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eoiTORA . Abril
Fundoc!ot: VICTOR CIVTTA
(1907. 1990)
,..klentee Editor. Robeno Cl\ib CARTA DO EDITOR
Vice·~•• E•«trtivo: Jairo Mend~ !.rol
con~•lho EditO<iat Robeno Ci1i1a (l'mldcnlc).
lltotnar Soulo Correa f\~re·Presidcnle). Jos.! ltobcno Guuo
Diretor do Assinaturas: Femando Costa
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Dlrotor Geral de Pubhudade Adjunto: ROgerio Gabriel Comprido
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OiretO<IMRHeAdmtnlsttaçJo:l>illla~ Mltllo
Diretora de Mídia Digitat F~biaoa Zarull Vá até a esquina, compre um despertador do primeiro ambulante
DiretO< de ,...,.,.monto e Controle: 1\uro Luas de lnsl que encontrar e enterre-o em seguida. Mil anos depois, voilá: ele será
o;retor• Superintend~ntto: Hdru Ha~l
Dfn:tora de Núc:teo: Brtnda Fuc.aS. um artefato arqueológico de extraordinário valor. Os R$ 5 que você
pagou terão se transformado em milhões. E os arqueólogos farão
descobertas fantásticas a partir de um objeto tão besta quanto um
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AtWimontotoi.Oitor,;\dl\ftnJ ~~O.~Sanloc~»Admlf'I"'"'Vv..:Catl:b despertador de camelô. Sim, porque ele pode "(alar" muita coisa
Coib C<>l•boror..,. N.,IA Edi(ÓO: l:dulrdo Um;o (tdl\llO). Aodrú Nl~)ll) I Im llindntiOI{(\11~10
dnan·), (;1(1\'.lni\A "'*'·IITII (d<'âi&J-ltt), , _ Nur.csiassi!IL'tllc.pt..."l!~). 1\t.t.dtldOJ s••ula\ (lt\IIIIIOI sobre a sociedade que o produziu. Da análise de suas engrenagens,
cn • UN lt Aldo M11ei.'OO (d"ll:(<'), r\ld•>Ttix-ciJn, R~.na S\u)(), Ruclalg.> l.nnt..').: l~trJirltt dJ \~IA;•
www.superinteressante.com.br sairiam conclusões sobre o quanto aquele povo dominava a e nge
Apolo fdltCMI-~tl tll.a Mr•llks. Car!()s Gtasselli Oepto._dt OcK. • Abfll Prt»: <.ihiC~ de Sou.t•l nharia mecânica. O estudo de suas ligas metálicas indica1ia ate que
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ponto ele evoluiu na metalurgia. E pela comparação com clesper
tadores encontrados em outros lugares do mundo, os arqueólogos
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O(GIOHA"Oomor'->--I'UBUOOADERIOOI'IAH (taO;o.-..... _ descobririam quais sociedades foram mais ou menos evoltudas.
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A-llmoio.!:-.Ddl.~-~twl) )IOo ........ llw.t.. A arqueo logia funciona assim, esbarrando o tempo todo com
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doO.U..._ "'-c- outros ramos da ciência, como a antropologia e a paleontologia.
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MAAKET'OIG EOIICUIAÇÃO:..._,.. - ' " " " ", . _

....... c-~oo: l-.l4 Na verdade, tendo a acreditar que arqueólogos são uma espécie de
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poUcia técnica da história. Eles chegam à "cena do crime" e en
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\'a'"'n· 1ll* Cof\wllor: Sn\MI'Ofll.-, fabio lnob~tlfr.ll Prote:Jsos: f\~lilnll \ 'ill.m ASSINATURAS
contram as provas. Com uma diferença fundamental: jamais dão o
Ol1t10r dt All'ndiMento e Relacionamento com o dltnt•: l·t•l'4ctl S M~jU•Ih.•t•· O~~bo'
dtAWtndlmentoao Cor»umidor: \l.akuw Galall."o;c
caso por encerrado. Ainda bem! Se não fosse assim, hoje estaria mo:.
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®11al2@ GioiiiiiH Sole P01~ 1.. 3JJI·~/l)J ESCRIIORIOS E RfPRIS!NTANlfS Ofi PU8LIC IO~O! suas pirâmides no México e na América Central. "Toda interpreta<,:ão
NO 8R.A$11 • (LIIIIlti.•SP:ret llliUG7-ôSE4 Bauu Grdloo r.t l·li.i R~·C!II~I XC.,$Co'IIO'CIMS, I (1 4J li'2~
rora lr'\\J onr.n~~,,~;~ll-,r.wl:t ll:l.n.:: Mh;•a~V:IO~ Be(m l~r t91i 3222 rJJJ. •·•~~• n·rl,,$-31.• do passado eleve ser provisória", escreve acerLad<lmcnLe o repórteJ
llcr~tl01 !WI Ctll tr lflO Hoii~OII1f: E'SCr".ol'IOiel {S!lJ2e2 033). 'U(31132!2·~'\? Fl"llf&llltu.r• r-~~~
11111 MMifln fA~C.• ror:sC:crS~~IICf•UMS~$lflllfdl..b118'4l 11W:,;ro..21~ ce II~I III II~Q •ar11il Reinaldo José Lopes no texto de introdução deste especial. E é jus
.,_c._....,,.,,. t11'tt "Milii.K ._, r..tr:n~:~nb;lnlll('IIJ3J'l138l0 '-'~nll29-6191 ••r;~l
.,. ~~1$11CJflll ~fSC~~rt.._ mf51t33~'!Q'!Mit.J~II)ll~~'l ....._,. tamente ar que está a graça da arqueologia .
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tan ttt< • • • c-....:a,..c,..c~*IZI-·tt~xtta"' :JPWI.l~tas Aqui não há muito espaço para Indiana Jones nem para lenda"> ou
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«-_. ·..-. c...M.; ~Co,-uc.Uk ~~t:~,~1U$_en' I.IJ>I'<O..tti'O.ni.#I ... OIIrlw.t crendices, como a tal história de extraterrestres ajudando a erguer
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monumentos no Egito dos faraós. O que nos interessa e a arqueo
U l..uu..: M4zl:lUOl~ t,.._,,llflta&~~)Sl9rw.~~·ITJCIIft ......
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logia real, do passado e do presente. Nas próximas páginas, o que
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não falta é aventura, descobertas extraordinárias. fotos incnveis e
AIIMI r......... CIIS321~bt(St)lW-ã!6 '-:e-...._ ~· ,..'f1$11""t:lJ•l< lústórias humanas inesquecíveis. Prepare se para uma viagem ao
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f\t..o<AM •~<1••(11)xt>1·1SS}.t111~ r•~t~fl•lh'i~ cortr A•~'-tt;GMti))"ICllac..C».::'e~·
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passado mais remoto da humanidade, passando por todas as grandes
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1Jt 11'1! ~~~~~11111i~. it m)~ I H94.2 t11atlsa"!llltl~'la'fl:.l..r..Wm civilizações que deixaram suas marcas pelo mundo.
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NU(Ioto (Otnpot'\WN'tltO: I,J.tud•~ f.l011.., NO\o-a NVtleo Jovem; Al•na•Wo~>~" A~d 1\\~ltn"" "'
Eduardo Lima
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C FRANCK GOOOIO/ItllTI FOUNOATIOW FOTO: CfiAISTOPHCEAICKI1l1VULGAÇAQ


