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PROCESSOS CONSTRUTIVOS

UFCD 3898
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Autoria: CICCOPN
Revisão e atualização: Miguel Magalhães Ferreira

Data da última versão: 3.julho.2015

Termos-chave: processos construtivos; solos; movimento de terras; drenagem;


pavimentação rodoviária; fundações; estruturas; betão armado;
betão pré-esforçado; alvenarias; isolamentos; revestimentos;
rebocos.
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ÍNDICE

I – SOLOS E TERRENOS DE FUNDAÇÃO.............................................................................. 7


1. NATUREZA E CLASSIFICAÇÃO DOS TERRENOS ........................................................ 7
1.1. NATUREZA DOS TERRENOS ................................................................................. 7
1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS TERRENOS ........................................................................ 8
2. ROCHAS ........................................................................................................................ 12
3. CAPACIDADE DE CARGA DOS TERRENOS ............................................................... 12
3.1. SOLOS COERENTES (VALORES EM kN/m2)........................................................ 12
3.2. SOLOS INCOERENTES (VALORES EM kN/m2) .................................................... 13
3.3. CONDICIONANTES À CAPACIDADE DE SUPORTE DOS TERRENOS ............... 13
3.4. ROCHAS (VALORES EM kN/m2)............................................................................ 14
II – MOVIMENTO DE TERRAS............................................................................................... 16
1. DEFINIÇÃO.................................................................................................................... 16
2. MÁQUINAS DE TERRAPLENAGEM.............................................................................. 18
2.1. TRATORES COM BULDÓZER E RIPER................................................................ 18
2.2. ESCAVADORA CARREGADORA .......................................................................... 20
2.3. ABRE-VALAS (VALADORA)................................................................................... 21
2.4. ESCAVADORA EQUIPADA COM DRAGLINE OU BALDE DE MAXILAS............... 22
2.5. VEÍCULOS TRANSPORTADORES ........................................................................ 23
2.6. COMPACTADORES ............................................................................................... 24
3. EXECUÇÃO DOS TRABALHOS .................................................................................... 27
3.1. ESCAVAÇÕES ....................................................................................................... 28
3.2. ATERROS E REPOSIÇÃO DE TERRAS ................................................................ 31
III – DRENAGEM DE SOLOS ................................................................................................. 34
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 34
2. DRENAGEM EM MUROS DE SUPORTE ...................................................................... 36
3. DRENAGEM EM EDIFÍCIOS.......................................................................................... 38
IV – PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA ..................................................................................... 41
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 41
2. PAVIMENTOS RÍGIDOS ................................................................................................ 42
3. PAVIMENTOS FLEXÍVEIS ............................................................................................. 43

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4. EXECUÇÃO DE PAVIMENTOS EM OBRA.................................................................... 44


V – FUNDAÇÕES DE EDIFÍCIOS .......................................................................................... 47
1. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO ................................................................................... 47
2. FUNDAÇÕES DIRETAS ................................................................................................ 48
2.1. FUNDAÇÕES CONTÍNUAS ................................................................................... 48
2.2. FUNDAÇÕES DESCONTÍNUAS ............................................................................ 50
3. FUNDAÇÕES INDIRETAS ............................................................................................. 51
3.1. ESTACAS DE MADEIRA ........................................................................................ 51
3.2. ESTACAS DE BETÃO ............................................................................................ 52
3.3. ESTACAS METÁLICAS.......................................................................................... 56
3.4. PEGÕES ................................................................................................................ 57
3.5. ESTACAS DE AREIA ............................................................................................. 60
3.6. ENSOLEIRAMENTO GERAL E CAIXAS FLUTUANTES ........................................ 61
4. PIQUETAGEM ............................................................................................................... 63
4.1. MARCAÇÃO DA OBRA .......................................................................................... 63
4.2. TRANSFERÊNCIA PARA O TERRENO ................................................................. 65
5. EXECUÇÃO DOS CABOUCOS ..................................................................................... 65
VI – ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS ....................................................................................... 68
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 68
2. ALVENARIA PORTANTE............................................................................................... 69
2.1. CONSTITUIÇÃO..................................................................................................... 69
2.2. CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE.......................................................................... 69
2.3. CARATERÍSTICAS MECÂNICAS DAS ALVENARIAS ........................................... 73
2.4. INDICAÇÕES PARA A EXECUÇÃO DE ALVENARIAS.......................................... 73
3. ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO ........................................................................... 76
4. ESTRUTURAS METÁLICAS .......................................................................................... 79
5. ESTRUTURAS DE MADEIRA ........................................................................................ 81
VII – ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO E PRÉ-ESFORÇADO......................................... 83
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 83
2. O MATERIAL BETÃO ARMADO .................................................................................... 83
2.1. O BETÃO ............................................................................................................... 83
2.2. O AÇO .................................................................................................................... 88
3. ESTRUTURA: PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO E ESFORÇOS............................. 88
3.1. ESFORÇOS NAS PEÇAS DA ESTRUTURA .......................................................... 89

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3.2. ARMADURAS ......................................................................................................... 94


3.3. AÇÕES E ESFORÇOS ........................................................................................... 96
4. TIPOS DE ESTRUTURAS.............................................................................................. 97
5. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ÀS ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO E PRÉ-
ESFORÇADO .................................................................................................................... 98
VIII – ALVENARIAS ................................................................................................................ 99
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 99
2. ALVENARIAS............................................................................................................... 100
3. ALVENARIA DE PEDRA .............................................................................................. 101
4. ALVENARIA DE BLOCOS DIVERSOS ........................................................................ 102
IX – ISOLAMENTOS............................................................................................................. 106
1. ISOLAMENTOS CONTRA INFILTRAÇÕES DE ÁGUA ................................................ 106
1.1. PROTEÇÃO DE EDIFÍCIOS EM CONSTRUÇÃO ................................................. 106
1.2. REABILITAÇÃO NA ÓTICA DA ESTANQUIDADE ............................................... 114
2. ISOLAMENTOS TÉRMICOS ........................................................................................ 117
2.1. A ENERGIA NOS EDIFÍCIOS: CONTEXTO ENERGÉTICO-AMBIENTAL E
SÓCIOECONÓMICO ................................................................................................... 117
2.2. OS EDIFÍCIOS COMO SISTEMAS TÉRMICOS ................................................... 117
2.3. O CONFORTO TÉRMICO EM EDIFÍCIOS ........................................................... 118
2.3. BALANÇOS ENERGÉTICOS................................................................................ 120
2.4. COMPORTAMENTO DA ENVOLVENTE.............................................................. 124
2.5. REABILITAÇÃO TÉRMICA ................................................................................... 125
3. ISOLAMENTOS ACÚSTICOS ...................................................................................... 140
3.1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 140
3.2. CAMPOS SONOROS EM RECINTOS FECHADOS ............................................. 143
3.3. ABSORÇÃO SONORA ......................................................................................... 145
3.4. ISOLAMENTO SONORO DE ELEMENTOS DE CONSTRUÇÃO ......................... 147
3.5. PARAMETROS ACÚSTICOS BÁSICOS .............................................................. 160
X – REVESTIMENTOS ......................................................................................................... 162
1. NATUREZA E CLASSIFICAÇÃO DOS REVESTIMENTOS.......................................... 162
2. FUNÇÕES.................................................................................................................... 162
3. EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS DOS REVESTIMENTOS ................................................. 163
4. CLASSIFICAÇÃO DOS REVESTIMENTOS DE PAREDES ......................................... 166
5. REBOCOS TRADICIONAIS ......................................................................................... 170

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5.1. ELEMENTOS CONSTITUINTES DAS ARGAMASSAS ........................................ 170


5.3. CARATERÍSTICAS PRINCIPAIS.......................................................................... 175
5.4. EXECUÇÃO EM OBRA ........................................................................................ 175
5.5. DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS CONSTITUINTES DAS ARGAMASSAS ............ 181
5.6. DOSEAMENTOS .................................................................................................. 187
5.7. TIPOS E CARATERÍSTICAS DAS ARGAMASSAS PARA REVESTIMENTOS .... 188
6. REBOCOS NÃO TRADICIONAIS DE LIGANTES MINERAIS ...................................... 193
6.1. DEFINIÇÃO .......................................................................................................... 193
6.2. CONSTITUIÇÃO................................................................................................... 194
6.3. APLICAÇÃO ......................................................................................................... 194
6.4. VANTAGENS EM RELAÇÃO AOS REBOCOS TRADICIONAIS .......................... 199
6.5. INCONVENIENTES EM RELAÇÃO AOS REBOCOS TRADICIONAIS................. 199
6.6. USO DE ARMADURAS ........................................................................................ 199
7. BETONILHAS .............................................................................................................. 200
7.1. DEFINIÇÃO .......................................................................................................... 200
7.2. FASES DE APLICAÇÃO....................................................................................... 200
8. REVESTIMENTOS DE LIGANTES MISTOS................................................................ 204
8.1. DEFINIÇÃO .......................................................................................................... 204
8.2. CONSTITUIÇÃO................................................................................................... 204
8.3. PAVIMENTAÇÃO AUTONIVELANTE ................................................................... 205
9. REVESTIMENTOS DE LIGANTES SINTÉTICOS ........................................................ 208
9.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 208
9.2. REVESTIMENTOS E ACABAMENTOS................................................................ 208
9.3. REVESTIMENTOS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E DE ESTANQUIDADE ............. 209

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I – SOLOS E TERRENOS DE FUNDAÇÃO

1. NATUREZA E CLASSIFICAÇÃO DOS TERRENOS

A definição de "Fundações" será aprofundada mais adiante, interessando agora desenvolver


apenas uma breve noção para se avaliar a ligação com o "terreno de fundação".
Qualquer obra que se realize na parte inferior de uma construção e que penetre no terreno
para lhe transmitir as cargas da própria construção denomina-se "fundação".

1.1. NATUREZA DOS TERRENOS

Para a construção de uma edificação, é fundamental o conhecimento do tipo de terreno onde


se vai instalar, bem como das capacidades portantes (capacidades de carga) admissíveis, de
modo a assegurar-se um apoio estável e sólido à estrutura a levantar.
Antes de mais, é necessário precisar o significado de algumas palavras que se utilizam
frequentemente:
 Terreno – porção da crosta terrestre, que se pode dividir em solo ou rocha;
 Terra – solo ou mistura de solo com fragmento de rochas;
 Solo – conjunto natural de partículas minerais que podem ser separadas por agitação na
água;
 Rocha – material resultante de um processo geológico de formação e transformação e
que é facilmente distinguível do solo pela não desagregação quando agitado dentro de
água.
O reconhecimento do tipo de terreno pode ser feito pela observação de obras e poços
vizinhos, por escavações, provas de carga ou sondagens. Não tem interesse prático no
presente contexto o conhecimento profundo das classificações geológicas dos terrenos.
Interessa, sim, classificá-los quanto à dificuldade que oferecem ao desmonte dos materiais,
assim como às resistências mecânicas que oferecem quando estão sujeitos a cargas e
comportamentos possíveis quando na presença de água.

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1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS TERRENOS

DIMENSÃO DAS PARTÍCULAS CONSTITUINTES


O termo "terrenos" aplica-se, tanto a solos, como a rochas. Considere-se, para uma primeira
classificação, os solos. De acordo com classificação do LNEC (E 219: 1968), os solos podem
classificar-se, quanto às dimensões das partículas que o constituem, em:
 Argilas: Ø < 0,022 mm;
 Silte: 0,022 mm < Ø < 0,06 mm;
 Areia fina: 0,06 mm < Ø < 0,2 mm;
 Areia média: 0,2 mm < Ø < 0,6 mm;
 Areia grossa: 0,6 mm < Ø < 2 mm;
 Seixo: 2 mm < Ø < 60 mm.
Podemos também classificar os solos quanto à predominância das partículas de argila, silte e
areia que os constituem. Neste caso, cada solo é representado por um ponto a inserir no
interior do triângulo de Feret e identificado pela passagem de amostras de solo em peneiros
ou crivos. A percentagem de retidos em cada grupo de peneiros será subdividido em:

 % de argila;
 % de silte;
 % de areia.

Classificação granulométrica dos solos

É de notar que existem várias classificações dos solos que foram organizadas tendo em vista
um tipo de aplicação específica (estradas, barragens, pontes, etc.). Todas se obtêm em
laboratório, com ensaios em que se determinam as curvas granulométricas das amostras de
terreno onde se pretende implantar as "fundações".

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A plasticidade, caraterística de grande importância nos solos, é avaliada por intermédio dos
limites de Atterberg (ou limites de consistência), que são os teores em água para os quais a
consistência de um solo se encontra na transição entre os estados sólido, semissólido,
plástico e líquido.
Os solos, para além das partículas sólidas que os constituem e que servem de base à
classificação já apresentada, integram igualmente água e gás (normalmente o ar). Conforme
se estudará, a percentagem de água no solo, designada por teor em água ou teor em
humidade, assume importância fundamental no comportamento dos solos, quando sujeitos a
compactação para execução de aterros. A relação entre a água existente nos solos e as
partículas sólidas é considerada na classificação seguinte, através dos valores dos Limites de
Liquidez e Índice de Plasticidade, obtidos em ensaios de laboratório.
A classificação de solos que se apresenta seguidamente está de acordo com a especificação
da LNEC E 240: 1970, Solos – Classificação para fins rodoviários.

COESÃO
Os terrenos podem dividir-se em coerentes e incoerentes. Por terrenos coerentes entende-se
todos os que não têm tendência a desagregar-se com facilidade, em que existe uma coesão
entre as partículas que o constituem. Pelo contrário, por incoerentes entende-se aqueles em
que não existe coesão entre as partículas que o constituem.
Esta caraterística depende da proveniência geológica do terreno de fundação. Podemos ter
solos provenientes da desagregação de rochas e transporte do produto de erosão a pequenas
distâncias, sendo os solos assim formados misturas mais ou menos originais que, com o
tempo, se consolidam, dando origem a solos de razoável qualidade. Existem outros que foram
transportados (por erosão) a grandes distâncias, ficando desprovidos de materiais
aglutinados.
Finalmente, temos os solos constituídos para o efeito: fruto de escavações e aterros que, se
forem executados em condições ideais (equipamento de compactação, sua operação e teor
em água dos solos), podem ter comportamentos muito semelhantes aos iniciais (em fase
anterior à sua escavação para execução posterior do aterro).
Acontece com frequência que são construídos aterros com solos de diferentes proveniências,
em que as condições de constituição do aterro não são cumpridas, sendo o resultado de
comportamento imprevisível, mesmo vários anos decorridos sobre a sua execução.

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Como exemplos de terrenos coerentes temos as argilas, os barros, as gredas. Contudo, caso
estejam em presença de grande percentagem de areias ou impurezas, podem originar solos
incoerentes. É de notar que os terrenos argilosos, sendo relativamente resistentes, são pouco
permeáveis, tornando difícil a sua compactação.
Existe também a possibilidade de classificação dos solos pela contração (diminuição de
volume) que experimentam ao secar.
Podem dividir-se os terrenos em:
 Bom terreno: contração inferior a 5%;
 Terreno médio: contração entre 5 e 10%;
 Mau terreno: contração superior a 10%.

Exemplos de terrenos incoerentes são os depósitos sedimentares de fragmentos rochosos,


sem finos ou aglutinantes, logo, muito permeáveis à água. Estes fragmentos podem
apresentar-se com forma arredondada ou angulosa de pouca espessura, estando localizados
a pouca profundidade, não sendo aconselhável o seu uso para terreno de fundação. Caso a
sua granulometria seja mais alargada (com partículas grossas, médias e finas), já é possível
chegar a valores razoáveis da resistência às cargas provenientes de fundações (atingindo, por
vezes, os 800 kN/m2).

 SOLOS COERENTES
Dentro da classificação de solos coerentes, podemos encontrar:
A. Argilas – normalmente, classificam-se como tal todas as misturas térreas
sedimentares que contenham certa quantidade de hidrossilicato de alumina (pó muito
fino, untuoso ao tato quando seco), desde as gredas finas até aos saibros gordos. De
entre estas, destacamos as seguintes:
A.1. Argilas gordas – material sedimentar de grão muito fino e aspeto variável, que
se apresenta desde compacto e homogéneo a poroso e heterogéneo, entre o
creme claro e o negro, passando pelo amarelo, verde, azulado, cinzento,
vermelho e até nevado, mas sempre untuoso ao tato e plástico, modelável.
Quando compactas, são muito pouco permeáveis à água;
A.2. Argilas margosas (magras) – material sedimentar constituído por argila e
carbonato de cálcio (cal) em proporções variáveis entre 10% e 90%. Quando
seca, tem um comportamento idêntico à argila como suporte para fundações,
mas, quando rica em carbonato de cálcio, é muito sensível à água, que recebe

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e retém por longo tempo. É muito frequente a cal aparecer na forma de grumos
ou torrões cálcios (acinzentados ou amarelados e sempre esponjosos), o que
transforma este tipo de solos em impraticáveis para qualquer fundação direta;
A.3. Barro – mistura íntima de argila e areia siliciosa, próprio para o fabrico de
produtos cerâmicos. Quando o teor em argila é alto, denomina-se barro gordo;
quando é pobre em argila, chama-se barro magro. Quando seco, em banco
com boa espessura, é bom para fundações, mas perigoso quando húmido;
A.4. Saibro – barro muito magro e que, normalmente, contém maior ou menor
quantidade de seixo rolado. Quase sempre acontece que o seixo aparece com
arrumação irregular dentro da mistura e, muitas vezes, em camadas de 0,20 m
a 0,30 m de altura, alternadas com grão mais fino e espaçadas 0,30 a 0,50 m.
Este solo, quando endurecido (cimentado) e de granulometria perfeita, constitui
um bom suporte;
A.5. Greda – rocha sedimentar argilosa, detrítica, rica em argila, de grão muito fino,
impalpável e que oferece boa resistência à desagregação pela água. Tem o
mesmo comportamento das argilas gordas secas, alterando-se pouco com a
presença de água.
Nota – As argilas, quando consideradas aceitáveis, não dispensam o cuidado de atingir
profundidades além do normal, uma vez que deverá contar-se com a ação degradante
dos agentes atmosféricos, a que estes solos são muito sensíveis.

 SOLOS INCOERENTES
A classificação de solos incoerentes é atribuída a areias e misturas de partículas
rochosas resultantes do seu desmonte ou destas com areias.

 OUTROS SOLOS
1. Terra vegetal – resultado da mistura de partículas do solo com matérias orgânicas
(vegetais e animais) decompostas e fermentadas, não têm qualquer capacidade
portante para fundações, acontecendo o mesmo com os lodos, vazas e lamas, que,
de resto, são da mesma natureza;
2. Aterros – seja qual for a sua natureza e modo de compactação, ainda que ensaios
expeditos de carga nos indiquem resultados aceitáveis, não será aconselhável
aceitarem-se para fundações. O comportamento de um aterro a longo prazo é
imprevisível; há sempre assentamentos mais ou menos significativos e irregulares.

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2. ROCHAS

As rochas podem ter interesse como terreno de fundação. Não é comum encontrarmos rocha
como terreno de fundação, mas quando isso acontece podemos estar cientes de que se, por
um lado, temos uma garantia de obter valores bons para resistência mecânica, por outro
também vamos gastar mais dinheiro nas fundações, dado que o seu desmonte não é fácil,
sendo necessário o recurso frequente ao desmonte a "fogo" (explosivos).

3. CAPACIDADE DE CARGA DOS TERRENOS

De seguida apresentam-se os valores admissíveis como amplitudes portantes para os


diferentes tipos de solos e rochas. Não fica, no entanto, esgotada a "lista" de preocupações;
há mais fatores a considerar, de que falaremos adiante.

3.1. SOLOS COERENTES (VALORES EM kN/m2)

Quadro 1 – Amplitudes portantes admissíveis para diversos solos coerentes


Secos Húmidos
 Rijos, compactos, cimentados 400 a 800 200 a 400
 Muito duros, porosos, cimentados 300 a 600 150 a 300
 Duros porosos 150 a 300 50 a 100
 Médios 50 a 100 0 a 50
 Moles 0 a 100 ---

A profundidade dos caboucos não deve ser inferior a 0,70 m depois de atravessada a camada
de cobertura, geralmente constituída por terra vegetal e/ou lodos, lamas ou vazas.

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3.2. SOLOS INCOERENTES (VALORES EM kN/m2)

Quadro 2 – Amplitudes portantes admissíveis para diversos solos incoerentes

SECOS INUNDADOS
 Mistura de partículas rochosas e areia com
granulometria completa:

 Em alicerces de 0,40 de largo e 0,70 de fundo 300 a 800 150 a 400


 Em alicerces de 0,40 de largo e 1,00 de fundo 400 a 800 200 a 500
 Mistura granulométrica de partículas rochosas sem
finos: 300 a 600 150 a 300
 Em alicerces de 0,40 de largo e 0,70 de fundo 400 a 600 200 a 400
 Em alicerces de 0,40 de largo e 1,00 de fundo

 Mistura de areias uniformes com alguma argila: 250 a 500 150 a 300
 Em alicerces de 0,40 de largo e 0,70 de fundo 300 a 500 200 a 300
 Em alicerces de 0,40 de largo e 1,00 de fundo

 Areias uniformes compactas a 0,60 de profundidade 200 a 400 100 a 200

 Areias uniformes soltas a 0,60 de profundidade 100 a 200 50 a 100

Nota: Quando a largura do alicerce aumenta, aumenta-se os valores em 5% por cada


0,10 m de alargamento até 1,00 m. Isto é, um terreno suporta mais 30% de carga
quando o alicerce passa de 0,40 m de largo para 1,00 m.

3.3. CONDICIONANTES À CAPACIDADE DE SUPORTE DOS TERRENOS

Para além das condições de suporte relacionadas com a natureza e estado dos solos, é ainda
necessário conhecer-se, com precisão, as inclinações dos estratos (camadas de formação)
pois, quando se trata de construir em terrenos inclinados (ainda que pouco), este fator é
importantíssimo. Há solos que, pela sua constituição, requerem processos específicos, uma
vez que, ao abrir-se os caboucos, podem produzir-se alterações nas condições de
estabilidade das camadas e originar processos de reajustamento cujas consequências são
difíceis de prever.
Sempre que se trate de solos argilosos, ainda que pobres em argila e mesmo que
aparentemente cimentados, ao abrir-se o caminho à penetração de água até camadas
escorregadias provocar-se-á graves deslizamentos. Outros terrenos, como as argilas

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margosas ou de falsa coesão, ao abrir-se uma vala ou ao fazer-se um corte (ainda que
respeitando os taludes recomendáveis), é corrente produzirem-se fendas verticais profundas,
por onde a água se infiltra, indo "lubrificar" as partículas sólidas, o que provoca
escorregamentos à procura de nova situação de estabilidade.
Estes escorregamentos, pelas mesmas razões, podem produzir-se até em formações
rochosas inclinadas e descontínuas.
Isto significa que, ao alterar-se as condições naturais do terreno com aparentemente
“inofensivas" valas, deve observar-se com cuidado, não só a natureza e estado do solo, mas a
forma e posição dos estratos. É mais importante, por vezes, o efeito consequente das
alterações do que das cargas.

3.4. ROCHAS (VALORES EM kN/m2)

A resistência mecânica da rocha existente no terreno de fundação vai depender do tipo de


rocha, do seu estado e da posição e espessura de formação.
Serão, então, estes os valores:

Quadro 3 – Amplitudes portantes admissíveis para diversas rochas

Camadas Finas Maciços Espessos


 Rochas duras, sãs, não alteradas 3000 10000

 Rochas pouco ou medianamente alteradas 1500 3000

 Rochas brandas ou muito alteradas 500 1500

Evidentemente que estes são valores de segurança e que os valores de resistência à rutura
são os que se apresentam na tabela seguinte.

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Quadro 4 – Caraterísticas físicas e mecânicas de diversas rochas

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II – MOVIMENTO DE TERRAS

1. DEFINIÇÃO

Por razões que adiante se entenderão, movimento de terras ou terraplenagens são todas as
alterações intencionais na forma dos terrenos (naturais ou já modificados), por corte ou por
aterro, na formação de plataformas ou taludes, como na abertura de valas ou caixas, em
obras de edificação (ver figura).

Representação das escavações e dos aterros

Quando limitamos a nossa definição a "obras de edificação", é porque a mesma designação,


quando ligada a obras de estradas ou a grandes obras de engenharia, tem significado mais
amplo e técnicas de avaliação e execução diferentes.
Neste capítulo, vamos procurar apresentar normas e indicações práticas para diversos tipos
de trabalhos, com vista a bons rendimentos, mas acautelando sempre a segurança no
trabalho.
Na época de predominância tecnológica que atravessamos, já não se pode aceitar a
execução de qualquer trabalho, ainda que de caráter rotineiro, sem que este seja precedido
de uma ponderação racional e fundamentada em conhecimentos científicos.
Nesta ponderação, devem estar sempre presentes as caraterísticas particulares do solo, as
condições morfológicas do local e a época do ano prevista para a realização dos trabalhos.
Na combinação cuidada destes elementos com os nossos conhecimentos sobre solos, e da
existência de meios tecnológicos disponíveis ou recrutáveis, deverá encontrar-se o método
mais adequado para execução dos trabalhos.

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Na execução da terraplenagem (movimento de terras), existem várias operações básicas


interligadas e realizadas em sequência ou simultaneamente:
 Escavação;
 Carga;
 Transporte;
 Descarga;
 Espalhamento;
 Regularização;
 Compactação.
Diversas das operações indicadas podem ser executadas com a mesma máquina ou por
máquinas distintas.
Vejamos o significado de cada uma delas:
 ESCAVAÇÃO – consiste em cortar o terreno, tal como se encontra no estado natural ou
já modificado, de modo a desagregá-lo para permitir que seja carregado e transportado;
 CARGA – arrastamento diante da lâmina (no caso de utilização de buldózer) ou no
enchimento da caixa da máquina transportadora com material escavado;
 TRANSPORTE – operação de movimentação entre o local onde são escavados os solos
e o local de aterro, onde são descarregados, para eventual realização de aterro ou
depósito;
 DESCARGA – deposição dos materiais transportados no local de aterro ou depósito;
 ESPALHAMENTO – operação de distribuição dos materiais descarregados em camada
de espessura sensivelmente uniforme;
 REGULARIZAÇÃO – operação de aplainamento superficial da camada de solos
espalhada;
 COMPACTAÇÃO – diminuição de volume da camada de solos espalhada e regularizada
no local de aterro, mediante a utilização de uma ação mecânica vigorosa (apiloamento,
cilindramento, vibração, etc.);

Além destas operações básicas, existem outras que decorrem simultaneamente:


 ESCARIFICAÇÃO – destruição, mais ou menos profunda, da superfície na execução de
terraplenagens, de um terreno ou pavimento por picagem ou rasgamento de sulcos.
Decorre normalmente antes ou durante a escavação. Pode igualmente ter lugar na fase
de aterro, caso se pretenda recompactar uma camada de solos deficientemente
compactada;

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 DESTORROAMENTO – operação de desagregação dos torrões de terra do material


colocado no aterro (realiza-se normalmente entre o espalhamento e a regularização, ou
durante a execução destas tarefas);
 REMEXIMENTO – revolvimento dos solos colocados no aterro, tendo em vista a sua
mistura ou perda de humidade por arejamento (realiza-se entre o espalhamento e a
regularização).
É fundamental que a combinação dos recursos seja eficiente, devendo conhecer-se, não só
as condições de atuação (operações básicas de cada máquina), mas também os rendimentos
que pode atingir. Com efeito, o conhecimento das operações a realizar no terreno, conjugado
com o das possibilidades de operação de cada máquina, permitirá escolher adequadamente o
equipamento a utilizar com cada tarefa. Seguidamente dar-se-á a conhecer as máquinas
utilizáveis e as suas condições de atuação.

2. MÁQUINAS DE TERRAPLENAGEM

2.1. TRATORES COM BULDÓZER E RIPER

Estas máquinas, constituídas por um trator com uma lâmina de aço muito robusta na frente,
são pouco utilizadas em obras correntes de construção de edifícios, salvo quando é
necessário formar grandes plataformas. Servem para remover o terreno por decapagem,
empurrando-o para a frente até um local de depósito ou de entrega à máquina carregadora.
A lâmina é sustentada por dois braços articulados e escoras com pistões hidráulicos, que
permitem comandar a profundidade do corte ou/e a inclinação lateral.
A distância de transporte deve ser pequena, entre 15 metros e o limite do emprego económico
desta máquina, ou seja, 60 metros, excecionalmente até 100 m.
Para além dos valores máximos referidos, haverá que recorrer a outros tipos de máquinas
combinadas com meios de transporte. Se o solo for de difícil corte (como saibro cimentado,
rocha fragmentada ou alterada), que esforce demasiado a máquina atuando com lâmina,
deverá prever-se a utilização do "riper" (acoplado à parte traseira da máquina) e, para isso,
estabelecer-se o sistema de ataque. A técnica do "ripado" adota-se para remover ou
fragmentar os solos difíceis em que é antieconómico ou impossível o emprego das lâminas de
corte (ver figura seguinte).

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Trator com buldózer e riper (ou escarificador)

O riper, ou escarificador, é formado por um pesado chassis, normalmente acoplado a um


trator, que possui na parte posterior um ou mais dentes amovíveis de grande robustez, para
rasgar o solo. É giratório ou basculante, caraterizado pelo arco de círculo que os dentes
podem descrever, permitindo variar o ângulo de ataque em função da profundidade de
trabalho. Pode funcionar com um, dois ou vários dentes, conforme a dureza do solo o permitir.
Vantagens do emprego do riper:
 Maior produção e menor custo por m³ de fragmentação;
 Obtenção de granulometria apropriada para carga ou arrastamento;
 Maior segurança no trabalho (menores riscos) do que no uso de explosivos;
 Possibilidade de trabalho constante na proximidade de vias de comunicação ou nos
centros urbanos.

Ripers, escarificadores ou desagregadores

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Velocidade de corte
Quando se usa o riper a pleno esforço (sem violência), é conveniente trabalhar em primeira
velocidade, pois uma velocidade superior a 2 km/h pode produzir estragos, que não
compensam a eventual maior produção. Deve-se, isso sim, usar um número de dentes
apropriado.
Se o corte for difícil, deve-se procurar fazer um ripado em diagonal, com um dente, para abrir
sulcos que facilitam a ação final de corte no sentido conveniente.
Se o terreno for inclinado, deve atuar-se descendo, para aproveitar o efeito da gravidade.
Se o terreno for longo e horizontal, deverá atuar-se nos dois sentidos em percursos paralelos.

2.2. ESCAVADORA CARREGADORA

Esta máquina, a mais usada nas escavações das obras correntes, tem a vantagem de, para
além de fazer a escavação, poder carregar as terras sobre os veículos de transporte, tendo no
entanto o inconveniente, em relação ao trator equipado com buldózer e riper, de menor
capacidade de corte, ainda que equipada com o escarificador já referido, o riper.
É constituída por um trator equipado com um balde robusto munido de pentes de aço especial
e sustentado por braços articulados munidos de pistões hidráulicos, que lhe permitem elevar e
baixar o balde, basculando-o em qualquer altura e em movimentos combinados. Este trator
apresenta-se equipado com rodas ou com rastos, mas nas obras correntes utiliza-se
preferencialmente o de rodas (figuras seguintes).

Escavadora-carregadora

Alguns destes tratores, em lugar de riper, vêm equipados com uma retroescavadora com
balde especial para abrir valas.

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Este tipo de escavadora, equipada com rodas que possui retroescavadora na parte traseira,
sendo de dimensões e potências inferiores, tem rendimentos menores. São, no entanto, muito
utilizadas em obras de pequenas dimensões, dada a grande mobilidade que possuem.
Chamam-se “conjuntos industriais”.

Conjunto Industrial

2.3. ABRE-VALAS (VALADORA)

Para além do dispositivo aplicado na escavadora carregadora referida atrás, existem


máquinas especialmente concebidas para este fim, as quais, naturalmente, para igual
potência de motor permitem melhores rendimentos.
São escavadoras automóveis com estabilizadores hidráulicos de ação rápida, equipadas com
longos braços articulados e baldes especiais para diversas larguras de valas, de rápida e fácil
substituição. Tal como nas escavadoras referidas, o braço e balde são comandados por
pistões hidráulicos e o sistema e ângulo de rotação é mais rápido e aberto do que quando
aplicado como acessório. Por meio de barra transversal de sustentação do eixo de manobra
do braço, é possível abrir valas a pequena distância de muros ou edifícios existentes.

Abre-valas – escavadora de colher (com comandos hidráulicos)

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Os produtos de escavação podem ser diretamente carregados em veículos de transporte ou


amontoados para carga ulterior ou reposição na vala.

2.4. ESCAVADORA EQUIPADA COM DRAGLINE OU BALDE DE MAXILAS

Esta máquina é constituída por um trator sobre rastos, equipada com uma lança que se move
no plano vertical, acionada por cabos de aço e guincho de base. Na extremidade da lança
será suspenso por cabo de elevação um balde, o qual é lançado (por ação combinada da
lança com o guincho do balde) sobre o talude a escavar. O balde ataca o terreno
aproximadamente na horizontal, e é puxado em direção à máquina por outro cabo e guincho.
Por ação do peso do balde e do sistema de suspensão, ao ser arrastado, enche-se. De novo
a lança se eleva, levando com ela o balde cheio e, rodando sobre o chassis do trator, vai
descarregar sobre um veículo ou em depósito.
Sob a ação combinada dos mecanismos que acionam os diversos cabos e da rotação e
movimentação da lança, esta máquina consegue a realização de ciclos de trabalho de curta
duração e consegue atuar em terrenos de difícil acesso a outros meios.

Escavadora equipada com dragline

Existe ainda um outro tipo de máquina semelhante a esta, mas que utiliza um sistema de
balde de maxilas em vez de um balde tradicional (figura seguinte).

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Escavadora equipada com balde de maxilas

2.5. VEÍCULOS TRANSPORTADORES

Os veículos transportadores mais conhecidos são o camião com ou sem caixa basculante, o
vagão e a vagoneta. Para terraplenagens, no entanto, dispomos de outras máquinas ou
aparelhos mais apropriados à função, com nítida vantagem na carga e na descarga e maior
capacidade, beneficiada ainda pela forma da caixa, maior robustez e possibilidade de
deslocação em maus pavimentos e facilidade de manobra. Com efeito, nas obras envolvendo
grandes movimentos de terra, normalmente a construção de vias de comunicação, são
utilizadas estas máquinas de maior rendimento, como é o caso dos dumpers e das
escavo-transportadoras (motorscrappers). A título de exemplo de transportadoras para
trabalhados envolvendo grandes movimentos de terras, apresentamos o camião de estaleiro
(figura abaixo).

Camião de estaleiro

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2.6. COMPACTADORES

São máquinas e equipamentos destinados à compactação, que têm a caraterística comum de


descarregarem sobre o solo grande pressão, podendo ser estática ou dinâmica. A pressão
dinâmica pode ser obtida por vibração ou percussão. Normalmente, são utilizados dois tipos
de máquinas ou equipamentos, uns que atuam exclusivamente por pressão estática ampliada,
designados compressores, e outros que atuam unicamente pelo efeito de vibração,
designados compactadores.
Apresentamos seguidamente os equipamentos de compactação mais utilizados.

