Você está na página 1de 18

1

Pró- Reitoria Acadêmica


EscolaPró-Reitoria
de Humanidades, Negócios e
Acadêmica
DireitoNegócios e Direito
Escola de Humanidades,
Curso de Direito
Trabalho de Pesquisa
Projeto Jurídica
de Pesquisa
Importância da pesquisa juridica ORIENTAÇÕES PARA A
CONFECÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA - DISCIPLINA PESQUISA
JURÍDICA

Prof. Maurin Almeida Falcão

« A cientificidade é obtida por meio da utilização de um método de pesquisa,


EFICÁCIA DAS PENAS NA RESPONSABILIDADE PENAL
a preocupação com a objetividade e neutralidade científica e,
DAS PESSOAS JURÍDICAS
principalmente, EM CRIMES
pela obediência AMBIENTAIS
a algumas determinações tanto na
investigação quanto na apresentação textual de um trabalho considerado
científico. "Fazer ciência" significa, portanto, percorrer um processo, ou seja,
seguir determinadas etapas de investigação e sistematizar de forma lógica e
coerente as novas descobertas, transformando percepções do real em
fundamentos teóricos.»

Autor: Débora Linhares de Oliveira (UC17100377)


E-mail : debora.loliveira@a.ucb.br
Orientador: Prof. Dr. Nefi Cordeiro
Coorientador : Prof. Marcelo Santos Correa

Brasília – DF
2021
2

DÉBORA LINHARES DE OLIVEIRA

EFICÁCIA DAS PENAS NA RESPOSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS


JURÍDICAS EM CRIMES AMBIENTAIS

Artigo apresentado ao curso de


Graduação em Direito da Universidade
Católica de Brasília, como requisito
parcial para obtenção do Título de
Bacharel ou Licenciado em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Nefi Cordeiro

Coorientador: Prof. Bacharel Marcelo


Santos Correa

Brasília
2021
3

Artigo de autoria de Débora Linhares de Oliveira, intitulada “ EFICÁCIA DAS PENAS


NA RESPOSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS JURÍDICAS EM CRIMES
AMBIENTAIS ”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharelado em Direito da Universidade Católica de Brasília, em (data da aprovação),
defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

__________________________________________
Prof. Dr. Nefi Cordeiro
Orientador
Direito – UCB

___________________________________________
Prof. (titulação). (nome do membro da banca)
(Curso/Programa) – (sigla da instituição)

___________________________________________
Prof. (titulação). (nome do membro da banca)
(Curso/Programa) – (sigla da instituição)

Brasília
2021
4

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 5
2. CONCEITO DAS PESSOAS JURÍDICAS, DA RESPONSABILIDADE PENAL E
DO MEIO AMBIENTE ................................................................................................ 6
3. CONTEXTO JURISPRUDENCIAL, DOUTRINÁRIO E A LEI 9.605/98 ............... 8
3.1 DA JURISPRUDÊNCIA E A DUPLA IMPUTAÇÃO .............................................. 8
3.2 ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E A LEI 9.605/98 ......................................... 10
4. ANÁLISE E COMPARAÇÃO DE CASO CONCRETO ...................................... 11
4.1 DO DESASTRE EM BRUMADINHO - MG ......................................................... 11
4.1.2 DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E A RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS
12
4.1.3 DOS CRIMES AMBIENTAIS ........................................................................... 13
4.2 DO DESASTRE NO GOLFO DO MÉXICO - EUA .............................................. 14
4.3 COMPARAÇÃO BRUMADINHO - MG E GOLFO DO MÉXICO - EUA............... 14
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 15
6. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 17
5

EFICÁCIA DAS PENAS NA RESPOSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS


JURÍDICAS EM CRIMES AMBIENTAIS

DÉBORA LINHARES DE OLIVEIRA

Resumo: O presente trabalho visa ampliar a discussão a respeito da eficácia na


aplicação das penas de crimes ambientais às pessoas jurídicas e se são suficientes
para reparar os danos causados. Nesse viés, pontuar-se-á até onde a lei,
jurisprudência e a doutrina alcançam o ente jurídico, haja vista que apesar do avanço
destas, ainda existem lacunas. Os crimes ambientais têm sido assunto de grandes
debates que mereceram a atenção mundial no intuito de proteger o bem tutelado.
Desta feita, é imprescindível a adesão de medidas mais rigorosas para afastar cada
vez mais os abusos exercidos pelas pessoas jurídicas e caminhar no sentido de
diminuir a degradação ao meio ambiente. Por fim, comparar os desastres ambientais
de Brumadinho-MG e do vazamento de petróleo no Golfo do México – EUA para
ressaltar tais pontos.

Palavras-chave: Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas. Crimes ambientais.