Grandes mistérios da
Arqueologia
'JII~"

6
• ,,.n Xn
Grandes mistérios, esclarecidos ou não.

6 Cinco descobertas que abalaram o mundo.

r. [:\DORES OA
22 RCA
Os maiores exploradores de todos os tempos.

28 Tumbas do Egito, Machu Picchu e Jerusalém.

MONliME~ Trr- ,..lÁSSICní


34 Stonehenge, Petra, Coliseu e Pirâmides de Gizé.

36 Sítios arqueológicos do Rio Grande à Amazônia.

y " ..,....., 'C'S


42 onc
O presente e o futuro da arqueologia mundial.

l"n lv'l [''Á r: r 1


48 Naufrágios, cavernas e tesouros submersos.

52 As múmias mais assustadoras já encontradas.

56 EUS
Grandes coleções criadas na base da mão leve.

• "71 nn ,,..,., n~nc

60 J

A busca de Adolf Hitler pela civi lização ariana.


O~rqueólogo Howard Carter
nn EP I
abre o sarcófago de Tutancâmon
pela pnmeira vez, em 1922.
66 Arqueólogos de verdade com pinta de Indiana.

O GH!VIMAGES
De volta para
o passado
(mas de olho no futuro)
Embora ainda deva muitas respostas, a arqueologia
tirou a humanidade da ignorância sobre si mesma.
Liquidou algumas dúvidas existenciais. E ainda está
ajudando a garantir nossa sobrevivência no planeta.
1lX10 REINALDO JOS~ LOPES

' ' Aarqueologia é a busc:J por r::uos, para o nosso próprio futuro como espé clíos. Mas nenhum m·quecílogo qul: se dê
não !)ela verdade. Se é a verda- cie. Futuro? Pode apostar: a arqueologia ao rcspeiiO, hoje em clia, pensa em achar
de que vocês procuram, podem moderna está revelando por que algumas a arca de Noé ou se apoderar do graal.
assisl ir à aula de filosofia do dr. sociedades humanas sobreviveram c se A explicação é muito simples: esses
Tyree, do outro lado elo saguão." Quem expandiram, enqua11to outras entraram misterios fascinanles so existem porque
cUsse isso foi o mais famoso arque6logo em colapso; quais eseolhas históricas si'io surgil'am como ficção "inspirad<Jem falos
de todos os tempos, Indiana Joncs, fa lan - sábias e quais podem nos levar para o bu reais" as vetes nem isso. Pode se d izer,
do aos seus alunos no 3" filme da série - raco. Se quisermos sobreviver aos próx! por exemplo. que os espanhóis acharam
i\ Ultima Cruzc~ela. A frase é ótima, princi mos séculos, é bom prestar atenção. o Eldorado no século 16: era o Império
pai mente porque expôe um lado da pes- Inca, que realmente guardava riquezas
quisa arqueológic.:a c.:om o qual as pessoas FAlUSREAIS fabulosas c cuja fam:J. ao ser transmiti
não estão ac.:osturnadas: toda interpreta- Se o velho Indiana mandou bem no ser da via ''telefone sem fio" pelas tribos da
ção do passado sempre c provisória. mão aos alunos, pisou na bola ao propagar Amcrica do Sul, acabou criando a lenda
Nunca soubemos 1anto sobre as origens a idéia de que os arqueólogos passam a de uma ciclacle dourada no muio da flo -
de povos e civilizaçôes quanto sabemos vida arras de cidades perdidas, como El resta AI lãnlida, por sua vez, só existiu
hoje. \!esmo assim, muita<; perguntas so- dorado ou Atlãnrida, e artefatos com po na cabeça de Platão, o filosofo grego que
bre a saga da humanidade continuam sem deres sobrenaturais, do tipo santo graal c mencionou pela primeira vez o "conti
resposta. Tudo bem se considerarmos que arca da Aliança. É fato que as lendas cn nente perdido" noseculo4 a.C. :\o maxi
a importância real desses mistérios e pou volvendo esses lugares e cacarecos deram mo, ele pode ter se inspirado em historias
ca diante de outras questôes talvez menos um belo empurrão nas pesquisas quando a rcspcilo de grandes erupções vu lcãnieas
glamorosas. mas certamente relevan tes a arqueologia a inda vivia os seus primór no M~dilerrânco antigo.