CILINDRO TANDEM
O cilindro tandem é um compressor automóvel com dois cilindros, um frontal e outro posterior,
ambos compressores, sendo o peso do chassis e dos motores distribuído por ambos os
cilindros.

Cilindro tandem

COMPRESSOR DE PNEUMÁTICOS
O compressor de pneumáticos é constituído por uma caixa ou caixas para receberem lastro,
que descarregam sobre uma série de rodas independentes munidas de pneumáticos com os
centros sobre o único eixo. Tendo as rodas suspensões independentes, todas compactarão o
solo, assentando nas depressões e sulcos resultantes da passagem de outros veículos.
Estes compressores podem ser rebocados por veículos automóveis com dois eixos de rodas
compactadoras.

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CILINDRO DE PÉS DE CARNEIRO


O cilindro de pés de carneiro é um compressor constituído por um ou mais cilindros metálicos,
dispondo, na face exterior, de excrescências, dispostas em diagonal.

Cilindro (e espalhador) de pés de carneiro

EQUIPAMENTO DE TRANSPORTE
É frequente utilizar-se, na compactação, scrappers e motorscrappers carregados substituindo
o cilindro de pneumáticos, mas não deve considerar-se aquelas alternativas equivalentes.
Aconselha-se, no entanto, a passagem do equipamento de transporte e de rasto contínuo, nas
suas deslocações em serviço, para se obter uma primeira compactação, praticamente sem
aumento de custo das operações. O material de rasto contínuo efetua a compactação mais
por vibração do que por compressão, pois a tensão no terreno provocada pela descarga das
sapatas é sempre muito pequena.

CILINDROS VIBRADORES
Os cilindros vibradores apresentam um motor próprio que lhes imprime um movimento
vibratório, originando a transmissão ao solo de pressões dinâmicas muito mais elevadas que
as pressões resultantes do peso do cilindro. Os cilindros vibradores podem ser rebocados ou
automóveis e podem possuir rolos metálicos ou pneumáticos.
Os cilindros vibradores mais divulgados são, nos rebocados, os de rolos metálicos e os de
pneumáticos, e, nos automóveis, os de rolos metálicos com um único cilindro vibrador,
embora haja modelos tandem com os dois cilindros vibradores.

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As forças estáticas e dinâmicas dependem do modelo, como é evidente, mas a sua relação
está normalmente compreendida entre 1/4 e 1/6, podendo, em casos especiais de cilindros de
muito pequeno peso, atingir 1/8.

PILÃO
A queda de um pilão sobre o solo provoca uma pressão dinâmica, com o consequente efeito
de compactação. Por tal motivo se usa, algumas vezes, o pilão montado numa escavadora de
lança para compactação de elevado grau e em profundidade, em áreas muito limitadas.

SAPO OU MAÇO MECÂNICO


O maço mecânico (figura abaixo) dispõe de motor de
combustão que o eleva acima do solo, deixando-o, em seguida,
cair com uma cadência de cerca de 50 pancadas por minuto,
efetuando uma compactação por percussão. Os modelos
manuais pesam cerca de 100 kg. São também utilizados maços
até 500 kg para compactações mais profundas, suspensas de
estruturas especiais e acionados por motor de combustão
interna ou a ar comprimido, tendo neste maior vibração e menor
percussão.
Sapo ou maço mecânico manual

TALOCHAS VIBRADORAS
A talocha vibradora é constituída por uma placa metálica munida de um motor, que produz
uma força dinâmica de 6 a 12 vezes o peso do
aparelho. Estes elementos podem ser de
pequenas dimensões e peso, isolados, para
operador manual (figura seguinte), ou
agrupados, em linha, em conjuntos de 6 ou
mais elementos fixados em tratores ou chassis
de camiões, e de grandes dimensões e peso,
atingindo forças dinâmicas de 3 toneladas,
comandados à mão com meios especiais de
deslocação.
Talocha vibradora para operador manual

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3. EXECUÇÃO DOS TRABALHOS

Face ao projeto e às condições do local, estudadas as instalações do estaleiro, deve


produzir-se uma planta de trabalho com a localização de todos os dispositivos previstos – ver
esquema de estaleiro na figura seguinte.

Esquema para o estaleiro (construção de um edifício)

Legenda:
1 – Área da construção 11 – Meios de transporte
2 – Linha da grua 12 – Direção do estaleiro
3 – Central de betão 13 – Portão de acesso
4 – Preparação de cofragens 14 – Estacionamento de automóveis
5 – Preparação de armaduras 15 – Alojamento para operários
6 – Armazém geral 16 – Fiscalização
7 – Depósito de peças prefabricadas 17 – Sanitários coletivos
8 – Depósito de materiais diversos 18 – Enfermaria
9 – Monta-cargas 19 – Oficina de pequenas reparações e manutenção
10 – Caminhos de serviço 20 – Ferramentas

De posse destes dados, transferem-se para o terreno as formas e dimensões assinaladas na


planta e, nas próprias estacas de implantação, marca-se as cotas a atingir para o
estabelecimento das plataformas a estabelecer no terreno (figura a seguir).
Com estas referências de apoio, o primeiro trabalho a fazer será, portanto, a modelação do
terreno.

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Esta tarefa obriga à execução de terraplenagens (ou movimento de terras), pelo que será
necessário optar pelo equipamento mais adequado em função das condicionantes: volume
maior ou menor de terras a movimentar, área maior ou menor para o desenvolvimento dos
trabalhos, terreno mais ou menos acidentado e equipamento disponível ou recrutável.
Assim, procura-se, nas tabelas de rendimentos de máquinas, a que oferece melhores
condições entre as possíveis e entrega-se ao manobrador o respetivo plano de trabalhos.

Implantação, no terreno, das formas e dimensões do edifício previsto no projeto (através de balizas e estacas)

3.1. ESCAVAÇÕES

ESCOLHA DA MÁQUINA
Se os produtos da escavação se destinarem a aterro no próprio terreno, deve utilizar-se uma
máquina do tipo buldózer e deslocá-los por arrastamento, depois da ação do riper, se
necessário, ou diretamente com a lâmina por corte e arrastamento, se em terreno de fácil
corte.
Se os produtos forem para remover para fora do terreno, é preferível a utilização da
escavadora-carregadora equipada com riper, uma vez que as do tipo buldózer não podem
fazer o carregamento de veículos. O modo de operação destas máquinas já foi descrito
anteriormente.
Executadas as plataformas, deverá proceder-se à piquetagem da obra, utilizando
simplesmente 4 estacas para a implantação provisória de cada edifício provisório ou peças de
equipamento fixo e o escantilhão para a obra projetada.

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Nesta piquetagem, não deverão esquecer-se as valas para as instalações provisórias


enterradas do estaleiro, como as destinadas a tubagem, cabos e caixas para as instalações
técnicas (águas, esgotos e instalação elétrica) da obra projetada, para que a abertura se
processe sem falhas e segundo o fluxo escolhido.
Naturalmente, as primeiras valas a abrir são as que servirão o funcionamento do equipamento
e as de drenagem já referida (se necessárias).
Na execução dos escantilhões de piquetagem da obra, deverão ter-se em atenção os espaços
para a manobra das máquinas e pessoal, bem como o local ou locais para a passagem dos
veículos de remoção dos produtos de escavação.
Se a natureza do solo e/ou a profundidade dos caboucos (valas e caixas) exigir a utilização de
entivações, não deverá iniciar-se qualquer trabalho de escavação, seja qual for o método
encontrado, sem que esteja em obra o material (madeiras, pregos, ferramentas específicas) e
o pessoal para as executar.

ABERTURA DE VALAS E CAIXAS (CABOUCOS)


Voltamos de novo a considerar condições e meios de atuação vários. Se o solo for coeso e
estável em tempo seco, ou se for rocha alterada ou fragmentada e existir um abre-valas, a
abertura das valas faz-se com a máquina equipada com as colheres adequadas às larguras
previstas, procurando reduzir ao mínimo as deslocações e explorando o melhor possível a
dimensão do braço. Acontece, por vezes, que o corte direto oferece dificuldades, resultando
que a colher pode não encher numa operação. Neste caso, é mais vantajoso fazer a
desagregação (arranhando com os dentes a 45º em relação ao material), deixando cair no
fundo da vala o material que vai desagregando e retirando depois a colher cheia. É preferível
fazer menos ciclos com a colher cheia do que o contrário, pois as operações de elevação,
rotação, basculação e retorno à posição ocupam mais tempo do que o corte e, portanto,
devem fazer-se a pleno rendimento. Quando se tratar de terreno instável, o trabalho da
máquina deve ser seguido pela equipa de entivação e só depois dos trabalhadores
encarregados de regularização do fundo.
Se a natureza do terreno não permitir a utilização da máquina, o que acontece com a maior
parte dos tipos de rocha, há três soluções possíveis:
 O desmonte a ferros ou a picareta;
 O desmonte com martelo pneumático;
 O desmonte a fogo (explosivos).

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No desmonte a ferros (alavanca ou marreta e guilho), recomenda-se que cada posto de


trabalho seja constituído por dois trabalhadores, que deverão alternar-se nas posições.
Enquanto um usa a alavanca, o outro atua como limpador do material; quando um usa a
marreta, o outro o guilho. Trocam as funções logo que o mais esforçado acuse sintomas de
fadiga.
No desmonte com martelo pneumático, o martelo e o limpador também devem alternar-se. A
fadiga em trabalhos desta natureza origina frequentemente acidentes.
Não deverá executar-se qualquer desmonte a fogo sem que para esse efeito se disponha de
pessoal especializado. Só um especialista saberá escolher o tipo de explosivo apropriado, o
diâmetro e profundidade dos furos, a direção destes e a dimensão da carga, a qualidade e
dimensão do rastilho. Nenhum furo deverá ser iniciado sem o prévio exame deste
especialista.
As operações finais de limpeza do furo, introdução e aperto da carga, como do rastilho,
deverão ser sempre executados pelo responsável. Os calcadores serão sempre de madeira
rija ou cobre, não devendo introduzir-se, seja a que título for, qualquer peça de aço nos furos,
depois de introduzidas as cargas.
O rastilho, como todos os dispositivos detonadores, deverão ser sempre da melhor qualidade
e utilizados de modo a ficar garantido que a explosão não se poderá dar sem que todos os
trabalhadores se encontrem abrigados.
Quando próximo de edifícios, de estradas, caminhos de ferro ou obras em laboração, não
podem fazer-se descargas livres antes de se verificar a possibilidade de as efetuar sem
consequências danosas. Cada furo deverá ser sempre protegido com redes apropriadas,
ramos de árvores ou arbustos, para evitar a projeção à distância de possíveis blocos
arrancados.
Após cada descarga, deverá proceder-se à remoção de pedras ou porções de terras de
taludes que fiquem abalados, ameaçando ou não desabar, porque a descarga seguinte pode
produzir o seu desabamento. Estas recomendações não dispensam o conhecimento da
legislação aplicável ao uso e armazenamento de explosivos. Os solos brandos, quando por
falta de máquinas tenham de ser escavados braçalmente, apresentam sempre o perigo de
desmoronamento por desagregação ou escorregamento, pelo que, mais uma vez, se chama a
atenção para a necessidade de acompanhar a escavação com a entivação.

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ANCORAGENS
Chama-se também a atenção para as soluções de "ancoragem" aplicáveis sempre que o
escoramento não possa fazer-se ao fundo de escavação ou a outro paramento (figura
seguinte).
Este tipo de escoramento aplica-se com frequência sempre que, em lugar das valas para
fundações ou além destas, há necessidade de escavar no espaço de edifícios, como é o caso
de abertura de caves, rampas de acesso, etc.

Ancoragem de solos

Sempre que tal seja previsível, antes de iniciadas as escavações deverá encontrar-se a
solução adequada ao suporte dos socalcos ou taludes. Deverá conhecer-se de antemão se o
corte deve ser feito com recurso a taludes, qual a inclinação dos taludes, se estes vão ficar
em corte ou estabilizados com muros de suporte ou de espera. Nos casos em que têm
aplicação os muros de suporte verticais e que se justifique a proteção destes contra
infiltrações, essa proteção deve também ser considerada no corte, a fim de se prever espaço
para a sua execução, quer por exigências de forma e dimensões, quer para e execução dos
trabalhos inerentes em boas condições. Quando falarmos nestes muros, serão apresentados
os exemplos esclarecedores.

3.2. ATERROS E REPOSIÇÃO DE TERRAS

Quando atrás se disse que não se deve fazer fundações diretas sobre aterros e que todos os
aterros são passíveis de assentamentos, não se pretende significar que estes sejam
incontroláveis em todas as circunstâncias e para todos os fins. São indispensáveis em quase

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todas as obras, no interior e no exterior destas, e, portanto, sempre utilizáveis, quando se


cumpram as regras de boa execução e se dominem as caraterísticas dos materiais e
máquinas a utilizar. Em casos especiais, podem ainda ser utilizados para fundações, desde
que se utilizem técnicas especializadas de elevado custo. No entanto, seja qual for o fim a que
se destinam, as regras de estabilização deverão ser sempre cumpridas, de acordo com o fim,
os materiais e os meios a utilizar.

REGRAS E BASES DE PONDERAÇÃO


São várias as razões para os assentamentos nas camadas de solos e, de entre estas,
podemos destacar as mais evidentes:
 Consolidação dos materiais que, por efeito do corte, aumentaram de volume
(empolamento), alterando a arrumação natural das partículas e criando bolsas de ar que
funcionam como "almofadas" e resistem a uma nova arrumação rápida;
 Todos os solos são porosos, podendo a porosidade depois do empolamento atingir
valores da ordem dos 70%. Esta porosidade varia com a textura do solo e na razão
inversa de dimensão das partículas sólidas constituintes. Estes poros estão preenchidos
com ar ou com água;
 A consolidação correspondente a uma arrumação dessas partículas sólidas, reduzindo a
dimensão e quantidade dos poros pela compressão ou expulsão do ar e com a expulsão
da água em excesso;
 Quando a porosidade do solo é caraterizada por macroporos e por alta capacidade de
armazenamento de água, esta pode dificultar grandemente a compactação,
deslocando-se lateralmente por efeito de pressão superior, mas mantendo-se muito
tempo a prejudicar a estabilização do aterro;
 Em solos com a mesma porosidade, mas de baixa capacidade de armazenamento, a
água é mais facilmente expulsa, sendo o seu escoamento facilitado se forem abertos
poços para o efeito;
 Os solos arenosos ou argiloarenosos, em aterros de pequena espessura, podem
conduzir à falsa estabilização, quando exista a possibilidade de responderem à
compactação com deslocações laterais alternadas.
Para cada solo, devem ser ponderadas as caraterísticas particulares do seu comportamento,
o estado de humidade e o relacionamento destes fatores com o tipo, estado e inclinações da
base de assentamento.

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EXECUÇÃO DOS TRABALHOS


Os aterros junto ou no interior dos edifícios deverão ser feitos por camadas não superiores a
0,20 m de altura e compactados até se atingir o grau de compactação previsto no projeto. A
rega é indispensável como elemento "lubrificador" das partículas, quando os solos
apresentam baixos teores em água, mas não deve ser excessiva, pois, pelas razões já
expostas, pode prejudicar a compactação.
Quando o limite do aterro em qualquer das faces termine em talude, deve evitar-se a "fuga"
lateral dos solos por efeito da compactação, reduzindo até ao necessário o ângulo de
inclinação.

Na reposição de terras em valas, deve observar-se a espessura das camadas recomendadas


e o efeito do compactador, mas, junto de tubos ou cabos elétricos, só deve aplicar-se areia ou
terra limpa de pedras. A compactação na zona de envolvimento deve fazer-se de forma
cuidada, para evitar-se danos na tubagem ou nos cabos.
A escolha dos dispositivos de compactação deverá ser efetuada na consideração das
recomendações feitas e do conhecimento dos equipamentos de compactação já referidos.
Deve igualmente ter-se em atenção se o local a aterrar é uma caixa, uma vala ou uma grande
extensão, pois deste fator depende também a escolha do equipamento mais adequado, entre
as seguintes hipóteses:
 Apiloamento braçal por meio de maços;
 Apiloamento com pilão mecânico (autónomo ou pneumático);
 Compactação com sapo ou maço mecânico;
 Compactação com talochas vibradoras;
 Compactação com cilindros de rolos ou pneumáticos, com ou sem vibração;
 Compactação com cilindros providos de pontas penetrantes (pés de carneiro).

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III – DRENAGEM DE SOLOS

1. INTRODUÇÃO

A presença de água nos terrenos é prejudicial para as fundações, dado que pode diminuir a
sua capacidade de suporte por arrastamento das partículas sólidas dos solos, o que originaria
um possível processo de instabilidade das mesmas.
Além disso, a sua presença, quando não prevenida, tem implicações diretas na construção,
pelo facto de penetrar através das paredes, muros e placas ou migrar por capilaridade através
dos materiais, aparecendo no interior e exterior da construção, com todos os efeitos
indesejáveis que ocasiona.
Procura-se, então, desviá-la do terreno, quer de forma temporária (enquanto se processa a
construção), quer permanentemente.
O desvio temporário da água pode fazer-se com pás, com bombas elevatórias ou executando
trabalhos em determinado ponto do terreno, pondo-o a seco por meio de ensecadeiras (feitas
com estacas-pranchas metálicas), caixões pneumáticos, etc.
Para o afastamento permanente da água existente no terreno, faz-se a drenagem por meio de
drenos (figura abaixo).
De um modo geral, deverá entender-se como drenagem o escoamento ou desvio de águas de
terrenos alagados ou encharcados temporariamente por água das chuvas, ou ainda a partir de
lençóis subterrâneos permanentes. A drenagem, como resulta da afirmação anterior, pode ser
feita superficialmente (valetas) ou enterrada no terreno (drenos), escoando águas situadas à
superfície (por exemplo, quando chove) ou subterrâneas (localizadas no terreno).

Drenagem de águas do solo por meio de drenos

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Existe ainda um outro método para suprimir a humidade de um terreno de fundação, que é por
eletrólise.
As valetas ou valas de recolha são obras superficiais que consistem na abertura de sulcos de
configuração variável (triangular, trapezoidal ou em arco de círculo, por exemplo) destinadas à
condução de águas.
Os drenos são obras realizadas nos terrenos, são constituídos por material filtrante (britas,
areias e/ou telas drenantes) e, normalmente, por tubos cilíndricos furados em metade da sua
secção, os quais são colocados a uma profundidade maior do que as fundações ou obras a
proteger. A água do solo penetra neles por gravidade e, de seguida, é conduzida até um poço
coletor, que tem como função encaminhá-la para uma linha de água ou para a rede de águas
pluviais pública. Registe-se também que existem drenos, chamados vulgarmente “drenos
cegos”, que não possuem qualquer tubo no seu interior, fazendo-se o escoamento das águas
pela face inferior de contacto entre o dreno e o terreno.
A solução mais comum utilizada hoje em dia para execução de drenos é a que a figura abaixo
ilustra. Estes drenos são constituídos por uma tela filtrante, também chamada de “tela
geotêxtil” ou somente “geotêxtil”, que substitui as camadas de granulometria fina (areias e
sarriscas ou brita miúda), a qual envolve um volume de brita que tem no seu interior um tubo
perfurado. À semelhança das areias e britas miúdas, a função da tela filtrante é impedir a
entrada das partículas finas do solo para o interior do dreno, facto que, a suceder, provocaria
a sua colmatação, deixando de escoar as águas dos solos que não chegariam ao tubo
perfurado. O uso da tela tem, em relação ao processo clássico (areia e/ou brita miúda), a
vantagem de ser mais fácil de executar, garantindo, normalmente, melhor funcionamento do
dreno, já que o envolve totalmente, enquanto a areia ou brita miúda apresentava muitas vezes
descontinuidades laterais, resultantes das dificuldades de execução.
Com efeito, não só a parte superior do dreno, mas também as laterais, devem possuir uma
certa espessura de areia (ou brita miúda), sem a qual o seu funcionamento pode ser
comprometido pela entrada de finos do solo envolvente, conforme foi referido.

Uso de telas geotêxteis

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Associado a este método, existe ainda a possibilidade de executar "barreiras anticapilares" ou


“almofadas drenantes”, que consistem na interposição de uma camada de brita de dimensão
graúda entre o solo e as fundações de pavimentos, de modo a impedir a migração da água
por capilaridade para esta; independentemente dos métodos que se possa utilizar para
preservar a construção da humidade, tais como hidrófugos, que podem ser de massa
(produtos a misturar nas argamassas, de modo a impermeabilizá-las) ou de superfície (a
aplicar depois da alvenaria executada ou no seu interior).
Convém chamar a atenção para o facto de a drenagem não se dever efetuar no caso de a
construção assentar em estacaria de madeira, dado que a madeira apodreceria de imediato,
devido ao ciclo de variação do teor em água dos solos, situação que faz igualmente variar o
teor de humidade da madeira das estacas, provocando a sua ruína.

2. DRENAGEM EM MUROS DE SUPORTE

A drenagem de muros de suporte, no caso de estarmos em presença de um terreno pouco


permeável, consiste em deixar furos (bueiros) de atravessamento um pouco acima do nível
das fundações.

Drenagem de muros de suporte

Contudo, melhora-se a solução ao efetuar-se o revestimento da face de encosto do muro com


um reboco de massa rica e ao criar-se condições para que a água desça facilmente até uma
caleira, de onde será conduzida até aos bueiros. Em frente destes furos, a um nível um pouco

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inferior, deverá executar-se uma valeta para receber e conduzir a água à rede de águas
pluviais ou a um local de escoamento livre.
No caso menos simples, em que o muro suporta terras muito permeáveis, sujeitas a
alagamento, é indispensável proteger-se o muro com um sistema de drenagem melhorado.
Neste caso, constrói-se por trás do muro uma zona de alta porosidade, onde a água passa
facilmente até um tubo poroso ou perfurado, que a conduzirá a um esgoto longitudinal ou a
bueiros e valetas de drenagem livre, como se pode ver na figura abaixo.

Esgoto longitudinal em muros de suporte

A pedra que se apresenta arrumada na vala de drenagem deverá ser defendida contra a
invasão de terras, que acabariam por prejudicar a captação da água. Como se verifica, as
pedras apresentam-se arrumadas por camadas de dimensão variada, acabando
superiormente com areão ou sarrisca, que funciona como filtro e barreira à penetração de
terras. Em alternativa, poderá usar-se a tela filtrante neste sistema de drenagem, com as
vantagens já descritas anteriormente.
Nos muros de encosto ou de revestimento de taludes de valas, quando a função é
essencialmente de proteção contra a erosão e/ou de reforço à estabilidade dos taludes, o
principal elemento de captação reside no processo de defesa contra a infiltração superior de
água por detrás do muro, o que normalmente se consegue com uma valeta de capeamento
(figura seguinte).

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O paramento destes muros deve ser perfurado, conforme a natureza do terreno e a humidade
natural dele, mas os bueiros devem ser protegidos, com vista a evitar-se a saída de terras sob
a forma de lamas. Nestes muros, é indispensável uma vala inferior de receção da água
drenada (vala de recolha ou vala de pé de talude).

Proteção a um muro de revestimento de talude

3. DRENAGEM EM EDIFÍCIOS

Quando os muros são parte de edifícios (paredes) com zonas aproveitadas abaixo do nível
dos terrenos (em parte ou em todo), há que acautelar dois tipos de infiltrações possíveis:
 Ação da água nas paredes;
 Ação da água de baixo para cima, nos pisos.
A primeira resolve-se conforme o recomendado para os muros de suporte e, nos casos de
enterramento parcial, a drenagem das caleiras terá saída natural, uma vez que há zonas do
terreno abaixo do nível destas; a drenagem dos pisos ficará também facilitada pela mesma
razão.
Quando o terreno envolvente se encontra em nível superior ao das zonas aproveitadas dos
edifícios, todas as superfícies horizontais e verticais em contacto com o terreno estão sujeitas
à ação de pressões de água mais ou menos significativas, podendo atingir valores elevados.

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A saída de água captada pelos drenos que se pode instalar nem sempre pode ser feita para a
canalização de esgotos a nível útil conveniente; nesses casos, é necessário recorrer a poços
de recolha de águas e a sistemas de aviso ou acionamento automático de bomba, sempre
que a água nos poços atinja determinado nível.
O sistema de proteção das paredes pode, por vezes, ser independente do sistema de
proteção dos pisos, isto é, ter meios de escoamento separados, mas isso só se justifica
quando a proteção interior está ligada à rede geral de esgotos do edifício. É sempre vantajoso
manter a drenagem independente da rede de esgotos, pois não se corre o risco de, em caso
de entupimento, serem os terrenos invadidos por águas negras dos esgotos.
Os exemplos que se apresentam mostram várias soluções possíveis para a proteção das
paredes e pisos com sistemas de drenagem comuns e separados (figuras abaixo).
Quando a água dos terrenos é muito abundante e permanente, não deverá fazer-se uma
drenagem que intervenha no estado de equilíbrio existente, pois essa alteração poderia ser
perigosa para as construções da vizinhança; deverá, nesses casos, consultar-se um técnico
especialista competente, antes de se optar por uma solução. Se o especialista confirmar esta
hipótese, a solução terá de ser encontrada na impermeabilização dos elementos enterrados,
sem interferir no nível de água do terreno, acautelando quaisquer fugas que possam vir a
verificar-se. Apresenta-se exemplo de solução deste tipo na figura abaixo.

Saída natural Saída forçada

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Drenagem comum a paredes e piso

Proteção integrada quando não existe drenagem

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IV – PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA

“Parte da estrada, rua ou pista que transmite diretamente as respetivas solicitações à


infraestrutura: terreno, obras de arte, etc. Pode ser constituído por uma ou mais camadas,
tendo no caso mais geral uma camada de desgaste e camadas de fundação. Cada uma
destas camadas pode ser constituída e composta por várias camadas elementares.”
Vocabulário de estradas e aeródromos, LNEC, 1962

1. INTRODUÇÃO

As infraestruturas rodoviárias (estradas) são construídas, basicamente, para criar um caminho


linear e com inclinações ligeiras, de forma a facilitar a circulação de pessoas e mercadorias
entre locais mais ou menos distantes.
Como a topografia do terreno natural normalmente não é plana, existindo sempre montes e
vales, torna-se necessário escavar os montes e aterrar os vales ou construir viadutos ou
pontes que permitam ligar as duas vertentes do vale à altura a que passa a superfície da
estrada, de forma a conseguir construí-la sem inclinações excessivas.
Uma vez concluídas as escavações, os aterros e os viadutos, obtém-se um plano contínuo
que será reforçado com o pavimento. O pavimento é uma estrutura que possui caraterísticas
de elevada resistência, deformabilidade, permeabilidade e aderência, adequadas à circulação
de veículos, tendo em atenção determinados parâmetros, como sejam:
 Intensidade de tráfego;
 Tipo de tráfego (veículos ligeiros, pesados ou ambos);
 Velocidade máxima permitida;
 Tipo de clima predominante na zona em que se localiza a estrada.

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Dependendo destes parâmetros, o pavimento pode ter de ser mais ou menos reforçado,
sendo esse reforço feito com aumento das espessuras das camadas que o constituem ou com
repetição de alguma camada.
Assim, os pavimentos rodoviários, para além de constituírem uma superfície de rodagem lisa,
distribuem sobre o solo de fundação as cargas do tráfego e protegem as fundações dos
efeitos adversos do clima.
De um modo genérico, existem dois tipos de pavimentos distintos, pavimentos rígidos e
pavimentos flexíveis.

2. PAVIMENTOS RÍGIDOS

Pavimentos rígidos

Este tipo de pavimento carateriza-se pela existência de uma laje de betão, armado ou não,
que faz a distribuição dos esforços provocados pelo tráfego, para além de servir de camada
de desgaste.

PAVIMENTO RÍGIDO
Betão (entre 20 e 30 cm)

Betão pobre (entre 15 e 30 cm)

Base granular (entre 15 e 25 cm)

Sub-base granular (entre 15 e 30 cm)


Constituição de um pavimento rígido

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Tanto a camada de sub-base como a camada de base são constituídas por inertes britados,
ou seja, pelo produto resultante da fragmentação de rocha em centrais de britagem. Este
processo de britagem é efetuado nas pedreiras, onde se extrai rocha para esse efeito
(normalmente calcário ou granito). A diferença entre elas reside nas caraterísticas de
qualidade do material que as constitui, sendo maiores as exigências impostas ao material que
constitui a base relativamente às impostas ao material que constitui a sub-base. De referir
ainda que, em alguns casos, a sub-base pode ser constituída por solos selecionados.
O betão e o betão pobre são obtidos pela mistura de inertes britados (britas de diferentes
dimensões, de calcário ou granito), areia, cimento e água, podendo conter ainda algum aditivo
que melhore as suas caraterísticas de resistência e de trabalhabilidade. A principal diferença
entre estes dois tipos de materiais reside na quantidade de cimento que entra na sua
composição, sendo o betão uma mistura mais rica que o betão pobre.

3. PAVIMENTOS FLEXÍVEIS

Pavimentos flexíveis

Os pavimentos flexíveis caraterizam-se pela sua maior deformabilidade, assumindo, assim,


maior importância as camadas de base e sub-base, bem como os solos de fundação. Este
tipo de pavimento é, de longe, o mais usado em Portugal.

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Tal como nos pavimentos rígidos, a camada de sub-base e a camada de base são
constituídas por inertes britados, ou seja, pelo produto resultante da fragmentação de rocha
em centrais de britagem.
No que se refere às misturas betuminosas, estas são compostas por inertes britados (calcário,
granito ou basalto) e betume asfáltico. O macadame betuminoso (igualmente designado por
base betuminosa) é a camada constituída por inertes de maiores dimensões (normalmente de
calcário ou granito). O binder (ou camada de regularização), constituído por inertes de calcário
ou granito, é aplicado para fazer a transição entre o macadame betuminoso e o betão
betuminoso, eliminando as irregularidades que a plataforma possa eventualmente conter, para
que a camada de betão betuminoso fique perfeitamente desempenada. O betão betuminoso
(cuja camada é normalmente designada por tapete ou camada de desgaste) é composto por
inertes de granito ou de basalto.
Salienta-se que um pavimento de uma estrada não necessita, forçosamente, de ter todas
estas camadas.

4. EXECUÇÃO DE PAVIMENTOS EM OBRA

Preparação do solo de fundação e execução de camadas base.

Preparação do solo de fundação

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Execução da camada de base

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Execução das camadas betuminosas

Execução das camadas betuminosas

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V – FUNDAÇÕES DE EDIFÍCIOS

1. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

Deve entender-se como fundação a parte da obra destinada a sustentar toda a estrutura de
um edifício ou obra de engenharia, seja uma ponte, uma barragem ou o próprio piso viário. A
função da fundação é receber as cargas permanentes e acidentais, estáticas ou dinâmicas,
verticais ou inclinadas e transmiti-las ao solo. A estabilidade de qualquer obra depende,
portanto, da capacidade de suporte do solo e, consequentemente, do modo como as cargas
lhe são transmitidas.
As fundações podem ser diretas ou indiretas e, no caso das primeiras, contínuas ou
descontínuas. Muitas vezes, esta classificação das fundações quanto à profundidade utiliza a
terminologia de fundação superficial para a fundação direta e fundação profunda para a
fundação indireta.
A opção terá de ser feita, preferencialmente na fase de projeto, tendo sempre em
consideração a capacidade portante do solo e o valor, tipo e condições de transmissão das
cargas ao terreno de fundação. Deverá procurar-se que a distribuição de cargas seja
uniforme, definindo a área de contacto com o solo em função da natureza e valor das cargas
da estrutura. Assim, o estudo de uma fundação exige, portanto, o conhecimento exato do solo
e do seu comportamento previsível (específico) e do modo, valor e condições de chegada das
cargas a todos os pontos da base da obra.
Quando subsistam dúvidas, ainda que classificado o solo e feitas as convenientes sondagens,
deverá proceder-se à confirmação experimental por meio de ensaios de carga, que podem ir
desde a simples "mesa" de quatro pés quadrados, a carregar no fundo de uma vala aberta à
profundidade prevista para as fundações, até à placa de ensaio com macaco hidráulico de
grande capacidade.
O carregamento deve efetuar-se até se atingir 3 vezes a carga considerada, não devendo a
penetração do "pé" ou "pés" ser superior a 20% do lado do quadrado, ou a 16% do diâmetro
quando se trate de pés cilíndricos.
Para obras de grande porte, é indispensável reclamar-se a intervenção de um laboratório
especializado, que disponha de conhecimentos e aparelhagem apropriada para os estudos
altamente especializados que estas obras justificam.
Muitos dos projetos que hoje se recebe nos estaleiros já foram elaborados na consideração
das condições reais dos solos, mas, mesmo quando isso acontece, o técnico de obra não fica

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dispensado de comparar incansavelmente as informações dos projetos com as que encontra


no local e de propor alterações quando verifique a sua necessidade ou conveniência.
Para além disto, salvo casos especiais, o projeto refere ou representa a localização, as
formas, as dimensões e as caraterísticas das fundações a adotar. O modo de as concretizar
no terreno cabe, naturalmente, ao responsável pela obra.
Nestes apontamentos já abordamos a classificação dos solos e passamos depois às
escavações, referindo várias vezes a operação da piquetagem e os respetivos escantilhões.
Vejamos o que quisemos destacar e que é o princípio de todas as operações de edificação.
As fundações podem classificar-se em:
contínuas

diretas

descontínuas

indiretas

Seguidamente iremos descrever os tipos de fundações mais correntes, quer se trate de


fundações diretas ou indiretas.

2. FUNDAÇÕES DIRETAS

Se o terreno suportar cargas razoáveis à superfície ou a uma profundidade facilmente


acessível, executamos fundações diretas. Estas subdividem-se em contínuas e descontínuas.

2.1. FUNDAÇÕES CONTÍNUAS

São as fundações que assentam diretamente sobre o terreno em toda a extensão das
paredes. São, geralmente, de alvenaria hidráulica e compostas por um corpo e um
alargamento chamado sapata, que se destina a distribuir as cargas, de modo a que elas não
excedam a resistência do terreno. Esta sapata pode ser de pedra ou betão (armado ou não).

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A fundação deve ficar sempre apoiada (encastrada) na camada resistente do terreno. Se o


terreno for rochoso à superfície, poderá parecer que a estabilidade não será afetada se
assentarmos diretamente a parede sobre a rocha. Na prática, porém, não se faz assim.
Abre-se no terreno uma pequena vala com 0,20 m de profundidade, sobre a qual assentamos
a parede ou pilar, que ficará, desta maneira, sem possibilidade de deslocamento lateral (figura
abaixo).

Fundação contínua em rocha

Se o terreno não for rochoso à superfície e nos servirmos desse terreno para apoio de
fundação, nunca devemos assentar a base da parede ou pilar à superfície, mas colocá-la,
pelo menos, a uns 60/80 cm de profundidade.