Lei 9.605/98. Jurisprudência. Brumadinho-MG. Golfo do México-EUA.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo visa ampliar a discussão a respeito da eficácia na aplicação


da responsabilidade penal sobre as pessoas jurídicas quando estas incidem em
crimes ambientais. O foco central é descobrir se as penalidades impostas a estes são
suficientes para reparar danos causados por suas ações.
A jurisprudência na atualidade tem se inclinado cada vez mais à
responsabilidade penal das pessoas jurídicas em crimes ambientais, em vista da Lei
9.605/98, mas ainda há divergências tanto nessa esfera quanto na doutrinária. Mesmo
com o avanço da Lei e da Jurisprudência, ainda existem lacunas onde se faz
necessário penalidades mais severas há estes entes jurídicos.
Neste sentido, é necessário pontuar até onde a lei, jurisprudência e a doutrina
alcançam esse ente jurídico. Isto posto, destaca-se que hodiernamente os crimes
ambientais têm sido assunto de grandes debates que mereceram a atenção mundial
no intuito de proteger o bem tutelado e evitar o abuso exercido pelas empresas
causadoras de tragédias ambientais. Desta feita, é necessário a adesão de medidas
para afastar cada vez mais a conduta destes entes e minimizar ao máximo os danos
ao meio ambiente.
Por se tratar de um bem coletivo que deve ser protegido, é importante
resguardá-lo para melhor qualidade de vida das futuras gerações, pois já bastam os
impactos naturais na sociedade hodierna ocasionados por ações humanas, como a
poluição. É preciso caminhar no sentido de diminuir a degradação ambiental e por
isso medidas sancionadoras contra as pessoas jurídicas passam a ser cada vez mais
imprescindíveis.
6

Para melhor aproximar do objetivo deste artigo, será definido brevemente o


conceito da pessoa jurídica, da sua responsabilidade penal e do meio ambiente.
Também buscar-se-á identificar quais os reflexos atuais no contexto jurisprudencial e
doutrinário sobre o entendimento dos tribunais superiores.
Por fim, vale comparar o tratamento jurídico dado aos entes jurídicos no
desastre ambiental ocorrido em Brumadinho-MG e no Golfo do México – EUA com o
vazamento de petróleo. O estudo irá se apoiar em uma análise da legislação, da
doutrina, de decisões dos tribunais superiores e em casos concretos.

2. CONCEITO DAS PESSOAS JURÍDICAS, DA RESPONSABILIDADE


PENAL E DO MEIO AMBIENTE

A pessoa jurídica configura-se a partir de um fato social, conferindo a sua


atuação autônoma e com personalidade própria para realização de determinado fim.
Este ente jurídico divide-se em pessoas jurídicas de direito privado e de direito público.
(STOLZE, 2020). Para melhor exemplificar, vejamos o que diz o doutrinador Venosa
(2015, p. 243) “As pessoas Jurídicas surgem,...,ora como conjunto de pessoas, ora
como destinação patrimonial, com aptidão para adquirir direitos e contrair
obrigações.”
No que tange a responsabilidade penal, poderá ser conceituada como a
obrigação de um agente que comete um ato ilícito, típico e culpável contra uma norma
de direito público, ou seja, o interesse lesado é o da sociedade e o autor do fato
responderá na justiça criminal. (GONÇALVES, 2017).
Entendido o breve conceito de pessoa jurídica e da responsabilidade penal,
deve-se compreender a relação deles com a prática de crimes ambientais. Todavia,
se faz necessário conceituar o meio ambiente. A Constituição Federal de 1988, traz o
conceito de meio ambiente em seu Art. 225 caput e a previsão legal referente às
sanções no §3°, vejamos:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo
para as presentes e futuras gerações.

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados. (BRASIL, 1988)

Indubitavelmente vale destacar que o Direito ao Meio Ambiente Equilibrado


passa a ser uma garantia de cada indivíduo da sociedade, ou seja, todos são
igualmente responsáveis em mantê-lo conservado. Isso pois, a sua conservação é
essencial para a sobrevivência e desenvolvimento de tudo que existe no mundo,
atingindo tanto esta geração como as futuras, para que todas possam aproveitar uma
sadia qualidade de vida.
Além de ser um dever de todos a defesa do meio ambiente, o citado art. 225
da CF/88 também obriga o Poder Público a essa obrigação, conferindo máxima
proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. (BRASIL, 1988). No mesmo
sentido para complementar o artigo anterior, vejamos o Art. 173, §5° da CF/88, que
discorre mais amplamente sobre a responsabilidade em tela:
7

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração


direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei.

§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da


pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às
punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem
econômica e financeira e contra a economia popular. (BRASIL, 1988)

A Lei 6.938/98 em seu art. 2°, fundamentada na Constituição Federal, traz o


conceito do meio ambiente como um patrimônio público protegido:
Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,
atendidos os seguintes princípios [..] (BRASIL, 1981)

Desta forma, se extrai que o meio ambiente se trata de uma condição que visa
garantir direitos coletivos e difusos. Tendo em vista o notório crescimento de crimes
ambientais cometidos por entes jurídicos, a Lei 9.605/98 em seu art. 3° caput e
parágrafo único trouxe inovação que impõe sanções penais e administrativas para
estas pessoas jurídicas quando lesarem o meio ambiente.
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a


das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
(BRASIL, 1998) (grifos nossos).

