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“*Retirar o véu noturno e abrir as portas do
dia significa penetrar no santuário da iniciação,
da revelação e do êxtase. É a hora mágica do
“cantar do galo”, esta ave iniciática que traduz o
despertar da consciência interior.”
Sherazade
Suas histórias fabulosas ao rei Shariar
2
Equipe BTW
Editora Chefe:
Lorenna Escobar
HPS 2*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Caldeirão de Cerridwen
Projeto Gráfico:
Artemis Absinto
Dedicada da Tradição Gardneriana,
linha Olwen - BR
Colaboradores:
Ana Marques
Dedicada da Tradição Gardneriana,
linha Olwen - BR
Arida Diana
HPS 3*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Vassoura Sagrada
Artemis Absinto
Dedicada da Tradição Gardneriana,
linha Olwen - BR
Baco Liber
HP 3*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Vassoura Sagrada
Calliope Berkanna
Iniciada 1*- Tradição Gardneriana, linha Olwen -
BR - Coven Vassoura Sagrada
Brutus Lobão
HP 2*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Caldeirão de Cerridwen
Lorenna Escobar
HPS 2*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Caldeirão de Cerridwen
Simone Abraços
Iniciada 1*- Tradição Gardneriana, linha Olwen -
BR - Coven Caldeirão de Cerridwen
Mario Martinez
HP 3*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Caldeirão de Cerridwen 3
EDITORIAL
por Lorenna Escobar
CARTA DO LEITOR
Não podia perder a oportunidade de parabenizar a todos os
envolvidos na concepção da revista BTW, afinal é um ótimo
material para os que estão buscando um conhecimento confiá-
vel e tradicional, espero que cada edição nos surpreenda mais
que a anterior.
Mal posso esperar pela próxima edição.
att,
André Barcellos
5
OSTARA
por Brutus Lobão
6
Este momento de primavera é muito terizam a assobiante canção do despertar
propício ao encanto que os enamorados da natureza.
demonstram explicitamente, às paixões
que arrastam as razões até a fogueira do Para o Wica Tradicional, este é um mo-
amor, às visões de paraíso aqui mesmo na mento de amadurecimento das energias
terra, como comentavam os Bascos sobre fecundativas, e preparar de todo o roman-
os Sabás das Bruxas(The Meaning of Wi- ce que vivem os Deuses. Cores, aromas,
tchCraft, Gardner, Cap. XII). flores, beleza e jovialidade transmitem a
energia do momento e a contemplação
A chegada da primavera é muito asso- dos Mistérios Sagrados pelos Iniciados
ciada com ícones mascarados e misterio- desvelam o início dos Ritos mais festivos e
sos, escondidas nas florestas e nas folha- alegres dos Deuses.
gens, espreitando por trás do tenro verde,
como Jack in the Green. Os sons das fo-
lhagens e do vento entre as plantas, carac-
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‘Nós, como o restante dos povos pagãos
do ocidente possuímos algo que nos
distingue dos demais... ’
O Comportamento Pagão
A Estrutura Basal ‘Ao final de 1939, numa bela casa de uma
Parte II professora de canto, região de New Fo-
rest, Inglaterra, um trabalhador aposen-
tado da alfandega inglesa, ex-trabalhador
por Baco Líber das fazendas de chá no Ceilão, foi iniciado
em um estranho culto...’
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era partilhado por todos, e, assim também
a mudança se fazia, percorrendo todo o
grupo como uma a mítica Ouroboros, a
serpente que morde a própria cauda, sim-
bolizando a eternidade.
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rio, sua própria insatisfação. Que por sua Assim ele complementa, dizendo que:
vez, os conduz até a senda oculta, logo aos
antigos mistérios. Martinez em seus textos “A idéia é a de ajustamento, de con-
e estudos cita que: formismo, o mesmo que a Igreja Católi-
ca tem impingido durante séculos. Nos-
“A diferença entre mente religiosa e a sa estrutura psicológica, implantada em
mente ordinária, é que a mente comum nossa mente, é a de nos ajustarmos aos
está sempre seguindo ideias, sempre padrões, nem que seja aos padrões “reli-
compelida pela promessa de recompen- giosos”, porém ao nos conformarmos com
sa, sempre com medo da punição, sem- isso, estaremos irremediavelmente perdi-
pre empenhada na fuga e em busca do dos. No ajustamento encontramos satis-
caminho fácil. Trata-se de um materialis- fação, segurança, no ajustamento não há
mo aliado à religiosidade, porque na ver- medo, não nos sentimos sós, mas desse
dade o que as pessoas buscam é confor- modo nos tornamos mecânicos, mortos,
to, satisfação, riqueza, prazer. E querem seres de segunda mão.
encontra-los na religião. Assim, a religião
dessa gente é aquela da Deusa que traz Levar uma vida religiosa implica estar
a iniciação, independente de qualquer es- só. Estar só quer dizer estar livre do medo
forço; é aquela da Deusa que me chama e de todas as influências produzidas pe-
gratuitamente, mesmo que eu não faça los padrões e pelas idéias. Porque estar
nada para melhorar meu interior. Uma só e estar em simplicidade e vice-versa.
enganação criada pela busca de conforto, Quem está só sabe o que significa a feli-
pela agonia de sair desesperadamente da cidade, porque o conforto, a segurança e
insatisfação. Mas é a insatisfação o ele- o prazer não dependem de nenhum fator
mento motivador da religiosidade, e se a externo, de nenhuma idéia. Espero que
descartamos, continuaremos os mesmos, estejam compreendendo isto, porque sem
os mesmos seres humanos lastimáveis tal compreensão nenhuma vida verdadei-
que sempre fomos.” ramente religiosa pode ser vivida.”
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Uma pequena nota
sobre a Iniciação
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de família para os líderes dos Nove. Esses somos e o que nos tornamos internamen-
mesmos líderes, foram pessoalmente ini- te. Uma árvore mostra em seus frutos e
ciados por ele, sendo assim, cada um des- flores aquilo que ela ‘rumina’ em seu in-
ses Covens podia desse modo orgulhar-se terior, assim como as ovelhas que ao se
de uma inquebrantável e contínua tradição alimentarem não demonstram o que co-
de 8(oito) séculos. mem, mas, o que se tornaram internamen-
te através de sua lã e leite.
Gerald Gardner através de seu tempo
como um Sacerdote Ofician- A Iniciação deve despertar, aflo-
te (agora já separado de seu rar, florescer, esta é sua função,
Coven de origem), incitou o energias internas este é o seu legado, ela elucida
retorno do Culto à Grande a anunciação que a primavera da
e externas
Mãe e seu consorte Chifrudo alma estabelece. Ela é trazida com
(com base na liderança dos se igualam o final de Imbolc, e, fixada com
covens de Pickingill). Inician- o Equinócio Primaveril, onde as
do cerca (por este não ser energias internas e externas se
um número confirmado) de 7(sete) mu- igualam, prenunciando equilíbrio físico e
lheres. Estas por sua vez desenvolveram espiritual. Ambos com o passar da Roda
cada qual a sua própria Congregação que levam consigo a diferenciação da consciên-
se perpetuou com os anos, ou, as linhagens cia pelo estabelecer das duas polaridades
da agora chamada Wica Gardneriana. existentes em ambos os lados: dentro e
fora. Assim, Litha anuncia os poderes do
Aqui retornamos ao ponto de partida. Sol, o físico é contemplado em uma es-
Observamos acontecimentos no percurso
da história que desembocaram no fato
consumado à cima. Mas, as razões para
que este comportamento fosse construído
e deveras projetado para se tornar um
chamariz que conduziria uma pessoa à
particularidade de apropriada para a antiga
arte dos sábios, talvez, pode ser concluída
através das palavras pilares desta religião:
amor e confiança. Contudo, para que estas
virtudes possam existir em um adepto, ele
deve antes que qualquer ponto vislumbrar
a profundidade sem limites em si mesmo,
ou, o vazio, pois os primeiros sinais da
sabedoria se fazem no silêncio de um ato.