Ct.ATI()NIIl GRANDES MISTÉRIOS DA ARQUEOLOGIA 7


Exemplos clássicos dessa aparente
contradição são os chamados coprólitos:
o máximo. as em grego, algo como "cocôs de pedra".
Compostos basicamente de fezes e urina,
boa parte das eles estão entre as "preciosidades" mais
descobertas desejadas pelos arqueólogos. Dá para
imaginar algo mais sem g lamour que
acontece dentro uma expedição arqueológica em busca
de "cocôs de pedra"? Acontece que eles
de bibliotecas. guardam todo tipo de pistas sobre animais
e seres humanos do passado. E podem
A lenda do santo graal também nasce ajudar a esclarecer mistérios que jamais
de um fato concreto. Afinal, é bastante seriam solucionados por outros meios. Foi
razoável supor que Jesus tenha usado al- o caso do eterno debate: havia canibais
gum tipo de cálice para tomar vinho du entre as antigas populações indígenas da
rantc a Última Ceia. Mas a idéia de que América? Alguns antropólogos sempre
o mesmo recipiente serviu para recolher defencleram que as suspeitas de caniba-
o sangue elo Messias - e que, por isso, lismo tinham sido p lantadas pelos colo-
ganhou poderes espirituais fabulosos - nizadores europeus, loucos para justificar
eobra da criatividade de poetas franceses o genocídio dos nativos americanos. Eles
do seculo 12, autores das primeiras sa - só não contavam com a astúcia do ame-
gas de cavalaria sobre o graal. Detalhe: ricano Richard Marlar, professor da Uni-
segundo os evangelhos, o salão o nde a versidade do Colorado, nos EUA.
Última Ceia aconteceu era emprestado.
Conseqüentemente, os talheres também. PICADINHO DE GENTE
A não ser que os apóstolos tivessem uma Colegas de Mar lar idenlíficaram em 1994,
tendência à cleptomania, fica difícil ex num sítio arqueológico do Colorado ba-
plicar como o graal teria sido preservado. tizado Cowboy Wash , restos humanos do
Quanto à arca da Aliança, o mais provável século 12 que pareciam ter sido fatiados
6 que sua cobertura de ouro tenha sido e cozidos, como um picadinho ele carne.
derretida pelos babilônios que destruíram Por sorte, também havia coprólitos em
o Templo de Jerusalém, em 586 a.C. E que abundância no local. O professor levou
a madeira debaixo do metal precioso te - o material ao laboratório e, 6 anos depois,
nha c;ido simplesmente queimada. anunciou que os "cocôs de pedra" con-
Embora a gente sempre relacione ar tinham a forma humana da mioglobina
queologia com grandes escavações. nem - uma proteína dos músculos. Era uma
sempre é assim que as coisas funcionam. prova definitiva: o "autor" daqueles co-
Para começar, boa parte do trabalho dos prólitos certamente tinha comido gente
arqueólogos ele hoje é feita dentro de bi - cerca de 800 anos atrás. Quase 15 anos
bliotecas. E. quando estão escavando, mais tarde, em abril de 2008, os compos-
nem sempre o que procuram são tesou tos voltaram às manchetes, desta vez com
ros perdidos. Grandes descobertas mui- uma datação de aproximadamente 14 mil
tas vezes acontecem durante um simples anos obtida numa caverna do Oregon,
recolhimento de artefatos tão tediosos também nos EUA. São as mais antigas
quanto cacos de cerâmica - na verdade, evidências diretas de presença humana
ferramentas essenciais para entender a no continente americano. E apresentam
sucessão ele culturas ao longo do tempo. DNA típico dos índios atuais.

8 GRANDES MIST~RIDS DA ARQUEOLO GIA


C UAT!ONAI GRANDES MI STÉR IOS OA ARQUEOLOG IA 9
N<lS ú Itim<lS décad<~s, a arqueologia vem
prestando valiosos serviços aos ambien-
De fato, parece haver LU11a associação
sinistra entre ambientes severamente de-
Parece haver uma
talistas. O conhecimento produzido no gradados e o colapso misterioso de gran - associação sinistra
estudo elo passado c.:ada vez mais é usado des civilizações. No século 18, quando os
paJa projetar nosso futuro . Uma das con- europeus chegaram pela primeira vez à
entre ambientes
tribuições dos arqueólogos nesse sentido ilha de Páscoa, no meio do oceano Pa- degradados e o
foi a resposta enconu·ada para o desapa cífico, ficaram surpresos ao ver estátuas
recimentoclos índios Anasazi, que vive- de ped ra pesando dezenas de toneladas, colapso misterioso
ram entre os séculos 8 e 12 no sudoeste
dos EUA. Esse povo cresceu tanto e era
com a altura aproximada de um prédio
deSandares, em meio a uma população
de civilizações.
tão c.: hegado a grandes "projetos habita- de nat ivos maltrapilhos e famintos, com
cionais" que acabou com toda a floresta apenas 2 mil incUvíduos. Detalhe: quase do, até que todas as aves terrestres naLivas
que cobria a região, abrindo esp aço para não existiam árvores na ilha. estivessem extintas. Depois, cultivando
a agricultura c a construção de mora- A partir de meados do século 20, os ar- a limentos. O território acabou sendo di-
d ias. Resultado: os animais sumiram, os queólogos !evm1taram pistas contunden vidido em clãs, que passm·am a compe -
rios secaram e a área acabou virando um tes sobre o desastre que atingiu a ilha de tir por status constminclo estátuas os
im<.::nso deserto. Quando faltou comida, .Páscoa. Por volta do ano 1000, um grupo famosos moa.is - cada vez mai.ores. Uma
ocor reram casos de canibalisl110 como ele polinésios chegou ao local e prosperou competição tão estúpida só poderia aca-
o clocu menlaclo em Cow'boy Wash. rapidamente. Primeiro, caçando adoida- bar mal. Para alimentar a tropa de ope-
rários que metia a mão na massa, o jeito
foi produzir mais gêneros alimentícios,
Ruinas malas ele
aumentando a pressão sobre o solo. En -
Chichén ltzá, no quanto isso, os enormes blocos de pedra
México: civilização tinham de ser tr<ulSporLados em LriU1os ele
desaparecida madeira, o que levou a tun desmatamento
mistenosamente.
nunca visto. Foi assim aLé que a ilha se
transformasse num ambiente quase es ·
téril. Veio a fome, seguida pela g11erra.
E pronto: fim da linl1a para os habitantes
de Páscoa, que chegaram a ser 30 mil.
Uma combinação parecida de cres-
cimento populacional clesconlrolado e
desmatamento, junto com uma série de
secas, lambém pode estar por trás do
colapso da civilização maia, no México
e na América Central, por volta do ano
900. Numa sucessão relall vrunen.Le ráp i-
da, lui{ares como Copán, Tikal e Palen
que foram simplesmente abandonados.
Tlá indfcios de que os maias não souberam
usar com o devido cuidado seus recursos
natmals. Essa, no entanto, é só uma das
teses. Cogita se também a possibllidade
de que uma epidemia tenha devastado o
império inteiro, ou que aguerr::l entre ci -
dades, aos poucos, tenha minado seus ali-
cerces. Talvez a explicação para o sumiço
dos maias seja a soma de todas essas te
orias. :-;-inguém sabe. E esse é apenas um
dos grandes mistérios que a arqueologia
ainda não conseguiu resolver.