Assim sendo, foi estendida a responsabilidade penal às Pessoas Jurídicas, pois


a inovação muda o cenário anterior onde os entes jurídicos não poderiam figurar no
polo passivo de mão ação penal se não vinculados a uma pessoa física.
Grande parte desta inovação se motivou na preocupação mundial com o meio
ambiente, ganhando destaque e tornando-se objeto de vários debates desde o século
passado, notadamente na década de 1970.
Como exemplo, a Conferência de Estocolmo, em 1972, convocada pela
Organiação das Nações Unidas, figurou como o primeiro evento com enfoque
eminentemente ambiental e estabeleceu um marco no alerta da sociedade global aos
problemas enfrentados pelo meio ambiente e gerados pela atividade humana. Como
resultado da Conferência, foi firmada a Convenção da Declaração sobre o Meio
Ambiente Humano.
No que diz respeito às alterações climáticas que a anos o planeta vem sofrendo,
a maioria são consequências de ações do homem, por isso é importante destacar o
papel do Estado como ente democrático do direito na proteção do meio ambiente e
da mesma forma refletir sobre o alcance dessa responsabilidade criminal às pessoas
jurídicas.
Ao conceituar o meio ambiente foi possível compreender que se trata de um
bem valioso e de direito de todos, todavia, o que se busca analisar de fato é a eficácia
das penas quando há agressões a esse bem jurídico.
8

3. CONTEXTO JURISPRUDENCIAL, DOUTRINÁRIO E A LEI 9.605/98

3.1 DA JURISPRUDÊNCIA E A DUPLA IMPUTAÇÃO

O art. 3° parágrafo único da Lei 9.605/98, deixou expresso que a


responsabilidade da pessoa jurídica não se confunde com a da pessoa física, o que
rompe a tradição secular da doutrina penalista nacional quanto ao concurso
necessário entre a pessoa física e jurídica.
A teoria da imputação gerou demasiada divergência jurisprudencial e o STF
trouxe atual entendimento que prevalece defendendo a desnecessidade da dupla
imputação:
[...] 1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à
simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito
da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla
imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade se
caracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições e
responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para
imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do
art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a
pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional,
expressa a intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o
alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos
crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização
dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a
tutela do bem jurídico ambiental. 4. A identificação dos setores e agentes
internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito tem relevância
e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se esses
indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas
atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu
no interesse ou em benefício da entidade coletiva. Tal esclarecimento,
relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se
confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à
responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em
não raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão
diluídas ou parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de
responsabilidade penal individual.

(RE 548181, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em


06/08/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014
PUBLIC 30-10-2014 RTJ VOL-00230-01 PP-00464) (BRASIL, 2014, grifo
nosso).

Colaborando com o dito julgado, Vladimir Passos de Freitas e Gilberto Passos


de Freitas., trazem o seguinte:
[...] a denúncia poderá ser dirigida apenas contra a pessoa jurídica, caso não
se descubra a autoria das pessoas naturais, e poderá, também, ser
direcionada contra todos. Foi exatamente para isto que elas, as pessoas
jurídicas, passaram a ser responsabilizadas. Na maioria absoluta dos casos,
não se descobria a autoria do delito. Com isto, a punição findava por ser na
pessoa de um empregado, de regra o último elo da hierarquia da corporação.
E quanto mais poderosa a pessoa jurídica, mais difícil se tornava identificar
os causadores reais do dano. No caso de multinacionais, a dificuldade torna-
se maior, e o agente, por vezes, nem reside no Brasil. Pois bem, agora o
Ministério Púbico poderá imputar o crime às pessoas naturais e à pessoa
9

jurídica, juntos ou separadamente. A opção dependerá do caso concreto [...]


(FREITAS, 2012 p.72)

Ressalta-se que nem sempre foi assim, pois antigamente os primeiros julgados
versavam sobre a indispensável presença de uma pessoa física na denúncia para que
fosse possível materializar a conduta. O Superior Tribunal de Justiça defende que a
culpabilidade está ligada a uma responsabilidade social, ou seja, em se tratando da
pessoa jurídica deve estar de acordo com a vontade do administrador, pois este age
representando o ente e reflete também os seus interesses, ou seja, ambas devem
ser denunciadas. Vejamos:
[...] III. A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitos
ambientais advém de uma escolha política, como forma não apenas de
punição das condutas lesivas ao meio-ambiente, mas como forma mesmo de
prevenção geral e especial.
IV. A imputação penal às pessoas jurídicas encontra barreiras na suposta
incapacidade de praticarem uma ação de relevância penal, de serem
culpáveis e de sofrerem penalidades.
V. Se a pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurídico e
pratica atos no meio social através da atuação de seus administradores,
poderá vir a praticar condutas típicas e, portanto, ser passível de
responsabilização penal.
VI. A culpabilidade, no conceito moderno, é a responsabilidade social, e
culpabilidade da pessoa jurídica, neste contexto, limita-se à vontade do
seu administrador ao agir em seu nome e proveito.
VII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver
intervenção de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do
ente moral.
VIII. "De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou
indiretamente pela conduta praticada por decisão do seu representante legal
ou contratual ou de seu órgão colegiado."
IX. A atuação do colegiado em nome e proveito da pessoa jurídica é a
própria vontade da empresa. A co-participação prevê que todos os
envolvidos no evento delituoso serão responsabilizados na medida se
sua culpabilidade.
X. A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas penas autônomas de
multas, de prestação de serviços à comunidade, restritivas de direitos,
liquidação forçada e desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à
sua natureza jurídica.
XI. Não há ofensa ao princípio constitucional de que "nenhuma pena passará
da pessoa do condenado...", pois é incontroversa a existência de duas
pessoas distintas: uma física - que de qualquer forma contribui para a prática
do delito - e uma jurídica, cada qual recebendo a punição de forma
individualizada, decorrente de sua atividade lesiva.
XII. A denúncia oferecida contra a pessoa jurídica de direito privado deve ser
acolhida, diante de sua legitimidade para figurar no pólo passivo da relação
processual-penal.(...)