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sência sensível, o Chifrudo como Senhor
da Terra se faz ‘completo’, atinge seu clí-
max, que inexoravelmente inicia seu declí-
nio. Aqui lentamente a polaridade interna
e obscura, misteriosa por si só inicia sua
elevação. Mabon esclarece o sentido da in-
trospecção, e, dedilha a sensibilidade para
entendermos este aprofundamento em
nós mesmos. O interno, o polar negativo
feminino, estabelece o ‘sono’, o contato
com o inconsciente, demonstrado no ex-
terno como Inverno. O inverno agride o
corpo para que o mesmo observe a si pró-
prio, e com isto gere forças para renascer.
O renascimento é criado pela vontade de
mudança, pelo desejo de ser, de existir. Tal
é despertado pela polaridade masculina, a
ação.
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ENCONTRO COM MONIQUE WILSON
por Mario Martinez
Muitas pessoas me pediram para escre- va empenhado na minha busca, quando fui
ver algumas linhas sobre Monique Wilson. apresentado em Londres a um conhecido
Conheci Lady Olwen no início de 1968, de meu avô, um escocês chamado Scot-
após uma prolongada e muito ruim crise ty, ou pelo menos era assim que todos o
espiritual. Tal crise pode até parecer estra- chamavam.
nha aos jovens hoje em dia, voltados para
as festas, baladas, drogas e vídeo-game, Naquele tempo, eu não tinha idéia do
mas eu sempre fui muito diferente dos que esse encontro representaria em mi-
adolescentes da minha idade. Aos 14 anos nha vida, mas o que aconteceria nos nove
eu já estava engajado numa procura por meses seguintes a mudaria para sempre.
respostas quase obsessiva. Naquele dia chuvoso e frio de outubro
de 1967, ficou acertado que na primeira
Minha família havia se mudado de Port oportunidade nós faríamos uma pequena
Said, em Suez no Egito, para viver em viagem até Liverpool e então tomaríamos
Newcastle, Inglaterra. Meu avô vivia lá e um barco, cruzando o Mar da Irlanda até
com a guerra dos seis dias, tivemos que Douglas, uma pequena cidade numa ilha
deixar o Egito. No final de 1967 já estáva- pequena também, conhecida como Isle of
mos vivendo em Newcastle, e eu continua- Man.
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Isso aconteceu 44 anos atrás. Minhas
memórias a respeito desse encontro são
turvas, longínquas, desconexas; mas o que
retenho até hoje na mente é que esse en-
contro me transformou. Até hoje posso
lembrar o cheiro do salão, e tenho muitas
lembranças da exposição do que foi um dia
o “Museum of Witchcraft and Magic”.
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estavam se unindo contra os wther, que até hoje afirma ser a
Wilson, e tenho certeza de que Os Wilson se “herdeira espiritual de Gardner”,
toda essa hostilidade se devia a mudaram de Perth já que ela nunca perdoou Moni-
ciúmes dos demais, porque os que por ter se tornado a herdei-
Wilson haviam herdado todo o para a Ilha de Man ra de todos os seus bens.
espólio de Gerald Gardner.
Se esses elders considerassem
Eu sempre vi isso com pesar, porque na mesmo a coleção de artefatos de Gardner,
verdade ninguém estava disposto a abando- além de seus cadernos de notas e outros
nar seus afazeres diários e se mudar para a documentos importantes como uma “he-
Ilha de Man para tomar conta do Museu de rança nacional da Inglaterra”, então por
Bruxaria. Os únicos que se interessaram que não ajudaram e permitiram que os
foram os Wilson. Da mesma forma, não Wilson ficassem quebrados e fossem obri-
vejo lógica alguma em não querer assumir gados a vender tudo? Uma das coisas que
aquele compromisso para depois atacar eu me lembro muito bem daquela época,
os que arregaçaram as mangas e assumi- era quando o inverno começava a se apro-
ram essa tarefa. Os Wilson se mudaram ximar, e os Wilson ficavam muito preocu-
de Perth na Escócia para a Ilha de Man, pados com a vedação dos telhados, e isso
e se não fossem eles, não sei o que teria custava caro.
acontecido com todo o acervo do Museu e
com a casa de Gardner em Malew Street. ‘Apesar de tudo, Iniciados de Mo-
nique e Scotty estão espalhados pela
Entretanto, depois que a situação dos Europa e Américas, sua Linha da Arte
Wilson ficou insustentável, e eles tiveram continua a crescer e se fortalecer, e é
que vender o acervo para os Ripley da Or- isso que é importante para todos nós,
ganização “Believe it or not”, os mesmos seus descendentes.’
elders que não moveram uma palha para
ajudar, começaram a atacar os Wilson
novamente, desta vez por terem vendido
tudo em 1973. Pelo que pude perceber na
época, a Alta Sacerdotisa de Gardner que
mais fomentou essa intriga foi Patrícia Cro-
19
A Arte Mágica possui seus métodos se-
cretos, transmitidos apenas a Iniciados,
para desenvolver amplamente todas as ca-
pacidades do ser, sendo aplicado em ser-
viço aos Deuses Antigos. O poder mental
das bruxas já foi comentado por Gerald
B. Gardner em WitchCraft Today, cáp. I,
como sendo um poder da vontade treina-
da usado no lançar de seus Cones de Po-
der, e:
na Bruxaria
(GARDNER, WitchCraft Today, Cáp. I)
Gardneriana
que é o Poder das Bruxas?, temos Gardner
explicando:
“A resposta fácil é
por Brutus Lobão Mente sobre Matéria.”
20
purificada pelos Mistérios tenha condições
e capacidades prévias para desenvolver Po-
deres Mentais. É necessário um trabalho
muito árduo para que a mente esteja em
condições de ser libertada de suas limita-
ções e possa erguer as asas em direção aos
Deuses.
21
WICA E SEUS DOGMAS
por Calliope Berkanna ser uma crença de caráter religioso ou ide-
ológico, imposta aos adeptos, que devem
“(...) viver os Mistérios da Antiga Religião acreditar respeitar e não questionar aquilo
é o mesmo que adentrar a sua compreen- que é tido como verdade incontestável.
são não de modo intelectual, mas através
de uma profunda experiência interior.” Dogmas são encontrados em muitas re-
ligiões monoteístas (como o cristianismo,
(MARTINEZ, Mario. Wicca
Gardneriana. Ed. Gaia, 2005, p. 25)
islamismo e o judaísmo), onde são consi-
derados verdades indubitáveis, princípios
Todo Dogma é uma crença, mas nem toda básicos, pilares fundamentais, que devem
crença é um Dogma. O Dogma poderia ser respeitados por todos, de modo que
ser descrito como uma crença incapaz de seu questionamento ou possível revisão
ser justificada adequadamente, ao mesmo por uma pessoa não é aceita nessa religião.
tempo em que se tem uma forte adesão, É uma crença que se distingue da opinião
emocional ou pessoal, a ela. A priori, seria teológica pessoal. Nesse contexto, pode-
uma análise da realidade, uma representa- mos considerar como Dogmatismo não
ção cognitiva desta, susceptível de possuir apenas o conjunto formado por essas
um valor verdadeiro para um indivíduo ou “verdades absolutas”, mas também como
grupo, social ou religioso, direcionando-os uma tendência natural a crer que o mundo
a um aprimoramento e desenvolvimento é do jeito que aprendemos, sem dúvidas
contínuo. Dessa forma, Dogmas não deve- a serem confrontadas ou conhecimentos
riam ser inflexíveis, irracionais. Porém seu a serem problematizados. Há espaço para
significado mais utilizado atualmente é o de o fundamentalismo religioso aqui, uma vez
22
que esses Dogmas são passados de forma
autoritária e sentenciosa, anulando assim a
capacidade do indivíduo de questionar tudo
aquilo que não tenha lógica ou sentido.