Fundação em terreno não rochoso

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Assim, abrem-se caboucos até à superfície desejada com as dimensões pretendidas. Pode
ser necessário, por vezes, o acompanhamento da escavação com entivação adequada, para
evitar desmoronamentos.
Se o terreno capaz se encontrar a uma profundidade muito superior, temos de abrir uma
trincheira com as dimensões suficientes, isto é, até à profundidade necessária e com uma
secção no fundo suficiente para assentar a sapata de fundação. A fundação pode ser de
alvenaria, de pedra ou betão. Se for de alvenaria, a sapata executa-se com o número de
fiadas (mínimo duas e superior a 60 cm) de perpianho normal, colocadas alternadamente de
modo a que corresponda à secção determinada pelo cálculo. Devemos ter em conta que a
altura da sapata deve ser tal que permita a degradação das cargas a 45º, caso contrário pode
ficar sujeita a esforços de flexão e partir.
Se as cargas a transmitir forem grandes e os terrenos tiverem reduzida resistência, devem
usar-se sapatas de betão armado. Se as cargas a transmitir são relativamente pequenas,
estas terão espessura constante. Caso contrário, terão espessura decrescente do centro para
a periferia. Considera-se cargas pequenas as da ordem das 20 toneladas (200 kN). As
superiores a 100 toneladas (1 000 kN) já são consideráveis. De qualquer forma, o cálculo das
sapatas de betão armado é sempre mais complexo do que os cálculos simples acima
apresentados para determinação da área da superfície de contacto entre a sapata e o terreno,
devendo obedecer-se aos respetivos projetos para a sua realização no terreno.

2.2. FUNDAÇÕES DESCONTÍNUAS

Se o terreno bom estiver a uma profundidade de 2 a 5 m, ou se o edifício possuir uma


estrutura em betão armado ou metálico em que a base é constituída por pilares, recorre-se a
alicerces descontínuos por meio de sapatas sob os referidos pilares. Estes podem ser de
secção quadrada, retangular ou circular, ou ainda perfis metálicos. Estas sapatas ou a base
dos pilares podem ainda ser ligados por obras em betão armado, normalmente vigas.
O modo de execução destas fundações é idêntico ao das fundações contínuas,
salvaguardando as diferenças já referidas (figuras seguintes).

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Fundação descontínua em betão armado Fundação descontínua em betão armado


(apoio a pilar de betão) (apoio a pilar metálico)

3. FUNDAÇÕES INDIRETAS

São usadas quando se pretende apoiar cargas importantes em terrenos de fraca resistência.
As fundações indiretas executam-se com estacas, através das quais se consegue alcançar o
terreno firme sem necessidade de escavação para além da que resulta da realização da
própria estaca. As estacas transmitem as cargas ao terreno firme, através das camadas de
terreno de fraca consistência. Se o terreno resistente se encontrar a grande profundidade,
então as estacas atuam por atrito com o terreno circundante. Estas denominam-se estacas
flutuantes.
As estacas são normalmente de madeira, betão ou metálicas. Seguidamente apresenta-se
uma descrição sucinta dos tipos de estacas de utilização mais corrente.

3.1. ESTACAS DE MADEIRA

As estacas de madeira são constituídas por um toro de secção circular, aguçado numa das
extremidades para facilitar a cravação e protegida por uma ponteira em ferro. A outra
extremidade é adelgaçada, de maneira a poder ser abraçada por um anel (de ferro) com o fim
de evitar que o topo da estaca alargue ao ser batida pelo pilão de bate-estacas. É de fabrico
simples, pois basta abater a árvore (pinheiro, normalmente), descascá-lo, colocar-lhe a

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ponteira e o anel, devendo ser cravadas ainda em verde, dado que o seu uso está restrito a
terrenos permanentemente húmidos. Os seus diâmetros variam de 15 a 35 cm. A carga
admissível por cada uma é de 5 a 10 toneladas (50 a 100 kN). O espaçamento mínimo entre
elas deverá ser de, pelo menos, 3 vezes o seu diâmetro, para evitar que funcionem como uma
só de maior diâmetro. Não deverão ser muito grandes, para evitar uniões. Caso esta tenha de
existir, deverá ser de topo ou a meia madeira, com auxílio de chapas metálicas e parafusos. O
comprimento pode variar entre os 5 e os 8 metros. Se o valor das cargas for superior, deverá
usar-se estacas de betão armado.

3.2. ESTACAS DE BETÃO

É o tipo de estacas mais comum na construção, pela sua elevada capacidade de carga e
durabilidade. Seguidamente apresentamos as técnicas de fabrico mais usadas.

ESTACAS DE BETÃO ARMADO


Podem ser moldadas fora do terreno ou no próprio sítio. As moldadas no exterior têm
normalmente secções quadradas com as arestas cortadas (figura a seguir) ou circulares.
As suas caraterísticas são:
 Dimensão transversal → 25 a 40 cm;
 Carga unitária → 4.000 kN/m2;
 Carga por estaca → 250 a 300 kN.

São estacas feitas em estaleiro com armaduras semelhantes às dos pilares cintados e no
próprio molde é colocada a ponteira em ferro. Para amortecer a pancada do martelo,
coloca-se na cabeça da estaca uma caixa e, entre ambas, um material elástico (cortiça ou
madeira).
Estas estacas podem atingir profundidades maiores (até 30 metros) (figura adiante) e têm a
vantagem, sobre as de madeira, de resistir a maiores cargas. Além disso, é indiferente que
estejam em terrenos secos ou molhados.

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Estaca pré-fabricada Estaca pré-fabricada


(moldada no exterior) (moldada no exterior)

Se as cargas forem realmente importantes, devemos optar pelas estacas tubulares, que se
descrevem a seguir.
Faz-se penetrar um tubo de betão armado no terreno, o qual pode ter grande diâmetro e,
depois de atingir o firme ou a profundidade desejada, se enche de betão. É indicado para
terrenos lodosos ou incoerentes. Os solos podem ser removidos pela introdução de um jato
de água que os faça subir, permitindo que a base do tubo penetre gradualmente no terreno.

3.2.2. ESTACAS DE FRANKL


São estacas muito resistentes, suportando cargas até 80 toneladas (cerca de 800 KN) e
diferenciam-se também por terem a superfície de contacto com o terreno muito rugosa.

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Fabricam-se do seguinte modo:


 Por meio de uma massa pesada (aríete), que cai no interior de um tubo de aço colocado
verticalmente, vai-se apertando uma certa quantidade de betão fresco de encontro às
paredes do tubo;
 A manga (tubo de aço) solidariza-se com o pilão e penetra no terreno;
 O tubo é introduzido até à profundidade desejada;
 No interior da manga, é colocada uma armadura apropriada e começa-se a fazer o
enchimento com betão bem apiloado por uma massa (aríete), que cai no vazio da
armadura ao mesmo tempo que se eleva a manga até à superfície.
Obtém-se uma estaca muito rugosa, dado que o betão vai penetrar no terreno apertando-o e
preenchendo todos os vazios.
Ainda é possível aumentar a capacidade portante desta estaca se, na extremidade, antes de
se encher com betão, se fizer um alargamento por meio de um explosivo, dando-lhe então um
efeito de ponta (figuras abaixo).

Estacas Franki Estaca Franki Armada

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3.2.3. ESTACAS BENOTO


São executadas por meio de tubos de aço metidos no terreno com o auxílio de bate-estacas e
de macacos hidráulicos, que lhes imprimem movimento vertical e rotativo. Os tubos terminam
num cortante. Um pilão com maxilas-garras vai extraindo a terra e trabalha de 0,5/1,0 m acima
do cortante, de modo a funcionar como tampão para impedir a entrada de água (no caso de
rocha ou terreno duro, o pilão trabalha abaixo do cortante do tubo, para facilitar a penetração
deste). Atingido o nível desejado, é necessária a observação do seu interior pela introdução
de um técnico. Só depois se pode colocar a armadura, lançar e apiloar o betão. Há
necessidade de verificar a existência de gases tóxicos, sendo de acautelar o uso de aparelhos
de respiração adequados. Só são usadas em obras onde existam grandes cargas, em
edifícios de muitos pisos, pontes, viadutos, etc.

3.2.4. ESTACAS SIMPLEX


Nos terrenos alagados, onde a circulação de água possa lavar o betão fresco sem que seja
notado do exterior, recorre-se a um sistema chamado "simplex", em que se usa um invólucro
de chapa delgada inserida no tubo de cravação, o qual é abandonado no fundo do furo. Com
o tempo, devido à corrosão, acaba por desaparecer; a sua utilidade é permitir o
endurecimento do betão (figura abaixo).

Estaca Simplex – duas fases de execução

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ESTACAS COMPRESSOL
Existem também as estacas "Compressol", que são moldadas no terreno sem cofragem.
Abrem-se furos com um pilão perfurador de grande peso (2 kN), que cai de uma altura de 15
metros. Uma vez atingida a altura pretendida, enche-se o furo com betão, o qual vai sendo
apiloado em camadas de 0,5 metros, por meio de um malho especial. Este apiloamento tem
como finalidade forçar o betão a penetrar no terreno, ficando a estaca com forma irregular.
São adequadas para terrenos pouco consistentes e contribuem para a sua consolidação.
Podem atingir profundidades até 25 metros, suportando grandes cargas (figura abaixo).

Estaca Compressol. As duas fases de execução

3.3. ESTACAS METÁLICAS

São empregues nos países onde o ferro é mais barato. Terminam em rosca e são
endurecidas por rotação. Exigem cuidados especiais no que concerne a corrosão, fator que
condiciona também a sua aplicação. Com efeito, a presença de água ou a própria humidade
dos solos pode dar origem à rápida corrosão deste tipo de estacas, comprometendo a sua
estabilidade a curto prazo.

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3.4. PEGÕES

Designa-se por pegão um elemento de fundação com elevada secção transversal, nunca
inferior a 1 m2, mas habitualmente com secção bastante maior. A esbelteza costuma andar
entre 5 e 8. São frequentes as secções circulares, mas também são muito comuns secções
quadrangulares. Os pegões de secção muito elevada, da ordem da dezena de m2, são mais
frequentemente de secção quadrangular e comportam septos, subdividindo-os em células.
Obviamente os septos aumentam a rigidez da secção e permitem trabalhar em escavação
separadamente em cada célula, o que pode trazer substanciais vantagens de ordem
construtiva. O afundamento dos caixões até à profundidade desejada costuma fazer-se pelo
processo habitualmente designado “havage”: escavação do solo do interior do pegão, usando
uma qualquer escavadora, normalmente “grab” (“clam-shell”, “orange-peel”, etc.),
verificando-se o autoafundamento do pegão conforme a escavação progride. Foi muito usado,
mas encontra-se atualmente em franca regressão pelo elevado custo do ar comprimido
necessário para, abaixo do nível hidrostático, manter o interior do pegão a seco, permitindo
assim o acesso de homens, para escavação manual de solos que as escavadoras têm
dificuldade em remover. O elevado custo da mão de obra no trabalho a ar comprimido faz com
que, nas condições atuais, outras soluções sejam geralmente adotadas.
O grande desenvolvimento que recentemente tem tido a técnica que entre nós é conhecida
pela designação de “paredes moldadas” veio abrir novas perspetivas à construção de
fundações profundas. Como é sabido, esta técnica consiste fundamentalmente em tirar
partido do efeito estabilizador que sobre as paredes de poços profundos, desde que não muito
extensos, têm as suspensões de bentonite. Pode-se, assim, abrir um poço dispensando
entivação, contando que a sua escavação seja feita simultaneamente com o seu
preenchimento com suspensão de bentonite. Uma parede moldada é construída lançando
betão, por tremonha, no fundo da escavação preenchida pela calda de bentonite. A bentonite
é expulsa (e recuperada), ficando betão em seu lugar a preencher a escavação. Se se
introduzir, antes da betonagem, uma armadura no poço, obter-se-á uma parede de betão
armado.
É fácil visualizar a extrema variedade de soluções de fundações profundas que com esta
técnica se podem conseguir: estacas de grande diâmetro, elementos alongados (“barrettes”,
na terminologia francesa) associações de diversas “barrettes” formando assim secções em T
ou em U ou ainda recintos fechados, equivalentes a autênticos pegões. Poder-se-á dizer que,
com poucas limitações associadas a terrenos particularmente difíceis, é a mais promissora

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das técnicas de que atualmente se dispõe para fundações de alta capacidade de carga. Para
cargas moderadas, continuam as estacas convencionais a ser a solução mais adequada.
Importa referir a execução de pegões com perfuração à rotação, a qual já é usada nos
Estados Unidos há anos, nos grandes núcleos urbanos onde se põem problemas de fundar
edifícios muito altos em terrenos de razoável resistência, que, para edificações de menor
porte, suportariam bem fundações diretas.
Mas tem-se assistido, nos últimos anos, a uma acentuada expansão do método. É facto bem
compreensível, pois, implicando equipamento de grande custo mas que determina grandes
economias de operação, com substanciais reduções de mão de obra e materiais, além de
outras vantagens que adiante serão referidas, interessa obviamente dar-lhe larga utilização,
para conseguir amortização rápida do custo do equipamento.
Além de dispendiosos, os equipamentos de furação, pelas suas dimensões, exigem grande
espaço de manobra, o que pode constituir uma limitação à sua utilização, mas em geral sem
grande relevância, pois o processo só tem cabimento em grandes obras, onde em regra não
haverá problemas de espaço. As perfuradoras usadas neste tipo de trabalho não diferem em
conceção das sondas rotativas comuns. Só as dimensões e, obviamente, a potência dos
motores é que estão a outra escala. Apontando valores típicos, indicar-se-á que há
perfuradoras para diâmetros que vão dos 2 aos 6 metros. Os motores podem aplicar
momentos, no bordo cortante, da ordem da 200 t.m. (2 000 kN.m). A força adicional vertical,
para auxílio da perfuração, pode, nalgumas máquinas, chegar às 10 t (100 kN).
No que respeita a operações de betonagem, elas são, em regra, realizadas utilizando betão
de tremonha. Geralmente faz-se a recuperação do tubo de revestimento (quando o terreno
exige o seu uso, o que muitas vezes não acontece) por retirada contínua e relativamente
rápida, imediatamente após o lançamento do betão. A figura seguinte mostra
esquematicamente certas precauções que, em alguns terrenos, é necessário adotar para
evitar contaminação do betão e redução sensível da secção resistente do pegão,
consequência da invasão de água e solo solto adjacentes ao exterior do tubo.
Fundamentalmente, o aspeto mais importante dessas precauções é manter uma coluna de
betão bastante alta dentro do tubo.

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Execução de pegão com equipamento pesado

Uma questão requer particular atenção neste tipo de pegões: a precaução e a precisão com
que se deve proceder ao reconhecimento prévio das caraterísticas geotécnicas dos terrenos
interessados. A economia, em casos extremos até a viabilidade do processo, está
estreitamente dependente de uma apropriada prospeção, mais completa e meticulosa do que
na generalidade das prospeções para estudos de fundações de edifícios. Os principais
aspetos a ter em conta são os seguintes:
 No que se refere aos terrenos a atravessar, além da determinação das suas
caraterísticas mecânicas gerais, importa muito averiguar a eventual presença de
ocorrências erráticas, obstáculos a remover, continuidade lateral ou descontinuidade
das formações ocorrentes;
 Assume particular importância o reconhecimento da posição do nível hidrostático,
eventual existência de bolsadas com água em pressão e a averiguação da
permeabilidade geral das formações para avaliação de caudais afluentes;
 É extremamente importante efetuar um reconhecimento, com boa precisão, do relevo do
leito rochoso (bed-rock), com curvas de nível bastante próximas, para poder dispor de
informação sobre possíveis irregularidades do leito rochoso na área que interessa a
cada pegão;
 No caso de terrenos rochosos interessa muito determinar índices de qualidade que
permitam julgar a maior ou menor dificuldade oferecida à perfuração (“drillability”).

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Para resumir o “estado da arte” no que se refere a este tipo de pegões, haverá interesse em
listar as suas principais vantagens e inconvenientes.

VANTAGENS:
 Grande rapidez de execução;
 Grande capacidade de carga;
 Capacidade para atravessar terrenos erráticos difíceis, em que podem estar presentes
blocos soltos, mesmo de grandes dimensões;
 A percentagem de armadura é muito diminuta e muito frequentemente pode
prescindir-se de revestimento ou outro qualquer tipo de cofragem;
 Ausência de ruídos de nível elevado, visto não se usar pilões de cravação;
 Redução ao mínimo de vibrações, com a consequente ausência de riscos de danos em
edificações vizinhas;
 Facilidade em poder dispor de elevadas capacidades de carga em relação a forças
ascensionais, realizando bases alargadas;
 Possibilidade de inspeção direta da superfície de apoio do pegão.

INCONVENIENTES:
 Certas condições desfavoráveis dos solos, não previstas, podem interferir
substancialmente no andamento dos trabalhos, com demoras e custos extra;
 Pela razão acima apontada e outras já mencionadas, as operações de prospeção têm
de ser particularmente cuidadas;
 Uma muito atenta e competente assistência técnica tem de ser prestada aos trabalhos
de construção.

3.5. ESTACAS DE AREIA

São também usadas com relativo sucesso em fundações. Crava-se no terreno uma estaca de
madeira levemente cónica, tendo na cabeça uma peça que permite uma retirada fácil por
rotação. Depois de executado o furo, este é cheio com areia e regado. Normalmente dão bons
resultados, têm custo diminuto em comparação com as outras e duram indefinidamente (figura
seguinte).

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Estacas cónicas (de areia)

3.6. ENSOLEIRAMENTO GERAL E CAIXAS FLUTUANTES

Para além dos processos referidos anteriormente (estacas) existem outras soluções para
realização de fundações sobre terreno com más características de resistência. Faremos aqui
referência a dois métodos: o ensoleiramento geral e as caixas flutuantes, os quais podem ser
eventualmente combinados com a realização de estacas.

ENSOLEIRAMENTO
Quando o terreno bom para fundação se encontra a grande profundidade ou é de difícil
acesso, pode-se optar por um "ensoleiramento geral", que não é mais do que a construção
das fundações em cima de uma placa de betão armado, a qual irá assentar diretamente no
terreno para lhe transmitir os esforços de uma maneira uniforme. O efeito assim conseguido
assemelha-se a um colchão distribuidor das cargas.
De notar que, para a execução deste tipo de fundação, deverá primeiro efetuar-se uma
compactação prévia do solo com vista à sua estabilização (figura abaixo).

Ensoleiramento geral – consolidação do terreno

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ENSOLEIRAMENTO GERAL SOBRE ESTACAS FLUTANTES


Também é comum o uso de estacas flutuantes associadas ao "ensoleiramento geral", de
modo a distribuírem ainda melhor os esforços no terreno, devido ao atrito entre elas e as
camadas do solo. (figura abaixo).

Fundações sobre estacas flutuantes.

As estacas flutuantes, pela força de atrito que criam no solo, contribuem para a estabilidade
da construção, ajudando a fundação em placa a sustentar as cargas.

FUNDAÇÃO POR CAIXA FLUTANTE


Um outro método possível é o
assentamento da construção num
caixão de betão armado (oco), de tal
modo que ele fique a funcionar pelo
efeito de impulso hidrostático, como
que a flutuar sobre o terreno lodoso.
De notar que o volume de terras a
retirar para colocar o dito "caixão
flutuante" deverá ter peso superior ao
da construção; caso contrário não
flutuaria, mas iria enterrar-se
gradualmente (figura ao lado).

Fundações por caixas flutuantes

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4. PIQUETAGEM

Esta operação consiste na transferência para o terreno do que a planta de fundações do


projeto contém, nas formas e dimensões ali representadas. Como não seria praticável
pretender aplicar as regras do desenho ao terreno, utiliza-se um dispositivo que nos vai
permitir obter esses resultados em condições de resistir ao movimento de pessoal e
máquinas, durante o tempo necessário.

4.1. MARCAÇÃO DA OBRA

A primeira operação consiste em assinalar os cantos exteriores (cunhais) do edifício com


estacas cravadas no terreno.
Esta operação deverá, de preferência, ser realizada por um topógrafo e a partir de uma planta
de localização com pontos de referência assinalados e, se necessário, cotados.
A partir daquelas estacas e considerando-se entre estas e o escantilhão um espaço que
permite a circulação de operários e ferramentas, como carros de mão, padiolas e outras,
marca-se ainda com simples estacas uma "moldura" envolvente do edifício (figura seguinte).
Ligam-se estas estacas duas a duas com fios esticados, que irão servir de guias para a
cravação de estacas para o escantilhão. Divide-se o espaço entre as estacas em partes
iguais, com uma proximidade de 1,5 m, que se assinalam no terreno e, em cada sinal,
crava-se uma estaca que deverá ficar acima do terreno cerca de 0,5 m.
Concluída esta operação, teremos o espaço da obra envolvido por estacas superiormente e
elevadas do terreno cerca de 0,50 m, como foi referido. Sobre a cabeça das estacas
pregam-se, bem firmes, réguas de madeira com a secção aproximada de 12 x 3 cm, formando
um conjunto de barreiras simples, ligeiramente maiores do que a dimensão da obra.
Sobre as réguas, marcam-se em relação às estacas dos cunhais e, a partir das cotas do
projeto, a projeção de todas as paredes normais ao escantilhão.
A marcação deve ser feita com um golpe de serrote pouco profundo e confirmada com o
prego apontado, de modo a permitir a fixação de um fio esticado.

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Marcação da obra

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4.2. TRANSFERÊNCIA PARA O TERRENO

Esta transferência processa-se com o auxílio de um fio de prumo e dará origem à gravação de
pequenas estacas, que servirão de guia aos golpes de picareta, que funcionarão como os
lápis de traçar na terra, conforme se exemplifica na figura da página seguinte.
Deste modo, de acordo com o plano de escavação estabelecido, teremos marcado no terreno
as escavações a realizar. Seguindo o mesmo método e meios, traçam-se as valas para as
instalações enterradas, havendo o cuidado de as distinguir das outras com traços em
diagonal, uma vez que não terão as mesmas profundidades.
A partir deste momento, temos as condições para a execução das escavações, de acordo
com as recomendações já feitas.

5. EXECUÇÃO DOS CABOUCOS

O fundo dos caboucos deverá ficar perfeitamente nivelado e regularizado, por corte ou por
camada de traço fraco de cimento e areia (1:8 a 1:10), no caso de se destinar ao enchimento
com betão simples ou armado, ou com uma camada de areia com cerca de 0,05 m de
espessura, no caso de o enchimento estar previsto em alvenaria de pedra.
Em terrenos inclinados, não se justificando por vezes o nivelamento, que daria origem a
grandes profundidades, recorre-se quase sempre à formação de socalcos. Quando tal
acontece, deverá evitar-se que os ressaltos coincidam com encontros de paredes.
Na execução das alvenarias ou do betão de enchimento, deverão respeitar-se as regras
recomendadas no respetivo capítulo, bem como as recomendações que ali se fazem para as
ligações entre alvenarias de natureza diferente.
Nas fundações deverão ficar abertas já todas as passagens (atravessamentos e reservas)
para os esgotos, adução de água e passagem de cabos de instalações elétricas.

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Transferência para o terreno

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Execução dos caboucos

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VI – ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS

1. INTRODUÇÃO

A estrutura de um edifício é o conjunto de elementos que asseguram a estabilidade da


construção, ou seja, que o suportam e que, em caso de ruína de um dos seus elementos,
poderá dar origem ao desabamento de toda a obra.
Para desempenhar a sua função, a estrutura deverá ser formada por um todo perfeitamente
ligado, capaz de resistir aos esforços verticais, horizontais e oblíquos atuando sobre o edifício.
A resistência aos esforços horizontais fica a dever-se, em particular, à disposição dada a
certas peças que constituem a estrutura, a que chamaremos contraventamento.
A estrutura de um edifício deve assentar no princípio da triangulação, o qual conduz a
conjuntos indeformáveis de peças estruturais. Assim, uma estrutura de um edifício poderá ser
formada por paredes maciças resistentes solidárias com os pavimentos ou por peças
reticuladas unidas entre si.
As estruturas formadas por paredes resistentes solidárias com os pavimentos são as usadas
tradicionalmente na construção de edifícios por recurso às alvenarias de pedra, blocos de
cimento ou cerâmicos e outros aglomerados que, a par do seu papel de elementos portantes,
servem também para dividir os espaços, isolá-los acústica e termicamente, protegendo-os.
Neste tipo de construção, o contraventamento é assegurado pelas paredes portantes (no
plano vertical) e pelos pavimentos (no plano horizontal).
Uma estrutura reticulada é caraterizada pela sua forma de autêntico “esqueleto”, constituído
por elementos verticais, horizontais e oblíquos, retos ou curvos. Tem, em relação à estrutura
tradicional de paredes portantes, a vantagem de ocupar menos espaço. As divisões são feitas
de paredes divisórias não portantes que, em certa medida, contribuem para reforçar o
contraventamento da construção.
As paredes divisórias não portantes podem conter, tal como todas as paredes interiores, uma
estrutura própria de pilares e cintas que, embora apoiadas sobre a estrutura principal, não dão
qualquer contributo à estabilidade geral: é uma estrutura secundária destinada a conferir
rigidez. No entanto, pelas suas ligações à estrutura principal, esta poderá ser um órgão de
transmissão a toda a estrutura de certos esforços particulares, como, por exemplo, os que
resultam do vento soprando sobre as paredes das fachadas.

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As estruturas dos edifícios podem classificar-se em quatro categorias principais, atendendo ao


material que, basicamente, as constitui:
 Alvenaria portante;
 Betão armado;
 Estrutura metálica;
 Estrutura de madeira.

2. ALVENARIA PORTANTE

2.1. CONSTITUIÇÃO

Por alvenaria, entende-se todo o conjunto de materiais de construção solidarizados entre si


por um ligante, na maior parte dos casos uma argamassa. Os materiais mais utilizados na
execução de alvenaria a que fizemos referência são a pedra, o tijolo e os blocos de cimento.

2.2. CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE

Uma estrutura de alvenaria portante resiste mal aos esforços de tração, pelo que se torna
necessário fazer com que os esforços de compressão sejam preponderantes e os de tração
sejam desprezáveis.
As condições de estabilidade de uma alvenaria portante são: resistência ao esmagamento,
resistência ao escorregamento dos elementos constitutivos, resistência à rotura das juntas e
resistência ao derrube.

RESISTÊNCIA AO ESMAGAMENTO
Neste caso, a fiada a considerar será sempre a mais solicitada pelas cargas e sobrecargas de
toda a natureza, seguindo-se uma linha de ação vertical, ou seja, a fiada mais baixa em
estudo.
A tensão limite imposta ao material não deverá exceder a resistência ao esmagamento obtida
em prensa, no laboratório, nas mesmas condições de humidade que o material no local da
obra. A tensão de serviço a adotar nos cálculos é o valor daquela tensão afetada de um
coeficiente de segurança, geralmente 3 ou 4.
A resistência da pedra não é a única a considerar. É necessário ter em conta também a
argamassa. É contraindicado empregar, na execução das juntas das alvenarias portantes, um
ligante que, após o endurecimento, possua resistência superior à do material, pois haveria

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risco de rotura por perda de equilíbrio entre as peças ou punçoamento (figura da direita, em
baixo). Por este motivo, é lógico e económico, para as paredes de fundação elevadas
diretamente a partir das sapatas, empregar apenas um ligante de cal hidráulica e não um de
cimento, bastante mais caro.
Em conclusão, convém que ligante e material tenham resistências ao esmagamento
aproximadamente iguais.

Conjunto de blocos de pedra: Rotura de um bloco de alvenaria por reação com junta
transmissão irregular de cargas feita de argamassa com resistência superior à do bloco

RESISTÊNCIA AO ESCORREGAMENTO
A componente horizontal dos esforços oblíquos tende a fazer deslizar os elementos
constitutivos de uma parede uns sobre os outros. Compete ao ligante resistir a este
escorregamento.
Se, em vez de ter reação de presa e endurecer, o ligante permanecer plástico, a resultante da
força de compressão e da força de escorregamento deverá ser menor que a ângulo de atrito 
entre o material e o ligante (figura abaixo.

Condição de resistência ao escorregamento

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É este facto que demonstra ser suficiente, para pequenos esforços tangenciais, apenas o
atrito dos materiais entre eles mesmos para se opor ao escorregamento, na ausência de
qualquer ligante.
Para um ligante que adquire, pela reação de presa, uma dureza pelo menos igual à do
material, é a um esforço de corte que a junta deverá resistir. Esta resistência ao corte é
pequena, comparada com a resistência à tração que é, para um ligante normal, cerca de 1/10
da sua resistência à compressão.

RESISTÊNCIA À ROTURA DAS JUNTAS


Uma junta não pode romper exceto se estiver submetida a um esforço de tração. Esta
condição não é válida para o caso em que o ponto de aplicação da força se situa dentro do
terço central de um dos elementos e a resultante das forças (esforços) nesse ponto está muito
próxima da normal à junta (figura seguinte). Neste caso, embora exista esforço de tração no
extradorso, a junta não rompe, uma vez que se encontra sujeita a compressão na restante
extensão.

Força resultante aplicada na junta

É para resistir à rotura das juntas que a alvenaria, constituída por elementos geométricos, é
disposta segundo uma “aparelhagem” determinada, em função de formas arquiteturais ou
utilitárias a atingir (arcos, lintéis, padieiras, etc.) (figura seguinte).

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Lintéis numa estrutura em alvenaria portante

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RESISTÊNCIA AO DERRUBE
Ainda que corretamente calculada para satisfazer as três condições precedentes, uma parede
pode ser solicitada ao derrube em torno de um eixo, natural ou acidental: é o caso de um
muro de suporte ou de uma parede submetida à ação do vento.

2.3. CARATERÍSTICAS MECÂNICAS DAS ALVENARIAS

As caraterísticas mecânicas dos materiais resistentes mais usados na execução de estruturas


são apresentadas em “Materiais de Construção”. Para as caraterísticas das argamassas de
ligação, são dadas indicações mais completas igualmente em “Materiais de Construção”.

2.4. INDICAÇÕES PARA A EXECUÇÃO DE ALVENARIAS

PAREDES CORRENTES DE EDIFÍCOS


As estruturas de alvenaria portante não permitem construções de grande altura, devido,
principalmente, às grandes quantidades de materiais a empregar e aos esforços que
introduzem no solo.
A espessura de uma parede depende, essencialmente, do número de andares e das cargas
transmitidas por cada um deles.
Esta diminui à medida que subimos em altura na construção, efetuando-se essa diminuição
não de maneira contínua, mas mantendo constante a espessura entre dois andares
consecutivos, criando um “degrau” em cada andar.

Ressaltos para apoio de pavimentos

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Exemplo:
Para um imóvel de 4 andares, teremos as seguintes espessuras:
 Para o rés-do-chão → 0,40 a 0,50 m;
 Para o 1.º andar → 0,35 a 0,45 m;
 Para o 2.º andar → 0,30 a 0,40 m;
 Para o 3.º andar → 0,25 a 0,35 m;
 Para o 4.º andar → 0,20 a 0,30 m.
Se a parede for de pedra, o socalco terá de 0,05 a 0,10 m. Se for de blocos pré-fabricados de
cimento, terá a espessura de meio bloco, isto é, 0,11 m. Na parte superior ao 4.º andar,
manter-se-á a espessura dada para aquele andar, ou seja, 0,20 a 0,30 m.
Em certas regiões, existe o costume de manter constante a espessura entre o rés-do-chão e o
2.º andar (0,40 a 0,50), entre o 2.º e o 5.º andar (0,25 a 0,35 m), possuindo o 6.º andar uma
espessura de 0,20 a 0,30 m.
A figura abaixo representa o corte de um edifício clássico de cinco andares, com as diferentes
espessuras das paredes de fachada.

Corte de uma parede de fachada num edifício de estrutura clássica

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PAREDES COM CONTRAFORTES


As vigas dos pavimentos e asnas apoiam, geralmente, sobre partes reforçadas das paredes
portantes situadas no mesmo plano vertical. Neste caso, executa-se, nos pontos carregados,
contrafortes especialmente resistentes, em material de 1.ª escolha, entre os quais a alvenaria
serve de “enchimento”, possuindo pequena espessura.
Estes contrafortes terão saliências para o interior ou o exterior da fachada: no interior, servem
de apoio às vigas, enquanto no exterior quebram a monotonia das fachadas (figura abaixo).

Parede com contrafortes

PAREDES MESTRAS INTERIORES


Servem para dividir o edifício em diferentes compartimentos, suportando os pavimentos e as
vigas. Deverão ser construídas do mesmo modo que as paredes das fachadas, podendo ser
constituídos por materiais de qualidade inferior, nomeadamente no que concerne à sua
resistência à ação dos agentes atmosféricos. A espessura destas paredes é inferior, em geral
em 0,05 a 0,10 m, às paredes exteriores correspondentes.

Paredes interiores resistentes (paredes mestras)

A falta de esbelteza da construção tradicional em alvenaria e as quantidades proibitivas de


materiais que exige para imóveis de grande altura ou sujeitos a grandes cargas conduziu à
conceção de uma estrutura formada por elementos de pequenas secções, em que o elemento
base é o betão armado.

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3. ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO

DEFINIÇÃO
Podemos definir estrutura de betão armado como um conjunto de elementos constituídos por
betão e varões de aço dispostos no seu interior, que asseguram a estabilidade de uma
construção.
Uma estrutura de betão armado é composta por elementos retilíneos (pilares, vigas, arcos) e
elementos planos (paredes, vigas paredes, pavimentos ou lajes e placas). Estes elementos
encontram-se ligados entre si e descarregam sobre fundações. As ligações em betão armado
são realizadas muito facilmente, permitindo o monolitismo da estrutura, exceto quando este
não for desejado. Estas devem ser suficientemente rígidas para que as deformações sejam
limitadas a valores compatíveis com os fins a que a obra se destina, bem como com o bom
comportamento dos materiais utilizados.

3.2. CARATERÍSTICAS DO BETÃO ARMADO


Os materiais rochosos (nos quais se incluem argamassas e betões) resistem bem aos
esforços de compressão, mas mal aos de tração. Pelo contrário, os metais têm bom
comportamento a qualquer tipo de esforço. O betão armado nasceu da associação destes
dois materiais no mesmo meio.
Uma estrutura de betão armado é um “esqueleto” formado por malhas rígidas, em que os
pontos de contacto com as fundações correspondem aos pontos de transmissão de cargas de
todos os tipos. Este “esqueleto” é constituído por pilares que suportam vigas, nas quais se
apoiam os pavimentos e as paredes. As paredes divisórias não suportam qualquer carga.
Os pilares distribuem-se pelo contorno e no interior do edifício, suportando os que se situam
no contorno, as vigas do bordo e as perpendiculares à fachada, enquanto os do interior
recebem as vigas longitudinais e transversais dos pavimentos.

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Estrutura de betão armado

A armadura dos pilares é constituída por varões longitudinais repartidos pela periferia, a uma
distância mínima entre eles que depende, por um lado, do perigo de corrosão ao qual os
varões de aço estão expostos e, por outro, do diâmetro nominal desses varões. Num pilar de
secção quadrada submetido a pequenos esforços, coloca-se geralmente um varão em cada
canto. A armadura transversal mantém solidários este varões, servindo também para conferir
resistência ao varejamento desses varões longitudinais, bem como para resistir a eventuais
esforços de corte a que o pilar possa estar sujeito (figuras abaixo).

