, que pouco exibe além do objeto central, construindo uma
relação de proximidade entre o leitor e a criança. A fotografia é produzida diretamente
para o fim publicitário e, por essa razão, visa aumentar ao máximo a identificação do
30
Disponível em: <https://www.facebook.com/Lojas.Riachuelo/photos/a.429360472414.233331.16331
7467414/10155057226697415/?type=3&theater>. Acesso em Jan. 2018.
possível cliente com a cena. Isso ocorre com uma ambiguidade de gênero, ao notarmos
que as cores neutras de suas vestes não induzem a qualquer interpretação carregada de
estereótipos a respeito das tonalidades destinadas a meninas ou meninos, mas também
com os traços físicos do bebê que, sendo mestiço, se impõe de forma análoga à pluralidade
étnica presente em nosso país.
31
Disponível em: < https://www.facebook.com/Lojas.Riachuelo/photos/a.429360472414.233331.163317
467414/10155116179092415/?type=3&theater>. Acesso em Jan. 2018
32
Disponível em: <https://www.instagram.com/p/BW7bPWYFfx9/?taken-by=Riachuelo>. Acesso em Jan.
2018
33
Disponível em: < https://twitter.com/riachuelo/status/889455120609562624>. Acesso em Jan. 2018
quarto muito mais divertido! Aproveite os produtos à partir (sic) de R$12,90
#RiachueloModaCasa”. No Facebook e no Instagram, há menção de que os produtos
estão disponíveis tanto nas lojas físicas quanto na loja online, seguida pela marcação
“#RiachueloeMinions” e pela indicação do endereço eletrônico para a compra, seja por
meio de um link clicável no Facebook, seja pela referência ao “link na bio” no Instagram.
34
Disponível em: < https://www.facebook.com/Lojas.Riachuelo/photos/a.429360472414.233331.16331
7467414/10155172215617415/?type=3&theater>. Acesso em Jan. 2018.
itens, o que é explícito tanto na primeira quanto na segunda sentenças. À parte dessa, são
encontradas outras palavras de origem anglo-saxã, como a expressão “body work”
(trabalho corporal) encontrada na marcação “#RiachueloBodyWork” e “go” (vá), além
dos nomes das peças de roupas, “top” e “body”, que se mostram sinônimos de sutiã e
maiô. Todas elas são usadas na expectativa de conferir requinte às roupas e à empresa,
por ser uma língua que não é amplamente acessível, tal qual o refinamento almejado.
Temos, ainda, um juízo de valor a respeito das estampas das peças expostas e das
omitidas, mas que também compõem a coleção em foco. O comentário de que as estampas
novas são ótimas busca influenciar a percepção do leitor e também despertar seu interesse
pelos demais itens disponíveis, porém não elencados na imagem. Ela, por sua vez, é
composta por uma camada chapada, sem profundidade, assemelhando-se à disposição de
um catálogo, com uma composição organizada. Podemos inferir, dessa maneira, que tal
composição reflete a disciplina necessária para frequentar os treinos. Ademais, a
harmonia visual que surge a partir dessa organização reforça a ideia de que a moda,
tradicionalmente associada ao visual agradável, pode estar presente na academia, como
proposto na legenda.
35
Disponível em: <https://twitter.com/riachuelo/status/903265130359791620>. Acesso em Jan. 2018.
e, porventura, finalizem a compra ou mesmo despertem o interesse de ir até uma loja
física para experimentar pessoalmente os itens disponíveis.
Analisando, pois, o discurso trazido no Instagram, que foi publicado no dia 12, é
notável o apelo direcionado aos fãs nas duas primeiras sentenças de maneira direta, e
também o uso estratégico da marcação “#HarryPotter”, que atrai organicamente o público
interessado pela franquia e, nessa lógica, pelos produtos. É um anúncio com um cunho de
ineditismo na notícia, o que se percebe com a convocação dos potenciais compradores
mais interessados e com o comentário de que os produtos estarão disponíveis nas lojas
online somente dali a dois dias, de modo que os possíveis clientes podem se programar
para as compras.
36
Disponível em: <https://www.instagram.com/p/BY80LxrloFi/?taken-by=Riachuelo>. Acesso em Jan.