DÚVIDAS CRU~IS
De quem é o rosto da esfinge? Pode até ser
que, nos próximos anos, os arqueólogos
descubram quem serviu de modelo pa
ra esse que é um dos monumentos mais
ilustres do Egito antigo. Mas o que eles
realmente querem é desvendar os mis
térios de grosso calibre. Que fim levou
a gloriosa civilização do vale do Indo,
no subcontinente indiano, cujo império
durou de 2900 a 1900 a. C.? Por que certos
povos, como incas e cartagineses, faziam
sacrifícios humanos?
Como as demais áreas da ciência, o
estudo do passado humano deve avan
çar atrelado a novas tecnologias, como
a capacidade de analisar rapidamente
grandes quantidades de 0:\A ou de usar
lasers e radares para mapear estruturas
antigas com precisão. Há apenas 10 anos,
obter material genético de uma simples
múmia parecia coisa de ficção científica.
lloje, os pesquisadores caminham para
a decodificação completa do genoma dos
neandertais os primos mais próximos
do homem moderno, que se extinguiram
misteriosamente há 30 mil anos.
Ainda que muitas perguntas perma
neçam sem resposta, a arqueologia so
lucionou enigmas complicadíssimos nos
últimos 200 ou 300 anos. Descobriu ci
vilizações que jamais imaginamos pu
dessem ter existido. E decifrou outras
tantas como a egípcia - em detalhes
que surpreenderiam até os próprios fara
ós. Acima ele tudo, ela cumpriu o impor
tante papel ele ti rar a humanidade da mais
absoluta ignorância sobre si mesma, aju
dando nos a encontrar respostas até para
questões de natureza existencial. De onde
viemos? Quando fundamos a civilização?
Vire a página e descubra. 1\

O I OETTY IMAOES E2 JUPITERIMAOE!lSIAFP GRANDES MI STI!RIOS DA ARQUEO LOGIA 11


li!:fJidl$9

De onde viemos?

187J
~------------------
i----~--~----------·HOMENSDAS
CAVERNAS
A DESCOBERTA A DESCOBERTA A DESCOBERTA
Ao presumir que o homem sempre Marcelino de Sautuola, um Num cemitéri o de 4 mil anos
usou as melhores matérias-primas arqueólogo amador da Espanha, em Tebas, Augustus Pitt-Rivers
disponíveis na fabricação de suas descobre em seu país a caverna de identifica pedras ainda mais
armas, o arqueólogo dinamarquês Alt amira. Ele encontra desenhos antigas. incrustadas nos muros.
Christian Thomsen inventa a de touros nas paredes- pinturas Ele conclui que as rochas foram
classificação de arte fatos por Idades surpeendentemente elaboradas, trabalhadas por mãos humanas
da Pedra, do Bronze e do Ferro. feitas na Idade da Pedra. numa época anterior à dos faraós.
O QUE EXPLICA • O QUE EXPLICA O QUE EXPLICA
Nas décadas seguintes, esse Ohomem primitivo, ao cont rário Uma civilização tinha passado por
sistema de classif icação ajudaria do que se acreditava na época, ali há muito mais que 4 mil anos-
pesquisadores do mundo todo a não era um animal selvagem. enquanto interpretações da Bíblia
provar que a humanidade era bem desprovido de qualquer habilidade afirmam que Adão e Eva deram
mais antiga do que se 1maginava. ou sensibilidade humana. origem à humanidade em 4004 a.C.

Artefatos arqueológicos das


Idades da Pedra, do Bronze
e do Ferro (da esq. para a dir.).

Pintura de touro Ruínas da antiga


encontrada cidade de Tebas,
em Altamira. no Vale dos Reis.

C ILUSTRAÇ0ES MEIRE DE OL~'EIRA (ROSTOS! 1 REPRODUÇAO, 2 CORBISILATINSTDCK E3 NACIDIIAL


Está provado que a história da hum anidade começou bem antes de 4004 a.C.,
ao contrário do que sugerem certas interpretações a Bíblia. E que nossos
verdadeiros ancestrais não têm nada a ver com Adão e Eva. rEXTO MAuRfcloMANoeL

Não há retrato
conhecido do
arqueólogo

1927
TERRA PEGADAS
SANTA ANCESTRAIS
A DESCOBERTA - A DESCOBERTA
Vasculhando uma pequena Abritânica Mary Leatley encontra
caverna na região de monte em Laet oli, na Tanzânia, pegadas
Carmel, em território palestino, fossilizadas de 3 hominídeos, que
o britânico Charles Lambert caminharam por ali, sobre uma
encont ra o cabo de uma espécie grande planície coberta de cinzas
de foice rudimentar, com a vulcânicas, há aproximadament e
imagem de um animal entalhada. 3,5 milhões de anos.
O QUE EXPLICA -+ O QUE EXPLICA
A peça indicava quejá se praticava As pegadas provaram que aqueles
a agricultura no Oriente Médio primatas africanos andavam
desde a Pré-História- mais uma regularmente sobre duas pernas.
prova de que os homensda Idade São eles os verdadeiros ancestrais
da Pedra não eram bárbaros. do homem moderno.

caverna explorada Marcas de hominídeos


por Lambert perto na Tanzãnia e moldes
do monte C3rmel. das pegadas feitos pela
arqueóloga Mary Leakey.
iii;t;§NIUJI

Quando inventamos
a civilização?