Varões verticais de um pilar Continuidade dos varões de aço


de não escorregamento – ligação através de um pavimento

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A ligação dos pilares com as vigas faz-se, por vezes, com a ajuda de esquadros de ligação de
comprimento aproximadamente igual à altura da viga e cuja altura é de 1/3 daquela (figura
abaixo). Os varões oblíquos, paralelos ao paramento do esquadro, formam a armadura
inferior da viga e encontram-se ligados à armadura principal por estribos.

Esquadro e ligação em curva

A figura seguinte dá um exemplo da disposição de um nó com esquadro simétrico.

Nó estrutural com esquadro simétrico

As vigas têm armaduras submetidas à tração junto à face tracionada e, mesmo que não seja
absolutamente necessário por cálculo, um conjunto de varões de menor diâmetro, junto à face
comprimida. Estes varões permitem a colocação dos estribos, facilitando a pré-fabricação das
armaduras. As vigas podem apoiar-se diretamente sobre os pilares, desde que as suas
armaduras não sejam muito complicadas.

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A estrutura de betão armado apresenta as seguintes vantagens:


 Elimina os grandes maciços de alvenaria e reduz a espessura dos panos de parede até
aquela que é estritamente indispensável ao isolamento pretendido;
 Permite executar todas as formas de estrutura, mesmo as mais complicadas, resolvendo
o problema sempre delicado das ligações entre peças;
 Permite repartir os pilares segundo tramos previamente estudados, permitindo,
eventualmente, transformações futuras na organização dos espaços;
 Outra vantagem será a de permitir uma grande mecanização do estaleiro, geradora de
uniformização dos trabalhos e economia;
 O betão armado resiste bem à agressão dos agentes atmosféricos, conquanto as
cofragens sejam metálicas, e de peças bem ligadas entre si, adotando-se o ligante de
qualidade adequada. O facto de a estrutura ser normalmente revestida por argamassas
e elementos cerâmicos ou pintura reforça esta resistência à ação do meio ambiente;
 O betão armado é bastante resistente ao fogo;
 Por fim, a estrutura em betão armado oferece boa resistência a eventuais
assentamentos das fundações e aos abalos sísmicos.

4. ESTRUTURAS METÁLICAS

DEFINIÇÃO
À semelhança do que foi referido para o betão armado, estrutura metálica é um conjunto de
elementos metálicos ligados entre si, que asseguram a estabilidade de uma construção.

Estrutura metálica de pequena nave industrial

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Uma estrutura metálica é constituída por perfis de aço maciços ou tubulares, formando
pilares, vigas e asnas ligados entre si e que descarregam sobre fundações (normalmente, de
betão armado). Este material permite a realização de estruturas mais esbeltas que as de
betão armado, sendo a solução adequada à construção de edifícios de grande altura, naves
industriais, hangares ou pavilhões de exposição ou conferências que exijam grandes
extensões livres de pilares.

Hangar de aeroporto

CARATERÍSTICAS DO AÇO
O aço é, de um modo geral, dos metais mais usados na construção de estruturas, tem bom
comportamento a qualquer tipo de solicitação, sendo adequado quando se trate de resistir a
grandes esforços de tração, flexão e corte. A sua resistência à compressão é também muito
grande, sendo, no entanto, o seu aproveitamento mais limitado por fenómenos de
varejamento dos perfis, normalmente muito esbeltos, quando sujeitos a este tipo de esforço.
Tal como no caso do betão armado, estas estruturas são formadas por malhas em que os
pontos de contacto com as fundações, paredes ou pilares de outro material correspondem aos
pontos de transmissão de cargas de todos os tipos (figura seguinte).
Repare-se na aplicação do princípio da triangulação, já referido na Introdução deste capítulo,
bem evidentes nas estruturas metálicas, garantindo, assim, conjuntos indeformáveis de peças
estruturais.

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O tipo de aço, os perfis a usar e as respetivas ligações são aspetos fundamentais a ter em
conta na conceção de estruturas metálicas.

.
Cobertura de tribuna de velódromo. Repare-se na esbelteza dos pilares.
Vão total da cobertura: 30 m

5. ESTRUTURAS DE MADEIRA

DEFINIÇÃO
A estrutura de madeira é constituída por um conjunto de elementos de madeira ligados entre
si, os quais asseguram a estabilidade de uma construção (figura abaixo).

Estrutura de madeira – numa das extremidades apoia em parede de alvenaria portante

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Este tipo de estrutura, muito usada desde que o homem começou a construir os primeiros
abrigos, coexistiu com as estruturas de alvenaria portante até aos nossos dias.
Com efeito, a construção de edifícios de madeira ou com esta associada às alvenarias
portantes predominou até ao início do século XX, ocasião em que as estruturas em betão
armado se generalizaram, com as vantagens já referidas nos títulos anteriores. Em Portugal, a
construção de estruturas de edifícios foi realizada quase exclusivamente por pavimentos em
vigas de madeira, que apoiavam em paredes de alvenaria portante. As coberturas eram
suportadas por asnas ou vigas também de madeira. Em certos países, como a Inglaterra ou
os Estados Unidos, muitos edifícios, especialmente de pequeno e médio porte, foram
realizados, e continuam a sê-lo nos nossos dias, com estrutura de madeira. Geralmente, estas
construções têm os seus revestimentos – paredes, tetos e pavimentos – também em madeira.
A madeira usada em estruturas é obtida, na maior parte dos casos, a partir do corte de
árvores da região onde se inserem ou de outras, chamadas exóticas, importadas de países de
clima tropical. O seu uso em pavimentos é feito, muitas vezes, por uso direto de troncos de
árvores de diâmetro selecionado, enquanto noutros casos se aplica em perfis de secção
retangular obtidos a partir do corte da madeira. No que diz respeito à execução de asnas,
pilares e elementos de contraventamento, utilizam-se somente peças de secção retangular
previamente definidas em projeto.
As estruturas de madeira são utilizadas, no nosso país, na execução de asnas e estruturas de
apoio a coberturas de oficinas e instalações industriais, bem como em edifícios de pequeno
porte, construídos em sistema de pré-fabricação. Não é usual, nos nossos dias, a construção
de edifícios com estrutura de madeira, pelo método clássico, em Portugal.

5.2. CARATERÍSTICAS DAS MADEIRAS


A qualidade das madeiras é variável em função da sua origem. As variedades mais utilizadas
no nosso país para a construção de estruturas são o pinho, o eucalipto, o carvalho, o
castanho e as madeiras exóticas, particularmente, os mognos e a sucupira.
As suas caraterísticas mecânicas são variadas de acordo com a espécie de árvore.

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VII – ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO E PRÉ-ESFORÇADO

1. INTRODUÇÃO

Sabemos que o betão armado é um conjunto composto por betão e uma armadura, que
assegura a estabilidade de uma construção.
O presente capítulo irá abordar, não só as caraterísticas dos materiais que integram a
estrutura em betão armado – o betão e o aço –, mas também os princípios da sua conceção,
pormenores construtivos, legislação aplicável e a execução em obra. No tema da execução
em obra, serão tratados os assuntos relacionados com a preparação e colocação de
armaduras, carpintarias de estaleiro e preparação, transporte e aplicação de betões e
argamassas.

2. O MATERIAL BETÃO ARMADO

O betão armado é um material que resulta da associação do betão e do aço, para permitir a
execução de peças estruturais de maior resistência, quer mecânica, quer à ação do meio
envolvente da estrutura. Com efeito, o betão possui grande resistência mecânica ao esforço
de compressão e à ação do meio envolvente – normalmente, o ar ou a água –, enquanto os
varões de aço, atuando normalmente em regime de tração, lhe conferem, não só um aumento
da resistência à compressão, mas também a esforços importantes de flexão e corte.

2.1. O BETÃO

O betão é uma mistura de cimento e inertes, amassados com água, em proporções


previamente definidas consoante a utilização pretendida.
Os inertes são assim chamados por não reagirem com o cimento ou a água, sendo
constituídos por areias e britas, materiais que conferem resistência mecânica ao betão. Por
este motivo, devem ser de boa qualidade, de forma a não comprometerem esta resistência.
O tipo de betão é definido em função do cimento utilizado no seu fabrico, existindo dois
documentos normativos em vigor, que permitem a sua classificação: o Regulamento de
Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado (REBAP), de 1983, e a Norma Portuguesa
NP-ENV 206, de 1993. O REBAP define dois tipos de classificação principal: o tipo B,
caraterizado pela sua resistência mecânica, e o tipo BD, caraterizado pela sua durabilidade
em meios agressivos.

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A Norma NP-ENV 206 define o controlo de qualidade dos betões de modo diverso do REBAP,
alterando conceitos deste Regulamento em função das mais recentes diretivas comunitárias.
Face ao exposto, interessa estabelecer equivalências entre um e outro documento em vigor,
particularmente no que diz respeito à resistência mecânica dos betões.
A caraterização do betão quanto à durabilidade em meios agressivos é definida pela Norma
NP-ENV 206, a qual estabelece classes de exposição relacionadas com as condições
ambientais. Estas classes serão referidas, neste texto, de forma sucinta, sem preocupação de
estabelecer equivalência com as disposições do REBAP. O Quadro 1, que seguidamente se
apresenta, contém as classes tal como são definidas pelo REBAP e pela NP-ENV 206,
segundo a sua resistência à compressão, para ensaios realizados em provetes cúbicos com
20 cm de aresta, cilíndricos com 30 cm de altura e 15 cm de diâmetro e também em provetes
cúbicos com 15 cm de aresta.

Quadro 1 – Classes de resistência mecânica do betão à compressão

Classes REBAP

B15 B20 B25 B30 B35 B40 B45 B50 B55

fck,cubo (Mpa) 15 20 25 30 35 40 45 50 55
(a=20cm)

fck,cyl. (Mpa) 12 16 20 25 30 35 40 45 50
(h=30; =15cm)

fck,cubo (Mpa) 15 20 25 30 37 45 50 55 60
(a=15cm)

C12/15 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60

Classes NP-ENV 206

A consulta do Quadro 1 permite concluir, por exemplo, da equivalência entre a resistência


mecânica à compressão do betão da classe B25 do REBAP e da C20/25 da NP-ENV 206.
A classe do betão, de acordo com o REBAP, é designada pela letra B seguida de um número
que exprime o seu valor caraterístico da tensão de rotura à compressão em provetes cúbicos
com 20 cm de aresta, decorridos 28 dias de secagem.
A classe do betão, de acordo com a NP-ENV 206, é designada pela letra C seguida de dois
números separados por “/”, exprimindo o primeiro o valor caraterístico da tensão de rotura à
compressão em provetes cilíndricos com 30 cm de altura e 15 cm de diâmetro, e o segundo, o
mesmo valor obtido em provetes cúbicos com 15 cm de aresta. Todos os valores do Quadro 1
são em MPa (megapascais), em que 1 MPa = 10,2 kgf/cm2 = 1000 kN/m2.

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A durabilidade do betão em meios agressivos, de acordo com a NP-ENV 206, é tratada


considerando a existência de classes de exposição relacionadas com as condições
ambientais e os requisitos de durabilidade relacionados com as condições ambientais. Neste
contexto, entende-se por ambiente as ações químicas e físicas a que o betão está exposto e
de que resultam efeitos não considerados como cargas no projeto estrutural. Estas condições
ambientais estão classificadas no Quadro 2.

Quadro 2 – Classes de exposição relacionadas com as condições ambientais

CLASSES DE EXPOSIÇÃO EXEMPLO DE CONDIÇÕES AMBIENTAIS

1 (ambiente seco)  interior de habitações ou de escritórios ( )


1

a  interior de edifícios onde a humidade é elevada (p.ex. lavandarias)


(sem gelo)
 elementos exteriores
 elementos em águas ou solos não agressivos
2 (ambiente húmido)
b  elementos exteriores sujeitos ao gelo
(com gelo)
 elementos em águas ou solos não agressivos e expostos ao gelo
 elementos interiores onde a humidade é elevada e expostos ao gelo
3 (ambiente húmido com gelo e
produtos descongelantes)  elementos interiores e exteriores expostos ao gelo e a produtos
descongelantes

a  elementos completa ou parcialmente submersos na água do mar ou sujeitos


(sem gelo) aos efeitos da rebentação
 elementos em ar saturado de sais (área costeira)
4 (ambiente marítimo)
b  elementos parcialmente submersos na água do mar ou sujeitos aos efeitos
(com gelo) da rebentação e expostos ao gelo
 componentes em ar saturado de sais e expostos ao gelo
As classes seguintes podem ocorrer isoladas ou em combinação com as classes acima mencionadas

5 (ambiente a  ambiente químico ligeiramente agressivo (gás, líquido ou sólido)


quimicamente  atmosfera industrial agressiva

 ambiente químico moderadamente agressivo (gás, líquido ou sólido)


2
b
agressivo) ( )
c  ambiente químico altamente agressivo (gás, líquido ou sólido)

1
( ) Esta classe de exposição só é válida desde que, durante a construção, a estrutura ou alguns dos seus elementos, não esteja exposta a
condições mais severas durante um período prolongado de tempo.
2
( ) Os ambientes quimicamente agressivos estão classificados na ISO 9690. Podem ser utilizadas as condições equivalentes de exposição que
a seguir se indicam:
 Classe de exposição 5a: classificação ISO A1G, A1L, A1S
 Classe de exposição 5b: classificação ISO A2G, A2L, A2S
 Classe de exposição 5c: classificação ISO A3G, A3L, A3S

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No que diz respeito aos requisitos de durabilidade relacionados com as condições ambientais,
o Quadro 3 indica os valores limites para a composição e propriedades do betão simples,
armado ou pré-esforçado.
Os valores mínimos exigidos para o betão simples só se aplicam se o betão não contiver aço
embebido (armaduras ou inserções permanentes), dado que este tem de ser protegido contra
a corrosão.
Adicionalmente, quando exigido pelas normas nacionais ou regulamentação em vigor no local
de aplicação do betão*, pode especificar-se uma classe de resistência mínima para o betão.
Se as exigências relativas à razão água/cimento e à dosagem mínima de cimento indicadas
no Quadro 4 forem satisfeitas, atingir-se-ão normalmente as resistências indicadas no Quadro
3 retirado da NP-ENV 206.
A análise destes quadros permite concluir que são feitas chamadas para outros artigos ou
disposições da Norma NP-ENV 206. Com efeito, o objetivo do presente texto é a transmissão
dos conhecimentos básicos sobre as classes em que estão organizados os betões, pelo que é
necessário consultar a Norma e seus anexos para a obtenção da totalidade da informação
sobre este tema.

Quadro 3 - Classes de resistência do betão relacionadas com a razão água/cimento

CLASSE DE RESISTÊNCIA DO CIMENTO RAZÃO ÁGUA/CIMENTO


0,65 0,60 0,55 0,50 0,45

CE 32,5 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50

CE 42,5 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55

* Ver Anexo NA (Anexo Nacional) da NP-ENV 206 – Quadro 20

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Quadro 4 - Requisitos de durabilidade relacionados com a exposição ambiental

CLASSES DE EXPOSIÇÃO DE ACORDO COM O QUADRO 2


REQUISITOS
(1)
1 2a 2b 3 4a 4b 5a 5b 5c
(2)
Razão A/C máxima para
 betão simples
- 0,70
 betão armado
0,65 0,60 0,55 0,50 0,55 0,50 0,55 0,50 0,45
 betão pré-esforçado 0,60 0,60
(2) 3
Dosagem mínima de cimento , em kg/m ,
para:
 betão simples
150 200 200 200
 betão armado
260 280 280 300 300 300 280 300 300
 betão pré-esforçado 300 300 300 300

Teor mínimo de ar no betão fresco, em %,


(3)
para a máxima dimensão do inerte de
 32 mm
 16 mm (4) (4) (4)
4 4 4
 8 mm - - 5 5 - 5 - - -
6 6 6
(6)
Inertes resistentes ao gelo - - sim sim - sim - - -
Betão impermeável segundo 7.3.1.5. - - sim sim sim sim sim sim sim
cimento resistente aos
(5)
sulfatos para teores de
Tipos de cimento para betão simples e De acordo com a EN-197 – Partes 1 e 2 (proj. sulfato
armado junho 88) (*)
>500 mg/kg na água
>3000 mg/kg no solo
Estes valores da razão A/C e da dosagem de cimento respeitam a cimentos
sobre os quais existe uma larga experiência em vários países.
Contudo, na altura da redação desta Pré-norma, a experiência de utilização de
certos cimentos normalizados na EN-197 é limitada às condições climatéricas
locais nalguns países. Assim durante a vigência desta pré-norma,
particularmente para as classes de exposição 2b, 3 e 4b, na escolha de tipo de
cimento e na sua composição convém seguir as normas nacionais ou
regulamentações em vigor no local de aplicação do betão (*). Em alternativa, a
aplicabilidade dos cimentos pode comprovar-se por ensaios em betão sujeito às
condições de utilização previstas (*).
Refira-se ainda que o cimento CE I pode geralmente ser utilizado no betão pré-
esforçado. Podem ser utilizados outros tipos de cimento se existir experiência e
a sua aplicação for permitida pelas normas nacionais ou regulamentações em
vigor no local de aplicação do betão (*).

(1) Além disso o betão deve estar protegido do contacto direto com o meio agressivo por um revestimento, a não ser nos casos
particulares em que tal proteção for considerada desnecessária.
(2) A dosagem mínima de cimento e a razão A/C máxima estabelecidas nesta Pré-norma só se referem aos cimentos listados
em 4.1. Quando se adicionam à composição pozolanas ou adições hidráulicas latentes, as normas nacionais ou
regulamentações em vigor no local de aplicação do betão (*) poderão estabelecer modificações dos valores mínimo e
máximo.
(3) Com um fator de espaçamento do ar introduzido no sistema de vazios < 0,20 mm medido no betão endurecido.
(4) Nos casos em que o grau de saturação é elevado durante períodos de tempo prolongados.
Podem-se aplicar outros valores ou outras medidas se o betão for ensaiado e se verificar que tem resistência ao gelo adequada
de acordo com as normas nacionais ou regulamentações em vigor no local de aplicação do betão (*).
(5) A resistência do cimento aos sulfatos deve ser determinada com base nas normas nacionais ou regulamentações em vigor
no local de aplicação do betão (*).
(6) A verificar segundo as normas nacionais ou regulamentações em vigor no local de aplicação do betão (*).

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2.2. O AÇO

O aço a incorporar nas estruturas de betão armado pode ser de vários tipos. De acordo com o
fim pretendido, podemos ter aço sob a forma de varões (redondos, simples ou em redes
eletrossoldadas), fios e cordões de pré-esforço.
As suas caraterísticas, definidas no REBAP, são as que constam do Quadro 5:

Quadro 5 – Tipos de armaduras ordinárias para betão armado


Características mecânicas
Processo de Configuração Caracterís- Tração (1) Dobragem (2)
Designação fabrico Da superfície ticas de Tensão de Tensão Extensão Dobragem Dobragem-desdobragem (6) conforme
aderência cedência de após simples(5) o diâmetro dos varões (mm)
fsyk rotura rotura
(4)
(Mpa) fsuk Esuk
(Mpa) 1218 1825 2532 3240
Laminado a 2 ---- ---- ---- ----
A235NL Lisa Normal
quente 235 360 24
A235NR Rugosa Alta 2(7) 5 7 8 10
Laminado a 3(7) 6 8 10 12
A400NR Rugosa Alta 400 460 14
quente
Endurecido a 3(7) 6 8 10 12
A400ER Rugosa Alta
frio
Endurecido a 400 460 12
A400EL frio com torção Lisa Normal 4 ---- ---- ---- ---

Laminado a 4(7) 8 10 12 14


A500NR Rugosa Alta 500 550 12
quente
Endurecido a 4(7) 8 10 12 14
A500ER Rugosa Alta
500 550 10
A500EL(8) frio Lisa Normal 4

(1) Ensaio segundo a Norma Portuguesa NP-105. Para os aços endurecidos, estas características devem ser determinadas após envelhecimento
artificial (30 minutos a 250º C e arrefecimento à temperatura ambiente).
(2) Os valores indicados no quadro designam os diâmetros dos mandris, sendo o diâmetro dos varões.
(3) Ou tensão limite convencional de proporcionalidade a 0,2% fs0,2k.
(4) Comprimento de referência inicial igual a 5 .
(5) Ensaio segundo a Norma Portuguesa NP-173, com ângulo de dobragem de 180º.
(6) Dobragem a 90º segundo a Norma Portuguesa NP-173, seguida de aquecimento durante 30 minutos a 100º C, arrefecimento à temperatura
ambiente e posterior desdobragem de 20º.
(7) Somente exigido para varões com diâmetro igual ou menor que 12 mm.
(8) Somente sob a forma de redes eletrossoldadas.

A incorporação de aço nas estruturas de betão tem como função o incremento da resistência
a esforços diferentes da compressão. Como é sabido, o betão resiste bem a esforços de
compressão, mas o mesmo não acontece com esforços de tração ou flexão e corte. Como o
aço resiste bem a qualquer tipo de esforço, junto com o betão forma uma união perfeita.

3. ESTRUTURA: PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO E ESFORÇOS

É possível executar toda a estrutura portante (estrutura que suporta, por si só, as cargas) em
betão armado, pela ligação de diversas peças deste material.
Exemplos de tais peças em betão armado são: lajes, vigas, pilares, paredes, sapatas. As
peças em betão armado são fáceis de executar e permitem a ligação simplificada entre si ou
com outros elementos de materiais diferentes.

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Uma estrutura de betão armado forma uma espécie de esqueleto com vigas e pilares,
possuindo lajes maciças ou aligeiradas que transmitem os esforços às vigas, as quais, por
sua vez, os transmitem aos pilares. Tramo a tramo (piso por piso), os pilares vão recebendo
as cargas e vão, por sua vez, transmiti-las às fundações, que se encarregarão de as distribuir
no terreno.
Existem ainda as paredes que podem ser portantes ou simplesmente divisórias. Se forem
portantes, também foram concebidas para suportar cargas e transmiti-las. As paredes
divisórias têm apenas função de divisão ou separação de espaços e devem ser
suficientemente resistentes para suportar a ação do vento, caso sejam paredes exteriores.

Edifício construído com estrutura de betão armado

3.1. ESFORÇOS NAS PEÇAS DA ESTRUTURA

As vigas e os pilares possuem armaduras longitudinais e transversais, dimensionadas


consoante os esforços a que estarão sujeitas. Estes podem ser de vários tipos, consoante as
cargas que sobre eles atuam. Mesmo que não haja necessidade de armadura em alguns
pontos de uma peça de betão armado (esquinas, cantos), com frequência temos de a colocar
lá por razões de ordem construtiva.

FLEXÃO
Os esforços de flexão são típicos das lajes e vigas, ou seja, ocorrem geralmente nas peças
horizontais solicitados por cargas verticais (ou aproximadamente verticais), resultantes do seu
peso próprio e da presença de materiais e pessoas sobre elas apoiadas.
Vejam-se exemplos de esforços de flexão, bem como o modo de garantir a resistência destas
peças a este tipo de esforço.

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Viga sujeita a esforço de flexão

Dado que não possuí armadura, a rotura dá-se mais cedo e no local indicado.

Rotura em viga sujeita à flexão

Ao colocar uma pequena armadura no local, na secção de rotura, as fissuras iriam ocorrer
mais adiante.

Rotura em viga sujeita à flexão dotada de armadura a meio vão

Finalmente, era colocada a armadura correta na viga, passando esta a trabalhar à tração,
exatamente no sítio onde o betão se apresenta mais tracionado.

Viga armada para resistir à flexão

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Feita a análise da viga em questão, chegou-se à conclusão de que havia uma zona onde o
betão trabalhava à compressão (esforço que suporta bem) e outra onde trabalhava à tração,
razão pela qual se teria de incorporar a armadura nessa zona. Este é o tipo de esforços
associados à flexão: para a mesma secção transversal da peça em estudo, parte encontra-se
submetida a um esforço de tração, enquanto a outra está sujeita à compressão, conforme se
pode constatar da observação da figura seguinte.
É de salientar que os varões de aço colocados na parte superior têm apenas como função dar
forma à armadura da viga.

Secção de viga – armaduras: disposições construtivas

Apresenta-se de seguida outros exemplos de esforços de flexão em vigas, de acordo com o


seu tipo de apoio.

Viga simplesmente apoiada

Este tipo de apoio das vigas é pouco usual em estruturas de betão armado e corresponde a
uma viga simplesmente apoiada (2 apoios).

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Viga em consola

Este tipo de apoio de vigas aparece em varandas em consola. A situação inverte-se, em


comparação com o caso anterior: Os esforços de tração passam a aparecer na parte superior
da viga e é lá que a armadura deverá ser colocada.

Vigas com apoios encastrados

Outra situação que pode acontecer corresponde ao encastramento nos apoios. Neste caso,
existe uma transmissão de todos os esforços existentes nas extremidades da viga aos pilares
ou às paredes (caso esteja apoiada em paredes). É a situação mais corrente nas estruturas
de betão armado (ligação das vigas aos pilares ou paredes, também em betão armado).

CORTE
É muito usual a construção de vigas com vários tramos. Junto dos apoios (pilares), existem
esforços de flexão e corte na viga. Neste caso, a armadura (principal) para resistir à flexão
deverá ser colocada na parte superior da viga, como ilustra a figura.

Viga contínua (com vários tramos)

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Se os esforços de corte, associados à flexão, atingirem valores elevados junto aos apoios das
vigas em pilares ou paredes, de tal forma que excedam a capacidade resistente do betão, é
necessário colocar armadura (varões em aço) que aumentem a sua resistência e evitem,
assim, a sua rotura por corte (figura abaixo).

Viga sujeita a esforço de corte elevado

Os estribos e os varões a 45º permitem aumentar a resistência da viga ao esforço de corte (ou
esforço transverso), impedindo a sua ruína.
Face ao exposto, poderemos concluir que o esforço de corte está associado ao de flexão,
podendo atingir valores que excedem a resistência do betão, obrigando à introdução de
armadura – estribos e/ou varões da armadura principal – inclinados a 45º.

COMPRESSÃO E TRAÇÃO
Os esforços de compressão e tração, para além de surgirem em peças submetidas
predominantemente à flexão, podem ser eles próprios predominantes em certos elementos
das estruturas de betão armado. É o caso dos pilares e das paredes, submetidos quase
exclusivamente a esforços de compressão, embora, em quase todos os casos, exista também
uma componente de flexão.

Pilares: predominância do esforço de compressão

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Conforme se pode constatar da observação da figura anterior, as vigas encastradas em


pilares transmitem esforços de flexão. Também a ação de forças horizontais introduz nos
pilares esforços de flexão (figura seguinte).

Compressão com flexão – pilar sujeito à ação de força horizontal

O esforço de tração dissociado de qualquer outro tipo de esforço não é comum em peças de
betão armado. Com efeito, devido à pequena resistência do betão à tração, não é comum a
realização de tirantes ou outras peças submetidas exclusivamente a este tipo de esforço.
Assim, em regra, sempre que uma peça estrutural esteja submetida exclusivamente à tração,
procura-se que seja construída em aço, já que este material é muito resistente a este esforço.

Elemento estrutural submetido à tração

3.2. ARMADURAS

As armaduras, conforme resulta das exposições anteriores, são constituídas por varões de
aço e podem ser de vários tipos e secções. Também existem disposições regulamentares que
estabelecem o espaçamento entre varões de armaduras e a espessura mínima da camada de

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recobrimento das armaduras, bem como, no caso de emendas ou término dos varões,
existem comprimentos mínimos a respeitar.
A função da armadura transversal (estribos) é a da manutenção da armadura longitudinal na
sua posição, de modo a evitar fenómenos de varejamento e ainda atenuar os esforços de
corte (figura seguinte). Tudo o que aqui foi dito é também válido para pilares, os quais estão
sujeitos a esforços de compressão com flexão e são objeto de disposições gerais e
particulares no que diz respeito à disposição das armaduras.
Outro pormenor de interesse na execução das peças de betão armado é a ligação entre elas
(vigas com lajes, vigas com pilares, tramos diferentes de pilares, pilares com fundações).
Essa ligação tem de ser feita de modo a que os esforços sejam transmitidos de uma maneira
uniforme, sem que originem o aparecimento de outros esforços diferentes dos calculados no
projeto da obra. Para que essas ligações permitam a transmissão dos esforços na íntegra, é
necessário, em obras de maior envergadura, recorrer-se a esquadros de ligação, como
exemplifica a figura da página seguinte. O comprimento de tais esquadros deverá ser
aproximadamente igual à altura da viga. A altura do referido esquadro nunca deve ser inferior
a 1/3 da altura da viga.

Viga: armadura longitudinal e transversal (estribos)

Representação esquemática da armadura de uma viga:

→ Armadura principal
Armadura de construção (ou armadura construtiva)
→ Armadura secundária
Estribos

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Vejamos um exemplo de armadura para uma ligação viga/pilar com esquadros de ligação:

Ligação viga-pilar com recurso a esquadro

3.3. AÇÕES E ESFORÇOS

As ações a que podem estar sujeitas as estruturas são:


 Peso próprio da estrutura e peso dos materiais de construção empregues na mesma
(alvenarias, revestimentos, impermeabilizações, etc.);
 Cargas de serviço decorrentes do uso normal do edifício, tais como pessoas, mobiliário,
equipamentos, etc.;
 Ações com componentes horizontais, tais como impulso hidráulico, impulso de terras,
efeitos de frenagem, choque acidental, vento, etc.;
 Variação de temperatura e retração do betão;
 Assentamentos imprevistos dos solos sob as fundações.
Estas ações originam esforços nos elementos estruturais, normalmente flexão, corte,
compressão e tração, que importa quantificar corretamente na fase de projeto da estrutura,
por forma a dimensionar adequadamente as peças que a constituem, garantindo a segurança
da estrutura pelo período de vida prevista para a construção.

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4. TIPOS DE ESTRUTURAS

Embora seja possível identificar várias classificações quanto ao tipo de estruturas de betão
armado, é prática corrente considerar-se dois tipos:
 Estrutura formada por barras encastradas, composta por vigas e pilares, formando
pórticos de vários andares, ligados entre si por lajes horizontais de pavimentos e
coberturas (primeira figura abaixo);
 Estrutura composta por vigas-parede e paredes solidárias com os pavimentos (segunda
figura abaixo).
O primeiro tipo de estrutura, composta por vigas e pilares, é mais usual, já que é normalmente
mais ligeira e económica e oferece, em relação ao segundo, a possibilidade de alteração de
espaços interiores, por demolição e construção de paredes divisórias.

Estrutura composta por barras encastradas (vigas e pilares)

Estrutura composta por paredes solidárias com os pavimentos

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5. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ÀS ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO E


PRÉ-ESFORÇADO

Existem dois Regulamentos e uma Norma que definem as ações e esforços a considerar, os
critérios gerais de segurança e sua verificação e as caraterísticas dos materiais a empregar
no dimensionamento e execução das estruturas, de forma a garantir a sua qualidade.
Assim, temos:
 O Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado (REBAP), composto
por um conjunto de disposições relativas à conceção e execução das estruturas de betão
armado e das estruturas de betão pré-esforçado, materiais a utilizar, ações a considerar,
verificação da segurança, disposições de projeto e disposições construtivas, e também da
garantia da qualidade na execução dos trabalhos. Foi preparado em articulação com o
RSA, particularmente no que concerne os critérios de verificação da segurança, definição
dos estados limites, quantificação e combinação de ações e coeficientes de segurança;
 O Regulamento de Segurança e Ações para Estruturas de Edifícios e Pontes (RSA),
um documento de caráter geral, que aborda os critérios gerais de segurança e a
quantificação das ações a considerar na conceção, projeto e execução de estruturas,
independentemente dos materiais a usar na sua construção. Assim, é aplicável a estruturas
de betão armado, aço ou de outros materiais usados na construção de edifícios e pontes;
 A Norma Portuguesa ENV 206 (NP-ENV 206), que define as caraterísticas do betão a
utilizar no projeto e execução de estruturas, bem como os critérios de controlo da qualidade
a adotar, por forma a determinar a sua conformidade com as especificações. Assim, o
objetivo desta norma é estabelecer as exigências técnicas relativas, não só aos
componentes do betão, à sua composição, às propriedades do betão fresco e endurecido e
à sua verificação, mas também as relativas ao fabrico do betão, seu transporte, entrega,
colocação, cura e procedimentos para o controlo da qualidade.
Esta Norma é a versão portuguesa da Pré-Norma Europeia ENV 206 (1990).

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VIII – ALVENARIAS

Estrutura reticulada de betão armado e alvenarias de tijolo

1. INTRODUÇÃO

As alvenarias caraterizam-se por constituírem um sistema complexo executado em obra,


composto por tijolos ou blocos unidos entre si por juntas de argamassa, formando um
conjunto rígido e coeso.
Para além de servirem de vedação e compartimentação de edifícios, as paredes de alvenaria
têm outras funções:
 Isolamento térmico;
 Isolamento acústico;
 Resistência ao fogo;
 Estanquidade à água.
De acordo com o material usado, as alvenarias podem separar-se em 3 tipos:
 Alvenaria de tijolo;
 Alvenaria de pedra;
 Alvenaria de blocos de betão e outros.

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2. ALVENARIAS

Estrutura reticulada de betão armado e alvenarias de tijolo

Alvenarias de tijolo furado

As alvenarias de tijolo são as mais usadas para vedação vertical e compartimentação de


edifícios, sobretudo devido ao elevado rendimento da mão-de-obra, bem como ao custo
relativamente reduzido dos tijolos cerâmicos.
Os tijolos cerâmicos para alvenarias podem distinguir-se em 3 categorias:
 Tijolo maciço => volume de vazios <15% do volume total aparente;
 Tijolo furado => furado por canais segundo a direção das maiores arestas, com uma
área entre 30% a 75% da respetiva face;

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 Tijolo perfurado => furado por canais perpendiculares ao seu leito, com uma área entre
15 e 50 % da respetiva face.
Principais vantagens da alvenaria de tijolo:
 Peso reduzido, permitindo baixos custos com transporte e mão de obra;
 Bom comportamento térmico;
 Absorção de água relativamente baixa;
 Bastante durável;
 Quando usado em vedações interiores, é relativamente fácil de demolir para alterações
à compartimentação.

De seguida, apresentam-se as dimensões correntes dos tijolos furados (Quadro 1).

Quadro 1 - Dimensões correntes de tijolo furado

Designação Dimensões (mm)


Comprimento Largura Altura
30x20x07 295 70 190
30x20x09 295 90 190
30x20x11 295 110 190
30x20x15 295 150 190
30x22x20 295 220 190

3. ALVENARIA DE PEDRA

Cantaria de pedra de granito em construção

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Moradia de cantaria de pedra de granito

As alvenarias de pedra possuem fins essencialmente estéticos, podendo, no entanto, ser


aproveitada a elevada resistência à compressão do granito para o seu uso como alvenaria
estrutural. O uso da alvenaria de pedra faz-se maioritariamente em paredes exteriores de
moradias ou pequenas construções, sendo bastante raro o aparecimento das alvenarias de
granito em paredes interiores ou em edifícios de habitação coletiva, sobretudo devido ao seu
preço bastante elevado e ao reduzido rendimento da mão de obra para a sua aplicação.
As principais vantagens das alvenarias de granito são:
 Grande resistência à compressão, podendo ter função estrutural;
 Bom comportamento térmico;
 Bom comportamento acústico;
 Absorção de água relativamente baixa;
 Muito durável;
 Estética agradável;
 Não necessita de revestimentos.

