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eu não f
ui
a Princesinha
da escola
IZA DE MACEDO
eu não fui a
Princesinha da Escola
O OITAVO ROMANCE DA IZA
VERSÃO DIGITAL 2021
ESTE É O DÉCIMO
SEGUNDO LIVRO
DIGITAL ENTREGUE
PELA IZA EM 2021
E foi embora.
Voltei andando devagar para casa
pensando naquela cena pouco provável.
Pensei que se eu tivesse namorando ou
casada ou com bebês gêmeos esperando
com fome no carro, eu teria dado a mesma
resposta. Meu fascínio por ele, além de
incontrolável e meio obsceno, era
espontâneo. Tenho medo que no próximo
sábado ele me olhe com aquela mesma
malícia doce e aquele mesmo charme
abafado e diga com gentileza e ternura e
muita simpatia: vamos transar ali em casa?
Porque certamente eu responderia AGORA.
Com a mesma impulsão e totaL falta de
controle ou razão que respondi ‘NO
MESMO HORÁRIO’.
MEDO
Algumas pessoas exercem poder sobre
nós. Veja, não estou falando sobre relação
de poder homem versus mulher ou algo do
tipo. Estou falando de coisa de alma. Existe
pessoa que nos envolve, que nos domina,
que nos preenche. Essas pessoas podem
ser nossas amantes ou nossas amigas ou
até mesmo colegas ou família. Pessoas
com quem nossa química bate e a gente
acaba sucumbindo a seus pedidos, seus
desejos, suas necessidades. Perdemos um
pouco da razão quando se trata dessas
pessoas. Viramos um imenso balde de
sensações e sentimentos e acabamos
seguindo o coração e depois apanhamos
da nossa razão ao deitar no travesseiro.
O André seria desses. Caso eu me
envolvesse com ele. Ele seria aquele que
faria de mim uma máquina de dizer sim, de
concessões, de (a depender de suas
atitudes) submissão. Ele é poderoso
demais no meu campo. E eu sou passiva
demais no dele. Eu posso encontrá-lo.
Posso até me divertir um pouco. Mas
definitivamente, não tenho preparo
emocional ou controle dos meus atos para
ir para a cama com ele, para me envolver
com ele, para sentir saudade dele, ciúme
dele. Não posso sentir que ele gosta de
mim, pois vou me viciar nele. E vou sofrer
crises de abstinência quando ele não
estiver por perto. E vou morrer um pouco
se ele for embora sem me chamar. Ele é
desses. E eu sou dessas. Não sempre.
Mas com ele eu seria. E eu não posso.
Quero continuar invisível aos olhos dele. E
quero enxergá-lo de longe, para que ele
não me alcance.
Café cancelado? Não posso. Não
aparecer a um encontro simplesmente é
muito feio. E eu não tenho o número dele.
Eu vou. Tomo um expresso que é menor e
mais amargo. E vou embora dizendo: não
posso. Tenho namorado. Mas mentir
também não dá. Então eu digo: obrigada.
Foi ótimo. Mas estou muito ocupada no
momento. Mas eu não estou ocupada. Eu
só estou com medo. O André é o ícone do
meu fracasso adolescente. É a razão de
meses de terapia, pois o fato de eu não ter
sido enxergada por ele por toda uma vida
foi motivo para imensas manchas na minha
autoestima.
E se ele fizesse isso de novo? E se
depois do café ele não quisesse mais
nada? E se eu não tivesse que fugir dele,
porque antes ele fugiu de mim... não seria
pior? E se depois de tanto tempo, ele me
rejeitasse de novo? E se eu não atingisse
as metas de mulher para ele? E se ele
ainda for o mesmo babaca de sempre e eu
ainda não tiver amadurecido nem virado
mulher? E se eu for a mesma garota
sardenta, insegura, magoável e vulnerável?
André, eu também
amo você.
Me deixa te amar,
Fernanda.
Eu não vou suportar, André. Eu
passei metade da minha vida amando
você e você nunca me deu nem bom dia.
Eu fui invisível para você. Eu fiz
terapia por causa de você sabia? E eu
voltei a falar sobre você para a
minha terapeuta nessas últimas
semanas. Eu fiz o dobro de sessões
porque eu não estava suportando este
desespero. André, eu não posso ficar
com alguém que eu sou capaz de amar
mais do que eu amo a mim mesma. A
gente nem tem nada ainda, você nem
me chamou de namorada, nós nem
temos uma foto em porta-retrato e
você já me fez sofrer mais do que
todos os meus ex-namorados juntos.
E continuou.
Mesmo que você peça. Primeiro
porque nós já temos sim uma foto
num porta-retrato, na sala da casa
da minha mãe. Você está de vestido
rosa rendado e sardinhas no rosto e
eu um cabelo tigela horrível e com
uma roupa de caipira playboy
detestável. Segundo porque se eu fui
um cretino na escola, eu preciso
passar o resto dos meus dias
provando para você que eu virei um
cara decente. Terceiro porque se
você já me amou por mais de uma
década, significa que eu estou
atrasado e eu sou um cara
competitivo, eu vou me empenhar
com toda a minha força e todo o
meu coração para que você se sinta
a mulher mais amada do universo. E
quarto, porque eu te ouvi.
Tá bom.
Tá bom... o quê?
Eu deixo.
Fim.
este livro foi escrito, revisado
e editado por mim, a Iza
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