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Ostara, 2011 . Ano 1 . Edição nº 2 .

gratuita
“*Retirar o véu noturno e abrir as portas do
dia significa penetrar no santuário da iniciação,
da revelação e do êxtase. É a hora mágica do
“cantar do galo”, esta ave iniciática que traduz o
despertar da consciência interior.”
Sherazade
Suas histórias fabulosas ao rei Shariar

2
Equipe BTW
Editora Chefe:

Lorenna Escobar
HPS 2*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Caldeirão de Cerridwen

Projeto Gráfico:

Artemis Absinto
Dedicada da Tradição Gardneriana,
linha Olwen - BR

Colaboradores:

Ana Marques
Dedicada da Tradição Gardneriana,
linha Olwen - BR

Arida Diana
HPS 3*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Vassoura Sagrada
Artemis Absinto
Dedicada da Tradição Gardneriana,
linha Olwen - BR

Baco Liber
HP 3*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Vassoura Sagrada

Calliope Berkanna
Iniciada 1*- Tradição Gardneriana, linha Olwen -
BR - Coven Vassoura Sagrada

Brutus Lobão
HP 2*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Caldeirão de Cerridwen

Lorenna Escobar
HPS 2*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Caldeirão de Cerridwen

Simone Abraços
Iniciada 1*- Tradição Gardneriana, linha Olwen -
BR - Coven Caldeirão de Cerridwen

Mario Martinez
HP 3*- Tradição Gardneriana, linha Olwen - BR
Coven Caldeirão de Cerridwen 3
EDITORIAL
por Lorenna Escobar

É muito boa a sensação de mais um trabalho


concluído, a segunda edição da revista aconteceu
graças ao trabalho de todos que se uniram e ce-
deram um pouquinho do próprio conhecimento.

Este trabalho foi mais uma etapa de aprendi-


zado e reconhecimento de novas possibilidades.
Depois da 1ª edição podemos avaliar a receptivi-
dade do material que foi, inclusive, considerado
um exemplo de informação séria.

Permeando um novo horizonte no cenário pa-


gão, sendo bem vista também em outros países,
a revista foi capaz de incentivar o aprendizado
e atender ao objetivo proposto: mostrar o pos-
sível sobre o conhecimento oculto da BTW e
desvencilhar o nome Wica de tantas informações
incoerentes.

Foi um trabalho inicialmente ousado, pois nada


tínhamos feito de semelhante anteriormente, ao
menos não nessa vida. A revista é um canal que
serve de auxílio ao pensamento e um elo capaz
de contribuir com reflexões saudáveis que levam
ao conhecimento, um mecanismo capaz de abrir
as portas ao crescimento espiritual e intelectual.

Agradeço especialmente a uma amiga que sem-


pre esteve disposta a me ajudar, às vezes socor-
rer, a tudo que pedi. Foi ela quem criou a Logo da
Revista, e esta possibilitou, também, a fertilida-
de de nossos pensamentos para produção deste
belo material. Querida Mirela Lino obrigado pela
disposição e amizade.

Agradeço também aos colunistas pela prontidão


em atender com os artigos, especialmente
ao Mario pela ajuda na revisão dos textos e a
Artemis pela diagramação, produção e criação
das imagens. Tenho certeza que o ideal é manter
a qualidade dos roteiros e assuntos para que a
revista esteja mais interessante a cada página
virada e que possamos ansiar ainda mais pelas
próximas edições assim como ansiamos pelas
próximas estações.
4 Com carinho à C.E.
índice
Ostara 06
Comportamento Pagão - parte II 08
Encontro com Monique Wilson 16
Poder Mental na Bruxaria Gardneriana 20
Wica e seus Dogmas 22
Entrevista com Philip Heselton 30
Os Instrumentos do Ofício 32
Beltane 36
Ocultismo: 39
- Poções, Misturas de Poder 40
- Ervas Históricas e Sagradas da Bruxaria 44
- Psicologia, Religião e Ciência 52
- A Encruzilhada - O Enamorado 56

CARTA DO LEITOR
Não podia perder a oportunidade de parabenizar a todos os
envolvidos na concepção da revista BTW, afinal é um ótimo
material para os que estão buscando um conhecimento confiá-
vel e tradicional, espero que cada edição nos surpreenda mais
que a anterior.
Mal posso esperar pela próxima edição.

att,
André Barcellos

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OSTARA
por Brutus Lobão

Ostara traz junto com a primavera a con- O Equinócio de Primavera é o equilíbrio


fiança na vida e no florescimento, a beleza entre a escuridão e a luz, que se seguirá
e o contentamento, a alegria e a festa dos com o avanço da luz, na sequência do ano
dias quentes de volta. O Deus de Chifres crescente. Neste momento da Roda do
agora é um jovem vigoroso e corteja os Ano a luz e o calor estão prontos para su-
encantos da Deusa Donzela, assim a espe- perar as trevas e o frio, e aquilo que foi
rança de toda a fertilidade retorna ao mun- semeado, brotado e cuidado, floresce en-
do e é prenunciado aqui em Ostara, a pre- tão, espalhando os aromas sugestivos para
paração para Beltane, o grande momento o romance, e alegrando a visão de variadas
da união e fecundação que virá no próximo e convidativas cores de flores. Neste mo-
Sabá. No cáp VIII de The Meaning of The mento a vida corteja a beleza, manifestan-
Witchcraft, Gardner cita Wagner com a do sedução que conduzirá a natureza até
informação de que Ostara era um antigo o futuro momento de Beltane, quando a
nome para a Deusa pagã da Primavera. natureza se acasalará, mostrando amor e
união.

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Este momento de primavera é muito terizam a assobiante canção do despertar
propício ao encanto que os enamorados da natureza.
demonstram explicitamente, às paixões
que arrastam as razões até a fogueira do Para o Wica Tradicional, este é um mo-
amor, às visões de paraíso aqui mesmo na mento de amadurecimento das energias
terra, como comentavam os Bascos sobre fecundativas, e preparar de todo o roman-
os Sabás das Bruxas(The Meaning of Wi- ce que vivem os Deuses. Cores, aromas,
tchCraft, Gardner, Cap. XII). flores, beleza e jovialidade transmitem a
energia do momento e a contemplação
A chegada da primavera é muito asso- dos Mistérios Sagrados pelos Iniciados
ciada com ícones mascarados e misterio- desvelam o início dos Ritos mais festivos e
sos, escondidas nas florestas e nas folha- alegres dos Deuses.
gens, espreitando por trás do tenro verde,
como Jack in the Green. Os sons das fo-
lhagens e do vento entre as plantas, carac-

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‘Nós, como o restante dos povos pagãos
do ocidente possuímos algo que nos
distingue dos demais... ’

O Comportamento Pagão
A Estrutura Basal ‘Ao final de 1939, numa bela casa de uma
Parte II professora de canto, região de New Fo-
rest, Inglaterra, um trabalhador aposen-
tado da alfandega inglesa, ex-trabalhador
por Baco Líber das fazendas de chá no Ceilão, foi iniciado
em um estranho culto...’

A premissa ante este fato é a da curiosi-


Por quê?... Porque ante as várias faces e dade natural, assim como a estranheza que,
comportamentos pagãos, nós nos distin- pelo levantamento deste pequeno contex-
guimos? Elaboramo-nos socialmente com to, rapidamente nos atemos, perguntando-
o passar das eras a algo significativamente -nos: ‘Mas, o que, para nós, a somatória
ímpar? Nossas ligações culturais, mesclas destes fatos tão distantes, tem para expli-
entre as sociedades vigentes das épocas car algo remetente a este enunciado?’
nas quais, celtas, gregos, romanos, ciganos
e etruscos se encontraram, podem dar ex- Inicialmente vamos estabelecer quais
plicação à esta característica essencial da foram seus motivos, àqueles que levaram
bruxaria Gardneriana?! Não sei dizer ao Gerald Brosseau Gardner ao rito introdu-
certo, mas, dou aqui a oportunidade de tório no seio de uma antiga congregação,
declinarem junto à mim para a continui- e, em adendo, a especificidade deste ter
dade e pesquisa sobre este empasse, mais adentrado na própria bruxaria em sua es-
um pequeno ensaio sobre o nossa própria sência mais tradicional.
distinção pagã.
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“Apesar das muitas revelações sobre a Arte Rebuscando fatos passados, soerguemos
através dos anos, que naturalmente envolve- alicerces que sustentarão este texto. O
ram a quebra dos juramentos feitos na inicia- primeiro destes é o que chamo de ‘regime
ção, os Mistérios ainda mantém uma força e em comunidade’, tribo, e, ou Clã. Devido
um poder que permanecem imaculados. ao fato dos pagãos, em especificidade os
Wica, se manterem sob um regime grupal,
Eu me lembro muito bem de minha pró-
pria iniciação na Arte dos Sábios. Era difícil
salientaremos muitos dos pontos que devi-
para mim imaginar que essa estranha e nova damente poderemos recorrer para aludir
experiência estava acontecendo comigo. Mi- a uma distinção genuína presente neste
nha mente foi subitamente confrontada com tema. Assim, se distinguirmos atitudes e
alguma coisa fora do comum - alguma coisa práticas recorrentes à sua formação inicial,
que parecia ser muito antiga, muito real e como uma comunidade herdeira de prá-
quase totalmente espiritual. E além dessas ticas agrícola-caçadoras, como iniciei na
impressões, havia um sentido de continuação primeira parte deste ensaio, lançaremos
ecoando no processo natural da vida huma- pressupostos que nos levarão irremedia-
na. A etapa dos Degraus, que se seguiram no velmente à fonte deste, ou, a este ‘com-
curso do tempo, era igualmente inspiradora portamento’ singular.
e nada ofuscou o que Gerald chamava de
‘sentido de maravilha inicial’.
Há eras aqueles pertencentes à Antiga
Além da iniciação, os rituais são destina-
religião caminhavam sob a face da terra.
dos a elevar a consciência para níveis mais Chamados de os Ancestrais, ou “aqueles
espirituais de modo que os participantes es- que vieram antes de nós”, os antigos bru-
tejam aptos a contatar vibrações mais altas. xos observaram a expressão das energias
Rituais também intensificam e energizam os divinas sob a natureza e seus ciclos. Estes
Centros de Poder do corpo, e assim ajudam aprenderam a sentir essas marés em seu
no desenvolvimento e harmonização dessas interior, e com isso acessaram o poder da
forças nos níveis comuns da vida. Bem reali- criação e o conhecimento da magia.
zados, rituais são de longe o melhor método
para harmonizar a mente e contatar o Mun- Em algum ponto do passado, grupos de
do Espiritual. bruxos, mantiveram em seus sistemas ritu-
alísticos a maior experiência por eles já vi-
Obviamente que esses resultados depen-
vida, o contato com a Grande Deusa Mãe.
dem totalmente dos oficiantes conhecerem
os ritos e procedimentos, além de terem sido
Nesse momento eles souberam que Ela,
Iniciados e apresentados aos Poderosos.” havia colocado sobre eles a sua mão, fato
Patrícia Crowther
esse que mudaria para sempre a realidade
de seus conhecimentos mágicos. A cada
reunião o grupo a invocará para vir inspira-
-los. Porém sob o vinho consagrado dos ri-
tuais, alguma mudança sutil se anunciara. A
sabedoria interior transbordava do caldei-
rão da inspiração, esse era o conhecimen-
to adquirido após o ato simbólico da união
sexual entre a faca e o cálice na cerimônia
de consagração do vinho. Cada pessoa que
tomava daquela taça sentia a mudança den-
tro si, mesmo que cada um a sentisse de
forma individual, o conhecimento comum

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era partilhado por todos, e, assim também
a mudança se fazia, percorrendo todo o
grupo como uma a mítica Ouroboros, a
serpente que morde a própria cauda, sim-
bolizando a eternidade.

Nenhum mistério da fé acontecia, talvez


uma pergunta sem resposta?... Porém algo
era comum a todos os contatos dessa na-
tureza, a conscientização e a sensação de
ter sido tocado por algum poder absoluto
e infinito. Mesmo havendo a sensação de Clã de Bruxos... Num primeiro ponto, sua
amor e compaixão fluindo por esse conta- estrutura basal é formada por membros,
to, persistia a aura de distância fria, remota adeptos iniciados e anciões que sustentam
e atemporal da Deusa. Para os antigos, Ela uma pirâmide arcaica, àquela que é ergui-
era a essência do princípio e do fim, sentí- da pelo tempo e entendimento do Bruxo
-la em sua forma completa era algo qua- diante de sua arte misteriosa e tradicional,
se inalcançável. O êxtase deste encontro assim como seus graus e degraus de ele-
poderia sim ser sentido, porém somente vação. A partir disto, elevemo-nos a com-
através de certos processos, e, em ques- preensão de que a mesma, se dirigindo às
tão de segundos, como uma pálida expres- alturas, cria irrevogavelmente uma ‘ponte’
são da completude perfeita. que estabelece acesso entre o plano mais
concreto e o plano etéreo, ou mais sutil,
Após século de invocações e petições, logo, em direção à suas divindades. É aqui
essa energia que envolvia e que era ema- que a união e a relação de irmandade se
nada dos rituais nos culto às divindades, firmam, gerando um corpo cioso pela de-
cresceu, em resposta daquele contato voção e partilha. Contudo, diferente das
perpetuado por séculos a fio. A procura demais instâncias religiosas, este potencial
por essa força inexplicável deu origem a grupal é compartilhado entre indivíduos
vários seguidores, que por sua vez, organicamente intelectuais,
os uniu em prol do mesmo objetivo, culturalmente entendidos e
gerando grupos e formando então iniciados e anciões individualmente capacitados.
os chamados clãs. Ao persistir no Assim, mesmo diante de
encontro com as divindades maio- que sustentam uma um grupo coeso observado
res, a energia e o conhecimento pirâmide arcaica em uma Congregação, cada
que vários destes seguidores (agora adepto se manterá mesmo
membros de um clã) cederam para que investido do pensa-
que a concretização deste objetivo se fir- mento e devoção comum, distanciado do
masse, os uniu e os manteve, somando es- medo punitivo, e da satisfação de facha-
sas energias para encontrar o que tanto da que assola àquele de mente ordinária,
procuravam. Para os antigos essa trilha se tão percebida pela presença marcante do
tornou densa e sólida, dando origem à ri- ego indomado, e, que por consequência é
tuais e elementos místicos nos quais se era a forma inicial da chamada ‘massa’. Assim,
possível acessar estas energias. o determinante aqui, ou esta ‘eloquência’
presente nos adeptos, conhecidos e quali-
Diante deste entendimento, coloquemo- ficados como ‘pessoas apropriadas’, levam
-nos a identificar a estrutura de um antigo diante do comum, do conhecido e ordiná-

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rio, sua própria insatisfação. Que por sua Assim ele complementa, dizendo que:
vez, os conduz até a senda oculta, logo aos
antigos mistérios. Martinez em seus textos “A idéia é a de ajustamento, de con-
e estudos cita que: formismo, o mesmo que a Igreja Católi-
ca tem impingido durante séculos. Nos-
“A diferença entre mente religiosa e a sa estrutura psicológica, implantada em
mente ordinária, é que a mente comum nossa mente, é a de nos ajustarmos aos
está sempre seguindo ideias, sempre padrões, nem que seja aos padrões “reli-
compelida pela promessa de recompen- giosos”, porém ao nos conformarmos com
sa, sempre com medo da punição, sem- isso, estaremos irremediavelmente perdi-
pre empenhada na fuga e em busca do dos. No ajustamento encontramos satis-
caminho fácil. Trata-se de um materialis- fação, segurança, no ajustamento não há
mo aliado à religiosidade, porque na ver- medo, não nos sentimos sós, mas desse
dade o que as pessoas buscam é confor- modo nos tornamos mecânicos, mortos,
to, satisfação, riqueza, prazer. E querem seres de segunda mão.
encontra-los na religião. Assim, a religião
dessa gente é aquela da Deusa que traz Levar uma vida religiosa implica estar
a iniciação, independente de qualquer es- só. Estar só quer dizer estar livre do medo
forço; é aquela da Deusa que me chama e de todas as influências produzidas pe-
gratuitamente, mesmo que eu não faça los padrões e pelas idéias. Porque estar
nada para melhorar meu interior. Uma só e estar em simplicidade e vice-versa.
enganação criada pela busca de conforto, Quem está só sabe o que significa a feli-
pela agonia de sair desesperadamente da cidade, porque o conforto, a segurança e
insatisfação. Mas é a insatisfação o ele- o prazer não dependem de nenhum fator
mento motivador da religiosidade, e se a externo, de nenhuma idéia. Espero que
descartamos, continuaremos os mesmos, estejam compreendendo isto, porque sem
os mesmos seres humanos lastimáveis tal compreensão nenhuma vida verdadei-
que sempre fomos.” ramente religiosa pode ser vivida.”