1839 1869
----·-----------------------·,---
PIRÂMIDES -------------------
AssrRIOS
MEXICANAS ESUM~RIOS
A DESCOBERTA A DESCOBERTA A DESCOBERTA
Oamericano John Lloyd Stephens Numa biblioteca em Berlim. No sul do Egito, o britânico
encontra as ruínas de Palenque. o alemão Jules Oppert consegue Flinders Petrie descobre
Omundo é apresentado à civilização traduzir textos da CIVIlização 3 mil covas rasas. Ele acredita
maia, que se desenvolveu a milhares assíria e encontra referências que os corpos são de ancestrais
de quilômetros do Egito antigo. aos ancestrais desse povo. dos egípcios- talvez sumérios.
O (JUE EXPLICA O (JUE EXPLICA O (JUE EXPLICA
Palenque desafiava a teoria de que Essas citações provaram a Ao mesmo tempo em que
acivilização só poderia ter surgido existência de uma civilização reafirmava a exist ência de um
no Oriente Médio e se espalhado pelo ainda mais antiga que a assíria, povo ant erior ao do Egito antigo,
mundo- era odifusionismo, uma Lese que Oppert batizou de suméría. o arqueólogo errou feio ao sugerir
tão inabalável na época que levou à Eram novas evidências de que que os sumérios teriam dado
conclusão de que os egípCIOS ajudaram os egípcios não tinham sido origem à civilização egípcia-
aerguer as pirâmides no México. os inventores da civilização. como previa o difusionismo.

Artefato

Tablete assino, com a


escrita cuneiforme dessa rasas no sul
civilização mesopo\âmica. do Egito.

O ILUSTRAÇÕES MEIO EDEOLIVEIRA (ROSTOS!.


1 COABIS!LAriNSTOCK E 2 REPROOUÇÃO
A primeira grande civilização da história,
segundo a Bíblia, teria sido a egípcia. Mas
várias escavações já demonstraram que
0 liVrO SagradO está erradO. IEXIOMAURfCIOMANOEL

Ruínas do Império Zapoteca,


no vale de Oaxaca.

1940 .. -
VÁRIAS TUMBA IMP~RIO
ORIGENS DEPACAL ZAPOTECA
A DESCOBERTA A DESCOBERTA A DESCOBERTA
Estudando as cul turas egípcia Omexicano Alberto Ruiz Lhuillier Oamericano Kent Flannery escava
e suméria, o arqueólogo holandês descobre que a piramide na qual no vale de Oaxaca, sul do México,
Henri Franllfart descobre que o rei maia Pacal foi sepultado as ruínas do Império Zapoteca.
elas tinham visões de mundo é a única em toda a cidade de Eencontra sinais de uma casa
completamente diferentes. Palenque usada como tumba. construída por volta de 1300 a.C.
O QUE EXPLICA O QUE EXPLICA O QUE EXPLICA
Se o d1fusionismo est1vesse Se ainda restava alguma dúvida, Flannery constatou que, ao longo
correto, as cul turas egípcia ela acabou com a descoberta de de séculos, os padrões da vida
e suméria seriam parecidas. Lhuillier: os maias não tinham ido cotidiana dos zapotecas- como
Franhfort propõe uma nova buscar insp iraç~o no Egito antigo a disposição dos cômodos numa
teoria: a civilização teria para construir suas pirâmides, habítaç~o - continuaram os
começado simultaneamente em nem contaram com a ajuda de mesmos. Ou seja: eles sempre
diferentes pontos do mundo. outra civilização para erguê-las. foram d1ferentes dos egípcios.

Estátua suméria:
cultura inteiramente
diferente da egípcia.

Busto do rei
Pacal, o mais Figura zapoteca,
poderoso do sul do México:
governante nada a ver com
de Palanque. o Egito antigo.
um
Pompéia e Herculano
O dia-a-dia do Império Romano revelado em detalhes.

romanas no sul da Itália, perto da atual A descoberta das pri


~ápoles. A desgraça dos que morreram se meiras obras de arte de
revelou uma bênção para os arqueólogos, Pompéia - afrescos e mos". :
que ganharam um retrato vívido de como cos que decoravam as casas de romanos i
era a vida italiana no apogeu de Roma. ricos causaram uma onda ele interesse l
renovado pela Antiguidade entre artistas 1
TESTEMUNHA OCULAR e in telectuais da Europa. Mas o verda l
Embora a destruição das cidades tenha deiro diferencial dos achados foi trazer :
sido relatada em detalhes por uma teste- um re t rato do dia - a - dia no século 1. l
munha ocular , o escritor Plínio, o Jovem o ~?.~:~~~?..~~.~?..'J?.?.5.1.?.~.~!~~~.~?.~.~~.~.9.~.....l
(que viveu do ano 61ao 113), a localização perados, e até de seus cães, foi eternizado
exata das cidades de Pom pé ia e Herculano pelas cinzas; utensílios de cozinha, pães
ficou esquecida durante 1 500 anos. Não que ainda estavam no forno e tavernas
Oomenico Fontana, é para menos, já que camadas de material podem ser vistos com o aspecto que ti
o primeiro a topar vulcânico de até 25 metros cobriram os n h am qua ndo foram abandonados às
comas ruínas. municípios romanos. Foi só em 1599 que p ressas. E os edifícios, embora em rui
o arquiteto Domenico Fontana, ao cavar nas, ainda estão cobertos com propagao
r a como se os caprichosos deu- um novo lei topara o rio Sarno, desenter- da política, pichações chulas ou bê- á- bás

E ses greco romanos. sempre da-


dos a efeitos especiais, tivessem
decretado que aquelas cidades
ficariam congeladas no tempo para sem-
pre com o desagradável subproduto de
rou parte das cidades. A construção de
um novo palácio para o rei de Nápoles,
Carlos de Bourbon, trouxe à luz inscrições
que identWcaran1 Pompéia em 1763.
O monarca napolitano teve o bom sen-
rabiscados por crianças.

Pegos de surpresa
por uma erupção,
transformar os moradores em estátuas so de patrocinar escavações p ara revelar
de cinza vulcânica. Foi exatamente esse de forma cuidadosa as cidades antigas, no os habitant es
o efeito que uma erupção do Vesúvio, no que se tornou um marco para a pesqui viraram estátuas
ano 79 da era cristã, teve sobre Pompéia, sa arqueológica moderna. Desde então,
Herculano. Estábia e outras comunidades os trabalhos na área não pararam mais. de cinza vulcânica.

