Você está na página 1de 8

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG)
Disciplina: A576 – Legislação Tributária
Profª Juliana Monteiro

Unidade 9 – Administração tributária

1. Direitos e deveres de fiscalização (arts. 194 a 200, CTN)

A legislação tributária regula a competência e os poderes do Fisco em matéria de fiscalização


tributária, nesse sentido, podemos sinalizar que:

 A fiscalização tributária alcança todas as pessoas (natural ou jurídica, pública ou privada,


contribuinte ou não). Isso implica que até mesmo as pessoas que são imunes ou isentas da
obrigação tributária sujeitam-se à fiscalização do Fisco.
 Não podem ser impostas restrições ou limitações à fiscalização, nesse sentido, não têm
aplicação quaisquer disposições legais excludentes ou limitantes do direito de examinar
mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos
comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.

Súmula 439, STF: Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros
comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação.

 Registros e comprovantes devem ser mantidos até a prescrição do crédito tributário, como por
exemplo os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os comprovantes dos
lançamentos neles efetuados.
 Pessoas ou entidades são obrigadas a prestar informações que disponham com relação aos
bens, negócios ou atividades de terceiros, mediante intimação escrita, como exemplo,
tabeliões, bancos, leiloeiros, inventariantes, síndicos. Excetuam-se aqui as pessoas que
legalmente são impedidas de prestar informações em razão de cargo, ofício, função,
ministério, atividade ou profissão que exerçam ou ocupem (médicos, advogados, sacerdotes).

Atenção! Há grande discussão na doutrina acerca da quebra de sigilo bancário efetuada pelo Fisco
ao solicitar das instituições bancárias informações acerca dos contribuintes, sendo essa prática
considerada por alguns como uma violação ao direito fundamental a intimidade e vida privada. O
STF mantém entendimento (não unânime) pela constitucionalidade das normas que autorizam esse
procedimento, como forma de aumentar o poder de fiscalização do Fisco.

1
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG)
Disciplina: A576 – Legislação Tributária
Profª Juliana Monteiro

Art. 6º, Lei Complementar nº 105/2001: As autoridades e os agentes fiscais tributários da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e
registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações
financeiras, quando houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais
exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente. Parágrafo
único: O resultado dos exames, as informações e os documentos a que se refere este artigo serão
conservados em sigilo, observada a legislação tributária.

 É possível solicitar auxílio policial para viabilizar a fiscalização em caso de embaraço ou


desacato.
 Os procedimentos de fiscalização devem ser lavrados em termos específicos, com previsão
do prazo de conclusão.

A instauração de processo fiscalizatório retira do contribuinte o benefício da denunciação


espontânea (art. 138, CTN), por meio do qual o contribuinte infrator é isento de penalidade caso
denuncie a própria infração e pague os valores devidos ou deposite-os.
Art. 138, CTN: A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada,
se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância
arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração.
Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer
procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração.

1.1 Sigilo fiscal

As autoridades públicas não podem divulgar informações obtidas durante os trabalhos de


fiscalização, sob pena de responsabilidade funcional.
Exceto nos casos de:
 Requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça.
 Solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração Pública, desde que
seja comprovada a instauração regular de processo administrativo, no órgão ou na entidade
respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por
prática de infração administrativa.

2
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG)
Disciplina: A576 – Legislação Tributária
Profª Juliana Monteiro

 Representação penal, quando os dados coletados na atividade fiscal configurem a prática de


crime deverão ser remetidos ao Ministério Público para a devida apuração penal.
 Inscrição na Dívida Ativa, concessão de parcelamento ou moratória, em decorrência do
princípio da publicidade da Administração Pública.
A despeito do dever de sigilo, com o devido respaldo Constitucional, os entes políticos poderão
celebrar convênios para o intercâmbio de dados, pois a troca de informações e a manutenção de
cadastros compartilhados contribuem para o desempenho da atividade tributária, nos diversos níveis
da Federação, inclusive a cooperação internacional, entre países (prerrogativa da Fazenda Pública da
União).

Art. 37, CF/88: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
XXII – as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas,
terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive
com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.

