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Jesus Cristo Rei
Jesus Cristo Rei
( M a t . XVIII, 1 8 )
M O N S . T1H A M ER T Ô T H
DE
P. JO Ã O C O R R E IA P IN T O . S . J .
1 9 5 6
Imprimi potest .
T O D O S O S D IR E IT O S R E S E R V A D O S
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IESUS CRISTO REI
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C A P ÍT U L O I
II
*
* *
(') O povo Húngaro linha desde há muito o direito de eleger o seu rei.
Nas cortes do ano de 1687 renunciou a este direito em favor da casa dos
Habsburgos. aceitando a forma de rei hereditário, mas só para o ramo
masculino dos descendentes de Leopoldo I. Carlos III. filho de Leopoldo,
nSo leve filho varão; e no ano de 1740 a Hungria aceitou a pragmática
sanção, isto é, a lei que estende ao ramo feminino o direito ao trono.
Maria Teresa, filha de Carlos III, foi coroada com a coroa de Santo
Estevão, em 25 de Junho de 1741. O titulo que lhe davam os húngaros,
não era Regina — Rainha, mas R e* — Rei.
Quando M aria Teresa se viu atacada simultâneamentc por sete
inimigos que queriam arrancar-lhe algumas províncias e desmembrar o reino,
recorreu, como a último baluarte de defesa, ao povo húngaro, e este na dieta
de Pozsony soube responder com lealdade, nobreza, heroismo e desprendi
mento aos desejos do seu «Rei». As armas húngaras venceram os inimigos.
(N . d o Irad. esp.j.
C A P ÍT U L O II
O A guerra 1914.
CONCEITO DA REALEZA DE CRISTO (II) 27
II
O S . joCto. I. 1,5.
O S. Luras. 1. 52. 55.
(“) S . jo ã o , XVII. 57.
O S . Jo ã o , xvm. 56.
O S. M ateu s, xxvi. 52.
(*) A p o c a lip se, I, 5.
0 A p o calip se, XIX, 16.
DIREITOS DE CRISTO A REALEZA 53
O E p isl. a os h ebreu s, l, 2.
(*) / Cor.. XV. 25.
O S . M ateu s, XXIV, 5 5 ; S. M arcos, n u . 31.
34 JESUS CRISTO REI
II
(’ ) Aqui Mons. Tiiiamcr Tóth expõe impressões <la sua estadia entre
os húngaros que viviam na Amírica do Norte. (Nota do trad. português).
(*) Eclesiastes. xii, 13-14.
CRISTO, REI DA PÁTRIA TERRENA 53
*
* $
11
Um camponês vivia feliz no seu país longínquo: não
era rico, mas tinha o necessário para viver contente. Em
mau dia chegou-lhe às mãos um jornal maldito. Soube
pela gazeta que na terra dos baskires havia imensos terri
tórios incultos e que era costume, se alguém, de manhã
cedo. depusesse aos pés do chefe da tribo uma gorra cheia
de rublos em oiro. podia apoderar-se da porção de terra
a que pudesse dar a volta, até ao pôr do sol.
O nosso homem não descansou mais, parecia que tinha
fogo nos pés. Vendeu quanto tinha e conseguiu reunir
precisamente o oiro de que carecia para encher a gorra.
Depois de longa viagem, chegou à terra dos baskires.
O chefe ratificou a promessa e até deu bons conselhos
ao camponês: «Antes do sol posto hás-de estar de novo
aqui. nesta colina, donde vais começar agora a caminhada.
Tem cuidado, porque se chegas, ainda que seja um minuto
mais tarde, perderás tudo, oiro e terra.»
Na madrugada do dia seguinte, parte o camponês
cheio de bom humor, todo contente. «Que belo pedaço de
terra! Amanbã será minha!» E este pensamento dava-lhe
novo alento para estugar o passo. «Que lindo trigo colherei
aqui!... E aquele bosque magnifico! O h! não me faltará
lenha e madeira, também vou dar a volta por lá ... Que
excelente prado! Vou também delimitá-lo, há-de ser meu!»
E o homem caminhava... caminhava. Bateu meio-dia.
Talvez fosse bom voltar. «O h! por enquanto não. um pouco
mais longe, há uma linda porção de terra que não posso
deixar, e depois voltarei mais depressa».
72 JESUS CRISTO R B
*
* *
QUE É A IG R E JA C A T Ó L IC A ?
II
III
QUE C O N C E IT O DEVO FO RM A R DA IG R E JA ?
* *
0 S°Imo CXXXVI, 6.
C A P ÍT U L O VII
. II
O S. Jo ã o . xxi. 15.
CRISTO, REI DO SACERDÓCIO 95
111
(") S . L u cas, v, 5.
110 JE S U S CRISTO REI
*
* *
E agora?
Agora que vemos a nossa degradação moral, o nosso
aviltamento, agora vemos, agora sentimos a falta que nos
faz. Sentimos nostalgia de verdade e de rectidão.
Cristo! o nosso único mal é este: Vós fazeis-nos falta!
O Homem tem fome, quer pão... Mas Vós sois o pão
de que ele necessita.
O homem tem sede, pede que lhe dêem de beber...
Tem sede de V ós!
O doente suspira pela saúde... Tem necessidade de
Vós!
O s que procuram a beleza no mundo, sem o saberem.
buscam-Vos a Vós, Formosura eterna.
O s que buscam a verdade, procuram-Vos a Vós.
Verdade eterna.
O s que desejam a paz. desejam-Vos a Vós. pois só
em Vós pode encontrar a sua tranquilidade o coração
perturbado.
Céu e terra, infelicidade e prosperidade, alegria e
sofrimento, o homem que chora e o homem que ri, todos
clamam por Vós, ó dulcíssimo Jesus!
S ó por Vós suspira a nossa alm a! V inde, ó am ável
Jesu s!
Assim podíamos resumir a súplica de Papini, o con
vertido.
Assim poderíamos exclamar também nós em fervente
anelo: Vinde. Senhor Jesus! Vinde, vinde a nós que esta
mos famintos, sedentos, cansados... Teremos em Vós a
fonte da vida que nos dá alívio, força, felicidade...
Vinde, Senhor Jesus, vinde. Cristo Rei!
8
C A P ÍT U L O IX
C risto, R ei d a m in ha alm a
Q
u a n d osua Santidade Pio XI instituiu a festa de
Cristo-Rei, recomendou encarecidamente aos sacer
dotes que explicassem aos fiéis todos os matizes deste pen
samento. instruindo-os convenientemente, para que pene
trassem e compreendessem «a natureza, as propriedades
e a significação desta festa».
Vimos nos capítulos anteriores o que significa, em
geral, a realeza de Cristo; sabemos já o alcance destas
proposições: Cristo é o Rei da vida terrena. Rei da vida
eterna. Rei da Igreja e Rei do sacerdócio; mas isto não é o
suficiente para conhecermos toda a extensão da sua realeza;
havemos de descer a mais particularidades e considerar a
Nosso Senhor Jesus Cristo como Rei das crianças. Rei dos
jovens. Rei da família. Rei dos aflitos. Rei das mulheres...
Que entendemos nós por estas proposições e que con
sequências derivam delas? Tais são as importantes questões
de que vamos tratar agora.
O presente capítulo servirá, por um lado, de resumo
do que já dissemos e. por outro, será a preparação do que
nos falta ainda expor; veremos que Cristo é Rei da socie
dade, Rei dos reis. dos povos, das familias... Mas não
esqueceremos que Cristo é tam bém meu R ei.
116 IESUS CRISTO REI
0 SaJmo CX1I. 7.
C R IS T O , R B DA MINHA ALMA 121
II
0 G a ia ta s , II, 20.
124 )ESUS CRISTO REI
*
* *
O S . S ik .
CRISTO. REI DA MINHA ALMA 123
O Isaías, LVin. I.
O l.° Livro dos Reis, I, 11.
(*) S. Lucas. 1, 58.
CRISTO. REI DAS CRIANÇAS 135
*
* *
11
*
* *
C) G en ., XXX. I.
CRISTO. REI DA FAMÍLIA (I) 150
*
SjC $
g
difícil o problema que começámos a discutir no capí
tulo anterior.
Se alguém procurasse uma frase para expressar as
ideias funestas, as desordens, os sofrimentos, as dores, a
maldição, a tragélia da nossa época, escolheria certamente
a seguinte: «A moderna vida de família.» Pronunciar estas
palavras, é sentir-se perturbado todo o bomem sério. Pro
nuncia-as e ouvirás as queixas de todos os que se preocupam
com o porvir da humanidade. — «É preciso que haja escân
dalos», disse em certa ocasião o Divino Mestre: mas que
o escândalo seja de todos os dias e coisa habitual, como o
bocado de pão; que milhares de homens ricos e pobres, ins
truídos e analfabetos, o tenham como manjar precioso, isso
passa do normal, é um sinal aterrador de desmoronamento
da sociedade. Não esqueçamos que os povos formaram-se
das famílias e perecem também com as famílias.
Isto não seria tão grave, se víssemos o mal só entre os
incrédulos que cantam elogios às filosofias em voga. Se
assim fosse, bem poderíamos dizer: isso é lá com eles. Mas
não é assim.
O sopro de destruição bate. força e abre fendas até
nas portas das famílias cristãs: também bá jovens católicos
que contraem matrimónio sem ter amor no seu coração.
166 JESUS CRISTO REI
* II
* *
12
C A PÍTU LO XIV
II
*
* *
II
111
Sabemos já o que é o divórcio.
«Sim. já o sabemos, dirá alguém; os princípios são
sublim es, mas a vida! O h ! a terrível vida destrói todos
os princípios, todos os ideais».
l.° Cremos, sabemos que o matrimónio é indissolúvel;
muito bem. M as... e se não foi acertado o m atrim ónio ?
Também então é indissolúvel? Algumas vezes encontramo
-nos na vida em situações terríveis. Não bá sofrimento na
terra, não bá inferno semelhante a um matrimónio infeliz.
E não poderá dissolver-se? Pelo menos, nestes casos, deve
ser permitido o divórcio. Uma mulber meiga, pura de
coração, tem um marido rude, bêbado, que a maltrata;
um esposo diligente, trabalhador tem uma mulber pecadora,
pródiga... a vida é um inferno. E não poderá dissolver-se
o matrimónio?
Realmente, bá coisas terríveis na vida. C ontudo, o
matrim ónio perm anece indissolúvel. Não se pode permitir
o divórcio. Não se pode romper o vinculo de maneira que
seja lícito passar a outras núpcias, porque, se um a vez se
permitisse, a ruina seria completa. Se o vestido começa
a romper-se, quem poderá evitar que se deteriore por com
pleto? O s esposos apartar-se-iam, talvez nos momentos mais
críticos, quando mais um necessitasse do outro, na doença,
na velhice... Abundam os exemplos. A legislação civil
moderna permite o divórcio. Ora, quanto mais fácil é o
divórcio, tanto mais aumentam as contendas. Se soubessem
que não se podiam divorciar, que haviam de viver juntos
até à morte, então mais fàcilmente se amoldariam. Mas
200 IESUS CRISTO RFJ
* *
C risto, R ei d e D ores
C) S . Jo ã o , viu, 59.
206 JESUS CRISTO REI
II
* *
Q u a n d o S t r i n d b e r g , e s c r i t o r s u e c o , q u e p a s s a r a a v id a
no m e io das m a io r e s a b e rra çõ e s, p r e s s e n tiu o te r m o da
e x i s t ê n c i a , p e d iu q u e c o lo c a s s e m s o b r e o s e u tú m u lo a c r u z
co m e sta in s c r iç ã o : A ve Crux, Spes u n ica! « E u te s a ú d o ,
ó c r u z . ú n i c a e s p e r a n ç a !»
S im . ta m b é m b o je a c r u z d o R e i d e d o re s é a n o s s a
ú n ic a e s p e r a n ç a . E la é o n o s s o o r g u lh o e a n o s s a ú n ic a
c o n so la ç ã o . Q u ã o b e m o d is s e S . P a u l o : « N ã o m e g lo r io
de s a b e r o u tra c o is a ... s e n ã o J e s u s C r is to e Je s u s C r is to
c r u c i f i c a d o .» (* ) No c r u c ifix o e stá c o n t id a to d a a n o ssa
N ã o f a ç a m o s u m C ó d i g o n o v o ! N o s n o s s o s a lt a r e s e s t á
o R e i. E a to d o s o s c a t ó l i c o s p e r g u n t a - s e - I h e s :— Q u e r e i s
q u e e s t e s e ja o v o s s o R e i ? — E a n o s s a r e s p o s ta n ã o p o d e
s e r o u tr a s e n ã o u m « qu erem os» v e r d a d e ir o , s in c e r o .
Q u erem o s que o C o ra çã o d iv in o r e in e nas f a m ília s
e q u e in u n d e c o m a s u a p a z o s la r e s c r is t ã o s e r e n a s ç a n a s
f a m íl i a s a a l e g r i a , a f e l i c i d a d e ? — Q u e r e m o s .
Q u e r e m o s q u e a a l m a in o c e n t e d o s f ilh o s c r e s ç a e s e
f o r t i f iq u e à s o m b r a d a c r u z ? — Q uerem os.
Q u e r e m o s te r u m a â n c o r a firm e a q u e n o s a g a r r e m o s ,
q u a n d o c o m e ç a r a id a d e t e m p e s t u o s a d a ju v e n t u d e ? Q ue
re m o s a c r u z d e C r i s t o ? — Q uerem os.
Q u erem o s triu n fa r n a s lu t a s d a v id a . não s u c u m b ir
n o s d ia s s o m b r io s d a d e s g r a ç a ?
Q ue a n o ssa a lm a . t a lv e z f lo r p á l i d a e a n é m ic a , s e
a b r a à lu z r a d i a n t e d a v id a e t e r n a ? Q uerem os!
O b ! e n t ã o r e z e m o s c o m a a lm a c o m o v id a a s p a la v r a s
d o p o e ta :
O h ! q u e b e m />ara mim. S en h or.
Cair em nossas mãos!
N ã o perm itais
Q u e procu re outro lugar.
A g ora, S en h or, agora
N ã o tenho m ais ninguém no m undo.
V in de, pois, infundi a vida
N esta nossa p o b re e p á lid a florinha.
(S. S ik).
C A P ÍT U L O X V II
II
* $
IS
C A P ÍT U L O XV1I1
a mim; a mim que sempre lhe fui fiel, a mim que guardo
todos os seus mandamentos? Como pode Deus ser tão
«duro», tão «severo», tão «cruel» connosco?
Ouvimos com frequência queixas semelhantes. Os
homens que lutam com dificuldades económicas, os que
foram defraudados, os que arrastam a cruz de um matri
mónio infeliz, os que são visitados pela desgraça, ouvem-se
com frequência murmurar: Deus é duro, severo connosco,
não se compadece de nós que tanto sofremos!
O que é que estás tu a dizer? Perguntas porque é
Deus tão «severo» e tão «duro»? Mas ignoras tu qu e não
é D eus quem nos envia a m aior parte dos sofrimentos,
isto é, qu e E le não qu er qu e o hom em sofra tanto?
Como se compreende isto? Explicar-to-ei. O mundo
actual não é como Deus o queria no seu primeiro plano,
não é como Deus o criou: o homem com o pecado destruiu
o plano divino: e por isso o mundo inteiro sofre agora as
consequências do pecado original: tanto a natureza inani
mada como os seres vivos.
Ainda que a nossa religião sacrossanta não nos ensi
nasse nada acerca da queda do homem e das suas conse
quências, isto é, a respeito do pecado original, sentiríamos,
pelas monstruosas contradições da vida humana e terríveis
injustiças, que alguma coisa não está em ordem, que a vida
humana não saiu assim das mãos do Criador sublime, que
grande falta deve ter sido cometida no princípio da nossa
história.
Sim, devemos confessar abertamente, que houve e h á
na terra um sem-número d e sofrim entos, qu e D eus não quis
nem quer e cuja causa única é o hom em , o hom em pecador,
a avareza, o egoísm o, o orgulho hum anos.
230 JESUS CRISTO REI
II
c o n f i s s õ e s .. . e tu d o e m vão. H a v e r á re m é d io p a r a m im ?
Q u e é o q u e m e p o d e r ia s a lv a r ? »
— «Q ue é o que a p o d erá s a lv a r » ? — re sp o n d e u o
s a c e rd o te a n c iã o . «Só u m a g ran d e d esg ra ça » . N ão com
p r e e n d e u e l a to d o o a l c a n c e d a r e s p o s ta , m a s n ã o ta r d o u
m u ito e m c a i r n a c o n t a d a s u a s ig n i f ic a ç ã o , p o r q u e p e r d e u
g r a n d e p a r t e d e s u a f o r tu n a , m o r r e r a m s e u s p a is , e , à lu z
d e t a n t a s d e s g r a ç a s , a q u e l a a lm a m u n d a n a , e x t r a v i a d a , d e s
c o b r iu o c a m i n h o d o a r r e p e n d im e n to e e n c o n t r o u a D e u s .
A s s im , p o is , o s o f r im e n to p o d e s e r n a s m ã o s d e D e u s
u m a r a d o q u e a b r a s u lc o s p r o fu n d o s , q u e r e m o v a e p r e p a r e
a te r r a , e n d u r e c id a p e l a p r o s p e r id a d e e b e m - e s t a r .
t h á t a n t a s a l m a s q u e se e s q u e c e r a m d e D e u s . e fo ra m
de novo r e c o n d u z id a s a E le , por m e io do s o f r im e n t o !
Q u a n t o s p o d e m d iz e r c o m C b a t e a u b r i a n d : « C r e i o , p o r q u e
s o f r i.» ( ') H á h o m e n s q u e se c o m p o r ta m c o m D e u s , c o m o
c o m o f o g ã o : d u r a n t e o in v e r n o a r r im a m -s e a e l e e n o v e r ã o
e sq u e ce m -n o p o r c o m p le to . As e s tr e la s e stã o s e m p re no
fir m a m e n to , m as só as vem os à n o ite ; do m esm o m odo
m u ito s n ã o s a b e m v e r a lu z d o s p e n s a m e n t o s e te r n o s , s e n ã o
q u a n d o o s o f r im e n t o e a d o r e s te n d e m o s e u n e g r o v é u s o b r e
a s u a v id a .
3 .” «M as eu não sou i n c r é d u lo ! » , d ir -m e - á s , «nem
p r e c is o d o lá t e g o d o s o fr im e n to , p a r a c u m p r ir o s m a n d a
m e n to s . Q u e q u e r p o is D e u s , q u a n d o m e fe re c o m a d e s
g ra ça , com a d o r?»