A distinção nos atinge pelo que nos se-


para, por um limite. Aqui a religiosidade
e o empenho nesta como uma senda de
elevação, assim como um caminho de en-
tendimento próprio, exemplifica esta se-
paração, pois ela deve ser entendida e vi-
venciada com veracidade, assim, a entrega
a esta vivência não pode ser feita de forma
torpe, mas, em completude. Face a esta
distinção, entendemos que o Wica leva
consigo uma consideração maior do que
a simplicidade que o circunda, devido ao
fato deste acreditar em algo especial que à
tudo referencia, a Magia.

A Magia tornou-se então um ponto cha-


ve para a compreensão desses mistérios.
Os conhecimentos foram passados e man-

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Uma pequena nota
sobre a Iniciação

Em consciência, sabemos que as escolhas


nos remetem a uma renuncia, e que, dian-
te desta, algumas vezes não podemos vol-
tar atrás para reconstruir um caminho que
já não possui volta. Na Wica, existe um
ritual que demarca esta premissa, conheci-
do como ‘Iniciação’. Como uma Religião de
cunho misterioso, a Wica, tende a apon-
tar ao adepto o foco de que toda a desco-
berta do verdadeiro significado da vida só
poderá ser alcançada aos olhos afoitos de
seus pupilos se os mesmos puderem tatear
além deste limite pré-estabelecido. Assim
a iniciação demarca a entrada, através da
morte simbólica do candidato ao espaço
sagrado, o Círculo, para unificar-se ao cor-
po de sacerdotes e bruxos de seu Clã.

“Toda iniciação, em qualquer religião


ou fraternidade genuína, é uma morte e
renascimento simbólico, conscientemente
tidos sob a forma oral, (como todos os assumidos. No rito Wican, esse processo
povos antigos assim o faziam). Apenas al- é simbolizado pelo amarrar e pelo vendar
guns detinham as perícias e talentos que se os olhos, a ameaça, a ordália aceita, a re-
encaixavam nos parâmetros sacerdotais, moção final das amarras e da venda, e a
sendo esses escolhidos para levar consigo unção para uma nova vida. O iniciador(a)
o conhecimento agora secreto de acesso a deve manter claro este significado em sua
essas energias. Sob as juras e provas, as Ini- mente e se concentrar neste, e o próprio
ciações para adentrar nas tradições miste- ritual deverá imprimir o mesmo significa-
riosas surgiram, admitindo apenas aqueles do na mente do postulante.”
que possuíam tais qualidades necessárias
(Janet e Stewart Farrar – ‘La Biblia de las Brujas’)
para tornarem-se portadores dessa sabe-
doria secreta. Como bem conhecido em to-
a iniciação das as ordens ocultas que utili-
Com o decorrer dos tempos,
zam o marco iniciatório como
os iniciados, criaram vida-após- demarca a entrada,
condição inicial para se adentrar
-vida elos mágicos de grande
força, mantidos sob as palavras através da morte
ao culto e, por conseguinte ao
corpo sacerdotal, oficiando no
honrosas de seus juramentos.
mesmo, a Wica não se difere
destes. Para nós Iniciação remonta à re-
Os Clãs se fortificaram mantendo-se
encarnação, pois diante desta, nos reen-
unidos para a criação de novas linhagens
contramos para prosseguir com as juras
místicas de bruxos geradas a partir de suas
pretéritas.
egrégoras.
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‘Em séculos mais primitivos, o imaginá-
rio da morte-e-ressurreição era sem dú-
vida muito mais vívido e explícito, e pro-
vavelmente encenado amplamente sem
palavras. Patrícia Crowther, a renomada
bruxa de Sheffield, conta em seu livro
Sangue de Bruxa (vide Bibliografia) como
ela teve uma sugestão disto durante sua
iniciação por Gerald Gardner. O ritual era
o normal Gardneriano, basicamente o
mesmo que nós apresentamos nesta Se-
ção, porém antes do Juramento, Gardner
se ajoelhou ao lado dela e meditou por
um momento. A própria Patrícia, amarra-
da e aguardando, subitamente entrou em
transe (que depois ela descobriu ter du-
rado uns quarenta minutos) e parece ter Ante ao passar dos fatos e consuma-
experimentado uma recordação de en- ções... O Tempo transformou os anos em
carnação. Ela se encontrou sendo levada, séculos...
amarrada e despida, numa procissão de
tochas para dentro de uma caverna por Então um Velho ‘renegado’ Mago Inglês
um grupo de mulheres despidas. Elas se de sangue cigano, mesclou algumas das
retiraram, deixando-a aterrorizada numa formas mais poderosas de mágicas rituais,
total escuridão cheia de morcegos. Gra- com a intenção de garantir a perpetuação
dualmente ela venceu seu medo e ficou desta mesma linhagem, que há séculos se
calma, e no devido tempo as mulheres mantinha viva. Sua vontade foi materiali-
voltaram. Elas permaneceram em fileira zada na forma de Nove Coventículos, ‘Os
com as suas pernas afastadas, e ordena- covens familiares de George Pickingill’, úni-
ram a ela que se contorcesse amarrada cos, por suas condutas mágicas que eram
como estava através do túnel de pernas regidas por Sacerdotisas, vistas como es-
no formato de vagina, enquanto as mu- posas do Deus, o Senhor Cornudo da Bru-
lheres se agitavam, gritavam e berravam xaria. Com a criação e a manutenção dos
tal como em trabalho de parto. Quando Covens, alguns destes se mantiveram por
ela atravessou, foi puxada pelos seus pés mais de meio século em atividade constan-
e suas amarras foram cortadas. A líder, te. George já havia falecido, contudo, estes
olhando para ela, ‘ofereceu-me seus seios continuaram o seu trabalho.
para simbolizar que ela me amamentaria
e protegeria como faria com seus pró- Em um dos locais escolhidos para funda-
prios filhos. O corte de minhas amarras ção dos “nove covens”, Gerald Gardner foi
simbolizava o corte do cordão umbilical’. iniciado na congregação da Velha Dorothy
Ela teve que beijar os seios oferecidos, e Clutterbuck. Sendo agora um praticante
então ela foi aspergida com água e con- ‘hereditário’, herdeiro de uma prática mi-
tou que ela havia renascido dentro do sa- lenar, este deveria manter-se em absoluto
cerdócio dos Mistérios da Lua.’ silêncio, reconhecendo isto como uma das
bases dogmáticas adotados pelos Clãs. Isso
(Janet e Stewart Farrar – ‘La Biblia de las Brujas’) é pertinente por vermos que Pickingill con-
cedeu a autoridade na Arte e seus rituais

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de família para os líderes dos Nove. Esses somos e o que nos tornamos internamen-
mesmos líderes, foram pessoalmente ini- te. Uma árvore mostra em seus frutos e
ciados por ele, sendo assim, cada um des- flores aquilo que ela ‘rumina’ em seu in-
ses Covens podia desse modo orgulhar-se terior, assim como as ovelhas que ao se
de uma inquebrantável e contínua tradição alimentarem não demonstram o que co-
de 8(oito) séculos. mem, mas, o que se tornaram internamen-
te através de sua lã e leite.
Gerald Gardner através de seu tempo
como um Sacerdote Ofician- A Iniciação deve despertar, aflo-
te (agora já separado de seu rar, florescer, esta é sua função,
Coven de origem), incitou o energias internas este é o seu legado, ela elucida
retorno do Culto à Grande a anunciação que a primavera da
e externas
Mãe e seu consorte Chifrudo alma estabelece. Ela é trazida com
(com base na liderança dos se igualam o final de Imbolc, e, fixada com
covens de Pickingill). Inician- o Equinócio Primaveril, onde as
do cerca (por este não ser energias internas e externas se
um número confirmado) de 7(sete) mu- igualam, prenunciando equilíbrio físico e
lheres. Estas por sua vez desenvolveram espiritual. Ambos com o passar da Roda
cada qual a sua própria Congregação que levam consigo a diferenciação da consciên-
se perpetuou com os anos, ou, as linhagens cia pelo estabelecer das duas polaridades
da agora chamada Wica Gardneriana. existentes em ambos os lados: dentro e
fora. Assim, Litha anuncia os poderes do
Aqui retornamos ao ponto de partida. Sol, o físico é contemplado em uma es-
Observamos acontecimentos no percurso
da história que desembocaram no fato
consumado à cima. Mas, as razões para
que este comportamento fosse construído
e deveras projetado para se tornar um
chamariz que conduziria uma pessoa à
particularidade de apropriada para a antiga
arte dos sábios, talvez, pode ser concluída
através das palavras pilares desta religião:
amor e confiança. Contudo, para que estas
virtudes possam existir em um adepto, ele
deve antes que qualquer ponto vislumbrar
a profundidade sem limites em si mesmo,
ou, o vazio, pois os primeiros sinais da
sabedoria se fazem no silêncio de um ato.

A meditação e suas elevações da consci-


ência nos tornam capazes de obter enten-
dimentos ímpares, mas, apenas a ligação
profunda desta consciência com nosso in-
terior é capaz de nos fazer compreender o
verdadeiro sentido de tudo isto. Mudanças
prenunciam atitudes, o interno trespassa
ao externo, aludindo em nossos atos o que

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sência sensível, o Chifrudo como Senhor
da Terra se faz ‘completo’, atinge seu clí-
max, que inexoravelmente inicia seu declí-
nio. Aqui lentamente a polaridade interna
e obscura, misteriosa por si só inicia sua
elevação. Mabon esclarece o sentido da in-
trospecção, e, dedilha a sensibilidade para
entendermos este aprofundamento em
nós mesmos. O interno, o polar negativo
feminino, estabelece o ‘sono’, o contato
com o inconsciente, demonstrado no ex-
terno como Inverno. O inverno agride o
corpo para que o mesmo observe a si pró-
prio, e com isto gere forças para renascer.
O renascimento é criado pela vontade de
mudança, pelo desejo de ser, de existir. Tal
é despertado pela polaridade masculina, a
ação.

Na balança entre ambas, este desejo é


somado como o próprio movimento da
Roda, pois é através dele que alcançamos
um fim e, é através desta Magia que gal-
gamos àquilo que não compreendemos,
mas, buscamos. O Mistério nos guia pela
curiosidade, pelo desejo da compreensão
daquilo que somos daquilo que queremos.

Investir para nós sábios, ou Wicans, re-


presenta deixar de ser o que sempre fo- ‘Os primeiros sinais da sabedoria se
mos o que sempre desejamos. Pois o vazio fazem no silêncio de um ato. A medi-
prenuncia o cheio, e, este vazio é a entre- tação e suas elevações da consciência
ga completa para que algo incompreensível nos tornam capazes de obter entendi-
pode se anunciar. O mistério presente em mentos ímpares, mas, apenas a ligação
nosso interior é aflorado e se conecta com profunda desta consciência com nosso
o Divino. Essa conexão é o Eros, a atração. interior é capaz de nos fazer compre-
E pela atração é estabelecida a maior magia ender o verdadeiro sentido de tudo
do cosmo o Amor. isto. ’
Amor é doação, é incompreensão, inten-
são e desprendimento. É o refazer, o criar
e o destruir. Ele estabelece o retorno dos
mortos pela lembrança e sua encarnação
pelo desejo do sensível. Ele é a Magia pri-
mordial que unifica a tudo e que só pode
ser percebida através do silêncio.

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ENCONTRO COM MONIQUE WILSON
por Mario Martinez

Muitas pessoas me pediram para escre- va empenhado na minha busca, quando fui
ver algumas linhas sobre Monique Wilson. apresentado em Londres a um conhecido
Conheci Lady Olwen no início de 1968, de meu avô, um escocês chamado Scot-
após uma prolongada e muito ruim crise ty, ou pelo menos era assim que todos o
espiritual. Tal crise pode até parecer estra- chamavam.
nha aos jovens hoje em dia, voltados para
as festas, baladas, drogas e vídeo-game, Naquele tempo, eu não tinha idéia do
mas eu sempre fui muito diferente dos que esse encontro representaria em mi-
adolescentes da minha idade. Aos 14 anos nha vida, mas o que aconteceria nos nove
eu já estava engajado numa procura por meses seguintes a mudaria para sempre.
respostas quase obsessiva. Naquele dia chuvoso e frio de outubro
de 1967, ficou acertado que na primeira
Minha família havia se mudado de Port oportunidade nós faríamos uma pequena
Said, em Suez no Egito, para viver em viagem até Liverpool e então tomaríamos
Newcastle, Inglaterra. Meu avô vivia lá e um barco, cruzando o Mar da Irlanda até
com a guerra dos seis dias, tivemos que Douglas, uma pequena cidade numa ilha
deixar o Egito. No final de 1967 já estáva- pequena também, conhecida como Isle of
mos vivendo em Newcastle, e eu continua- Man.
16
Isso aconteceu 44 anos atrás. Minhas
memórias a respeito desse encontro são
turvas, longínquas, desconexas; mas o que
retenho até hoje na mente é que esse en-
contro me transformou. Até hoje posso
lembrar o cheiro do salão, e tenho muitas
lembranças da exposição do que foi um dia
o “Museum of Witchcraft and Magic”.

Muitas pessoas me pedem relatos sobre


Lady Olwen, e até Aidan Kelly mostrou-se
interessado em conhecer alguma história
que eu tenha presenciado. Lembro-me de
um episódio ocorrido comigo. Foi após o
Solstício de Verão de 1968, quando ela me
levou até a torre do moinho e me disse
que eu deveria limpar todo o local. Havia
restos de uma enorme fogueira, com fuli-
gem, cinzas e pedaços de madeira queima-
A viagem ficou para o início de feverei- dos, além de pedras, folhas e lixo. Eu olhei
ro, o frio ainda castigava muito, mas esta- para toda aquela sujeira e disse alto, mas
va começando a ceder lentamente. A ilha para mim mesmo, em português: “Droga,
é belíssima, e quem tiver a oportunidade eu sabia! Agora vou ter que fazer o serviço
de conhecê-la deve fazê-lo no verão. De sujo e limpar essa imundície toda!” Na mes-
Douglas alugamos um taxi até Castletown, ma hora ela me respondeu em português,
havia um ônibus, mas ficamos com receio com um forte sotaque de Macau: “Pois de
de nos perdermos. O encontro havia sido agora em diante, você será o limpador do Moi-
marcado para o meio-dia em uns prédios nho toda semana!”
que, de cara, me causaram uma impres-
são muito estranha. Todos de pedra, aliás,
como todas as casas da ilha, com janelas
brancas com losangos vermelhos pintados,
mas havia ao fundo as ruínas de um antigo
moinho, que em contraste com o céu cin-
zento me davam calafrios.