C llUSTRAÇOES: MEIRE DE OLIVE111A (ROSTOS) E EVN~OAO OE11TOI. (MAPAS). 1 tli\JIOtiAl. 2 RCPROOUÇÁOE3 CORBIS/LATINSrOCK
GRANDES MISTtRIOS DA ARQUEOLO GIA 17
Em

Pedra
de Roseta
Hieroglifos do Egito antigo
traduzidos pela primeira vez.

Champ<l!_lion,
o francêS tradutor exposta em Londres,
de hieroglifos. no Museu Britânico.

m 1801, enquanto o general nu m forte francês. França e Grã-Bretanha Ao decifrar a antiga


E Napoleão Bonaparte enfrenta-
va a Marinha britânica numa
disputa pelo controle do Egito,
os soldados ingleses fizeram um "prisio-
neiro" nada comum - um bloco de ro-
continuaram a ser inimigas nas décadas
seguintes, mas foi graças ao esforço de
pesquisadores dos dois países que a rocha
acabou cedendo seus segredos.
escrita dos f araós,
Champollion abriu
as portas para os
(;ha coberto de cima a baixo com 3 tipos MIS'ftRIOS REVELADOS
de caracteres antigos. A Pedra de Roseta, A Pedra de Roseta é um daqueles casos quase 3 milênios de
batizada em homenagem ao porto egípcio raros nos quais uma inscrição não é im- história da lendária
de mesmo nome, tinha sido encontrada portante pelo que ela diz, mas, sim, por
dois anos antes, em Rashid, durante obras "como" ela o diz. A primeira parte do tex- civilização egípcia.
to estava em grego e era, portanto, rela-
tivamente fácil de ser lida. Ela dizia que meu so Epífanes, que governou o Egito de
a pedra havia sido erigida no ano 196 a. C. 205 a 180 a. C, e sua rainha. Para Young,
e continha um decreto de rotina. Aconte- cada hieroglifo correspondia a uma idéia
ce que exatamente a mesma coisa estava ou conceito - conclusão equivocada que
gravada em outras duas versões: numa acabou travando o trabalho. Partindo dos
escrita conhecida como demótica e, o estudos de Young, e do fato de que os 3 tex-
mais importante, em hieroglifos egípcios, tos da Pedra de Roseta eram traduções ou
a até então indecifrável escrita dos faraós. paráfrases uns dos outros, o francês Jean-
Quem conseguisse traduzi -los teria aces- François Champollion testou a idéia de que
so a quase 3 milênios de história. a maioria dos símbolos na verdade era fo -
Para atacar os hieroglifos, entrou em nética, correspondendo a sons do idioma
cena a dobradinha franco - britânica. egípcio antigo. Funcionou: a partir de 1822,
O inglês Thomas Young propôs que alguns Champollion conseguiu decifrar não só a
caracteres cercados por cartuchos (moldu- pedra como uma série de outras inscrições,
ras decorativas) eram nomes reais, e com dando os primeiros passos para acabar com
isso identificou menções ao faraó Ptolo- o mistério que cercava o Egito antigo.

18 GRANDES MISTIÕR IOS DA ARQUEOLOG IA


sarcôfago de ouro
do faraó Tut: tesouro
Em que passou batido
pelos saqueadores.

Tumba de
Tutancâmon
A descoberta mais espetacular
na história da arqueologia.

do exterior, Carter teria ficado sem fala,


de tão impressionado. Seu mecenas, o no-
bre lorde Carna rvon, teria perguntado se
ele conseguia ver al~:,Tt.una coisa. A respos-
ta foi: "Sim, coisas maravilhosas".
A tumba do faraó Tutancâmon, que
rnorreueml323 a.C. , comapenasl8 anos,
é a única de um monarca egípcio que es-
capou dos saqueadores, que "limparam"
as sepulturas do Egito antigo. Na verdade,
os arqueólogos acreditam que ela tenha
sido saqueada pelo menos duas vezes na
Antiguidade, mas logo nos meses seguin-
emo que o Vale dos Reis este- tes ao sepultamento de Tutancâmon - a

'' T
ja exaurido", escreveu em 1912 julgar pelos sinais de reparos nas paredes
o arqueólogo Theodorc M. Da- e reposição de tesouros roubados. Depois
vis, depois de descobrir a tum- disso. nunca mais alguém havia colocado
ba elo faraó lloremheb e o que julgava ser os pés no interior da tumba. A sorte de
o túmulo de outro rei egípcio, um tal Tut, como ficou conhecido, também foi
Tutancâmon (veja o mapa ao lado). Da a de Carter, que teve acesso à quantidade
vis provavelmente quis engolir o próprio nababesca de bens que os faraós carre
chapéu lO anos depois, quando o mundo gavam consigo para o além- túmulo - e,
ficou sabendo de uma incrível descoberta com isso, traçou um quadro preciso de
no mesmo lugar, envolvendo a verdadeira como era o cotidiano da realeza egípcia.
tumba do faraó Tutancâmon.
O britânico Howarcl Carter achou os RIQUEZA POR TODA PARTE
primeiros sinais do mausoléu do monarca A única coisa modesta no funeral de Tut
debaixo de restos de material de constru- parece ter sido a própria câmara mor
ção e tendas de trabalhadores que viveram tuária - tudo indica que o faraó que
mais de um século depois de Tutancâmon. o s ucedeu, Aye, "roubou" a tumba mais
O arqueólogo violou a licença de escava- espaçosa, que deveria ser dele. Fora isso,
ção que lhe fora concedida, entrando na a riqueza estava por toda parte: 4 1\!À'UO-
tumba antes de comunicar a descoberta sos carros de guerra, arcos, cajados, jóias,
às autoridades egípcias (artefatos c jóias estátuas guardiãs, remos de barcos, jogos
da tumba foram encontrados em sua casa ele tabuleiro, comida, vinho, perfumes
depois que ele morreu, sugerindo que as e ungüentos, num total de 700 itens.
peças teriam sido surrupiadas antes que o O cúmulo do requinte, no entanto, eram
governo do Egito pudesse colocar as mãos os 4 sarcófagos, o último pesando aproxi-
sobre o tesouro ele Tutancâmon). Diz a madamente 110 quilos de puro ouro, com
lenda que, após abrir a porta que sepa- a bela máscara mortuária que se tornou
rava a câmara escavada na pedra do mun a "cara" de Tut para o mundo moderno.