É p o s s ív e l q u e t e n h a c o n t ig o o u tr o s d e s íg n io s . T a lv e z
queira purificar a tua alm a, poli-la, aform oseá-la, sob o
p e s o d o s o f r im e n t o . N ã o h á a lm a h u m a n a m a is p r o fu n d a ,
m a is r ic a . m a is fo r te , q u e a q u e l a q u e te v e d e s o f r e r m u ito .
G eniessen m acht gem ein, d is s e o p o e ta a le m ã o G o e t h e .
« G o z a r t o m a a p e s s o a v u l g a r » ; o b e m - e s t a r c o n t ín u o t o m a
o h o m e m o r g u lh o s o , d e s e n f r e a d o , a m b i c io s o : p e lo c o n t r á r io ,
o s o fr im e n to to m a -o c ir c u n s p e c t o . c h e io de c o m p a ix ã o ,
h u m i l d e .. . a s s e m e l h a - o a C r is t o .
S i m : o s o f r im e n to p o d e s e r o t r a b a l h o d e a r t i s t a q u e
D eus e x e c u ta no m árm o re da m in h a a lm a . Tam bém o
m á r m o r e c h o r a r i a a o f a z e r - s e em p e d a ç o s s o b o s g o lp e s d o
m a r t e lo q u e lh e d á o e s c u lt o r . M a s s e o a r t i s t a le v a d o d e
c o m p a i x ã o , p o u p a s s e o s g o lp e s a o m á r m o r e , p o d e r ia fa z e r
u m a o b r a -p r im a ?
O s o f r im e n to p o d e s e r o t r a b a l h o d o m in e ir o c o m q u e
D eu s cava em m in h a a l m a . D e u s b u s c a em n ó s o o ir o ;
e o o ir o n ã o s e c o s t u m a e n c o n t r a r à s u p e r f íc ie , m a s n a s
p r o f u n d id a d e s , e é n e c e s s á r io e x t r a í - l o , à c u s t a d e m u ito
tr a b a lh o .
M as o sofrim ento tam bém p od e ser castigo nas
4.°
m ãos d e D eus.
A ju s t i ç a d iv in a e x ig e q u e s o fr a q u e m p e c o u ; é um
fa c to q u e n ã o a d m it e r é p l i c a ; é n e c e s s á r io s o fr e r, o u n e s t a
v id a o u n a o u t r a .
« Q u e m p e c o u ...» E p o s s o e u d iz e r q u e n u n c a p e q u e i ?
O u s a r e i a fir m á -lo ? E j á e x p ie i o s m e u s p e c a d o s ? E n tã o ,
oh! to d o s o s q u e s o fr e is , a c r e d ita i, cre d e , q u e mais vale
e x p i a r a s c u l p a s a q u i , n a te r r a , d u r a n t e a v id a . D ig a m o s
c o m o S a n t o A g o s tin h o ; « A q u i, S e n h o r , a q u i, c a s tig a i, q u e i
m a i. c o r t a i, c o n t a n t o q u e m e p o u p e is n a e t e r n id a d e !»
F r a n ç o i s C o p p é , o e s c r it o r f r a n c ê s d e fa m a m u n d ia l,
in c r é d u lo e ím p io d u ra n te g r a n d e p a r t e d a v id a , c o n v e r
256 JESUS CRISTO REI
t e u -s e à fé . S o f r e u a tr o z m e n te n o le it o d a m o r te . E p e d ir ia
e le a D e u s q u e lh e t i r a s s e o s o f r im e n t o ? P e lo c o n t r á r io .
— J e veux une longue ag on ie... « S e n h o r , c o n c e d e i- m e u m a
a g o n ia p r o lo n g a d a » , e , d e p o is d e u m m o m e n to d e s il ê n c io ,
d e u e sta e x p lic a ç ã o : car je crois en D ieu et à l immortalité
d e 1'âme... « p o r q u e c r e io e m D e u s e n a i m o r t a l id a d e d a
a lm a .
«N a m ão de D eus o s o fr im e n to é ta m b é m c a s tig o .
S i m , c o m p r e e n d o -o . M a s , c o m o e x p l i c a r , q u e m u ita s v e z e s
s o fr e m m a is d e s g r a ç a s , p r e c is a m e n t e o s b o n s . o s in o c e n t e s
q u e n ã o p e c a r a m , d o q u e t a n t o s c r im in o s o s , t a n t o s h o m e n s
p erv erso s e p e c a d o re s, q u e p a ssa m u m a e x is tê n c ia a le g r e
e se m p e s a r e s ? O n d e e s tá a ju s t iç a » ?
É v erd ad e. S e tu d o a c a b a c o m e s t a v id a . te n s r a z ã o
M as, se creio qu e
e m p e n s a r a s s im , e n t ã o n ã o h á ju s t i ç a .
a vida continua dep ois d a morte, então não será difícil
encontrar um a respota. « O s h o m e n s h o n r a d o s e h o n e s to s ,
que cu m p ram a le i d e D e u s , s o fr e m m u ito n e s ta v id a » ,
p o r q u e n ã o h ã o - d e s o f r e r n a o u tr a p e lo s p e c a d o s q u e c o m e
t e r a m — p o r q u e o s e x p ia r a m n e s t a v i d a : to d o s s o m o s p e c a
d o res. « A o s m a u s tu d o lh e s c o r r e b e m e p r o s p e r a m n e s t a
v id a » , p o r q u e n ã o h ã o - d e v iv e r a s s im n a e t e r n id a d e , e p e lo
p o u c o b e m q u e fiz e r a m — a lg u m h e m s e m p re p r a t ic a r a m —
r e c e b e m a r e c o m p e n s a n e s t a v id a .
A d if i c u l d a d e , p o is . é e s t a : C o m o se p o d e c o n c i l i a r
a onda de m a le s e s o fr im e n to s q u e n o s a f l ig e m , c o m a
B o n d a d e d o P a i C e l e s t e , q u e v ig ia e g o v e r n a o u n iv e r s o ?
E a r e s p o s ta é : D e u s n ã o s e c o m p r a z n o s o fr im e n to , c o m o
n ã o se a le g r a m o s p a i s . q u a n d o é m is te r c o r r ig ir o u c a s t i g a r
s e u s f ilh o s . Q u a n d o c a s t i g a m , é p o r q u e tê m r a z ã o ; e d u c a m ,
c o r r ig e m , r e p r e e n d e m e fo rm a m a s s im a p e r s o n a lid a d e d e
CRISTO. REI DOS QUE SOFREM (I) 257
se m q u e D e u s o s a i b a e c o n s i n t a , q u e n e n h u m a d e s g r a ç a ,
s o fr im e n to o u d o r é c a p a z d e m e s e p a r a r d e D e u s . . . é u m a
v e r d a d e i n a b a l á v e l q u e s e m p re q u e r o p r o f e s s a r .
#
* *
C e r t o d ia e n c o n t r e i- m e c o m u m J u i z , m e u a m ig o , q u e
n ã o v ia b á v á r io s m e s e s . S e u f ilb o ú n ic o , e s t u d a n t e u n iv e r
s it á r io , era um dos m eus m e lh o r e s d is c íp u lo s . Toda a
f a m íl i a fo r a p a s s a r o v e r ã o à p r a i a . U m b e lo d ia . e n q u a n t o
o s p a is d e s c a n s a v a m s e n t a d o s à b e ir a d o la g o , o f ilb o fo ra
to m a r banho e nadava à su a v is t a . De r e p e n t e ... se m
p r o fe r ir u m a p a la v r a , s e m se o u v ir u m g r ito , s u b m e r g e - s e ,
a l i, à v is t a d e s e u s p a i s . N o d ia s e g u in t e e n c o n t r a r a m - n o
n a á g u a ... E s t a v a m o r t o ... o f ilb o ú n ic o , fo rte , d e 19 p ri
m a v e r a s ! .. .
E ra a p r im e ir a v e z q u e m e e n c o n t r a v a c o m s e u p a i.
d e p o is d o fu n e s t o a c o n t e c im e n t o .
N e sta s o c a s iõ e s , i n s tin t iv a m e n t e p ro cu ram o s a lg u m a s
p a la v r a s de c o n s o l a ç ã o . .. M as e le não me d e ix a fa la r:
Com a v o z tr is te , q u e t in h a u m n ã o s e i q u ê d e a d m ir á v e l,
c o m e s s a v o z tr é m u la , d e u m h o m e m q u e l u t a c o m a d o r.
d iz - m e : « P a d r e , n o m e io d e s ta te r r ív e l d e s g r a ç a , d o u g r a ç a s
a D eu s, que fo i tã o m is e r ic o r d io s o com o n o sso Jo ã o .
T in b a -s e c o n fe ssa d o e c o m u n g a d o , a q u e la m esm a m a n h ã .
E d esd e e n tã o n ós. su a m ã e e eu . co n fe ssa m o -n o s e c o m u n
g a m o s to d o s o s m e s e s n o m e s m o d i a . . . T o d o s nos con h ecem
e a d m ir a m - s e c o m o p o d e m o s s u p o r t a r t a m a n h a p r o v a ç ã o ...»
A s s im m e f a l a v a a q u e l e p a i c o m a v o z e m b a r g a d a e tr é m u la .
A h ! c o m o e u d e s e ja r i a g r it a r a to d o s o s h o m e n s : tH om ens
CRISTO, REI DOS QUE SOFREM (I) 259
n o it e e s c u r a ?
Irm ã o ! T e u s o lh o s , à fo r ç a de ch o rarem n ão pod em
d e r r a m a r m a is l á g r i m a s ?
P o i s b e m , a jo e l h a - t e c o m ig o d ia n t e d e D e u s , i n c li n a
a t u a fr o n te a m a r g u r a d a , a p o i a - a e m s u a s m ã o s , n a s m ã o s
do Pai do céu e te n ta p r o n u n c ia r Ie n ta m e n te . p aran d o
p a ra m e d ita r com o con vém a o ra çã o do p ie d o s o p o e ta
a le m ã o ( ’ ) :
S en h o r, fa ç a -s e em tu d o a V o ssa sa n ta v o n ta d e :
separará, pois, d o amor
s e j a - V o s e u s e m p re f ie l. «Q u em nos
d e Cristo? A tribulação, a angústia, a fom e, a perseguição,
studámos n o c a p ít u l o a n t e r i o r u m t e m a b e m d if íc i l, o
S p r o b le m a d o s o fr im e n to h u m a n o . T a l v e z n ã o h a ja
o u tr o t e m a q u e p o s s a in t e r e s s a r t a n t o à h u m a n id a d e c o m o
o do s o fr im e n to , p o is d if ic ilm e n t e e n c o n t r a r e m o s a lg u é m ,
q u e n ã o t e n h a s e n t id o c r a v a d o n o c o r a ç ã o o o l h a r te r r ív e l
d o e s p e c t r o d a d e s g r a ç a , o o l h a r p e n e t r a n t e d a d o r.
O s o f r im e n to é o c o m p a n h e ir o i n s e p a r á v e l d o h o m e m
q u e p e r e g r in a n e s t e « v a le d e l á g r i m a s » : m is té r io tr e m e n d o
p a ra a razão q u e p en sa, e p ed ra de to q u e p a ra a a lm a
r e lig io s a .
S i m , o s o fr im e n to n ã o é u m a p a l a v r a v ã , se m s e n tid o ,
m a s u m a c o i s a g r a v e , d u r a , a m a r g a ; e m u ita s v e z e s é u m a
p r o v a , in ú t il n a a p a r ê n c i a , i n t o le r á v e l ; c o n t u d o , c o m o v im o s
n o c a p ít u l o a n t e r io r , e 0 d iz a s a b e d o r i a d iv in a . « Q u e pode
saber o qu e não fo i tentado?» ( ') Isto é, a tr ib u la ç ã o , o
s o f r im e n t o é u m r e q u is it o p a r a e n te n d e r m o s to d o o s e n tid o
d a v id a .
Q uem n ã o s o fr e u , n ã o c o m p r e e n d e c o m o n o c a m in h o
p e d r e g o s o d o s o fr im e n to , p o d e m o s e n c o n t r a r o n o s s o « e u » .
16
242 JESUS CRISTO REI
a n o s s a a lm a , o n o s s o D e u s , a q u e m e s q u e c e m o s n o c a m i n h o
sere n o do b e m -e sta r.
Q u e m n ã o s o fr e u , n ã o s a b e c o m o p o d e m o s c o m p r e e n d e r
o s m a le s a l h e io s , v e n d o -o s a t r a v é s d a n o s s a p r ó p r ia m i s é r ia ;
c o m o c o m a s t e s o u r a s a f i a d a s d a d o r, s e p o d e m c o r t a r to d o s
o s n ó s q u e s u s te n ta m a r e d e d o n o s s o e g o ís m o , d a p e q u e n e z
d e e s p ír i t o : c o m o p o d e m o s t r a n s f o r m a r - n o s e m a lm a s i n d u l
g e n te s , c o m p r e e n s iv a s , c h e ia s d e p e r d ã o .
Q uem não s o fr e u , não sab e com o, p e lo s o fr im e n to ,
n o s p o d e m o s p u rific a r d o s n o sso s p e c a d o s , e x p ia r as n o s sa s
f a l t a s e c o m p e n s a r o te m p o p e r d id o .
P orq u e n a v e r d a d e é a s s i m : o s o fr im e n to , s u p o r ta d o
com v a lo r , fa z - n o s m a is d ig n o s ; a h u m i lh a ç ã o to m a -n o s
m a is s u a v e s ; e a m o r t i f i c a ç ã o f a z - n o s m a io r e s , l e v a n t a - n o s ;
n u m a p a l a v r a , o s o fr im e n to s u p o r t a d o c o m D e u s d á p r o f u n
d id a d e à n o s s a a lm a .
M a s s ó o s o fr im e n to s u p o r t a d o c o m D e u s .
D i z e m o s : n a d a p o d e f a z e r o h o m e m m a io r d o q u e u m a
g r a n d e d o r. S i m . . . . se a s u p o r ta r m o s c o m o e s p ír ito d e C r i s t o .
P o r q u e h á h o m e n s q u e se o b s t in a m e d esesp eram no
s o fr im e n to . E s t e s n ã o s o fr e m c o m o e s p ír ito d e C r i s t o .
O u t r o s t o m a m - s e m a is g r o s s e ir o s , i n t r a t á v e is , n o m e io
d o s s o f r im e n to s e s o b o p e s o d a d o r. t r a n s f o r m a n d o - s e em
e stá tu a s g e la d a s , em m o r to s v i v o s ... E ste s ta m b é m não
s o fr e m c o m o e s p ír ito d e C r is t o .
F in a lm e n te h á os h o m e n s, c u ja a lm a , s o b o p eso d o
s o fr im e n to , s e t o m a m a is d e l i c a d a , m a is g r a v e , m a is d o c e ,
m a is c o m p r e e n s iv a ; s ã o o s q u e n o s t r a n s e s d o lo r o s o s tê m
p o r m e s tr e a C r i s t o . R e i d o s q u e s o fr e m .
E com is to chegam os ao te m a p r ó p r io do p r e s e n te
c a p ít u l o . Todos te m o s que s o fr e r, é a tr is te c o n d iç ã o
CRISTO, REI DOS QUE SOFREM (II) 243
hum ana. P r o c u r e m o s , p o is , a p r e n d e r e s t a c i ê n c i a a d m ir á v e l
havem os d e sofrer conform e a dou
d o s o fr im e n to . — C o m o
trina de N osso S en hor Jesus Cristo?
« C r is t o é R e i d o s q u e s o fr e m » . Q u e s ig n i f ic a is to n a
v id a p r á t i c a ? Q u e g a n h o e u , s e n o s d ia s a z ia g o s , s o b a s
d esg raças q u e m e acab ru n h am , p en so q u e Cristo trilhou o
mesmo cam inho qu e eu agora piso?
D i z e m q u e , n a p r im a v e r a , q u a n d o r e b e n t a m a s v id e ir a s ,
o v in h o n o s to n é is c o m e ç a ta m b é m a m o v e r -s e e fe r m e n ta ,
s e n te d e c e r t a m a n e ir a a f lo r a ç ã o d a v id e ir a , q u e lh e d e u
o s e r. E p o rq u ê? P o r q u e h á u m a c e r t a « s im p a t ia » e n tr e
o v in h o e a v id e ir a . « S im p a tia » s ig n ific a : p a r tic ip a ç ã o n o
s o f r im e n to d e o u t r o : c o m u n h ã o d e s e n tim e n to s .
D i z e m ta m b é m q u e , q u a n d o u m a te m p e s t a d e s e d e s e n
c a d e i a n o m a r , a s u p e r f íc ie l is a d o s m a n s o s e t r a n q u ilo s
la g o s , s it u a d o s e n tre a lta s m o n ta n h a s, e s te s s e e le v a m e
e n c a p e l a m ; s e n te m , e m c e r t o m o d o , a s lu t a s d o m a r im e n s o
do q u a l p ro ced em . H á s im p a t ia e n t r e o la g o e o m a r .
A s s im , p o is , e s t a f r a s e : « C r is t o , R e i d o s q u e s o fr e m »
s ig n i f ic a q u e e u devo considerar com a alm a com preensiva
e com passiva os sofrim entos d o S alvador atorm entado...
C o m p re e n sã o , p o rq u e sã o ir m ã s a Sua a lm a e a m in h a .
E n t ã o s e n t ir e i q u e e s t a s im p a t ia , o u a n t e s e s t a « c o m p a i x ã o » ,
m it ig a e a p a z ig u a o s m e u s s o fr im e n to s , a l iv i a - m e n a s d e s
g r a ç a s q u e m e a f l ig e m , i lu m in a c o m a s u a lu z s u a v e a n o it e
e s c u r a d o m e u e s p ír ito , m e s m o n o m e io d o s te r r ív e is p e n s a -
\
244 Je s u s c r is t t o r e i
m e n to s d o p e r e c e r , d a m o r te . T e r e i s im p a t ia p o r C r i s t o , s e
s o u b e r s o fr e r c o m C r i s t o .
Ir m ã o , q u e s e n te s o p e s o d a v i d a ; ir m ã o , q u e c o m e ç a s
a r e n d e r -te a n t e o te r r ív e l p e n s a m e n t o : a t é a q u i . n e m u m
p a s s o m a is . n ã o p o s s o s o fr e r m a is , n ã o t e n h o f o r ç a s ; ir m ã o s ,
v ó s to d o s o s q u e s o fr e is , a p r e n d e i a v e r d a d e ir a s a b e d o r ia ,
a g r a n d e a r t e d e v iv e r : e s i a sim patia por Cristo qu e sofre.