No complexo existia um pequeno res-


taurante e nos reunimos ali, porque havia
um grande fogão que aquecia o recinto
e aproveitamos para fazer uma refeição.
Scotty nos apresentou a uma mulher mo-
rena, de olhos muito vibrantes e vivos, e
que falava um inglês com um sotaque di-
ferente, que não consegui determinar. Ela
era agradável, falante, espevitada e ágil,
passava de um assunto para outro com ra-
pidez e tinha um senso de humor crítico
que me agradou.
17
Aquilo foi um choque. Descobri, da pior Monique passar a usar o título de “Witch
maneira possível, que Monique Wilson Queen”.
não só falava português fluentemente, mas
outras 11 línguas, entre elas o espanhol, Outro fato que presenciei e que me dei-
inglês, francês, alemão, chinês, vietnami- xou muito triste na época, foi quando em
ta e até mandarim. Aquela mulher peque- 1969 um jornal britânico sensacionalista,
na tinha, além de inteligência, uma vasta com predileção por assuntos relacionados
cultura. a escândalos sexuais, publicou
uma matéria odiosa sobre a filha
Uma das coisas que me omissão de todos dos Wilson, Yvette.
entristeceu e ainda aborrece
bastante até hoje, foi o fato de os outros membros O tablóide afirmava que a vi-
que após a morte de Gerald da Arte zinhança fazia rumores de que
Gardner todos os demais a menina tinha sido abusada e
líderes da Arte na Inglaterra forçada a participar de rituais de
terem virado as costas para Monique Bruxaria. Como resultado, a filha de Mo-
Wilson. Lembro-me de que naquela época nique ficou sob custódia da justiça até 18
os comentários eram sobre os ciúmes de anos. Esse foi o mesmo tablóide envolvido
várias HPS, já que Monique tinha herdado em escutas ilegais de telefones da família
quase todo o espólio de Gardner, que britânica, e definitivamente fechados em
incluía o chalé dele em Malew Street, julho deste ano, depois de novas denúncias
Castletown, os prédios do Museu e a de grampo telefônico. Entretanto, o que
quantia de 21,688 Libras, uma verdadeira mais me chocou na época, foi a omissão
fortuna para a época. A desculpa dada para de todos os outros membros da Arte na
essa atitude hostil, foi a de que HPS como Inglaterra, que não fizeram coisa alguma
Eleanor Bone e Patrícia Crowther estarem para ajudar os Wilson com esse problema.
particularmente aborrecidas com o fato de Na verdade, a maioria dos outros elders

18
estavam se unindo contra os wther, que até hoje afirma ser a
Wilson, e tenho certeza de que Os Wilson se “herdeira espiritual de Gardner”,
toda essa hostilidade se devia a mudaram de Perth já que ela nunca perdoou Moni-
ciúmes dos demais, porque os que por ter se tornado a herdei-
Wilson haviam herdado todo o para a Ilha de Man ra de todos os seus bens.
espólio de Gerald Gardner.
Se esses elders considerassem
Eu sempre vi isso com pesar, porque na mesmo a coleção de artefatos de Gardner,
verdade ninguém estava disposto a abando- além de seus cadernos de notas e outros
nar seus afazeres diários e se mudar para a documentos importantes como uma “he-
Ilha de Man para tomar conta do Museu de rança nacional da Inglaterra”, então por
Bruxaria. Os únicos que se interessaram que não ajudaram e permitiram que os
foram os Wilson. Da mesma forma, não Wilson ficassem quebrados e fossem obri-
vejo lógica alguma em não querer assumir gados a vender tudo? Uma das coisas que
aquele compromisso para depois atacar eu me lembro muito bem daquela época,
os que arregaçaram as mangas e assumi- era quando o inverno começava a se apro-
ram essa tarefa. Os Wilson se mudaram ximar, e os Wilson ficavam muito preocu-
de Perth na Escócia para a Ilha de Man, pados com a vedação dos telhados, e isso
e se não fossem eles, não sei o que teria custava caro.
acontecido com todo o acervo do Museu e
com a casa de Gardner em Malew Street. ‘Apesar de tudo, Iniciados de Mo-
nique e Scotty estão espalhados pela
Entretanto, depois que a situação dos Europa e Américas, sua Linha da Arte
Wilson ficou insustentável, e eles tiveram continua a crescer e se fortalecer, e é
que vender o acervo para os Ripley da Or- isso que é importante para todos nós,
ganização “Believe it or not”, os mesmos seus descendentes.’
elders que não moveram uma palha para
ajudar, começaram a atacar os Wilson
novamente, desta vez por terem vendido
tudo em 1973. Pelo que pude perceber na
época, a Alta Sacerdotisa de Gardner que
mais fomentou essa intriga foi Patrícia Cro-
19
A Arte Mágica possui seus métodos se-
cretos, transmitidos apenas a Iniciados,
para desenvolver amplamente todas as ca-
pacidades do ser, sendo aplicado em ser-
viço aos Deuses Antigos. O poder mental
das bruxas já foi comentado por Gerald
B. Gardner em WitchCraft Today, cáp. I,
como sendo um poder da vontade treina-
da usado no lançar de seus Cones de Po-
der, e:

“...que suas vontades unidas podem


projetar isto como um raio de força, ou
que elas podem usar isso de outras for-

PODER MENTAL mas para ganhar clarividência, ou mesmo


para liberar o corpo astral.”

na Bruxaria
(GARDNER, WitchCraft Today, Cáp. I)

No cáp. XIII, Recapitulation, Subitem O

Gardneriana
que é o Poder das Bruxas?, temos Gardner
explicando:

“A resposta fácil é
por Brutus Lobão Mente sobre Matéria.”

Pode parecer longínquo


No imaginário popular as bruxas da realidade comum mate-
são associadas com poderes men- um poder da rialista, para pessoas não
tais como: controlar telecinetica- vontade treinada treinadas num Coven Tradi-
mente o movimento de corpos ina- cional, considerar a idéia de
nimados, cavalgar os ventos em sua Mente sobre Matéria.
vassoura, ou uma montaria, lançar
feitiços, bençãos e maldições, induzir tran- Acontece que as pessoas não instruídas,
ses hipnóticos controlando seres vivos, e e não purificadas pelos Mistérios Antigos,
uma variedade de outros “poderes” men- possuem, e se apegam, a seus traumas, ig-
tais e mágicos que se projeta no infinito de norâncias e autonegligências, como uma
tantas definições para descrevê-los. personalidade emergente, e essa carapa-
ça personalizada é exatamente tudo que
A verdade está além das limitações pes- alguém não é. Toda a capacidade mental
soais e cada um que a busca precisa su- das pessoas não instruídas foi orientado e
perar os limites para se por diante dessas hipertrofiado ao longo da vida apenas para
manifestações da vida e da morte repre- suprir as necessidades da representação,
sentadas apenas nos folclores e lendas es- os remorsos pelas negligências, e a mar-
quecidas para a humanidade, mas ainda as- tirização dos traumas. Por esse motivo é
sim enigmáticas para a mente comum, não improvável(salvo exceções) que uma pes-
desenvolvida. soa que não tenha sido treinada adequada-
mente num Coven Tradicional e tenha sido

20
purificada pelos Mistérios tenha condições
e capacidades prévias para desenvolver Po-
deres Mentais. É necessário um trabalho
muito árduo para que a mente esteja em
condições de ser libertada de suas limita-
ções e possa erguer as asas em direção aos
Deuses.

Neste momento muitas pessoas estão


se anunciando como sacerdotes e inicia-
dores, e isso nos leva a pensar: Nas mãos
de que sacerdotes iniciadores as pessoas
estão pondo suas vidas?

O Treinamento num Coven de Wica Tra-


dicional é muito rígido, e por isso mesmo
poucos se dedicam o suficiente para me-
recer esse aprendizado, mas o sacerdócio
dedicado dos Deuses Antigos é instruí-
do em conhecimentos maravilhosos, que
guiam o aprendiz pelos caminhos da Wica
Tradicional. Não há segurança no caminho
Iniciatório, no entanto ser guiado no cami-
nho da Wica Tradicional é um privilégio.
Que pessoa arriscaria sua vida nas mãos de
pretensos sacerdotes que não receberam
um treinamento rígido Tradicional que o
preparasse para lidar com a vida e a alma
de um aprendiz? Parece até que as pessoas
não dão valor à própria vida! Como dariam
valor a outras vidas que nem conhecem?

Portanto, sabemos que muitas pesso-


as estão por aí, em busca de desenvolver
seus poderes mentais, seguindo grupos
que lhes oferecem facilidades, e baixos re-
quisitos de qualidade e dedicação, e peço
que pensem (usem o poder mental!): Esse
sacerdote genérico está preparado para
lidar com minha vida? (Pensem bem na res-
JOHN WILLIAM WATERHOUSE (1849-1917)

posta, da qual depende literalmente a vida de


cada aspirante.)
QUADRO: THE CRYSTAL BALL

O treinamento e instrução árduos dos


Antigos não pode ser substituído, por in-
venções genéricas.

21
WICA E SEUS DOGMAS
por Calliope Berkanna ser uma crença de caráter religioso ou ide-
ológico, imposta aos adeptos, que devem
“(...) viver os Mistérios da Antiga Religião acreditar respeitar e não questionar aquilo
é o mesmo que adentrar a sua compreen- que é tido como verdade incontestável.
são não de modo intelectual, mas através
de uma profunda experiência interior.” Dogmas são encontrados em muitas re-
ligiões monoteístas (como o cristianismo,
(MARTINEZ, Mario. Wicca
Gardneriana. Ed. Gaia, 2005, p. 25)
islamismo e o judaísmo), onde são consi-
derados verdades indubitáveis, princípios
Todo Dogma é uma crença, mas nem toda básicos, pilares fundamentais, que devem
crença é um Dogma. O Dogma poderia ser respeitados por todos, de modo que
ser descrito como uma crença incapaz de seu questionamento ou possível revisão
ser justificada adequadamente, ao mesmo por uma pessoa não é aceita nessa religião.
tempo em que se tem uma forte adesão, É uma crença que se distingue da opinião
emocional ou pessoal, a ela. A priori, seria teológica pessoal. Nesse contexto, pode-
uma análise da realidade, uma representa- mos considerar como Dogmatismo não
ção cognitiva desta, susceptível de possuir apenas o conjunto formado por essas
um valor verdadeiro para um indivíduo ou “verdades absolutas”, mas também como
grupo, social ou religioso, direcionando-os uma tendência natural a crer que o mundo
a um aprimoramento e desenvolvimento é do jeito que aprendemos, sem dúvidas
contínuo. Dessa forma, Dogmas não deve- a serem confrontadas ou conhecimentos
riam ser inflexíveis, irracionais. Porém seu a serem problematizados. Há espaço para
significado mais utilizado atualmente é o de o fundamentalismo religioso aqui, uma vez

22
que esses Dogmas são passados de forma
autoritária e sentenciosa, anulando assim a
capacidade do indivíduo de questionar tudo
aquilo que não tenha lógica ou sentido.

Dogmas também são encontrados em


religiões pagãs, ou seja, práticas religiosas
que possuem crenças distintas daquelas
conhecidas como monoteístas, ou de base
judaico-cristã. Algumas delas são Tradi-
ções que praticam o Ofício da Bruxaria,
por vezes hereditário, passado de forma
oral e protegido por juramentos. Assim
são as Tradições Misteriosas, em que cada
novo buscado é levado a vivenciar os mis-
térios por eles mesmos, sem influência ex-
terna imposta. O buscador é incentivado
a compreender suas vivências não apenas
com o intelecto - pois o intelecto apenas
é capaz de entender, não de saber, e en-
tender não é suficiente - mas compreen- “Nos últimos anos, muitas pessoas têm
der com todo o seu ser, com a sua alma, afirmado que a Wica é uma religião livre
para então sabê-las. Neste ponto, não há e destituída de princípios e dogmas. Na
como sustentar o significado de Dogma realidade, como religião iniciática e de
como algo imposto, visto que dentro das Mistérios, encontramos nela grande pro-
Tradições Misteriosas o Dogma passa a ser fundidade, quando temos oportunidade
algo que não pode apenar ser aceito sem de viver as iniciações tradicionais.”
questionamento, mas sim vivido e sabido.
(MARTINEZ, Mario. ‘Wicca Gardneriana’.
ED. Ed. Gaia, 2005, p. 25)
A bruxaria em si não é uma religião, logo
poderia se questionar a necessidade de Wica é uma religião de Mistérios, e como
Dogmas para ela se sustentar. Porém os toda religião de Mistérios, é fundamentada
Dogmas continuam sendo os pilares de na percepção individual, na vivência pessoal
uma doutrina religiosa sejam eles aceitos do Iniciado. Logo, como em toda doutrina
sem questionamentos por aqueles que ne- religiosa iniciática, o Dogma continua sendo
cessitam ser guiados como ovelhas, sejam uma verdade fundamental e indiscutível da
eles compreendidos por aqueles que ini- doutrina, com a diferença que, na Wica, ele
ciam sua busca em uma Tradição. Logo, é vivenciado pelo Iniciado. Nada é imposto
praticantes de bruxaria podem ou não de forma autoritária e sentenciosa. Não
pertencer a alguma religião, mas ao se de- há como um Mestre impor ao Iniciado a
cidirem por seguir alguma doutrina, preci- sua vivência religiosa, uma vez que ela é
sarão de uma forma ou de outra conhecer parte da percepção individual e não pode
os Dogmas da mesma. ser explicada pela razão, não pode ser
colocada em palavras, ela deve ser sentida,
Então surge a pergunta: Existem Dogmas vivida e sabida pelo Iniciado, como dito
para os Wica? antes. Este deverá ser capaz de viver a
Arte por si mesmo, sem aceitar cegamente

23
o conhecimento tradicional que lhe é do no decorrer do seu caminho na Arte,
transmitido. um Dedicado percebe os Dogmas de ma-
neira distinta de um Iniciado, assim como a
Sendo uma Tradição Iniciática e Misterio- vivência de um Iniciado de 1* se distingue
sa, a Wica permite que o buscador possa da de um Alto Sacerdote de 3*.
se tornar um Dedicado após determinado
período de estudos e práticas, a fim de ex- Conclui-se que a Wica possui Dogmas,
perimentar alguns aspectos da religião, ad- mas não é uma religião dogmática. Há uma
quirindo noções das suas práticas e da sua diferença que só pode ser percebida com
ética. O Dedicado é incentivado pelo Mes- a vivência destes Mistérios, sua compre-
tre a evoluir a partir da vivência ensão espiritual e, assim, pro-
do que lhe é permitido conhecer, funda, dentro da consciência
através da experimentação do Os Mistérios passam do Iniciado. Sendo uma vivên-
material que lhe é apresentado. a fazer parte da cia, não há argumento, não há
Um Dedicado se torna um Inicia- nada nem ninguém que poderá
do após fazer juramentos apenas
percepção mudar ou apagar isso. Aqui o
conhecidos pelos membros da individual Dogma deixa de ser algo que
Tradição. A partir desse momen- simplesmente foi empurrado,
to ele se torna parte da Tradição e seu imposto, e passa a ser uma certeza, vi-
entendimento sobre suas vivências se mo- venciada e compreendida profundamen-
dificará a medida que galgar os degraus na te. Essa é a diferença fundamental entre
Wica Tradicional, ascendendo graus e po- o dogmatismo judaico-cristão e o dogma
dendo tornar-se Alto Sacerdote. Os Mis- wicano. Enquanto o primeiro representa
térios passam a fazer parte da percepção a atitude presunçosa de impor a seus se-
individual, da vivência pessoal do Iniciado. guidores verdades não vividas, o segundo
Como a compreensão dos Dogmas está nada mais é que o conjunto dos Dogmas
intimamente ligada à compreensão dos da Tradição.
Mistérios, que são apresentados ao Inicia-
“Tudo dentro da Wica deve ser com-
preendido, nada deve ser aceito. E qual a
melhor forma de compreender algo além
de experienciando?”
M. Martinez (HP 3* do Coven
Caldeirão de Cerridwen – RJ)

“Sendo a Wica uma religião iniciática, o


indivíduo é conduzido a descobrir a si pró-
prio e seu papel neste caminho, incitando
uma profunda comunhão com seus ciclos
internos e externos, sua psique, e a jorna-
da de sua alma, ou a sua transformação
espiritual.”
Arida e Baco (Altos Sacerdotes do
Coven da Vassoura Sagrada - MG)

Como ainda mantém a característica de


algo que não pode ser dito ou explicado,

24
essas verdades fundamentais podem ser queiram) se libertar. Mas não é a falta de
chamadas de Dogmas. Alguns autores cha- Dogmas que libertará, e sim a quebra do
marão de Paradigmas, outros de Mistérios. Ego. Estes ‘wiccanos’ excluem os Dogmas
Importante é que são experimentados, da Estrutura da Tradição apenas para satis-
vividos, e não impostos. Vivenciados de fazer a necessidades pessoais e egoístas. Na
tal maneira que essa experiência se torna verdade, não excluem apenas os Dogmas,
parte da sabedoria, não de algum conhe- mas acabam por excluir diversos aspectos
cimento alheio e emprestado, esse sim importantes da Teologia, da Estrutura ou
podendo ser chamado de Dogmatismo no do que mais for conveniente para adaptar
sentido pejorativo da palavra. a religião às suas necessidades individuais.