4. ALVENARIA DE BLOCOS DIVERSOS

Edifício com alvenarias em blocos de betão

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Alvenaria de blocos de betão em construção

Os blocos de betão têm aplicação para vedações e compartimentações, podendo ainda ser
usados como alvenaria estrutural.
As principais vantagens das alvenarias de blocos são:
 Boa resistência à compressão, podendo ter funções estruturais;
 Existência no mercado de vários tipos de blocos, adequados a diferentes necessidades:
térmicos, acústicos, drenantes, arquitetónicos, etc.;
 Boa resistência a impactos, sendo adequados para uso em pavilhões industriais,
garagens e estacionamentos coletivos, etc.;
 Bastante duráveis;
 Possibilidade de “face à vista”, dispensando revestimento.

A figura seguinte ilustra os tipos mais correntes de blocos de betão.

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Tipos de blocos de betão (in catálogo da Cimenteira do Louro)

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Tipos de blocos de betão (cont.) (in catálogo da Cimenteira do Louro)

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IX – ISOLAMENTOS

1. ISOLAMENTOS CONTRA INFILTRAÇÕES DE ÁGUA

1.1. PROTEÇÃO DE EDIFÍCIOS EM CONSTRUÇÃO

Para proteger da humidade um elemento de construção enterrado, deve recorrer-se às regras


de boa arte. Se não se considerar os elementos de construção que se encontram
mergulhados nas águas freáticas, são válidas para o fim em vista as prescrições referidas na
norma DIN 4117.
Nas alvenarias verticais não protegidas, verificam-se as correntes de humidade representadas
esquematicamente na figura da página seguinte. A humidade penetra pela parte inferior das
fundações e pelo paramento exterior das paredes, infiltra-se no elemento de construção,
difunde-se, ascende por capilaridade e sai de novo para o exterior ou para o interior, através
da parte não enterrada desse elemento.
Para evitar a infiltração desta água, prescreve-se a disposição de camadas de
impermeabilização, verticais e horizontais, conforme a figura.
A norma DIN 4117 determina que se deve dispor sempre uma camada de impermeabilização
em posição inferior ao teto da cave e distanciada deste uma fiada de alvenaria de pedra (ou
seja, pelo menos 10 cm).
No caso de dependências sem cave subjacente, deve dispor-se de uma impermeabilização
horizontal nas paredes exteriores e interiores a cerca de 30 cm acima do terreno, a fim de
servir de proteção horizontal contra a humidade ascendente. Para eliminar a ascensão de
água por capilaridade em solos coerentes, deve dispor-se, sob o pavimento da cave, uma
camada de seixo grosso com cerca de 15 cm de espessura. Esta camada só pode ser
dispensada, quando for admissível ou até conveniente, a existência de uma certa humidade
na cave, como, por exemplo, nas adegas.
Se existir a necessidade absoluta de manter seco o pavimento da cave (em situação de
utilização desta para salas ou oficinas de trabalho doméstico), este deve ser
impermeabilizado. No caso de construções sem nenhuma camada especial de
impermeabilização, deve colocar-se junto do pavimento, na parede interior, uma
impermeabilização vertical complementar, como, por exemplo, um reboco impermeável. As
esquinas, os cantos e as reentrâncias devem possuir um arredondamento com um raio de 4
cm. É também possível proceder-se à impermeabilização do pavimento, usando um

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revestimento contínuo impermeável. A Figura 6 representa a proteção de uma


impermeabilização, junto da parede, por intermédio de uma régua de aperto.

Camadas de impermeabilização segundo a norma DIN 4117

Impermeabilização em edifícios sem caves

Impermeabilização de pavimentos

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Aplicação de uma camada de betonilha de proteção

Impermeabilização do pavimento por intermédio dum revestimento contínuo impermeável

Mesmo nestes casos, deve colocar-se uma camada filtrante de seixo sob o pavimento. Em
alternativa, poderá usar-se uma blocagem.
No caso de edifícios com caves, deve colocar-se nas suas paredes pelo menos duas
camadas impermeáveis horizontais. A camada inferior deverá ficar 10 a 15 cm acima da face
superior do pavimento da cave; no caso de paredes de betão, poderá no entanto dispor-se à
cota da base da fundação. A camada superior tem de se localizar, no mínimo, 30 cm acima do
terreno. Quando a cota do teto da cave for tal que esta camada se situe a um nível inferior ao
do terreno, deve colocar-se uma nova camada impermeável cerca de 30 cm acima do nível
deste. No caso de as fundações atingirem um metro acima do terreno, como é usual, é
possível dispor esta camada a meia altura das janelas da cave.
Em situação de paredes interiores, pode prescindir-se da camada impermeável superior e, se
estas forem de betão estanque, pode mesmo não se colocar qualquer impermeabilização
horizontal.
As regras mencionadas devem também ser aplicadas aquando da existência de caixas de ar,
devendo assegurar-se uma boa ventilação.

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A norma DIN 4122 dá um panorama global das impermeabilizações possíveis.

Proteção por intermédio de uma régua de aperto

Impermeabilização vertical sobrejacente ao terreno

Teto da cave ao nível da superfície de terreno

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Esta norma refere-se à impermeabilização de compartimentos húmidos e de coberturas


subterrâneas e também à impermeabilização de juntas de dilatação.
Relativamente aos diferentes materiais de impermeabilização, a figura abaixo representa
graficamente os símbolos usados na norma DIN 4122.

Simbologia representativa dos tipos de impermeabilização

A fim de proteger completamente a construção, é necessário realizar, além da camada de


impermeabilização horizontal, também uma impermeabilização vertical, na parte inferior. A
norma DIN 4117 prescreve, com efeito, que “todas as superfícies de paredes em contacto
com o solo têm de ser protegidas contra a humidade de acesso lateral”.
Esta proteção deve ser colocada 30 cm acima da superfície do terreno, deve contactar com a
camada de impermeabilização horizontal superior e tem de ser levada até à base da
fundação.
As impermeabilizações verticais devem ficar ligadas às horizontais, a todo o comprimento, de
modo a que fiquem eliminados quaisquer pontes de infiltração de humidade. Esta norma deve
ser particularmente respeitada no caso de paredes rebocadas.
A impermeabilização vertical sobrejacente ao terreno pode ser feita por meio de um
revestimento de tijolo clínquer ou por aplicação dum reboco impermeável.
A impermeabilização vertical enterrada pode processar-se com telas de impermeabilização,
produtos pastosos ou pinturas betuminosas.

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Em qualquer dos casos, deve aplicar-se na parede, prévia e cuidadosamente limpa, uma
demão de primário, que deve penetrar bem nos poros do elemento de construção, com o fim
de garantir a adesão das camadas de impermeabilização subsequentes.

Ligação entre as impermeabilizações horizontal e vertical

Impermeabilização sobrejacente ao terreno por meio de tijolos duros “clínquer”

Impermeabilização sobrejacente ao terreno por intermédio de isolamento

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As pinturas betuminosas, que constituem o processo mais vulgar das impermeabilizações


verticais, têm de ser realizadas com duas demãos cruzadas aplicadas a frio. O Quadro 1
abaixo refere as diferentes quantidades de materiais de impermeabilização a aplicar e o
número de demãos necessário.
A impermeabilização mais eficiente é conseguida através de um reboco prévio das paredes
de alvenaria. Numa situação de alvenarias maciças, pode também aplicar-se sobre estas o
primário e as demãos de recobrimento. No caso de betão, com uma superfície plana, não há
necessidade de um reboco suplementar.

Nas alvenarias sem reboco, posteriormente à aplicação do primário, só devem ser utilizadas
camadas de recobrimento aplicadas a quente.
As superfícies de alvenaria ou de betão a impermeabilizar deverão já ter terminado a sua
presa e estar completamente secas. Tem de remover-se toda a sujidade das superfícies a
impermeabilizar, como areias, pó, fragmentos de argamassa, etc.
Os trabalhos de impermeabilização só devem ser efetuados a temperaturas superiores a 4 °C
e com o tempo seco, ou após serem tomadas medidas especiais.
As demãos do primário e do recobrimento devem ser constituídas pelas mesmas substâncias
de base. No caso de materiais aplicados a frio, qualquer nova demão só deverá ser aplicada
após a anterior ter secado completamente. Quando as demãos são aplicadas a quente, deve

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esperar-se que a demão anterior arrefeça. Estas camadas de impermeabilização devem


formar uma película contínua e aderente à base.
As superfícies impermeabilizadas só devem receber as terras de acompanhamento quando a
camada de impermeabilização estiver com presa ou completamente seca. Durante os
trabalhos de aterro, dever-se-á ter o cuidado de não danificar as superfícies
impermeabilizadas. Vai sendo cada vez mais usual a aplicação de camadas de proteção.
Estas camadas de proteção podem ser constituídas por tijolos furados colocados ao alto,
através de perfis de estacas-pranchas ou chapa ondulada de fibrocimento para coberturas,
mantas de lã mineral, placas filtrantes em betão, etc.
Estas proteções desempenham também um papel importante no movimento das águas
devido à infiltração. A água de infiltração descendente pode, na maioria das vezes, ser
diretamente conduzida para um canal subterrâneo de drenagem. Podem também ser
utilizadas como placas protetoras placas de plástico, mas, neste saco, as três ou quatro
demãos de impermeabilização aplicadas têm, por si só, de vedar suficientemente. Se,
construtivamente, estas camadas protetoras forem abertas na parte superior, devem ser
cobertas cuidadosamente com placas ou outros dispositivos.

Camadas de proteção da impermeabilização

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Blocos de betão filtrante como camada de proteção

1.2. REABILITAÇÃO NA ÓTICA DA ESTANQUIDADE

A humidade constitui a principal causa, direta ou indireta, de anomalias construtivas nos


edifícios. Manifesta-se, basicamente, de seis formas distintas:
 Humidade de construção;
 Humidade do terreno;
 Humidade de precipitação;
 Humidade de condensação;
 Humidade devida à higroscopicidade dos materiais;
 Humidade devida a causas fortuitas.
A presença da água e o consequente humedecimento dos materiais são, em geral,
acompanhados da modificação indesejável de algumas das suas propriedades físicas, o que
afeta as condições de habitabilidade e durabilidade dos edifícios. Estas podem ir de
alterações prejudiciais do aspeto até, em algumas situações, a degradações irreversíveis que
tornam inevitável a sua substituição.
Em Portugal, em alguns edifícios degradados é corrente a existência de graves anomalias nos
elementos constituintes da sua envolvente e que são imputáveis à humidade.

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Quando a humidade do terreno afeta paredes de pisos térreos, são possíveis, em operações
de reabilitação, várias soluções:
 Drenagem do terreno (figura A abaixo);
 Inserção de membrana impermeabilizante (telas betuminosas, folhas de material
plástico, chapas metálicas) em corte aberto, a toda a largura, na base da parede (figura
B abaixo);
 Aplicação de processo eletro-osmótico, de preferência do tipo ativo (figura C abaixo);
 Injeção, por gravidade ou pressão, de produtos impermeabilizantes (resinas epoxídicas,
silicatos e gel de amidas acrílicas (figura D abaixo);
 Execução de simples furos de arejamento, junto à base das paredes, dispostos em
quincôncio (grupo de cinco objetos dispostos de modo que quatro ocupem os vértices
de um quadrado e o outro o centro desse mesmo quadrado) e inclinados em relação à
horizontal de 20º a 30º, eventualmente revestidos com tubos de materiais diversos –
drenos Knapen (figura E abaixo).
A primeira destas soluções enquadra-se no tipo de intervenção corretiva designado por
“eliminação das causas das anomalias”, enquanto as seguintes se classificam como “proteção
contra os agentes agressivos”.

A – Drenagem do terreno B – Inserção de membrana impermeabilizante

C – Processo eletro-osmótico D – Injeção de produtos impermeabilizantes

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E – Execução de paredes de pisos térreos contra a humidade do terreno


Figuras – proteção de paredes de pisos térreos contra a humidade do terreno

Quando a humidade de precipitação afeta paredes exteriores em elevação, as soluções a


encarar no âmbito de operações de reabilitação destes paramentos são:
 Impermeabilização com produtos betuminosos, provocando a criação de uma barreira
mecânica contra a passagem de água;
 Hidrofugação com produtos de silicone ou de outra natureza, conferindo aos materiais
propriedades hidrófugas, impedindo a penetração de água por capilaridade, mas
mantendo-os permeáveis ao vapor de água;
 Aplicação de revestimentos para-chuva contra os paramentos (realizados com placas de
ardósia, chapas lisas ou onduladas de fibrocimento ou de metal), com eventual criação
de uma caixa de ar entre o para-chuva e o paramento da parede.
Qualquer destas soluções corresponde ao tipo de intervenção corretiva “contra os agentes
agressivos”.
Na situação de ocorrência de humidades de condensação superficial em elementos da
envolvente dos edifícios, as soluções de intervenção corretiva podem ser diversas, embora
sejam todas enquadráveis no grupo designado por “eliminação das causas das anomalias”:
 Correção das condições termo-higrométricas ambientais, através de várias soluções:
redução, se tal for viável, da produção de vapor de água nos locais; correção de uma
eventual sobreocupação destes últimos; melhoria das condições de ventilação natural
ou forçada e de aquecimento do ambiente; melhoria do isolamento térmico dos
elementos afetados.
Por fim, quando ocorrem condensações internas em elementos da envolvente, a solução mais
prática e eficiente consiste na constituição de uma barreira para-vapor no paramento interior.

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A figura abaixo ilustra um exemplo de material que pode ser usado como barreira
para-vapor.

Barreira para-vapor de alumínio polido

2. ISOLAMENTOS TÉRMICOS

2.1. A ENERGIA NOS EDIFÍCIOS: CONTEXTO ENERGÉTICO-AMBIENTAL E


SÓCIOECONÓMICO

Os edifícios, enquanto elementos inseridos na paisagem, foram refletindo, durante a sua


construção, fortes influências da região, da geografia do clima, dos materiais, da história e da
cultura.
A melhoria das condições de vida dos portugueses e a facilidade de acesso a melhores
condições de conforto e bem-estar fez aumentar os consumos de energia nos edifícios, tanto
do setor da habitação, como dos serviços.
Uma situação estratégica seria melhorar as condições de construção dos edifícios, de modo a
permitir que as populações acedessem a melhores condições de conforto sem aumentar
significativamente os consumos de energia.

2.2. OS EDIFÍCIOS COMO SISTEMAS TÉRMICOS

Os edifícios, entre outras perspetivas, podem ser encarados como sistemas térmicos, isto é
redes de elementos com caraterísticas de transmissão e de armazenamento de energia
térmica ou calor.
A arquitetura de qualquer edifício deve ter em consideração, entre muitos parâmetros,
também o da energia, ou seja, o binómio conforto térmico/energia.

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Uma vez introduzido e aplicado o Regulamento das Caraterísticas do Comportamento


Térmico de Edifícios (RCCTE), entretanto revogado, verificou-se que os edifícios em geral
tornaram-se melhores do ponto de vista de conforto térmico e da respetiva eficiência
energética. Espera-se ainda um crescendo da qualidade térmica e de eficiência energética
dos edifícios com a aplicação da recente legislação, o Decreto-lei n.º 118/2013, de 20 de
agosto, que aprova o Sistema de Certificação Energética dos Edifícios, o Regulamento de
Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação e o Regulamento de Desempenho
Energético dos Edifícios de Comércio e Serviços, e transpõe a Diretiva n.º 2010/31/EU, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de maio de 2010, relativa ao desempenho
energético dos edifícios. Os arquitetos, engenheiros e peritos qualificados do sistema de
certificação energética devem dispor de informação adequada e oportuna, para poderem
aplicar estas preocupações energéticas nos edifícios.

Sistema ou rede de ligações térmicas

2.3. O CONFORTO TÉRMICO EM EDIFÍCIOS

O conforto térmico (englobando a produção de águas quentes sanitárias) é o responsável


pelos grandes consumos de energia nos edifícios, logo seguido pela iluminação. Nos últimos
vinte e cinco anos, fez-se um grande esforço de investigação, para uma melhor abordagem
qualitativa e até quantitativa do parâmetro ‘conforto térmico’. Daí resultaram Regulamentos e
Normas como expressão finalizada de um elaborado e sofisticado conjunto de conhecimentos
e até de equipamentos para medir o conforto.

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PARÂMETROS DO CONFORTO TÉRMICO


O conforto térmico varia em função de parâmetros bem conhecidos:
 Temperatura do ar interior, ou temperatura do “bolbo seco”;
 Temperatura média radiante;
 Velocidade do ar;
 Humidade;
 Atividade e vestuário dos ocupantes.
Neste capítulo, vamos abordar somente o parâmetro “temperatura do ar interior”, que é muito
relevante.
Ao calcular o valor nominal das necessidades de aquecimento, adota-se 18 °C como
temperatura constante do ar interior de referência e, para as necessidades de arrefecimento,
uma temperatura de referência de 25 °C (quanto à temperatura da água sanitária, a atual
legislação aponta para os 50 °C).
No caso presente, basta reter como objetivo o nível da temperatura do ar no interior, o qual,
na generalidade dos casos (edifícios residenciais), tenderá a flutuar livremente ao longo do
dia, com eventuais apoios de energia auxiliar no inverno em períodos mais frios.
O projetista deve conceber o edifício de modo a que no seu interior, a temperatura no inverno
seja de 18 °C (gráfico abaixo).

Temperatura em regime flutuante (inverno).

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Trata-se de melhorar as condições ambientais, aproximando-as das do conforto, sem


dispêndio excessivo de energia. O que se diz para o aquecimento no inverno é também válido
para o verão. Importa evitar que as temperaturas no interior excedam valores manifestamente
“desconfortáveis”, isto é, não muito superiores a 25 °C (gráfico seguinte).

Temperatura em regime flutuante (verão)

2.3. BALANÇOS ENERGÉTICOS

Qualquer espaço é delimitado por uma “fronteira”, através da qual ele contacta com o
“exterior” (espaço exterior ou espaços contíguos), podendo trocar calor e/ou massa. A
fronteira, enquanto elemento que condiciona os níveis de trocas, é um segundo elemento
decisivo em térmica de edifícios.
Num mesmo edifício podem identificar-se, se necessário, diversos espaços com objetivos
diferenciados e, consequentemente, caraterizar diversas fronteiras. Através das fronteiras,
entre espaços contíguos, terão lugar as trocas de calor determinadas pela diferença entre as
temperaturas de um e do outro lado e pela natureza da fronteira, e ainda pelos fluxos de ar
que possam passar de um para o outro espaço.
Se, de um modo genérico, identificarmos um determinado espaço, com um dado objetivo
(neste caso, uma temperatura de ar a satisfazer), cuja fronteira é total com o exterior, cujo

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clima conhecemos, e se nos for dada a natureza da fronteira, é possível calcular os ganhos e
perdas de energia, isto é determinar:
a) Quais as necessidades nominais de aquecimento (Nic) que é necessário fornecer ao
espaço num dado período, para que a temperatura no interior não desça de um certo valor
prescrito.
Qtr ,i  Qve,i  Qgu,i
N ic 
Em que: Ap
 Qtr,i – Transferência de calor por transmissão através da envolvente na estação de
aquecimento, em kWh;
 Qve,i – Transferência de calor por ventilação na estação de aquecimento, em kWh;
 Qgu,i – Ganhos de calor úteis na estação de aquecimento, em kWh;
 Ap – Área interior útil de pavimento do edifício medida pelo interior, em m2.

b) Quais as necessidades nominais de arrefecimento (Nvc) que é necessário retirar ao espaço


num dado período, para que a temperatura no interior não exceda um certo valor prescrito.

(1   v )  Qg ,v
N vc 
Em que:
Ap
v – Fator de utilização dos ganhos térmicos na estação de arrefecimento;
Qgv –Ganhos térmicos brutos na estação de arrefecimento, em kWh;
2
Ap – Área interior útil de pavimento do edifício medida pelo interior, em m .

No entanto, se, por exemplo, em a) a equação se aplicar ao instante em que a temperatura é


a mais baixa do período, obtém-se um valor de potência máxima que é uma outra forma de
caraterizar o espaço e que se designa por Carga Térmica de Aquecimento.
Das equações de balanço ressalta que o objetivo de temperatura no espaço em questão
(18 °C no inverno ou 25 °C no verão), sem dispêndio excessivo de energia, se pode atingir por
diversos métodos, conhecidos, hoje, por tecnologias solares passivas.

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No caso do inverno, podemos aplicar as seguintes tecnologias solares passivas (figura


seguinte):
a) Aumentar o isolamento térmico da fronteira ou envolvente, o que significa reduzir as
perdas;
b) Aumentar os ganhos, através de envidraçados dispostos estrategicamente, de
preferência orientados a sul e convenientemente dimensionados;
c) Controlar as trocas de ar com o exterior através de infiltrações ou aberturas.

Tecnologias Solares Passivas no Aquecimento

No caso do verão, podemos aplicar as seguintes tecnologias solares passivas:


a) Tirar partido do isolamento térmico previsto para o inverno, de modo a atenuar os ganhos
por transmissão;
b) Reduzir a incidência da radiação solar, através da colocação de dispositivos de
sombreamento e adotando cores claras nas superfícies exteriores;
c) Controlar também as trocas de ar.

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Esta abordagem, por estar referida a um largo período de tempo (estação de aquecimento ou
de arrefecimento), não entra em consideração com um elemento muito importante em térmica
de edifícios, particularmente no nosso país: a inércia térmica.
A inércia térmica é a propriedade do espaço, isto é, do volume delimitado pela fronteira,
representada pelas componentes com massa e com particular capacidade de armazenamento
térmico, que torna possível armazenar o calor, gerindo-o em função da temperatura do ar
(figura abaixo).

Efeito da inércia térmica

No inverno, um espaço dito leve (por exemplo, um “contentor” metálico de estaleiro) pode
sofrer um aquecimento excessivo num dia frio, com o Sol a incidir nos envidraçados
orientados a Sul e, ao mesmo tempo, arrefecer rapidamente, logo que o Sol desaparece; ao
contrário, se a radiação que atravessa os envidraçados incidir em superfícies com massa ou
com inércia térmica, o sobreaquecimento não será tão elevado e a energia captada será
armazenada, sendo libertada mais tarde quando a temperatura do espaço (ar ou demais
superfícies) for mais baixa.
No verão, a inércia térmica conjugada com adequadas estratégias de arrefecimento, através
de ventilação noturna, traduz-se num efeito “esponja” do calor excedentário no espaço,
durante o dia.
A inércia térmica é uma caraterística particularmente adequada a climas com bons níveis de
insolação, razoáveis amplitudes térmicas e reduzidos problemas de humidade. É esta a
situação da generalidade do território de Portugal Continental, cuja construção é
genericamente massiva ou de inércia “pesada”.
Por outro lado, a inércia térmica é ainda particularmente adequada à situação de espaços
com ocupação noturna, ou com regime de temperatura flutuante e com bom isolamento.

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2.4. COMPORTAMENTO DA ENVOLVENTE

Envolvente, no contexto deste capítulo, é o somatório das várias componentes-fronteira:


cobertura, fachadas, envidraçados, empenas e pavimentos, integrando também pilares e
vigas, embebidos naqueles elementos.
A envolvente intervém a dois níveis:
 Em termos geométricos, uma vez que, para um mesmo volume, a forma determina
superfícies diferentes; ao quociente Superfície/Volume, chama-se fator de forma, que é
mínimo no caso da esfera e tende a ser mais elevado em envolventes muito recortadas;
 Em termos de transferência de calor e/ou de massa, na medida em que é,
respetivamente, mais ou menos “permeável” aos fluxos de calor e de ar.

ELEMENTOS OPACOS
Estes elementos são, em geral, as coberturas, os pavimentos e os panos de fachada opaca
(parede corrente mais zonas de singularidade – ou de pontes térmicas planas – tais como
zonas de pilares, vigas, caixas de estore, etc.).
Esses elementos podem contribuir para o controlo das perdas e/ou dos ganhos, conforme o
seu grau de isolamento térmico, e também para a inércia térmica, consoante a sua massa e,
no caso de disporem de isolantes leves, em função da localização destes. No limite, o
isolamento no interior impede o aproveitamento do efeito de inércia.

Localização do isolamento

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2.5. REABILITAÇÃO TÉRMICA

Generalidades
A reabilitação térmica dos edifícios visa conferir-lhes uma melhor qualidade do ponto de vista
térmico, através de medidas adequadas de conservação de energia.
Essas medidas podem ser, essencialmente, do seguintes tipos:
 Reforço do isolamento da envolvente dos edifícios;
 Redução das infiltrações de ar;
 Recurso a tecnologia solares, passivas e ativas;
 Melhoria do rendimento das instalações térmicas, quando existam, acompanhada
eventualmente de uma atenuação das exigências de conforto térmico;
 Introdução de sistemas de energias renováveis.
Enumeram-se seguidamente as medidas de reabilitação térmica dos edifícios que incidem
sobre as respetivas envolventes, e com as quais se procura melhorar o isolamento térmico
deficiente de paredes exteriores, de pavimentos sobre espaços abertos ou não aquecidos, de
coberturas e de vãos, bem como reduzir as infiltrações de ar através destes últimos
elementos.

Reforço de isolamento térmico de paredes exteriores


Esse reforço pode ser obtido mediante três vias alternativas, caraterizadas pelas diferentes
localizações possíveis do sistema ou do complemento de isolamento térmico a aplicar:
 Isolamento térmico exterior;
 Isolamento térmico interior;
 Isolamento térmico em caixa de ar (limitado ao caso de paredes duplas).
Cada uma destas vias admite diversos tipos de soluções, que se apresentam no Quadro 1 a
seguir.
No caso de paredes simples, constituídas por um único pano, o reforço do isolamento térmico
pode ser aplicado pelo exterior ou pelo interior, sendo as opções por outro tipo de soluções
condicionadas por fatores de diversa ordem, que configuram três situações distintas.

Assim:
 Se o paramento exterior tiver de ser mantido por condicionamentos arquitetónicos, só o
reforço pelo lado interior é viável;

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 Se, não se verificando os condicionamentos mencionados, o paramento exterior estiver


em bom estado, sem defeitos significativos, é indiferente aplicar aquele reforço pelo
exterior ou pelo interior;
 Se igualmente não existirem os condicionamentos arquitetónicos referidos para a
primeira situação e o parâmetro exterior apresentar degradações sensíveis de aspeto
(por exemplo, fissuração ou um estado geral de sujidade), a aplicação daquele reforço
pelo exterior constitui a solução mais indicada.

Quadro 1 – SOLUÇÕES DE REFORÇO DO ISOLAMENTO TÉRMICO DE PAREDES EXTERIORES

1 – Soluções também aplicáveis, embora menos frequentemente, como isolamento térmico interior.
2 – Quando aplicadas como isolamento térmico interior, as placas de revestimento isolante são em geral coladas.
3 – Apenas em zonas restritas das paredes (por exemplo, por detrás de radiadores).

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Paredes de fachada com isolamento térmico exterior


(revestimentos descontínuos com isolante na caixa de ar)

Paredes de fachada com isolamento térmico exterior (revestimentos espessos sobre isolante)

Paredes de fachada com isolamento térmico exterior (revestimentos delgados sobre isolante)

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Paredes de fachada com isolamento térmico exterior


(revestimento descontínuo (placas fixadas mecanicamente)

Paredes de fachada com isolamento térmico interior


(contra-fachada com isolante na caixa-de-ar)

Em qualquer caso, sempre que o reforço do isolamento térmico pelo exterior seja possível, ele
constitui, em regra, a solução preferível, pelas vantagens que apresenta relativamente à
solução oposta, que aumenta nitidamente alguns inconvenientes. Do conjunto de vantagens,
duas se destacam: a maximização da inércia térmica das construções e um isolamento
térmico contínuo.

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A solução de reforço do isolamento de paredes duplas por preenchimento da caixa de ar


apresenta como vantagens a manutenção do aspeto exterior e interior das paredes e a
redução ao mínimo das operações de reposição dos respetivos paramentos (limitadas à
vedação dos furos de injeção).
Tem, no entanto, alguns condicionamentos:
 Os isolantes térmicos injetados são considerados hidrófilos (donde a necessidade de
assegurar ao pano exterior uma espessura mínima tal que o acesso da humidade ao
isolamento fique praticamente impedido;
 O preenchimento das caixas de ar com os isolantes deve ser total, para evitar pontes
térmicas, não podendo aqueles produtos assentar sob ação de vibrações nem sofrer
alterações ao longo do tempo.

Vantagens e inconvenientes do isolamento térmico exterior de fachadas


em relação ao isolamento interior

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Reforço de isolamento térmico de pavimentos sobre espaços abertos ou não aquecidos


Esse reforço admite três alternativas, caraterizadas, como no caso anterior, pelas diferentes
localizações possíveis do sistema ou do complemento de isolamento térmico a aplicar:
 Isolamento térmico superior;
 Isolamento térmico intermédio (limitado ao caso de pavimentos com vazios);
 Isolamento térmico inferior.

Cada uma destas vias é possível e há vários tipos de soluções, tal como se regista no Quadro
2.
As soluções de isolamento térmico inferior são as mais indicadas, por serem, em regra, de
mais fácil e rápida aplicação e de menor custo.
Por outro lado, há que ter em atenção que as soluções de isolamento superior reduzem o
pé-direito do espaço útil.

Quadro 2
Soluções de reforço do isolamento térmico de pavimentos sobre espaços abertos ou não aquecidos

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Pavimento sobre espaço aberto ou não aquecido (isolamento térmico inferior)

Pavimento sobre espaço aberto ou não-aquecido (isolamento térmico superior)

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Reforço de isolamento térmico de coberturas inclinadas


Este reforço é possível com quatro vias alternativas, também caraterizadas segundo um
critério semelhante aos adotados aos casos anteriores:
 Isolamento térmico aplicado ao longo das vertentes, em posição superior (sobre as
madres);
 Isolamento térmico aplicado ao longo das vertentes, em posição inferior (sob as varas);
 Isolamento térmico aplicado na esteira do teto, em posição superior (se o desvão não for
habitável);
 Isolamento térmico aplicado na esteira do teto em posição inferior.
São possíveis vários tipos de soluções em cada via, conforme se sintetiza no Quadro 3.
As soluções de isolamento térmico aplicado segundo as vertentes das coberturas devem ser
reservadas para as situações em que o desvão seja habitável.
Caso contrário, é sempre preferível aplicar a camada de isolamento térmico sobre a esteira de
teto – eventualmente protegida superiormente, se o desvão for acessível, e assegurar uma
franca ventilação do desvão. Conseguem-se assim as soluções de coberturas inclinadas com
melhor desempenho térmico.
As soluções de isolamento térmico aplicado sob a esteira são menos aconselháveis que as
anteriores, por favorecerem as condensações internas.

Coberturas com desvão habitável

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Coberturas com desvão não acessível

Coberturas com desvão acessível e não-habitável

Reforço de isolamento térmico nas coberturas em terraço


Este reforço pode ser conseguido com três vias alternativas:
 Isolamento térmico superior (“cobertura invertida”);
 Isolamento térmico intermédio;
 Isolamento térmico inferior.
Cada uma das quais admite vários tipos de soluções, sintetizadas no Quadro 3.

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Das três vias apontadas, a primeira é, indubitavelmente, a mais vantajosa, por razões
semelhantes às que se assinalaram para o reforço do isolamento térmico de fachadas
aplicado pelo exterior. Adicionalmente, a camada de isolamento térmico superior protege a
impermeabilização dos choques térmicos, aumentando a sua durabilidade.
Por outro lado, devem ser sempre de evitar as soluções de isolamento térmico inferior, que
não protegem a laje de cobertura de movimentos de origem térmica e possibilitam a
ocorrência de condensações internas.

Coberturas em terraço

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Quadro 3
Soluções de reforço do isolamento térmico de pavimentos sobre espaços abertos ou não aquecidos

(1) Aplicável sobre as madres da cobertura, em substituição das varas


(2) Só possível se o desvão não for utilizável
(3) Só possível em caso de substituição da impermeabilização

Reforço de isolamento térmico e redução da permeabilidade ao ar dos vãos


O reforço do isolamento térmico dos vãos das janelas pode ser obtido através das seguintes
medidas, de eficácia sucessivamente crescente:
 Aplicação de folhas móveis adicionais, fixadas às folhas móveis das janelas existentes
ou às respetivas ombreiras;

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 Substituição das vidraças simples por vidros duplos;


 Aplicação de uma segunda janela em cada vão, criando-se, assim, janelas duplas;
 Substituição das janelas por outras com isolamento térmico reforçado (caixilhos e vidros
isolantes).
Por sua vez, a redução da permeabilidade ao ar dos vãos é possível mediante as seguintes
medidas:
 Afinação dos caixilhos, com eventual ajustamento das respetivas posições;
 Interposição de perfis vedantes nas juntas móveis;
 Substituição dos materiais de vedação dos vidros (massa de vidraceiro ou mástique)
eventualmente envelhecidos.
Estas medidas são adicionáveis, dependendo a adoção de cada uma delas da natureza das
deficiências observadas.
Regista-se, entretanto, que todas serão, em princípio, mais económicas que qualquer das
soluções de reforço de isolamento térmico acima indicadas.

Generalidades
É relevante referir que a condutibilidade térmica dos materiais de isolamento que são
fornecidas em publicações, como é o caso das do LNEC (ITE 50), bem como as fornecidas
por variadíssimos fabricantes, é, na maior parte dos casos, avaliada em laboratório em
condições controladas de temperatura e humidade, tendo em conta o uso de materiais com
determinada gama de emissividade.
No caso da referida publicação do LNEC, salienta-se que os valores apresentados das
resistências térmicas de espaços de ar não ventilados pressupõem que estes são delimitados
por duas superfícies paralelas entre si, perpendiculares à direção do fluxo de calor e com
emissividades próximas das dos materiais correntes de construção, ou seja, próximo de 0,9. A
mesma publicação refere que, para emissividades diferentes deste valor, nomeadamente para
emissividades substancialmente mais baixas relacionadas com o uso de superfícies
refletantes, o valor da resistência térmica das respetivas caixas de ar deve ser calculado com
recurso ao previsto na norma Europeia EN ISO 6946 (CEN, 2007).