E quando a v id a v o s p a r e c e r in t o le r á v e l, e n t ã o , t o m a i ...
O quê? Um r e v ó lv e r p a ra vos s u ic id a r d e s ? O h! não!
Tom ai um c r u c i f i x o , c o l o c a i- o d ia n t e d e v ó s. e s c r e v e i a s
p a la v r a s s im p le s m a s a r d e n t e s , d o p o e t a a l e m ã o : « Q uando
os hom ens traidores e mentirosos te ferirem com traição
e engano, p en sa devoto no qu e o teu S en hor teve de
padecer.» (‘)
Q u a n d o te e n v o lv e r a n o ite te r r ív e l, q u a n d o s o fr e r e s ,
q u a n d o te d e b a t e r e s c o m o o n o b r e v ia d o c a íd o n a a r m a
d il h a . sollst du from m gedenken, pen sa no qu e sofreu o
Senhor, no qu e E le teve d e padecer.
Q u e p e n s a m e n t o p r o fu n d o , c o n s o la r - s e d e s t a m a n e ir a :
d ir ig ir -lh e a lg u m a s p a l a v r a s d e c o n fo r to , m a s a v e lh in h a
c o n t in u o u a f a l a r c o m u m d o c e s o r r is o : « N o s s o S e n h o r J e s u s
C r i s t o p a s s o u t o d a a s u a v id a s e m t e r c a s a , e e u n ã o c h e g u e i
a t a n t o ; E l e te v e q u e a n d a r d e s c a lç o , e e u a i n d a n ã o ; E l e
fo i c o r o a d o d e e s p in h o s , e e u , n ã o . . . » E n ã o d is s e m a is
nada a v e lh in h a . M as que f o r ç a t r i u n f a l v ib r a n o s a n t o
C r is tia n is m o ! N ão é v erd ad e? N ão s e n tim o s to d o s q u e
C r i s t o é r e a lm e n t e o R e i d o s q u e s o fr e m e q u e o C r i s t i a
n is m o é se m d ú v id a a lg u m a o m a io r b e n f e i t o r d a h u m a n i
d a d e so fre d o ra ? O h ! s e o ó le o d o e s p ír ito c r is t ã o u n g is s e
to d a s as n o s sa s c h a g a s , to d a s a s n o ssa s d o re s!
A v id a é te r r ív e l, a v id a é c r u e l. S o b re s s a lta -s e o
n o sso coração , quando o u v im o s a n a rra çã o e m o c io n a n t e
d e t r a g é d ia s n u n c a i m a g i n a d a s m a s a c o n t e c i d a s .
Se. porém , me abraçar à Cruz d e Cristo, triunfarei
na vida. N ã o p o d e r e i e v it a r a d o e n ç a , n ã o p o d e r e i d e s f a z e r
um m a tr im ó n io i n f e li z ; o m a r id o b ru ta l não m u d a rá , a
m u lh e r f r ív o la não se to m a rá p r u d e n te , o f ilh o p r ó d ig o
n ã o e n t r a r á n o b o m c a m in h o , a l u t a d iá r ia c o n t r a a m is é r ia
n ã o d e s a p a r e c e r á ; m a s .. . rom pe-se o fio d a dor, e inunda-me
a suave con solação d e um a força com qu e posso vencer
na vida.
A im ita ç ã o de C r is to to rn a m a is f á c il o s o fr im e n to .
E l e e s c o l h e u u m a v id a d e s o f r im e n to s p a r a n o s p o d e r d iz e r :
*C onsiderai e vede se h á uma d or igual à minha.» ( ’ ) O que
tu s o fr e s a g o r a , s o fr i-o E u p r im e ir o , e s o fr i m ais e s o fr i
p o r ti. C h o r a s a tu a p o b r e z a ? P o i s e u e s c o l h i - a v o lu n t a
r ia m e n t e . S e n t e s - t e o f e n d id o n a tu a h o n r a ? E q u e fiz e r a m
c o m ig o ? B em sab es q u e fu i e s b o f e t e a d o . Sab es que me
a p r e s e n t a r a m d ia n t e d e H e r o d e s v e s tid o d e lo u c o . F ix a -m e
na cru z. Todos me a b a n d o n a ra m , a té o m esm o céu .
C h o ras? J u n t a a s t u a s lá g r im a s c o m a s m in h a s e p e r d e r ã o
o am a rg o r. É p esad a a tu a c r u z ? C a rre g a -a um p o u co
s o b r e o s m e u s o m b r o s : n ó s o s d o is le v á - la - e m o s m a is f á c i l
m e n te . P u n g e m - t e d e m a s ia d o o s e s p in h o s d a v i d a ? R ep ara
c o m o a m i n h a fr o n te e s t á e n s a n g u e n t a d a .
« M a s . m u ita s v e z e s o s c a m in h o s p o r o n d e o S e n h o r
me le v a , são dem asiad o d if i c e i s , d em asiado p ed reg o so s,
s e m e a d o s d e e s p in h o s » . — S i m , é v e r d a d e , e q u e m p o d e r á
n e g á -lo ? M a s são im possíveis? O h! N ão. S ó p a ra quem
n ã o te m fé . S e t e n h o fé , e c r e io q u e to d o s o s fio s d a m in h a
v id a s e ju n t a m n a m ã o d e D e u s ; se t e n h o fé e c r e io q u e
e x i s t e A lg u é m , q u e n ã o s e e s q u e c e d e m im , e m b o r a to d o s
m e a b a n d o n e m , q u e m e a m a q u a n d o n in g u é m fa z c a s o d e
m im . que v e la por nós quando d o r m im o s , se te n h o fé
c r i s t ã . . . e n t ã o e u tr iu n f a r e i d a v id a .
Q u e f o r ç a te m a n o s s a fé p r e c is a m e n t e n o s o f r im e n t o !
Se nas m in h a s tr is t e z a s e a n g ú s t ia s me la n ç o nos
b r a ç o s d e C r i s t o d o lo r o s o , a v id a c o n t in u a r á a s e r u m « v a le
d e l á g r i m a s » , m a s a m in h a a l m a n ã o e s m o r e c e r á . C o n ti
n u a r e i a q u e i x a r - m e , m a s a s m in h a s q u e i x a s s e r ã o o r a ç õ e s ,
u m a o r a ç ã o s u b lim e . C o n t i n u a r e i a s o fr e r, m a s n ã o p e rd e re i
a e sp e ra n ç a , p o rq u e n ã o é a d o r qu e mata, mas o d esesp ero;
n ã o é a f o r ç a q u e c o n s e r v a a v id a . m a s a fé .
11
C om o q u e a c a b a m o s d e d iz e r , e s t á d a d a a r e s p o s ta
a um a o b je c ç ã o que a lg u n s e s p ír ito s s u p e r fic ia is podem
a p re s e n ta r: Um bom cristão terá o direito d e se q u eix ar!
CRISTO. REI DOS QUE SOFREM (II) 247
O O n sort, o n c r ie , — c e a i la v ie ;
O n c r ie . o n sort, — cesf la m ort.
248 JESUS CRISTO REI
(') S . M ateu s, xxvi, 59; S . M arcoj, xiv, 56; S . L u cas, XXII. 42.
CRISTO. R F.l DOS QUE SO FREM (II) 249
* *
M e sm o q u e o fo sse !
H a v em o s de a g a rra r-n o s à m ão de N o ss o S e n h o r Je s u s
C r i s t o e h a v e m o s d e d iz e r :
S i m , m e u Jesus, sofro, mas persevero. Q uero ser-te
fiel até qu e a fé se transforme em visão, o anelo em posse,
o breve sofrim ento terreno em glória etem a, esta vida tão
ch eia d e a n g ú s t ia s n a coroa im arcessível d a vida etem a.
\
C A P ÍT U L O X X
C) S . Jo ã o . xvi, 20.
0 S. Jo ã o . x v i, 20.
CRISTO, REI DOS CONFESSORES DA FÉ 255
II
Mas, ao falarmos da sorte que tiveram os primeiros
mártires do cristianismo, surge inevitavelmente esta questão:
O espirito heroico d e sacrifício dos primeiros mártires vive
ain da h oje nos seus descen dentes, nos cristãos dos nossos
dias? Conservamos nós. ao menos uma brasa daquele amor
a Cristo, que confortou aqueles primeiros mártires até no
suplício e até na morte? Porque temos de nos convencer
de que a perseguição ao cristianismo não cessou no decorrer
dos séculos, dura ain d a h o je em todo o mundo.
É verdade que actualmente os cristãos, não são perse
guidos pelos leões e pelos tigres nem são arrojados às feras:
os mártires de boje não são untados com pez. nem os atam
aos postes para servirem de archotes; não os lançam a água.
nem os amarram aos potros: as atrocidades mexicanas são
uma excepção no mundo civilizado ('). Mas ainda que a
perseguição não se faça com tigres e leões neste mundo
civilizado, perseguem-se e martirizam-se os cristãos com
meios mais perigosos e daninhos que os dentes do leão
e as garras do tigre: são as armas da chacota, do desprezo,
do sorriso malévolo, do silêncio, do não fazer caso.
Sim, quem hoje. no meio do paganismo moderno,
quiser manter-se fiel aos mandamentos de Deus e as prescri
ções da fé católica, pode contar que há mister do heroísmo
dos primeiros mártires; não hão-de os leões e os tigres
III
fié is , m u ito s d e v o to s , m u i t a g e n te n o s c o n f e s s io n á r io s e n a
m e s a d a S a g r a d a C o m u n h ã o .. .
É c o m o d iz o S e n h o r :
F od em os já t ir a r a c o n c lu s ã o do p r e s e n te c a p it u lo .
O c á l i c e d e a m a r g u r a d a I g r e ja e s te v e s e m p r e r e p le to .
O s e u ro s to , s e m p r e t in t o d e s a n g u e c o m q u e o b a n h a r a m
o s s e u s in im ig o s d e s d e o p r in c íp io d a s u a h i s t ó r i a : e c o n
tu d o . e s t a r e lig iã o p e r s e g u id a , e s t e c r is t ia n is m o c o n d e n a d o
à m o r te . v iv e . v iv e a i n d a h o je . e n ã o s ó c o n s e r v o u a s u a
decurso d e dois mil anos, nunca teve
e x is tê n c ia , m a s. n o
tantos fiéis com o h oje.
I 'o r m a r a m - s e e p e r e c e r a m ilu s t r e s d i n a s t i a s ; n a s c e r a m
e d e s a p a r e c e r a m v á r io s p o v o s d u r a n t e s é c u l o s : m a s a I g r e ja
c a t ó l i c a t a n t a s v e z e s a t a c a d a e p e r s e g u id a , c o n t in u a d e s a
f ia n d o c o m fir m e z a a te m p e s t a d e d o s t e m p o s ; e é d e n o t a r
q u e n ã o s e a p o i a n a f o r ç a a r m a d a , n ã o te m c a n h õ e s , n e m
t a n q u e s , n e m a v ia ç ã o , c a r e c e d e f o r t u n a e o u tr o s r e c u r s o s
h u m a n o s ; m a s p o s s u i ... u m a p a la v r a , a g r a n d e p r o m e s s a
d o seu fu n d a d o r: « A s portas d o inferno não prevalecerão
contra ela.» ( ')
N o s c o rre d o re s su b te rrâ n e o s d a s C a ta c u m b a s , o n d e o
c r is t ia n is m o p e r s e g u id o v iv e u tr e z e n to s a n o s . r e s s o a m , e m
n o s s o s d ia s , o s a c e n t o s v ib r a n t e s d e o r a ç õ e s c h e ia s d e g r a
tid ã o . q u e c a n t a m m ilh a r e s d e p e r e g r in o s c r is t ã o s .
N o l u g a r d o p a l á c i o em q u e o im p e r a d o r M a x i m i l i a n o
p r e p a r o u u m a d a s m a is t r e m e n d a s e s a n g r e n t a s p e r s e g u iç õ e s
co n tra o s c r is t ã o s , le v a n t a - s e h o je um te m p lo m a g n íf i c o ,
a B a s ílic a de S . Jo ã o d e L a trã o . In u m e r á v e is t e m p lo s , q u a
d ro s, e stá tu a s, f e s t a s ... a p reg o am o c u lto de m ilh a r e s e
m ilh a r e s d e m á r t ir e s .
E a l i, o n d e e s t a v a o tú m u lo d e N e r o q u e . in s e n s a t o ,
s e e m b r ia g a v a d e s a n g u e c r is t ã o , l e v a n t a - s e em n o s s o s d ia s
um te m p lo em h o n ra da S a n tís s im a V ir g e m , a M ãe de
M is e r ic ó r d ia , S a n t a M a r ia d el P ópolo.
E sob re o tú m u lo de um m o d e s to p escad o r, que o
m u n d o h á v in t e s é c u lo s c r u c i f i c o u d e c a b e ç a p a r a b a ix o ,
p o r p r e g a r a d o u t r in a d e C r i s t o , l e v a n t a - s e h o je o te m p lo
m a i s g r a n d io s o d a te r r a , a B a s í l i c a d e S . P e d r o ; e a lu z
d a s lâ m p a d a s , q u e a r d e m s o b r e o tú m u lo d o p r ín c ip e d o s
A p ó s to lo s , p a rece e screv er nas p a red es de m árm o re a
s e g u n d a p a r te d o v a t ic ín i o d e C r i s t o : « V ó s tereis tristeza,
mas a vossa tristeza converter-se-á em g ozo .»
E t o d a e s t a p o m p a e x t e r io r n ã o é m a is q u e a r e c o m
p e n s a te r r e n a d o s c o n f e s s o r e s d e C r i s t o . Ig n o r a m o s , q u a n d o
m u ito , c o n je c t u r a m o s qu al seja o seu galardão no céu,
o galardão qu e Cristo outorga àqu eles a quem disse uma
ocasião: *Q u em me recon hecer diante dos hom ens, também
eu o reconhecerei diante d e meu P ai qu e está nos céus.»
Is t o p o d e m o s t ê - lo c o m o c e r t o .
E x is te m d o is c a m p o s , o d o s s e g u id o r e s d e C r i s t o e o
d o s s e q u a z e s d o p e c a d o , d o d e m ó n io , e h o je c o m o s e m p re ,
u m e n f r e n ta o o u tr o .
268 JESUS CRISTO REI
S e i q u e s e g u ir a C r i s t o , s e g u ir s u a s p i s a d a s s ig n i f ic a
a b n e g a ç ã o , s a c r i f íc io , e q u e a v id a f r ív o la d o m u n d o é f á c il .
S e i q u e o s f ié is im ita d o r e s d e C r i s t o b ã o - d e p a d e c e r
m u ito , e n q u a n t o o s f ilh o s d a i n i q u i d a d e s e h ã o - d e r e g o z ija r .
E sei tam bém qu e mais vale sofrer com Cristo neste
mundo, qu e regozijar-se com os pecadores.
P e r m it e - m e . le it o r a m ig o , q u e te f a ç a u m a p e r g u n t a :
A quem preferes seguir? Q u e r e s a l i s t a r - t e s o b a b a n d e ir a
d e C r is to , o u so b a d o p e c a d o ?
C A P IT U L O XXI
E i s p o r q u e q u e r o r e s o lv e r e s t e g r a v e p r o b l e m a : Q ue
direito e qu e respon sabilidade temos nós sobre o nosso
corpo e a nossa vida terrena? Q u al é o critério d a nossa
sacrossanta religião com respeito a o nosso fim aqui na
terra? o u , p o r o u tr a s p a la v r a s , q u e s i g n i f i c a e s t a p r o p o s iç ã o :
tC risto é o R ei d a vida terrena?»
A R e l i g i ã o c a t ó l i c a f a l a c o n t in u a m e n t e n a v id a e t e r n a ,
e e s t i m u l a - n o s sem c e s s a r a m e r e c ê - l a ; m a s , nem por isso
se esqu ece d a vida terrena. C o n f o r m e a d o u t r in a d a I g r e ja ,
n ã o s ó é s a n t a a a lm a d o h o n r e m , m a s ta m b é m o é o s e u
c o r p o , p o r q u e é u m d o m d e D e u s C r ia d o r .
P e la m e s m a r a z ã o , a I g r e ja t r a t o u s e m p r e c o m s a n ta
s o lic itu d e e r e s p e ito o corp o do hom em . No h a p tis m o .
p r im e ir a s a u d a ç ã o d a I g r e ja , a á g u a b e n t a to c a o c o r p o :
o ó le o sa n to u sad o p e lo b is p o , na c o n f ir m a ç ã o , u n g e -o :
e n o e n te r r o , a á g u a b e n t a , c o m o ú lt im a s a u d a ç ã o , t o c a
de novo o corp o. P a r a n ó s a v id a te r r e n a n ã o é u m c a s t ig o ,
c o m o e n s in a a d o u t r in a n e b u lo s a d a r e i n c a r n a ç ã o a s i á t i c a .
N ã o . P a r a n ó s , a v id a t e r r e n a , e s t a v id a m o r ta l é um grande
dom e um a grande resp on sabilid ad e: p o r e la p o d e m o s o b te r
a v id a e t e r n a .
2 .° « N ã o o b s t a n t e , a I g r e ja e x i g e q u e s e ja m o s s e v e r o s
con n osco m esm os, que nos d o m in e m o s , que nos abne
g u e m o s » ...
S i m , m a s n ã o p e l a a b n e g a ç ã o e m s i, m a s p a r a assegurar
a harm onia entre o corpo e a alm a. E s t a h a r m o n ia fo i d e s
t r u íd a p e lo p e c a d o o r ig in a l. D e s d e e n tã o , o co rp o f ic o u
in c li n a d o a o p e c a d o : e n ã o p o d e m o s r e c u p e r a r a s u p r e m a c ia
d a a l m a s o b r e o c o r p o , se m s e r p o r u m a s e v e r a d i s c i p l i n a .
T o d a a h i s t ó r ia d a I g r e ja é u m a u t ê n t i c o te s t e m u n h o
de que e la s e m p re sou be a p r e c ia r , no seu ju s t o v a lo r ,
a v id a te r r e n a , e d e u - lb e s e m p r e u m a im p o r t â n c i a s u m a ,
u m a im p o r t â n c ia d e c is iv a . N ã o fo i n e g li g e n t e e m l e v a n t a r
a voz. q u an d o s e t r a to u d e a p r e c ia r p e lo s e u ju s t o v a lo r
a v id a c o r p o r a l, a p o s s i b il i d a d e e a n e c e s s id a d e d a v id a
te rre n a .
