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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n7-507
RESUMO
Os cálices de fundação são elementos de ligação muito importantes na transferência
correta de esforços para a fundação de estruturas pré-moldadas. O presente artigo trata-
se do dimensionamento de cálices de fundação com colarinho que possuem interfaces
lisas/rugosas e interfaces com chaves de cisalhamento. Foram apresentadas
recomendações da literatura técnica, que englobam o processo de dimensionamento e
disposições construtivas. Os modelos de cálices foram dimensionados para dois pilares
distintos característicos do projeto estrutural de uma loja da Havan, executada na cidade
de Pato Branco, Paraná, Brasil, em 2015. Como resultado do dimensionamento, é
apresentado o quantitativo e a comparação dos materiais necessários para a execução e o
detalhamento de cada modelo de cálice. Os cálices com interfaces em chaves de
cisalhamento mostraram-se mais econômicos com relação ao consumo de materiais,
apresentando taxas de aço até 38% menores que as encontradas para os cálices com
paredes lisas no caso de pilar central. A aplicação deste tipo de cálice deve levar em conta
as dificuldades construtivas na execução das chaves de cisalhamento e também a
vantagem de que, com menor taxa de aço a qualidade da concretagem é assegurada.
ABSTRACT
The alliance chalices are very important linking elements in stock prices for a foundation
of precast structures. The present article deals with the design of foundation cups with
collar that has smooth / rough interfaces and interfaces with shear keys. They were
excluded from the technical literature, which encompasses the dimensioning process and
construction elements. The calculation models were designed for two distinct pillars
characteristic of the structural design of a Havan store in the city of Pato Branco, Paraná,
Brazil, in 2015. A central pillar with great normal force and the small plots of the acting
moment were chosen: in the base and a corner pillar with smaller vertical size and greater
working moments. As a result of the sizing, the quantitative and one of the components
necessary for the execution and detailing of each chalice model is presented. The calices
with shear key interfaces were more favorable for the consumption of raw materials,
especially the exchange rates up to 38%. The application of this type of cup should take
into account difficulties in the execution of the shear keys and also the advantage of
having a lower steel rate in the quality of the embodiment is ensured.
1 INTRODUÇÃO
Segundo El Debs (2017), a construção civil apresenta baixa produtividade,
vagarosidade, grande perda de materiais e baixo controle de qualidade, portanto se
comparado a outros ramos industriais, é considerada atrasada.
Uma das formas de reduzir este atraso industrial recorrente na construção civil se
dá pelo emprego da pré- moldagem, desde que o tipo de estrutura seja adequado a
utilização deste método de construção. O uso do concreto pré-moldado é uma forma de
industrialização no setor da construção, pois reduz o desperdício produzindo as peças fora
do seu local de utilização. Com a pré-moldagem, pode-se assegurar maior controle de
qualidade na produção dos elementos (compostos de concreto armado) e desta forma,
reduz-se o desperdício de materiais e de estruturas temporárias como formas e
cimbramentos, além disso o cronograma da obra pode ser acelerado, representando
produtividade no setor (CAMPOS, 2010; EBELING, 2006).
Campos (2010) explica que a principal diferença na concepção estrutural de
construções pré-moldadas está na necessidade de se dimensionar as ligações entre
elementos e de se verificar situações de montagem e transporte no dimensionamento das
peças.
Existem ligações entre viga-pilar, viga-viga e pilar-fundação. As ligações pilar-
fundação podem ser realizadas por emenda da armadura com graute e bainha, chapa de
base, por emenda de armaduras salientes e através de cálices.
A ligação pilar-fundação através de cálices é muito utilizada e pode ser do tipo
externo com colarinho, semi embutido com colarinho, ou ainda totalmente embutido,
conforme a figura 1. Para estes tipos de ligações, a região entre o cálice e o pilar pré-
moldado deve ser preenchida com graute. Para o posicionamento adequado do pilar faz-
se uso de dispositivos de centralização, sendo a consolidação e alinhamento assegurados
pela utilização de cunhas de madeira provisórias.
2 CÁLICES EXTERNOS
O tipo de interface de contato entre as faces do pilar e as faces das paredes do
cálice tem grande importância na eficiência da transmissão dos esforços da estrutura
principal para a fundação e assim para o solo. Neste sentido quanto mais lisa a interface
de ligação, mais desfavorável a situação de projeto e a transferência de esforços pelas
paredes do cálice. Segundo El Debs (2017), devido a vastidão dos cálices rugosos,
intermediário aos cálices lisos e com chaves de cisalhamento, para projeto compete se
fazer a classificação dos cálices em: cálices de interfaces lisas/rugosas e cálices de
interfaces com chaves de cisalhamento. É considerado rugoso quando possuir uma
rugosidade mínima de 3 mm a cada 30 mm na superfície interna e na face da base do
pilar, por toda a extensão do comprimento de embutimento. Quando esse estado não for
garantido, considera-se interface lisa. Quando possuir chaves com profundidade mínima
de 10 mm a cada 100 mm na face interna e na base do pilar, ao longo do comprimento de
embutimento, é chamado de cálice com chaves de cisalhamento. Os modelos descritos
estão representados pela figura 2.