“A natureza é a essência sob a qual es- “Todas as mudanças dos dogmas e di-
tão fundamentadas as crenças de nossa retrizes básicas da Wica, seus mistérios e
religião, por isso o ato de observá-la, vi- conhecimentos, foram apagados ou modi-
venciá-la e por último unir-se a ela, é par- ficados para satisfazer necessidades, gos-
te integral e vital dos dogmas Wicanos.” tos e políticas pessoais, transformando
assim a wicca em duas distintas religiões
Arida e Baco (Altos Sacerdotes do
Coven da Vassoura Sagrada - MG) a Antiga Wica e a Neo-Wicca.”,
Arida e Baco (Altos Sacerdotes do
Atualmente vemos “bruxos” ecléticos, Coven da Vassoura Sagrada - MG)
que se autodenominam ‘wiccanos’, faze-
rem um mau uso da palavra Dogma, uti- Agora mesmo afirmei que não é a exclu-
lizando o seu significado judaico-cristão são dos Dogmas que liberta, mas a trans-
cheio de imposições e autoritarismos, em cêndencia do Ego. Sendo a Wica uma reli-
que o dogma “prende”, nega a liberdade ao gião de transcendência, transcender o Ego
indivíduo, o impede de encontrar “a sua é um aspecto muito importante. Só através
verdade” - um ranço do qual estes “bru- da superação do Ego é possível se unir aos
xos” ainda não conseguiram (e talvez nem Deuses. Não é a Arte que deve se adaptar

25
JOHN BRITISH DIXON DEPOIS DE JOHN HAMILTON MORTIMER (1773)
às necessidades do Ego, mas o contrário.

Você não é o seu Ego, apesar de pensar


que sim. Ele é uma máscara, uma fachada,
um rótulo, são valores alheios que acredi-
tamos como nossos, o orgulho, o individu-
alismo, uma personagem interpretada para
se viver em sociedade. Superar o Ego sig-

QUADRO: AN INCANTATION
nifica abrir mão de valores sociais e psico-
lógicos aos quais tanto nos apegamos, aos
quais damos tanto valor por acreditar que
eles são reais, que eles são o nosso ver-
dadeiro Eu. Precisamos nos despojar des-
se lixo acumulado durante anos, pois este
acúmulo cria uma carapaça sustentada por
pseudo-verdades, impedindo o nosso cres-
cimento, nosso aprendizado. Essa fachada Na Carga da Deusa, encontrada em di-
é incapaz de acompanhar a evolução do in- versas versões públicas, podemos ler uma
divíduo e, sem nada sólido que lhe alicerce, promessa: “Eu dou inimagináveis alegrias na
uma hora cairá por terra. Então, nus, igno- Terra, certeza, não fé, enquanto em vida.”
rantes, tolos, imorais, perdidos, podemos Certeza, pois o Iniciado não recebe e re-
nos sentir tentados a usar a antiga máscara pete indiscriminadamente os Mistérios, ele
novamente. Mas como disse Einstein uma os vive, formando certezas e não uma fé
vez “a mente que se abre a uma nova idéia cega. Assim, não há liberdade limada, não
jamais volta ao seu tamanho original”, - não há lugar para imposições arbitrárias.
há como esconder-se atrás de algo que foi
Este é um assunto vasto e penso ser
destruído, que não serve mais. E isso é só
mais interessante neste momento tratar
o começo. É necessário despertar das ilu-
de um pequeno resumo de cada dogma e,
sões criadas pelo Ego.
em seguida, esmiuçarmos um por um, na
O Mestre é o guia nesse despertar, mas medida do que se pode falar publicamente.
nada pode fazer sem que o discípulo con- Mesmo tendo sido publicado nos últimos
fie. É necessário confiança para haver anos muito material de Wica, ela continua
abertura, entrega. Ocorrendo sendo uma religião baseada na
total entrega, o Mestre poderá Eu dou inimagináveis tradição oral, passada de mestre
então destruir o Ego e condu- para discípulo e resguardada por
zir o discípulo para a unidade. alegrias na Terra, juramentos, ou seja, Hermética.
Pois não há como se relacionar certeza, não fé, Continua seguindo fundamentos
e dogmas tradicionais, mas não
com os Deuses, mas se unir a
Eles, e essa união só é possível
enquanto em vida de um fundamentalismo ortodo-
na ausência do Ego. Um Inicia- xo. É na prática que se dá o cres-
do não compreende intelectualmente os cimento na Arte, pois ela é uma Fé Prática.
Deuses, tampouco permite que sua crença Da mesma forma o são seus princípios e
no Casal Divino se baseie em experiências crenças, bem como a certeza da vivência
alheias distantes de sua vivência. Um Inicia- espiritual, que só pode ser compreendida
do vivencia profundamente seu encontro dentro de um coven tradicional e de trei-
com o Divino, através de entrega, de unir- namento adequado. Então, entre os Dog-
-se aos Mistérios. mas estão estes listados abaixo.
26
O Deus e a Deusa naturais. É compreender princípios ener-
géticos de atração, geração e direciona-
A Wica é uma religião duoteísta centra- mento de poder. Compreender como
da no culto de duas Divindades: a Deusa empregar esse poder gerado para manifes-
da Lua e das Estrelas e o seu Consorte, o tação de desejos ou necessidades. Com-
Deus de Chifres. Ela, é a Mãe e a Criadora preender que é possível solicitar auxílio
de todas as coisas, é a representação má- a um espírito ou deidade. Compreender
xima da Feminilidade, o Divino Feminino, que a Natureza possui fluxos ocultos – as
o Ventre Sagrado, a Força Passiva da Cria- marés energéticas -, seu funcionamento e
ção. Ele é a representação da Virilidade e como utilizá-los para provocar mudanças
da Fertilidade, a Força Ativa da Criação, de acordo com a vontade pessoal. Fre-
o Divino Masculino, é o Senhor da Mor- quentemente a magia requer a utilização
te e do Submundo, o Deus Cornífero das de instrumentos preparados e estados de
Florestas e dos animais selvagens. Eles são consciência estabelecidos.
Deuses Supremos, Cósmicos e Primais.
São Amantes, Polaridades Divinas que se Lei Tríplice
complementam em igualitária importância.
São Imanentes e Transcendentes. Possuem Tudo no Universo é energia e essa ener-
nomes e formas específicas para serem in- gia está em constante movimento (tudo é
vocados, sendo estes secretos e conheci- vibração). Uma ação ou um desejo é uma
dos apenas pelos Altos Sacerdotes como forma de energia vibrante e que de acordo
senhas para acessá-los. com o Princípio de Ação e Reação (causa
e efeito) toda energia gerada vai e retorna
Magia a sua fonte de origem. Em outras palavras,
tudo o que desejarmos voltará para nós
A verdadeira magia não é superstição triplicado e nessa mesma vida. O grande
nem magia popular, tal como os poderes problema com esse dogma, é que é preci-
atribuídos às ervas e aos encantamentos so ser um Iniciado para compreendê-lo, já
que ele está intimamente ligado aos Misté-
rios Ancestrais.

Rituais

Além de ser o culto dos bruxos, são


como “pontes de comunicação”. São meios
que nos conectam aos Deuses. É através
do ritual que nós conseguimos nos ligar
às forças da Natureza /marés energéticas
/fluxos sazonais /períodos de poder (Sabás
e Esbás). São também o que nos permite
acessar outras dimensões ou estados de
consciência alterados para contato com
nossas deidades e/ou espíritos ancestrais.
O aproveitamento destes fluxos e perío-
dos de poder provoca mudanças significa-
tivas em tudo o que nos cerca e em nosso
próprio interior.

27
Poder Pessoal Summerland

É o que chamamos de o “Poder” das É um Dogma muito antigo não apenas na


Bruxas. Poder é energia e cada ser huma- Wica, mas o conceito é compartilhado por
no possui áreas específicas que emanam diversas religiões. Este é o local no qual as
e absorvem energia, que chamamos de almas repousam e se renovam antes de re-
Centros de Poder. Os Centros de Poder nascerem no mundo físico. Entre os celtas,
trabalhados costumam ser: básico, sexual, esse mundo era normalmente conhecido
umbilical, plexo solar, cardíaco, laríngeo como Tir nan Og, a Terra da Juventude
(garganta), frontal e coronário (alto da ca- Eterna. Ele é aludido no conhecido verso
beça). Isso diz respeito ao desenvolvimen- dos Wica ‘O Chamado da Deusa’, ou a
to iniciático. O Poder basicamente vem de ‘Carga da Deusa’. Lá, as almas dos bruxos
nós mesmos, da Terra e dos Deuses. Atra- residem por algum tempo, encontrando-se
vés da habilidade de projetar e gerar poder com os Ancestrais que morreram antes
é que conseguimos trabalhar a magia den- deles, bem como com os Deuses, para em
tro dos rituais. seguida renascerem no seio do clã.

O Superior é como o Inferior Reencarnação

Assim como é em cima, é embaixo... O A Reencarnação é a certeza que, após a


mundo físico é um reflexo de uma dimen- morte, nós nasceremos novamente no seio
são não física superior (um mundo supe- de nossa família, ou mesmo de nosso clã,
rior), ou seja, o que está abaixo é igual ao para amarmos novamente. A vida é eterna
que está acima, e o que está acima é igual e cíclica, tudo que hoje vive, um dia vol-
ao que está abaixo. Tudo o que existe no tará a viver. Os celtas acreditavam na re-
mundo físico já foi uma forma de energia encarnação muito antes da invasão roma-
em um Plano superior - essa forma de na, por isso eram guerreiros tão vorazes,
energia sutil fica mais densa à medida que enfrentando algumas vezes nus o exército
penetra no plano físico. romano nas batalhas de invasão, pois pos-
28
suíam a certeza que renasceriam outra vez quado dentro de um Coven Tradicional e
em sua família ou clã. Este dogma na Wica sob orientação de um Alto Sacerdote e
é uma matéria de fé inquestionável. Um uma Alta Sacerdotisa.
Wica que não acredita na reencarnação,
não é um Wica, já que vivenciou a morte Na continuação, trataremos da Lei Trípli-
e o renascimento em sua elevação de 2* ce com maior aprofundamento, pois mui-
(segundo grau). tas vezes esse Dogma é confundido com
a Lei do Karma, que não se aplica à Wica.
Partindo-se do significado de Dogma
para os Wica, podemos concluir que exis- “Estes são apenas alguns dos antigos
tem outros Dogmas além dos elucidados dogmas da Wica. Existem muitos outros.
aqui como principais. Conhecer os Dog- Entretanto, para que sejam compreen-
mas significa conhecer os Mistérios, o que didos corretamente, necessitam de todo
pode ser complexo, uma vez que estes um aprendizado e de toda uma vivência
não são apenas conceitos desconhecidos e prática. Estão relacionados aos antigos
sem explicação lógica, mas sim o conjun- Mistérios da Arte, não no sentido de que
to de saberes e práticas da Antiga Religião são segredos a serem guardados a sete
que são experimentados pelos Iniciados. chaves, mas no sentido de que para se-
Podem-se estudar os Mistérios através de rem compreendidos necessitam ser vivi-
livros, apostilas e textos na internet, mas dos dentro do processo iniciático.”
não compreender verdadeiramente, pois
(MARTINEZ, Mario. Wicca
para isso é necessário vivenciá-los, o que Gardneriana. Ed. Gaia, 2005, p. 29)
só é possível através de treinamento ade-

29
-Payne e sua equipe organizassem
Isso integrava os dois princi-
um "Day for Gerald". Lá estavam
pais temas na minha vida, a di-
aqueles que haviam estudado a
mensão psíquica e a paisagem.
vida e os trabalhos de Gerald, tais
Eu terminei me graduando em
como o Professor Ronald Hutton
Geografia na Universidade. Eu
e eu, juntos com os que tinham co-
li "Witchcraft Today" de Ge-
nhecido e trabalhado com Gerald,
rald Gardner por volta de 1959.
como Fred Lamond, Lois Bourne
O livro falou ao mais profundo
e Zach Cox. Infelizmente eu não
do meu ser, não tanto pelo que
estava me sentindo bem (não, eu
ele disse, mas pelo que ele não
não tinha bebido na noite ante-
disse, se você pode entender
rior!), assim eu perdi a maioria das
isto! Ele mudou minha vida. Eu
palestras da tarde. Eu estou par-
lia tudo o que podia, o que não
ticularmente triste por ter perdido
era muito naqueles dias, e nunca
a contribuição de Lois.
esperei ser capaz de encontrar
realmente bruxos vivos de ver-
dade! Na verdade, isso foi mui- M.M: Qual foi a importância
tos anos antes de encontrá-los. da Conferência para a Comu-
nidade Wicana no Reino Uni-
do e para o resto do mundo?
M.M: Você pode me dizer
alguma coisa sobre a sua
experiência na Arte Gard- P.H: Ela provavelmente enfa-

Philip Heselton
neriana? Você ainda pratica tizou a extensão de tudo o que
dentro de um coven? está acontecendo hoje no vasto
movimento Pagão tem suas ori-
gens no que Gerald Gardner fez e
Philip Heselton é um iniciado P.H: Embora eu tenha lido
escreveu.
Gardneriano e escritor sobre "Witchcraft Today" muito an-
temas como Wica, Mistérios da tes em 1959, não
foi até 2002 que M.M: Eu adorei
Terra e Paganismo. Ele escre- seus livros. O que
veu dois livros sobre as origens ei fui iniciado em “Eu queria saber ocasionou seu in-
um coven, que de
da Wica Gardneriana: Wiccan
Roots - Gerald Gardner and the fato possuía raí- o que realmente teresse em inves-
tigar as raízes da
Modern Witchcraft Revival, e zes tanto Gard-
nerianas quanto
acontecera” Arte Gardneriana?
Gerald Gardner and the Caul-
dron of Inspiration. Nesta en- Alexandrinas. Eu
ainda estou nesse P.H: Eu nunca gos-
trevista exclusiva para BTW, ele tei de História como uma matéria
fala ... com Mario Martinez. coven. Na época em que eu fui
iniciado, eu já havia escrito dois escolar, mas de algum modo eu
livros sobre a história Gardne- estava fascinado em como a Arte
M.Martinez: Qual foi a sua moderna se originou. O que nós
riana, "Wiccan Roots" (publica-
primeira experiência com parecíamos encontrar era algum
do em 2000) e "Gerald Gardner
espiritualidade na sua vida tipo de mitologia ou uma versão
and the Cauldron of Inspiration"
e como ela influenciou você "plástica" da história. Eu queria sa-
(publicado em 2003).
em direção à Arte ? ber o que realmente acontecera.
M.M: Fale-me sobre a Eu fui inspirado pela "Busca por
P.Heselton: Desde os meus Old Dorothy" de Doreen Valien-
"Charge of the Goddess
anos de infância eu sempre que- te, dada como um apêndice do
Conference - A Day for Ge-
ria sair de mim mesmo, para a "The Witches Way" dos Farrar,
rald Gardner" no ano passa-
floresta e lugares afastados nos e eu resolvi levar isso mais longe.
do. Quem estava lá e como
campos, longe das pessoas. E foi Com a ajuda de um grande número
foi o contato com outros
lá que eu inventei minha própria de pessoas, incluíndo Michael Ho-
membros da Arte ?
religião, que ei depois percebi ward, editor de "The Cauldron", o
ser essencialmente Paganismo. Professor Ronald Hutton, Graham
Isso continuou com o meu in- P.H: Isso foi muito bom que,
King do Museum of Witchcraft
teresse nos mistérios da terra após o sucesso de "Day for Do-
em Boscastle, e numerosos his-
e nossa relação com a paisagem. reen" em 2009, John Belham-
toriadores locais e arquivistas, eu

30
estou certo da data da publicação.
gradualmente reuni pedaços de bom e um material instigante
Com certeza eu deixarei todos
algumas histórias, embora isso que parece apropriado em um
saberem quando ela aparecerá!
ainda não tenha terminado para ritual. Doreen Valiente retirou
Alguém poderia empreender o
mim. muito dele quando estava rees-
grande trabalho de tradução para
crevendo o Livro das Sombras
o Português?
M.M: O que você poderia para ela mesma, mas algum ain-
dizer sobre a amizade en- da permanece, possivelmente
porque ela não o M.M: Como você
tre Gardner e Crowley com
vê o futuro da Arte
vistas às citações de Crow-
ley nas primeiras versões
reconheceu pelo
que ele era.
“os poderosos Gardneriana?
do BoS e que foram corta- rituais que eles P.H: Bem, eu real-
das nas versões posterio- M.M: Que
res? Havia algum significa- passagem da realizaram em mente não sei! Ela cer-
tamente irá sobrevi-
do nessas mudanças, como vida de Gerald New Forest” ver por muito tempo.
a construção que os Wicas gardner mais
daquele tempo estavam impressionou Para sobreviver ela
escolhendo para a religião, você? tem que ser flexível. Certamen-
livrando seus textos de liga- te que em nosso próprio coven há
ções com supostos magos uma ênfase no desenvolvimento
P.H: Eu suponho que foi na
negros, como Crowley era pessoal tanto quanto no trabalho
época de sua iniciação no "culto
conhecido ? mágico. Será fascinante ver o que
das bruxas", como ele o chama-
acontecerá!
va, no verão de 1939, quando
P.H: Gerald Gardner e Aleis- ele foi conhecer os membros do
ter Crowley, em sua breve ami- grupo sem saber exatamente o M.M: Algum pensamento fi-
zade de maio a junho de 1947, que ele era, até que ele estava nal que você gostaria de com-
queriam alguma coisa um do ou- a meio caminho na sua iniciação partilhar com os leitores bra-
tro que, basicamente, o outro (não que nós façamos isso desse sileiros da revista BTW?
não pôde dar. Crowley esperava modo hoje em dia!). E, é claro,
que Gardner pudesse reviver a os poderosos rituais que eles P.H: Bem, Gerald Gardner fa-
moribunda O.T.O. (Odro Tem- realizaram em New Forest em lava fluentemente o português,
pli Orientis), e tentou ajudá- 1940 para tentar parar a amea- tendo vivido muitos anos de sua
-lo como ele podia. Contudo, çadora invasão da Inglaterra. juventude na Ilha da Madeira, en-
Gardner não estava preparado tão é apropriado que exista um in-
para se envolver no trabalho, M.M: Você já mencionou teresse por ele e seu trabalho tan-
então ficou doente e quando que você está trabalhando to em Portugal quanto no Brasil.
ele se recuperou, Crowley havia em um novo projeto de um Estou certo de que ele teria visto
morrido e o interesse de Gard- livro sobre uma biografia de isso com prazer!
ner fracassou. De sua parte, Gerald Gardner. Você pode-
Gardner queria respeito e rece- ria me dar alguns detalhes M.M: Caro Philip, muito
beu de Crowley um documento sobre o projeto? Quando o obrigado novamente por dis-
impressionante, a tão chamada livro será publicado? por do seu tempo para falar
"Carta", mas ela nunca foi real- para a revista BTW. Boa sor-
mente usada, P.H: Sim, ele é só a te e muito sucesso com seu
novo livro sobre a biografia de
pois Gardner
afastou-se
“Gardner não segunda biografia de
Gardner.
Gerald a aparecer, a
para outras estava preparado primeira sendo "Gerald
coisas logo Gardner Witch" por
após a morte para se envolver no J.L.Bracelin em 1960,
de Crowley.
Com vistas
trabalho,” mais de 50 anos atrás.
Esta é muito mais
ao material de detalhada e maior,
Crowley no Livro das Sombras, chegando a ter mais de 200.000
ele foi posto lá ou por Gard- palavras. Ela será publicada em
ner ou por alguém antes dele, dois volumes e será entitulada
porque muito dele é realmente "Witchfather", mas eu ainda não