272 ]ESUS CRISTO REI
H o u v e s e i t a s m is te r io s a s (o s g n ó s t ic o s , o s m a n iq u e u s ) ,
q u e c o n s id e r a v a m o c o r p o h u m a n o c o m o o b r a d o Príncipe
d o M al e a v id a te r r e n a c o m o u m s u p l íc i o . A I g r e ja c o n
d e n o u -o s co m o h e re g e s. I g u a lm e n t e d e c la r o u c o m o h e r e g e s
o u tr o s f a n á t i c o s q u e . in t e r p r e t a n d o e r r a d a m e n te a p a la v r a
d o S e n h o r , e x ig ia m d e t o d o s u m a p o b r e z a a b s o l u t a e p r e s
c r e v ia m a d is t r i b u i ç ã o d o s s e u s b e n s .
A I g r e ja e n s in o u s e m p r e q u e n ã o s ó o e x c e s s iv o b e m
- e s t a r é in im ig o d a v id a e t e r n a , m a s é -o ta m b é m a p o b r e z a ,
a m is é r ia e x t r e m a .
O e x a g e r a d o b e m - e s t a r te r r e n o t o r n a o s h o m e n s e f e m i
n ad o s; e a e x c e s s iv a m is é r ia , e m p e d e r n id o s ; o b e m - e s t a r
t o r n a - o s o r g u lh o s o s , e a m is é r ia c a u s a o d e s e s p e r o ; o b e m
- e s t a r a f o g a a s e x i g ê n c i a s r e lig io s a s d a a lm a . e a m is é r ia
g e l a a s s u a s a s p ir a ç õ e s .
P a r a q u e a s e x i g ê n c i a s r e lig io s a s p o s s a m l e v a n t a r a s u a
v oz. é n e c e s s á rio q u e o h o m em n ã o c a r e ç a d a s c o n d iç õ e s
m a is e le m e n t a r e s de v id a . A I g r e ja s e m p re sou be is to
e s e m p re o te m e n s in a d o a s s im .
11
C o m p r e e n d e r e m o s a g o r a a s e v e r id a d e c o m q u e a I g r e ja
p r o t e g e u e d e f e n d e u s e m p re a invulnerabilidade do corpo
hum ano e d a vida terrena.
Q uem não c u id a d a saú d e com o d eve. p eca, à fa c e
d a s le is d a I g r e ja . Q u e m , p a r a se liv r a r d o s e r v iç o m ilit a r ,
c o r ta um d e d o . e s t a m u t il a ç ã o é u m p e c a d o a o s o lh o s d a
I g r e ja . E s e alguém , aborrecido d e viver, corta o fio da
vida, d a qu al não é senhor, com ete um dos maiores p eca d o s .
CRISTO, REI DA VIDA HUMANA 273
d e s t r u ís s e s . E t r a t a n d o - s e d a v id a . h á - d e - s e u r g ir a r a z ã o :
p o r q u e a v id a é m u ito m a is v a li o s a q u e o m e lh o r q u a d r o ,
a lé m d is s o , e m r e l a ç ã o a m im . a v id a é t u a . T u a n ã o m in h a .
M a s e m r e l a ç ã o a D e u s n ã o p o d e s d iz e r : é m i n h a , n ã o d e
D e u s ; é tu a n a m e d id a e m q u e D e u s ta c o n c e d e , e E l e
o u t o r g o u - t a . p a r a q u e f r u t if i q u e , a t é a o d ia em q u e t a p e ç a .
É s u s u f r u t u á r io e n ã o p r o p r ie t á r io a b s o l u t o .
3. ® «M as é tão difícil a vida! Q u a n d o n ão h á a le
g r ia . q u a n d o s e te m q u e l u t a r c o n t i n u a m e n t e ! . .. »
— N em m e s m o a s s im . E s t a v id a te r r e n a é r e a lm e n t c
m u ito im p e r f e i t a : n ã o é m a is q u e u m e s t a d o d e t r a n s i ç ã o .
S e o s o f r im e n to a m a r g u r a a e x i s t ê n c i a , e a t r is t e z a fa z c o r r e r
lá g r im a s d o s t e u s o lh o s , c o m p r e e n d e - s e . M a s q u e b r a r , r o m
p e r o fio d a v i d a ? . . . N ão , nu nca!
4. ® « M a s s e tu d o s e d e s m o r o n a n a m in h a v id a ! Se
um a fo r t u n a m a l a d q u ir id a , a fra u d e , o fa r d o e sp a n to so
d e u m a v id a d eso rd en a d a pesa s o b r e m im e m e o p r im e .
E sto u a r r u in a d o . Q u e possa ao menos expiar as minhas
cu lpas»...
E x p ia r ? S r m ; to d o o p e c a d o e x ig e u m a e x p ia ç ã o . M a s
d iz - m e : é is s o um a e x p ia ç ã o ? É e x p ia ç ã o fe ch a r, a trá s
de H. a p o rta ? Tom ar im p o s s ív e l to d a a e s p é c ie de
rep a ra çã o ?
E x p i a ç ã o é t e r v a lo r p a r a c o r r ig ir o s e rro s , a i n d a q u e
a s t u a s a l e g r i a s s e ja m p ou cas. E x p i a ç ã o é te r v a lo r p a r a
rep arar com um tra b a lh o h o n ra d o d e d ez e n a s de a n o s os
p e c a d o s c o m e t id o s . M a s n ã o é e x p i a ç ã o , m a s s im c o b a r d i a ,
pôr p o n to f in a l com um a b a la de r e v ó lv e r num a v id a
f a l h a d a : n ã o é e x p i a ç ã o , m a s u m a f u g a c o b a r d e p o r q u e te
recu sa s a p a g a r o q u e d ev es. É u m a m a n e ir a d e p e n s a r
c o m p le ta m e n t e e r r a d a e i n ju s t a .
CRISTO. RB DA VIDA HUMANA 275
III
Se la n ç a r m o s um o lh a r à n o ssa v o lt a , v e r e m o s c o m
a s s o m b r o , q u e e s t a m a n e ir a d e p e n s a r e r r ó n e a e in s e n s a t a
<lo s u . c d . o . p r o p a g a - s e h o je c o m o e p id e m ia d e s a s t r o s a e n t r e
os h o m en s. P r o p a g a - s e ... d esd e q u a n d o ? D esd e q u e há
m u rto s d e s e n g a n o s a m o r o s o s ? D e s d e q u e h á m u ito s a lu n o s
re p ro v a d o s? D e s d e q u e co rrem m a l os n e g ó c io s ? N ã o e ste
m al n ão é c o is a nova n a h u m a n id a d e . D i f u n d e - s e e n tr e
desd e qu e o pensam ento cristão, a vida religiosa,
os h om en s
se debilitaram entre os hom ens.
A vida hum ana perdeu o seu valor. C o m o c h e g a m o s a
ta o fu n e s t a c o n s e q u ê n c i a ? E squ ecen do-n os d a vida eterna.
a r e c e e s t r a n h o , m a s é v e r d a d e : o a p o io , a f o r ç a , a d e f e s a
d e s t a v id a terrena é p r e c is a m e n t e a v id a eterna.
Os i n f e liz e s s u ic id a s in v o c a m d iv e r s o s m o tiv o s p a r a
ju s t i f ic a r e m a su a acção: a d e s g r a ç a , a c r is e e c o n ó m ic a
a d oen ça, os d e s e n g a n o s ... M as. quem d u v id a que na
m a io r ,a d o s c a s o s , s e d e t e r ia o b r a ç o s u i c i d a s e lh e fiz e s s e m
c o m p r e e n d e r a respon sabilidade qu e tem diante d e Deus.
e a virtude d a esperança posta n o Senhor?
E i s a í u m a g r a n d e v e r d a d e , u m a l iç ã o d a e x p e r i ê n c i a :
a v ,d a h u m a n a , a v id a s o c i a l, n e c e s s it a d o a p o io d a r e lig iã o .
U m a v id a d ig n a d o h o m e m e a r e lig iã o fo rm a m um
o to d o c o m o o c o r p o e a a l m a . O corp o é o E s ta d o : o seu
■m. a p r o s p e r id a d e n a t u r a l d o p o v o . A a l m a é a r e lig iã o
JESUS CRISTO REI
276
o s e u fim . a f e li c id a d e e t e r n a d o h o m e m . H o je v ê -se e m
m u ito s la d o s e s t a t e n t a t i v a i n s e n s a t a d e q u e o E s t a d
se p r e o c u p e c o m a r e lig iã o , q u e a r e lig iã o n ã o s e ,a a a lm a
C n S P o d e ria d u r a n t e m u ita s h o r a s , c o n t a r - v o s c a s o s , q u a l
d e le s o m a is in v e r o s ím il. C ita re i a lg u n s ao acaso ; e le s
b a s t a r ã o p a r a s e c o m p r e e n d e r c o m o h o m e m se a v il t a . c o m o
b a i x a o s e u n ív e l e s p ir i t u a l, c o m o d e s a p a r e c e d o s e u r o s to
a d ig n id a d e h u m a n a , se d u r a n t e a sua p e r e g r in a ç ã o t e r r e n a
r e p e le a m ã o d e N o s s o S e n h o r J e s u s C r is t o .
A lg u m a s v ezes b a s t.-m , u«na s im p le s a o t .c a
jo r n a l p a r . c o m e ç a r com . . m in h a s r e f le x õ e s .
n o r e x e m p lo , a A d m in is t r a ç ã o d o s C o r r e io s d o s E sta d o s
U n id o s P u b l ic o u a n o tíc ia d e h a v e r a d o p ta d o um a - v
m e d id a a t ít u lo de e x p e r iê n c i a , com o p t.m o s r e s u lta d o s .
T que P o r ta n to a a d o p t a r i a d e f in it iv a m e n t e , e a r e c o m e m
d a r ia a t o d o s o s i n t e r e s s a d o s . Q u a l é a in o v a ç ã o ? Q «e o
c o r r e io s e c o m p r o m e te a tra n sp o rta r, co m o « a m o stra sen
v a lo r » , a b a i x o p r e ç o , a s c in z a s d o s c a d á v e r e s m c m e r a d o s ^
Q uem q u i s e r p o is p o d e c o n f ia r a o c o r r e io , p o r u m a t a x a
• J n - s e u s e n t e s q u e r id o s , c o m o « a m o s tr a
m in im a . a s c in z a s d o s s e u s e n t e s q r o n tu d o
se m v a lo r » . Q u e h á a q u i q u e e s c a n d a l iz e ? t c o n t u d o
m e d ite i d u ra m e n te um q u a rto de h o ra p e n s a n lo nes
n o tíc ia s e n s a c i o n a l. N ão s e n tim o s que e sta n o tic a nos
revela algum a coisa q u e n ão e stá bem ? Q u e algum a c o is a
n a g e m a o fin a d o ; d a í o n o m e d e « h o n ra s fú n e b r e s ^ H o ,c
m o r re um c h e fe de b a n d id o s , ou s u ic id a -s e um h om em
d e s e s p e r a d o , e o s h o m e n s e a s h is t é r ic a s e n ã o h i s t é r ic a s ,
e x c i t a d a s p e l a s n o H c ia s f a n t á s t i c a s d o s jo r n a is , s ã o c a p a z e s
d e e s p e r a r d u r a n t e la r g a s h o r a s , e s a c r i f i c a r d ia s in t e ir o s ,
p a r a p r e s e n c ia r e m o m o m e n to d o e n te r r o . S á b io s , a r tis ta s ,
p a is d e f a m íl i a , q u e c u m p r e m c o n s c ie n c io s a m e n te o s seu s
d e v e r e s , l u t a n d o h e r o i c a m e n t e a t é a o fim , s ã o a c o m p a n h a d o s
p o r u n s p o u c o s s o m e n te a t é à ú lt i m a m o r a d a ; m a s s e fo r
u m a s s a s s i n o , u m s u ic id a , o s jo r n a i s e n c h e m a s s u a s p a g in a s
d e n o t i c i á r i o e f o t o g r a f ia s , e a s m u ltid õ e s c o r re m a ver o
e n te rro . N ão vos parece qu e h á qu alqu er d eficiên cia no
juízo dos hom ens?
O u t r o c a s o : N ã o h á m u ito q u e m o r r e u em N o v a I o r q u e
u m d o s m a is te m iv e is c r im in o s o , e o s e u fé r e tr o fo i l i t e r a l
m e n te c o b e r t o d e flo r e s e c o r o a s . N a A l e m a n h a p r e n d e r a m
um la d r ã o fa m o s o e fo i le v a d o a B e r l i m ; à s u a c h e g a d a ,
e s p e r a v a - o g r a n d e m u ltid ã o , q u e o r e c e b e u c o m u m a e s t r o n
d o s a o v a ç ã o . V i n t e a n o s a t r á s , e r a m o s p o l íc i a s q u e t in h a m
d e d e f e n d e r o c r im in o s o , p a r a q u e a m u l t i d ã o e n f u r e c id a
o n ã o l in c h a s s e . H o je . tê m q u e im p e d ir q u e a s m u ltid õ e s
o s le v e m a o s o m b r o s e m t r i u n f o ... N ão vos parece qu e an da
errado o juízo dos hom ens?
E q u e d ir e m o s d o s u p o s to « c lu b e d e s u ic id a s » que.
p o r m e io de c o n f e r ê n c ia s p e r ió d ic a s , q u e r e m s u g e r ir a o s
s e u s s ó c io s u m d o s m a io r e s p e c a d o s : o s u i c íd i o ?
Q u e c o is a h o r r ív e l — d e q u e n in g u é m , a o q u e p a r e c e ,
s e a d m ir a — q u e ju n t o d a s p o n te s d o D a n ú b i o , t e n h a d e
h a v e r e s t a ç õ e s d e s a lv a m e n to c o m o s d e v id o s b a r c o s , q u e
d ia e n o it e esp eram os c a n d id a t o s v o lu n t á r i o s à m o r te !
N in g u é m s e n te n e s t a f u t i l id a d e , in s ig n i f ic a n t e n a a p a r ê n c i a .
278 JESUS CRISTO REI
o h o r r o r d a c i v i l i z a ç ã o m o d e r n a , q u e s e d iv o r c io u d e C r i s t o ?
N ão sentimos todos a bancarrota definitiva d a incredu
lid ad e?
C o is a s a in d a m a is fa n tá s tic a s . U tiliz a n d o a m is é r ia
a l h e ia , e x p õ e m -s e à c u r i o s i d a d e d o p ú b li c o , e s s e s a b o r to s
e a l e ijõ e s d a n a t u r e z a e em p o u c o s d ia s , r e c o lh e - s e u m a
fo rtu n a ! E a m u lh e r q u e m a g n e t i z a ! E o a d iv in h o ! E os
c h a r l a t ã e s q u e h ip n o t iz a m c o m a l g o d ã o u n t a d o d e g o r d u r a !
E t a n t o s o u tr o s c a s o s !
u m p o s to d e s e n t in e l a d e s ig n a d o p e lo A lt ís s i m o , q u e n ã o
a b a n d o n a r c o b a r d e m e n t e , m o s tem d e se guardar
é l íc i t o
m esm o no m eio d a lam a e n a tem pestade, ao sol e ao gelo,
na prosperidade e na desgraça, cum prindo sem pre o dever
inquebrantàvelm ente.
« Q u e m tem ouvidos, qu e e s c u t e . .. A o q u e v e n c e r darei
a com er d a árvore d a vida, qu e está no m eio d o paraíso
d o m eu D eu s*. (*)
Com is to c h e g a m o s à c o n c l u s ã o d e s te c a p ít u lo .
C r i s t o é t a m b é m R e i d a v id a t e r r e n a e s ó a f é v iv a .
fir m e m e n te a l i c e r ç a d a e m C r is t o , p o d e a ju d a r - n o s a t r i u n f a r
n a l u t a d e s t a v id a . tã o d u r a .
P a r a s u b ir m o s u m c a m i n h o e s c a r p a d o s o b r e u m a b is m o .
necessitam os d e guardas p a r a n ã o c a ir m o s c o m v e r tig e n s .
O c a m i n h o e s c a r p a d o é a v i d a ; a s g u a r d a s s ã o a fé.
Ê preciso um a força d e propulsão p ara pôr um a
m á q u i n a e m m o v im e n t o ; a m á q u in a é a v id a , a f o r ç a p r o
p u ls o r a é a fé.
É necessária a chuva p a ra a m a d u re c e r a se m e n te la n
ç a d a à te r r a c o m ta n to tr a b a lh o . A s e m e n te é o t r a b a l h o
d e s t a v i d a ; a f o r ç a f e c u n d a n t e é a fé .
Ê necessário o raio d o sol matinal, que s o r r ia com
e s p e r a n ç a a o p e r e g r in o q u e c a m i n h a v a a c u s t o p e la n o ite
s o m b r ia . A n o it e é a v id a t e r r e n a , c h e i a d e l u t a s ; o r a io
d e s o l é a fé .
N ã o h o u v e é p o c a e m q u e s e v is s e c o m m a is c la r i d a d e
do que em n o sso s d ia s , a g ran d e lu ta da h u m a n id a d e :
o c o m b a t e d e s e s p e r a d o e n t r e o d iv in o e o d ia b ó l ic o , e n t r e
o b e lo ' e o fe io . e n tr e a id e ia c r is t ã e a i d e i a p a g ã .
C o m C r is t o , a v id a t e r r e n a , c h e ia d e lu t a s , é u m d e v e r
d ig n o d o h o m e m ; sem C r is t o , a v id a n ã o é m a is d o q u e
u m a « a m o s t r a se m v a lo r » .
E s c o lh a m o s p o i s : C r i s t o , o u o A n t i - C r i s t o ?
D eu s. ou S a ta n á s ?
O r e in o d e D e u s n a te r r a , o u o in f e r n o e s c u r o q u e s o h e
à te rra ?
S en h o r! O m e u c o r p o e a m i n h a a l m a . tu d o é v o s s o .
D a i - m e f o r ç a , s a ú d e , u m c o r p o c a p a z d e t r a b a l h a r u n id o a
u m a a l m a p u r a . a fim d e q u e t o d a s a s o b r a s d a m i n h a v id a
te r r e s tr e s e ja m um lo u v o r c o n t in u o e m V o s s a h o n r a .
