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O verbete “Dicionário de Política”, de autoria de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e

Gianfranco Pasquino, trata de assuntos referentes à Ciência Política. Para os autores, a

expressão “ciência política” em sentido amplo, serve para indicar o estudo dos fenômenos e das

estruturas políticas conduzido rigorosa e sistematicamente e apoiado num amplo e cuidadoso

exame dos fatos expostos com argumentos racionais. Tradicionalmente a ciência política

significa o “oposto” da opinião, pois se apóia nas provas dos fatos. Já em seu sentido estrito e

técnico, corresponde a ciência empírica da política, tratada com base na metodologia das

ciências empíricas mais desenvolvidas. Neste sentido, a ciência política se distingue ainda mais

da pesquisa, a qual convém chamar de “filosofia política”.

A ciência política como disciplina e instituição nasceu no século XIX, com o

desenvolvimento das ciências sociais que caracterizaram o progresso científico daquele período.

A ciência política contemporânea acompanha de perto as ciências sociais e sofre influência de

seu objeto de estudo, ao aproximar-se da análise do fenômeno político e no uso de certas

técnicas de pesquisa. Com relação às técnicas de pesquisa, ocorreu uma drástica mudança

quando o estudo exclusivo baseado na coleta de dados da documentação histórica, do emprego

da observação direta e da pesquisa de campo, da investigação por sondagem ou entrevista

passou a ser frequente. Isso resultou em um aumento de dados à disposição do pesquisador e

exigiu um uso crescente de métodos quantitativos para sua padronização.

O rápido aumento extensivo dos dados permitiu uma comparação com os regimes de

diversos países, estimulando os estudos de política comparada, que na verdade sempre ocorreu,

uma vez que o estudo dos fatos dos fenômenos políticos teve início com a comparação entre

diversas constituições gregas.

Esse aumento da acumulação de dados também permitiu à Ciência política

contemporânea proceder com maior rigor na execução das operações e na obtenção dos

resultados que são próprios da ciência empírica, como a classificação, a formulação de

generalizações e a formação de conceitos gerais. Através dessas operações a ciência política


persegue sua finalidade, que é explicar os fenômenos objetos de seu interesse, não se limitando

apenas a descrevê-los.

A explicação está diretamente ligada a previsão. As explicações simplistas não estão

mais sendo aceitas, já que com uma gama maior de informações podem se apontar múltiplos

fatores, de ordem diversa, para esclarecer os fatos sociais. Quando o processo de explicação é

falho, não se pode falar de previsão, que é a principal finalidade prática de qualquer ciência. E a

ciência política na atualidade está longe de postular previsões científicas, por motivos óbvios.

Como é uma ciência que trata de fatos sociais, que envolve pessoas, não pode se submeter a

verificação prática. As experiências comuns que são feitas em outras ciências como a física, que

servem para comprovar hipóteses, não servem a ciência social, uma vez que é impossível, por

exemplo, reproduzir em laboratório uma revolta popular. As maiores dificuldades da ciência

política, assim como em todas as ciências humanísticas, derivam da peculiaridade e da maneira

de agir do homem enquanto ser social.

Quanto mais uma ciência consegue eliminar a intrusão de elementos de juízo de valor

subjetivo, a chamada “avaliação”, mais se aproxima do ideal limite do científico. A avaliação

garante, supostamente, a objetividade. Em se tratando de ciência política a avaliação é muito

difícil de ser alcançada. O desenvolvimento dessa ciência é guiado por um ideal de “política

científica”, uma ação fundada no conhecimento rigoroso das leis objetivas da sociedade, sem

interferência ideológica. Não estando, portanto abandonada ao acaso.

A tarefa mais urgente da ciência política é a de se submeter às análises e,

eventualmente, de colocar em xeque a mesma ideologia da política científica na qual se basea,

examinando seus significados histórico e atual, percebendo seus limites e suas condições de

atualidade, assim como indicando as direções em que se deve seguir para estudos futuros.

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