31
OS INSTRUMENTOS DO OFÍCIO
Notas sobre os instrumentos eram utilizados tanto para caça como para
e o Museu de Bruxaria modificar o ambiente ao seu redor.
de Castletown
Com o passar do tempo, a utilização
por Artemis Absinto e dos instrumentos se desenvolveu com tal
Lorenna Escobar complexidade e poder que levou a capaci-
dade de interferir em planos superiores e
de permitir, através do contato com ou-
tros planos, modificar o ambiente o nos-
Ao falarmos dos instrumentos do ofí- so redor de maneira muito mais profunda
cio, como ferramentas religiosas, devemos e complexa, apelando para os sentidos e
ter em mente que os mesmos nasceram saindo da superficialidade da alteração
de contextos históricos e culturais vividos material.
pelo ser humano através dos tempos, da
evolução da sociedade e da evolução do Acreditamos que os primitivos seres
culto às divindades. Desde os tempos mais humanos tinham uma imensa capacidade
remotos que o ser humano utiliza ferra- de observação da natureza, do seu redor
mentas para desempenhar suas atividades; e dos eventos astrológicos que ocorriam
O que inicialmente era uma adaptação de com frequência. Podemos estar sendo ou-
materiais encontrados na natureza, que sadas em nossas observações, principal-
devido ao seu formato ou disponibilidade, mente por não ter graduação em história
32
ou arqueologia, mas essa capacidade de
observação os possibilitou aprender o uso
das ferramentas e a relacioná-las poden-
do carregar com simbolismos necessários,
que talvez possa daí ter-se originado a utili-
zação de alguns instrumentos como ferra-
mentas para o trabalho religioso.

O que viria a nascer como fruto da ob-


servação, possibilitou a essas ferramentas
adquirir seus significados, usos próprios e
se tornassem extensão de corpo e poder
de um bruxo. Temos que ser bem claros
ao lembrar que a maior parte do poder
das ferramentas advém da capacidade do
bruxo em alimentá-las. A energia levantada
pelo bruxo é uma das formas mais natu-
rais de magia. E os instrumentos, relacio-
nados aos símbolos, facilitam e direcionam
o poder levantado pelo bruxo ou mesmo
mantido pelo círculo. É importante ter em
mente esses pontos, pois os mesmos só
reforçam a importância do Bruxo estar de-
vidamente preparado dentro dos conheci-
mentos fornecidos pela tradição através da
iniciação. Conforme Gardner demonstra:

“Há três ferramentas de trabalho que


são essenciais e nada pode ser feito sem em serviço aos Deuses e seu uso geral-
elas; ou seja, algo para cortar e apu- mente deve se restringir apenas para esse
nhalar, algo com que bater e algo para propósito.
amarrar. Há cinco outras, cada uma das
quais com seu uso especial e apenas ne- As literaturas então nos mostram que es-
cessárias quando um tipo particular de ses artefatos não precisam necessariamen-
trabalho é realizado. Para uma iniciação, te possuir de fantástica ornamentação ou
as oito devem estar presentes e o iniciado de ser de grande importância material. Os
aprende a usar e segurar uma de cada instrumentos podem ser confeccionados
vez. [...]” com materiais simples, e o que realmente
vai importar ao Wica é que ele funcione.
(GARDNER, Gerald Brosseau. ‘A Se o instrumento estiver conectado com
Bruxaria Hoje’. Ed. Madras, pg111)
o bruxo de alguma forma seria formidável,
Instrumentos são em geral utensílios assim o poder pode ser transmitido com
utilizados para desenvolver alguma tarefa, mais naturalidade, já que existe uma maior
seja física, intelectual ou mesmo espiritual afinidade.
nas operações mágicas. Cada instrumen-
Todo instrumento do ofício deve ser
to deve ser devidamente consagrado para
real, caso contrário as energias trabalha-
que seja considerado do Ofício sagrado
das pelo Bruxo podem ser facilmente dis-
33
sipadas perdendo todo o potencial mágico
que neste poderia se instalar. Para melhor

FONTE: HTTP://WWW.GERALDGARDNER.COM/ARCHIVE/MILL/INDEX.PHP
visualizar este exemplo, seria o mesmo
que entrar numa guerra munida de uma
espada ornamental, de certa forma ‘simbó-
lica’, onde a lâmina não causasse ferimento
algum já que não possui fio, e em poucos
segundos a pessoa seria destruída. O mes-
mo acontece quando se entra no círculo,
pois é um trabalho realizado com energias
superiores, com seres superiores, e assim,
deve-se estar devidamente ‘equipado’ caso
queira que estes seres o respeitem como
bruxo.

Nos tempos de perseguição, principal-


mente em tempos da “Santa” Inquisição,
as bruxas eram orientadas a não manter
instrumentos suspeitos em casa e, caso ti-
vessem, que os mesmos fossem facilmente
ocultados para que não recaísse sobre elas
nenhuma suspeita ou indicasse qualquer
ligação com a magia e feitiçaria. O medo O Museu de Bruxaria
da perseguição foi responsável por muitas
Cecil Hugh Williamson foi um dos per-
das características ocultistas da religião,
sonagens fundamentais na formação e acu-
que para manter seus mistérios e ritos a
mulação de um novo dia dos Wicas, devi-
salvo, de certa forma, a parte significante
do às grandes contribuições de artefatos e
dos instrumentos e dos ritos só é repassa-
instrumentos, relacionados ao meio pagão,
da oralmente dentro do coven, da mesma
catalogados em seu Museu. Ele foi o fun-
forma que uma mãe ensina ao filho os se-
dador do Centro de Pesquisa Witchcraft
gredos culinários da família e que a mesma
durante a guerra, e o Museu de bruxaria
não deve divulgá-los a mais ninguém.
em Castletown na Ilha de Man. Após a
“[...] O mesmo com as ferramentas de revogação das leis de feitiçaria em 1951,
trabalho. Que elas sejam como coisas co- Williamson decidiu voltar para a Inglaterra
muns que qualquer um tenha em casa. e em 1952, vendeu os edifícios do museu
Que os pentáculos sejam de cera para de Castletown a Gerald Gardner.
que possam ser derretidos ou quebrados
Gardner foi um grande Sacerdote, inicia-
rapidamente. Não possua espada, a não
do nas Artes Mágicas da Bruxaria Tradi-
ser que seu posto permita que você tenha
cional, um Wica. Ele era um senhor muito
uma. Não possua nomes ou signos sobre
viajado e erudito, devido ao seu interesse
nada, escreva os nomes e signos com tin-
natural por objetos e instrumentos pecu-
ta antes de os consagrar e lave-os imedia-
liares, ele começou uma coleção pessoal
tamente depois. [...]”
de itens relacionados à magia e feitiçaria
(GARDNER, Gerald Brosseau. ‘A que por fim vieram a complementar a co-
Bruxaria Hoje’. Ed. Madras, pg53)
leção do museu: armas, manuscritos, livros
de magia, amuletos, talismãs, entre outros.
34
“A política do Museu é mostrar o que as

HTTP://WWW.GERALDGARDNER.COM/ARCHIVE/MILL/INDEX.PHP
pessoas acreditavam no passado, e ainda
acreditam, sobre magia e bruxaria, e o
que eles fizeram, e ainda fazem, como
resultado dessas suas convicções. O mu-
seu contém uma coleção sem paralelo de
material autêntico doado por bruxas que
ainda vivem ou faleceram recentemente.
Mostra-se como a bruxaria, em vez de
estar extinta, ou ser um fato meramen-
te lendário, é ainda uma religião viva,
possuidora de tradições de grande inte-
resse para os estudiosos, antropólogos e
estudantes de religião comparativa e do
folclore. A Bruxaria é atualmente o que

FONTE:
resta das mais velhas tradições religiosas
da Europa Ocidental, algumas das quais
Este quarto (ilustração acima) mostra um ambiente
parecem ter vindo da Idade de Pedra.” com os seus instrumentos mágicos prontos para
serem usados, com o círculo, o altar, etc.
Gerald Gardner

É possível, através dos itens expostos no Havia também, no museu, grande núme-
Museu, observarmos alguns instrumen- ro de objetos que peculiar que pertence-
tos usados pelos Bruxos, Wicas, Magos e ram a uma bruxa falecida em 1951, esses
Ocultistas. Segundo as notas escritas por objetos foram doado pelos seus parentes,
Gerald Gardner, no livro “The Story of e que eram instrumentos que haviam sido
The Famous Witches Mill at Castletown, usados na família durante gerações, den-
Isle of Man”, descreve a coleção de obje- tre ele havia uma espada ritual que com
tos usados pelas bruxas, que estavam em ela celebravam anualmente a cerimônia do
meio aos artefatos do museu. Esta cole- Solstício de Verão em Stonehenge.
ção consistia em utensílios para fabricação
de curas herbárias e encantamentos, uma Em uma das muitas seções continham
vara ritual e outras coisas escondidas den- também vários artigos emprestados ao
tro de uma escrivaninha. Museu por uma fraternidade mágica, inclu-
sive um cálice usado para celebrarem uma
espécie de Missa para propósitos mágicos.

Após a morte de Gerald Gardner, a ti-


tularidade do museu foi transferida para
o casal Wilson, porém, no início dos anos
1970, o museu foi fechado e depois de mui-
tos anos quando suas dependências já es-
tavam deteriorando aos poucos, o museu
foi então vendido e nele desenvolvido um
condomínio de alto padrão em 1999.

FONTE:
HTTP://WWW.GERALDGARDNER.COM/ARCHIVE/MILL/INDEX.PHP

35
BELTANE Curiosamente, era o mais temido dos sa-
bás pela Igreja devido à conotação sexual.
A Liberdade Sexual encontrada e relatada
por vários historiadores e seus ritos, foi
condenada em orgias carnais sem sentido,
QUADRO: SATAN WATCHING THE CARESSES OF ADAM AND EVE

assim como a copulação com o próprio


Diabo. É claro, que Bruxas de vários luga-
res se reuniam e dançavam nuas ao redor
das fogueiras, e era comum entre os pa-
gãos o sexo sem o pudor condenado pela
Igreja. O Sexo é a expressão mais viva da
divindade em nós. Com ele podemos criar
outro ser.

A palavra anglicizada Beltane, segun-


do Janet e Stewart Farrar, corresponde a
moderna palavra gaélico-irlandesa Bealtai-
WILLIAM BLAKE

ne, que significa mês de maio, e a palavra


gaélico-escocesa Bealtuin, que significa dia
de maio. Mas segundo vários autores, o
contexto da palavra possui o significado de
‘o fogo de Bel’, ou ‘o brilho de Bel’. Bel na
O Grande Sabá das Bruxas
mitologia celta era o deus do Fogo, e em
por Arida Diana suas origens também associamos a Beli,
Balar, Balor e Baal, este último tem como
significado Senhor. Existe também relação
“….Todos os atos de amor e prazer são com o Deus Cernunnos, Apolo, Lugh e
os meus rituais...” com Herne.
(Versão publica da ‘Carga da Deusa’)
Nesta data, duas grandes fogueiras eram
Beltane, Roodmas, Noite de Walpur- acessas pelos druidas em cada colina sa-
gis, e tradicionalmente, May Eve, Véspera grada, e o gado era conduzido entre elas
de Maio ocorre em 30 de abril ou 1º de para assegurar a fertilidade e a saúde, a
maio no hemisfério norte, e por volta de purificação e a proteção. Robert Graves,
31 de outubro, e 1º de novembro no he- em ‘The White Goddess’, cita “que o fogo era
misfério sul. Trata-se de um Grande Sabá, acesso em atrito com uma prancha de car-
senão um dos mais esperados e comemo- valho, e tinha propriedades miraculosas, mas
rados pelos Wica. Atualmente, é comum que originalmente culminava no sacrifício de
que vários covens se reúnam nesta data. O um homem que representava o Deus do Car-
motivo de tanta exaltação é porque nes- valho”. Os Farrar ainda mencionam “as vir-
te sabá comemora-se o sexo, a vida e a gens vestais que jogavam bonecos de junco no
fertilidade da vida, e se resume rio Tibre, como sacrifícios huma-
em Fertilidade e Fogo. Beltane este sabá nos simbólicos. O antigo Rei Divino
e Samhain dividem o ano em comemora o sexo, morria na Véspera de Maio, sacri-
duas partes representadas pelo ficado, e seu sangue era aspergido
Sexo/Vida e Morte, Crescimen- a vida e a nos campos e bebido junto a cer-
to e Decrepitude. fertilidade veja e ao vinho”. Seu sucessor as-

36
sumia então o reinado, sendo substituído as festas de Maio, trazendo abundância e
da mesma maneira ao passar os sete anos. a vida.
Embora o sacrifício humano não aconteça,
além de ilegal também não é necessário, Os festejos eram também conhecidas
os wicanos comemoram o ritu- como jogos de Maio. O prin-
al em meio as fogueiras erigidas cipal ícone dos Jogos de Maio
para a purificação e a fertilidade. autores associaram era o Maypole, ou Mastro de
Robin ao conhecido Maio. Ele representava o falo
A festa de May Eve compre- ereto, símbolo da vida de for-
ende aspectos de caráter sexual
Jack, o Homem Verde, ma simbólica, e suas fitas repre-
e encontramos o casamento de sentavam o poder da criação, o
Robin Hood e Maid Marian, como Rei e sêmen, jorrando para os desejos e ansieda-
Rainha de Maio. Acredita-se que a história des dos dançarinos. Ele era adornado pela
de Robin Hood difundida em toda a Euro- guirlanda representando a mulher sobre o
pa, possa ser uma referência a um grupo de homem, no ato sexual.
bruxaria. Embora não se pode provar que
ele tenha existido, o próprio nome Robin “A força do Maypole foi condenada em
era comum na época e muitas bruxas o 1644, mas eles puderam retornar em
relataram durante a perseguição dizendo 1661, com a Restauração”
que o diabo tinha o nome de Robin.
(Janet e Stewart Farrar, ‘Oito Sabás para as Bruxas’).

Hood é uma variação do deus escandi-


Outra curiosidade eram as caçadas de
navo Hod, ou Woden, Senhor do vento.
Maio, onde as mulheres corriam atrás da-
Gardner (‘Bruxaria Hoje’. Pg. 67) e Murray
quele que seria iniciado ou seria o seu pre-
(‘O Deus das Feiticeiras’. Pg. 35) relatam
tendente. Elas batiam nele e o detinham
que Robin, assim como Marian, formavam
sob sua direção. Na mesma data, ocorria a
uma congregação de 13 pessoas e se reu-
caçada da lebre (um animal da Lua) e, como
niam em florestas. Alguns autores associa-
dizem os Farrar, “gozam de uma excelente
ram Robin ao conhecido Jack, o Homem
reputação de sensualidade e fecundidade”.
Verde, um deus da natureza, adornado de
Na verdade, a caçada é uma busca pela
folhas verdes e flores que aparecia entre
parceria complementar, pela sexualidade,
mantendo o sexo, complementação dos
opostos, mesmo que de forma ritualística,
como tema de todo o festival.

“Beltane é o clímax primaveril, a vida


em abundância. Essa é expressa através
do sexo entre os antônimos. Mantida sob
a caçada nos bosques de primavera, am-
bos Senhor e Senhora, em seus aspectos
juvenis, movimentam as poderosas ener-
gias que são responsáveis por tal abun-
dância no cosmos. Neste ilustre momen-
to onde a lança se une ao Graal, tudo é
gerado.”
(‘Notas sobre Elevações e os Sabás’ - HP Baco)

37
os participantes, e a festa íntima comemo-
rada pelo casal que representa as divinda-
des. O êxtase, a cópula, a luxúria, o frenesi,
são importantes mecanismos de contato
com as divindades da Wica, embora exis-
ta todo um contexto em que esta liber-
QUADRO: VENUS VERTICORDIA

dade seja orientada. Dentro do Ritual, o


chamado Grande Rito, representa o ápice
DANTE GABRIEL ROSSETTI

da força gerada, a união dos opostos, e a


compreensão deste maravilhoso Mistério
é ensinado aos iniciados como parte de um
treinamento mais avançado num trabalho
de parceria.