Q u e eu seja a harpa, e V ó s o canto qu e d ela brote!
Q ue eu seja o fogo e q u e em mim arda o V o s s o am or!
Q ue eu seja o roble e V ós a força qu e me sustente!
Q ue eu seja o mar e V ós a im ensidade qu e me en cha!
Q ue eu seja o V osso filh o obed ien te n a terra, para qu e
possa ser um dia o vosso filh o feliz na vida etem a!
C A P ÍT U L O X X II
C risto, R ei d a M ulher
Ç
)fo p r in c íp io d o s é c u lo v . R o m a v iv e u t r is te s e e n l u -
CAÍ ta d o s d ia s ; as ondas d e v a s ta d o ra s d a s in v a s õ e s
b á r b a r a s , à s o rd e n s d e A l a r i c o . in v a d ir a m e a r r u in a r a m a
c id a d e e t e m a . o u tr o r a tã o r ic a e o p u le n t a . A a r i s t o c r a c ia
p a g ã r o m a n a c e n s u r a v a a m a r g a m e n t e o s c r i s t ã o s : « V ó s s o is
a c a u s a d e to d o s e s t e s m a le s .»
— g r ito u S anto A gostinho, no seu liv r o De
C ivitale D ei. — N ó s ? P o r te r m o s d e r r u b a d o o s v o s s o s
id o l o s ? — P elo c o n t r á r io , vieram todas estas calam idades,
porque ain d a acreditais neles. P or isso nos assola a
desgraça».
Tam bém se d e s m o r o n a b o je o m u n d o a c t u a l . E será
A o contrário; porqu e não o somos,
p o rq u e so m o s c r is tã o s ?
porque não seguim os deveras a C ris to. A h u m a n id a d e ,
a s o c ie d a d e , a f a m ilia m o d e r n a , a d o r a m a i n d a m u ito s íd o lo s .
A i d o l a t r i a c o n t in u a à n o s s a v o l t a ; te m o s m á x im a s p a g ã s ,
te m o s um c o n c e ito d a v id a c o m p le ta m e n t e p a g ã o , id o la
tr a m o s o s p r a z e r e s . c o m o s e fô s s e m o s p a g ã o s ; p o r is s o o
m u n d o c a m b a le ia . V i m o s j á n o s c a p ít u l o s a n t e r io r e s p a r a
o n d e c a m i n b a a h u m a n i d a d e se s e s e p a r a d e C r i s t o . C h e g a
m o s a g o r a a u m n o v o te m a . c u ja im p o r t â n c ia é i n d is c u t ív e l.
T r a t a r e m o s d a q u e s t ã o d a m u lh e r , s o b e s te t i t u l o : — C risto
— R ei d a mulher.
282 JESUS CRISTO RFJ
A « q u e s t ã o fe m in in a » é , s e m d ú v id a a lg u m a , u m d o s
p r o b le m a s m a is d is c u t id o s d o n o s s o t e m p o : f a l a d a m u lh e r
o m é d ic o , o p o l ít ic o , o s o c ió lo g o , o te a tro , a l it e r a t u r a ;
ta m b é m o s a c e rd o te h á -d e fa la r.
E x a m in e m o s q u a l e o c o n c e ito d e Je s u s C r is to e d a
su a I g r e ja a r e s p e ito da m u lh e r . Q u ero e s c l a r e c e r d o is
A qu e altura elevou Cristo a m ulher? Q u e seria
p o n to s:
d a mulher sem C risto?
Q u e r e i s s a b e r o q u e a m u lh e r d e v e a C r i s t o ? C onsi
derai qu al a su a sorte, a su a p osição antes qu e o V erbo
se fizesse ca m e. Q u e d e g r a d a ç ã o h u m i lh a n t e e r a a s u a ,
m e s m o n o m e io d a c iv i li z a d a s o c ie d a d e g r e g a .
É u m f a c t o h is to r ic o q u e a m a io r p a r t e d a p o p u la ç ã o
h e l é n i c a se c o m p u n h a d e e s c r a v o s . C o m o a o s e sc ra v o s se
p r o ib ia em g e r a l o m a tr im ó n io , c o n s e q u e n t e m e n t e a maioria
das donzelas gregas não se p o d ia casar.
Se não se p o d ia m casa r, e sta v a m e x p o sta s à m a is
p r o f u n d a d e g r a d a ç ã o m o r a l. E , se u m a e sc ra v a c h e g a v a a
c a s a r - s e . o s e u m a tr im ó n io p o d ia d is s o lv e r - s e , a o c a p r ic h o
d o seu sen h o r.
N ã o e ra m e lh o r a c o n d i ç ã o d a m u lh e r n a s a l t a s c la s s e s
d a s o c ie d a d e . O jo v e m g r e g o r e c e b i a t o d a a c u l t u r a e s p i
r it u a l d o s e u te m p o , a o p a s s o q u e a s d o n z e la s n ã o a p r e n
d ia m m a is q u e a c a n t a r e a d a n ç a r .
Em c o n s e q u ê n c ia d e s ta en o rm e d if e r e n ç a e s p ir it u a l,
e n tr e o h o m e m e a m u lh e r n ã o p o d ia e x i s t i r u m a p e r f e ita
c o m p c n e t r a ç ã o e u n iã o , a q u e l a h a r m o n ia c o m p le ta , s e m a
qual é im p o s s ív e l um a f e liz c o n v iv ê n c ia c o n ju g a l . P io r
CRISTO. REI DA MULHER 285
a in d a , s e te m o s e m c o n t a q u e n ã o e r a o jo v e m q u e e s c o l h ia
a e s p o s a , m a s e s t a e r a - l h e im p o s t a p o r s e u p a i.
E qual era a s it u a ç ã o da m u lh e r casad a? T in h a
a p o s e n to s à p a r te e m casa, e não p o d ia a b a n d o n á - l o s , a
n ã o s e r p a r a o s e x e r c íc io s r e l ig io s o s ; h a v i a g u a r d a s e s p e
c ia is que v ig ia v a m p a ra que a m u lh e r n u n c a s a is s e de
casa. S e o m a r id o q u is e s s e , p o d ia r e p u d iá - la , d iv o r c ia r - s e .
A m u lh e r n ã o p o d ia r e a l iz a r c o n t r a t o s de n e g ó c io s , n ã o
p o d ia C o m p ra r, n e m f a z e r te s t a m e n t o . S e e n v iu v a v a , s e u
f ilh o m a is v e lh o f i c a v a s e u t u t o r . ..
E n c o n tra v a ao m enos a le g r ia n o s se u s filh o s ? N em
is s o . O p a i t i n h a o d ir e ito , c in c o d ia s d e p o is d o n a s c im e n t o
d o f ilh o , d e d e c i d i r s e o d e v ia a c e i t a r o u e x p ô - lo e d e i x á - l o
m o r r e r à fo m e , a b a n d o n a d o . E q u a n d o o f ilh o n a s c i a d e f e i
tu o s o , e n f e r m iç o , o u e r a u m a m e n in a , e n t ã o n ã o r e f l e c t i a
m u ito : m a is c u s t a h o je à d o n a d e c a s a e s c o l h e r e n t r e o s
g a tin h o s d a n in h a d a q u a l d e v a c o n se rv a r. P arece esp an
to s o , m a s e r a v e r d a d e . A m u lh e r g r e g a n ã o t i n h a h o n r a ,
n e m lib e r d a d e , n e m a m o r , n e m d ir e it o a lg u m . N ã o cen su
r a m o s o p o v o g r e g o , q u e c h e g o u a o m a is a lt o g r a u d e c i v i
l iz a ç ã o . d e e s t a r t ã o a f a s t a d o d a h u m a n id a d e e g r a n d e z a
m o r a l, m a s d e p lo r a m o s a f r a q u e z a h u m a n a q u e . sem C r is t o
a ilu m in a r c o m a s u a lu z d iv i n a o s s e u s c a m in h o s , a v a n ç a
à s a p a l p a d e l a s n o m e io d a e s c u r id ã o .
E se era tã o d e p lo r á v e l a s o r te da m u lh e r n o s e io
do povo m a is c u lto da a n t i g u id a d e , que s e r ia e n tr e as
n ações b á rb a ra s? O s h o m en s co m p rav am a esp osa e v en
d ia m s u a s f i lh a s a o s p r e t e n d e n t e s . E p o r is s o a p o lig a m ia
e s t a v a n a o rd e m d o d ia . e t o d o o p e s o d o t r a b a l h o c a í a
s o b r e e la .
284 ]ESUS CRISTO REI
E s c u r a , m u ito e s c u r a e r a a n o i t e d a v id a d a m u lh e r ,
a n te s d e C r is to . M a s e sta n o ite e s c u r a v ê -s e d e r e p e n te
ilu m in a d a p e la lu z té n u e da e s tr e la de B e lé m . C hega
C r is to ! R e g o z i ja i - v o s to d o s o s o p r im id o s , t o d o s o s p e c a
d o r e s . o s p o b r e s , a s c r ia n ç a s , a s m u l h e r e s ... r e g o z ija i- v o s 1 ...
Q u e deve a m ulher a Cristo?
Em p r im e ir o lu g a r , c ju e o hom em se te n h a d ig n a d o
f a l a r - lh e c o m o a um a pessoa d e igual categoria. S im ; e n ão
e s t r a n h e is e s t a a f i r m a ç ã o . A o s e s c r i b a s e d o u to r e s ju d e u s
e r a -lh e s p r o ib id o fa la r com u m a m u lh e r , a i n d a q u e fo s s e
a s u a p r ó p r ia ir m ã . N o s s o S e n h o r J e s u s C r i s t o a b o l i u e s ta
le i h u m i lh a n t e . Q u e n o s d iz a S a g r a d a E s c r i t u r a q u a n d o
n os c o n ta a c e n a d a S a m a r ita n a ? Q u a n d o o s d is c íp u lo s
v o lta m da c id a d e e n c o n tra m o Senhor a fa la r com a
S a m a r i t a n a ju n t o a o p o ç o d e J a c o h ; e a S a g r a d a E s c r i t u r a
fa z n o t a r : « O s seus discípulos estranharam qu e falasse com
aqu ela m ulher .» ( ') M a s o S e n h o r n ã o s e p r e o c u p o u c o m
is s o . e fo i e s t e o p r im e ir o p a s s o d e c is iv o a f a v o r d o r e s p e ito
p e la m u lh e r e d a s u a e m a n c i p a ç ã o .
E x i s t e m , a lé m d is s o , n u m e r o s a s p a r á b o l a s d o S e n h o r
e m q u e le m b r a t a n t a s v e z e s o s p e s a r e s , o s s o fr im e n to s , o s
t r a b a l h o s d a m u lh e r . S ó c r a t e s . o g r a n d e filó s o f o , q u a n d o
com eçav a a fa la r de f i lo s o f ia , m andava s a ir d a s a la as
m u lh e r e s , p a ra que não p e rtu rb a sse m a s a b e d o ria dos
h o m e n s : C r i s t o , p e lo c o n t r á r io , a lu z d o m u n d o , s a u d a v a
com b e n e v o lê n c i a a s m u lh e r e s d o s e u a u d it ó r io , a s m ã e s .
e n s in a n d o q u e e l a s ta m b é m têm u m a a lm a im o r t a l, ig u a l
à dos h o m en s. R e a lm e n te C r is to é o R ei d a s m u lh e r e s .
0 S. Jo ã o , iv, 27.
CRISTO. REI DA MULHER 285
S e r á n e c e s s á r io r e c o r d a r o u tr o s a c t o s d e C r i s t o ? D es
c r e v e r m a is u m a v e z o c o r a ç ã o c h e io d e a m o r d e C r i s t o ?
C o n t e m p l e m o - lo q u a n d o r e s s u s c i t a o f ilh o ú n ic o d a v iú v a
d e N a im ! Q u e c o m p a i x ã o e t e r n u r a e le s e n te p o r a q u e l a
m ã e d e b u l h a d a e m lá g r i m a s ! C o n t e m p l e m o - lo q u a n d o , s o b
o fo g o d o s o lh a r e s e s c a n d a l iz a d o s d o s f a r is e u s , f a l a c o m
am or a M a d a le n a a r r e p e n d id a , de r o s to r u b o r iz a d o p e la
v e r g o n h a ; c o m o E l e d e v e te r s e n t id o c o m p a i x ã o e a m o r p o r
e s ta p e c a d o ra a rr e p e n d id a !
E sc u te m o s com o c o n fu n d e a so b erb a dos fa r is e u s
q u a n d o le v a m a s e u s p é s u m a m u lh e r a d u lt e r a , p a r a q u e
s e j a a p e d r e ja d a . C o m q u e a m o r , c h e io d e p e r d ã o , lh e f a l a !
C o n t e m p l e m o - lo nos ú lt im o s p asso s d a su a v id a m o r ta l,
c o b e r to d e s a n g u e , s o b o p e s o d a c r u z , q u a n d o E l e m a is
n e c e s s it a v a d e c o n f o r t o , e s q u e c e n d o - s e d e s i, p a r a c o n s o l a r
a s m u lh e r e s q u e c h o r a m . S e r á p r e c is o i n s is t ir m a is n o q u e
d eve a m u lh e r a C r i s t o , q u e c o n f io u o a n ú n c io ju b i l o s o
d a su a r e s s u r r e iç ã o às m u lh e r e s q u e fo ra m v is i t a r o s e u
t ú m u lo ?
3.° S e Cristo respeitou a mulher, tam bém a respeitou
a S an ta Igreja, o C r i s t o m ís t ic o q u e c o n t in u a v iv e n d o e n tr e
nós. São in u m e r á v e is a s b ê n ç ã o s q u e b r o t a r a m d e sta a t i
tu d e d a I g r e ja p a r a c o m a m u l h e r !
N os p r im e ir o s s é c u lo s d o c r is t ia n is m o , a p r o v e ito u os
s e r v iç o s d a s m u lh e r e s p a r a c u i d a r d o s d o e n t e s e p r a t i c a r
to d a a s o r te de c a r id a d e ; m a is a in d a , na Id a d e M é d ia
f r a n q u e ia - l h e s a e n t r a d a n a s a c a d e m i a s .
P o rta n to , a ed u cação e s p ir it u a l e in s tr u ç ã o e e le
v a ç ã o d a m u lh e r n ã o é u m a c o n q u i s t a d o s n o v o s te m p o s
« d e lu z » , m a s d a I d a d e M é d i a c a t ó l i c a , c h a m a d a i r o n i c a
m e n te «escu ra». Tem os dados p a ra p r o v á - lo . Sabem os
286 JESUS CRISTO REI
q u e q u a n d o R o u s s e a u e s c r e v ia a d A l e m b e r t q u e a m u lh e r
n á o p o d e t e r t a le n t o n e m q u e d a p a r a a a r t e : q u a n d o K a n t
a p r e g o a v a q u e à m u lh e r lh e b a s t a v a s a b e r q u e n o m u n d o
e x is t e m o u tr o s u n iv e r s o s e o u tr a s b e le z a s , a lé m d e la s , j á
e n t ã o , e m u ito a n t e s , n o s é c u l o x u , a I g r e ja f u n d a r a c á t e d r a s
d e p r o f e s s o r a s n a s u n iv e r s id a d e s d e S a l e m o , d e B o l o n h a
e de P ád u a.
J e s u s C r is to fo i o p r im e ir o q u e m o s tr o u a fo r m o s u r a
d a a lm a f e m in in a , e , g r a ç a s a E l e , a m ulher tom ou-se o
qu e h o je é na actu alid ad e: c o m p a n h e ir a do hom em , de
c a t e g o r i a ig u a l à d e le .
Só quem v iv e um a v id a s in c e r a m e n t e c r is t ã , pode
escre v e r o q u e escrev eu o co n d e E s t ê v ã o S z é c u e n y i (* ) « à s
m u lh e r e s d e a l m a m a is b e l a d a n o s s a é p o c a » : « M u i t a c o is a
b e l a e n o b r e q u e h á n a h u m a n id a d e é o b r a d o v o s s o s e x o .
V ó s le v a is e m v o s s o s b r a ç o s o v iv e ir o d a v id a e o e d u c a is
p a r a q u e s e ja b o m c id a d ã o . Em v o sso n o b re o lh a r b e b e
o h o m e m â n im o e v a l e n t i a . .. V ó s s o is o s a n jo s c u s tó d io s
d a v ir tu d e e d a n a c i o n a l i d a d e ...»
II
M as ao chegar a e s te p o n to do n o sso r a c io c ín i o ,
o c o r r e -m e u m a p e r g u n t a i m p o r t a n t e : •
V iv e n a c o n s c iê n c ia d o h o m em m o d e rn o e p r in c ip a l
m e n te na c o n s c iê n c ia da p r ó p r ia m u lh e r , e ste a lt ís s im o
c o n c e i t o a s e u r e s p e it o ? C o m p e s a r te m o s d e c o n s t a t a r q u e
o sublim e conceito cristão, m u ita s vezes por c u lp a das
s ig n if ic a d o .
H o je , c o n s id e r a - s e a m u lh e r s o b tr e s a s p e c to s : um ,
p r o f u n d a m e n t e d e g r a d a n t e , o u tr o , s u p e r f ic ia l e u m te r c e ir o ,
s é r io e c r is t ã o .
O p r im e ir o — o m a is h u m i lh a n t e — é o co n ceito , Que
a id a h o je persiste, d o an tigo m u n do p a g ã o . S ó q u e r o c i t a r
u m e x e m p lo .
O Xá da P é r s ia , a n te s da g u erra de 1914. ia com
fre q u ê n c ia a K a rls b a d . D is fr u ta v a com e n t u s ia s m o das
d e l íc ia s d a q u e l a m a g n íf i c a e s t a ç ã o b a l n e á r i a e n ã o v i a n a d a
d e e x t r a o r d in á r io n o fa c to d e q u e . q u a n d o d e p o is d e s u a
c h e g a d a , a s s u a s n u m e r o s a s m u lh e r e s fo s s e m t r a n s p o r t a d a s
d o c o m b o io a o h o t e l, em carro s fe c h a d o s , e a l i f ic a s s e m
e n c e r r a d a s , d u r a n t e to d a a s u a p e r m a n ê n c ia e m K a r l s b a d ;
e , a o p a r t ir p a r a a s u a p á t r i a , e r a m d e n o v o le v a d a s em
carro fe c h a d o p a r a a e sta ç ã o . Uma v id a p io r q u e a de
p od en g os!