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Isolamentos Térmicos Resistivos


Os materiais de isolamento resistivo, como é o caso das espumas poliméricas (por exemplo, a
espuma de poliuretano, a espuma de polietileno ou o poliestireno extrudido), possuem
resistência térmica devido, não propriamente ao material de que são constituídos, mas sim
decorrente das células microscópias fechadas, que, além de evitarem a transferência por
convecção, pois impedem que o ar se mova, permitem desenvolver, no material, espaços cujo
volume é, em geral, muito significativo, que apresentam valores dos coeficientes de
condutibilidade térmica bem mais reduzidos. Os gases que ficam retidos nas células fechadas
das espumas rígidas é que são os grandes responsáveis pela minimização da condutibilidade
térmica do material, tornando o conjunto num excelente isolamento térmico.
No geral, as espumas poliméricas são constituídas por uma parte sólida plástica e por uma
parte gasosa, constituída por um gás originado por um agente de expansão que se adiciona à
base polimérica. Estas espumas podem ser fabricadas com densidades muito variáveis e
apresentarem célula aberta ou célula fechada, sendo que nas primeiras as células estão
interligadas apresentando potencialidade para absorver líquidos, vapor e gases, além de
apresentarem menor capacidade de isolamento térmico e elétrico. A menor capacidade de
isolamento térmico das espumas de célula aberta deriva do facto de que qualquer fluido,
como o ar, impulsionado, tem facilidade em circular através da malha polimérica, provocando
uma relevante transmissão por convecção. Já nas espumas de célula fechada, que
tendencialmente apresentam uma maior rigidez, a fase gasosa, ao estar completamente
envolvida pela fase sólida, impede a comunicação entre células, resultando daí propriedades
de bom isolamento térmico, pois, além da condução de calor ser pequena, a transmissão por
convecção é, desta vez, nula.
É costume classificar as espumas em baixa, média e alta densidade, sendo que tal depende,
em especial, da quantidade do agente expansor utilizado. Assim, a densidade máxima que a
espuma pode apresentar é a do próprio material polimérico e a mínima é a do gás contido nas
células. As propriedades das espumas poliméricas são, assim, consequência do tipo de
polímero, da densidade aparente e da sua morfologia. As propriedades mecânicas do material
são dependentes, principalmente, da densidade aparente do polímero, enquanto a resistência
a altas temperaturas, ao fogo e a produtos químicos é derivada da natureza do polímero.
Na formação da espuma de polietileno, como de outros materiais do mesmo tipo, pode
realizar-se igualmente a operação de reticulação, adicionando um agente reticulante para
obter células uniformes fechadas de pequena dimensão, situação que implica a obtenção de

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materiais com maior densidade, obtendo-se a espuma de polietileno reticulado (figura


seguinte).

Espuma de polietileno reticulado

As células que se formam nestes materiais resistivos acabam por ter também um efeito na
redução das transferências térmicas por radiação, especialmente a infravermelha de grande
comprimento de onda, que pode ser tanto absorvida como dispersada. Obviamente que se os
materiais forem revestidos com películas de baixa emissividade consegue-se ainda maior
redução à transmissão de calor por radiação.

Isolamentos Térmicos Refletantes de Baixa Emissividade


Neste tipo de materiais de isolamento, convém distinguir as barreiras radiantes dos materiais
aplicados em superfícies externas, como certas tintas com propriedades refletantes. Os
primeiros são caraterizados pela baixa emissividade das suas superfícies em relação ao
espetro de radiação infravermelha, enquanto os segundos ao espetro total da radiação solar.
Os elementos construtivos que têm de ser mais eficazmente isolados em relação à
transmissão de calor por radiação são as coberturas, as quais, no verão, poderão causar
complicados efeitos de sobreaquecimento, sendo estes os casos em que, por excelência, se
devem usar isolamentos térmicos refletantes de baixa emissividade, normalmente constituídos
por películas de alumínio polido.
Os filmes de alumínio polido ou de polímero aluminizado, presentes numa ou em ambas as
superfícies do material, são, em muitas situações, termocolados a um substrato, como é o
caso do polietileno, do plástico bolha ou da lã de vidro, que reforçam mecanicamente o
material. Noutras situações, os filmes não são aplicados a substratos, mas unicamente
sujeitos a um reforço.

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A figura seguinte ilustra um esquema de montagem de uma cobertura com material isolante
térmico refletante de baixa emissividade em telhado de telha cerâmica com estrutura de
madeira.

Esquema de montagem da cobertura em telhado cerâmico

Algo que é extremamente importante cumprir na instalação destas barreiras é a adoção de


uma caixa-de-ar de, pelo menos, 2,5 cm entre a película refletante, normalmente uma película
de alumínio polido, e o elemento construtivo adjacente.
É relevante indicar que a norma ASTM C1313 (2012), dos EUA, que especifica as
propriedades físicas que devem respeitar os isolamentos térmico refletantes de baixa
emissividade aplicados a edifícios, exige que estes materiais, para serem classificados como
tal, devem possuir uma refletividade superior a 0,9 e devem possuir uma emissividade abaixo
de 0,1.
As propriedades essenciais das folhas de alumínio, cuja matéria-prima é a bauxite, e que
justificam o seu uso, são, em especial, o constituírem uma barreira à radiação, aos gases, ao
vapor de água, ao aroma, são recicláveis (necessitando unicamente de 95% da energia
necessária para a produção), são resistentes ao fogo, são ótimos condutores do calor e da
eletricidade e funcionam como barreira radiante (refletem para cima de 98% da luz e da
radiação infravermelha, possuindo também uma emissividade muito baixa).

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A figura abaixo apresenta um exemplo de aplicação do material de isolamento térmico


refletante de baixa emissividade sob uma cobertura metálica, onde se podem ver várias das
fases da aplicação deste sistema de isolamento.

Aplicação de isolamento refletante de baixa emissividade sob uma cobertura metálica

3. ISOLAMENTOS ACÚSTICOS

3.1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que o ruído – som não harmonioso, que produz uma sensação desagradável – é
uma causa de incomodidade e origem de possíveis perturbações psíquicas e somáticas, cuja
redução ou limitação assume, atualmente, uma importância geral crescente.
A sociedade humana produz muito ruído, impondo-se, assim, a adoção de medidas
consideradas adequadas à salvaguarda do bem-estar e saúde das populações.
É necessário disciplinar o exercício das atividades ruidosas, proteger os que residem ou
trabalham na vizinhança dos locais onde essas atividades têm lugar, fixar as caraterísticas
acústicas consideradas adequadas dos espaços para implantação de edifícios e no interior
destes, fixar valores para os isolamentos sonoros entre espaços, estabelecer critérios para a
caraterização acústica dos equipamentos.

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O Decreto-lei n.º 9/2007, de 17 de janeiro, que aprova o Regulamento Geral sobre o Ruído, e
o Decreto-lei n.º 96/2008, de 9 de junho, que aprova o Regulamento dos Requisitos Acústicos
dos Edifícios, estabelecem um quadro orientador de apreciação legal sobre a matéria.
Na sua atuação, além do licenciamento da construção para a utilização dos edifícios para
diversos fins, em que as entidades licenciadoras devem fazer cumprir o estipulado, tanto no
Regulamento Geral sobre o Ruído, como no Regulamento dos Requisitos Acústicos dos
Edifícios, devem igualmente as Câmaras Municipais integrar este importante indicador
ambiental no planeamento de vias municipais e na classificação dos locais para implantação
de zonas residenciais, escolas, hospitais, etc., matéria em que o Regulamento Geral sobre o
Ruído também é explícito.
Um dos maiores problemas acontece com frequência em zonas de ocupação mista, em que o
ruído produzido por instalações industriais ou por locais de espetáculo e diversão constitui
causa de incomodidade para os que vivem na vizinhança, o que dá origem a inúmeras
reclamações. Um dos problemas é a dificuldade de comunicação devido ao ruído.

Esforço requerido pela voz para comunicar com outra pessoa

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A diferença entre som e ruído não é uma diferença de natureza física, mas uma diferença
sociocultural: ruído é o som que provoca uma sensação desagradável.

Diferença entre som e ruído

Para se ter uma ideia da reação humana ao ruído, tanto em termos de nível sonoro como de
frequência sonora, apresenta-se o seguinte escalonamento (em dB e em Hz).

Escala de níveis de ruído (dB) e de frequências (Hz)

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3.2. CAMPOS SONOROS EM RECINTOS FECHADOS

Generalidades
A descrição do campo sonoro no interior de um espaço fechado com qualquer geometria e
constituição não constitui tarefa simples, dados os problemas de natureza matemática e física
que levanta, pela dificuldade em definir, com rigor, a geometria do contorno, traduzir
quantitativamente os processos de dissipação de energia sonora no ar e na envolvente e
estimar as alterações das caraterísticas direcionais das fontes sonoras quando emitem em
espaços fechados.
Quando a fonte deixa de emitir, o campo sonoro direto extingue-se a curto prazo e fica
persistindo o campo sonoro reverberante, cuja energia vai diminuindo no tempo, à medida que
se processa a dissipação no ar confinado no espaço em causa e no seu contorno.
Demonstra-se que o tempo de reverberação – intervalo de tempo necessário para que o nível
de pressão sonora se reduza de 60 dB ou que a pressão sonora se reduza mil vezes – é
calculável por expressões matemáticas, desprezando-se a absorção de energia sonora pelo
ar, o que é admissível, no domínio da audiofrequência, para condições correntes de humidade
relativa do ar.
A fórmula mais conhecida é a fórmula de Sabine, que só se deve usar para coeficientes de
absorção média do espaço (αméd. ) analisado até 0,15.

0 ,161 V
T 
A
Aqui, V é o volume do espaço e A é a absorção acústica desse mesmo espaço.

A absorção acústica de um espaço é igual ao produto da área de superfície total pelo


coeficiente de absorção média.
Outra expressão que se usa, para qualquer valor de coeficiente de absorção médio (αméd.),
mas com os valores discretos de α não muito diferentes uns dos outros, é a fórmula de Eyring:

0 , 161 V
T  
S log e ( 1   méd )

Aqui, S é o total da área superficial do espaço considerado.

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A expressão de Eyring é deduzida na hipótese de que a energia no campo sonoro se reduz


para (1-αméd) vezes o seu valor em cada reflexão. Isto seria verdade se, após cada reflexão,
houvesse uma divergência perfeita das ondas sonoras em termos de ter-se, em cada
incidência, um campo uniforme. Se, no entanto, as superfícies refletoras em causa forem de
dimensões suficientemente grandes para refletirem com direcionalidade, tal condição não se
verifica. Desta forma, em vez de ocorrer a absorção de energia por quantidades iguais em
cada reflexão, ela ocorre de forma diferenciada conforme a superfície envolvida. Demonstra
Millington & Sette que esta linha de raciocínio conduz a uma nova fórmula para o cálculo do
tempo de reverberação:
0 ,161 V
T  
 i
S i log e ( 1   méd )

Aqui, Si é a área de cada superfície integrante do espaço considerado.

Condicionamento acústico de recintos


Uma sala com boas condições acústicas para a palavra deve assegurar a compreensibilidade
perfeita do que o emissor diz, bem como salvaguardar a naturalidade da sua voz. No que diz
respeito a salas para música, há que ter presente a influência marcante que as condições
acústicas exercem em todos os estágios do processo musical: composição, execução e
audição. É óbvia esta influência na audição; no entanto, é bem verdade que também os
executantes e os condutores de orquestra sentem bem a necessidade de ajustar as suas
atuações às condições acústicas dos locais onde estas têm lugar. Nos compositores, também,
pelo menos em épocas mais recuadas, era nítida a influência da acústica dos auditórios para
que compunham.
A qualificação acústica de uma sala traduz globalmente a sua adaptação à finalidade que lhe
é atribuída, sendo um assunto de apreciação simultaneamente objetiva e subjetiva, aspetos
que se apresentam imbricados e a condicionar-se mutuamente. Daqui, talvez, uma das
maiores dificuldades da acústica das salas (acústica arquitetural), em particular de salas para
música, porque se trata de disciplinar a construção de locais onde certas caraterísticas físicas
condicionam o “valor acústico”, definido em grande parte segundo critérios subjetivos.
Não é apenas o valor médio do tempo de reverberação que determina uma boa qualidade da
sala, interessando, como é óbvio, que a forma de variação dos valores do tempo de
reverberação em função da frequência seja adequada.

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Com significado idêntico ao anterior, a figura abaixo apresenta um diagrama dando as formas
de variação consideradas mais adequadas para o parâmetro ‘tempo de reverberação’.

Valores dos tempos de reverberação (s)

3.3. ABSORÇÃO SONORA

Introdução
A existência de um campo sonoro num espaço está sempre associada à dissipação de
energia no paramento interno da envolvente. Esta dissipação, que evidencia uma propriedade
denominada absorção sonora, processa-se a uma taxa diretamente proporcional ao conteúdo
energético do campo.
Assim, quando uma fonte sonora começa a emitir no espaço em causa, o conteúdo energético
do campo vai crescendo até atingir um valor para o qual a taxa de dissipação no contorno
iguala o débito da fonte. Nestas condições, o nível de pressão sonora em qualquer ponto do
espaço integra duas contribuições dependentes das caraterísticas de emissão da fonte: uma
associada ao campo sonoro direto – função da posição do ponto relativamente à fonte – e
outra que pode associar-se ao campo sonoro difuso e que é função da absorção sonora dos
materiais integrados na envolvente.
Uma vez que cesse a emissão da fonte, o conteúdo energético do campo decresce –
reverberação sonora –, devido a esta dissipação no contorno (e à absorção no ar contido no
recinto, no entanto praticamente desprezível), terminando o processo quando a energia
sonora dissipada igualar a existente no campo.

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 Materiais e sistemas absorventes sonoros


No âmbito da acústica arquitetural, a absorção sonora dos materiais utilizados é
caraterizada, geralmente, pela descrição dos valores do coeficiente de absorção sonora
no domínio de frequências, que se estende de 125 Hz a 4000 Hz – descrição designada
convencionalmente por “caraterísticas de absorção sonora” do material em causa.

 Materiais porosos
Designam-se assim os materiais em que a parte sólida ocupa apenas parte do volume,
sendo o resto formado por pequenos intervalos cheios de ar, abertos para o exterior e
comunicando entre si. O movimento do ar devido às variações de pressão propaga-se
nestes pequenos espaços, nos quais, dadas as dimensões reduzidas, intervém a
viscosidade do ar, originando uma degradação em energia calorífica e, portanto,
atenuação das ondas sonoras. A atenuação resulta ainda, obviamente, do atrito interno
na vibração da própria estrutura do material (particularmente notável nos de estrutura
fibrosa).
É possível demonstrar-se, embora as considerações precedentes o permitam concluir
diretamente, que a absorção cresce com a frequência, sendo, normalmente, muito
reduzidas nas baixas frequências. Para as espessuras usuais, nas frequências elevadas,
a absorção é praticamente independente da espessura.
Note-se, contudo, que certos painéis de poliestireno expandido apresentam a sua
superfície densamente perfurada com o aspeto de picada com agulhas. Esta operação
modifica a estrutura do material e a sua caraterística de absorção sonora, conferindo-lhe
propriedades ligeiramente superiores às que se referiram atrás.

 Ressoadores
Numa atividade ressoante, a incidência das ondas sonoras na superfície da entrada do
gargalo imprime deslocamentos à massa de ar nele contida, acompanhadas de
dissipação de energia devido ao atrito do ar contra a parede do gargalo. Destes
deslocamentos, resultam ainda variações da pressão do ar contido no corpo do
ressoador, acompanhadas de dissipação de energia por absorção nas paredes desta
cavidade. Trata-se de um funcionamento comparável ao de um oscilador mecânico –
massa repousando sobre mola, com elemento amortecedor –, em que a massa de ar
contida no gargalo corresponde à massa oscilante, o ar contido no corpo do ressoador

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desempenha papel análogo ao da mola e o amortecedor tem sua imagem nos


mecanismos de dissipação de energia.
De um modo geral, pode dizer-se que as caraterísticas de absorção sonora dos painéis
ressoadores têm como denominador comum a circunstância da maior absorção ser
executada no domínio das frequências baixas. A título de ilustração, a figura seguinte
ilustra as caraterísticas de absorção sonora de dois painéis de contraplacado de madeira
com 13 mm de espessura, confinando uma camada de ar de 30 mm de espessura
(diagrama 1) ou uma camada de ar de 60 mm de espessura (diagrama 2).

1 - Confinando caixa de ar com 30 mm de espessura


2 - Confinando caixa de ar com 60 mm de espessura

Caraterísticas de absorção de painéis ressonantes

Como nota final, refira-se que é frequente a associação dos dois processos de absorção
referidos – por exemplo, painéis ressoadores, que absorvem no domínio das frequências
baixas essencialmente por um mecanismo de ressonância e, em frequências elevadas, devido
à sua porosidade.

3.4. ISOLAMENTO SONORO DE ELEMENTOS DE CONSTRUÇÃO

INTRODUÇÃO
Pensar em isolamento é admitir a ocorrência de um processo de transmissão entre o local
emissor e um recetor. Convém distinguir entre duas formas de transmissão, nem sempre
separadas. Assim, podem ocorrer ações de choque que interessem diretamente aos
elementos de construção, estabelecendo ligação entre os locais emissor e recetor
(considere-se, a título de exemplo, o arrastar de móveis, bater de pés no pavimento); nesta
situação, o campo sonoro no local de receção diz-se proveniente de sons de percussão.
Quando, na origem da emissão sonora, não se verifica uma tal ação direta sobre elementos
da construção (é o que sucede, por exemplo, relativamente, à audição de música gravada,

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conversação entre pessoas), o processo põe em causa sons aéreos. Esta distinção entre
sons aéreos e de percussão é importante, pois, como se refere adiante, o isolamento sonoro
dos elementos de construção e a forma de o descrever dependem da natureza do processo
de transmissão que esteja em causa.
Ainda, no processo de transmissão sonora entre dois locais, quando se trate de qualificar o
isolamento conferido por um elemento de construção que os separe, há que distinguir entre a
que se verifica diretamente através do elemento e a que ocorre, marginalmente através de
outros elementos que lhe estejam interligados. Designa-se a primeira por transmissão direta e
segunda por transmissão marginal.
A distinção entre dois processos de transmissão tem interesse, porque é a sua importância
relativa que explica eventuais diferenças entre valores do isolamento sonoro de um mesmo
elemento quando a sua determinação é feita em laboratório (onde é desprezível a
transmissão marginal) ou em obra, onde, regra geral, ocorre transmissão marginal
significativa.

ISOLAMENTO AOS SONS AÉREOS


Generalidades
Considere-se dois recintos adjacentes ou sobrepostos, num dos quais existe uma fonte que
estabelece um campo sonoro que vai propagar-se para o outro. Há que distinguir, como se
referiu, dois mecanismos de transmissão: direta e marginal. Relativamente à transmissão
direta, ainda pode distinguir-se quando ela ocorre através de poros ou fendas do elemento de
construção ou quando se processa por flexão deste elemento, sob ação das ondas sonoras.
A figura abaixo esquematiza os processos de transmissão de energia sonora entre dois locais.

Processos de transmissão de sons aéreos

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O isolamento sonoro apresentado por um elemento é variável com a frequência das ondas
sonoras incidentes. É habitual caraterizar o comportamento isolante de um elemento de
construção através da respetiva evolução no domínio da frequência (geralmente, gama de
125 Hz a 4000 Hz).

Divisórias simples
Para efeitos de primeira estimativa, a figura abaixo apresenta um diagrama de variação do
índice de isolamento sonoro aos sons aéreos (la), em função da massa superficial da
divisória, admitindo que esta é homogénea na sua constituição. Prefere-se a indicação de
uma faixa de valores à de uma linha única, para dar conta da dispersão normal de
comportamento, para divisórias da mesma massa superficial, em consequência de
propriedades elásticas diferenciadas.
Como se referiu já, na colocação em obra de uma divisória, o seu comportamento, no que
respeita ao isolamento sonoro que assegura, pode vir afetado pela ocorrência da transmissão
marginal. É obviamente impossível prever, com precisão, a forma como se faz sentir esta
transmissão; em primeira estimativa, no entanto, pode admitir-se que, para índices de
isolamento sonoro até 35 dB, é desprezável a contribuição da transmissão marginal; desse
valor até 45 dB, pode estimar-se que a contribuição da transmissão marginal se traduz numa
redução de 3 dB no índice de isolamento sonoro. Acima de isolamentos sonoros de 45 dB, é
aconselhável recorrer à verificação do comportamento no local, pois as previsões podem
revelar-se bastante falíveis.

Diagramas de estimação do índice de isolamento sonoro

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Muito frequentemente, as divisórias não se apresentam homogéneas, mas compostas por


elementos caraterizados por isolamentos sonoros diferenciados. A figura seguinte apresenta
um ábaco que permite determinar a redução do isolamento sonoro consequente da inclusão
de elementos menos isolantes.

Ábaco para estimar o isolamento sonoro de divisórias


constituídas por elementos com isolamentos diferentes

Frequentemente, a heterogeneidade na composição de uma divisória resulta da inclusão de


portas. O Quadro 1, constituído na hipótese de a área da porta ser cerca de 7% da área da
divisória onde se inclui, permite estimar o índice de isolamento sonoro total, em função do
valor deste parâmetro para a divisória sem porta incluída.

Quadro 1 – Índice de isolamento sonoro de divisórias com portas incluídas

Índice de isolamento sonoro da divisória (dB) 25 30 35 40 45 50

Qualquer porta, com frinchas bem aparentes


23 25 27 27 27 27
no contorno
Porta leve, com vedante de frincha no contorno 24 28 30 32 32 32
Porta pesada, com vedante de frincha no
25 29 33 35 37 37
contorno
Porta dupla, com tratamento acústico do
25 30 35 40 44 49
espaço entre portas

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Da apreciação do quadro, é aparente que, na hipótese de não se proceder a vedação da


frincha no contorno, nada se lucra em ultrapassar o valor de 35 dB para o índice de
isolamento sonoro da divisória onde se inclui; o mesmo se dirá para o valor de 45 dB,
relativamente à inclusão de uma porta simples.
A concluir a apresentação de elementos relativos a divisórias simples, considera-se de
utilidade fazer referência aos valores do índice de isolamento sonoro assegurado por janelas
(Quadro 2).

Quadro 2 – Índice de isolamento sonoro de elementos envidraçados

Descrição Índice de Isolamento Sonoro (dB)


Qualquer tipo de janela, quando aberta  10
Janelas comuns (qualquer tipo de vidro), sem
Até 20
vedação de frincha no contorno
Janelas com vedação de frincha e vidro de 6 mm de
Até 25
espessura
Janela fixa, com vidro de 12 mm de espessura Até 30
Janela fixa, com vidro de 24 mm de espessura Até 35
Janela dupla (caixa de 15 a 20 cm, tratada, vedação
Até 40
de frincha qualquer vidro)

No que diz respeito às portas, o isolamento sonoro que asseguram é condicionado pela
massa da folha da porta, mas, acima de tudo, pela estanqueidade ao ar assegurada
relativamente às frinchas no contorno. A título ilustrativo, apresentam-se no Quadro 3 os
valores do isolamento sonoro médio correspondente a uma folha de porta com área de 2 m2,
de massa elevada, para valores diferentes da largura da frincha no contorno.

Quadro 3 – Isolamento sonoro de portas


Largura da frincha (mm) Isolamento sonoro (dB)

0,5 36
1,0 33
5,0 26

Estes valores evidenciam bem a importância que assume a vedação, no que respeita ao
isolamento sonoro alcançado.

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Divisórias múltiplas
De tudo o que precede conclui-se que, para atingir isolamentos sonoros elevados, torna-se
necessário o recurso a divisórias de massa muito grande, donde resultaria uma sobrecarga
onerosa para as estruturas. Existe, no entanto, a possibilidade de contornar esta dificuldade
através do fracionamento das divisórias em diversos panos separados. Se fosse possível
conseguir a separação completa dos elementos (desfazendo, conceptualmente, as “ligações”
estabelecidas pelas lâminas de ar entre elementos), o isolamento total seria igual à soma dos
isolamentos proporcionados por cada um dos elementos. Na verdade, esta separação
completa não é realizável e existe uma certa influência mútua entre as folhas, que é
determinada, principalmente, pelas ligações mecânicas existentes, distâncias de separação,
amortecimento proporcionado pelos espaços de separação e relação entre as frequências
próprias de ressonância das diversas folhas. Analisam-se sumariamente estes quatro aspetos
para uma divisória dupla, que é, aliás, o caso mais corrente.
Em princípio, qualquer ligação rígida entre duas folhas estabelece uma ponte fónica que leva
o conjunto a comportar-se como uma divisória simples da massa superficial igual à soma das
massas das folhas. Deve notar-se que, em regra, é inevitável uma ligação deste tipo na
bordadura da divisória, estabelecida através dos elementos de construção com que contacta.
Se bem que não desprezável, a influência desta ligação de contorno não é tão sensível como
a de outra qualquer estabelecida na zona média da divisória. Se possível, será, no entanto,
desejável proceder à interposição de um material resiliente no contorno da folha, de massa
superficial menos elevada.
O conjunto das folhas de uma divisória dupla e da lâmina de ar compreendida entre elas
comporta-se, para condições de incidência em que não intervenha a rigidez das folhas, como
um sistema oscilante constituído por duas massas ligadas por uma mola. No que respeita ao
amortecimento na lâmina de ar entre as folhas da divisória, aconselha-se a inclusão de
material absorvente acústico na caixa que estas folhas definem, o que apresenta ainda a
vantagem suplementar de obstar à formação acidental de pontes fónicas aquando da
construção dos panos da divisória.
Relativamente às frequências próprias das folhas da divisória, impõe-se que sejam as mais
diferenciadas possíveis, o que implica serem estas folhas de massas e naturezas diferentes;
note-se que a inclusão do material absorvente na caixa de ar, como se referiu atrás, contribui
positivamente para impedir a ocorrência de uma ressonância comum muito marcada.

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Para estimar o Isolamento sonoro de uma divisória dupla, admitindo que a distância entre as
folhas evita a ressonância e que no espaço definido por estas existe um material absorvente
acústico (a espessura nominal do pano de material absorvente não deve ser inferior a 4 cm),
pode recorrer-se ao diagrama apresentado anteriormente (considerando um valor total da
massa superficial igual à soma dos valores correspondentes para uma e outra folhas) e
adicionar, ao valor assim determinado, 3 a 5 dB.
A figura abaixo representa um esquema de montagem de uma divisória dupla, considerando,
com o fim de chamar a atenção para os detalhes da construção, a existência de um
pavimento flutuante e de um teto falso.

Divisória dupla integrada em construção com teto falso e pavimento flutuante

Deve notar-se que, muito frequentemente, a divisória dupla não surge como elemento inicial
da construção, mas como “remédio” para soluções existentes que conduziram a situações
muitas vezes altamente críticas. A propósito, se bem que o valor médio do isolamento sonoro
na banda delimitada pelas oitavas de frequências centrais de 125 Hz e 4000 Hz não dê (como
se referiu) informação muito completa acerca do elemento de construção em causa, convém,
a título de primeira orientação, apontar o seguinte:
 Divisória com isolamento efetivo médio igual a 30 dB: entende-se a voz em nível normal,
permitindo compreender o que se diz, se bem que ouvido com bastante atenuação;

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 Divisória com isolamento efetivo médio igual a 35 dB: a situação de compreensão do


que se diz, como se referiu no caso anterior, só é possível com esforço de atenção por
parte de quem escute;
 Divisória com isolamento efetivo médio igual a 40 dB: ouve-se a voz em nível normal,
mas não se compreende o que é dito;
 Divisória com isolamento efetivo médio igual a 45 dB: não é audível a voz em nível
normal;
 Divisória com isolamento efetivo médio igual a 50 dB: os sons provenientes do
funcionamento da televisão não são incomodativos.
Antes de se optar pela solução de duplicação de uma divisória, torna-se necessário ter a
certeza de que a transmissão de ruído não se processa por outras vias que não a divisória
cuja correção se encara. Alcançada a certeza de que apenas uma divisória está em causa,
ainda se põe, obviamente, a questão de saber se a estrutura suporta a sobrecarga da
segunda folha a construir.
No aspeto acústico, considera-se útil distinguir as duas situações seguintes:
 Divisória através da qual é inteligível a conversação mantida em tom de voz normal;
nesta hipótese, a duplicação tem de fazer-se por folha de massa elevada, com
interposição de material absorvente sonoro;
 Divisória através da qual a conversação mantida em tom de voz normal só é inteligível
com elevado esforço de atenção; neste caso, a duplicação pode realizar-se à custa da
folha leve, por exemplo constituída por painéis de aglomerado de madeira densa (com
espessura não inferior a cerca de 12 mm), tomando as precauções necessárias para
tornar esta segunda folha pouco solidária com a estrutura. Na página seguinte
apresenta-se um diagrama que permite estimar o acréscimo do índice de isolamento
sonoro em consequência de uma duplicação de divisória; admitindo que foram tomadas
as devidas precauções construtivas, os acréscimos determinados a partir do diagrama
devem ser reduzidos em 3 dB.

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Duplicação de divisória por folha de massa elevada

Duplicação de divisória por folha leve

Acréscimo de isolamento sonoro por dobragem de divisória

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Pavimentos
Ainda que, em geral, o principal problema que se põe relativamente ao isolamento sonoro de
pavimentos diga respeito à transmissão de ruídos de percussão, a ser tratado a seguir, não
pode esquecer-se o aspeto de transmissão de ruídos aéreos, quantas vezes muito relevante,
dado que, em regra, a maior área de separação entre habitações contíguas é de pavimento.
Qualquer que seja a estrutura, englobando, em consequência, mesmo o tipo “piso flutuante”,
os pavimentos não devem considerar-se, no aspeto aqui em causa, como de estrutura
múltipla, pelo que a estimativa do isolamento sonoro aos sons aéreos deve realizar-se
essencialmente através da aplicação da chamada “lei da massa”.
Faz-se, todavia, referência a uma técnica que permite, em certa medida, duplicar os
pavimentos; trata-se da utilização de tetos suspensos. Com efeito, desde que a suspensão
não seja rígida e que a caixa de ar tenha altura suficiente (como regra geral, não deve ser
inferior a 15 cm) e esteja provida de material absorvente sonoro, o elemento separador
constituído pelo pavimento e pelo teto suspenso pode considerar-se como duplo relativamente
ao isolamento aos sons aéreos.
É óbvio, no entanto, que os pavimentos, tal como se referiu já a propósito das divisórias,
devem ser estanques ao ar. A nota vale particularmente para o caso das fachadas cortina,
onde, quando não seja possível evitar juntas, estas devem ser vedadas o melhor possível.

Ligação de pavimento a fachada cortina

ISOLAMENTO AOS SONS DE PERCUSSÃO


No que se segue, limita-se a referência aos pavimentos. Efetivamente, os choques sobre
divisórias são frequentes e, quanto aos ruídos de batimento de portas, são facilmente
minimizáveis pela aplicação de materiais resilientes em revestimento dos batentes.

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No que se refere ao ruído produzido por equipamentos diversos existentes nos edifícios,
nomeadamente pela vibração das canalizações de águas, tal pode ser resolvido pela inclusão
de coquilhas isolantes. Por outro lado, porque o homem vive sobre o solo, que atua
mecanicamente por forma direta através da sua atividade e indiretamente através das
vibrações transmitidas pelos eletromecânicos cujo concurso dificilmente pode dispensar nos
tempos modernos, os ruídos resultantes da percussão de pavimentos são os considerados
mais incomodativos e que dão lugar ao maior número de reclamações por parte das pessoas
afetadas.
Não sendo possível enquadrar em tipologias bem definidas as diversas atuações de
percussão a que estão sujeitos os pavimentos de edifícios, nem definir estados de vibração
caraterísticos, foi acordado internacionalmente que, para a avaliação do isolamento a esta
classe de ruídos, se procedesse à percussão normalizada dos pavimentos. Acentua-se que tal
percussão não pretende reproduzir qualquer situação real, mas apenas assegurar um estado
de excitação do pavimento que seja reprodutível com facilidade e tal que o ruído no
compartimento recetor apresente níveis bem acima do ruído ambiental normal, com vista a
permitir medições cujos resultados sejam merecedores de confiança.
A estimativa do valor do isolamento sonoro aos sons de percussão (Ip) de um dado pavimento
é difícil, sendo de recomendar, nos casos em que seja estreita a margem de incerteza
tolerada, o recurso à avaliação experimental direta.
No entanto, para efeitos da primeira estimativa, apresentam-se os resultados indicados no
Quadro 4, obtidos a partir da análise de um número elevado de dados experimentais e que
consubstanciam naquilo que se designa por método do invariante.

Quadro 4 – Estimação de valores de isolamento aos sons de percussão

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Estimado o isolamento aos sons aéreos através do diagrama atrás apresentado, obtém-se de
imediato um valor estimado do isolamento aos sons de percussão pelo uso do Quadro 4.
Atendendo ao valor apontado no Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios, relativo
a condições de conforto acústico à percussão em edifícios para habitação, reconhece-se de
imediato que a sua satisfação, em termos práticos, só é possível através da realização de um
“corte elástico” entre o revestimento de piso e o elemento de suporte de cargas. A melhor
solução da tecnologia atual consiste na realização de um piso flutuante sobre camada
resistente, desligado das divisórias verticais (figura abaixo).

Pavimento flutuante (corte para observação)

Uma lajeta assente sobre uma camada resiliente assemelha-se, numa conceção modelar, a
um sistema constituído por uma massa assente sobre uma mola, com certo amortecimento,
que se admite do tipo viscoso.
Para o isolamento aos sons de percussão, algo fundamental é igualmente o amortecimento
provocado por diversos materiais de revestimento dos pisos. Apresentam-se nos Quadros 5 e
6 valores de atenuação para diversas soluções.

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Quadros 5 e 6 – Caraterização do Isolamento a ruídos de percussão de revestimentos de piso

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3.5. PARAMETROS ACÚSTICOS BÁSICOS

Nível de pressão acústica ou sonora

2
Pef
Lp  10 log 10 2
Po
(dB)
Em que:
Lp = nível de pressão sonora (em dB, decibel; L=”level”)
Pef = valor eficaz da pressão sonora (N/m2)

t1
2 1
Pef   p 2 ( t )dt
t 2  t1 t 2

Pef = raiz média quadrática de p(t) entre t1 e t2


Po = pressão acústica de referência (convencional)
= 2.10-5 Pa=2.10-5N/m2

No Quadro 7 apresentam-se exemplos de ruídos do dia a dia, relacionando-se a pressão (Pa)


com o nível de pressão (dB) de cada um.

Quadro 7 – Pressão e nível de pressão de vários exemplos de ruídos

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Tempo de reverberação de um local


Já foi referido que este parâmetro representa o intervalo de tempo necessário para que a
pressão acústica se reduza a 1/1000 do seu valor inicial, isto é, que o nível de pressão
acústica diminua 60 dB. Foram também já apresentadas as fórmulas de Sabine, Eyring e
Millington. Para o cálculo da reverberação através da Fórmula de Eyring, é necessário
determinar-se o coeficiente de absorção sonora média (α méd.).

Em que:
αi – coeficiente de absorção de cada material
Si – superfície correspondente a cada material
Os valores dos αi são obtidos numa câmara reverberante.