Art. 199, CTN: A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
prestar-se-ão mutuamente assistência para a fiscalização dos tributos respectivos e permuta de
informações, na forma estabelecida, em caráter geral ou específico, por lei ou convênio.
Parágrafo único. A Fazenda Pública da União, na forma estabelecida em tratados, acordos ou
convênios, poderá permutar informações com Estados estrangeiros no interesse da arrecadação e da
fiscalização de tributos.

O compartilhamento de informações por parte das administrações públicas objetiva maximizar


a eficácia de suas atividades, prestigiando a necessidade de buscar o crédito tributário utilizado nos
objetivos públicos. Para tanto, o intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração
Pública, será realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega será feita
pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a transferência e assegure a
preservação do sigilo.

3
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG)
Disciplina: A576 – Legislação Tributária
Profª Juliana Monteiro

O Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal (CADIN) é um banco de
dados no qual estão registrados os nomes de pessoas físicas e jurídicas em débito para com órgãos e
entidades federais. O CADIN é regulado pela Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002 e Portaria STN
nº 685, de 14 de setembro de 2006.
O cadastro de inadimplentes no CADIN pode ser feito por qualquer órgão integrante da
Administração Pública Federal Direta ou Indireta, inclusive dos Poderes Legislativo e Judiciário e
Conselhos de fiscalização das profissões regulamentadas.
Sua consulta prévia é obrigatória pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal nos
casos de realização de operações de crédito que envolvam a utilização de recursos públicos, na
concessão de incentivos fiscais e financeiros e na celebração de convênios, acordos, ajustes ou
contratos que envolvam desembolso, a qualquer título, de recursos públicos, e respectivos
aditamentos.

2. Dívida ativa (arts. 201 a 204, CTN)

Tendo sido o crédito tributário devidamente constituído e efetivado o seu lançamento, inicia-se
o prazo para que o contribuinte efetue o pagamento, extinguindo a obrigação tributária, ou impugne
administrativamente ou judicialmente a sua constituição. Não havendo questionamentos acerca da
constituição do crédito e também não sendo efetuado o pagamento, dá-se a inscrição do devedor na
Dívida Ativa, ou seja, o nome do contribuinte é inserido na lista de inadimplentes junto ao Fisco,
expedindo-se a Certidão de Dívida Ativa (CDA).

Art. 201, CTN: Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito dessa natureza, regularmente
inscrita na repartição administrativa competente, depois de esgotado o prazo fixado, para pagamento,
pela lei ou por decisão final proferida em processo regular.

A CDA deverá ser autenticada pela autoridade competente e obrigatoriamente conterá:


 Nome do devedor e dos corresponsáveis, se for o caso.
 Domicílio ou residência.
 Valor: a quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora crescidos.
 Origem e natureza do crédito, juntamente com a sua fundamentação legal.
 Data em que foi inscrita a dívida.

4
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG)
Disciplina: A576 – Legislação Tributária
Profª Juliana Monteiro

 Nº do processo administrativo que originou o crédito.


 Indicação do livro e folha de inscrição (hoje esse procedimento é digital)
O erro ou omissão nessas informações são causas de nulidade da inscrição e do processo de
cobrança dela decorrente, contudo, a nulidade poderá ser sanada até a decisão de primeira instância,
mediante substituição da certidão nula.

São efeitos da inscrição em Dívida Ativa:


 Impossibilidade de expedição de certidão tributária negativa.
 Autorização para a Fazenda pública adotar medidas cautelares para garantir a satisfação do
crédito, como por exemplo, obter a indisponibilidade de bens do devedor.
 Sujeição do patrimônio do devedor a limitações.
 Presunção de fraude na alienação de bens sem que haja reserva para quitação do débito fiscal.

Quando promovida em conformidade com os requisitos legais, a inscrição na Dívida Ativa


produz um título executivo extrajudicial1, que goza de presunção relativa de liquidez e certeza e que
se constitui em condição necessária e suficiente para a propositura da ação judicial de execução fiscal.
Essa presunção de liquidez e certeza é apenas relativa, pois poderá o sujeito passivo apresentar prova
inequívoca em sentido contrário, por exemplo, comprovando que é imune ao tributo.
O CTN não prevê a possibilidade de levar a CDA a protesto em cartório, ou seja, tornar pública
a dívida do contribuinte e inseri-lo em cadastro de inadimplentes (SPC, Serasa) ocasionando a
negativação do nome do contribuinte, porém, o art. 1º da Lei do Protesto (Lei nº 9.492/97) estabelece
que:

Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de


obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.
Parágrafo único. Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e
fundações públicas (BRASIL, 1997, s.p)

A despeito da existência da previsão legal, o assunto não é pacífico, pois a Lei de Protesto é
instrumento do direito privado e a cobrança de tributos é um procedimento público, assim a Lei de
Protesto não teria legitimidade para alterar o devido processo legal para a cobrança de tributos.