A o q u e c h e g a u m a m u lh e r se m C r i s t o ! E e s t e c o n c e it o
d e g ra d a n te da m u lh e r , n ã o é e x c lu s iv o , i n f e liz m e n t e , do
X á d a P é r s ia !...
288 JESUS CRISTO REI
2 .° E . q u a l é o c o n c e i t o q u e m u ito s e u r o p e u s fa z e m
da m u lh e r ? N ão ju lg a m e le s que é m a té ria a p ta p ara
encher o h arém ? U m a bon eca deliciosa, um brinquedo
caro? E m esm o m u ita s r a p a r ig a s não p en sam de o u tr a
m a n e ir a ; a s p o b r e z in h a s d e s d e a i n f â n c i a fo ra m e d u c a d a s
n e s t e s e n tid o .
R e c e a v a - s e q u e u m a r z in h o a s m a g o a s s e , p o u p a v a m - lh e s
q u a lq u e r e sfo rço , q u a lq u e r s a c r i f íc io . «P ob re pequena»!
a s s im as d e s c u lp a v a m quando lh e s era d if íc i l a p ren d er
um a liç ã o ou quando t in h a m que le v a n ta r -se de m anhã
c e d o p a r a ir à m is s a . E e la s p e r s u a d ia m - s e d e q u e u m a
r a p a r ig a v e io ao m undo só p a ra c o m e r , d o rm ir, v e s tir -s e
e v is i t a r as a m ig a s , e a in d a p ara saber s u s te n ta r um a
c o n v e r s a a lg o a n i m a d a . P o b r e r a p a r i g a ! . ..
D e p o is c a sa m . C a s a m , m as n ã o o u sam g ra v a r o seu
m o n o g ram a na b a ix e la de p ra ta , p o rq u e sabe D eus se
d e n tr o e m p o u c o n ã o o t e r ia m d e tir a r . Q u a n d o o u v i is to
p e la p r im e ir a v e z . fiq u e i e s p a n t a d o ; e n t ã o h o je r e a liz a m - s e
ca sa m e n to s com a p re c a u ç ã o d e n ã o b o rd a r o m o n o g ram a
n a r o u p a b r a n c a , p o r q u e s e d u v id a s e a « f i d e l id a d e e t e r n a »
n ã o c h e g u e a t é à p r im e ir a b a r r e i a ? !
P ob re, p o b re m u lh e r m o d e r n a ! C a s a - s e ..., e fic a o
que era, um a g r a c io s a b o n e q u in h a . um a l in d a p la n ta
d e c o r a t i v a .. . q u e n ã o se r v e p a r a n a d a . A m á v e l q u a n d o se
cu m p rem to d o s o s s e u s d e s e jo s ; m a s t o r n a - s e c a p r ic h o s a ,
c h o r a e s o l u ç a , s e o m a r id o lh e n e g a o q u e s o l i c i t a . A s s im
s e c h e g o u a m o ld a r e s s e tip o d e m u lh e r d ig n o d e c o m p a ix ã o ,
q u e n ã o te m o u tr o a f ã . o u tr o p e n s a m e n t o , s e n ã o o v e s t ir - s e ;
u m v e s tid o c u r to , u n s b r i n c o s v is to s o s , u n s s a p a t o s d e p e le
de la g a r t o , uns chapéus de p e le de b ezerro , m a n ic u r a
a p u r a d a , c o s t u r e ir a , t e a tr o , c i n e m a .. . e n a d a m a is .
CR/STO. REI DA MULHER 289
Eu m esm o o u v i a s e g u in t e fr a s e d o s l á b io s d e u m a
d e s t a s m u lh e r e s m o d e r n a s : « A h ! m e u D e u s . c o n t a n t o q u e
m e c o n c e d a is q u e e u m e p o s s a l e v a n t a r u m a s ó v e z a n t e s
d a s o n z e !»
Q u a l é o c r it é r io d o C r is t ia n is m o n e s t a q u e s t ã o ?
E x a m in e m o s m a is p ro fu n d a m e n te a q u e stã o , e exa
m in e m o s o que nos d iz o A n t i g o T e sta m e n to acerca do
h o m e m e d a m u lh e r .
D e p o i s d a q u e d a d e n o s s o s p r im e ir o s p a is , o S e n h o r
d is s e : « P orqu e
ouviste a voz d e tua mulher, e com este o
fruto d a árvore d e qu e te proibi comer, m aldita seja a terra
por tua causa. P elo trabalho custoso grangearás d ela o
alim ento em toda a tua vida. Espinhos e abrolhos ela
produzirá... C om erás o p ão com o suor d o teu rosto, até
qu e voltes à terra don d e saiste... porqu e és p ó e em p ó te
hás-de tom ar.» ( ’ )
E i s a m is s ã o d o h o m e m , s e g u n d o o m a n d a t o d iv in o .
N ó s . o s h o m e n s , te m o s d e c a v a r a te r r a , t r a b a l h o d e m a s ia d o
d u r o p a r a a s m u lh e r e s .
N ó s e x t r a ím o s d o fu n d o d a s m in a s o fe rro e o c a r v ã o ;
d e n ó s d e p e n d e o c o m é r c io e a i n d ú s t r ia ; n ó s s e m e a m o s
e c o lh e m o s a s s e m e n t e ir a s ; t ir a m o s a p e d r a d a p e d r e ir a ,
e c o n s t r u ím o s a s c a s a s : d e s c o b r im o s n 0 m e io d e m il p e r ig o s
() G é n e s is , m, 17-19.
19
290 JESUS CRISTO REI
os n o v o s m u n d o s , la n ç á m o s p o n te s s o b r e c a u d a lo s o s rio s ,
p e r fu r á m o s os ro ch ed o s a b r in d o tú n e is , p a ra o c o m b o io ,
e cavám os a te r r a p a r a fa z e r a s c a n a l i z a ç õ e s . C o n fo r m e
a v o n t a d e d iv in a , o hom em é o obreiro do mundo.
E a m u lh e r ?
E s c u te m o s a p a la v r a d o S e n h o r :
m a n d a r á e m t i .» ( 2) . ,
Q u e c o n c e ito s h a v e m o s, p o is . de fa z e r da m u lh e r ?
T e m o s d e o p e r g u n t a r À q u e l e q u e a c r io u . S im ; m as a
s it u a ç ã o s o c ia l m o d ern a, le v o u a m u lh e r a to m a r p a r te
n a v id a p ú b li c a . P r e c i s a d e t r a b a l h a r n o c a m p o , n a f á b r i c a ,
te m d e g a n h a r o p ã o . . .
A s s im é . i n f e li z m e n t e : m a s a v id a m o d e r n a n ã o p o d e
im p o r -s e à s o r d e n s d e D e u s . e ninguém p ode m udar o fim
fixado p elo C riador à mulher. E q u a l é e sse fim ? «Faça
m o s - lh e u m a a u x i li a r , s e m e lh a n t e a e l e » . P o r t a n t o a m u lh e r
é a auxiliar do hom em ! F o i - o . e é n e c e s s á r i o q u e o s e ja
de novo. E e m q u e é q u e o h á - d e a ju d a r ? Em ser m ãe.
e d u c a d o r a d e s e u s f ilh o s , e m c u i d a r d a c a s a . . . e m a t e n d e r
a o s d o e n te s . « A s m u lh e r e s n ã o p o d e m , e m g e r a l, p a s s a r
d a m e d ia n ia n a s c iê n c i a s e n a s a r t e s . A p en a e a esp ad a
p e r te n c e m a o s h o m e n s : p a r a a m u lh e r , o b e r ç o e o s c u id a d o s
S em D eu s — p o b re e nu;
L on g e d e D eu s — sem âncora;
E m D eu s — rico e gran d e 0 -
(') S. M a te u s , x v iii, 5.
502 JESUS CRISTO REI
11
*
* *
C risto, R ei d a m orte
não pode morrer antes, e por muito que queira viver ainda,
não pode viver mais do que o permite a lei misteriosa de
Deus. O h ! confessa, pois. que é um a insensatez pensar
constantem ente no corpo e esqu ecer a alm a.
Não vês quão depressa olvidam os homens o falecido,
e com que facilidade se vão divertir depois de saírem do
cemitério? Não compreendes quão depressa se desmorona
a obra principal da tua vida? Não pensas como te esque
cerão depois da morte aqueles mesmos que durante a vida
não cessavam de te louvar? Pondera pois quão perigoso
é buscar o favor dos homens e não cuidar da aprovação
do Deus eterno.
4.° Pelas mesmas razões a morte encarece a im por
tância d a vida terrena.
C om a morte não a ca b a tudo. Depois da morte, vem
o juízo.
«Tudo se acabou», soluça a viúva, quando o seu
esposo agonizante exala o último suspiro. — Ah! não é
assim. Porque, se tudo tivesse acabado... Mas é que não
se acabou tudo. Pelo contrário, precisamente ao morrer,
estamos no princípio, no princípio da vida eterna. E tudo
depende disto: como vivi. e cm que estado morri.
Lemos com frequência nas colunas de necrologia estas
palavras: «Morreu inesperadamente.» Inesperadamente?
E não morremos «inesperadamente» quase lodos? Não
só o que morre de um ataque cardíaco, como o doente mais
grave, porque ele... «não esperava ainda a morte». Todos
sabemos que temos de morrer; mas todos julgamos que não
é agora. Portanto, temos d e esperar isso, temos d e estar
preparados. Não sabes onde te espera a m orte: espera-a,
pois, em toda a parte.
518 JESUS CRISTO REI
11
D u r a n t e a s p e r s e g u iç õ e s , u m d iá c o n o d e Á f r i c a e s t a v a
c a n t a n d o o A l e l u i a P a s c a l n o p ú lp ito , q u a n d o u m a f le c h a
d o s p e r s e g u id o r e s lh e a t r a v e s s o u a g a r g a n t a , e fo i t e r m in a r
o A l e l u i a d ia n t e d o tr o n o d e D e u s . N ão im p orta... Cristo
é o R ei a a M orte!
N a c a te d ra l d e S a n to E s tê v ã o de V ie n a , h á um m o n u
m e n to s e p u lc r a l q u e n o s im p r e s s io n a p r o f u n d a m e n t e . M o n
ta d o n u m c o r c e l b r io s o , s o b e p o r u m a c o lin a c o b e r ta de
flo r e s , u m jo v e m p r ín c ip e v e s t id o d e c o t a d e m a lh a . No
s o p é d a c o l i n a u m a fo n te . P o r d e t r á s o c u l t a - s e a p é r fid a
m o r te ; a su a fo ic e e stá e n c o b e rta por m im o s a s flo r e s .
O c a v a l e ir o in c li n a - s e sob re a f o n t e ; m a d e ix a s c a e m em
d e s a l in h o s o b r e o r o s to e n o c r is t a l in o e s p e lh o d a s á g u a s
c o n t e m p la a abóbada azul do céu . Ao s o e r g u e r -s e , a
m o rte c e ifa -lh e a v id a . N in g u é m pôde a in d a lib e r t a r - s e
d e t a l g o l p e .. . E h á tr e z e n to s a n o s , u m c o r c e l v o lt o u sem
o s e u c a v a l e i r o ; e o s e u d o n o fo i s e p u lt a d o n a q u e l a i g r e ja .
P a r o a n t e o m o n u m e n to . A in s c r i ç ã o fo i a p a g a d a j á p e lo
te m p o e n e m s e q u e r lh e p o s s o p e r g u n t a r : « G a r b o s o c a v a
le ir o . c o m o te c h a m a v a s ? F o s te c e ifa d o em flo r , n a f lo r
d e te u s a n o s !»
M as vive a sua alm a!
M a is a lé m , u m a m p lo s a r c ó f a g o d e p e d r a n a i g r e ja .
H á q u a n t o s a n o s s e r e d u z ir a m a p ó a s m ã o s q u e o la v r a r a m
p a ra s e p u lt u r a de um a cabeça c o r o a d a . .. ou t a lv e z de
a lg u m g é n io p o d e r o s o , d o m in a d o r d e m u n d o s , a n t e q u e m
se p r o s tr a r a m m ilh a r e s d e v a s s a lo s a t é b e ija r a m o pó d a
le r r a . A g o r a , ta m b é m e le é .p ó . A s p a red es com lá p id e s
d e m á r m o r e o s te n ta m in s c r iç õ e s d o ir a d a s . C o r o a , tr iu n fo ,
p o m p a , b e m - e s t a r , fo r m o s u r a , ju v e n t u d e , p o d e r ... t a is s ã o
a s p a la v r a s q u e a in d a c o n s e g u im o s le r n a s lo u s a s c a r c o m i-
320 JESUS CRISTO REI
m u d a -s e , n ã o s e a c a b a ; e a o d e s m o r o n a r -s e e s t a m o r a d a
t e r r e n a , a d q u ir e - s e u m a m a n s ã o e t e r n a n o s c é u s . . . »
C r is to é a r e s s u r r e iç ã o e a v id a . A n o s s a v id a n ã o
se p erd e, só se tra n s fo rm a ; p re p a ra -se -n o s um a m an são
e t e r n a n o s c é u s . Cristo, N osso S en hor Jesus C risto! V ós
sois tam bém R ei d a M orte!
*
* *
É cru el o m o m e n to da m o r te ! N in g u é m , p o r m a is
p e r to q u e e s t e ja d e n ó s . n o s p o d e a ju d a r n o tr a n s e d e p a s s a r
p e la p o rta e s c u r a . T e m o s d e p a r t ir s ò z in h o s p e lo c a m in h o
m a is d i f í c i l d a n o s s a v id a .
C o n tu d o ... h á u m a m ã o a q u e n o s p o d e m o s a g a rra r.
A q u e la m ão que fo i p reg a d a na cru z , q u e se e ste n d e u
m is e r ic o r d io s o ao bom la d r ã o , e s e p o is o u c o m o p erd ão
s o b r e a c a b e ç a d e M a d a l e n a a r r e p e n d i d a ...
A m o r te é q u a l q u e r c o i s a d e e sp a n to so . M as quem
segue a Cristo p elo d ifícil cam inho d a vida, não se sentirá
oprim ido; o transe não lhe será difícil.
— C o m o p o sso s a b ê -lo ?
— P o i s d is s e - m o u m a m e n in a . Uma m e n in a d o e n te .
— Um c o m p a n h e ir o m eu d o s a c e r d ó c io fo i c h a m a d o
p a r a c o n f e s s a r u m a m e n in a a g o n iz a n t e . H a v ia m u ito q u e
e s t a v a d o e n t e ; s a b i a q u e a m o r te s e a p r o x im a v a , e m o s tr a v a
ta l t r a n q u i li d a d e q u e o s a c e r d o t e I b e p e r g u n t o u : « M in h a
f i lh a , n ã o te n s m e d o d a m o r te ? » « O h ! a n te s tin h a ! M as.
d e sd e q u e s u c e d e u a q u ilo d a v e sp a , já n ã o a te m o » . «D a
v e s p a ? ! » — « S i m , e s t a v a s e n t a d a n o ja r d im , e d e r e p e n te
vem um a v esp a g ran d e, z u m b in d o , z u m b in d o , m e te u -m e
21
322 JESUS CRISTO REI
ta n to m e d o .. . e eu g r it e i : M am ã. que me vai a p ic a r .
M as a m in h a m ãe a b ra ç o u -m e . s o r r in d o , c o b r iu - m e por
c o m p le to e d is s e : N ã o te m a s , m i n h a f i lb i n b a . E a v esp a
e s v o a ç a v a , z u m b in d o a t é p o u s a r n o b r a ç o d e m i n h a m ã e
e p i c o u - a . . . ; e m i n h a m ã e p r o s s e g u iu s o r r in d o : V ê s . c o m o
n ã o te d ó i a t i ? O l h a . m i n h a f i lh a , a s s im s e r á a m o r te ,
n ã o te d o e r á , p o r q u e o s e u agu ilhão se qu ebrou no C oração
d e N osso S en hor Jesus C risto... D e s d e e n t ã o n ã o te m o
a m o r te .>
Q u eira N osso S en hor Jesus Cristo confortar-nos,
qu an do chegar a n ossa hora, e fazer viver o pensam ento
d e qu e o agu ilhão d a morte se qu ebrou em seu co ração...
em seu Sacratíssim o C oração.
C A P ÍT U L O XXV
\ [° a n o de 1 8 8 8 h o u v e em R o m a um co n g re sso o rg a-
C '\ n iz a d o e m m e m ó r ia d u m a r e v o lu c io n á r ia . U m dos
o r a d o r e s p r o n u n c io u u m d is c u r s o h i p e r b ó l ic o em h o n r a d e
L ú c i f e r , c h e f e d o s e s p ír ito s r e b e ld e s .
No m e io do d is c u r s o , o u v iu -s e e ste g r it o : « V iv a
S a t a n á s » e c in c o m il v o z e s r e p e tir a m o g r it o : « D e u s m o r re u ,
v iv a S a t a n á s ! »
E s p a n t a - n o s e s t a i n c r ív e l g r o s s e r ia e s p ir i t u a l, e s t e c u l t o
a o d e m ó n io ; e , n ã o o b s t a n t e , o im e n s o n ú m e r o d e p e c a d o s
d a v id a m o d e r n a q u e o u tr a c o is a s ã o s e n ã o u m a i d o l a t r i a
in fe r n a l?
Q u a n ta s c o is a s n ã o fe z a h u m a n id a d e c o n t r a D e u s !
A R e v o l u ç ã o F r a n c e s a q u i s d e s tr u í-I O ; p u b li c o u u m m a n i
fe s to . a f ir m a n d o q u e D e u s j á n ã o e r a n e c e s s á r io . A sso m
b ra -n o s e s ta in s e n s a te z ? E q u e o u tr a c o i s a s ã o a s a b o m i
n ações da n o ssa ép oca, sen ão a r e a l iz a ç ã o do d e c r e to
r e v o lu c io n á r io e a s u a p r o m u lg a ç ã o a t o d a a h u m a n i d a d e ?
O s e s t r a g o s d a R e v o l u ç ã o F r a n c e s a n ã o fo r a m m a is m o n s
tr u o s o s do que os su cessos c o n te m p o râ n e o s. L em b rem o s
a q u e le s d ia s f u n e s to s em que os e stu d a n te s de V ie n a
c a n ta v a m : Ich bin kein Chrisl, ich bin sozialistl «N ão
sou c r is t ã o , sou s o c ia lis ta !»
324 JESUS CRISTO REI
Q u a n t a s c o i s a s a h u m a n id a d e n ã o t e n t o u c o n t r a D e u s !