(REsp 564960, Relator(a): GILSON DIPP, Quinta Turma, julgado em


02/06/2005, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-331 DIVULG 13-06-2005
PUBLIC 30-10-2014 RDR VOL- 34 p. 419) (BRASIL, 2014, grifo nosso).

Dito isto, a atual jurisprudência do STF, fixada no Recurso Extraordinário n°


548181, é um avanço quanto à intenção de estancar a impunidade dos crimes
ambientais pelos entes jurídicos, indo contra o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça. A organização desses entes é complexa e a tarefa de identificar as pessoas
responsáveis pelos atos criminosos torna-se cada vez mais difícil, razão pela qual não
10

é viável aguardar a identificação da conduta individual dos particulares que


administram a pessoa jurídica.
Guilherme Nucci (2014, p. 143), concorda com o entendimento do STF,
alegando que a Lei 9.605/98 não menciona a questão do concurso necessário da
pessoa jurídica com a física. Deste modo, com o intuito de evitar a impunidade, a
pessoa jurídica passou a poder responder de maneira autônoma no polo passivo de
ações penais que buscam a responsabilização por crimes ambientais, ampliando o
alcance das sanções penais, como era a intenção do constituinte originário.

3.2 ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E A LEI 9.605/98

Quanto ao entendimento doutrinário, a maioria dos autores já aceita a


responsabilização dos entes jurídicos no polo passivo de ações criminais sem a
presença de uma pessoa física. Romeu Thomé (2015) discorre que existem três linhas
doutrinárias, sendo a primeira que defende o princípio da intranscendência, onde não
existe previsão constitucional para a responsabilidade penal da pessoa jurídica,
apenas sanções administrativas e que as condutas das pessoas físicas é que sofrem
essas sanções penais.
A segunda corrente adota o princípio da societates dellinquere non potest, no
sentido em que a pessoa jurídica existe somente de forma fictícia, isso significa que
não podem cometer crimes, pois não possuem vontade ou ação. E por último, a
maioria da doutrina sustenta a adoção da teoria da realidade, aquela onde a pessoa
jurídica tem sim capacidade própria que não se confunde com a da pessoa física.
(THOMÉ, 2015)
Com a edição da Lei 9.605/98, que regulamenta a responsabilidade penal pela
prática de crimes ambientais, é possível observar o alcance da responsabilidade penal
das pessoas jurídicas em crimes ambientais. Esta lei juntamente com a jurisprudência,
traz a possibilidade de responsabilização dos entes e seus dirigentes quanto a
execução de ações que causem danos ao bem tutelado citado.
É importante salientar que para ser possível a aplicação da responsabilidade
penal é necessária a comprovação de culpa, diferentemente da responsabilidade civil
ou administrativa, que é objetiva e independe do elemento subjetivo. De acordo com
a Lei 9.605/98, as penas aplicáveis para os crimes ambientais serão a privativa de
liberdade, restritiva de direito e a multa (BRASIL, 1998)
Entretanto, vale destacar que a responsabilização penal, no que diz respeito à
imposição de pena privativa ou restritivas de liberdade, por razões óbvias e fáticas,
não pode ser imposta às pessoas jurídicas, mas apenas a reparações pecuniárias -
multas - ou a perda de direitos.
Assim sendo, os danos causados por estes entes são reparados de
determinadas maneiras, como as previstas no Art. 21 da lei 9.605/98, sendo elas as
seguintes: penas restritivas de direitos; prestação de serviços à comunidade e
principalmente o pagamento de multas, isso porque interferir no seu lado econômico
acaba gerando impacto relevante. Todavia, apenas isso não tem sido suficiente em
casos práticos para amenizar os danos, o que entoa a noção de impunidade a esses.
(BRASIL, 1998)
Não obstante, no art. 22 do diploma legal citado, no que diz respeito às penas
restritivas de direito, configuram-se com a suspensão total ou parcial de atividades; a
interdição por tempo determinado do estabelecimento, obra ou atividade; proibição de
contratar com o Poder Público, ou mesmo dele obter subsídios, subvenções ou
doações. (BRASIL, 1998)
Logo a frente, disciplina o art. 23 sobre a pena de prestação de serviços:
11

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá


em:
I - custeio de programas e de projetos ambientais;
II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
III - manutenção de espaços públicos;
IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. (BRASIL,
1988)

Na hipótese de a personalidade destes entes serem um obstáculo, poderá


haver a desconsideração da pessoa jurídica como um meio para que realizem as
devidas reparações que são indispensáveis ao meio ambiente prejudicado, vide art.
4° da Lei 9.605/98. (BRASIL, 1998)
A interferência da esfera criminal quanto a ocorrência desses crimes, possui o
objetivo de prevenir e reprimir ações realizadas contra o bem jurídico em tela, pois
esta ainda é uma necessidade vital quando outras disciplinas como a administrativa e
civil não são suficientes para alcançar os efeitos desejados. (SIRVINKAS, 2008)