1
Documento ou ato que não se originaram de um processo judicial, mas aos quais a lei confere força de execução para o
cumprimento de uma obrigação.
5
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG)
Disciplina: A576 – Legislação Tributária
Profª Juliana Monteiro

Por fim, convém sinalizar que o STJ sustenta o entendimento de que a CDA pode ser levada a
protesto em cartório e que “o sujeito passivo, portanto, não pode alegar que houve ‘surpresa’ ou
‘abuso de poder’ na extração da CDA, uma vez que esta pressupõe sua participação na apuração do
débito” (STJ, 2013 apud MAZZA, 2019, p. 758).

3. Certidões (art. 205 a 208, CTN)

Dentre as suas obrigações, o Fisco tem o dever de emitir certidões comprobatórias de quitação
de tributos. Tais certidões geralmente são requeridas pelo sujeito passivo que pretenda exercer algum
direito vinculado à comprovação de regularidade fiscal, como por exemplo, participar de processo
licitatório e celebrar contratos administrativos com o Poder Público.

Art. 193, CTN: Salvo quando expressamente autorizado por lei, nenhum departamento da
administração pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, ou dos Municípios, ou sua
autarquia, celebrará contrato ou aceitará proposta em concorrência pública sem que o contratante ou
proponente faça prova da quitação de todos os tributos devidos à Fazenda Pública interessada,
relativos à atividade em cujo exercício contrata ou concorre.

A expedição das certidões depende de requerimento do interessado e o prazo para emissão é de


10 dias contados da data do requerimento, porém com o advento da tecnologia, na atualidade a
maioria das certidões podem ser emitidas e validadas por meio digital, o que acelera esse processo.
Tipos:
 Certidão negativa
Declara a inexistência de débitos e caso seja emitida com dolo ou fraude do agente fiscal,
ensejará a sua responsabilização.

Art. 208, CTN: A certidão negativa expedida com dolo ou fraude, que contenha erro contra a Fazenda
Pública, responsabiliza pessoalmente o funcionário que a expedir, pelo crédito tributário e juros de
mora acrescidos.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não exclui a responsabilidade criminal e funcional que no
caso couber.

6
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG)
Disciplina: A576 – Legislação Tributária
Profª Juliana Monteiro

 Certidão positiva com efeito de negativa


Tem os mesmos efeitos da certidão negativa e trata de créditos tributários não vencidos, em
curso de cobrança cuja exigibilidade esteja suspensa ou exista alguma garantia da satisfação
(penhora, caução, depósito). Caso o Fisco recuse a emissão desse tipo de certidão e estando o
contribuinte em situação que lhe garanta esse direito, caberá Mandado de Segurança com
pedido liminar de emissão da certidão.

 Certidão positiva
Declara a existência de débitos tributários.

Ainda, a emissão da certidão é ato vinculado, ou seja, o Fisco não pode se recusar a emiti-las
sempre que o contribuinte atender os requisitos legais.

Súmula nº 446, STJ: Declarado e não pago o débito tributário pelo contribuinte, é legítima a recusa
de expedição de certidão negativa ou positiva com efeito de negativa.

Figura 1 – Esquema geral da obrigação tributária

Fonte: BORBA, 2019, p. 411

7
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG)
Disciplina: A576 – Legislação Tributária
Profª Juliana Monteiro

REFERÊNCIAS

BORBA, Claudio. Direito Tributário. 28. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019.

BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e
institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm. Acesso em: 10 maio. 2020.

BRASIL. Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997. Define competência, regulamenta os serviços


concernentes ao protesto de títulos e outros documentos de dívida e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9492.htm. Acesso em: 01 jul. 2020.

MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Tributário. 4 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

Você também pode gostar