E tu d o e m v ã o !
N ão h á m u ito te m p o , S u a S a n t i d a d e P i o XI la n ç o u
e s t e a v is o : « H o m e n s , v o lt a i a C r i s t o , a q u e m D e u s d e u u m
um nom e qu e e s t á s o b r e to d o o n o m e : não se d eu aos
hom ens o u tr o nom e d eba ix o d o céu, p elo qu al nos possam os
salvar.» ( ')
voltai a C risto! S o c i e d a d e s , voltai a Cristo!
I n d iv íd u o s ,
N ações, voltai a C risto! V i d a f a m i l ia r , v id a p o l ít ic a , v id a
e c o n ó m ic a , v id a m o r a l, voltai a C risto. I m p r e n s a , t e a tr o ,
c in e m a s , l it e r a t u r a , fá b ric a s . B an cos, i n d ú s t r ia , c o m é r c io .
voltai a C ristoJ H o m e n s , p e r e c e r e is , s e n ã o a c e i t a i s c o m o
R e i a N o sso S e n h o r Je s u s C r is to !
E s t a s s ã o a s r d e ia s q u e e x p l i c á m o s e m to d a s a s p á g in a s
d e s te liv ro . N e s t e s d o is ú lt im o s c a p ít u l o s , v a m o s r e s u m i- la s
e t r a ç a r o s tr a ç o s c a r a c t e r í s t i c o s e d e f in it iv o s d e C r i s t o R e i .
S ó quem O c o n h e c e p o d e r á a m á - l O a v a le r , e s e r - L h e
fie l em to d o s o s m o m e n to s da v id a . E quanto mais O
conhecer, m a is O am ará!...
N e s t e c a p ít u l o , te n t a r e m o s c o n h e c ê - I O m e lh o r . F o l h e a
re m o s o E v a n g e l h o , p a r a q u e o m e s m o S e n h o r n o s re s p o n d a
a e s ta p e rg u n ta :
Q uem sois V ós! Q u e nos dizeis d e V ós m esm o ?
*
* *
l.° A b r o o E v a n g e l h o s e g u n d o S . J o ã o e le io o q u e
d iz o S e n h o r n u m a p assag em : « E u sou a porta. Q uem
por mim entrar, salvar-se-á.» ( ')
o u , p o r o u t r a s p a l a v r a s , v e r o m u n d o à lu z d a s u a d o u t r in a .
E le é a p o rta , e só q u e m e n t r a r p o r e l e s e p o d e s a lv a r .
2 .° C o n tin u a r e m o s p e rg u n ta n d o : S en h o r, quem s o is
V ós? o S enhor
E r e s p o n d e -n o s n o u t r a p a s s a g e m : c E u sou
o bom Pastor.» (')
C r i s t o é o m e u p a s to r , q u e n u n c a m e a b a n d o n a , q u e
não fo g e d ia n t e do in im ig o , que dá a v id a p e la s su as
P oderei eu cair no desespero, se sei qu e Cristo
o v e lh a s .
é um pastor ch eio d e b on d ad e e solicitude p or mim? O h !
s e s o p r a fu r io s o o v e n d a v a l, o m a r a g i t a - s e , a m in h a fr o n te
e n ru g a -se . é n a tu r a l, m as não m e é lícito desesperar.
E n ã o m e s e r á p e r m itid o c h o r a r ? S i m , mas não me devo
revoltar. Tam bém a f lo r in c lin a o seu c á lic e c h e io de
lá g r im a s , quando o fu ra cã o fu r io s o lh e p assa p o r c im a .
e a s s im c o m o o s e u r o c io c a i s o b r e a t e r r a - m ã e . a s s im m e
é l íc i t o ta m b é m c h o r a r : m a s se m p e r d e r a e s p e r a n ç a , s e m
a b a t i m e n t o , m a s p e lo c o n t r á r io , c o m a c o n v ic ç ã o de que
as minhas lágrimas caem nas m ãos am orosas d o Bom
Pastor!
O p e n sa m e n to d o B o m P a s to r n ã o m e c o n s o la só n a
d e s g r a ç a , m a s f o r t a le c e - m e t a m b é m n a t e n t a ç ã o . Q u e fo r ç a
s e n t ir ia n a s t e n t a ç õ e s , s e , e m t a i s c ir c u n s t â n c i a s , m e l e m
b ra sse d e s ta g ra n d e v e rd a d e : C r is to q u e ta n to m e a m o u .
que d eu a s u a v id a p o r m im , e s t e b o m P a s t o r p e d e -m e
a g o r a is to , o u p r o ib e - m e aqu ilo! S e r á l íc i t o d e s e s p e r a r -m e
o u d u v id a r c o m o h o m e m de p ou ca fé q u a n d o C r is to m e
f a l a . C r i s t o q u e s e e n tr e g o u p o r m im à m o r te . C r i s t o q u e
é o B o m P a sto r?
O S . João, X, 11.
QUEM É CRISTO PARA NÓS? 327
3 .° quem sois
P e r g u n t e m o s a i n d a : S e n h o r , d iz e i- m e .
V ós? E a s s im a videira, vós
n o s resp o n d e E le : « E u s o u
sois os sarmentos. Q uem está unido a M i m e E u a ele,
esse d á muito fruto, porqu e sem M im n ad a podereis fazer.
Q u em não perm anece em Mim, será lan çado fora com o
sarm ento inútil, e secará e será lançado no fog o e arderá .» ( ’ )
T a i s s ã o a s p a l a v r a s d e J esus C risto .
C r is to é a v id e ir a , eu sou o s a r m e n to . Q ue a v is o
sev e ro m a s q u e h o n r a a o m esm o te m p o ! O s a r m e n to s ó
v iv e e n q u a n t o a s e iv a v iv i f ic a n t e d a v id e ir a c ir c u la n e le .
Tam bém m in h a a l m a v iv e r á u n ic a m e n te , e n q u a n t o a v ir
tu d e d e C r i s t o c ir c u la r em m im , e n q u a n t o o C o r a ç ã o de
C r is to b a te r em m im , q u e r d iz e r , e n q u a n t o e u fo r v e r d a
d e ir a m e n t e ir m ã o d e J e s u s C r is t o .
A h e r a p r e c is a d a p e d r a : s e p o d e tr e p a r a g a r r a d a a o
m u ro , d e s a b r o c h a e m flo r , a o p a s s o q u e se s e a r r a s t a p e lo
chão, le v a u m a v id a ra q u ític a : a s e m p r e - v iv a p r e c is a d o
r o b le ; se co n seg u e a b ra ç a r-s e a e le , a s p ir a c o m gozo os
r a io s v iv i f ic a n t e s do S o l: se lh e fa lta o r o b le d e fin h a .
Tam bém e u s o u a h e r a , C r is t o é a m inha p ed ra; ta m b é m
s o u a s e m p r e -v iv a . Cristo é o meu roble. S e m e u n o f ir m e
m e n te a E le , e le v o - m e c h e io de gozo a c im a d e s ta v id a
t e r r e n a , v id a g r o s s e ir a , s e m e a d a d e tr is t e z a s e a m a r g u r a s .
C om o? E n tã o , o b om c r is t ã o , t a m b é m te m d ir e ito a
g o z a r d a v id a ? T am bém se p o d e a le g ra r? S i m , ta m b é m .
A s d iv e r s õ e s l e g ít i m a s e p u r a s s ã o - l h e p e r m it id a s .
E n t ã o u m b o m c r is t ã o n ã o d e v e v iv e r t r is t e e a b s t e r - s e
d e to d a a a le g r ia ? N ão; p e lo c o n t r á r io . Q uem te m su a
a lm a b e m com D e u s , d e v e s e r o m a is a le g r e d o s b o m e n s .
O s a r m e n to , q u e v iv e d a s e iv a d a v id e ir a , g o z a d e v ig o r
e lo u ç a n i a . A f lo r a ç ã o m a is b e la da v id a c r is t ã re s id e
p r e c is a m e n t e n e s te fa c to : que podem os d e m o n s tra r aos
bom en s,qu e para alcan çar a verdadeira alegria, não é
preciso nem o p ecad o, nem a vida frívola, nem a im o r a
l id a d e .
P o d e o c r is t ã o s e r t ã o s e v e r o , tã o d u r o c o n s ig o m e s m o ,
t ã o m o r tif ic a d o c o m o S . F r a n c i s c o d e A s s is , e c o n t u d o s e n t ir
a a l m a in u n d a d a d e g r a n d e f e li c id a d e , c o m o s a t u r a d a e s t a v a
a a lm a d e s te s a n t o , q u e f a l a v a c o m o s p a s s a r in h o s d o c é u .
p reg a v a a o s p e ix e s e a c a r i c i a v a o l o b o d o b o s q u e . P ara
is s o . n u n c a h e i- d e e s q u e c e r q u e C r i s t o é a v id e ir a , e e u
o s a r m e n to , is to é , q u e s o u ir m ã o d e C r i s t o .
Sou irmão d e C risto; p o r t a n t o ... e r g u e r a c a b e ç a !
S o u ir m ã o d e C risto; p o r t a n to , m e u s o lb o s d e v e m s e r
p u ro s!
Sou irmão d e C risto; p o r t a n to , t o d a s a s m in h a s p a l a
v ras d ev em ser a e x p re ssã o d a v e rd a d e .
Sou irmão d e C risto; p o r t a n to , t o d a s a s m in h a s a c ç õ e s
d e v e m s e r ju s t a s .
Sou irmão d e C risto; p o r t a n to , a m in h a v id a d e v e s e r
d ig n a d o S e n h o r .
H e i- d e s e r r a d i a n t e n o m e u i n t e r io r e b e i- d e i r r a d ia r
lu z . A m in h a v id a . a s m in h a s o b r a s , a s m i n h a s p a l a v r a s
h ã o - d e s e r lu m in o s a s .
Sou irmão d e C risto; p o r t a n to , n ã o b e i- d e p e n s a r , d iz e r,
fa z e r , a m a r c o is a a lg u m a , que não p o ssa p en sar, d iz e r,
fa z e r e a m a r o m e sm o C r is to . P o r q u e E l e é a v id e ir a e e u
s o u o s a r m e n to .
QUE M É CRISTO PARA NÓS? 329
4 .° D i z e i- m e , S e n h o r , q u e m s o is V ó s ? E C r is to re s
luz d o mundo, quem me segue não
p o n d e -n o s: « E u so u a
cam inha nas trevas, mas terá a luz d a vida.» ( ')
C o m o ? — d ir á a lg u é m — C r i s t o é a lu z d o m u n d o ? !
S e se contam por m ilhões os qu e não se preocupam com
Ele, os qu e passam a seu lado e nem olham para E le! H á
m ilhões d e hom ens qu e não são cristãos!
É v e r d a d e q u e m u ito s h o m e n s , v iv e m s e m C r i s t o . M a s
é p o rq u e ou ain da n ã o o u v ir a m f a l a r d e C r i s t o , o u p o r q u e
já n ã o q u e r e m o u v ir f a l a r d 'E ! e . E s t e s ú lt im o s a p r e g o a m ,
se m q u e r e r e m , a g r a n d e z a d e C r i s t o ; h á d o is m il a n o s q u e
lu ta m c o n t r a E l e , e n ã o c o n s e g u ir a m a r r a n c a r - lh e o s s e u s
f ié is . A q u e le s q u e ain da O n ã o c o n h e c e m , co m o e sc u ta m
a le g r e m e n t e q u a n d o se lh e s f a l a d e C r i s t o ! Na v erd a d e,
q u e é e m c o m p a r a ç ã o c o m a lu z d e C r i s t o , a lu z d e B u d a ,
q u e v e io d o n a d a e a o n a d a v o l t a ? Q u e é M a f o m a d ia n t e
da Luz d o m undo? Q u i s t i r a r á g u a d a s to r r e n te s q u e s a e m
d e C r is to o u a E l e s e d ir ig e m : p o u c a t i r o u ; c a b e - l h e n a
con ch a da m ão. A s u a lu z é e m p r e s t a d a , e s c a s s a , im p u r a .
Q u e s e r ia d o m u n d o , se m a lu z d e C r i s t o ? I m a g in e m o s
o a b is m o se m fim e o e s c u r o e e s p a n t o s o v a z io , e m q u e
fic a r ia o m u n d o , se C r i s t o n o s d e s p o ja s s e d o s s e u s d o n s
e nos ab an d o n asse.
Q u e s e r ia d o m u n d o , s e a te r r a s e a b r i s s e e t r a g a s s e
c id a d e s in t e ir a s , s e p a ís e s in t e ir o s , e d il a t a d o s m a r e s d e s a
p a re ce sse m ? O m u n d o c o n t in u a r i a a e x is t ir .
Q u e s e r ia , s e o c o m b o io , o v a p o r , a e l e c t r i c i d a d e , a
rád io... e to d o s o s g r a n d e s in v e n to s se p e r d e s s e m ? O m u n d o
n ã o d e i x a r ia d e e x is t ir .
Q u e s e r ia d a h i s t ó r ia d o m u n d o se m o s g r a n d e s s á b io s
e filó s o f o s m a is c é l e b r e s ? P o d e r ía m o s p a s s a r se m e le s .
M a s q u e s e r ia d a h u m a n id a d e s e m C r i s t o ? C o m C r is t o
a alma sairia do corpo da humanidade, e o qu e ficasse não
seria mais que um monte de escombros em espantosas treuas.
5. ° Senhor, d iz e i- m e , q u e m s o is V ó s ? E o S enhor
resp o n d e: « E u sou o pão da vida; quem vem a Mim, não
terá fome e quem crê em mim, jamais terá sede.» (')
Com e f e it o . C r i s t o é o p ã o d a v id a , p o r q u e se m E l e
n ã o p o d e r ía m o s v iv e r . S e C r i s t o n ã o e x is t is s e , q u e s e r ia d o
hom em ca rreg a d o de p ecad os? Se não e x is tis s e C r is t o ,
quem s o f r e a r ia o s e x c e s s o s d o s o p r e s s o r e s , e d e f e n d e r ia o s
d é b e is ? S e n ã o e x is t is s e C r i s t o , q u e m p r o t e g e r ia a c r i a n ç a
re c é m -n a s c id a ? S e n ã o e x is t is s e C r i s t o , p a r a q u e m l e v a n
t a r i a o s o lh o s o h o m e m q u e s e d e b a t e e l u t a n a s t e n t a ç õ e s ?
S e n ã o e x i s t i s s e C r i s t o , a q u e m r e c o r r e r ia o p o b r e e n f e r m o ?
S im . ó m eu S e n h o r J e s u s C r i s t o , n ó s s a b e m o s , s e n tim o s
e c o m p r e e n d e m o s q u e V ó s s o is o p ã o d a v id a . e q u e q u e m
re c o rre a V ó s n ã o t e r á fo m e , e q u e . q u e m c r ê e m V ó s ja m a i s
te rá sed e.
6. ° S e n h o r , d iz e i- m e , q u e m s o is V ó s ? E resp o n d e o
S enhor: «E u sou o caminho, a verdade e a vida.» (2)
M u i t o s s ã o o s q u e q u is e r a m o rie n ta r os c a m in h o s do
h o m e m , m a s n in g u é m qu e ele era o caminho,
o u s o u d iz e r
«sede como eu, sede meus imitadores». M u i t o s m e s tr e s
te v e j á a h u m a n id a d e , m as nenh um se a tr e v e u a d iz e r :
« E u s o u a v e r d a d e .» M u i t a s p r o m e s s a s fo ra m f e it a s e se
fa z e m e m n o s s o s d ia s . m a s n in g u é m n o s d iz : « E u s o u a v id a .»
s e p a r a c T E Ie .
S e C r i s t o é a v e r d a d e , c a i em e rro q u e m O nega ou
fa z a la r d e d e n ã o O con h ecer.
E s e C r i s t o é a v id a . á r v o r e s e c a s e r á q u e m s e n e g u e
a r e c e b e r a s u a s e iv a .
E sta s p a la v ra s são v e r d a d e ir a s não só p a ra a v id a
in d iv id u a l, m as ta m b é m para a vida d a sociedade, dos
Estados e d a hum anidade inteira. S e o s c a m i n h o s e le is
v ã o d e e n c o n t r o a o s c a m i n h o s e le is d e C r i s t o , a r u ín a é
c e r t a , q u e r s e t r a t e d e in d iv íd u o s , q u e r d e c o l e c t i v i d a d e s .
N ã o s ó o in d iv íd u o , m a s t a m b é m o E s t a d o n o t a o s b e n e
f íc io s d a d o u t r in a d e C r i s t o s e p e r m a n e c e r fie l a e la .
É v e r d a d e q u e C r i s t o n ã o n o s e x im e d a s d if i c u l d a d e s
d a v id a . d o s p e s a r e s e c u id a d o s q u o t i d ia n o s ; m a s d á - n o s
fo r ç a , â n im o , lib e r d a d e in te r io r , e m a d u r e z a e s p ir i t u a l p a r a
os su p o rta r. Q uem seg u e a C r is to , é h on rad o em su as
acçõ es, m erece a c o n fia n ç a dos o u tr o s , te m e s p ír ito de
s a c r i f íc io n o a m o r a o p r ó x im o . E o E sta d o q u e reco n h ece
& C r i s t o p o r s e u R e i . é ju s t o e m s u a s le is . e q u i t a t iv o p a r a
c o m o s s e u s c id a d ã o s .
Q u e m n ã o v ê . c o m t o d a a c la r e z a , q u e a h u m a n id a d e
n e c e s s it a h o je . m a is d o q u e n u n c a , d e s t e e s p ír ito d e C r i s t o ?
S im h o je . P orq u e, q u a n to m a is hom ens h ou ver no
m u n d o , q u a n t o s m a is s e d iv id a m o t r a b a l h o , t o d a s a s n o s s a s
a c t iv i d a d e s e o s in t e r e s s e s d a s d if e r e n t e s c a m a d a s s o c i a is ,
t a n t o m a is n u m e r o s a s s e r ã o a s o c a s i õ e s d e c o n f li t o s e m a is
c e g a s a s p a ix õ e s . H o je s a b e - s e m u i t o : o h o m e m m a n d a n o
a r e a e le o b e d e c e o r a i o . . . M a s n ã o é s e n h o r deis s u a s
p a i x õ e s ; s ó a v ir tu d e d a s le is d e C r i s t o a s p o d e d o m in a r .