4. ANÁLISE E COMPARAÇÃO DE CASO CONCRETO

4.1 DO DESASTRE EM BRUMADINHO - MG

Diante do contexto apresentado, é de importância frisar o objetivo deste


trabalho em analisar a eficácia da responsabilização penal dos entes jurídicos na
aplicação de penas quanto crimes cometidos contra o meio ambiente.
Deste modo, será apresentado a seguir o desastre ambiental ocorrido em
Brumadinho-MG, para melhor se compreender, na prática, a aplicabilidade das
referidas penas. É sabido que esta tragédia causou grande impacto e reflexos não
somente aos residentes do local ocorrido, mas à sociedade brasileira como um todo,
trazendo debates e discussões acerca da responsabilização da empresa responsável
pela barragem.
O desastre ambiental de Brumadinho-MG ocorreu em razão do rompimento de
uma barragem da Companhia Vale do Rio Doce, localizada na região metropolitana
de Belo Horizonte - MG, no dia 25 de janeiro do ano de 2019. O rompimento gerou
uma onda de lama carregada com muitos rejeitos de minério de ferro, atingindo a
região e, consequentemente, provocando uma vasta destruição e dezenas de mortes.
Nota do IEF (Instituto Estadual de Floresta) apontou que a região atingida pelos
rejeitos tem a extensão de 290,14 hectares sendo 147,38 hc consubstanciado por
vegetação nativa. Matou também aproximadamente 4 mil animais, prejudicando
produtores rurais que perderam suas plantações e até hoje a maioria não pode
retornar aos serviços. (IEF, 2019)
Além disso, a condição da água foi assustadoramente impactada de forma
negativa, haja vista ter atingido o rio Paraopeba, que está ligado ao rio São Francisco.
Dito isso, é possível vislumbrar que a lama também diminui o nível de oxigênio
disposto na água, levando a destruição da fauna e flora aquáticas, inclusive
adulteração no solo.
Os representantes, dirigentes e responsáveis pela administração da empresa
Companhia Vale do Rio Doce, poderão responder criminalmente pelo rompimento da
Barragem, incorrendo em homicídio, lesões corporais e o de inundação ou
desabamento, entre outros crimes tipificados na Lei 9.605/98. (REIS; PASSAMANI,
2019, p. 307 )
12

A princípio, de acordo com notícias de Falcão (2020), foi homologado um


acordo que fixa o pagamento pela Vale no valor de R$ 250,00 milhões em multas
ambientais, dos quais R$ 150,00 milhões serão investidos em sete parques nacionais
de Minas e os demais revestidos em projetos de saneamento básico no Estado. Vale
destacar que o mencionado acordo não irá reduzir a responsabilidade da Vale quanto
a reparação do dano ambiental causado.

4.1.2 DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E A RESPONSABILIDADE DAS


EMPRESAS

Por outro lado, em 21 de janeiro de 2020 o Ministério Público de Minas Gerais


(MPMG) e a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), apresentaram denúncia à 2° Vara
Criminal de Brumadinho, após a finalização das investigações referente ao
rompimento da barragem. Consta na denúncia 16 pessoas indiciadas por inúmeros
crimes ambientais bem como por homicídio qualificado. (MPMG, 2020)
Entre os denunciados por este crimes estão a empresa Vale S.A, ora
responsável pela barragem e a Tuv Sud Bureau de Projetos e Consultoria Ltda, esta
que era incubida de emitir DCEs no seu papel de auditora externa, além de participar
como consultora interna da empresa Vale, prestando assessoria técnica para a
tomada de decisões e inclusive interferindo diretamente no corpo técnico da mesma.
Compulsando a denúncia, destaca-se que houve uma relação de conluio e
recompensas entre ambas as empresas, bem como uma pressão por parte da Vale
em diversos contratos, vejamos:

Em um contexto de divisão de tarefas, os denunciados concorreram


(mediante tarefas comissivas e/ou omissivas que serão individualizadas na
denúncia) de forma determinante para a omissão penalmente relevante
quanto aos deveres de providenciar medidas de transparência, segurança e
emergência, que, caso tivessem sido adotadas, impediriam que os resultados
mortes e danos ambientais ocorressem da forma e na proporção em que
ocorreram. (MINAS GERAIS, 2020, p. 10)

Desta forma, conforme MPMG e a PCMG as investigações caminharam no


sentido de concluir que existiu “...uma promíscua relação entre as duas corporações
denunciadas, no sentido de esconder do Poder Público, sociedade, acionistas e
investidores a inaceitável situação de segurança de várias das barragens de
mineração mantidas pela Vale” (MPMG, 2020)
A denúncia apurou que a Vale juntamente com a Tuv Sud, possuíam o objetivo
de conservar a aparência falsa de segurança nas barragens de mineração, isso pois
pretendiam a qualquer custo guardar a reputação da empresa e no mesmo sentido
alcançar a liderança mundial em valor de mercado. Vejamos um trecho da denúncia:
Apesar da persistente omissão em implementar medidas de segurança da
Barragem I, em junho de 2018 e em setembro de 2018 foram emitidas pela
TÜV SÜD, em conluio com a VALE, Declarações de Condição de Estabilidade
de estrutura que reconhecidamente não estava estável. Desconsiderando as
diversas alternativas sugeridas pela própria TÜV SÜD e pela POTAMOS (já
descritas), a equipe técnica da TÜV SÜD emitiu falsamente as DCEs, que
serviram como escudo para a omissão na adoção de medidas de
transparência, segurança e emergência que eram conhecidas e disponíveis,
colaborando para viabilizar o plano da VALE de alcançar liderança em valor
de mercado no curto prazo. (MINAS GERAIS, 2020, p. 347 )
13