Doreen Valiente relata que:


Em May Eve, o Deus se junta a Deusa,
através do sexo, para gerar a maior for- “A relação sexual é realmente muito
ça existente: a vida. É neste momento que antiga, provavelmente tão antiga quanto
enfatizamos a importância das polaridades. a própria humanidade. Obviamente, é o
A união das polaridades permite o encer- próprio oposto da promiscuidade. Rela-
ramento do mundo em um ser só, uma ção sexual com propósitos rituais deve
síntese que pode conter o todo. ser com um parceiro cuidadosamente se-
lecionado, na hora certa e no lugar certo...
“Para elas e eles o sexo é sagrado – É amor e exclusivamente amor que pode
uma manifestação daquela polaridade transmitir ao sexo a centelha da Magia.”
essencial que penetra e ativa o universo
todo, do macrocosmo ao microcosmo, e (‘Natural Magic’, pg.110)

sem a qual universo seria inerte e está-


tico, em outras palavras, não existiria. O E para Mario Martinez:
casal que representa o Grande Rito está
“(...) é através do casamento sagrado e
oferecendo a si mesmo, com reverência e
do êxtase ritual que a unidade de consci-
alegria, como expressões dos aspectos de
ência e espírito pode ser alcançada.”
Deus e Deusa da Fonte Suprema. Como
é acima, é abaixo. Eles estão fazendo de (notas avulsas)
si próprios, no máximo de suas capacida-
des, canais para aquela polaridade em to- Para os Wica, Beltane se resume em ale-
dos os níveis, do físico ao espiritual. Esta gria, em contentamento interior, em fer-
é a razão de chamar-se o Grande Rito.” tilidade, em juventude, êxtase espiritual,
iluminação e amor. O sexo ritual, ou asso-
(FARRAR, Stewart & Janet, ‘Oito
Sabás para as Bruxas’, pg. 47) ciações, como rodar um mastro, andar em
meio as fogueiras, cavalgar em vassouras,
Quando os Altos Sacerdotes repre- ou fazer amor no campo, representam o
sentam as divindades durante o ritual da mito da vida, cujos Mistérios são a verda-
Véspera de Maio, eles não só são a repre- deira ponte ao sagrado. Aos nossos inicia-
sentação da força maior, mas são o casal dos o Grande Rito é a real consumação de
perfeito. O ponto de relação com o ritual todo o nosso trabalho por amor. E a liga-
se baseia na festa comemorada por todos ção verdadeira entre nós e as divindades.

38
OCULTISMO

39
Poções, Misturas de Poder
por Baco Líber sórdido e sempre logrado à manipulação de
um feito por um feitiço ‘fisicamente líqui-
“Diante de uma instância de tensão e do’. Seus disfarces a levaram sem qualquer
medo, ela adicionou ao chá uma ‘maçã’ desconfiança às vítimas mais protegidas
de mandrágora, e, tão pequena era esta, contra um inimigo em potencial, mas, que
que, ao degustar a terna bebida, o pobre diante deste sorrateiro sortilégio, o fra-
rapaz caiu em profundo sono.” casso, acabou se tornando uma constante
(Contos noturnos - eventualidade para àquele que o bebesse.
‘Unguento Sabbat ‘- Baco Liber)

Ao estarmos intrinsecamente ligados a


vida como um todo, elaborando festejos
sacros em observância às mudanças dos ci-
clos sazonais, e, por consequência às plan-
tas, nós aprendemos seu ofício, e, alguns
dos nossos, adquiririam dons. O ofício que
era reservado em princípio às mulheres
do Clã, como detentoras daquilo que deve
ser mantido, ao plantio, e, ao entendimen-
to da cura e da própria criação da agricul-
tura como a conhecemos, fora um papel
legado as mesmas, pois os homens em uma
sociedade caçador-coletora abstinham-se
em primazia às caças e pescas.
QUADRO: DEPART POUR LE SABAT
DAVID TENIERS (1750 - 1780)
A Wica, como bem sabemos, religa suas
bases formadoras sobre a própria nature-
Sabemos que durante o percurso da his- za, como antes fora dito, estabelecendo
tória nem todas as bebidas poderiam ser, um contato ímpar com as ervas e por con-
de fato, inocentes drinques de desfrute. sequência com seus usos e estudos pro-
Por nossas mãos muitos já sucumbiram ao priamente ditos.
amargar de maldições, ao deleite do amor,
ou, ao sono profundo após um doce gole O conhecimento delas por anciões de
de uma bebida refrescante. A história e a nossos antigos Clãs se fez até certo pon-
estória, em suas invenções, corroboraram to necessário, devido ao profundo en-
para nomear-nos como detentores de le- tendimento de que muitos dos mistérios
gítimos poderes, forças tais, que, poderiam internos vivenciados por nossos iniciados
por uma gota de certa bebida, fazer tom- se relacionavam a esta compreensão. Es-
bar o mais forte dos homens de um vilare- tes processos se alimentaram de diversos
jo. Pois, sinceramente, não serei eu quem fatores que serviram de condução do (a)
dirá o contrário. Bruxo (a) por um explorar genuíno dentro
da própria religião em um religare com suas
As Poções e as bebidas mágicas se en- divindades. Assim, através da vivência e da
trelaçam em nossas memórias, como algo prática física, nossas tradições primordiais

40
repassaram parte integrante dos Mistérios preparo foi bebida por Gwion ao queimar
pelo simples observar de um jardim, até o o dedo, levando-o à boca sob um ato refle-
entendimento do porque de cada flor es- xo. A partir de então, ambos travaram um
taria abrindo em uma específica fase anual. luta ímpar, onde, transformando-se em di-
Processos arraigados ao uso destas para o versos animais, eles se esquivaram e degla-
aprofundamento em comunhão à própria diaram sem cessar, ao que no final, Gwion
planta como transportadora deste conhe- em desespero transforma-se em grão e,
cimento/poder natural que, como o xamã, Cerridwen, observando a oportunidade,
nós conseguimos através delas, acessar tal transforma-se em uma galinha, comendo
poder, e expandir nossa consciência ao li- Gwion em sua nova forma e engravidando
miar entre os mundos. deste. Assim, após nove meses ela conce-
be Taliesin, ‘Aquele da fronte brilhante’.
‘Esta transformação também está li-
gada aos Mistérios da Transformação e, Muitos ingredientes, assim como reci-
por conseguinte, aos Mistérios Agrícolas, pientes, fizeram parte da criação do que se
às plantações e às próprias estações da validou sobre as Poções. Entre elas, ingre-
Roda. Elas estão inteiramente ligadas dientes tão intrigantes quanto: sapos, per-
tanto às mulheres em sua regência lunar, nas de aranha, asas de morcegos, insetos,
do qual as ervas, plantas e marés parti- água do pântano, e, as mais diversas com-
lham seu crescimento em relação direta plementações sórdidas que nossa mente
com as fases lunares, e aos homens, em puder imaginar. Toda a transformação des-
cujo sol e as estações solares estão dire- ta diversidade de ingredientes, sempre re-
tamente associados ao plantio, e a ceifa. ’ fletiu, mesmo que de forma fantástica, nos
mistérios que se referiam a transformação
(‘O Ofício da Cura – As Ervas’ – Baco)
destes itens, em um ensopado místico. An-
tigos membros de nossos Clãs referiam-se
Atravessando os séculos e diversas cul-
a estes como Mistérios da Transformação,
turas na Europa, as poções ganharam res-
largamente associados aos Sabás da prima-
paldo quando através do documento de
vera e em principal, o do outono, assim
nome The book of Taliesin, datado aproxi-
como os chamados Mistérios do Caldeirão
madamente do século XIII, relatava, pelos
conhecidos por nossos anciões em trans-
dos contos dos bardos, o mito de Cerri-
missões orais, nos seio das congregações
dwen e Gwion, onde uma poção era pre-
tradicionais.
parada por um ano e um dia, pela deusa e,
em um acidente repentino, uma gota do
‘Aqui, devo expor ao leitor uma pe-
quena nota em referência aos Misté-
rios do ponto de vista BTW.

Deve ser entendido que os Misté-


rios Wicanos nunca foram uma senha
ou mesmo um ato mágico, a partir
do qual pudéssemos adquirir forças e
poderes sobre-humanos, pois os mes-
mos são reflexos de vivências intensas,
entendimentos que se transformaram
pelo tempo e pela prática em um foco
de sabedoria que se instaurou como

41
QUADRO: THE DANAÏDES
JOHN WILLIAM WATERHOUSE (1849-1917)
uma compreensão de cunho espiri- submundo. Como vivia em um ambiente
tual, e logo, por seu reflexo material. aquático, desde que a água há muito era
Aqui deve ficar entendido que somos considerada como detentora do poder de
possuidores de senhas e diversos pas- transportar um ser entre os planos, o sapo
ses mágicos que variam de representava aquele que transi-
movimentos a encantamen- tava entre os mundos; a partir
tos intrincados, mas que uso de um sapo em disto, seu sangue, ou mesmo
em suma a compreensão sua secreção, poderia levar um
de nossos mistérios, sem- uma poção bruxo ou xamã a experimen-
pre foi vetada aos de fora, tar a mesma sensação de poder
aos que nunca construíram que este detinha. A bufotenina,
como nós, conceitos a partir do con- assim como diversos fungos, como a Ama-
tato com a Wica Tradicional, com os nita muscarea era considerada ingredientes
fundamentos que são estabelecidos de extrema força, pois cediam ao usuário
passo-a-passo pela progressão nos um contato direto com o poder de suas
graus, e da experimentação efetiva substâncias.
destes dentro de um Clã genuíno sob
um contexto BTW.’ “Em 1588, Alison Peirson, que estava
entre as fadas, disse que um homem de
Os Mistérios da Transformação contém verde apareceu-lhes, um homem forte,
seu cerne o entendimento do por que do com muitos homens e mulheres com ele;
uso de, por exemplo, um sapo em uma ela se persignou e rezou, e se passou en-
poção na concepção popular medieval tre eles mais do que poderia dizer; viu
européia (elemento tão intrigante para entre eles música de flauta, alegria e ani-
ingredientes que sob um ponto de vista mação, e foi levada à lothian; e viu barris
folclórico se demonstrava abertamente ex- de bebidas alcoólicas com eles.”
cêntrico). Para entendermos isto, conside-
(MURRAY, Margaret Alice. ‘O Deus
remos alguns pontos de correspondência das Feiticeiras’ - ed.Gaia – pg.96)
no ocultismo. Devido ao seu surgimento
em épocas de chuva, e mesmo por seu ha- Cogumelos possuidores de poderes divi-
bitat natural ser comumente em pântanos natórios, composto de substâncias psico-
e brejos, o conhecimento popular europeu trópicas, assolaram o Sabá europeu, con-
e dos estudiosos do oculto, conectaram- cedendo às bruxas uma noite que levava
-no a algo pertencente ao obscuro, ao se- ao mundo das fadas. Determinados fungos
creto, ao noturno, e assim o ligaram ao que parasitavam o trigo, faziam parte inte-
gral dos festejos do Senhor Chifrudo em
noites de lua cheia. Todos misturados a lí-
quidos de cheiro intrigante, que alteravam
a visão e a consciência. Os Mistérios da
Bruxaria mantinham em suas tradições o
fermentar da levedura, da uva e do trigo,
como um processo que conduzia as forças
da Vida, da Morte, e do Renascimento a
uma nova forma, assim como o hidromel,
o vinho, a cerveja ou até mesmo o Whisky,
capazes de conduzir aqueles que o bebes-
sem ao mesmo processo da planta, sendo

42
transportado por seu espírito às vicissitu- Sempre perdendo quando eu
des do corpo. A conhecida Dedaleira, Di- estava a ponto de vencer?
gitalis pupurea e suas poções, aceleravam o Que males terríveis cometeu meu coração,
coração dos desavisados levando-os à ta- Enquanto se julgava jamais abençoado!
quicardia, mesmo que em pequenas doses. Como vagaram meus olhos fora de suas órbitas,
Ao se distraírem nessa louca febre!
O Vinho, entre as mais famosas bebidas Ah, o benefício da dúvida! Agora
embriagantes, continha o poder do deus descubro ser verdade
grego Dionísio/Baco, que pela mitologia Que o bem se aperfeiçoa com o mal;
helênica era a própria videira, onde seu E o amor arruinado, ao ser reconstruído,
sangue, o vinho embriagante produzido Cresce mais belo, mais forte e
pela planta e fermentado por processos se torna ainda maior.
mágicos, conduzia os beberrões ao limiar Então, retorno, refeito, ao meu contentamento,
da loucura, dádiva divina que o mesmo E ganho, por sorte, três vezes
deus concedia aos mortais em seus feste- mais do que gastei!”
jos. Bodes eram associados a Baco como
animais de sacrifício, pois na época em que
as folhas da videira retor- Shakespeare em seu ‘A Lover’s Com-
navam à ‘vida’, o cabrito, dádiva divina que plaint’ (1609), provoca a intensidade da
era considerado pelos o mesmo deus paixão através de seus versos na Re-
gregos como seu maior nascença inglesa, assim como em Mac-
inimigo, comendo-lhes os concedia aos beth (1616), onde o mesmo retrata três
brotos, e suas novas fo- mortais bruxas, personagens de seu romance,
lhas verdes, e impedindo preparando uma poção tão repugnan-
que a planta vingasse uma nova safra. As- te que levava entre outras coisas sangue
sim, o bode era ofertado nos ritos báqui- de babuíno, fel de bode e o fígado de um
cos, nas antigas festas, chamadas de ‘o can- judeu, como ingredientes de preparo para
to do bode’, ou a Tragodia, do grego antigo causar ‘labuta e dificuldades’.
τραγῳδία, ou, as conhecidas tragédias.
Em resumo, a História nos demonstra
No soneto de número 119: que muito do folclore local gerou na popu-
lação algo distorcido sobre práticas muitas
“Que poções bebi das lágrimas das Sereias, vezes simplistas de magia, tão comuns em
Destiladas dos troncos que épocas antigas, sobre tudo em terras pa-
queimam como o inferno, gãs, onde curas e soluções para males do
Vertendo medos em esperanças, corpo e da alma foram consideradas como
e esperanças, em medos, atos de malefício e disseminadas como prá-
ticas diabólicas inspiradoras pelo terror e
desgraça causados pelas bruxas. Aqui, faço
minhas as palavras de W. Shakespeare:

‘Quantas vezes a simples visão


de meios para fazer o mal
Faz com que o mal seja feito!’

QUADRO: A NAIAD
JOHN WILLIAM WATERHOUSE (1849-1917)

43
QUADRO: GATHER YE ROSEBUDS WHILE YE MAY
JOHN WILLIAM WATERHOUSE (1849-1917)
ERVAS HISTÓRICAS E
SAGRADAS DA BRUXARIA
por Simone Abraços Como poderosos venenos ou como
componentes de várias poções e unguen-
Não tem como falar sobre Bruxaria sem tos, sempre estiveram presentes na Histó-
mencionar a Magia e o Poder das Plantas ria, nas Mitologias, nas mais famosas nar-
e das Ervas. rativas, na Dramaturgia, em poemas e nos
contos folclóricos.
A frase : “Plantas que curam, também
podem matar”, se encaixa perfeitamen- Poderíamos comentar sobre dezenas des-
te nas plantas que são, desde tempos re- sas plantas, mas vamos contar um pouco
motos, associadas à Bruxaria e Antigos da história das mais notáveis e fascinantes
Cultos. Seu uso, sua manipulação e seus plantas do mundo da Bruxaria e da Feitiça-
propósitos ainda continuam sendo um ria : o Acônito, a Mandrágora, a Beladona,
mistério para a grande maioria, o que fa- o Meimendro-Negro e a Dedaleira.
vorece e propicia uma aura de misticismo,
temor, curiosidade e superstição em tor- Vale lembrar que todas elas são altamen-
no delas. Algumas dessas lendárias plantas te tóxicas e não devem ser manipuladas,
eram consideradas sagradas porque eram aplicadas ou ingeridas.
as preferidas dos Deuses.
44
O Acônito é regido por Saturno e nor-
malmente associado ao Mundo Ctônico,
o Submundo. É a erva sagrada de Héca-
te, que durante a noite era vista correndo
acompanhada por sua matilha de cães e
por Cérbero, o Cão Infernal de três cabe-
ças, que quando latia, acônitos brotavam
das gotas de saliva que escapavam de sua
boca e caíam ao chão.