𝑀𝑑 𝑀𝑑
1,5 + 1,25 𝑉𝑑 1,5 + 0,25 𝑉𝑑 0 0,167 𝑙𝑒𝑚𝑏 𝑁𝑑
𝑙𝑒𝑚𝑏 𝑙𝑒𝑚𝑏
Em El Debs (2017), Canha (2004), Campos (2005) e NBR 9062 (2017), são
encontrados modelos que ilustram o comportamento dos esforços do pilar no colarinho
em cálices com interfaces lisas/rugosas, como o da figura 3.
Figura 3- Transferência dos esforços em cálices com interfaces lisas/rugosas com grande excentricidade.
(EL DEBS (2017))
Da figura 3, tem-se as equações (2) (3) e (4), que representam as resultantes que
atuam no cálice para o caso de grande excentricidade. A resultante 𝐻𝑠𝑓𝑑 é calculada
considerando a excentricidade da força normal na base da fundação em relação ao centro
ℎ 𝑙𝑒𝑚𝑏
de gravidade do pilar 𝑒𝑛𝑏 = 4 e ponto de aplicação 𝑦 = 𝑦 ′ = . É sugerido coeficiente
10
(𝑉𝑑 + 𝜇. 𝑁𝑑 ) (Equação 3)
𝐻𝑠𝑝𝑑 = 𝐻𝑠𝑓𝑑 −
1 + 𝜇2
(𝑁𝑑 − 𝜇. 𝑉𝑑 )
𝑁𝑏𝑑 =
1 + 𝜇2 (Equação 4)
Figura 4- Indicações para verificação das paredes longitudinais como consolo curto. (EL DEBS (2017))
𝐻𝑠𝑓𝑑 (Equação 6)
𝐴𝑠ℎ𝑝 =
2𝑓𝑦𝑑
𝑅𝑐 (Equação 7)
𝜎𝑐 = ≤ 0,85 𝑓𝑐𝑑
ℎ𝑏𝑖𝑒. ℎ𝑐
Figura 5 – Modelo para cálculo das pressões em cálices com chaves de cisalhamento.(CAMPOS (2005)
Em El Debs (2017), são apresentados valores de inclinação média das bielas para
parede frontal 𝛽𝑓 = 60° e 𝛽𝑝 = 35° para parede posterior, 𝑑𝑐 = ℎ𝑒𝑥𝑡 − ℎ𝑐 ; e 𝑧𝑐𝑐 =
0,9𝑑𝑐 . Tem-se que as pressões horizontais (frontal e posterior) atuantes no cálice
equivalem a:
𝑀𝑑 + 𝑉𝑑 .𝑙𝑒𝑚𝑏 +𝑁𝑑 (0,5𝑑𝑐 ) (Equação 9)
𝐻𝑠𝑓𝑑 =
2,6𝑑𝑐
Figura 6- Esquema de forças para cálculo e posicionamento das armaduras verticais. (CAMPOS (2010)
O momento fletor 𝑀𝑏𝑑 , a resultante das forças nas armaduras verticais 𝑅𝑠 na altura
útil 𝑑𝑐 e a resultante de compressão 𝑅𝑐 , são calculados respectivamente pelas equações
(14) (15) e (16):
𝑀𝑏𝑑 = 𝑀𝑑 + 𝑉𝑑 . 𝑙𝑒𝑚𝑏 (Equação 14)
(Equação 15)
(Equação 16)
A NBR 9062 (2017) prescreve que, deve ser disposta uma armadura de suspensão,
considerando que a compressão é transferida pela seção formada pelo pilar e o concreto
de enchimento, equivalente a:
0,2𝑁𝑑 (Equação 21)
𝐴𝑠𝑢𝑠 =
𝑓𝑦𝑑
3 METODOLOGIA
O dimensionamento dos cálices foi fundamentado nas diretrizes apresentadas no
item 2. As variáveis para a realização do dimensionamento dos elementos com interfaces
lisas e com chaves de cisalhamento foram retiradas do projeto estrutural de uma loja
convencional da Havan, executada na cidade Pato Branco, Paraná, Brasil, no ano de 2015.
A edificação foi concebida em elementos pré-moldados de concreto armado e protendido.
Dos 132 pilares dispostos no projeto, foram escolhidos: 01 pilar central com grande área
de influência (320 m²) e 01 pilar localizado no canto com 80m² de área de influência.