Além disso, os promotores e investigadores autores da denúncia,


acrescentaram que a partir do momento em que as empresas detiveram a informação
do risco de um possível rompimento da barragem, a primeira medida que deveriam
ter tomado para a segurança de todos era acionar o Plano de Ações Emergenciais
para Barragens e Minerações (PAEBM). Entretanto, como já visto, os mesmos deram
preferência à imagem da empresa, pois se esta fosse prejudicada o valor das ações
da vale despencaria e por isso decidiram correr os riscos. (MPMG, 2020)
Desta feita, na hipótese em que as empresas tivessem adotado as devidas
iniciativas, muitas vidas poderiam ter sido salvas e inclusive amenizaria o impacto
negativo na reputação da Vale.

4.1.3 DOS CRIMES AMBIENTAIS

Refuta salientar que o objetivo do presente trabalho é a análise da eficácia das


penas contra pessoas jurídicas em crimes ambientais, assim sendo, a seguir iremos
apontar quais foram estes cometidos quando do rompimento da barragem de
Brumadinho-MG.
Conforme apurado nas investigações e denúncia em apreço, em virtude da
grande onda de rejeitos derivada do rompimento da barragem, é possível afirmar que
os denunciados foram responsáveis pela morte de várias espécimes da fauna silvestre
e aquática daquela região. (MPMG, 2020)
Além disso, o perecimento de parte da floresta classificada como área de
preservação da vegetação da Mata Atlântica. Ademais, de acordo com a apuração na
denúncia:
Segundo consta dos elementos probatórios colhidos, a onda de rejeito de
minério decorrente do rompimento da Barragem I causou dano direto ou
indireto às Unidades de Conservação e às áreas circundantes de Unidades
de Conservação (art. 40, caput, Lei n.º 9605/98). [...] poluição de diversas
naturezas em níveis tais que resultaram e puderam resultar em danos à
saúde humana e provocaram a mortandade de animais e a destruição
significativa da flora. (art. 54, caput, da Lei n.º 9.605/98). [...] O crime causou
poluição hídrica que tornou necessária a interrupção do abastecimento
público de água de comunidades (art. 54, §2º, III, Lei n.º 9.605/98). (MINAS
GERAIS, 2020, p. 442, 443 e 448)

Ou seja, os 16 acusados na denúncia, dentre os quais existem dois entes


jurídicos, serão incursos nas penas dos crimes tipificados a seguir:
Tendo em vista que os crimes ambientais foram cometidos no interesse e em
benefício das pessoas jurídicas, por decisão de seus funcionários e
representantes legais e contratuais, o Ministério Público também denuncia as
pessoas jurídicas VALE S.A. e TÜV SÜD Bureau de Projetos e Consultoria
Ltda. pela prática dos crimes previstos no artigo 29, caput e § 1º, inciso II, e
§ 4º, incisos V e VI; no artigo 33, caput, da Lei n.º 9.605/1998 (crimes contra
a fauna); no artigo 38, caput; no artigo 38-A, caput; no artigo 40, caput, e no
artigo 48, estes combinados com o artigo 53, inciso I, da Lei n.º 9.605/1998
(crimes contra a flora); no artigo 54, § 2º, inciso III, da Lei n.º 9.605/1998
(crime de poluição), com base no artigo 225, § 3º, da Constituição da
República e nos termos dos artigos 2º, 3º, 21, 22, 23 e 24 da Lei n.º
9.605/1998. (MINAS GERAIS, 2020, p. 474 )

Dito isto, após denúncia do MPMG, de acordo com a última atualização sobre
o caso postada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais no dia 28 de junho
de 2020, o processo ainda está em fase de apuração e “[...] produção de provas
14

técnicas, com o trabalho realizado por peritos e pesquisadores da Universidade


Federal de Minas Gerais (UFMG), que estão avaliando os danos causados em
Brumadinho e região.” (MINAS GERAIS, 2020)

4.2 DO DESASTRE NO GOLFO DO MÉXICO - EUA

A catástrofe ambiental no Golfo do México consistiu do vazamento de petróleo


no momento em que a plataforma Deepwater Horizon explodiu, esta que era operada
pela BP. Após a explosão, durante vários meses cerca de cinco milhões de barris de
petróleo continuaram caindo no oceano, qualificando este vazamento como o maior
da história. (CORRÊA, 2019)
A explosão deixou 11 funcionários mortos e as consequências do encontro do
petróleo com o mar foram incomensuráveis, pois esta atingiu cinco Estados,
prejudicando não apenas a vida marinha, mas as praias dos litorais atingidas e logo
graves danos a indústria de pesca e também turismo. (CORRÊA, 2019)
A BP, empresa responsável, respondeu em vários processos, teve que pagar
bilhões ao governo federal e aos Estados afetados, bem como às vítimas, famílias e
pessoas que tiveram seus negócios prejudicados, custearam limpeza, reparação aos
danos ambientais causados, além de pagarem multas e diversas outras indenizações.
(CORRÊA, 2019)