Por ser frequentemente usado para ca-


çar e capturar lobos e cães selvagens, fi-
cou conhecido como o “Veneno dos Lobos”
(Wolfbane). As pontas das flechas, lanças
e dardos eram mergulhados no extrato
concentrado da planta, que era tão poten-
te, que podia matar ou derrubar animais
de grande porte em menos de uma hora.
Da mesma forma que o Acônito está asso-
ciado aos lobos, conseqüentemente, está
associado aos Lobisomens, que temem e
não se aproximam dessa planta. Do grego
lycotonum, surge lycan, licantropo - a Lican-
tropia é a capacidade que o homem tem de
Acônito (Aconitum napellus) se transformar em lobo.

De uma beleza formidável que muito


contrasta com sua fama de ser considera-
da a mais mortal de todas as plantas as-
sociadas à Bruxaria. Na Primavera produz
pendões floridos que variam do azul ao
roxo, onde suas flores possuem um inte-
ressante formato de capuz ou de um capa-
cete medieval, por isso alguns o chamam
de Capacete-de-Zeus.

É uma espécie herbácea mediana que


cresce em abundância nas regiões rústicas,
montanhosas e frias do Hemisfério Nor-
te, mas que também pode ser encontrada
em bosques, florestas e margens de rios e
lagos – lugares obscuros e sombrios que
combinam perfeitamente com sua nature-
za sinistra. Dizem que suas flores voltadas
para baixo, servem como abrigo para seres
e espíritos funestos que vagam sem rumo
pelas florestas.

45
A planta toda é altamente venenosa,
mas é em seu tubérculo que se concen-
tra o maior nível de toxicidade, não exis-
te antídoto para as toxinas do Acônito.
Seu principal alcalóide é a Aconitina, uma
das mais potentes neurotoxinas conheci-
das pelo homem. Após o envenenamento,
as toxinas agem rapidamente no Sistema
Nervoso causando perda de sensibilidade
nas extremidades, queda de temperatura
corporal, sudorese, dores abdominais, de-
sorientação, vertigem, alteração dos sen-
tidos e dos batimentos cardíacos e final-
mente, parada respiratória ou morte por
asfixia.

Por ser uma planta Psicoativa (alucinóge-


na), pode produzir estados de consciência
profundamente alterados causando visões
e delírios. É um dos principais ingredien-
tes do “Unguento de Vôo” das Bruxas, que
quando é esfregado em determinados lo-
cais do corpo (inclusive nos genitais), pro-
porciona uma sensação de formigamento
seguido por letargia. Com a penetração na corrente sanguínea, suas toxinas são facil-
mente absorvidas pelo organismo e a pres-
são arterial se altera dando a impressão de
“queda” ou “vôo”.

Planta muito utilizada para expansão da


mente e associada a várias Divindades. No
Antigo Egito, é conhecida como a “Lágrima
de Ísis” e na Índia, ela está intimamente li-
gada à Deusa Shiva, que dizem que provou
e conheceu todos os venenos do mundo e
que elegeu o Acônito como o seu preferi-
do (daí a origem da cor azulada de Shiva).

O Acônito é Escuridão, mas também é


Luz e portanto, possui seu lado medicinal
e terapêutico. Possui propriedades analgé-
sicas, antiinflamatórias, antipiréticas, car-
diotônicas, sedativas e diuréticas entre as
principais. Seu uso popular é proibido pela
grande quantidade de espécies e variação
de toxicidade que cada uma possui, a mar-
gem de segurança entre a dosagem tera-
pêutica e a tóxica é muito frágil e estreita.
46
FONTE: HTTP://MYBYZANTINE.FILES.WORDPRESS.COM/2010/05/MANDRAGORA.JPG
ria e Ocultismo. Muitos Magistas utilizavam
as raízes para esculpir figuras “animadas” e
as usavam para abrigar um espírito, para
predizer o futuro e, muitas vezes, em ritu-
ais de exorcismo, proteção e cura (dizem
que seus frutos exalam um odor nauseante
que os Demônios não suportam).

Segundo a lenda, para a colheita da Man-


drágora era necessário um ritual especial,
pois ela não poderia ser tocada por nin-
guém. Se fosse colhida sem as devidas pre-
cauções, ela soltaria um grito tão alto e
terrível capaz de causar surdez, matar ou
enlouquecer quem estivesse presente. O
ritual precisaria ser realizado em uma sex-
Mandrágora ta-feira em noite sem Lua (ao contrário do
(Mandragora officinalis L.) que muitos pensam, não deve ser em noite
de Lua Cheia). A planta teria que ser amar-
Planta perene que se destaca por possuir
uma raiz bifurcada e, que sendo grossa e
carnuda, assemelha-se fantasticamente ao
corpo humano, muitas vezes com cabeça,
tronco e membros. É uma planta invulgar,
ou seja, existe a Mandrágora Fêmea (sua
[[FICHEIRO:MANDRAGORA AUTUMNALIS1432.

raiz é escura) e a Mandrágora Macho (sua


raiz é clara).

Pertence à Família das Solanáceas (a mes-


JPG|THUMB|180PX|LEGENDA]]

ma da Beladona e do Meimendro-Negro)
e é encontrada em regiões mediterrâneas
estendendo-se até o Himalaia.

Seus frutos (bagas que parecem jilós)


são conhecidos como “Maçãs ou Frutos do
Amor”. Por ter propriedades afrodisíacas, a
Mandrágora era muito usada para excitar
o amor, despertar paixões, instigar o dese- rada e atada ao pescoço de um cachorro
jo sexual e aumentar a fertilidade em mu- negro que deveria puxá-la cuidadosamente
lheres estéreis ou com dificuldades para de seu abrigo (se caso um pedaço da raiz
engravidar. quebrasse, ela gritaria deliberadamente
até morrer de exaustão). Palavras específi-
Em séculos passados, foi uma planta mui- cas deveriam ser ditas durante a execução
to valorizada e largamente cultivada. Mas do ritual e, depois de colhida, deveria ser
possuir Mandrágora era algo muito peri- lavada com vinho e envolvida em seda ver-
goso e poderia ser uma prova concreta de melha para ser guardada em local privado
que a pessoa estava envolvida com Bruxa- de luz.

47
Apuleio (século V d.c.) fez um comentá- Essa planta já foi considerada uma cura
rio muito interessante sobre essa lenda : para a loucura, mas isso é um mito e já
foi descartado. Possui um potente poder
“Em uma noite sem Lua, deve-se ir ao analgésico e sedativo sendo muito utilizada
lugar onde cresce a Mandrágora e come- como anestésico em cirurgias e procedi-
çar a cavar com um Instrumento “que mentos durante a Idade Média.
não seja de ferro”. Quando tiverem sido
descobertos os “braços e as pernas”, Por ser uma planta Psicoativa, causa alu-
amarra-se a estas uma corda, cuja extre- cinações com uma credulidade tão absolu-
midade será fixada à coleira de uma cão ta, que parecem reais. É altamente tóxica
negro e esfomeado. Lança-se distante um e letal (possui Atropina, Mandragorina, Es-
pedaço de carne e o animal precipitar-se- copolamina e Hiosciamina) e deve ser ma-
-á para pegá-lo e, assim fazendo, extrai- nipulada apenas por especialistas em vene-
rá do terreno a raiz tão desejada. Porém, nos ou plantas medicinais. Jamais deve ser
a morte da planta exige um sacrifício : ingerida “in natura”, pois causa vermelhidão
deve-se matar o cão para pagar a prodi- na pele, secura nos lábios e na língua, arrit-
giosa aquisição.” mia cardíaca, midríase (dilatação da pupila),
obstipação (grave prisão de ventre), entre
outros sérios sintomas. Inicialmente causa
[[FICHEIRO:MANDRAGORE OFFICINALE FRUITS.JPG|THUMB|180PX|LEGENDA]]

uma sonolência estranhamente seguida de


excitação e euforia e posteriormente, cau-
sa exaustão e sono profundos.

A Mandrágora, sempre envolta em mui-


to misticismo, é largamente citada na Bí-
blia, em diversas obras literárias (como
“Romeu e Julieta” de Shakespeare, “A Man-
drágora” de Maquiavel, “A República” de
Platão e a “Doutrina Secreta” de Madame
H.P.Blavatsky), músicas e em diversos fil-
mes (como o “Labirinto do Fauno” e a série
Harry Potter).
48
Utilizado desde a Antiguidade, o Meimen-
dro aparece no Papiro de Ebers (o mais an-
tigo e importante Tratado Médico Egípcio)
FONTE: HTTP://INCONTINENCIA-CULTURAL.BLOGSPOT.COM/2011/07/

como um remédio para dor de dente. Na


Magia de Deslocamento, é um dos princi-
pais e mais importantes componentes do
lendário “Ungüento de Vôo”, possui efeito
HYOSCYAMUS-ALBUS-MEIMENDRO-BRANCO.HTML

sedativo sobre o Sistema Nervoso Cen-


tral e é um analgésico local muito potente.
Aparece também na poção que Circe deu
aos homens de Odisseu (Odisséia de Ho-
mero) transformando-os em porcos e java-
lis. Na Mitologia Greco-Romana, era dito
que todos os mortos recebiam uma Coroa
de Meimendro para entrar no Submundo.

Como veneno, teve um grande destaque


na peça “Hamlet” de Shakespeare, o pai
de Hamlet morre após tomar um copo de
suco de Meimendro-Negro.
Meimendro-Negro
(Hyoscycamus niger L.) Faz parte da Família das Solanáceas e é
muito indicado para tratamentos de espas-
Planta extremamente tóxica e muito po- mos gastrointestinais. Por ter uma redu-
pular na Bruxaria e Feitiçaria, dizem que é zida margem terapêutica, seu uso popular
usada na Conjuração de Demônios, na In- é proibido, pois contém como alcalóides
vocação de Espíritos e na Arte da Profecia. predominantes, a Hiosciamina e Escopola-
Depois da ingestão em forma de suco, a mina. Seu envenenamento causa sonolên-
visão fica turva, vaga e parece distender-se cia, delírios, convulsões, coma e morte.
no sentido longitudinal onde nada é alcan-
çado. Aqueles que já experimentaram con-
FONTE: HTTP://INCONTINENCIA-CULTURAL.BLOGSPOT.COM/2011/07/

fessam que as alucinações são muito reais


(praticamente impossíveis de distinguir o
real do imaginário). Proporciona uma sen-
sação profunda de languidez, onde o indi-
víduo acaba dormindo e então, acontecem
HYOSCYAMUS-ALBUS-MEIMENDRO-BRANCO.HTML

aparições fantásticas que ajudam a predi-


zer o futuro.

Essa planta é vilosa-penugenta, com um


cheiro estupefaciente e desagradável, com
um sabor amargo e acre e suas flores pos-
suem uma estranha e impressionante apa-
rência – pétalas cinzentas e amareladas
com veios roxos. É originária de regiões
mediterrâneas, mas hoje em dia, já é culti-
vada em diversos outros países.

49
uma quantidade maior, causa euforia e ex-
citação (o vinho dos Bacanais, ou Festas
Dionísicas, era frequentemente adulterado
com Beladona, produzindo reações de his-
teria e alucinações nos participantes); mas
em grandes doses, pode ser letal.

A planta toda é tóxica, mas é na raiz que


se encontra a maior concentração de toxi-
nas. O princípio ativo da planta é a Atro-
pina, o seu antídoto é a Pilocarpina, que
é um alcalóide encontrado nas folhas do
Jaborandi, deve ser administrada de forma
intra-venosa.

[[FICHEIRO:ATROPA BELLA-DONNA0.JPG|THUMB|180PX|LEGENDA]]

Beladona (Atropa belladonna)

Curiosamente, Beladona em inglês é


“Dwale”, um composto de vários ingre-
dientes que encontramos nas Antigas Leis,
Ardane (The Old Laws).

Suas bagas negras são doces e muito


chamativas, facilmente confundidas com
o Mirtilo (uma fruta própria para doces,
compotas e geléias), ou com a “Maria-Pre-
ta” (outra planta tóxica que quando é es-
fregada na pele, produz tremores que cau-
sam ilusão e sensação de vôo e levitação), Sua simples manipulação já é perigosa e
ou confundida também com a Erva-Moura. devemos evitar qualquer tipo de contato
direto com essa planta. A Beladona tem
Naturalmente é um veneno poderoso um grande efeito nos olhos podendo cau-
e apenas algumas bagas já são suficientes sar cegueira, antigamente as mulheres pin-
para levar à morte. É uma das mais mis- gavam gotas do suco para a dilatação das
teriosas e obscuras plantas da Bruxaria – pupilas porque gostavam do efeito que elas
ao mesmo tempo que era respeitada, era causavam.
muito temida. Alguns dizem que é a planta
preferida dos Seres da Escuridão e Espí- Como uma planta Psicoativa, é muito
ritos do Mal. Nas quantidades corretas, empregada para induzir transes, projeção
é um excelente sonífero e calmante; em astral e estados alterados de consciência.

50
[[FICHEIRO:DIGITALIS PURPUREA.JPG|THUMB|180PX|LEGENDA]]

Dedaleira (Digitalis purpurea L.) Também conhecida por “Campainha”,


“Dedais de Fadas” ou “Luvas de Fadas” de-
Associada aos encantamentos do amor, vido ao formato de suas belíssimas flores
esta planta é verdadeiramente a fonte do que parecem “sinos” ou “dedais de costu-
Elixir do coração conhecido como Digita- ra” (planta muito associada ao mundo da
lina, uma substância de ação cardiotônica Fadas).
extraída das folhas da Digitalis purpurea, a
Dedaleira. Possui muitas propriedades me-
dicinais que agem diretamente no coração:
casos de “falhas” cardíacas, regularização
da atividade cardíaca arrítmica ou insufi-
ciente, e casos de hipertrofia cardíaca. Na
dosagem correta é um excelente remédio,
mas em doses descontroladas provoca a
paralisia imediata do coração (infarto) e
morte súbita. É altamente tóxica e o seu
uso caseiro ou popular é estritamente
proibido, é uma planta muito difícil de ser
manipulada. Incrivelmente, é considerada
uma planta ornamental e é muito comer-
cializada (provavelmente pela falta de in-
formação de que é uma das plantas mais
venenosas e de rápida ação no organismo).

51
PSICOLOGIA,
IMAGEM: HOMEM VITRUVIANO

RELIGIÃO E
LEONARD DA VINCI

CIÊNCIA
por Lorenna Escobar cimentos. Os resultados de anos de pes-
quisa não se apresentam de forma habitual,
principalmente quando transcende espaço
e tempo. Portanto sabemos que mesmo
Há algumas peculiaridades em que o quarenta anos depois de Newton desco-
ramo da psicologia como estudo, pode brir a Lei da Gravidade ainda refutavam sua
auxiliar a um nível de entendimento dos constatação.
fenômenos produzidos pela magia. Ao lon-
go do tempo a ciência tentou apresentar Os fenômenos “psíquicos” e seu estudo
provas desse poder natural do Ser, mas tornaram-se conhecidos como “pesquisa
mesmo apresentando resultados eviden- psíquica” ou “parapsicologia”, ciência das
tes não são naturalmente suficientes para manifestações mentais que parece ultra-
comprovação científica. Podemos dizer passar os princípios socialmente aceitos.
que o motivo dos cientistas não aceitarem Podemos falar mais precisamente da ener-
tais provas apresentadas, apesar de qua- gia psíquica, para tentativas de explicar o
se um século de estudo, está relacionado esforço mental sobre certas influências no
mais a fatos psicológicos do que a motivos ambiente.
lógicos.
O homem explorou vários pólos do uni-
Acredita-se vez por outra, no meio aca- verso exterior, revelou a composição das
dêmico, que ações fantásticas podem atuar estrelas, mas como pôde negligenciar a po-
como efeito mágico. Isso devido ao grau de sição da personalidade humana, tornando-
espontaneidade de experiências e aconte- -se ignorante do seu próprio EU?
52
Vários estudiosos chegaram a essa per- “Os homens jamais têm como provadas
gunta, mas não é fácil de se obter a res- as verdades que se opõem as suas pai-
posta. Acreditam que a natureza do ho- xões cegas.”
mem é dual e seria o centro verdadeiro
Eliphas Levi
da sua própria essência ou individualidade.
A personalidade seria aquilo imposto pela
Inúmeras referências e exemplos em que
sua realidade maneiras de vida, costumes,
parecia existir transmissão de pensamen-
moralidade, prazeres, aspirações e valores,
tos entre seres humanos aparecem na lite-
baseando-se na doutrina do que é adquiri-
ratura. As experiências mais antigas acom-
do na infância.
panhavam o hipnotismo ou mesmerismo.
Enquanto punham os indivíduos em transe
Sigmund Freud conseguiu ampliar bas-
hipnótico, certos experimentadores des-
tante essa idéia e também os antigos de-
cobriram efeitos que atribuíram à transfe-
fensores da natureza dual do homem
rência de pensamento do hipnotizador aos
como: William James, William Macdougall,
pacientes.
Henri Bérgson, Hans Driesch, entre tantos
outros psicólogos e filósofos.
A clarividência foi outra das pretensões
psíquicas mais antigas a serem investigadas
“A nossa cultura supõe, por exemplo,
cientificamente. Ela consiste na percepção
que o espírito é suficientemente diferente
de objetos ou acontecimentos objetivos
do corpo, de sorte a permitir o “livre arbí-
sem o emprego dos sentidos, enquanto a
trio”. Semelhante liberdade volitiva signifi-
telepatia é a percepção dos pensamentos
ca ter o espírito leis que lhe são próprias,
de outra pessoa, igualmente sem auxílio
e, portanto, que não o governam as leis
dos sentidos.
do corpo e do ambiente, pelo menos não
inteiramente.“
Joseph Banks Rhine

Sempre que a ciência se apresentava, a


crença tradicional na natureza espiritual
do homem desertava. A psicologia foi fi-
cando cada vez mais saturada de conceitos
físicos. A doutrina materialista do homem
progrediu segundo as teorias moldadas,
assim como as da física moderna. Despre-
zaram-se alguns fenômenos excepcionais
da natureza humana quando o conceito
científico do homem estava sendo elabo-
rado; omitiu-se, como de costume, porque
não se ajustava.