2018
37
Disponível em: < https://twitter.com/riachuelo/status/908789155634827266>. Acesso em Jan. 2018.
quando comparada à feita no Instagram. Dando ênfase ao fato de que há modelos não
mencionados, a variedade disponível pode ser melhor percebida pelos leitores. É notável
também a divulgação do endereço para compra na loja online, o que é possível porque o
anúncio foi feito somente no dia 15, posterior à data informada no Instagram.
38
Disponível em: < https://www.facebook.com/Lojas.Riachuelo/photos/a.429360472414.233331.1
63317467414/10155271038617415/?type=3&theater>. Acesso em Jan. 2018
válida de 13.09 a 12.10.2017, ou enquanto durarem os estoques de brindes. #SejaVocê
SejaSuperFeliz Acesse: https://goo.gl/5QZFqP”. É perceptível a existência de duas
intenções no discurso, uma de construção de marca e outra de divulgação de uma ação
promocional em comemoração ao dia das crianças.
39
Disponível em: < https://www.instagram.com/p/BaPpFe9hUyL/?taken-by=riachuelo>. Acesso em Jan.
2018
40
Disponível em: < https://twitter.com/riachuelo/status/919302546107314176>. Acesso em Jan. 2018.
do link para a compra das peças no Twitter e pela sentença imperativa no Instagram,
seguida pela informação dos códigos e preços.
41
Disponível em: < https://www.facebook.com/Lojas.Riachuelo/photos/a.429360472414.233331.16331
7467414/10155339379367415/?type=3&theater>. Acesso em Jan. 2018.
42
Disponível em: <https://twitter.com/riachuelo/status/920012470466502656>. Acesso em Jan. 2018.
comentário de que o cacto “deixou de ser apenas uma planta para o décor de sua casa”,
enquanto na outra rede há a menção de que o desejo é imediato, além do trecho “Dê só
uma olhada nesses produtos e caia de amores! Produtos Cactos | A partir de R$ 15,90
#SejaVocêSejaFeliz https://goo.gl/VpjQd6”. Desse modo, nota-se o cunho persuasivo da
publicação, afirmando-se que a estampa em questão está muito valorizada ultimamente e
também afirmando que basta “uma olhada” para “cair de amores”, no caso da legenda do
Facebook.
O início do texto com a menção de que o cacto está “super em alta” e se tornou
desejo gera o pensamento de exclusão encontrado na moda, no sentido de que é preciso
estar de acordo com os gostos gerais para ser incluso no rol social, salvo contrário, a
situação encontrada é de um cotidiano à margem da sociedade. A menção ao desejo
imediato, ademais, busca gerar compras por impulso, o que é viabilizado pelo link para a
loja online disponível em seguida. O fato divulgado de que o cacto assumiu proporções
maiores que a de uma simples planta ornamental, ademais, visa arrebatar aqueles que o
desprezavam por essa condição, imprimindo um argumento de que ele a superou. Esse
fator persuasivo, no Facebook, por sua vez, está presente no incentivo a olhar os itens e,
consequentemente, encantar-se por eles.
A imagem traz cinco produtos da linha referida em tons de verde e rosa, numa
disposição similar à encontrada na postagem sobre a linha de Harry Potter. Como no outro
caso, a composição é montada sobre uma superfície horizontal e há um plano de fundo
azul claro que harmoniza com os produtos. A iluminação é feita de modo lateralizado, o
que contribui para a criação de volume na forma dos itens, e forma um discreto espectro
rosado, perceptível pelo reflexo dos produtos. Essas nuances mais claras no ambiente em
que os produtos estão inseridos conferem um aspecto suave para a estampa, que pode ser
percebida como “fofa”, impressão transmitida também pelos tons iluminados de verde e
rosa usados para a sua constituição.
43
Disponível em: < https://www.instagram.com/p/BbSmvCehuNn/?taken-by=Riachuelo>. Acesso em Jan.
2018.
nós para o desfile de lançamento da colecão (sic) #PaulaRaiaParaRiachuelo”, o que se
mostra uma construção de texto com a intenção de que a atenção seja voltada
majoritariamente para a imagem, cumprindo somente a função de explanar a ocasião em
que a fotografia foi capturada.