23
o conhecimento tradicional que lhe é do no decorrer do seu caminho na Arte,
transmitido. um Dedicado percebe os Dogmas de ma-
neira distinta de um Iniciado, assim como a
Sendo uma Tradição Iniciática e Misterio- vivência de um Iniciado de 1* se distingue
sa, a Wica permite que o buscador possa da de um Alto Sacerdote de 3*.
se tornar um Dedicado após determinado
período de estudos e práticas, a fim de ex- Conclui-se que a Wica possui Dogmas,
perimentar alguns aspectos da religião, ad- mas não é uma religião dogmática. Há uma
quirindo noções das suas práticas e da sua diferença que só pode ser percebida com
ética. O Dedicado é incentivado pelo Mes- a vivência destes Mistérios, sua compre-
tre a evoluir a partir da vivência ensão espiritual e, assim, pro-
do que lhe é permitido conhecer, funda, dentro da consciência
através da experimentação do Os Mistérios passam do Iniciado. Sendo uma vivên-
material que lhe é apresentado. a fazer parte da cia, não há argumento, não há
Um Dedicado se torna um Inicia- nada nem ninguém que poderá
do após fazer juramentos apenas
percepção mudar ou apagar isso. Aqui o
conhecidos pelos membros da individual Dogma deixa de ser algo que
Tradição. A partir desse momen- simplesmente foi empurrado,
to ele se torna parte da Tradição e seu imposto, e passa a ser uma certeza, vi-
entendimento sobre suas vivências se mo- venciada e compreendida profundamen-
dificará a medida que galgar os degraus na te. Essa é a diferença fundamental entre
Wica Tradicional, ascendendo graus e po- o dogmatismo judaico-cristão e o dogma
dendo tornar-se Alto Sacerdote. Os Mis- wicano. Enquanto o primeiro representa
térios passam a fazer parte da percepção a atitude presunçosa de impor a seus se-
individual, da vivência pessoal do Iniciado. guidores verdades não vividas, o segundo
Como a compreensão dos Dogmas está nada mais é que o conjunto dos Dogmas
intimamente ligada à compreensão dos da Tradição.
Mistérios, que são apresentados ao Inicia-
“Tudo dentro da Wica deve ser com-
preendido, nada deve ser aceito. E qual a
melhor forma de compreender algo além
de experienciando?”
M. Martinez (HP 3* do Coven
Caldeirão de Cerridwen – RJ)
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essas verdades fundamentais podem ser queiram) se libertar. Mas não é a falta de
chamadas de Dogmas. Alguns autores cha- Dogmas que libertará, e sim a quebra do
marão de Paradigmas, outros de Mistérios. Ego. Estes ‘wiccanos’ excluem os Dogmas
Importante é que são experimentados, da Estrutura da Tradição apenas para satis-
vividos, e não impostos. Vivenciados de fazer a necessidades pessoais e egoístas. Na
tal maneira que essa experiência se torna verdade, não excluem apenas os Dogmas,
parte da sabedoria, não de algum conhe- mas acabam por excluir diversos aspectos
cimento alheio e emprestado, esse sim importantes da Teologia, da Estrutura ou
podendo ser chamado de Dogmatismo no do que mais for conveniente para adaptar
sentido pejorativo da palavra. a religião às suas necessidades individuais.
“A natureza é a essência sob a qual es- “Todas as mudanças dos dogmas e di-
tão fundamentadas as crenças de nossa retrizes básicas da Wica, seus mistérios e
religião, por isso o ato de observá-la, vi- conhecimentos, foram apagados ou modi-
venciá-la e por último unir-se a ela, é par- ficados para satisfazer necessidades, gos-
te integral e vital dos dogmas Wicanos.” tos e políticas pessoais, transformando
assim a wicca em duas distintas religiões
Arida e Baco (Altos Sacerdotes do
Coven da Vassoura Sagrada - MG) a Antiga Wica e a Neo-Wicca.”,
Arida e Baco (Altos Sacerdotes do
Atualmente vemos “bruxos” ecléticos, Coven da Vassoura Sagrada - MG)
que se autodenominam ‘wiccanos’, faze-
rem um mau uso da palavra Dogma, uti- Agora mesmo afirmei que não é a exclu-
lizando o seu significado judaico-cristão são dos Dogmas que liberta, mas a trans-
cheio de imposições e autoritarismos, em cêndencia do Ego. Sendo a Wica uma reli-
que o dogma “prende”, nega a liberdade ao gião de transcendência, transcender o Ego
indivíduo, o impede de encontrar “a sua é um aspecto muito importante. Só através
verdade” - um ranço do qual estes “bru- da superação do Ego é possível se unir aos
xos” ainda não conseguiram (e talvez nem Deuses. Não é a Arte que deve se adaptar
25
JOHN BRITISH DIXON DEPOIS DE JOHN HAMILTON MORTIMER (1773)
às necessidades do Ego, mas o contrário.
QUADRO: AN INCANTATION
nifica abrir mão de valores sociais e psico-
lógicos aos quais tanto nos apegamos, aos
quais damos tanto valor por acreditar que
eles são reais, que eles são o nosso ver-
dadeiro Eu. Precisamos nos despojar des-
se lixo acumulado durante anos, pois este
acúmulo cria uma carapaça sustentada por
pseudo-verdades, impedindo o nosso cres-
cimento, nosso aprendizado. Essa fachada Na Carga da Deusa, encontrada em di-
é incapaz de acompanhar a evolução do in- versas versões públicas, podemos ler uma
divíduo e, sem nada sólido que lhe alicerce, promessa: “Eu dou inimagináveis alegrias na
uma hora cairá por terra. Então, nus, igno- Terra, certeza, não fé, enquanto em vida.”
rantes, tolos, imorais, perdidos, podemos Certeza, pois o Iniciado não recebe e re-
nos sentir tentados a usar a antiga máscara pete indiscriminadamente os Mistérios, ele
novamente. Mas como disse Einstein uma os vive, formando certezas e não uma fé
vez “a mente que se abre a uma nova idéia cega. Assim, não há liberdade limada, não
jamais volta ao seu tamanho original”, - não há lugar para imposições arbitrárias.
há como esconder-se atrás de algo que foi
Este é um assunto vasto e penso ser
destruído, que não serve mais. E isso é só
mais interessante neste momento tratar
o começo. É necessário despertar das ilu-
de um pequeno resumo de cada dogma e,
sões criadas pelo Ego.
em seguida, esmiuçarmos um por um, na
O Mestre é o guia nesse despertar, mas medida do que se pode falar publicamente.
nada pode fazer sem que o discípulo con- Mesmo tendo sido publicado nos últimos
fie. É necessário confiança para haver anos muito material de Wica, ela continua
abertura, entrega. Ocorrendo sendo uma religião baseada na
total entrega, o Mestre poderá Eu dou inimagináveis tradição oral, passada de mestre
então destruir o Ego e condu- para discípulo e resguardada por
zir o discípulo para a unidade. alegrias na Terra, juramentos, ou seja, Hermética.
Pois não há como se relacionar certeza, não fé, Continua seguindo fundamentos
e dogmas tradicionais, mas não
com os Deuses, mas se unir a
Eles, e essa união só é possível
enquanto em vida de um fundamentalismo ortodo-
na ausência do Ego. Um Inicia- xo. É na prática que se dá o cres-
do não compreende intelectualmente os cimento na Arte, pois ela é uma Fé Prática.
Deuses, tampouco permite que sua crença Da mesma forma o são seus princípios e
no Casal Divino se baseie em experiências crenças, bem como a certeza da vivência
alheias distantes de sua vivência. Um Inicia- espiritual, que só pode ser compreendida
do vivencia profundamente seu encontro dentro de um coven tradicional e de trei-
com o Divino, através de entrega, de unir- namento adequado. Então, entre os Dog-
-se aos Mistérios. mas estão estes listados abaixo.