C ILUSTRAÇ0ES: MEIA EDEOLIVEIRI\ (ROSTOS) EEVANORO OERTOL (MAPAS). 1 REPRODUÇÃO E 2 NATIOtiAL


mEl

Manuscritos
doMar Morto
A chave para entender como
viviam os primeiros cristãos .

Pedaço de um dos manuscntos


encontrados em Israel.

s histórias sobre como manus- Os primeiros manuscritos rapidamen- Eles não revelaram
A critos de 2 mil anos de idade
começaram aser encontrados
peno do mar Morro variam.
i\ mais popular delas conta que, eml947,
um beduíno, tentando espantar uma ca-
te foram parar no mercado de antiguida
des da Palestina. e os especia lis tas logo
perceberam que estavam diante de uma
oportunidade única. ~ovas buscas no
noroeste do mar Morto, perto do antigo
segredos sobre
Jesus Cristo, mas
ajudaram a traçar
bra perdida dentro de uma caverna, atirou assen tamento de Khirbel Qumran, na re-
uma pedra e acabou escutando o barulho gião de Jericó. revelaram outras I Ogrutas um quadro mais
de jarros se partindo. Ao investiga r a gru que abrigavam textos antigos, e o lento claro de seu tempo.
ta, deu ele cara com os textos antigos. trabalho ele leitura e publicação dos origi-
nais - alguns eram livros inteiros; outros.
pequenos fragmentos com poucas letras Os :-.bnuscritos do Mar Mono ajuda
- revelou centenas de obras lilerárias rama provar, em primeiro lugar, que
judaicas, a maloria escrila em hebraico a Bfblía é uma obra extrema mente antiga;
e datando ele 200 a.C. a 130 . alguns livros das Escrituras ali encontra
dos são cerca de I 000 anos mais velhos
ORIGEM INCERTA que as cópias mais antigas conhecidas até
Ningttém sabe a origem dos manuscri- então. e apresentam poucas diferenças
tos. Uma das teses mais populares é que em relação ao texto que chegou até nós.
grande parte deles pertencia aos essênios, Além disso. os textos documentam como
um grupo religioso radical que se revol- o cristianismo originalmente era uma re-
tou contra as autoridades de Jerusalém e ligião cheia de comunidades dissidentes.
teria se instalado em Qumran. Também expectativas apocalípticas e previsões
é possível qu~:: outros textos tenham sido mes~iânicas. Em hora os manuscritos não
escondidos nas cavernas por refugiados tragam novidades diretas sobre a vida de
que tentavam escapar da destruição de Cristo. eles traçam um quadro muito mais
Jerusalém pelos romanos, no ano 70. claro do mundo que o influenciou.

20 GRANDES MI ST~RIOS OA ARQUEOLOGIA


hi Huang Di {259 210 a.C.), Originalmente, os soldados estavam
Os soldados foram
S o primeiro imperador da China,
provavelmente ficaria frustrado
ao descobrir que seu grandioso
reino permaneceu unido durante menos
de4 anos após sua mone. Se as realizações
pintados com cores vivas e carregavam
armas de verdade (o tempo desbolou
a tinta e as espadas e lanças acabaram
sendo roubadas ainda na Antiguidade).
Por um lado, as estátuas foram produzi-
feitos para servir
de guarda pessoal
ao imperador Shi
poiJLicas do imperador tiveram vida curta, das de maneira que lembra as linhas de
um dos monumentos que ele deixou ain montagem modernas: cada parte do cor Huang Di em sua
da desperta admira<;ào no mundo inteiro. po elos soldados era esculpida em oficinas
Trata se do l~xércitode 'lcrracota, um gru- separadas e, depois, "colada" para formar
vida após a morte.
po de mais de 8 mil estátuas ele soldados o todo. As pernas, por exemplo, prova-
em tamanho natuntl que deveria servir ele velmente foram criadas usando o mesmo
guarda pessoal do monarca na outra vida. método que servia para fazer manilhas
de barro na época. Além disso. marcas
DESCOBERTA POR ACASO específicas de várias "indústrias" [oram
Também conhecidos como "Guerreiros de identificadas em cada guerreiro, reve-
Xian", nome da localidade chinesa onde lando que fabricantes de telhas e outros
foram encontrados, os soldados de c e rã itens da vida diária foram recrutados para
mica de Shi lluang Oi so vieram à luz em a tarefa de criar o exército.
1974, quando fazendeiros da região abri Ao mesmo tempo, cada soldado do con
ram buracos no solo em busca de água. junto eúnico. Eles variam, por exemplo, de
Alem dos guerreiros, os artistas do im tamanho (os menores medem 1,84 metro
pcrador tambcm produziram 130 carros e os maiores quase 2 metros) , em detalhes
de guerra e 150 cavn los. O conjunto faz ia do rosto (adicionados depois da montagem
parte de um complexo ainda maior um do corpo) e nos traços do cabelo e do uni-
gigantesco palácio sublerrâneo que servia forme, que pcrmltem identificar simples
de tumba para o monarca chinês. guerreiros, oficiais e generais. ?\

C !UJSIR.'ICOES· ME111E OE OLIVI:IRA (ROSl OS) EEVANORO BEAl DL(Mi\1'1\S), I CORBISIL\TII~STOCK E2 1~ATIONAL GRANDES MI STéRIOS OA ARQUEO LOGIA 21
ouco mais de 150 anos atrás. a ignorância ela huma