O tradicional ditado de que “uma imagem vale mais que mil palavras” é utilizado
para justificar a brevidade da legenda, assim como para enfatizar o conteúdo imagético
da mensagem que, nesse caso, tem maior peso para os leitores. O indicador “incríveis”,
ademais, confere um juízo de valor sobre a situação, ressaltando que o grupo reunido pela
marca é de mulheres com grande destaque. Além disso, a menção de “mulheres que se
juntaram a nós” se relaciona com a ideia de uma presença deliberada, e não contratada,
como certamente o foi, o que deveras contribui para a criação de uma imagem de valor
superior para a coleção divulgada, assim como a promoção de um desfile, modelo de
exibição tradicionalmente associado a marcas prestigiosas em semanas de moda. A
marcação “#PaulaRaiaParaRiachuelo”, por fim, expõe que se trata de uma coleção
assinada pela estilista Paula Raia, que expõe suas criações na São Paulo Fashion Week.
Suas vestes são da coleção em questão, o que se nota pelas imagens do catálogo e
do desfile divulgadas à época, permitindo que as mulheres atuem como agentes de
divulgação e imprimindo a percepção de que são de qualidade, haja vista o poder de
influência de algumas delas. O conhecimento prévio de pelo menos uma das celebridades,
ademais, é o que torna a imagem mais poderosa para o público, devido à união de um
ícone já conhecido e associado ao glamour com a empresa que oferece itens mais baratos.
Essa glamourização é encontrada, convém frisar, nas próprias peças, que fogem ao padrão
oferecido na Riachuelo e têm corte e caimento mais refinado, o que dialoga com a seleção
de tais celebridades para a divulgação.
44
Disponível em: < https://www.facebook.com/Lojas.Riachuelo/photos/a.429360472414.233331.163317
467414/10155457163442415/?type=3&theater>. Acesso em Jan. 2018.
formalização de uma imagem democrática para as peças, que podem agradar tanto a quem
prefere uma qualidade quanto a quem prefere outra.
45
Disponível em: <https://www.facebook.com/Lojas.Riachuelo/photos/a.429360472414.233331.16331
7467414/10155511148007415/?type=3&theater>. Acesso em Jan. 2018.
entre os itens oferecidos e o que é desejado pelo público-alvo que deliberadamente
consome o conteúdo que tais informantes oferecem. A menção ao nome da blogueira que
veste as roupas e de seu endereço no Instagram também contribui para que ambas peças
e informação de moda se aproximem, já que a seleção recebe o endosso de uma figura
conhecida por trabalhar nesse meio e, mesmo que o leitor não a conhecesse, pode então
ter acesso a um de seus ambientes de trabalho, que é a rede social.
DUARTE, Jorge. In: BARROS, Antônio; DUARTE, Jorge (Org). Métodos e técnicas de
pesquisa em comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 62-63.
DUARTE, Marcia Yukiko Matsuuchi. In: BARROS, Antônio; DUARTE, Jorge (Org).
Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 219.
ESTADÃO. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-riachuelo
-quer-virar-fashion-imp-,627105>. Acesso em Set. 2017.
LÉVY, Pierre. Cibercultura, São Paulo: Ed. 34 Ltda, 1999. Disponível em:
https://pt.scribd.com/doc/52113319/Pierre-Levy-Cibercultura .
LILIAN PACCE. Disponível em: <https://www.lilianpacce.com.br/moda/marisa-
cynthia-hayashi-parceria/>. Acesso em Set. 2017
PARENTE, Juracy. Varejo no Brasil: Gestão e Estratégia. São Paulo: Editora Saraiva,
2000, p. 22.
PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. In: BARROS, Antônio; DUARTE, Jorge (Org).
Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 125.
RAPELI, Clara Resende. Fast Fashion: A influência das coleções de marcas do mercado
de luxo e celebridades no consumo Fast Fashion. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação) – Comunicação Social, ESPM, São Paulo, 2016.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Ed. Sulina, 2009.
SLATER, D. Cultura do consumo & modernidade. São Paulo: Ed. Nobel, 2002.
THE NEW YORK TIMES MAGAZINE. How Zara Grew Into the World’s Largest
Fashion Retailer. Disponível em < http://www.nytimes.com/2012/11/11/magazine/how-
zara-grew-into-the-worlds-largest-fashion-retailer.html?pagewanted=1&_r=2&ref=
magazine&>. Acesso em Jul. 2017.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2010.