Redução do nível sonoro


A (dB)
N  10 log 10
A 10

Em que:
N – redução do nível sonoro
A - (αS) – absorção final da sala
A0 - (αS)0 – absorção inicial da sala

Isolamento bruto ou efetivo


A
Db  1   2  R  log 10 (dB)
S
Em que:
Db – isolamento bruto
1 – nível sonoro no compartimento emissor (dB)
 2 – nível sonoro no compartimento recetor (dB)
R – índice de redução sonora do elemento separador (dB)
A – absorção do comportamento recetor (m2)
S – superfície do elemento separador (m2)

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X – REVESTIMENTOS

1. NATUREZA E CLASSIFICAÇÃO DOS REVESTIMENTOS

Desde cedo o homem recorreu à argamassa para proteger e reforçar as suas construções,
com revestimentos de superfícies, mesmo antes de as utilizar entre as pedras, com o fim de
melhor as fixar entre si.
Primeiramente, utilizou o barro tal como o encontrava na natureza, posteriormente misturou-o
com fibras vegetais, como é o caso da palha, para lhe conferir maior consistência. Mais tarde,
passou a adicionar-lhe areia, pois deve ter compreendido que, em certas proporções, esta
adição reduz consideravelmente os inconvenientes da retração e produz um aglomerado final
muito mais duro e resistente.
Depois da descoberta dos aglomerados artificiais, que permitiam produzir aglomerados
resistentes à ação das chuvas, passou a utilizá-los, não só na estabilização das pedras das
alvenarias, mas muito especialmente no revestimento das superfícies das paredes e dos
pavimentos. Com estes revestimentos, não só protegia as paredes, como podia corrigir as
irregularidades das superfícies, facilitando a limpeza e melhorando o seu aspeto; para o
conseguir, aplicou diversas camadas de argamassa e partículas lamelares de pedra ou de
adobes (mais tarde, de barro cozido), por ter verificado a dificuldade de fazer enchimentos
estáveis com grandes espessuras. É muito comum encontrarem-se ainda, nos restos dessas
antigas construções, três e mais camadas de revestimento sobrepostas.

2. FUNÇÕES

As funções dos revestimentos de paredes, tetos e pavimentos são:


 Proporcionar impermeabilização;
 Corrigir irregularidades;
 Facilitar a limpeza;
 Melhorar o aspeto estético, quando o suporte é de má qualidade.
A importância do estudo dos revestimentos justifica-se por:
 Influir diretamente nas condições de habitabilidade e salubridade dos edifícios;
 Influir na durabilidade das construções;
 Ser, muitas vezes, o grande responsável por patologias ocorridas em edifícios recentes.

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Alguns fatores que podem justificar o insucesso da aplicação de revestimentos em muitas


obras são:
 Desaparecimento de mão de obra especializada;
 Ritmo cada vez mais rápido da construção;
 Aparecimento de materiais de suporte não tradicionais.

3. EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS DOS REVESTIMENTOS

O estabelecimento de exigências funcionais para os edifícios e seus órgãos decorre da


necessidade de os edifícios possuírem caraterísticas que permitam a satisfação das
necessidades dos seus utentes em condições económicas aceitáveis, isto é, de modo a que
os custos iniciais, bem como os de funcionamento e manutenção, sejam mantidos a um nível
razoável.
As exigências funcionais traduzem os requisitos a impor, independentemente dos materiais e
soluções construtivas utilizados, para que os edifícios, os seus órgãos e os elementos de
construção estejam aptos a desempenhar as diversas funções, constituindo a resposta
técnica às necessidades dos utilizadores.
Por exemplo, as exigências funcionais dos revestimentos de paredes (Quadro 1 abaixo) são
indissociáveis das exigências funcionais dos seus suportes. De facto, as funções atribuíveis
ao conjunto tosco da parede-revestimento podem ser exercidas com maior ou menor
contributo de cada um desses constituintes. Há, no entanto, funções que competem, em
exclusivo ou quase, a apenas um deles. Será o caso, por exemplo, da satisfação das
exigências de segurança no contacto, de aspeto, de conforto táctil ou de higiene, que, no caso
geral, é da exclusiva responsabilidade dos revestimentos das paredes. Será já, no entanto, ao
conjunto tosco da parede-revestimento que se pedirá que satisfaça exigências como as de
segurança contra riscos de incêndio, de estanquidade à água e de resistência a ações de
choque.
Dos revestimentos para paramentos exteriores de paredes espera-se, de um modo geral, que
protejam o tosco de parede das ações dos diversos agentes agressivos e que confiram à
parede caraterísticas aceitáveis de planeza, verticalidade, regularidade superficial e limpeza.
Por seu lado, aos revestimentos para paramentos interiores de paredes pede-se, no
essencial, que eliminem as irregularidades do suporte, que proporcionem às paredes uma
superfície plana, vertical e lisa, que apresentem uma superfície higiénica, que resistam às

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ações de choque ou de atrito de ocorrência normal e que confiram às paredes o efeito


decorativo pretendido.

Quadro 1 – Exigências funcionais dos revestimentos de paredes

Tipos principais de Ações ou caraterísticas


Exigências funcionais discriminadas
exigências relevantes

Peso próprio
Estabilidade sob ações
Ações climáticas
normais de uso
Estabilidade Choques normais
Estabilidade sob ações de
Choques acidentais
ocorrência acidental
Limitação de propagação
Reação ao fogo
de segurança Segurança contra riscos de do fogo
incêndio Limitação da libertação de Libertação de produtos
produtos tóxicos e fumos tóxicos e fumos
__ Toxicidade
Rugosidade dos
Segurança no uso
Segurança no contacto paramentos. Temperatura
nos paramentos
Permeabilidade à água
Estanquidade à água da Absorção da água
chuva Permeabilidade ao vapor de
de estanquidade Estanquidade à água
água
Estanquidade à água no Permeabilidade à água
interior Absorção de água
termo-higrométricas Isolamento térmico Resistência térmica
Temperatura superficial
Ausência de condensações superficiais interiores
interior
de qualidade do ar Ausência de emissão de odores __
Ausência de libertação de poluentes __
Ausência de libertação de poeiras __
Coeficiente de absorção
de conforto acústico Limitação do tempo de reverberação dos locais
acústica
Planeza geral __
Planeza
Planeza localizada __
Verticalidade __
Retidão das arestas __
Limitação dos defeitos de
Defeitos de superfície
Regularidade e perfeição superfície
de superfície Limitação da largura de
de conforto visual Largura de fendas
fendas
Homogeneidade da
Homogeneidade de enodoamento pela poeira temperatura superficial
interior
Diferença de cor.
Homogeneidade de cor e de brilho Diferença de refletância
difusa

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Quadro 1 – Exigências funcionais dos revestimentos de paredes (cont.)


Tipos Principais de Ações ou caraterísticas
Exigências Funcionais discriminadas
Exigências relevantes
Limitação da aspereza dos paramentos Perfil geométrico de superfície
de conforto táctil Ausência de pegajosidade dos paramentos __
Secura dos paramentos __
Aspereza dos paramentos
Limitação da fixação de poeiras e microrganismos
de higiene pegajosidade dos paramentos.
Resistência às ações de limpeza __
Resistência a ações de __
Resistência a ações de choque choque
e de atrito Classe de resistência à
Resistência à riscagem
riscagem
Resistência à água da __
chuva
Resistência às __
projeções acidentais de
Resistência à ação da água água
Classe de resistência à
Resistência à lavagem
lavagem.
Resistência aos vapores __
húmidos
Resistência ao __
Aderência ao suporte arrancam. por tração
Resistência à peladura __
Resistência à formação de Resistência à formação __
nódoas de produtos químicos de nódoas
ou domésticos lavabilidade __
de adequação ao uso Resistência à formação __
Resistência ao enodoamento
de nódoas
pela poeira
lavabilidade __
Resistência à suspensão de cargas __
Resistência ao calor Calor
Resistência ao frio Frio
Resistência aos agentes Resistência à água Água
Climáticos Resistência à luz Luz
Resistência aos Choques térmicos
choques térmicos
Resistência ao ozono Ozono
Resistência ao dióxido Dióxido de azoto
de azoto
Resistência aos produtos
Resistência ao dióxido Dióxido de enxofre
químicos do ar
de enxofre
Resistência a soluções Soluções amoniacais
amoniacais
Resistência à erosão devida às partículas sólidas em __
suspensão no ar
Resistência à fixação e desenvolvimento de bolores
Compatibilidade geométrica __
de compatibilidade com
Compatibilidade mecânica __
o suporte
Compatibilidade química resistência à saponificação __
de aptidão para a __
armazenagem
Limitação dos custos iniciais __
de economia
Limitação dos custos de manutenção __

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4. CLASSIFICAÇÃO DOS REVESTIMENTOS DE PAREDES

Nos Quadros 2 e 3 seguintes, apresentam-se classificações, necessariamente não


exaustivas, dos revestimentos para paramentos exteriores e interiores. Em ambos os casos,
os revestimentos são classificados segundo as funções que estão aptos a desempenhar no
quadro das exigências funcionais já descritas.
Cada revestimento é incluído na classe correspondente à função primordial que vai
desempenhar. No entanto, estará apto a preencher outras funções – por exemplo, alguns
revestimentos de estanquidade podem proporcionar simultaneamente acabamento final.
Para além do critério funcional, existem, evidentemente, muitos outros critérios classificativos
possíveis, com base, por exemplo, nos materiais constituintes, na natureza do ligante, na
técnica de execução ou no caráter tradicional ou não tradicional do revestimento.
Apresentam-se, então, o Quadro 2 para a classificação de revestimentos exteriores de
paredes e o Quadro 3 para a classificação de revestimentos interiores de paredes.

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Quadro 2 – Classificação de revestimentos exteriores de paredes

Classificação
Tipos Principais de Revestimentos Tipos discriminados de revestimentos
Funcional
soletos de ardósia
soletos de fibrocimento
soletos de compósitos de cimento com fibras
em “escama”
(sem amianto)
ladrilhos de betão
ladrilhos de barro vermelho
placas de granito
placas de basalto
em placas de pedra natural placas de calcário
placas de mármore
placas de ardósia
Revestimentos por
elementos descontínuos placas de pedra artificial
(de fixação mecânica
Revestimentos de direta ou indireta) placas de autoclavado
Estanquidade fibrocimento
normal

em placas de outros materiais placas de compósitos de cimento com fibras


(sem amianto)
placas de termoendurecido
plástico termoplástico
placas de chapa de aço zinco
réguas de madeira
réguas de termoendurecido
em réguas plástico
termoplástico
réguas aço alumínio
metálicas
Revestimentos de ligantes hidráulicos armados e __
independentes
Revestimentos com base em ligantes sintéticos armados __
argamassas de cimento
argamassas de cal apagada
Revestimentos de tradicionais
ligantes minerais argamassas e cal hidráulica argamassas
Revestimentos de bastardas
Impermeabilização
não tradicionais revestimentos monocamada
Revestimentos de ligantes sintéticos __
Revestimentos de ligantes mistos (sintéticos + minerais) __
Revestimentos por elementos descontínuos independentes __
com isolante na caixa de ar
Revestimentos com ligantes minerais armados e __
independentes com isolante na caixa de ar
Revestimentos delgados sobre isolante __
Revestimentos de
Isolamento Térmico Revestimentos espessos sobre isolante __
Revestimentos de argamassas de ligantes minerais com __
inertes de material isolante
Revestimentos por componentes isolantes __
Revestimentos obtidos por projeção “in situ” de isolante __

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Quadro 2 – Classificação de revestimentos exteriores de paredes (cont.)


Classificação
Tipos Principais de Revestimentos Tipos descriminados de revestimentos
Estrutural
Camadas de acabamento __
Tradicionais
dos revestimentos e
impermeabilização de __
ligantes minerais Não tradicionais
da classe I __
Revestimentos de ligantes da classe II __
sintéticos da classe III __
da classe IV __

Revestimentos delgados de ligantes mistos __

barro vermelho

azulejos
ladrilhos cerâmicos
grés

semigrés

de pasta
ladrilhos hidráulicos
de granulado

colados granito

basalto
Revestimentos de ladrilhos de pedra
calcário
acabamento ou natural
decorativos mármore

ardósia
Revestimentos por
elementos descontínuos
ladrilhos de pedra artificial

mosaicos de vidro opaco

de pasta
ladrilhos hidráulicos
de granulado

granito

basalto
Fixados
ladrilho de pedra
mecanicamente calcário
natural
(fixação direta)
mármore

ardósia
ladrilhos de pedra artificial

ladrilhos de fibrocimento

não texturados __
Revestimentos por pintura
texturados __

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Quadro 3 – Classificação de revestimentos interiores de paredes

Classificação Tipos Discriminados de


Tipos Principais de Revestimentos
Funcional Revestimentos
argamassas de
Revestimentos de ligantes tradicionais cimento/argamassas de cal
minerais apagada argamassas bastardas
não tradicionais produtos pré-doseados
Revestimentos de cal apagada __
de gesso tradicionais __
e areia não tradicionais __
Revestimentos de de gesso, cal apagada e __
regularização Revestimentos de areia (esboços)
gesso de gesso em pasta
de gesso em inertes leves
de produtos pré-doseados para aplicação manual/para
em fábrica aplicação por projeção
Revestimentos de ligantes sintéticos __
Revestimentos por elementos descontínuos __
independentes
argamassas de cimento
Revestimentos de Tradicionais argamassas de cal apagada
litigantes minerais argamassas bastardas
não tradicionais produtos pré-doseados
Revestimentos de cal apagada __
de gesso em pasta
Revestimentos de gesso de gesso e cal apagada em
Revestimento de (estuque) pasta
acabamento de gesso, cal apagada e areia
Revestimentos de cal tradicionais
apagada e gesso não tradicionais produtos pré-doseados
Revestimentos de pigmentados
ligantes sintéticos não pigmentados
Revestimentos por elementos descontínuos
azulejos
Revestimentos cerâmicos ladrilhos de grés
ladrilhos de semigrés
Revestimentos de vidro opaco mosaicos
Revestimentos ladrilhos de mármore placas de
Resistentes à água Revestimentos de pedra natural
granito polido
Revestimentos de pedra artificial
Revestimentos epoxídicos
Revestimentos de ligantes sintéticos envernizados,
ou esmaltados

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Quadro 3 – Classificação de revestimentos interiores de paredes (cont.)

Tipos Discriminados de
Classificação Funcional Tipos Principais de Revestimentos
Revestimentos

de papel __

de papel de condução
__
vinílica

vinílicos sobre papel __


Revestimentos em rolo plásticos __

Com pelo __
Revestimentos Têxteis
Decorativos Sem pelo __

de cortiça laminado de cortiça


aglomerado de cortiça
Revestimento em placas de aglomerado de cortiça __

Revestimentos de rede de fibra de vidro pintados __

não texturados __
Revestimentos por pintura
texturados __

5. REBOCOS TRADICIONAIS

5.1. ELEMENTOS CONSTITUINTES DAS ARGAMASSAS

Na composição das argamassas para revestimentos tradicionais, em reboco, de paredes


entram, normalmente:
 Ligantes – cimento Portland normal; cimento Portland composto; cimento Portland
branco; cal hidráulica e cal aérea;
 Inertes – Areia;
 Adjuvantes (eventualmente) – introdutores de ar, plastificantes, hidrófugos, etc.

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5.2. FASES DE APLICAÇÃO

ENCASQUE
Após a aplicação do crespido, de modo a proporcionar aderência, executa-se uma camada de
base de regularização, designada por encasque.

Encasque de um reboco

Hoje, o encasque utiliza-se especialmente nas construções de alvenaria de pedra irregular,


quando a qualidade da pedra não permite a formação de superfícies regulares no tosco; o
encasque deve fazer-se por camadas não superiores a 3 cm de espessura e devem aplicar-se
escassilhos de pedra ou fragmentos de tijolo.
As camadas aplicam-se umas sobre as outras, depois de a camada anterior ter endurecido e
retraído o bastante para receber novas argamassas.
O encasque é uma operação prévia de regularização que deve ser evitada, pois, adicionada
às camadas que se seguem, acaba por proporcionar um revestimento de grande espessura, o
qual, devido à retração das argamassas, pode provocar a sua descolagem da base, acabando
por se destacar e cair toda a camada de enchimento. É, pois, uma questão de aderência, o
problema que se levanta.
A necessidade ou não do encasque verifica-se passando uma régua sobre as superfícies em
tosco e detetando depressões superiores a 1 cm, admitindo que se verifica a verticalidade das
superfícies a revestir.

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A argamassa dos encasques deve ser igual à do emboço e reboco, e, antes da aplicação dos
escassilhos, deve fazer-se o aperto á colher para garantir uma perfeita aderência à parede (ou
camada anterior), havendo antes o cuidado de limpar e humedecer cuidadosamente as
superfícies a revestir, a fim de que não roubem água à argamassa e impeçam o
endurecimento desta. Um aspeto muito importante é a garantia da verticalidade do
revestimento e da planeza da superfície, sendo que, para tal, se devem realizar pontos e
mestras.

Pontos e mestras

EMBOÇO
O emboço e o reboco são duas fases de uma mesma operação, que devem ser executadas
sem um grande intervalo de tempo entre elas – portanto, a capacidade final que constitui o
reboco deve encontrar a massa da primeira antes do fim do endurecimento, ainda
suficientemente húmida.
O emboço é a primeira camada de contacto com a parede, que se aplica entre mestras, e
deve ser precedido de cuidadosa limpeza desta e do seu perfeito humedecimento, condições
para uma boa aderência; esta camada, com cerca de 10 mm de espessura, deverá ser bem
apertada à colher e regular. Deve haver o cuidado de se verificar com a régua entre mestras
se a espessura não é demasiada, retirando com a colher a massa em excesso, sempre que
isso se verifique, isto é, que a régua a atinge.
Parede a parede, faz-se esta primeira aplicação, com o cuidado de garantir que não ficarão
emboços à espera do reboco para o dia imediato.

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Note-se que, embora à vista desarmada não se perceba, esta massa, no contacto com
superfícies absorventes, vai fendilhar e ficará permeável, o que não poderá acontecer com a
camada final (reboco), que será executado sobre esta, quando ainda húmida.
Quando se propõe que nos rebocos de argamassa hidráulica se aplique, por adição (não por
substituição), uma pequena quantidade de cal em pó, é porque a cal oferece mais resistência
à perda de água do que o cimento, por efeito do contacto com superfícies absorventes a
revestir. A cal retém a água, retarda o endurecimento e reduz o fendilhamento.
O emboço, quando bem apertado, é um garante da boa aderência das massas e da
consistência do reboco.

REBOCO
O reboco é a fase final desta série de operações de revestimento, havendo, no entanto, ainda
que ter em consideração as outras operações de acabamento das paredes, uma vez que o
reboco, destinando-se a servir de base a outros acabamentos, é apenas pré-acabamento das
paredes.
Note-se que o reboco pode servir de acabamento no caso de aplicação direta da caiação ou
pintura; pode, no entanto, ser a base para a aplicação de estuque ou de revestimento com
ladrilhos cerâmicos, plásticos, etc.
Portanto, ao executar um reboco terá de se conhecer com precisão o tipo de acabamento que
está previsto.
Se vai receber apenas caiação ou pintura, a massa a aplicar (com os mesmos componentes
de traço do emboço) deverá fazer-se com areia joeirada, donde são retirados os grãos de
maiores dimensões; se vai receber outro revestimento, esta operação de calibragem da areia
não é necessária.
Num caso e noutro, a camada de massa sobre o emboço é aplicada também apertada à
colher ou talocha metálica, procurando-se que fique levemente saliente das mestras e, em
seguida, com a régua funcionando como uma rasoira sobre as mestras, retira-se a massa em
excesso.
No caso de se verificar que houve pontos onde a régua não atingiu a massa, reforça-se a
camada e volta a passar-se a régua.
Se o reboco se destinar a outro revestimento sobreposto, fica concluído com esta operação;
se for para cair ou pintar, deve em seguida regularizar-se e disfarçar completamente, não só o
efeito da régua, como a posição das mestras.

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ACABAMENTO
O acabamento pode consistir na passagem de uma talocha pequena de cortiça ou de uma
almofada de serapilheira formada por várias dobras, que se passa sobre o reboco
recém-sarrafado (passado à régua), fazendo movimentos rotativos curtos e molhando-a
constantemente.
A sua execução requer uma certa prática, para se obter um aspeto uniforme e, portanto, como
recurso, depois de concluída esta operação, passa-se as superfícies com uma esponja
embebida na mesma massa em calda, que se bate levemente e por igual em toda a parede.
A figura abaixo apresenta o conjunto das operações descritas desde o emboço e a sequência
em que se desenvolvem.
Falta ainda referir que, não sendo possível executarem-se estas operações para além de 1,80
m de altura, quando as superfícies a revestir a ultrapassam, executam-se de cima para baixo
em faixas com esta altura, devendo haver o cuidado de acautelar o efeito das costuras.

Emboço e reboco

Esta solução tradicional para execução de rebocos produz, em muitos casos, resultados
satisfatórios, mas tem também alguns inconvenientes:
 Os trabalhos são realizados por equipas diferentes, demorando tempo, imobilizando
andaimes, etc.;
 No caso de o acabamento final ser a pintura, esta normalmente precisa de ser renovada
passando pouco tempo.
Para evitar estes inconvenientes, aconselha-se a utilização de rebocos não tradicionais.

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5.3. CARATERÍSTICAS PRINCIPAIS

As características principais a exigir a um bom reboco tradicional são:


 Boa aderência ao suporte;
 Resistência à fendilhação, através de uma baixa retração e de um baixo módulo de
elasticidade;
 Capacidade de impermeabilização em zona não fendilhada;
 Elevada permeabilidade ao vapor de água;
 Aspeto estético aceitável.

5.4. EXECUÇÃO EM OBRA

Alguns cuidados devem presidir à execução em obra destes rebocos, como por exemplo:

A) Preparação do suporte, após prévio diagnóstico.


O diagnóstico do suporte engloba o conhecimento dos elementos seguintes:
 NATUREZA DO REVESTIMENTO EXISTENTE
Como conhecer a natureza do revestimento?

As pinturas amolecem sob ação do Os revestimentos orgânicos Os rebocos de cimento e/ou cal são
fogo. espessos (1 a 3 mm) também insensíveis ao fogo.
amolecem sobre fogo.

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 ADERÊNCIA DO REVESTIMENTO EXISTENTE


Como verificar uma boa aderência do revestimento?

Para pinturas sobre suportes lisos, Para pinturas sobre suportes Para rebocos de cimento e/ou cal,
efetuar o teste da quadrícula: cortar rugosos, verificar a aderência com verificar a aderência, batendo com
a pintura em pequenos quadrados uma espátula. um martelo. Estão bem aderentes
de 2 x 2 mm, numa superfície de se não soarem a oco.
10 x 10 cm. A pintura é considerada
como aderente se 80% dos
pequenos quadrados ficarem
aderentes.

 DUREZA DO REVESTIMENTO EXISTENTE


Como determinar a dureza de um reboco?

Testar a dureza com uma chave de Se a chave não penetra, o reboco Se a chave penetra ligeiramente, o
fendas, em vários pontos, fazendo é considerado duro. reboco não está duro, mas tem
movimentos rotativos ou coesão suficiente. Se a chave
pressionando. penetra facilmente e em
profundidade, tem que se eliminar
completamente o reboco.

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 NATUREZA DAS JUNTAS


Como conhecer a natureza das juntas?

As alvenarias muito antigas eram Mais recentemente, foram Atualmente, utilizam-se


construídas com argamassas de substituídas por argamassas de argamassas mais duras e
composição variável (terra, argila, ligantes hidráulicos (cimento e cal). resistentes.
cal, areia). Eram geralmente friáveis A sua dureza varia em função do
e pouco resistentes. seu traço (dosagem de cimento
e/ou cal).

 ADERÊNCIA DO REBOCO
Como verificar a boa aderência do reboco?

Começar por sondar com um Quando o andaime estiver Se as zonas que soam a oco forem
martelo as zonas acessíveis, em colocado, sondar a totalidade da muito extensas, eliminar o reboco
particular nas zonas fissuradas, fachada. na sua totalidade; se forem
para ver se o reboco soa a oco. localizadas, eliminá-las e saneá-las.

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 ABSORÇÃO
Como determinar a absorção do suporte?

Atirar água contra a parede, Se a água escorrer, o suporte não é Se a água for absorvida em menos
molhando bem. absorvente. de 1 minuto, o suporte é considerado
muito absorvente.

A PREPARAÇÃO DO SUPORTE ENGLOBA AS SEGUINTES OPERAÇÕES:

 NIVELAMENTO DO SUPORTE
Como garantir que o suporte é plano?

Eliminação das partes Enchimento dos buracos


salientes do suporte

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 TRATAMENTO DE ABSORÇÃO DOS SUPORTES


Como assegurar a aderência dos revestimentos sobre suportes com absorção distinta?

Sobre suportes muito absorventes Sobre suportes lisos e não Sobre alvenarias antigas de pedra
ou ligeiramente porosos em absorventes (por exemplo, betão e/ou tijolo para revestir, aditivar a
superfície, aplicar primários liso), aplicar primários específicos. primeira camada de argamassa do
específicos. revestimento com adjuvantes
específicos.

 DECAPAGEM
Como eliminar uma pintura?

Decapagem química: aplicar o Decapagem abrasiva: jato de areia Decapagem a quente: aquecer
decapante, deixar atuar e raspar em seco ou em húmido. suficientemente o revestimento para
com uma espátula. o amolecer, sem chegar a
Eliminar os restos com a ajuda de queimá-lo. Raspá-lo com uma
uma bomba de água de alta ferramenta quente e acabar com
pressão. uma limpeza a alta pressão.

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 LIMPEZA
Como efetuar uma limpeza a fundo com uma bomba de água a alta pressão?

Para obter uma limpeza eficaz, a A potência da limpeza é maior com Em geral, regular a bomba para
distância aconselhada entre a boca o ângulo de projeção pequeno; o uma pressão inicial baixa (por
da bomba e a parede deverá ser de trabalho, neste caso, será mais exemplo, 40 bar).
entre 10 e 30 cm. lento.

Se a limpeza for insuficiente, Para eliminar os decapantes É necessário uma lavagem final
aumentar progressivamente a químicos ou os restos de gordura, é cuidadosa com água abundante,
pressão até 80 bar. A partir deste imprescindível utilizar um para eliminar por completo o
ponto, existe o risco de deteriorar o detergente com água quente. detergente.
suporte.

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 TRATAMENTO DESINFETANTE
Como eliminar os bolores, algas, líquenes, etc.?

Eliminar as acumulações Aplicar um desinfetante (por Depois da limpeza e do suporte


importantes de microrganismos, exemplo, lixívia) em toda a seco (1 a 2 dias, no mínimo), aplicar
mediante uma raspagem ou uma superfície afetada. um novo revestimento.
limpeza com água a alta pressão.

B) Evitar condições climatéricas muito desfavoráveis;


C) Efetuar uma cura cuidada;
D) Realizar interrupção nas juntas estruturais;
E) Realizar esquartelamento ou reforçar com armaduras nas ligações entre materiais
de suporte diferentes.

5.5. DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS CONSTITUINTES DAS ARGAMASSAS

LIGANTES
 Cimento
Podem existir como ligantes nas argamassas para reboco vários tipos de cimento:
cimento Portland normal (que satisfaça a norma NP-2064); cimento branco, que é um
cimento Portland especial com um teor máximo de 0,8% de sesquiodóxico de ferro;
cimento natural, resultante da cozedura de margas calcárias e com o qual se obtém
baixas resistências mecânicas, elevada resistência química e pequena tendência para a
fendilhação, ou ainda outros tipos de cimentos que satisfaçam as especificações dos
respetivos cadernos de encargos para fornecimento e receção.
 Cal
A cal resulta da cozedura de calcários. A partir de calcários puros (com teor de impurezas
não superior a 5%) obtém-se a cal aérea; dos calcários margosos (com teor de argila
entre 5% e 20%) obtém-se a cal hidráulica; das margas calcárias (com teor de argila entre
20% e 40%) obtém-se os cimentos naturais já anteriormente referidos.

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Para a utilização de uma cal em argamassas para revestimento de paredes, deve ter-se
especial cuidado na extinção completa da cal aérea, para evitar que a expansão que
acompanha a hidratação dos óxidos de calcário (CaO) e de magnésio (MgO) continue a
verificar-se após a aplicação em obra. A utilização da cal deve basear-se em ensaios de
identificação e caraterização e na observação de aplicações anteriores.
 Cal aérea
A cal aérea resulta da decomposição, por ação da temperatura, de calcário com teor
não inferior a 95% de carbonato de cálcio ou de carbonato de cálcio e magnésio.
Consoante as referidas percentagens, a cal aérea pode ser classificada como cálcica
(podendo ser gorda, quando se obtém a partir de calcários com percentagem não
inferior a 99% de carbonatos, ou magra, quando os calcários de que provem contêm
de 1% a 5% de argila ou de outras impurezas), ou ainda como magnesiana (quando
o teor em óxido de magnésio da matéria prima é inferior a 20%).
Por cozedura dos calcários a cerca de 900 °C (mais precisamente a 894 °C, a
temperatura a que a pressão do anidrido carbónico que se liberta do calcário –
pressão de dissociação do carbonato de cálcio – é aproximadamente igual à pressão
atmosférica), dá-se a reação de calcinação da cal, que é endotérmica, com formação
de óxido de cálcio (ou cal viva). Provocando a reação de extinção da cal viva, que é
exotérmica expansiva, por aspersão com água ou por imersão em água, obtém-se cal
apagada em pó ou em pasta. O endurecimento da cal apagada aplicada em obra
ocorre por carbonatação – fixação do dióxido de carbono da atmosfera ao hidróxido
de cálcio, com nova formação de carbonato de cálcio – com libertação de água. Por
ser uma reação exotérmica, com dilatação associada à libertação de calor, na
secagem surgem fendas de retração devido ao material não ter suficiente ductilidade
para acompanhar a alteração de volume. A incorporação de areia reduz a retração da
pasta de argamassa de cal apagada e, dividindo-a em pequenas frações, possibilita a
entrada do ar necessário à carbonatação.
 Cal hidráulica
A cal hidráulica obtém-se por cozedura de calcários margosos (com teores de argila
entre 5% e 20%). A uma temperatura entre 1200 °C e 1500 °C, dá-se a formação do
óxido de cálcio e a combinação de parte do cálcio com sílica e alumina, formando
silicatos e aluminatos. Por extinção com água (apenas a necessária para hidratar a
cal viva), obtém-se a cal apagada. A expansão inerente à reação pulveriza os grãos
maiores (que contêm os silicatos e aluminatos). Mesmo assim, deve proceder-se à

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separação dos grãos de maiores dimensões (sobrecozidos) do pó restante. Moídos e


de novo adicionados em pó, aumentam a hidraulicidade da cal. Este fenómeno pode
ser ainda reforçado por adição de outros produtos, como pozolanas e escórias de
alto-forno.
 Gesso
Obtém-se por calcinação, à temperatura de 120 a 130 °C, de um calcário especial,
designado por pedra de gesso (sulfato de cal hidratado). Após a cozedura, a pedra de
gesso é moída e crivada.

INERTES
Classificam-se como inertes os produtos e matérias-primas que se combinam com
aglomerantes ou aglutinantes e que não exercem sobre estes qualquer ação química.
Normalmente utilizam-se na formação de massas ou pastas, com vista a intervirem nas
resistências mecânicas destas ou simplesmente para se aproveitarem as caraterísticas dos
aglomerantes, em condições mais económicas.
Os inertes usados nas argamassas, para além de intervirem significativamente na resistência
mecânica dos aglomerantes em obra, intervém também na moderação dos fenómenos de
retração destas, nas fases de secagem e endurecimento.
Em argamassas para revestimento de paredes, utiliza-se fundamentalmente a areia como
inerte.
No entanto, certos tipos de acabamentos requerem determinadas percentagens de areias
com granulometrias diferentes e mesmo, nalguns casos, de inerte grosso. Por exemplo, os
acabamentos acentuadamente rugosos exigem uma pequena percentagem de inertes com
dimensões superiores a 5 mm.
Os inertes a utilizar em argamassas para revestimento de paredes deverão verificar as
seguintes caraterísticas:
 Forma, dimensões extremas e granulometria adequadas às utilizações previstas;
 Inalterabilidade ao ar, à água e a outros agentes externos;
 Compatibilidade química com o ligante e com os outros constituintes da argamassa;
 Resistência mecânica adequada;
 Resistência à erosão;
 Ausência de substâncias nocivas (matéria orgânica, partículas moles, friáveis ou
demasiado finas, película de argila aderente aos inertes, etc.).

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Por poderem pôr em causa a qualidade das argamassas, deve ser evitada a presença em
proporções significativas dos seguintes minerais:
 Sílica não perfeitamente cristalizada;
 Feldspatos sódicos, potássicos ou cálcico-sódicos alterados (caulinos);
 Pirites e marcassites;
 Compostos ferrosos;
 Gesso.

As areias provenientes do mar devem ser lavadas com água doce, para lhes extrair o cloreto
de sódio, o qual, ao dissolver-se na água, iria prejudicar a resistência das argamassas e o seu
comportamento na obra.
As areias provenientes dos rios devem ser crivadas, a fim de as libertar de substâncias
orgânicas, como raízes, fragmentos de madeira, carvão, etc., porque, além de prejudicarem a
resistência das argamassas, criam condições para uma fácil penetração de água nas
alvenarias.
As areias provenientes de bancos naturais, quando isentas de raízes e outras impurezas,
devem ainda ser controladas quanto ao teor em argilas.
Podem empregar-se inertes naturais especiais, como a mica e a calcite, e inertes artificiais
resultantes de desperdícios industriais, como, por exemplo, de vidro, devendo o utilizador
certificar-se da sua durabilidade e de que se trata de materiais inertes e que não originam
reações desfavoráveis.
As areias de grãos grossos dão, geralmente, argamassas mais resistentes do que as de grão
fino, mas exigem mais ligantes (para o preenchimento dos vazios entre os grãos, condição
indispensável a uma perfeita impermeabilidade) de grãos finos e, por exigirem maiores
quantidades de água para resultarem plásticas e, portanto, trabalháveis, acabam por ficar
muito porosas e oferecer menor resistência.
As condições ideais para a produção de uma boa argamassa encontram-se numa
combinação equilibrada entre grãos finos e grossos, isto é, uma composição granulométrica
plena; neste caso, resultam argamassas mais compactas, com menor quantidade de ligantes
e de água e com plasticidade e aderência satisfatórias.

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ÁGUA
A melhor água para as argamassas é a potável, proveniente de rios ou poços, que não
contenha sais nocivos à presa dos aglomerantes e ao comportamento destes em obra.
As águas que contenham cloretos de sódio ou de magnésio em quantidades superiores a 1%,
ou sulfatos em quantidades superiores a 0,3%, não devem ser aplicadas, porque prejudicam a
resistência das argamassas. O mesmo acontece com as águas que contenham substâncias
orgânicas, como as estagnadas de poços ou pântanos.