4.3 COMPARAÇÃO BRUMADINHO - MG E GOLFO DO MÉXICO - EUA

Para melhor entender o alcance da responsabilidade penal quanto às pessoas


jurídicas, vale comparar as penalidades aplicadas a estes nas tragédias de
Brumadinho - MG e o vazamento de petróleo no Golfo do México - EUA.
Logo após breve passagem pela tragédia do Golfo do México, pode-se destacar
que nos EUA as empresas responsáveis podem ser indiciadas e condenadas por
quaisquer crimes de autoria dos seus representantes quando estiverem exercendo
suas funções.
O Advogado Luiz Carlos Vasconcellos, em entrevista à BBC News Brasil disse:
"Nos Estados Unidos, quando uma pessoa comete um delito em razão do seu ofício,
mesmo que seja culposo - que no sentido penal é por negligência, imperícia ou
imprudência -, sua empresa responde criminalmente". (CORRÊA, 2019)
O cerne da comparação esta que no ordenamento jurídico pátrio, os entes
jurídicos só podem compor o polo passivo em crimes ambientais, entretanto ainda é
necessário averiguar se a falha foi cometida por decisão de algum representante ou
corpo destes com objetivos particulares que favorecem a empresa.
Dito isto, foi o que pudemos observar na denúncia apresentada pelo MPMG
quanto ao caso de Brumadinho, haja vista que as pessoas jurídicas envolvidas tinham
o interesse de resguardar a reputação para atingirem a liderança no mercado em curto
prazo, como já visto.
Não obstante, o mencionado objetivo levou as mesmas a apresentarem falsos
laudos referentes ao risco de desabamento da barragem quando poderiam ter tomado
medidas de segurança. Estes foram os argumentos destacados pelo órgão julgador
ao denunciar as duas empresas responsáveis pelos crimes ambientais em
consequência da tragédia de Brumadinho-MG.
Por fim, de acordo com Vasconcellos outro ponto em comparação entre as duas
tragédias é que as questões nos Estados Unidos acabam por ser mais céleres em
vista dos acordos firmados antes mesmo que processos judiciais se iniciem, pois seus
custos são altos. (CORRÊA, 2019)
15

Todavia, o advogado conclui e acredita que o Brasil está em igual patamar no


que condiz às matérias de proteção ambiental, além disso julga a legislação do Brasil
ainda mais abrangente e completa do que a dos Estados Unidos, o que diferencia é a
efetividade prática na aplicação. (CORRÊA, 2019)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante o exposto, após o desenvolvimento da pesquisa bibliográfica, sobre o


bem jurídico tutelado no referido tema, fica evidente a importância da discussão sobre
a eficácia na aplicação da responsabilidade penal à pessoa jurídica quanto à prática
de crimes ambientais.
Durante o estudo verificou-se que a legislação pátria tem cada vez mais se
inclinado a racionar a impunidade das pessoas jurídicas quando incidem em crimes
ambientais. Observamos um avanço na jurisprudência quando o Supremo Tribunal
Federal aponta a desnecessidade da dupla imputação entre a pessoa física e jurídica.
No mesmo sentido, o art. 3° caput e parágrafo único da Lei 9.605/98 tipifica sanções
penais que podem ser aplicadas aos mesmos.
Todavia, nos casos concretos apresentados vislumbra-se que as empresas em
muitas situações não consideram a proteção ao meio ambiente o que
consequentemente resulta em incontáveis danos não apenas ao bem tutelado mas a
vida das gerações atuais e futuras que têm o direito de usufruir de um ambiente
equilibrado e sustentável.
No desastre do Golfo do México - EUA, a empresa responsável pelo vazamento
de óleo respondeu em vários processos judiciais, assim como teve que pagar bilhões
de dólares ao governo federal e aos Estados afetados, bem como às vítimas, famílias
e pessoas que tiveram seus negócios prejudicados, custeando a limpeza, reparação
aos danos ambientais causados, além de pagarem multas e diversas outras
indenizações.
No liame do desastre de Brumadinho-MG, as penas são consideradas pouco
eficazes, isso pois a maioria dos crimes ambientais ainda possuem penas inferiores a
dois anos onde no final dos casos será incluída nos benefícios da transação penal ou
mesmo ao SURSIS.
Conforme visto na apresentação deste caso concreto, foram muitos os danos
causados à região e apenas a penalidade pecuniária ( multa ) não é suficiente e eficaz
para cobrir todas as imensuráveis destruições e perdas. O processo deve
efetivamente levar as empresas responsáveis à uma pena realmente alta em razão
da magnitude do desastre para que possa se aproximar da punição exemplar aplicada
a BP, ente jurídico responsável pela explosão no Golfo do México - EUA.
Apesar disto, é importante mencionar que no caso de Brumadinho-MG mesmo
que o processo criminal ainda não tenha sido julgado é plausível o empenho do
Ministério Público de Minas Gerais e também do Tribunal de Justiça competente na
procura de responsabilizar penalmente os envolvidos que deram causa ao desastre.
Todavia, é necessário bater na tecla da celeridade desse processo.
Deste modo, não é mais aceitável que os entes jurídicos continuem a lesar o
meio ambiente colocando-o abaixo de suas prioridades particulares que em suma
consiste no alcance de lucro. Isto justifica a relevância da necessidade em
penalidades mais severas e adequadas como meio não apenas de reprimir mas
também prevenir futuras catástrofes ambientais.
Além disso, também seria essencial o acompanhamento mais direto do poder
público quanto às fiscalizações e políticas de prevenção, haja vista que medidas
16

preventivas possuem o maior potencial em evitar os danos advindos dos desastres,


isso pois uma vez que este ocorre é muito mais difícil de repará-lo.
Ademais, o Brasil está de acordo com a legislação internacional, mesmo com
punições por ora mais brandas, caminha no sentido de proteger o meio ambiente
como um bem inestimável e fundamental.
17

6. REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília,DF: Senado Federal: 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 18 de
out.. de 2020.
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.Dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Brasília, DF. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 18 de out. de 2020.
BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá
outras providências. Brasília, DF. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Acesso em: 18 de out. de 2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 564960. CRIMINAL.
CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA.
RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE COLETIVO. POSSIBILIDADE.
PREVISÃO CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO
POLÍTICA DO LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO-
AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO. EXISTÊNCIA JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS
ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA.
CULPABILIDADE COMO RESPONSABILIDADE SOCIAL. CO-
RESPONSABILIDADE. PENAS ADAPTADAS À NATUREZA JURÍDICA DO ENTE
COLETIVO. RECURSO PROVIDO[...]. Rel. Min. Gilson Dipp. Brasília, DF, 2 de junho
de 2005. Diário da Justiça, 13 de junho de 2005. Disponível
em:https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=((%27RE
SP%27.clap.+e+@num=%27564960%27)+ou+(%27RESP%27+adj+%27564960%2
7.suce.))&thesaurus=JURIDICO&fr=veja. Acesso em: 20 de out. 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 548181. EMENTA


RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL.
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA
AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA
PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA [...]. Rel. Min. Rosa Weber. Brasília, DF, 6 de agosto de 2013. Diário da
Justiça, 30 de outubro de 2014. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur282384/false. Acesso em: 20 de out.
2020.
CORRÊA, Alessandra (org.). Meio Ambiente: o que aconteceu com os responsáveis
por um dos maiores desastres dos eua. o que aconteceu com os responsáveis por um
dos maiores desastres dos EUA. 2019. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47121631. Acesso em: 14 maio 2021.
FALCÃO, Márcio. Brumadinho: acordo que prevê pagamento pela vale de r$ 250 em
multas é homologado. 2020. Disponível
em:https://g1.globo.com/google/amp/mg/minas-
gerais/noticia/2020/09/14/brumadinho-agu-e-vale-fecham-acordo-para-o-pagamento-
18

de-r-250-milhoes-em-multas-ambientais.ghtml?__twitter_impression=true.Acesso
em: 18 out. 2020.
FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a
natureza. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: volume 4 - responsabilidade
civil. 12. ed. São Paulo : Saraiva, 2017

IEF, Instituto Estadual de Floresta. Nota de esclarecimento 12 - desastre barragem


b1. 2019. Disponível em: http://www.ief.mg.gov.br/noticias/2587-nota-de-
esclarecimento-12-desastre-. Acesso em: 14 maio 2021.
MINAS GERAIS. Ministério Público do Estado de Minas Gerais. MPMG e PCMG
finalizam investigações sobre o rompimento da barragem em Brumadinho; 16
pessoas são denunciadas por homicídio qualificado e crimes ambientais. 2020.
Disponível em: https://www.mpmg.mp.br/comunicacao/noticias/mpmg-e-pcmg-
finalizam-investigacoes-sobre-o-rompimento-da-barragem-em-brumadinho-16-
pessoas-sao-denunciadas-por-homicidio-qualificado-e-crimes-ambientais.htm.
Acesso em: 14 maio 2021.
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Justiça realiza
quarta audiência virtual sobre Brumadinho: processo está em fase de produção de
provas técnicas com peritos e pesquisadores. Processo está em fase de produção de
provas técnicas com peritos e pesquisadores. 2020. Disponível em:
https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/caso-brumadinho/justica-realiza-quarta-
audiencia-virtual-sobre-brumadinho.htm#. Acesso em: 14 maio 2021.
MINAS GERAIS. Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Procedimento
Investigatório Criminal n.º MPMG-0090.19.000013-4. Inquérito Policial n. PCMG-
7977979. Brumadinho, MG, 21 de janeiro de 2020. Disponível em:
file:///C:/Users/debor/Google%20Drive/UCB_/2021_1/TCC/Pesquisa%20Jur%C3%A
Ddica_/Leituras/Den_ncia%20VALE-TUV%20SUD%20-
%20homic_dio%20e%20crime%20ambiental%20_site_.pdf. Acesso em: 14 maio
2021.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense, 2014.
REIS, Adrielly Pinto dos; PASSAMANI, Bruna Magalhães. A responsabilidade penal
da pessoa jurídica no atual contexto jurisprudencial dos crimes ambientais.
Derecho y Cambio Social, Cajamarca - Peru, n. 58, p. 296-310, 01 out. 2019.
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2008.
STOLZE GAGLIANO, Pablo; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil:
volume único. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 5. ed. rev., ampl. e atual. Salvador -
BA: Juspodivm, 2015.
VENOSA. Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. São Paulo: Atlas , 2015.

Você também pode gostar