26
O Deus e a Deusa naturais. É compreender princípios ener-
géticos de atração, geração e direciona-
A Wica é uma religião duoteísta centra- mento de poder. Compreender como
da no culto de duas Divindades: a Deusa empregar esse poder gerado para manifes-
da Lua e das Estrelas e o seu Consorte, o tação de desejos ou necessidades. Com-
Deus de Chifres. Ela, é a Mãe e a Criadora preender que é possível solicitar auxílio
de todas as coisas, é a representação má- a um espírito ou deidade. Compreender
xima da Feminilidade, o Divino Feminino, que a Natureza possui fluxos ocultos – as
o Ventre Sagrado, a Força Passiva da Cria- marés energéticas -, seu funcionamento e
ção. Ele é a representação da Virilidade e como utilizá-los para provocar mudanças
da Fertilidade, a Força Ativa da Criação, de acordo com a vontade pessoal. Fre-
o Divino Masculino, é o Senhor da Mor- quentemente a magia requer a utilização
te e do Submundo, o Deus Cornífero das de instrumentos preparados e estados de
Florestas e dos animais selvagens. Eles são consciência estabelecidos.
Deuses Supremos, Cósmicos e Primais.
São Amantes, Polaridades Divinas que se Lei Tríplice
complementam em igualitária importância.
São Imanentes e Transcendentes. Possuem Tudo no Universo é energia e essa ener-
nomes e formas específicas para serem in- gia está em constante movimento (tudo é
vocados, sendo estes secretos e conheci- vibração). Uma ação ou um desejo é uma
dos apenas pelos Altos Sacerdotes como forma de energia vibrante e que de acordo
senhas para acessá-los. com o Princípio de Ação e Reação (causa
e efeito) toda energia gerada vai e retorna
Magia a sua fonte de origem. Em outras palavras,
tudo o que desejarmos voltará para nós
A verdadeira magia não é superstição triplicado e nessa mesma vida. O grande
nem magia popular, tal como os poderes problema com esse dogma, é que é preci-
atribuídos às ervas e aos encantamentos so ser um Iniciado para compreendê-lo, já
que ele está intimamente ligado aos Misté-
rios Ancestrais.
Rituais
27
Poder Pessoal Summerland
29
-Payne e sua equipe organizassem
Isso integrava os dois princi-
um "Day for Gerald". Lá estavam
pais temas na minha vida, a di-
aqueles que haviam estudado a
mensão psíquica e a paisagem.
vida e os trabalhos de Gerald, tais
Eu terminei me graduando em
como o Professor Ronald Hutton
Geografia na Universidade. Eu
e eu, juntos com os que tinham co-
li "Witchcraft Today" de Ge-
nhecido e trabalhado com Gerald,
rald Gardner por volta de 1959.
como Fred Lamond, Lois Bourne
O livro falou ao mais profundo
e Zach Cox. Infelizmente eu não
do meu ser, não tanto pelo que
estava me sentindo bem (não, eu
ele disse, mas pelo que ele não
não tinha bebido na noite ante-
disse, se você pode entender
rior!), assim eu perdi a maioria das
isto! Ele mudou minha vida. Eu
palestras da tarde. Eu estou par-
lia tudo o que podia, o que não
ticularmente triste por ter perdido
era muito naqueles dias, e nunca
a contribuição de Lois.
esperei ser capaz de encontrar
realmente bruxos vivos de ver-
dade! Na verdade, isso foi mui- M.M: Qual foi a importância
tos anos antes de encontrá-los. da Conferência para a Comu-
nidade Wicana no Reino Uni-
do e para o resto do mundo?
M.M: Você pode me dizer
alguma coisa sobre a sua
experiência na Arte Gard- P.H: Ela provavelmente enfa-
Philip Heselton
neriana? Você ainda pratica tizou a extensão de tudo o que
dentro de um coven? está acontecendo hoje no vasto
movimento Pagão tem suas ori-
gens no que Gerald Gardner fez e
Philip Heselton é um iniciado P.H: Embora eu tenha lido
escreveu.
Gardneriano e escritor sobre "Witchcraft Today" muito an-
temas como Wica, Mistérios da tes em 1959, não
foi até 2002 que M.M: Eu adorei
Terra e Paganismo. Ele escre- seus livros. O que
veu dois livros sobre as origens ei fui iniciado em “Eu queria saber ocasionou seu in-
um coven, que de
da Wica Gardneriana: Wiccan
Roots - Gerald Gardner and the fato possuía raí- o que realmente teresse em inves-
tigar as raízes da
Modern Witchcraft Revival, e zes tanto Gard-
nerianas quanto
acontecera” Arte Gardneriana?
Gerald Gardner and the Caul-
dron of Inspiration. Nesta en- Alexandrinas. Eu
ainda estou nesse P.H: Eu nunca gos-
trevista exclusiva para BTW, ele tei de História como uma matéria
fala ... com Mario Martinez. coven. Na época em que eu fui
iniciado, eu já havia escrito dois escolar, mas de algum modo eu
livros sobre a história Gardne- estava fascinado em como a Arte
M.Martinez: Qual foi a sua moderna se originou. O que nós
riana, "Wiccan Roots" (publica-
primeira experiência com parecíamos encontrar era algum
do em 2000) e "Gerald Gardner
espiritualidade na sua vida tipo de mitologia ou uma versão
and the Cauldron of Inspiration"
e como ela influenciou você "plástica" da história. Eu queria sa-
(publicado em 2003).
em direção à Arte ? ber o que realmente acontecera.
M.M: Fale-me sobre a Eu fui inspirado pela "Busca por
P.Heselton: Desde os meus Old Dorothy" de Doreen Valien-
"Charge of the Goddess
anos de infância eu sempre que- te, dada como um apêndice do
Conference - A Day for Ge-
ria sair de mim mesmo, para a "The Witches Way" dos Farrar,
rald Gardner" no ano passa-
floresta e lugares afastados nos e eu resolvi levar isso mais longe.
do. Quem estava lá e como
campos, longe das pessoas. E foi Com a ajuda de um grande número
foi o contato com outros
lá que eu inventei minha própria de pessoas, incluíndo Michael Ho-
membros da Arte ?
religião, que ei depois percebi ward, editor de "The Cauldron", o
ser essencialmente Paganismo. Professor Ronald Hutton, Graham
Isso continuou com o meu in- P.H: Isso foi muito bom que,
King do Museum of Witchcraft
teresse nos mistérios da terra após o sucesso de "Day for Do-
em Boscastle, e numerosos his-
e nossa relação com a paisagem. reen" em 2009, John Belham-
toriadores locais e arquivistas, eu
30
estou certo da data da publicação.
gradualmente reuni pedaços de bom e um material instigante
Com certeza eu deixarei todos
algumas histórias, embora isso que parece apropriado em um
saberem quando ela aparecerá!
ainda não tenha terminado para ritual. Doreen Valiente retirou
Alguém poderia empreender o
mim. muito dele quando estava rees-
grande trabalho de tradução para
crevendo o Livro das Sombras
o Português?
M.M: O que você poderia para ela mesma, mas algum ain-
dizer sobre a amizade en- da permanece, possivelmente
porque ela não o M.M: Como você
tre Gardner e Crowley com
vê o futuro da Arte
vistas às citações de Crow-
ley nas primeiras versões
reconheceu pelo
que ele era.