ADJUVANTES
Os principais adjuvantes suscetíveis de serem utilizados em argamassas de reboco são os
seguintes:
 Redutores de água
Agentes tensioativos que diminuem as forças de atração existentes entre as partículas de
cimento e, consequentemente, aumentam a fluidez da pasta. Têm como efeito um aumento
da tensão de rotura e da trabalhabilidade e uma redução da permeabilidade;
 Plastificantes
Produtos sólidos, insolúveis na água, finamente divididos (tanto ou mais finos que o
cimento), que aumentam a viscosidade e a coesão da pasta. Da sua utilização resulta uma
maior compacidade das argamassas e uma redução da permeabilidade;
 Floculantes ou espessantes
Estes produtos aumentam as forças de tração entre partículas e provocam um
espessamento da pasta, de que resulta uma maior coesão, associada a uma redução de
exsudação;
 Retentores de água
Produtos, geralmente em solução, de natureza gelatinosa, que impedem a dessecação
prematura da pasta aplicada em suportes absorventes;
 Retardadores da presa
Produtos que retardam a velocidade das reações iniciais entre o cimento e a água. Da sua
utilização resulta, assim, um aumento do tempo de presa e da tensão de rotura;
 Aceleradores de presa
Produtos que aceleram a velocidade das reações iniciais entre o cimento e a água. Da sua
utilização resulta uma redução do tempo de presa e da tensão de rotura;

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 Aceleradores de endurecimento
Produtos que aceleram o desenvolvimento das resistências iniciais, resultando um
aumento na velocidade de desenvolvimento do calor de hidratação;
 Introdutores de ar
Agentes tensioativos que originam a formação e estabilizam um grande número de
pequenas bolhas de ar, que se repartem uniformemente na pasta e, assim, se conservam
após endurecimento. Estes vazios de forma esférica e de dimensões suficientemente
grandes cortam a continuidade dos capilares, impedindo a sucção;
 Anticongelantes
Através da utilização destes produtos, consegue-se diminuir o ponto de congelação da
água, reduzindo-se a possibilidade de formação de cristais de gelo na pasta;
 Redutores de permeabilidade
Produtos que aumentam a compacidade das argamassas, diminuindo o número de
capilares ou bloqueando-os, devido à presença de bolhas de ar ou de partículas finas.
Diminuem, assim, a permeabilidade sob tensão;
 Hidrófugos ou redutores de capilaridade
Produtos que tornam os capilares hidrófugos ou que, por reação com a cal, originam a
precipitação de sais que obturam os poros. Deste modo, diminuem a permeabilidade por
capilaridade;
 Resinas sintéticas ou polímeros
Produtos orgânicos que, geralmente, se apresentam na forma de emulsões polimerizáveis
ou dispersões ou dispersões polimerizadas e que, adicionadas às argamassas em pasta,
melhoram a aderência aos inertes e às argamassas ou betões já endurecidos. Pela sua
utilização, associada a uma redução do módulo de elasticidade, ocorre um aumento das
resistências à tração, à flexão e ao desgaste;
 Fungicidas, bactericidas, germicidas, inseticidas
Produtos que, tal como o nome indica, conferem às argamassas endurecidas propriedades
fungicidas, bactericidas, germicidas ou inseticidas;
 Pigmentos
Produtos naturais ou sintéticos que se incorpora na massa para a obtenção de
revestimentos coloridos.

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5.6. DOSEAMENTOS

Uma argamassa só necessita, em princípio, do aglomerante e água necessários ao


preenchimento dos vazios da areia, dependendo o volume de vazios da mistura areia e ligante
e da finura deste. Contudo, numa argamassa os grãos de areia não permanecem tangentes
entre si, como acontece no seu estado natural; mas envolvidos pelos finos grãos em maior ou
menor grau, durante o processo de amassadura, do que resulta que, num metro cúbico de
argamassa entre uma quantidade de areia inferior a 1 m3, dependente da dosagem do ligante.
Por sua vez, desta depende a resistência da argamassa.
Durante o processo de endurecimento, em condições normais, só uma parte de água é que se
associa ao ligante, evaporando-se a restante, deixando espaços na massa, que são
preenchidos pelo ar.
Da associação de água ao ligante resulta uma elevação inicial de temperatura e, portanto, um
pequeno aumento inicial de volume; quando a argamassa arrefece, retrai, isto é, diminui
ligeiramente de volume, tanto mais quanto maior for a quantidade de ligante usado na mistura
para o mesmo volume desta.
Este último aspeto é especialmente significativo nas argamassas de cal, devido ao grande
significado da retração deste ligante; os aglomerantes hidráulicos têm uma retração menos
significativa.
Os doseamentos ou traços indicam-se normalmente pela relação entre o volume aparente dos
ligantes em pó e o volume aparente da areia. Assim, um traço de uma parte de cimento para
três partes de areia representa-se por 1:3.
Nos ligantes hidráulicos, é habitual referir os traços com a indicação do peso de ligante que
entra num certo volume (1 m3) de argamassa; por exemplo, referir uma argamassa de 400
quilogramas força de cimento por metro cúbico de argamassa (400 kgf / m³).
O doseamento da água depende da finura dos grãos e da granulometria da areia e deve ser
sempre feito utilizando o mínimo de água, dentro das possibilidades de se obter uma mistura
suficientemente plástica, para se reduzir ao mínimo os vazios já referidos, que esta deixa ao
evaporar-se. No entanto, esse mínimo varia consoante o estado de humidade das areias, a
temperatura ambiente e o estado das superfícies a ligar ou revestir.

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5.7. TIPOS E CARATERÍSTICAS DAS ARGAMASSAS PARA REVESTIMENTOS

ARGAMASSAS DE CIMENTO E AREIA


Este tipo de argamassa apresenta como caraterísticas:
 Elevada resistência;
 Grande compacidade;
 Elevada retração;
 Elevada rigidez;
 Grande tendência para a fendilhação.
Para que uma argamassa de cimento adquira trabalhabilidade equivalente a uma argamassa
de cal, deverá ter alto teor de cimento, o que conduz à ocorrência de importantes retrações.
Este efeito é ainda agravado por, aproveitando os curtos tempos de presa das argamassas de
cimento, não serem respeitados os intervalos de espera entre aplicações das sucessivas
camadas do revestimento (necessários para que tenha já ocorrido parte significativa da
retração inicial de secagem da camada subjacente).

ARGAMASSAS DE CIMENTO, CAL APAGADA E AREIA (ARGAMASSA BASTARDA)


Este tipo de argamassa apresenta como caraterísticas:
 Maior trabalhabilidade;
 Maior deformação na rotura;
 Maior porosidade;
 Menor suscetibilidade à fendilhação.
As duas últimas caraterísticas parecem ser contraditórias quanto à resistência à penetração
da água, mas, sendo menor a tendência para a fendilhação, menos serão os caminhos
preferenciais para entrada de água no interior da parede.

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ARGAMASSAS DE CAL APAGADA E AREIA


Este tipo de argamassa apresenta como caraterísticas:
 Elevada deformação na rotura;
 Baixa retração;
 Estrutura friável;
 Endurecimento muito lento (por fixação do dióxido de carbono – carbonatação), pelo que
demora muito tempo a adquirir resistência mecânica suficiente;
 Grande utilização em obras de reabilitação, por apresentar caraterísticas próximas das
argamassas antigas aí aplicadas.

ARGAMASSAS DE CAL HIDRÁULICA NATURAL E AREIA


Este tipo de argamassa apresenta caraterísticas intermédias entre as argamassas de cimento
e areia e as argamassas de cal apagada e areia. Pode ainda ser adicionado cimento, em
quantidade tanto menor quanto maior for o índice de hidraulicidade da cal.
Tal como as anteriores, estas argamassas são utilizadas principalmente em obras de
reabilitação, mas podem também ser utilizadas em construção nova.

ARGAMASSAS DE GESSO
Com o gesso de esboço ou de estuque, de presa rápida, formam-se normalmente pastas
simples, amassando-se somente com água. O gesso admite pouca areia, não devendo
ultrapassar-se os 50% em volume; a mistura não deve fazer-se sem a adição de um
retardador de presa, pois, de contrário, dificilmente poderá aplicar-se em boas condições, por
falta de tempo para isso.
A quantidade de água de amassadura varia entre os 50% e os 70% do volume do gesso, não
devendo nunca ultrapassar-se o máximo aqui indicado. O gesso, ao fazer presa, aumenta de
volume em cerca de 1%, o que pode evitar-se amassando-se com água de cal, o que ainda
tem a vantagem de aumentar a resistência.

COMPOSIÇÃO DAS ARGAMASSAS PARA REVESTIMENTOS


A opção por um determinado tipo de argamassa para a execução de cada camada de
revestimento com base em ligantes minerais e respetivas combinações e variantes é ditada
pelo tipo e estado do suporte, pelas condições de exposição às intempéries, pelo grau de
proteção que a parede requer e pelo tipo de acabamento pretendido.

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O Quadro 4 apresenta os traços volumétricos de vários tipos de argamassas tradicionalmente


utilizados em revestimentos exteriores de paredes (I a V), de cimento e areia e de cimento, cal
apagada e areia, ainda a equivalência de composições de argamassas – entre traços
volumétricos e quantidades de ligantes por m3 de areia seca ou húmida (considerada com teor
em água entre 3% e 6%).
As argamassas do tipo 1 são, assim, argamassas “fortes”, com relação ligante:areia de 1:2.4 e
impermeáveis na massa, mas com elevada retração de secagem e grande tendência para a
fendilhação.
Só são aplicáveis em suportes “fortes” ou sobre armadura metálica, para revestimentos cujo
acabamento seja do tipo escocês ou seixo à vista e para revestimento de superfícies sujeitas
a ações de abrasão bastante severas, como é o caso de socos e embasamentos.
As argamassas do tipo V apresentam, pelo contrário, caraterísticas adequadas para serem
aplicadas no revestimento de parâmetros de paredes de betão celular autoclavado.

Quadro 4 – Equivalência de composições de argamassas tradicionalmente utilizadas em revestimentos


3
exteriores de paredes, entre traços volumétricos e quantidades de ligantes por m de areia.

Argamassa de cimento e areia (c/ plastificante) Argamassa de cimento, aal apagada e areia

Tipo 3
Traço volumétrico Dosagem Traço Volumétrico Dosagem (kg ligante / m areia)
(cimento: areia 3 (cimento:cal:areia
(kg cimento/m areia)
de
húmida) húmida)
argamassa Areia Areia Areia Húmida Areia Seca
Húmida Seca
Cimento Cal Cimento CAL

I __ __ __ 1:0.25:3 400 50 500 60

II 1:3 a 4 300 a 400 400 a 500 1:0.5:4 a 4.5 270 a 300 70 a 75 330 a 380 85 a 95

III 1:5 a 6 200 a 250 250 a 300 1:1:5 a 6 200 a 240 100 a 120 250 a 300 125 a 150

IV 1:7 a 8 150 a 175 180 a 220 1:2:8 a 9 130 a 150 130 a 150 170 a 190 170 a 190

V __ __ __ 1:2:12 100 100 125 125

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O Quadro 5 apresenta os esquemas de revestimento de paredes, em função das condições


de exposição às intempéries e do tipo de acabamento, adequados para seis tipos de suporte
específicos.

Quadro 5 – Esquemas de revestimento adequados a seis suportes específicos

Crespido (cimento: Camadas de base


Material de Tipo de Condições de areia húmida) ou Camada de
suporte acabamento exposição (cimento: cal; areia acabamento
húmida) 1.º 2.º

S
Liso talochado
(talocha de M 1:1.5 a 2 II III
madeira) F
S
Rugoso de textura M 1:1.5 a 2 II III
Betão fina
F
(denso,
compacto e S
resistente)
Escocês M 1:1.5 a 2 II II
F
S

Seixo à vista M 1:1.5 a 2 II II


F

S II III III
Liso talochado
(talocha de M
madeira) III III
F
S III III III
Rugoso de textura
M
fina III IV
Alvenaria de F
Tijolo S II II II
Escocês M
II II
F
S II II II
Seixo à vista M
II II
F

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Quadro 5 – Esquemas de revestimento adequados a seis suportes específicos (cont.)

Crespido
Camadas de base
(cimento: areia
Material Tipo de Condições de Camada de
húmida) ou
de suporte acabamento exposição acabamento
(cimento: cal;
1.ª 2.ª
areia húmida)
S II III III
Liso talochado
(talocha de M
madeira) III IV
F
S II III III
Rugoso de textura M
fina III IV
F
Betão sem
finos S II II II
Escocês M
II II
F
S II II II
Seixo à vista M
II II
F

S I II III
Liso talochado
(talocha de M
madeira) II II III
F
S I II III
Rugoso de textura
M
fina II II III
Armadura F
Metálica S I II II
Escocês M
II II II
F
S I II II
Seixo à vista M
II II II
F

Condições de Exposição: S – severas; M – modernas; F – favoráveis

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Quadro 5 – Esquemas de revestimento adequados a seis suportes específicos (cont.)

Crespido
Camadas de base
(cimento: areia
Material de Tipo de Condições de Camada de
húmida) ou
suporte acabamento exposição acabamento
(cimento: cal;
1.ª 2.ª
areia húmida)
Alvenaria de S III III III
blocos de Liso talochado
M
betão de (talocha de
argila madeira) F III IV
expandida
S III III III
Rugoso de textura M
fina III IV
F
S III III III
Seixo à vista M
III III
F

S
Liso talochado
1:3
(talocha de M V
4:1:15
madeira)
F
Alvenarias de S
blocos de Rugoso de textura 1:3
M V
betão celular fina 4:1:15
autoclavado F
S
1:3
Seixo à vista M V
4:1:15
F

Condições de Exposição: S – severas; M – modernas; F – favoráveis

6. REBOCOS NÃO TRADICIONAIS DE LIGANTES MINERAIS

6.1. DEFINIÇÃO

Os rebocos não tradicionais são produtos em pó, pré-doseados em fábrica, de constituição


basicamente idêntica aos rebocos tradicionais e prontos a amassar com água em obra,
geralmente aplicáveis em camada única e admitindo, na maioria dos casos, aplicação por
projeção.

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6.2. CONSTITUIÇÃO

A constituição dos rebocos não tradicionais é, normalmente, a seguinte:


 Ligantes: cimento Portland normal, cimento Portland composto, cimento Portland branco
e outros; cal hidráulica, cal aérea e outros tipos de ligantes minerais;
 Inertes: areias siliciosas e calcárias selecionadas, inertes leves;
 Adjuvantes: pigmentos; retentores de água; plastificantes; introdutores de ar; hidrófugos,
etc.;
 Outros elementos: eventualmente, fibras minerais; pozolanas, etc.

6.3. APLICAÇÃO

O reboco é aplicado diretamente ...ou com a ajuda de uma máquina O reboco pode ser acabado com
sobre a alvenaria, à mão.... de projetar argamassas. pedra (granulado de mármore)
projetada.

 TIPOS DE ACABAMENTOS

Para além do acabamento de … o reboco monomassa pode ficar … ou de carapinha


pedra projetada… com o acabamento raspado…

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COMO APLICAR UM REBOCO MONOMASSA EM TEMPO FRIO OU HÚMIDO?

Reboco monomassa em fachada

Todos os rebocos de cimento ou cal, quando aplicados em tempo frio ou húmido, correm o
risco do aparecimento de manchas esbranquiçadas na sua superfície. A este fenómeno
chama-se carbonatação. Estas manchas alteram o aspeto estético do reboco, mas nunca as
suas caraterísticas técnicas.

Quando amassamos um reboco, Quando o reboco começa a São estes sais que, quando
parte dos seus componentes (sais) secar, a água de amassadura depositados na superfície do
dissolvem-se com a água de abandona os sais, que formam reboco, formam as manchas
amassadura. É normal e depósitos brancos. esbranquiçadas
indispensável para que o reboco
possa endurecer corretamente.

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Quando o reboco seca Quando o reboco seca muito O vento, conforme seja húmido ou
normalmente, os sais ficam no seu devagar (ambiente húmido ou frio), seco, frio ou quente, pode aumentar
interior. Neste caso, a carbonatação a humidade do reboco empurra os ou reduzir o risco de aparecimento
não é visível. sais para o exterior e estes de manchas de carbonatação.
depositam-se na superfície. Neste
caso, a carbonatação é visível.

COMO APLICAR UM REBOCO MONOMASSA EM TEMPO FRIO OU HÚMIDO?

 COMO EVITAR

É recomendado não aplicar com Nestas condições, devem ser As manchas aparecem entre o 2.º e
temperaturas inferiores a 8 °C, com utilizadas cores claras, que ajudam o 3.º dia, ou então entre o 7.º e 10.º
humidade elevada ou com risco de a que a carbonatação seja menos dia depois da aplicação. Por isso, é
chuva ou neve. visível. recomendável proteger o
revestimento durante todo este
período.

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 COMO SOLUCIONAR?

Se a carbonatação aparecer, uma Se, após a anterior solução, ainda ... ou então um revestimento
solução consiste em lavar todo o permanecerem alguns defeitos, específico.
revestimento com água acidulada deve-se aplicar uma pintura para
(1 parte de ácido para 10 de água), fachadas...
enxaguando-a posteriormente com
água limpa.

COMO APLICAR UM REBOCO MONOMASSA EM TEMPO QUENTE OU SECO?

Exemplo de aplicação de rebocos monomassa

No verão o calor e o vento impedem que a aplicação dos rebocos se realize facilmente.
Endurecem muito rápido e dispõe-se de menos tempo para trabalhar.

A água da amassadura evapora-se Os suportes estão secos e muito A água utilizada na amassadura do
muito rapidamente, os rebocos têm quentes; por isso, são muito reboco é absorvida muito
tendência para fissurar absorventes. rapidamente pelo suporte,
superficialmente e perdem a sua impedindo que o cimento faça
resistência. corretamente a sua presa.

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Se, além de ter um suporte quente e seco, a temperatura for elevada ou


o vento forte, provoca-se uma rápida evaporação da água, o que agrava
o fenómeno.

 PREPARAÇÃO DO SUPORTE

O suporte deve estar limpo. Devemos molhar até encharcar o ... e esperar que desapareça o brilho
suporte… da água antes de começar a
aplicação.

 APLICAÇÃO

Deve evitar-se a exposição direta Nunca aumentar a água de Humedecer o reboco monomassa
ao sol do revestimento, enquanto amassadura, já que a única coisa com água pulverizada no final do
estiver fresco. que se consegue é que o material dia. Não humedecer em pleno sol
perca dureza. ou com o revestimento
sobreaquecido.

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Alguns cuidados a ter na execução em obra:


 Idênticos aos citados para os rebocos tradicionais;
 Constância na proporção da água de amassadura, de técnica, velocidade e tempo de
amassadura e de pressão da máquina de projetar;
 Interrupção dos trabalhos apenas em arestas ou em linhas de esquartelamento.

6.4. VANTAGENS EM RELAÇÃO AOS REBOCOS TRADICIONAIS

 Maior rapidez de aplicação;


 Maior facilidade de controlo da qualidade;
 Geralmente, melhores caraterísticas de resistência à fendilhação e de capacidade de
impermeabilização;
 Quando pigmentados ou revestidos com pedra projetada, possibilitam a dispensa de
pintura e diminuem os correspondentes custos de manutenção.

6.5. INCONVENIENTES EM RELAÇÃO AOS REBOCOS TRADICIONAIS

 Exigência de melhor planeamento da obra;


 Exigência de melhor execução das alvenarias;
 Exigência de uma equipa com algum treino na técnica de aplicação;
 Custo direto inicial mais elevado.

6.6. USO DE ARMADURAS

A utilidade das armaduras nos rebocos prende-se com o aumento da resistência à tração e da
aderência destes.
As situações típicas de aplicação das armaduras nos rebocos são:
 Ligações entre materiais de suporte diferentes revestidos em continuidade;
 Ângulos dos vãos e outros pontos de concentração de tensões;
 Aplicações sobre suportes antigos e muito deteriorados ou sobre suportes muito lisos.
As armaduras podem ser redes metálicas ou redes de fibra de vidro. Se forem redes
metálicas, deverão possuir proteção anticorrosiva e abertura de malha entre 8 e 25 mm, com
diâmetro dos fios da rede, no mínimo, de 1 mm. Se forem redes de fibra de vidro, deverão ter
proteção antialcalina, abertura de malha de 10 mm e uma massa por unidade de superfície
de, pelo menos, 200 g/m2.

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Existem duas técnicas de aplicação destas armaduras:


 1.ª – Aplicação direta sobre o suporte e fixadas com pregos ou parafusos de aço
galvanizado (só para redes metálicas);
 2.ª – Aplicação sobre uma primeira camada de base (para redes metálicas e redes de
fibra de vidro).

7. BETONILHAS

7.1. DEFINIÇÃO

Entende-se por betonilha um reboco sobre superfícies horizontais ou rampantes; tal como o
reboco nas paredes, podem constituir o acabamento dos pisos ou servir de base para a
aplicação de outros materiais ou produtos de acabamento.
Este termo liga-se, habitualmente, a uma argamassa mais ou menos rica de cimento e areia,
aplicada sobre um suporte resistente (massame de betão ou laje de betão armado), mas, de
facto, nada obriga a que a betonilha tenha de ser de argamassa de cimento e areia. Deverá
sê-lo, quando constitua acabamento de piso, para resistir, como qualquer outra superfície de
piso, ao desgaste e aos choques do uso previsto.
Em muitos casos, como se verá, é preferível a aplicação de betonilhas de argamassa de cal e
areia e a aplicação deste material resolveria, em muitos casos, problemas de isolamento
sonoro, que são depois resolvidos recorrendo a produtos de elevado custo.

7.2. FASES DE APLICAÇÃO

PONTOS E MESTRAS
Tal como nos rebocos, a execução de betonilhas inicia-se sempre com o estabelecimento de
pontos e mestras; nesta fase da obra, já devem existir, em todos os compartimentos, os
necessários pontos de referência.
A partir destes pontos de referência, ou, na falta deles, a partir da cota de soleira, transfere-se
para todos os compartimentos a cota final dos pisos, estabelecendo-se aí um ou mais pontos,
conforme a dimensão do compartimento.
De posse desta cota e conhecendo as dimensões (espessura em especial) e a espessura do
material de assentamento, descontam-se estes valores à cota final e fica a conhecer-se a cota
da betonilha.

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Só depois destas operações aritméticas se pode implantar tantos pontos quantos os


necessários para o estabelecimento das mestras.

Pontos de nível para betonilha

As mestras, para facilitarem o trabalho da régua de sarrafar, não devem ser implantadas junto
das paredes, mas a cerca de 0,20 m destas.
Estabelecidos os pontos e endurecidos o bastante para resistirem à passagem da régua,
formam-se fitas de massa bem apertadas para a base e, com a régua assente nos pontos,
corta-se a que tenha sido colocada a mais.

Mestras para a betonilha

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Convém não esquecer que todos estes trabalhos devem ser precedidos de uma limpeza a
seco, seguida de uma lavagem cuidadosa, antes da aplicação de massas, para possibilitar a
aderência.

ENCASQUE E BETONILHA
Estabelecidas as mestras, no caso de se verificarem grandes depressões deve proceder-se a
um encasque, como foi recomendado para as paredes, pois a espessura da betonilha deve
variar pouco aquém dos 20 mm e além dos 30 mm; depois disto, se as mestras já puderem
suportar a régua, começa-se o enchimento do piso, apertando bem a massa, com argamassa
de consistência média (evitar excesso de água), cortando os excessos de altura com a régua,
como nos rebocos.
Nas betonilhas, caminha-se sempre recuando para a porta, para não ter que pisar betonilha
fresca, conforme se exemplifica na figura abaixo.

Enchimento e regularização da betonilha

Após esta operação concluída, fica executada uma betonilha sarrafada, o que é o bastante, se
o acabamento for feito com revestimento aplicado com pasta de cimento.
Se o revestimento final for feito por colagem em cola texturada, deverá proceder-se ao
acabamento com uma regularização com talocha de madeira. Molha-se a talocha e,
apertando-a com firmeza contra a massa, fazem-se movimentos de rotação curtos e rápidos,
recuando ainda e sempre para a porta (figura seguinte).

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Acabamento com talocha

Se o revestimento final for feito com colas sem espessura significativa e/ou de grande
retração na secagem, a operação de passagem à talocha é completada com um aperto à
colher ou talocha metálica, alternando o pedreiro o uso da talocha de madeira com a
ferramenta de aperto.
Quando se pretende alisada, a operação de aperto referida é acompanhada por uma
aplicação de muito pequena quantidade de cimento em pó, molhando constantemente a
ferramenta de aperto.
Todas estas operações terão forçosamente de ser feitas no mesmo dia em que a massa é
aplicada, pois no dia imediato já não seria possível a regularização à talocha e,
consequentemente, o afagado ou aperto à colher.
Quando se trata de grandes pisos, pode recomendar-se o esquartelamento e, para o efeito,
limitam-se os quadrados ou retângulos da primeira fase de enchimento com réguas fixas ao
chão e enche-se esta primeira fase; nos dias imediatos, retiram-se com cuidado estas réguas,
isolam-se as juntas com o material escolhido e enchem-se os elementos da segunda fase.
Há muitos casos especiais de composição de massas específicas, como pavimentos
coloridos, de inertes abrasivos, de inertes leves, etc., mas a natureza e composição das
massas, nestes casos, é sempre específica, com recomendações apropriadas e,
basicamente, os métodos de aplicação mantêm-se.

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8. REVESTIMENTOS DE LIGANTES MISTOS

8.1. DEFINIÇÃO

Os revestimentos de ligantes mistos são constituídos por um ligante mineral, um ligante


sintético em proporção superior a 2,5%, cargas minerais e, eventualmente, pigmentos e
outros adjuvantes. Em relação aos revestimentos de ligantes minerais, apresentam
geralmente melhores caraterísticas de aderência, deformabilidade, capacidade de
impermeabilização e resistência à tração, para além de serem aplicáveis em camada mais
delgada (a espessura de aplicação pode variar entre 2 e 10 mm, conforme o produto). Assim,
são utilizados para revestir paramentos exteriores ou interiores de paredes em que as
exigências relativas àquelas caraterísticas sejam particularmente severas.
Dois exemplos dessas situações são:
 Aplicações sobre suportes isolantes térmicos, nomeadamente placas de poliestireno
expandido moldado, integrados em sistemas de isolamento térmico pelo exterior;
 Aplicações como revestimento interior de paredes de zonas industriais sujeitas a
lavagens frequentes com água abundante; neste caso, o acabamento final deverá ser
constituído por um verniz ou um esmalte que lhe confira uma superfície perfeitamente
polida e lavável.

8.2. CONSTITUIÇÃO

CAMADAS CONSTITUINTES
Os revestimentos de ligantes mistos podem ou não exigir o tratamento prévio do suporte
através da aplicação de um primário, em geral constituído por uma dispersão aquosa de
resina sintética, à qual se adiciona cimento. O revestimento de ligante misto propriamente dito
é aplicado, geralmente, em duas ou mais camadas. A maior parte destes produtos não
dispensa um acabamento final através de um revestimento de acabamento de ligante
sintético, um verniz acrílico, um esmalte epoxídico ou uma tinta corrente.

REVESTIMENTO DE LIGANTES MISTOS PROPRIAMENTE DITOS


O revestimento de ligantes mistos propriamente dito inclui, geralmente, os seguintes
constituintes:
 Um ligante mineral, que pode ser cimento Portland normal ou cimento Portland branco
em teor ponderal de cerca de 20 a 40%;

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 Um ligante sintético, constituído, geralmente, por copolímeros vinílicos, acrílicos· ou


acrilíco-estirenados em dispersão aquosa, com teor ponderal (em seco) mínimo de
2,5%, mas que ronda, na maioria dos casos, 4 a 8%;
 Cargas minerais de granulometria estudada e não-uniforme, em teor ponderal de cerca
de 50 a 70%;
 Adjuvantes diversos (incluindo, nalguns casos, pigmentos).
Este tipo de revestimentos pode também ser armado com uma rede de fibra de vidro tratada
contra o ataque dos álcalis. Neste caso, o revestimento é aplicado em duas camadas e a rede
fica embebida na primeira.
Nas aplicações sobre isolantes térmicos, existe sempre armadura e, em zonas mais expostas
aos choques, pode mesmo ser necessário colocar, além da armadura normal, uma armadura
reforçada. Para incorporar as duas armaduras, o revestimento tem de ser executado em três
camadas.
Alguns revestimentos deste tipo são armados com rede metálica protegida contra a corrosão,
em alternativa à rede normal de fibra de vidro.

8.3. PAVIMENTAÇÃO AUTONIVELANTE

Um dos usos mais importantes dos revestimentos de ligantes mistos é a regularização e


acabamento de pavimentos.
Esta técnica pode ser usada para suportes novos (lajes de betão armado, lajes aligeiradas,
etc.) e para suportes antigos (cerâmica, vinil, soalho, etc.).
As espessuras de aplicação variam do seguinte modo:
 Locais de tráfego moderado: 1 a 10 mm;
 Locais de tráfego intenso: 3 a 10 mm;
 Sobre madeira: 5 a 10 mm.
Esta solução aceita como revestimentos finais:
 Alcatifa;
 Revestimentos plásticos;
 Parqué;
 Corticite;
 Pintura;
 Cerâmica.

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A composição da argamassa autonivelante é a seguinte:


 Cimento Portland;
 Resina redispersável;
 Areias siliciosas;
 Adjuvantes específicos.
As caraterísticas de utilização deste produto são as seguintes:
 Tempo de abertura como autonivelante: 15 minutos;
 Duração prática de utilização: 20 minutos;
 Tempo de espera antes da circulação: 2 a 3 horas;
 Tempo para revestir:
 Cerâmica e alcatifas: 8 a 12 horas;
 Parqués e revestimentos plásticos: 12 a 24 horas.

Pavimento autonivelante

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Relativamente ao modo de aplicação, atente-se nas figuras seguintes.

Misturar mecanicamente num misturador Deixar repousar 2 minutos. Espalhar a


elétrico lento (500 rpm) com 6 a 6,5 litros massa sobre o pavimento e apertá-la
de água por saco, para obter uma pasta ao máximo, para que encha os poros
fluída e homogénea. do suporte.

Regularizar na espessura desejada


com uma talocha.

Aplicação de pavimento autonivelante

Para finalizar, apontam-se algumas recomendações especiais de uso:


 Temperatura de utilização: 5 °C a 35 °C;
 Os suportes devem estar perfeitamente secos;
 Deve-se respeitar as juntas de dilatação ou de fracionamento das lajes.

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9. REVESTIMENTOS DE LIGANTES SINTÉTICOS

9.1. INTRODUÇÃO

Nos revestimentos de ligantes sintéticos para paramentos exteriores de paredes incluem-se


dois grandes grupos:
 Revestimentos de acabamento – com funções essencialmente decorativas e de
acabamento;
 Revestimentos de impermeabilização e de estanquidade – que assumem, para além
dessas mesmas funções, também funções de proteção do suporte em relação à
humidade, quer ao nível da impermeabilização, quer, em determinadas condições, ao
nível da estanquidade.
Os dois grupos de revestimentos, embora com algumas semelhanças dos pontos de vista de
aspeto e, até certo ponto, de constituição, apresentam problemas específicos inerentes aos
campos de aplicação para que se encontram mais vocacionados e às funções que se
destinam a desempenhar.
Quer os revestimentos de acabamento, quer os revestimentos de impermeabilização e de
estanquidade são considerados produtos não tradicionais da construção, pelo que, de acordo
com o artigo 17.º do RGEU, a sua aplicação em Portugal está condicionada à prévia
homologação pelo LNEC.

9.2. REVESTIMENTOS E ACABAMENTOS

DEFINIÇÃO
Os revestimentos de acabamento de ligantes sintéticos são produtos constituídos,
fundamentalmente, por um ligante de resina sintética, cargas minerais e, eventualmente,
pigmentos e outros adjuvantes.
Destinam-se a melhorar o aspeto dos paramentos exteriores de paredes em que são
aplicados e a conferir-lhes um certo grau de proteção contra as ações dos agentes mecânicos
e atmosféricos. Podem ainda constituir um complemento de impermeabilização à água dos
paramentos.
Em Portugal, estes revestimentos são frequentemente confundidos em obra com tintas
texturadas, das quais se distinguem, no entanto, por conterem cargas de maiores dimensões
e de granulometria variável; resultam, portanto, muito mais espessos, podendo ser aplicados

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em superfícies mais irregulares. Apresentam durabilidade superior às tintas texturadas, mas


inferior, em princípio, à de uma camada de acabamento de ligante mineral.
Os revestimentos de acabamento de um ligante sintético são, geralmente, aplicáveis com
espessuras da ordem de 1 a 3 mm.

CONSTITUIÇÃO
Os produtos a aplicar para a realização de um revestimento de acabamento de ligantes
sintéticos incluem, geralmente, um primário e o revestimento propriamente dito.
O primário, destinado a preparar o suporte para receber em boas condições o revestimento,
tem de ter uma constituição adequada às funções de regulador de absorção. Para este efeito,
é geralmente utilizado um produto de resina sintética em fase aquosa, eventualmente o
próprio revestimento mais diluído. Se, por outro lado, o suporte estiver superficialmente
pulverulento ou gelado, o primário deverá ser do tipo penetrante e fixante, além de contribuir
para regular a absorção. Neste caso, é geralmente utilizado um produto de resina sintética em
fase solvente.
As principais resinas utilizadas em solução são as resinas acrílicas puras ou modificadas.

9.3. REVESTIMENTOS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E DE ESTANQUIDADE

DEFINIÇÃO
Os revestimentos de impermeabilização e de estanquidade com base em ligantes sintéticos
para paramentos exteriores de paredes são concebidos de forma a apresentarem boas
caraterísticas de elasticidade e de resistência à penetração da água e são executados a partir
de produtos constituídos, essencialmente, por polímeros em dispersão aquosa.
São revestimentos delgados – aplicáveis com espessuras da ordem de 0,7 mm a 1 mm – e
garantem acabamento final aos paramentos.
As caraterísticas que determinam a classificação do revestimento como de impermeabilização
ou de estanquidade são, fundamentalmente, a largura das fendas que está apto a dissimular e
a amplitude dos movimentos que pode absorver.
Estas caraterísticas dependem, quer das propriedades intrínsecas dos produtos de base, quer
das condições de aplicação: número de demãos, respetivos consumos e incorporação ou não
de armaduras.

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CONSTITUIÇÃO
Os revestimentos de impermeabilização incluem, no caso geral, três camadas, cada uma das
quais executada em uma ou mais demãos: uma camada de primário, uma camada de base,
designada, neste caso, camada de impermeabilização, e, finalmente, uma camada de
acabamento.
Estes sistemas podem ser simplificados, reduzindo-se, no limite, a uma camada de
impermeabilização, executada em duas demãos, que assegura, simultaneamente, a
adaptação ao suporte e o acabamento final.
Os revestimentos de estanquidade têm uma constituição semelhante, com a diferença de que
a camada de base, designada, neste caso, camada de estanquidade, é armada, quer por
incorporação de uma rede, caso em que é executada, em regra, em pelo menos três demãos,
quer por fibras disseminadas na sua massa.
Relativamente ao primário, os produtos a utilizar nesta camada são constituídos,
basicamente, por uma resina sintética, em fase aquosa ou em solvente orgânico. Neste último
caso, é particularmente importante verificar a compatibilidade química com os produtos
constituintes da camada seguinte.
Os produtos utilizados na execução da camada de base são constituídos, essencialmente, por
um ligante sintético, cargas minerais, pigmentos e outros adjuvantes (por exemplo, agentes
bacterofungicidas, agentes espessantes e agentes de dispersão).
A camada de acabamento tem uma função estética e de proteção da camada de base. As
resinas utilizadas nas camadas de base são, geralmente, suscetíveis de degradação por
exposição aos raios ultravioletas do sol, devido à formação de ligações químicas que
destroem os polímeros e originam um endurecimento do produto. Por outro lado, devido à sua
natureza, tornam-se bastante sensíveis ao atrito e conferem ao revestimento uma
“pegajosidade” que favorece a fixação das poeiras da atmosfera. A camada de acabamento,
por exemplo, tinta de água, texturada ou não, menos “colante”, poderá melhorar a resistência
à sujidade e às ações de atrito e proteger a camada subjacente da ação direta dos agentes
climáticos.

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