Acredito que se a vida mental fosse to-


talmente produto físico, não haveria como
escapar das leis físicas e a liberdade seria
talvez fantasiosa.

53
físicos sob certas condições e que o Ser
atua reciprocamente com a matéria não só
na relação pensamento-racional mas em
certa espécie de contato externos.

A psicologia, psicanálise ou estudos se-


melhantes, podem chegar a um conceito
teológico do que sobrevive a morte do
corpo, como algo não físico. Entretanto
este conceito já fora definido nas religiões
como as do antigo Egito. Desprezaram
a religiosidade para depois chegar a uma
conclusão que se faz necessária para o en-
tendimento das relações humanas.

“Apoiando em base experimental, o


conceito psicocêntrico da personalidade,
Caso Clarividente: As quatro da tarde de
que as religiões haviam presumido, a pa-
um sábado, Emanuel chegou a Gotembur-
rapsicologia já demonstrou a importância
go. Pouco depois, sentindo-se intranquilo e
que tem para o campo próprio à religião.
perturbado, deixou os amigos e foi dar um
E possível transladar, sem grande dificul-
passeio. Quando voltou, descreveu a visão
dade, a maior parte dos dogmas prin-
que havia tido: um incêndio que irrompera
cipais da religião em problemas experi-
a pouca distância de sua casa, a quatrocen-
mentais de parapsicologia. Uma e outra
tos e oitenta quilômetros dali. As ferozes
tratam de problemas e doutrinas que têm
labaredas estavam se alastrando, ele disse,
por centro órgãos pessoais no universo,
e continuou perturbado até as oito horas
não aceitos nas ciências ortodoxas. Uma
da noite, quando anunciou que o incêndio
e outra têm em mira descobrir e utilizar
fora debelado.
todas as forças e aptidões pessoais não
aceitas, capazes de contribuir para que
Se faz necessário saber que é mais se-
os homens vivam melhor juntos. A relação
guro aplicar a atividade de expandir a ca-
da parapsicologia para o campo da reli-
pacidade perceptiva, quando a prática é
gião é, pelo menos teoricamente, muito
realizada de forma espiritualmente ele-
semelhante à da fisiologia para a medici-
vada. Não seria prudente a pretensão de
na, ou da física para a engenharia.”
adquirir conhecimentos a respeito dessas
aptidões. A pretensão é apresentar como Joseph Banks Rhine
um fato histórico que a tempos ainda
tenta ser desmistificado pela psicologia e
compreendido.

Portanto existem leis mentais familiares


que se aplicam aos estudos e que afetam
órgãos receptores, como se atrapalhassem
uma conexão remota (como antenas), uti-
lizadas pelos processos sensoriais e moto-
res do próprio organismo. Mostrando que
a Natureza humana pode fugir aos limites

54
A noção da consciência interior é encon- É possível imaginar um grande conjunto de
trada em quase todos os povos e culturas, conhecimento possuindo transcendência
contituindo-se em um objeto de constante sobre a natureza.
elaboração filosófica, desde os pitagóricos
até a teologia contemporânea ou a psica- “Religião e ciência são contradições
nálise de Jung. que asseguram sua destruição recíproca
enquanto contradições e que se afirmam
‘Nas artes mágicas, mais especifica- mutuamente se as encararmos como
mente na Bruxaria Tradicional, o foco duas afirmações fraternais.”
das práticas pode-se desenvolver por
Eliphas Levi
meio dessas faculdades psíquicas, mas
é tratada como consequênte do trei-
namento interno, estabelecido pela
tradição, por meio do fortalecimento
das conexões externas e internas – a
transcendência do ego, conectando-se
com seu EU superior ou Plano Divi-
no. Para os Wicas a alma é imortal,
palingenesia.’

De fato, ainda um grande número de pes-


soas desejará saber até que ponto a ciên-
cia poderá ir, mas houve poucos avanços
significativos nas últimas décadas. Poucas
pessoas se deram o privilégio da dúvida, e
procuraram esclarecer a existência de algo
essencialmente além do físico. Os que bus-
caram nos tempos atuais, estão dentro de
Ordens e fraternidades estabelecidas a sé-
culos e que são disseminadas nas sombras.
55
A ENCRUZILHADA – O ENAMORADO
por Ana Marques Apenas não estamos prontos a esco-
lher. E principalmente, raramente estamos
prontos interiormente, para fazermos a
escolha consciente. Da mesma forma que
Tal e qual crianças inexperientes cami-
animaizinhos, somos treinados e domesti-
nhamos e uma série de aprendizados pas-
cados durante toda nossa vida, aprende-
saram por nós. Arriscamos-nos sozinhos,
mos pelo exemplo e pela dor a obedecer
começando a nos afastar do que é conhe-
a regras, a ter comportamentos padrões.
cido. Esvaziamos nossas mãos para que,
Nós reagimos em vez de agirmos. E a
livres, elas possam segurar novos objetos.
conclusão disso é alarman-
Nesse momento, de profunda fragilidade, te: somos em grande parte
carência e inovação, nos defrontamos com resultado do treinamen-
o momento mais delicado dentro da vida to duramente apreendido.
de futuros seres conscientes que seremos: Tendemos a ser uma massa
nos deparamos com “O Enamorado”. informe de seres iguais, sem
individualidade.
Vemos a lâmina e estamos prontos. Cla-
ro! Todos podemos amar... Todos estamos Mas, agora, o momento da
prontos a nos apaixonar... Todos esta- tomada de consciência che-
mos...? Estamos...? Estamos...? gou. A decisão que tomar-
mos poderá ser nossa aliada
“O amor sendo cego, os enamorados ou algoz daqui por diante.
não podem ver as loucuras que cometem” Estamos diante de aspectos
de nós mesmos, da dualida- Tarot Stairs - O Enamorado
(Shakespeare, O Mercador de Veneza) de existente em todos os Apresentando o Enamorado
entre duas mulheres. Ou seja,
56 o Ego entre dois caminhos.
seres, e teremos de compreendê-la se de- poder (no caso, ofereceu a Ásia), Athena
sejarmos utilizá-la harmonicamente a nos- oferecia sabedoria (para vencer nas lutas)
so favor, a favor de nosso crescimento e e Afrodite ofereceu a beleza (o amor da
descoberta interior. O momento de deci- mais bela mulher mortal). Qual das Deusas
são é uma guerra: guerreamos contra nos- era a mais bela? Ou melhor, qual delas ofe-
sa incapacidade de vermos todos os aspec- recia o que era mais importante e conse-
tos das situações que a vida nos apresenta. qüentemente era A mais importante, em
Dentro do pouco que vemos, apenas nos sua concepção? Dentro de sua inconsci-
conhecendo profundamente poderemos ência, Páris escolheu Afrodite e, com isso,
olhar o momento que vivemos de forma errou duas vezes: a primeira em fazer uma
imparcial, vendo um problema exatamente escolha baseada na recompensa, a segunda
como ele é: o prenúncio de uma solução. em ter tomado a pergunta de forma literal.
Ele foi incapaz de perceber que a pergunta
“O lunático, o enamorado e o poeta literal era: “Quem é a mais bela?”. Mas a
Têm todos a imaginação compacta...” pergunta implícita era: “Qual delas é a mais
importante? A beleza, o poder ou a sabe-
Shakespeare
doria?” A confusão foi possível porque ele
Como Páris, no Tarô Mitoló- não conhecia a si mesmo e logo,
gico, nossa escolha poderá pa- não podia perceber o mundo a
recer impossível. Ele precisa es- sua volta, tomando sua decisão
colher a mais bela entre Hera, de forma imediatista. As conse-
Afrodite e Athena, e a essa dar qüências são mais que conheci-
o Pomo de Ouro (ou o Pomo das: Páris recebeu como prêmio
da Discórdia). Não importava a bela Helena - esposa de Mene-
qual escolha ele fizesse, seria lau, o Rei de Esparta – selando a
odiado pelas deusas que não guerra e queda de Tróia, confir-
escolhesse. Da mesma forma, mando as profecias do oráculo.
odiamos as decisões, porque
Analisando vários tarôs, vemos
sempre “perderemos” alguma
uma outra tônica vastamente ex-
coisa. No entanto, quanto mais
plorada: a idéia de escolher entre
consciente estamos, mais vezes
o “vício ou virtude”. Essa inter-
estaremos tranquilos diante Tarô Mitológico
pretação me soa extremamente
do que REALMENTE quere- mais Páris é obrigado a escolher a
bela das três Deusas: Hera, ingênua. Apenas a ingenuidade
mos. Páris não sabia, ao menos, Athena e Afrodite. A que escolher
será dado o pomo de ouro. pode justificar uma idéia assim
quem realmente era, já que
tão maniqueísta. A figura mos-
mesmo sendo Príncipe de Tróia, acreditava
tra, normalmente, um homem entre duas
ser filho de um pastor de ovelhas. Quando
mulheres. A da direita representa o “amor
ele nasceu, um oráculo profetizou que ele
espiritual” e a da esquerda o “amor car-
seria a causa da queda de Tróia, por isso,
nal”. Esse conceito largamente incentiva-
o rei mandou que o abandonassem no alto
do, prega que o homem deve concentrar-
de um monte para que morresse. No en-
-se no espírito em detrimento da matéria,
tanto, um pastor que passava por ali apie-
destituindo o amor de sua característica
dou-se do bebê e o criou. Com isso, sua
mais básica: a união dos espíritos concreti-
inconsciência começava e terminava nele
zados na matéria. Estabelecer que existem
mesmo. E por causa desse ponto fraco, sua
“lados bons ou ruins” que devemos esco-
escolha foi feita pela inexperiência da feli-
lher é desprezar nossa qualidade mista de
cidade pela beleza terrena. Hera oferecia
57
outro nome e consequentemente um sig-
nificado complementar. Agora estamos
diante da lâmina “Os Amantes”.
Tarô Encantado
por sua interpretação Com isso, a tônica que estava centrada
a mulher da direita na escolha consciente, passa a vislumbrar
que abraça o rapaz
simboliza o amor um caminho para que ela possa ocorrer:
verdadeiro. A que
está mais abaixo,
através da união.
simboliza a luxúria.
Não estamos falando de relacionamen-
to entre duas pessoas distintas, nem fa-
lamos de namoro ou casamento. A idéia
dos Amantes vai muito além do que cor-
riqueiramente chamamos de amor. Agora
seres constituídos de corpo e mente. Cada estamos falando da UNIÃO dos aspectos
pessoa na face da Terra não é basicamente femininos e masculinos que convivem den-
boa ou má. Cada um de nós é apenas o tro de nós. Estamos falando do reconhe-
que é. Sem conhecermos e aceitarmos a cimento de múltiplos aspectos, para que
nós mesmos como um misto de sentimen- REUNIDOS eles possam formar um ser
tos e sensações, não poderemos conhecer inteiro: Você!
e aceitar o outro. Sem conhecermos o ou-
tro (os caminhos) como poderemos fazer Na lâmina do Old Path Tarot
uma opção? vemos um anjo abençoando um
casal que está iniciando um ro-
Se estivermos mergulhados apenas na sa- mance. No peito do anjo está
tisfação dos instintos básicos (fome, sede, uma Estrela de Seis Pontas, o
sexo e sono), ou alçados ao vôo do espíri- símbolo mais do que conhecido
to desligado da matéria, como saberemos da máxima hermética “como
o que NÓS, corpo E matéria, realmente em cima, assim embaixo”, a
necessitamos? De que maneira, realistica- união do Macrocosmo e Mi-
mente, poderíamos separar um do outro crocosmo. O anjo os abençoa
enquanto vivos e ainda assim sermos in- porque eles estão começando a
teiros? Quando desprezamos alguma par- se conhecer; estão nus, ou seja,
te de nós, viramos um quebra-cabeças in- livres de qualquer subterfúgio
completo. Nada poderá montá-lo se nós que os impeça de verem exata- Old Path Tarot
permanecermos insistindo que aquela peça mente quem e como são.
não é necessária.
No momento em que “Os
Para que possamos nos conhecer, Amantes” ou “O Enamorado” sur-
unir a dualidade que existe dentro giu em nosso caminho, de forma
de nós é mais do que importante, alguma, estamos diante do Bem e
é primordial. do Mal. Não há qualificações de-
finitivas ou conclusivas. Apenas
Como o símbolo do Tao que é estamos vendo a necessidade de
retratado no Dragon Tarot, no mo- começarmos a olhar mais profun-
mento que adentramos no territó- damente para dentro de nós.
rio da União de nossos “aparentes” Dragon Tarot – Os
Dragon Tarot
opostos, a nossa lâmina passa a ter Amantes (The Lovers)
Os Amantes (The Lovers)

58
O processo de auto-avaliação pode le-
var toda nossa vida. E enquanto vivemos
nos veremos inúmeras vezes diante des-
sa situação: poderemos olhar para nossa
“mãe” (Tarô de Marselha, ao lado) e nos
inclinarmos a nossa “amante”. É preciso
deixar a inocência pueril para trás e cortar
o cordão umbilical que nos liga à “prote-
ção e nutrição”, que a figura materna nos
evoca, para que possamos conhecer nosso
potencial. Da mesma forma, não podemos
ser dominados pela amante, abandonando
nossa mãe. Para que sejamos inteiros, é
necessário resolver o dilema e não apenas
tomar uma decisão qualquer para se livrar
do problema. Se agirmos assim, estare-
mos mantendo os laços que nos tornam
cativos; não estaremos cultivando a cons-
ciência para que não continuemos sendo
manipulados pelo “cupido” que faz mira
no nosso coração incitando as paixões
descontroladas e a decisões impensadas.
Enquanto estivermos inconscientes de nós
mesmos, tal como Páris, seremos mario-
netes de deuses caprichosos, vingativos e
enfastiados, cuja maior diversão será con-
duzir nossa vida a seu bel prazer.

Olhe bem para dentro de você e para a O Tarô de Marselha retrata a indecisão do
jovem diante de duas forças que o subjugam:
Encruzilhada a sua frente. Você deseja con- a figura materna (a mulher de “chapéu”) e a
tinuar seguindo a esmo? Ou pretende re- “amante” (a moça da esquerda). O Cupido
(deus do amor) está pairando acima do rapaz,
almente conhecer-se para poder conhecer brincando com sua inconsciência e pronto a
o outro, e assim, finalmente tomar suas escolher por ele “flechando-o” com suas setas.

próprias decisões? Quanto mais inconscientes estivermos, mais


propensos ficaremos às influências externas,
de forma que elas decidam por nós.
... as consequências sempre serão vi-
vidas por você. Vale a pena entregá-las
as setas errantes do cupido, apenas por
comodismo?

A escolha é sua.

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próxima edição
A revista BTW é publicada quatro vezes ao ano
e seu objetivo é informar, esclarecer e desmistificar
origens, dogmas e práticas da Wica Gardneriana e
mostrar que os ensinamentos de Gerald Gardner
ainda estão vivos e florescendo no seio dos covens
tradicionais.

Esta revista é aberta a comunidade em geral, caso


desejem publicar algum artigo enviar para btw.revis-
ta@gmail.com com o assunto “artigo”. Será nos re-
servado o direito de resumir e editá-los para maior
clareza, estilo, gramática e/ou precisão.

Participe da seção Carta do Leitor e envie suas opi-


niões, dúvidas e sugestões. É só enviar para o ende-
reço btw.revista@gmail.com com o assunto “carta
do leitor”.

Não deixe de visitar os sites:


http://wiccagardneriana.net/
http://vassourasagrada.com.br/

“É a profundidade das raízes


que preserva a árvore”.
Gerald B. Gardner

Não nos responsabilizamos pelos artigos publicados.

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“O Amor é o único sentimento que
contém a força capaz de criar,
de transmutar e de fazer renascer.
E le é a força motriz da união mágica.”

Arida Diana

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