“os poderosos Gardneriana?
do BoS e que foram corta- rituais que eles P.H: Bem, eu real-
das nas versões posterio- M.M: Que
res? Havia algum significa- passagem da realizaram em mente não sei! Ela cer-
tamente irá sobrevi-
do nessas mudanças, como vida de Gerald New Forest” ver por muito tempo.
a construção que os Wicas gardner mais
daquele tempo estavam impressionou Para sobreviver ela
escolhendo para a religião, você? tem que ser flexível. Certamen-
livrando seus textos de liga- te que em nosso próprio coven há
ções com supostos magos uma ênfase no desenvolvimento
P.H: Eu suponho que foi na
negros, como Crowley era pessoal tanto quanto no trabalho
época de sua iniciação no "culto
conhecido ? mágico. Será fascinante ver o que
das bruxas", como ele o chama-
acontecerá!
va, no verão de 1939, quando
P.H: Gerald Gardner e Aleis- ele foi conhecer os membros do
ter Crowley, em sua breve ami- grupo sem saber exatamente o M.M: Algum pensamento fi-
zade de maio a junho de 1947, que ele era, até que ele estava nal que você gostaria de com-
queriam alguma coisa um do ou- a meio caminho na sua iniciação partilhar com os leitores bra-
tro que, basicamente, o outro (não que nós façamos isso desse sileiros da revista BTW?
não pôde dar. Crowley esperava modo hoje em dia!). E, é claro,
que Gardner pudesse reviver a os poderosos rituais que eles P.H: Bem, Gerald Gardner fa-
moribunda O.T.O. (Odro Tem- realizaram em New Forest em lava fluentemente o português,
pli Orientis), e tentou ajudá- 1940 para tentar parar a amea- tendo vivido muitos anos de sua
-lo como ele podia. Contudo, çadora invasão da Inglaterra. juventude na Ilha da Madeira, en-
Gardner não estava preparado tão é apropriado que exista um in-
para se envolver no trabalho, M.M: Você já mencionou teresse por ele e seu trabalho tan-
então ficou doente e quando que você está trabalhando to em Portugal quanto no Brasil.
ele se recuperou, Crowley havia em um novo projeto de um Estou certo de que ele teria visto
morrido e o interesse de Gard- livro sobre uma biografia de isso com prazer!
ner fracassou. De sua parte, Gerald Gardner. Você pode-
Gardner queria respeito e rece- ria me dar alguns detalhes M.M: Caro Philip, muito
beu de Crowley um documento sobre o projeto? Quando o obrigado novamente por dis-
impressionante, a tão chamada livro será publicado? por do seu tempo para falar
"Carta", mas ela nunca foi real- para a revista BTW. Boa sor-
mente usada, P.H: Sim, ele é só a te e muito sucesso com seu
novo livro sobre a biografia de
pois Gardner
afastou-se
“Gardner não segunda biografia de
Gardner.
Gerald a aparecer, a
para outras estava preparado primeira sendo "Gerald
coisas logo Gardner Witch" por
após a morte para se envolver no J.L.Bracelin em 1960,
de Crowley.
Com vistas
trabalho,” mais de 50 anos atrás.
Esta é muito mais
ao material de detalhada e maior,
Crowley no Livro das Sombras, chegando a ter mais de 200.000
ele foi posto lá ou por Gard- palavras. Ela será publicada em
ner ou por alguém antes dele, dois volumes e será entitulada
porque muito dele é realmente "Witchfather", mas eu ainda não
31
OS INSTRUMENTOS DO OFÍCIO
Notas sobre os instrumentos eram utilizados tanto para caça como para
e o Museu de Bruxaria modificar o ambiente ao seu redor.
de Castletown
Com o passar do tempo, a utilização
por Artemis Absinto e dos instrumentos se desenvolveu com tal
Lorenna Escobar complexidade e poder que levou a capaci-
dade de interferir em planos superiores e
de permitir, através do contato com ou-
tros planos, modificar o ambiente o nos-
Ao falarmos dos instrumentos do ofí- so redor de maneira muito mais profunda
cio, como ferramentas religiosas, devemos e complexa, apelando para os sentidos e
ter em mente que os mesmos nasceram saindo da superficialidade da alteração
de contextos históricos e culturais vividos material.
pelo ser humano através dos tempos, da
evolução da sociedade e da evolução do Acreditamos que os primitivos seres
culto às divindades. Desde os tempos mais humanos tinham uma imensa capacidade
remotos que o ser humano utiliza ferra- de observação da natureza, do seu redor
mentas para desempenhar suas atividades; e dos eventos astrológicos que ocorriam
O que inicialmente era uma adaptação de com frequência. Podemos estar sendo ou-
materiais encontrados na natureza, que sadas em nossas observações, principal-
devido ao seu formato ou disponibilidade, mente por não ter graduação em história
32
ou arqueologia, mas essa capacidade de
observação os possibilitou aprender o uso
das ferramentas e a relacioná-las poden-
do carregar com simbolismos necessários,
que talvez possa daí ter-se originado a utili-
zação de alguns instrumentos como ferra-
mentas para o trabalho religioso.
FONTE: HTTP://WWW.GERALDGARDNER.COM/ARCHIVE/MILL/INDEX.PHP
visualizar este exemplo, seria o mesmo
que entrar numa guerra munida de uma
espada ornamental, de certa forma ‘simbó-
lica’, onde a lâmina não causasse ferimento
algum já que não possui fio, e em poucos
segundos a pessoa seria destruída. O mes-
mo acontece quando se entra no círculo,
pois é um trabalho realizado com energias
superiores, com seres superiores, e assim,
deve-se estar devidamente ‘equipado’ caso
queira que estes seres o respeitem como
bruxo.
HTTP://WWW.GERALDGARDNER.COM/ARCHIVE/MILL/INDEX.PHP
pessoas acreditavam no passado, e ainda
acreditam, sobre magia e bruxaria, e o
que eles fizeram, e ainda fazem, como
resultado dessas suas convicções. O mu-
seu contém uma coleção sem paralelo de
material autêntico doado por bruxas que
ainda vivem ou faleceram recentemente.
Mostra-se como a bruxaria, em vez de
estar extinta, ou ser um fato meramen-
te lendário, é ainda uma religião viva,
possuidora de tradições de grande inte-
resse para os estudiosos, antropólogos e
estudantes de religião comparativa e do
folclore. A Bruxaria é atualmente o que
FONTE:
resta das mais velhas tradições religiosas
da Europa Ocidental, algumas das quais
Este quarto (ilustração acima) mostra um ambiente
parecem ter vindo da Idade de Pedra.” com os seus instrumentos mágicos prontos para
serem usados, com o círculo, o altar, etc.
Gerald Gardner
É possível, através dos itens expostos no Havia também, no museu, grande núme-
Museu, observarmos alguns instrumen- ro de objetos que peculiar que pertence-
tos usados pelos Bruxos, Wicas, Magos e ram a uma bruxa falecida em 1951, esses
Ocultistas. Segundo as notas escritas por objetos foram doado pelos seus parentes,
Gerald Gardner, no livro “The Story of e que eram instrumentos que haviam sido
The Famous Witches Mill at Castletown, usados na família durante gerações, den-
Isle of Man”, descreve a coleção de obje- tre ele havia uma espada ritual que com
tos usados pelas bruxas, que estavam em ela celebravam anualmente a cerimônia do
meio aos artefatos do museu. Esta cole- Solstício de Verão em Stonehenge.
ção consistia em utensílios para fabricação
de curas herbárias e encantamentos, uma Em uma das muitas seções continham
vara ritual e outras coisas escondidas den- também vários artigos emprestados ao
tro de uma escrivaninha. Museu por uma fraternidade mágica, inclu-
sive um cálice usado para celebrarem uma
espécie de Missa para propósitos mágicos.
FONTE:
HTTP://WWW.GERALDGARDNER.COM/ARCHIVE/MILL/INDEX.PHP
35
BELTANE Curiosamente, era o mais temido dos sa-
bás pela Igreja devido à conotação sexual.