552 JESUS CRISTO REI
C r is t o é o c a m in h o , a v e r d a d e e a v id a . V id a n áo só
do in d iv íd u o , m as ta m b é m da f a m íl i a , d a s o c ie d a d e , d o
E sta d o .
Q u a n to s s ã o o s q u e a s s im se q u e i x a m ! M a s ... sem
direito!
Je su s C r is t o d u ra n te a su a v id a te rre n a , não q u is
a p a z ig u a r todas a s t e m p e s ta d e s , c u r a r todos o s e n fe r m o s ,
r e s s u s c ita r todos os m o r to s , p o r q u e n ã o v e io p a r a is s o .
S e m a n d o u n o m a r , n a d o e n ç a , n a m o r te , f ê - lo c o m o
fim d e d e m o n s tr a r q u e r e a lm e n t e «Lhe fo i d a d o to d o o
p o d e r n o c é u e n a te rra » , q u e a c im a d e to d a s a s d e s g r a ç a s ,
a c i m a d a p r ó p r ia m o r te , e s t á o s e u p o d e r e q u e « E l e é a
r e s s u r r e iç ã o e a v id a , e q u e m c r ê n E l e , a i n d a q u e e s t e ja
m o r to , v iv e r á » .
Se q u is e s s e , ta m b é m h o je p o d e r ia s a lv a r to d o s os
n á u f r a g o s , c u r a r to d o s o s d o e n t e s . M a s n ã o é is to o q u e
E le q u er.
Q u e d e s e ja , e n t ã o ?
E l e n o - lo d iz : E s ta b e le c e i em v o ss a a lm a e n o m u n d o
in te ir o o r e in o d e D e u s : o r e in o d a c o n f i a n ç a a n c o r a d a e m
D eu s, o r e in o do am or a D eu s, em D eus e por D eu s.
T r a b a lh a i p ara que o m eu am or a b rase to d a a te r r a .
M o r r e r e i s . .. virei de novo u m dia, apagarei toda
m as e u
a miséria e secarei todas as lágrim as... « E u s o u a ressur
reição e a vida ; q u e m crê em Mim, ainda q u e tenha morrido ,
viverá».
*
# *
E i s a q u i c o m o , a o f o lh e a r o E v a n g e l h o , e m c a d a p á g in a .
N o sso S e n h o r J e s u s C r i s t o n o s a p a r e c e u m a is b e lo , m a is
r a d ia n t e , m a is a r d e n t e , m a is s u b ju g a d o r . m a is c la r o . N ão
s ó o s a r g u m e n to s d e u m r a c io c ín i o e s p e c u l a t i v o , m a s t a m
bém a s n e c e s s id a d e s e a s e x i g ê n c i a s d a v id a q u o t i d ia n a
554 ]Esus c r isto r ei
n o s e n s in a m q u e : E u , H o m em m o d e r n o . H o m em d o s é c u lo x x ,
n e c e s s it o d a r e l ig iã o , n e c e s s it o de D eu s, do p e n sa m e n to
d a v id a e t e r n a , d o r e in a d o d e C r i s t o R e i .
Jesus Cristo, quem V os conhece, sa b e tudo; quem
V os ignora n ada sabe.
« A in d a q u e n ã o fo s s e c a t ó l i c o p o r c o n v i c ç ã o — d is s e
um e s c r it o r fra n cê s ( P . B o u r g e t ) — s ê - lo - ia p a ra te r u m a
v a r a n d a d o n d e p u d e s s e v e r a s id e i a s m o d e r n a s , a n é m ic a s ,
d o e n t ia s , r o ç a n d o p e la te r r a » .
S im , necessitam os d e C risto: sem E le a v id a p er
tu rb a -n o s.
N ecessitam os d e C risto: s e m E l e s u c u m b im o s a o p e s o
d o s o fr im e n to .
N ecessitam os d e C risto: se m E l e d e s f a z - s e a f a m í l i a ;
e a s o c ie d a d e H u m a n a p e r e c e s o b o s s e u s e s c o m b r o s .
N ecessitam os d e C risto: sem E le p erecerem o s to d o s .
M a s , n ó s n ã o q u e r e m o s f r a c a s s a r e a r r u in a r - n o s .
S en b o r. V ós sois a porta; fa z e i. S e n h o r , q u e e u e n tr e
e s a i a p o r e l a d u r a n t e t o d a a m i n h a v id a . ,
S en h o r. V ó s sois o B om P astor; f a z e i q u e e u s e ja u m a
o v e l h a d ó c il e fie l d o V o s s o r e b a n h o .
S en h o r, V ó s sois a videira; fa z e i q u e e u s e ja o s a r
m e n to v iv o . q u e se a l im e n t a d e v o s s a f o r ç a s a n t a .
S en h o r, V ó s sois a luz do m undo; fa z ei q u e eu vos
s ig a s ó a V ó s , n e s t a v id a s o m b r ia .
V ós sois o p ão d a v id a; a l im e n t a i- m e .
V ós sois o cam inho, a verdade e a V id a ; c o n d u z i-m e
p e lo c a m in h o d a v e r d a d e à v id a d iv in a .
V ó s sois, Senhor, a ressurreição e a V id a; creio em
V ós com fé in abalável, a fim d e qu e p ossa dep ois desta vida
viver etem am en te convosco!
C A P IT U L O XXVI
A ve, R.ex
\J /e st e ú lt im o c a p ít u l o q u e r e r ia a p re se n ta r, com o em
C ' \ q u ad ro de c o n ju n t o , a im a g e m de « C r is t o R e i» .
Q u e r i a e s b o ç a r e s s a im a g e m d iv i n a e o f e r e c ê - l a c o m o l e m
b r a n ç a a o s m e u s a m á v e is le ito r e s , q u e . t a lv e z t e n b a m de
t r a v a r n a s u a v id a ru d e s c o m b a t e s . P o r q u e n ó s , o s c r is t ã o s ,
n ã o p o d em o s ser fra co s. A s o c ie d a d e e s q u e c e -s e p o r c o m
p le to d e C r i s t o ; m a s n ó s d e v e m o s m a n t e r - n o s fié is , m a n te r
a p a la v ra d a d a a o n o sso R e i.
C o n te m p l e m o - lo , p o r t a n to , u m a v e z m a is , c o m o lb a r
m a is p r o fu n d o e d e m o r a d o .
Senhor, qu e pensaram d e V ó s o s hom ens durante
I —
a vida terrena?
V o ssa
II — Senhor, qu e pensaram d e V ós os hom ens durante
os dois m ilénios d a história cristã?
III — Senhor, qu e p e n s o eu d e V ós?
S ã o a s trê s p e r g u n t a s a q u e q u e r o r e s p o n d e r .
S e e s t u d a r m o s o E v a n g e l h o , n o ta r e m o s , n ã o se m e s t r a
n h e z a . q u e a s o p in iõ e s d o s h o m e n s , a r e s p e it o d e C r is t o ,
já e sta v a m d iv id id a s d u r a n t e a v id a m o r ta l d o S a l v a d o r .
S e m p r e te v e a m ig o s e in i m i g o s ; m u ito s a d m ir a v a m a s s u a s
p a la v ra s e as su as acçõ es; s e g u ia m - n o com e n tu s ia s m o ;
o u tr o s p o ré m d iz i a m ; « E s t á p o s s e s s o » , « s e d u z o p o v o » ...
336 JESUS CRISTO REI
Q u a l p o d e r ia s e r a c a u s a d e s t a s o p in iõ e s a n t a g ó n i c a s ?
É v erd ad e que. na p esso a de C r is to , h a v ia c o n t r a s te s ,
rasg o s tã o e x t r a o r d in á r io s que os hom en s não p u d e ra m
fo r m a r d 'E l e u m a o p in iã o u n â n im e . N ós já con h ecem o s
o s e g r e d o d o m is té r io , s a b e m o s q u e J e s u s C r i s t o e r a D e u s
e tam bém h o m e m ; c o n f ir m a m - n o - lo , p r e c is a m e n t e , o s c o n
tr a s te s . d e o u tr o m o d o in c o m p r e e n s ív e is , d e q u e e s t á c h e ia
a su a v id a . M as o s se u s c o n te m p o râ n e o s n ã o o s a b ia m
c o m o n ó s . a i n d a q u e d e v ia m d e s c o b r i- l o . p o r q u e o s m e io s
n ã o lh e s f a lt a v a m .
V i a m a c a d a p a s s o q u e a v id a d e N o s s o S e n h o r e s t a v a
c h e i a d e c o n t r a s t e s m a r a v ilh o s o s .
B a s t a m e n c i o n a r a l g u n s . ..
N asce tão pobre, q u e nem seq u e r p o d e c h a m a r seu .
o p r e s é p io o n d e d e s c a n s a . M a s , p o r o u tr o la d o , um a estrela
r e f u lg e n t e b r i l h a s o b r e E l e e g u ia o s M a g o s q u e lh e v ã o
p re sta r a d o ra ç ã o .
E stá e s c o n d id o num estábulo, n in g u é m sabe nada
d 'E l e . M as um coro d e anjos d e s c e d o c é u e e n to a o
G lória a o M e n i n o d e s c o n h e c id o .
A penas p od e m over suas m ãozinhas, n ã o p o d e f a z e r
m a l a n in g u é m , e p r o c u r a m - n o p a r a O m atarem. M a s o s
anjos p r o te g e m - n o n a fu g a .
Q uem será este Cristã? P oderá ser um sim ples hom em ?
M a is a in d a ;
N ão frequ en tou escola algum a; e. aos doze anos de
id a d e e n s in a a o s A n c i ã o s d o p o v o . q u e ficam adm irados
d a s u a s a b e d o r ia .
Foi sem p re F ilh o obed ien te: e n o e n ta n to , fic a no
te m p lo s e m licen ça; e q u a n d o s e u s p a is O e n c o n tra ra m ,
d iz - l h e s q u e a q u e l a é a casa d e seu P ai.
AVE. REX 537
g u a r d a d o ; m a s o s e p u lc r o n ã o o p o d e r e t e r ... D evolve-O
vivo.
J á vistes um hom em com o e s te ? O u a n t e s , d iz e i- m e :
Esta vida era puram ente hum ana? N ã o ! Q u ão alto se
levanta o céu sobre a terra, assim ultrapassa a vida de
Cristo as fronteiras d a sim ples vida hum ana.
11
E se a o p in iã o d o s h o m e n s , a r e s p e ito d e C r i s t o , e r a
j á e n t ã o d iv e r g e n te , o m esm o su cede no decurso dos dois
milénios cristãos.
D e s d e q u e a c ru z d e C r is to fo i e r g u id a n o c im o d o
G ó l g o t a . a l i p e r m a n e c e , c o m o u m g ig a n t e s c o s in a l d e in t e r
ro g ação p e r a n te a h u m a n id a d e . A q u e le C r is to com as
m ãos cra v a d a s a rra n co u de seu s g o n z o s o e ix o da te r r a
e d e s d e e n t ã o , n ã o h á n o m e q u e r e s s o e t a n t o p o r to d o o
m u n d o , c o m o o s a n t o n o m e d e J e s u s C r is t o .
1.° D e t e n h a m o - n o s n a c o n s i d e r a ç ã o d e s te n o m e a d m i
r á v e l: Jesus C r is t o . U m n o m e c o m p o s to p o r d u a s p a la v r a s
d u m a lín g u a d e s c o n h e c id a , e s t r a n g e ir a . E s tr a n g e ir a ? O h!
q u e d ig o ? N ão há palavra m a is c o n h e c i d a , m a is a m a d a
p o r to d o s n ó s . F e n ó m e n o p r o d ig io s o ! N ã o se p o d e p re s
c in d i r d e C r i s t o ; a favor o u c o n tra , todos os hom ens hào-de
tom ar p osição a respeito d E le.
a) S e m p r e te v e am igos. C r i s t o é o ím a n p r o d ig io s o ,
o g r a n d e c e n t r o d a h i s t ó r ia d o m u n d o , à r o d a d e q u e m tu d o
s e a g r u p a e tu d o o q u e e x i s t e d e g r a n d io s o n a h u m a n id a d e
se to m a p e q u e n o . R e i s e g ip c io s e r g u e r a m p ir â m id e s g i g a n
t e s c a s ; m o n a r c a s a n t ig o s c o n s t r u ír a m e n o r m e s p a l á c i o s ; e o s
s e u s n o m e s , h o je , n ã o s ã o m a is d o q u e p u r a s le m b r a n ç a s .
AVE. REX 359
e o s m o n u m e n to s , m o n tõ e s d e e s c o m b r o s , r u í n a s ; mas a
pálida luzinha d a gruta d e B elém continua a alum iar e a
aqu ecer ain d a h oje a hu m an id ad e.
Q u a n to s bom ens e m in e n t e s v iv e r a m sob re a te rra !
H o m e n s q u e jo g a v a m c o m p a ís e s e r e in o s , c o m o o s m e n in o s
jo g a m a b o l a ; e b o je . q u e m s e le m b r a d e l e s ? N o m undo
i n t e le c t u a l , v iv e r a m s á b io s e m in e n t e s , m a s v ie r a m o u tr o s
E só d'Ele, d o F ilh o d o m odesto car
q u e os su p era ra m .
pinteiro, fa la ain d a hoje todo o mundo, e E le é o único
qu e não foi superado.
H om ens ilu s t r e s d e s c o b r ir a m novos c o n t in e n t e s , m as
q u e é is to em c o m p a ra ç ã o d a o b r a d e C r is to , qu e descobriu
as grandezas incom ensuráveis d a alm a, mais valiosa d o
qu e o m undo inteiro? E l e é o p r in c íp io d o s te m p o s ; E l e
é o c e n t r o d o u n iv e r s o ; E l e n ã o é s im p le s m e n t e u m a p a r t e
d a b i s t ó r i a , p o r q u e s e m E l e , n ã o h a v e r ia h i s t ó r ia .
Com E l e c o m e ç a u m a e r a n o v a . p o r q u e fo i e n t ã o q u e
com eçou a ren o v ação do g én ero hum ano: na fr ia g ru ta
d e B e l é m , n o ja r d i m d a s O l i v e i r a s e n o c im o d o C a l v á r i o
e n s a n g u e n t a d o . H á n ’E le algum a coisa qu e nem a ciência,
nem a arte, nem a filosofia, nem o bem -estar, nem a civili
zação pod em substituir. T u d o p a s s a , tu d o n o s tr a z d e s e n
g a n o s . d e s ilu s õ e s , tu d o e n v e l h e c e .. ., mas a doutrina d e
Cristo não p assa; o am or d e Cristo não nos engana; a sua
am izade não nos ilu de; o rosto d e Cristo não en velhece.
2 .° Cristo sem pre teve tam bém inimigos.
Q u a n t o s n o v o s m e s s ia s s u r g ir a m , q u e p r e te n d e r a m d e s
te rra r C r is to d a a lm a d os b o m e n s . m a s n ã o o c o n s e g u ir a m !
D u r a n t e e s t e s d o is m il a n o s , m u ito s fo r a m o s q u e p e n s a r a m
c o m o a g o r a , « à m o d e r n a » ; S i m . n o s e u te m p o , a d o u t r in a
d e C r is t o e r a b o a , m u ito b o a , d e a l t o v a lo r , m a s p a r a o
340 JESUS CRISTO REI
r e tr ó g r a d o s a n e l a i s c e r t a m e n t e p e lo s p r a z e r e s d a te r r a e E l e
e n s in a - v o s : Q uem q u er ser m eu d is c íp u lo , r e n u n c ie a si
m e s m o , to m e a s u a c r u z . e s i g a - m e .. .» S e g u i- I O ? A C r is t o
e n s a n g u e n ta d o ? V ó s d e s e ja i s lu x o e p o d e r e C ie d iz - v o s :
« A p r e n d e i d e M im q u e s o u m a n s o e h u m ild e d e c o r a ç ã o . .. »
N ã o ; C r i s t o é j á a lg o a n t i q u a d o p a r a o h o m e m m o d e r n o ...
S e m p r e te v e i n i m i g o s ... q u e n ã o p u d e r a m p r e v a le c e r
co n tra E le . C r i s t o fo i s e m p r e , p a r a o h o m e m d e to d o s o s
te m p o s , o id e a l a d o r á v e l. H o m e m ! F o i E l e q u e m te e n s in o u
a v id a r e a lm e n t e h u m a n a ! E l e d e s c o b r iu a t u a a lm a , e s t e
te s o ir o im e n s o q u e tu d e s c o n h e c e s ! P o r E l e s a b e s q u e te n s
d e s a lv á - l a , c u s t e o q u e c u s t a r : te n s d e s a lv a r a tu a a lm a
p a r a a v id a e te r n a .
H á p o v o s q u e a d m ir a m a força; p o is b e m , a i e s t á a
f o r ç a d e C r i s t o , q u e jo g a c o m a s le is d a n a t u r e z a .
H á p o v o s q u e s e d e ix a m le v a r p e lo sentim entalism o;
a í e s t á o a m o r d e C r i s t o , q u e a b r a s o u o m u n d o d a s a lm a s .
H á povos d ados à m editação profu n da; C r is to p re c i
s a m e n t e e n s in o u - n o s q u e o s m a io r e s te s o u r o s tê m de ser
p ro cu rad o s no fu n d o d a a lm a .
E a o r e c o r d a r a h o m e n a g e m d o s s é c u lo s , v is lu m b r o u m a
v is ã o m a g n í f i c a : u m q u a d r o m a g n íf i c o se a p r e s e n t a à m in h a
m e n t e : te m p o r m o ld u r a d o is m ilé n io s . N e le se vê C r is to
p a s s a n d o a t r a v é s d o s s é c u lo s . S e g u e - o u m im e n s o c o r t e jo .
Q u e m u ltid ã o , q u e c â n t i c o s !
O iç o vozes agudas d e crianças: H o s s a n a . ó R e i d iv in o ,
que o u tro ra a b ra ç a ste a s c r ia n c i n h a s , a c a r ic i a n d o - a s com
te r n u r a , e t r a n s f o r m a s t e a i n f â n c i a e m p a r a ís o .
AVE, REX 341
2. ° Cristo é o m eu R ei.
Tem já cá na terra um reino, o reino das alm as. Em
qualquer parte que baja um homem, que luta com todas
as suas forças contra os assaltos do pecado, que estende
os seus braços para auxiliar o que caiu, que enxuga as
lágrimas do triste, que leva socorro ao cansado... ali Cristo
tem o seu reino, ali Ele é o Rei.
G R Á F I C A D E C O I M B R A
BA IR R O DE S. JOSÉ, 2 — COIM BRA