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A resenha presente planeja relacionar os livros “Organizações e Poder”, do

autor Fernando C. Prestes Motta e “Estrutura burocrática e personalidade”, de


Robert K. Merton, em conjunto com o filme “Saneamento Básico, o filme”, que foi
dirigido por Jorge Furtado.
Na primeira obra em questão do autor Fernando Motta serão tratados os
capítulos “Organização, Burocracia e Autonomia” e “A Organização Nascente”, no
primeiro capítulo tem se a discussão da aplicação das técnicas que podem influir
negativamente no progresso de uma teoria organizacional reflexiva e, no segundo, o
escritor analisa as tecnologias burocráticas-capitalistas tendo em vista a empresa, o
Estado e a escola.
Ao julgar a tradição científica, entende que essa teoria é uma ideologia,
portanto é necessário percebê-la enquanto ideologia do poder ou contra o poder. A
teoria não é a realidade, dessa forma, é preciso prestar atenção nas teorias sociais e
organizacionais dominantes onde os fatos sociais e organizacionais são simples
matérias primas para investigação.
Uma burocracia intensa se estabelece no capitalismo monopolista de Estado,
em que gestores, burocratas, tecnocratas, tecnoburocratas e burgueses de Estado
são apenas outros nomes para o fenômeno. A burocracia acontece em nome de
uma técnica e dos interesses de uma sociedade que não pode representar, apenas
dominar. Desde novo, as formas de pensar na burocracia no mais alto nível, isto é,
tecnoburocráticas, são colocadas, sejam elas adequadas à submissão e à
dominação, acontecendo a estipulação de disciplina ao trabalhador com o objetivo
de regular a luta de classes.
Para buscar uma realidade diferente da descrita, seria necessária uma nova
organização a partir de teorias que atendessem aspectos populares, contra o
sistema dominador e para isso, as empresas, as escolas e o Estado têm um papel
fundamental. Entretanto, enquanto tais aparelhos sociais continuarem burocráticos
será difícil atingir tal objetivo, pois o que se percebe são organizações voltadas para
afirmação de uma ordem social dominadora ancoradas em formas de cooperação e
tecnologias burocráticas capitalistas.
A segunda obra escrita por Robert K. Merton aborda fatores referentes à
burocracia existente em diversos setores da sociedade, trazendo diversas
perspectivas sobre este fenômeno no âmbito sociológico e administrativo. Para isso,
o autor faz uma análise da estrutura hierárquica organizacional, observando pela
ótica burocrática, para entender os pontos que vislumbram a criação e estruturação
da hierarquia, sendo um od abordados por ela, a predefinição das relações entre
superior e subordinado, deixando bem definido suas funções e delimitações. Para
Weber, como o texto traz, a burocracia é a melhor forma de desassociar o
funcionalismo público de assuntos referentes à política. Para isso, a burocracia dá
fatores, como concursos baseados em competências técnicas e com estabilidade de
carreira, para que possam dar seguimentos aos projetos propostos inicialmente.
A ideia de burocracia também está ligada com o setor privado, por isso, a
importância da comunicação entre as empresas privadas e a população em geral, no
sentido de compartilhar as competências e estratégias que podem ser
implementadas de modo eficiente no setor privado, para melhorar cada vez mais a
burocracia existente no setor público.
Entretanto, por outro lado, a sociedade como um todo, devido à,
principalmente, sua impessoalidade e sua falta de flexibilidade para reagir aos
problemas pessoais de cada indivíduo, tem observações em sua maioria pejorativas
em relação a burocracia. Tendo em vista que a burocracia demanda extrema
disciplina tanto dos empregados, quanto dos usuários de serviços, para se
adequarem e cumprirem a forma de suas tarefas desejando sempre o bom
funcionamento seguindo a rigor a norma estabelecida.
Além das características técnicas necessárias, é preciso ter também
propriedade para ver cada situação individualmente e estudar a melhor forma de se
portar perante a ela. Isso torna o tópico delicado, visto que, é preciso ter uma
racionalização em meio a burocracia, mas, ao ampliar tal ação ao conjunto inteiro
tem-se um empecilho. Essas características se encontram, principalmente, nos
membros na alta parte da hierarquia que tem que tomar decisões estratégicas.
Dessa forma, é evidente a necessidade dessas singularidades de modo preciso e
capacitado nos empregados que lidam diretamente com o público alvo, sendo estes
os cidadãos que analisam as políticas públicas mais adequadas para cada situação,
sempre observando o papel secundário da burocracia.
O longa-metragem nacional “Saneamento Básico, o Filme” foi estreado em
2007, com a escrita e direção de Jorge Furtado, a história se passa em uma cidade
fictícia na Serra Gaúcha chamada Linha Cristal e retrata um problema, pois o riacho
perto da cidade recebe o seu esgoto e fica com um mau cheiro insuportável, o que
mostra a necessidade de se criar uma fossa séptica para o tratamento. Assim, os
habitantes criam uma assembleia para tratar do distúrbio e vão à prefeitura para a
disponibilização do orçamento da obra. Infelizmente, descobrem que a entidade
organizacional não tem verba para a construção, porém existe um concurso no
preço de R$10.000,00 para a produção de um filme e, assim, eles decidem produzir
o filme para ganhar o concurso e conseguir a verba para a obra.
A trama em torno do filme deixa claro a falta de preocupação das autoridades
diante dos problemas dos cidadãos, até mesmo os básicos, pois, é prescrito por lei o
direito de todos perante o acesso ao saneamento básico, mas nada é feito para
mudar a situação, deixando os moradores viverem de forma precária. Além disso,
mostra como as governantes se preocupam em vender sua imagem, mesmo que
seja enganosa, essa crítica é deixada em evidência quando o longa apresenta o
prefeito e seu acompanhantes chegando no local de construção apenas para tirar
uma foto em frente a placa da obra com alguns dos moradores, mas, logo em
seguida, vai embora, sem dar satisfação ou demonstrar algum serviço de fato.
Por isso, tendo em vista tudo que se foi discutido no texto acima é possível
contrastar as obras. É evidente também que Motta e Merton consideram a
burocracia de formas diferentes, ao que o primeiro, visa que a burocracia mais
intensa é mais dominadora, em que a sociedade é apenas capaz de ser submissa
tendo em vista que ela não é capaz de se representar e, mesmo que, as empresas,
as escolas e o Estado sejam capazes de cumprir seus papéis fundamentais de
atender os aspectos populares, elas são voltadas para uma ordem social
dominadora. Já, Merton visa uma burocracia que os funcionários, principalmente, os
públicos, têm a necessidade de ter como característica a avaliação de cada situação
em sua individualidade, prezando as políticas públicas se voltem para cada
condição.
Assim, o filme com a obra de Merton é possível se relacionarem, ao que os
moradores da cidade demonstram sua incapacidade em lidar com seus problemas
pessoais com relação à burocracia ao visar e priorizar suas necessidades pessoais,
ao lado da funcionária pública que avaliando essa situação em específico foi capaz
de achar uma solução para o problema, mesmo que não fosse a esperada,
cumprindo com o seu papel.

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