A Liberdade Sexual encontrada e relatada
por vários historiadores e seus ritos, foi
condenada em orgias carnais sem sentido,
QUADRO: SATAN WATCHING THE CARESSES OF ADAM AND EVE
36
sumia então o reinado, sendo substituído as festas de Maio, trazendo abundância e
da mesma maneira ao passar os sete anos. a vida.
Embora o sacrifício humano não aconteça,
além de ilegal também não é necessário, Os festejos eram também conhecidas
os wicanos comemoram o ritu- como jogos de Maio. O prin-
al em meio as fogueiras erigidas cipal ícone dos Jogos de Maio
para a purificação e a fertilidade. autores associaram era o Maypole, ou Mastro de
Robin ao conhecido Maio. Ele representava o falo
A festa de May Eve compre- ereto, símbolo da vida de for-
ende aspectos de caráter sexual
Jack, o Homem Verde, ma simbólica, e suas fitas repre-
e encontramos o casamento de sentavam o poder da criação, o
Robin Hood e Maid Marian, como Rei e sêmen, jorrando para os desejos e ansieda-
Rainha de Maio. Acredita-se que a história des dos dançarinos. Ele era adornado pela
de Robin Hood difundida em toda a Euro- guirlanda representando a mulher sobre o
pa, possa ser uma referência a um grupo de homem, no ato sexual.
bruxaria. Embora não se pode provar que
ele tenha existido, o próprio nome Robin “A força do Maypole foi condenada em
era comum na época e muitas bruxas o 1644, mas eles puderam retornar em
relataram durante a perseguição dizendo 1661, com a Restauração”
que o diabo tinha o nome de Robin.
(Janet e Stewart Farrar, ‘Oito Sabás para as Bruxas’).
37
os participantes, e a festa íntima comemo-
rada pelo casal que representa as divinda-
des. O êxtase, a cópula, a luxúria, o frenesi,
são importantes mecanismos de contato
com as divindades da Wica, embora exis-
ta todo um contexto em que esta liber-
QUADRO: VENUS VERTICORDIA
38
OCULTISMO
39
Poções, Misturas de Poder
por Baco Líber sórdido e sempre logrado à manipulação de
um feito por um feitiço ‘fisicamente líqui-
“Diante de uma instância de tensão e do’. Seus disfarces a levaram sem qualquer
medo, ela adicionou ao chá uma ‘maçã’ desconfiança às vítimas mais protegidas
de mandrágora, e, tão pequena era esta, contra um inimigo em potencial, mas, que
que, ao degustar a terna bebida, o pobre diante deste sorrateiro sortilégio, o fra-
rapaz caiu em profundo sono.” casso, acabou se tornando uma constante
(Contos noturnos - eventualidade para àquele que o bebesse.
‘Unguento Sabbat ‘- Baco Liber)
40
repassaram parte integrante dos Mistérios preparo foi bebida por Gwion ao queimar
pelo simples observar de um jardim, até o o dedo, levando-o à boca sob um ato refle-
entendimento do porque de cada flor es- xo. A partir de então, ambos travaram um
taria abrindo em uma específica fase anual. luta ímpar, onde, transformando-se em di-
Processos arraigados ao uso destas para o versos animais, eles se esquivaram e degla-
aprofundamento em comunhão à própria diaram sem cessar, ao que no final, Gwion
planta como transportadora deste conhe- em desespero transforma-se em grão e,
cimento/poder natural que, como o xamã, Cerridwen, observando a oportunidade,
nós conseguimos através delas, acessar tal transforma-se em uma galinha, comendo
poder, e expandir nossa consciência ao li- Gwion em sua nova forma e engravidando
miar entre os mundos. deste. Assim, após nove meses ela conce-
be Taliesin, ‘Aquele da fronte brilhante’.
‘Esta transformação também está li-
gada aos Mistérios da Transformação e, Muitos ingredientes, assim como reci-
por conseguinte, aos Mistérios Agrícolas, pientes, fizeram parte da criação do que se
às plantações e às próprias estações da validou sobre as Poções. Entre elas, ingre-
Roda. Elas estão inteiramente ligadas dientes tão intrigantes quanto: sapos, per-
tanto às mulheres em sua regência lunar, nas de aranha, asas de morcegos, insetos,
do qual as ervas, plantas e marés parti- água do pântano, e, as mais diversas com-
lham seu crescimento em relação direta plementações sórdidas que nossa mente
com as fases lunares, e aos homens, em puder imaginar. Toda a transformação des-
cujo sol e as estações solares estão dire- ta diversidade de ingredientes, sempre re-
tamente associados ao plantio, e a ceifa. ’ fletiu, mesmo que de forma fantástica, nos
mistérios que se referiam a transformação
(‘O Ofício da Cura – As Ervas’ – Baco)
destes itens, em um ensopado místico. An-
tigos membros de nossos Clãs referiam-se
Atravessando os séculos e diversas cul-
a estes como Mistérios da Transformação,
turas na Europa, as poções ganharam res-
largamente associados aos Sabás da prima-
paldo quando através do documento de
vera e em principal, o do outono, assim
nome The book of Taliesin, datado aproxi-
como os chamados Mistérios do Caldeirão
madamente do século XIII, relatava, pelos
conhecidos por nossos anciões em trans-
dos contos dos bardos, o mito de Cerri-
missões orais, nos seio das congregações
dwen e Gwion, onde uma poção era pre-
tradicionais.
parada por um ano e um dia, pela deusa e,
em um acidente repentino, uma gota do
‘Aqui, devo expor ao leitor uma pe-
quena nota em referência aos Misté-
rios do ponto de vista BTW.
41
QUADRO: THE DANAÏDES
JOHN WILLIAM WATERHOUSE (1849-1917)
uma compreensão de cunho espiri- submundo. Como vivia em um ambiente
tual, e logo, por seu reflexo material. aquático, desde que a água há muito era
Aqui deve ficar entendido que somos considerada como detentora do poder de
possuidores de senhas e diversos pas- transportar um ser entre os planos, o sapo
ses mágicos que variam de representava aquele que transi-
movimentos a encantamen- tava entre os mundos; a partir
tos intrincados, mas que uso de um sapo em disto, seu sangue, ou mesmo
em suma a compreensão sua secreção, poderia levar um
de nossos mistérios, sem- uma poção bruxo ou xamã a experimen-
pre foi vetada aos de fora, tar a mesma sensação de poder
aos que nunca construíram que este detinha. A bufotenina,
como nós, conceitos a partir do con- assim como diversos fungos, como a Ama-
tato com a Wica Tradicional, com os nita muscarea era considerada ingredientes
fundamentos que são estabelecidos de extrema força, pois cediam ao usuário
passo-a-passo pela progressão nos um contato direto com o poder de suas
graus, e da experimentação efetiva substâncias.
destes dentro de um Clã genuíno sob
um contexto BTW.’ “Em 1588, Alison Peirson, que estava
entre as fadas, disse que um homem de
Os Mistérios da Transformação contém verde apareceu-lhes, um homem forte,
seu cerne o entendimento do por que do com muitos homens e mulheres com ele;
uso de, por exemplo, um sapo em uma ela se persignou e rezou, e se passou en-
poção na concepção popular medieval tre eles mais do que poderia dizer; viu
européia (elemento tão intrigante para entre eles música de flauta, alegria e ani-
ingredientes que sob um ponto de vista mação, e foi levada à lothian; e viu barris
folclórico se demonstrava abertamente ex- de bebidas alcoólicas com eles.”