Ambos possuem seção retangular de 40 x 50 cm e distam dos pilares vizinhos 10 m na
direção horizontal e 8,0 m na direção vertical, em planta. Foram escolhidos estes por
possuírem os esforços atuantes mais críticos apresentados no projeto. O pilar central
possui grande força normal e pequenas parcelas de momento atuantes na base do pilar, já
o pilar de canto possui menor carga vertical e maiores momentos atuantes. Com estes dois
exemplos espera-se mostrar as diferenças no dimensionamento dos cálices devido ao tipo
de esforço predominante nos pilares. Para o dimensionamento dos cálices foram
desenvolvidas planilhas eletrônicas que permitem o cálculo automatizado para qualquer
caso de pilar, contribuindo para futuros trabalhos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Tabela 3 apresenta os esforços de cálculo para os pilares estudados, bem como
a resistência de cálculo do aço estrutural 𝑓𝑦𝑑 e do concreto utilizado no projeto 𝑓𝑐𝑑 . Os
esforços levam em consideração os coeficientes de ponderação da resistência no estado
limite último recomendados pela NBR: 6118 (2004) iguais a: 1,4 para o concreto e 1,15
para o aço.
Dos resultados apresentados, nota-se que a área de aço necessária para a execução
dos cálices nos modelos com chaves de cisalhamento é inferior aos modelos com
interfaces lisas para os dois casos de pilares estudados. Essa discrepância é ainda mais
visível quando se analisa a área de aço disposta na vertical, devido à armadura de
suspensão que é acrescida às armaduras verticais secundárias. No cálculo das armaduras
de suspensão, a parcela da resultante que chega até a base do pilar equivale a 0,5 𝑁𝑑 para
os cálices lisos/rugosos enquanto que, em cálices com chaves de cisalhamento essa
parcela equivale a 0,2 𝑁𝑑 . Isso explica a grande diferença entre as resultantes das
armadura verticais, principalmente ao analisar o pilar central. Verifica-se também uma
diferença notável na área de aço vertical entre os dois pilares analisando a mesma
interface, apresentando valores de armaduras no pilar central quase 4 vezes maior para
cálices com interfaces lisas e cerca de 3 vezes maior nos modelos com chaves de
cisalhamento. Essa diferença ocorre devido à elevada força normal atuante no pilar
central, equivalente a 1482,6 kN, enquanto que no pilar de canto a força atuante é 264,6
kN. As áreas de aço das armaduras horizontais conforme a formulação foram
proporcionais à pressão atuante na parede do cálice.
vertic
Arm.
(cm²)
ais
𝐴𝑠𝑣,1 2,41 1,205+2,13 1,83 0,916+0,8525
𝐴𝑠𝑣,2 2,41 1,205+2,13 1,83 0,916+0,8525
𝐴𝑠ℎ,𝑡𝑜𝑡 6,05 3,025 5,1695 2,5848
ontais
Arm.
(cm²)
horiz 𝐴𝑠ℎ,𝑖𝑛𝑡 2,02 1,51 1,7232 1,29
𝐴𝑠ℎ,𝑒𝑥𝑡 4,03 1,51 3,4463 1,29
Figura 11- Detalhamento das armaduras verticais em paredes com chaves de cisalhamento.
Figura 12- Detalhamento das armaduras horizontais em paredes com chaves de cisalhamento.
(cm²)
(cm²)
Figura 15- Detalhamento das armaduras verticais em paredes com chaves de cisalhamento.
Figura 16- Detalhamento das armaduras horizontais em paredes com chaves de cisalhamento.
5 CONCLUSÃO
Este estudo teve como objetivo apresentar as diretrizes de dimensionamento dos
modelos de cálices com colarinho que possuem interfaces lisas/rugosas e os que possuem
interfaces com chaves de cisalhamento segundo recomendações da literatura.
Com esta finalidade, foram desenvolvidas planilhas eletrônicas para o dimensionamento
dos cálices em casos distintos de pilares de interesse de um projeto estrutural. Do
dimensionamento, constatou-se que o consumo de aço para os modelos lisos se
apresentou maior que nos modelos com chaves de cisalhamento (13,28 cm² a mais no
pilar central e 2,44 cm² no pilar de extremidade). Os resultados mostram que a taxa de
aço necessária para o projeto dos cálices é sempre menor quando se utilizam paredes com
chaves de cisalhamento, sendo que para o caso de pilar central esta diferença foi de 37%.
Conclui-se que os modelos com chaves de cisalhamento para os dois pilares nesse
estudo, mostraram-se mais vantajosos e econômicos quanto ao consumo de materiais. Os
cálices com interfaces de chaves de cisalhamento apresentaram menor taxa de armadura
para ambos os casos estudados, o que pode significar maior facilidade na execução destes
elementos, uma vez que a menor densidade de armaduras propicia melhor qualidade da
concretagem.
Este trabalho desenvolveu um material didático a partir da literatura e normas
disponíveis para guiar o dimensionamento de cálices externos que são elementos
fundamentais à construção com elementos pré-moldados de concreto.
REFERÊNCIAS
EBELING, E.B. Análise da base de pilares pré- moldados na ligação com cálice de
fundação. São Carlos. 103 p. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006.