cêntrico). Para entendermos isto, conside-
(MURRAY, Margaret Alice. ‘O Deus
remos alguns pontos de correspondência das Feiticeiras’ - ed.Gaia – pg.96)
no ocultismo. Devido ao seu surgimento
em épocas de chuva, e mesmo por seu ha- Cogumelos possuidores de poderes divi-
bitat natural ser comumente em pântanos natórios, composto de substâncias psico-
e brejos, o conhecimento popular europeu trópicas, assolaram o Sabá europeu, con-
e dos estudiosos do oculto, conectaram- cedendo às bruxas uma noite que levava
-no a algo pertencente ao obscuro, ao se- ao mundo das fadas. Determinados fungos
creto, ao noturno, e assim o ligaram ao que parasitavam o trigo, faziam parte inte-
gral dos festejos do Senhor Chifrudo em
noites de lua cheia. Todos misturados a lí-
quidos de cheiro intrigante, que alteravam
a visão e a consciência. Os Mistérios da
Bruxaria mantinham em suas tradições o
fermentar da levedura, da uva e do trigo,
como um processo que conduzia as forças
da Vida, da Morte, e do Renascimento a
uma nova forma, assim como o hidromel,
o vinho, a cerveja ou até mesmo o Whisky,
capazes de conduzir aqueles que o bebes-
sem ao mesmo processo da planta, sendo
42
transportado por seu espírito às vicissitu- Sempre perdendo quando eu
des do corpo. A conhecida Dedaleira, Di- estava a ponto de vencer?
gitalis pupurea e suas poções, aceleravam o Que males terríveis cometeu meu coração,
coração dos desavisados levando-os à ta- Enquanto se julgava jamais abençoado!
quicardia, mesmo que em pequenas doses. Como vagaram meus olhos fora de suas órbitas,
Ao se distraírem nessa louca febre!
O Vinho, entre as mais famosas bebidas Ah, o benefício da dúvida! Agora
embriagantes, continha o poder do deus descubro ser verdade
grego Dionísio/Baco, que pela mitologia Que o bem se aperfeiçoa com o mal;
helênica era a própria videira, onde seu E o amor arruinado, ao ser reconstruído,
sangue, o vinho embriagante produzido Cresce mais belo, mais forte e
pela planta e fermentado por processos se torna ainda maior.
mágicos, conduzia os beberrões ao limiar Então, retorno, refeito, ao meu contentamento,
da loucura, dádiva divina que o mesmo E ganho, por sorte, três vezes
deus concedia aos mortais em seus feste- mais do que gastei!”
jos. Bodes eram associados a Baco como
animais de sacrifício, pois na época em que
as folhas da videira retor- Shakespeare em seu ‘A Lover’s Com-
navam à ‘vida’, o cabrito, dádiva divina que plaint’ (1609), provoca a intensidade da
era considerado pelos o mesmo deus paixão através de seus versos na Re-
gregos como seu maior nascença inglesa, assim como em Mac-
inimigo, comendo-lhes os concedia aos beth (1616), onde o mesmo retrata três
brotos, e suas novas fo- mortais bruxas, personagens de seu romance,
lhas verdes, e impedindo preparando uma poção tão repugnan-
que a planta vingasse uma nova safra. As- te que levava entre outras coisas sangue
sim, o bode era ofertado nos ritos báqui- de babuíno, fel de bode e o fígado de um
cos, nas antigas festas, chamadas de ‘o can- judeu, como ingredientes de preparo para
to do bode’, ou a Tragodia, do grego antigo causar ‘labuta e dificuldades’.
τραγῳδία, ou, as conhecidas tragédias.
Em resumo, a História nos demonstra
No soneto de número 119: que muito do folclore local gerou na popu-
lação algo distorcido sobre práticas muitas
“Que poções bebi das lágrimas das Sereias, vezes simplistas de magia, tão comuns em
Destiladas dos troncos que épocas antigas, sobre tudo em terras pa-
queimam como o inferno, gãs, onde curas e soluções para males do
Vertendo medos em esperanças, corpo e da alma foram consideradas como
e esperanças, em medos, atos de malefício e disseminadas como prá-
ticas diabólicas inspiradoras pelo terror e
desgraça causados pelas bruxas. Aqui, faço
minhas as palavras de W. Shakespeare:
QUADRO: A NAIAD
JOHN WILLIAM WATERHOUSE (1849-1917)
43
QUADRO: GATHER YE ROSEBUDS WHILE YE MAY
JOHN WILLIAM WATERHOUSE (1849-1917)
ERVAS HISTÓRICAS E
SAGRADAS DA BRUXARIA
por Simone Abraços Como poderosos venenos ou como
componentes de várias poções e unguen-
Não tem como falar sobre Bruxaria sem tos, sempre estiveram presentes na Histó-
mencionar a Magia e o Poder das Plantas ria, nas Mitologias, nas mais famosas nar-
e das Ervas. rativas, na Dramaturgia, em poemas e nos
contos folclóricos.
A frase : “Plantas que curam, também
podem matar”, se encaixa perfeitamen- Poderíamos comentar sobre dezenas des-
te nas plantas que são, desde tempos re- sas plantas, mas vamos contar um pouco
motos, associadas à Bruxaria e Antigos da história das mais notáveis e fascinantes
Cultos. Seu uso, sua manipulação e seus plantas do mundo da Bruxaria e da Feitiça-
propósitos ainda continuam sendo um ria : o Acônito, a Mandrágora, a Beladona,
mistério para a grande maioria, o que fa- o Meimendro-Negro e a Dedaleira.
vorece e propicia uma aura de misticismo,
temor, curiosidade e superstição em tor- Vale lembrar que todas elas são altamen-
no delas. Algumas dessas lendárias plantas te tóxicas e não devem ser manipuladas,
eram consideradas sagradas porque eram aplicadas ou ingeridas.
as preferidas dos Deuses.
44
O Acônito é regido por Saturno e nor-
malmente associado ao Mundo Ctônico,
o Submundo. É a erva sagrada de Héca-
te, que durante a noite era vista correndo
acompanhada por sua matilha de cães e
por Cérbero, o Cão Infernal de três cabe-
ças, que quando latia, acônitos brotavam
das gotas de saliva que escapavam de sua
boca e caíam ao chão.
45
A planta toda é altamente venenosa,
mas é em seu tubérculo que se concen-
tra o maior nível de toxicidade, não exis-
te antídoto para as toxinas do Acônito.
Seu principal alcalóide é a Aconitina, uma
das mais potentes neurotoxinas conheci-
das pelo homem. Após o envenenamento,
as toxinas agem rapidamente no Sistema
Nervoso causando perda de sensibilidade
nas extremidades, queda de temperatura
corporal, sudorese, dores abdominais, de-
sorientação, vertigem, alteração dos sen-
tidos e dos batimentos cardíacos e final-
mente, parada respiratória ou morte por
asfixia.
ma da Beladona e do Meimendro-Negro)
e é encontrada em regiões mediterrâneas
estendendo-se até o Himalaia.
47
Apuleio (século V d.c.) fez um comentá- Essa planta já foi considerada uma cura
rio muito interessante sobre essa lenda : para a loucura, mas isso é um mito e já
foi descartado. Possui um potente poder
“Em uma noite sem Lua, deve-se ir ao analgésico e sedativo sendo muito utilizada
lugar onde cresce a Mandrágora e come- como anestésico em cirurgias e procedi-
çar a cavar com um Instrumento “que mentos durante a Idade Média.
não seja de ferro”. Quando tiverem sido
descobertos os “braços e as pernas”, Por ser uma planta Psicoativa, causa alu-
amarra-se a estas uma corda, cuja extre- cinações com uma credulidade tão absolu-
midade será fixada à coleira de uma cão ta, que parecem reais. É altamente tóxica
negro e esfomeado. Lança-se distante um e letal (possui Atropina, Mandragorina, Es-
pedaço de carne e o animal precipitar-se- copolamina e Hiosciamina) e deve ser ma-
-á para pegá-lo e, assim fazendo, extrai- nipulada apenas por especialistas em vene-
rá do terreno a raiz tão desejada. Porém, nos ou plantas medicinais. Jamais deve ser
a morte da planta exige um sacrifício : ingerida “in natura”, pois causa vermelhidão
deve-se matar o cão para pagar a prodi- na pele, secura nos lábios e na língua, arrit-
giosa aquisição.” mia cardíaca, midríase (dilatação da pupila),
obstipação (grave prisão de ventre), entre
outros sérios sintomas. Inicialmente causa
[[FICHEIRO:MANDRAGORE OFFICINALE FRUITS.JPG|THUMB|180PX|LEGENDA]]
49
uma quantidade maior, causa euforia e ex-
citação (o vinho dos Bacanais, ou Festas
Dionísicas, era frequentemente adulterado
com Beladona, produzindo reações de his-
teria e alucinações nos participantes); mas
em grandes doses, pode ser letal.
[[FICHEIRO:ATROPA BELLA-DONNA0.JPG|THUMB|180PX|LEGENDA]]
50
[[FICHEIRO:DIGITALIS PURPUREA.JPG|THUMB|180PX|LEGENDA]]
51
PSICOLOGIA,
IMAGEM: HOMEM VITRUVIANO
RELIGIÃO E
LEONARD DA VINCI
CIÊNCIA
por Lorenna Escobar cimentos. Os resultados de anos de pes-
quisa não se apresentam de forma habitual,
principalmente quando transcende espaço
e tempo. Portanto sabemos que mesmo
Há algumas peculiaridades em que o quarenta anos depois de Newton desco-
ramo da psicologia como estudo, pode brir a Lei da Gravidade ainda refutavam sua
auxiliar a um nível de entendimento dos constatação.
fenômenos produzidos pela magia. Ao lon-
go do tempo a ciência tentou apresentar Os fenômenos “psíquicos” e seu estudo
provas desse poder natural do Ser, mas tornaram-se conhecidos como “pesquisa
mesmo apresentando resultados eviden- psíquica” ou “parapsicologia”, ciência das
tes não são naturalmente suficientes para manifestações mentais que parece ultra-
comprovação científica. Podemos dizer passar os princípios socialmente aceitos.
que o motivo dos cientistas não aceitarem Podemos falar mais precisamente da ener-
tais provas apresentadas, apesar de qua- gia psíquica, para tentativas de explicar o
se um século de estudo, está relacionado esforço mental sobre certas influências no
mais a fatos psicológicos do que a motivos ambiente.
lógicos.
O homem explorou vários pólos do uni-
Acredita-se vez por outra, no meio aca- verso exterior, revelou a composição das
dêmico, que ações fantásticas podem atuar estrelas, mas como pôde negligenciar a po-
como efeito mágico. Isso devido ao grau de sição da personalidade humana, tornando-
espontaneidade de experiências e aconte- -se ignorante do seu próprio EU?
52
Vários estudiosos chegaram a essa per- “Os homens jamais têm como provadas
gunta, mas não é fácil de se obter a res- as verdades que se opõem as suas pai-
posta. Acreditam que a natureza do ho- xões cegas.”
mem é dual e seria o centro verdadeiro
Eliphas Levi
da sua própria essência ou individualidade.
A personalidade seria aquilo imposto pela
Inúmeras referências e exemplos em que
sua realidade maneiras de vida, costumes,
parecia existir transmissão de pensamen-
moralidade, prazeres, aspirações e valores,
tos entre seres humanos aparecem na lite-
baseando-se na doutrina do que é adquiri-
ratura. As experiências mais antigas acom-
do na infância.
panhavam o hipnotismo ou mesmerismo.
Enquanto punham os indivíduos em transe
Sigmund Freud conseguiu ampliar bas-
hipnótico, certos experimentadores des-
tante essa idéia e também os antigos de-
cobriram efeitos que atribuíram à transfe-
fensores da natureza dual do homem
rência de pensamento do hipnotizador aos
como: William James, William Macdougall,
pacientes.
Henri Bérgson, Hans Driesch, entre tantos
outros psicólogos e filósofos.
A clarividência foi outra das pretensões
psíquicas mais antigas a serem investigadas
“A nossa cultura supõe, por exemplo,
cientificamente. Ela consiste na percepção
que o espírito é suficientemente diferente
de objetos ou acontecimentos objetivos
do corpo, de sorte a permitir o “livre arbí-
sem o emprego dos sentidos, enquanto a
trio”. Semelhante liberdade volitiva signifi-
telepatia é a percepção dos pensamentos
ca ter o espírito leis que lhe são próprias,
de outra pessoa, igualmente sem auxílio
e, portanto, que não o governam as leis
dos sentidos.
do corpo e do ambiente, pelo menos não
inteiramente.“
Joseph Banks Rhine
53
físicos sob certas condições e que o Ser
atua reciprocamente com a matéria não só
na relação pensamento-racional mas em
certa espécie de contato externos.
54
A noção da consciência interior é encon- É possível imaginar um grande conjunto de
trada em quase todos os povos e culturas, conhecimento possuindo transcendência
contituindo-se em um objeto de constante sobre a natureza.
elaboração filosófica, desde os pitagóricos
até a teologia contemporânea ou a psica- “Religião e ciência são contradições
nálise de Jung. que asseguram sua destruição recíproca
enquanto contradições e que se afirmam
‘Nas artes mágicas, mais especifica- mutuamente se as encararmos como
mente na Bruxaria Tradicional, o foco duas afirmações fraternais.”
das práticas pode-se desenvolver por
Eliphas Levi
meio dessas faculdades psíquicas, mas
é tratada como consequênte do trei-
namento interno, estabelecido pela
tradição, por meio do fortalecimento
das conexões externas e internas – a
transcendência do ego, conectando-se
com seu EU superior ou Plano Divi-
no. Para os Wicas a alma é imortal,
palingenesia.’
58
O processo de auto-avaliação pode le-
var toda nossa vida. E enquanto vivemos
nos veremos inúmeras vezes diante des-
sa situação: poderemos olhar para nossa
“mãe” (Tarô de Marselha, ao lado) e nos
inclinarmos a nossa “amante”. É preciso
deixar a inocência pueril para trás e cortar
o cordão umbilical que nos liga à “prote-
ção e nutrição”, que a figura materna nos
evoca, para que possamos conhecer nosso
potencial. Da mesma forma, não podemos
ser dominados pela amante, abandonando
nossa mãe. Para que sejamos inteiros, é
necessário resolver o dilema e não apenas
tomar uma decisão qualquer para se livrar
do problema. Se agirmos assim, estare-
mos mantendo os laços que nos tornam
cativos; não estaremos cultivando a cons-
ciência para que não continuemos sendo
manipulados pelo “cupido” que faz mira
no nosso coração incitando as paixões
descontroladas e a decisões impensadas.
Enquanto estivermos inconscientes de nós
mesmos, tal como Páris, seremos mario-
netes de deuses caprichosos, vingativos e
enfastiados, cuja maior diversão será con-
duzir nossa vida a seu bel prazer.
Olhe bem para dentro de você e para a O Tarô de Marselha retrata a indecisão do
jovem diante de duas forças que o subjugam:
Encruzilhada a sua frente. Você deseja con- a figura materna (a mulher de “chapéu”) e a
tinuar seguindo a esmo? Ou pretende re- “amante” (a moça da esquerda). O Cupido
(deus do amor) está pairando acima do rapaz,
almente conhecer-se para poder conhecer brincando com sua inconsciência e pronto a
o outro, e assim, finalmente tomar suas escolher por ele “flechando-o” com suas setas.
A escolha é sua.
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próxima edição
A revista BTW é publicada quatro vezes ao ano
e seu objetivo é informar, esclarecer e desmistificar
origens, dogmas e práticas da Wica Gardneriana e
mostrar que os ensinamentos de Gerald Gardner
ainda estão vivos e florescendo no seio dos covens
tradicionais.
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“O Amor é o único sentimento que
contém a força capaz de criar,
de transmutar e de fazer renascer.
E le é a força motriz da união mágica.”
Arida Diana
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