P nidade sobre o próprio passado estava muito perto ele


ser vergonhosa. No caso dos paíscsocidentab, em es
peda l, o que sabíamos sobre as origen.:; ela civilização
c da nossa e-;pécie se litniltlva ao contcudo ele um punhado ele
textos herdados ela 1\ntiguidade basicamente a Hr1J/i(l c as obras
ele escritores e historiadores gregos e romano'>, como Homero,
lleródoto, \ 'irgJiio c Tácito c às especulações não muito [un
<lamentadas de alguns filosofos ..\ panir de meados do seculo 19,
tudo isso começou a mudar. Surgiram os primeiros arqueólogos
de verdade, um grupo inicialmeme formado por amadores, al-
guns dos quais quase b~u1doleiros, mas que foi se tornando cada
vez mais profissional c competente, adotando técnicns refinadas
para reeonstruir a saga das sociedades humanas.
Um elos p rimeiros personagens nessa lista de bueaneiros da
arqueologia foi o britânico i\uslen Henry l.ayarcl (1817 1894).
Nasddo em Paris, ele recebeu uma educação primorosa e viajou
por tod:l a Ew·opa ainda criança. adquirindo tanto um gosto
refinado pelas arte:. quanto a paixão
pela aventura. Aos 22 anos, aban
donou o emprego que Linha no cs-
critorio de advocacia de um tio, em
Londres, e decidiu partir para a Asia,
onde pretendia trabalhar nas posses
scics do Império 13ritân ico na Índia. O
problema é que l.ay<ucl quis fa%<.:r a
viagem por terra, a cavalo. Resulla
do; muito antes de chegar à lndia. ele
ficou fascinado pelo Oriente ;o..!édio.
viajando através ela Turquia. da Síria
e ela Pérsia (atual Irã).
Como jornadas a cavalo pelo de
serto não enchem barriga. l.ayard
conseguiu um emprego como adi
elo cliplom:.ílico em 1842 - o que o
ajudou a continuar suas viagens pelo
Impt!rio Otomano, c mão senhor de todo o Oriente Próximo. \as composto de milhares de tabuletas de argila do século 7 a.C.,
andanças pelo atuallraque, adquiriu uma nova obsessão: loca li- cobertas com os chamados caracteres cuncíformes, a escrita
.-ar cidades mencionadas na B!blia. Layard fez a primeira tema dominante na antiga Mesopotâmia (leia mui.'> na reportagem das
liva em t\imrucl, que levava o nome de um personagem bíblico pagin<l.'144e45). Havia ali todo tipo ele registro e.c;crilO, de car-
(o caçador '\'imrod) c que, para o britânico, deveria corresponder tas cliplomaticas c decretos oficiai'> a enormes tratados de me
às vizinhanças de Nínive. a capital do Império Assírio. clicina e poemas. permitindo que especialistas do mundo todo
começassem a traça r um quadmcletalhado da vida no primeiro
EM BUSCA DE NrNIVE grande império internacional da hisl()ri~1.
foi um caso clássico de alirêlr no que vê e acenar no que não vê. Por seus cs[orços em desvendar o passado mcsopotâmico,
Layard escavou Nimrud de 1845 a 1851 c acabou descobrindo que Layarcl ganhou o titulo de sir - honraria que também acabou
o local corrcsponclia a Calá, capital dos assírios antes de i.\inive, sendo concccl ida a outm explorador britânico, Leonard Wooley
no século 9 a.C. O arqueólogo inglês descobriu antigos palácios (1880 1960). Outro ponto comum entre a dupla é a inspiração
e desenterrou uma magnífica estátua de Louro alado (espécie de btblica: a partir de 1922, Woole~ escavou em Ur. antiga eidade
cspiril<l protetor dos antigos reis mesopotãmios). do sul do Iraque que, segundo o Gênese, teria sido a terra natal
Em 1849, quando liderava escavações na margem leste do rio de Abraão. Famoso por suas técnicas cxt rema mente cuidadosas
Tigre, perto da cidade de Mossul, ele finalmente trouxe à luz a de escavação. o arqueólogo não encontrou pistas sobre o suposto
antiga \mivc. i\lem de extraordinarias obras de arte. seu mais aneestral de judeus e árabes, mas trouxe à tona, camada por
importante achado foi a Biblioteca de Assurbanipal um acervo camada, o processo que criou as prime iras civilií'ações urbanas

OlUSIIIAÇO(S l.lmf OE OlMIRA(HOSJOSlE EVAMlRO 8ERIOllhW'IISI. I R(PnOiliJÇAO GRANDES MIST~R IOS DA ARQUEOLOGIA 23
do mundo, a partir do ano 4000 a.C. De quebra, Wooley e com- emprego numa firma de importação e exportação que o man-
panhia também acharam túmulos reais, datados de 2700 a.C., dou para a Rússia, onde montou seu próprio negócio no ramo.
com indícios de UJJ1 funeral assustador: os servos dos soberanos Pa<>sou algum tempo na Califórnia, atuando como atravessador
teriam sido mortos para acompanha los no além. durante a corrida do ouro, até voltar para a Rússia e finalmen-
te enriquecer vendendo matérias- primas para o Exército rus-
A TRÓIA DE HOMERO so durante a Guerra da Criméia (1854-1856). Pouco antes dos
Ninguém pode acusar o arqueólogo alemão Heinrich Schlie- 40 anos, ele não precisava mais traba Ihar e se tornou um viajante
mann de falsa modéstia: afinal. são poucos os sujeitos com internacional com uma obsessão: encontrar Tróia.
a cara de pau de mandar escrever a frase heroi schlimannoi Na época, a historie idade dos poemas de Homero sobre a guer-
("ao herói Sch liemann", em grego antigo) no próprio túmulo. ra enl're gregos e troianos era contestada por quase todos os
De fato, há fortes indícios de que Schliemann foi um marque- especialistas, mas Schliemann acreditava ser capaz de provar
Leito despudorado, que fazia de tudo para criar uma boa lenda que eles estavam redondamente errados. Para isso, em 1871,
em torno de si mesmo. Ele dizia ser fluente em nada menos juntou se ao arqueólogo britânico Frederick Calvert, que já es-
que 13 lmguas, algumas delas desaparecidas havia milhares de tava escavando havia tempos na localidade turca de 1-lisarük,
anos, c ter almoçado com o presidente dos EUA quando ainda uma das candidatas a abrigar a antiga cidade.
era um imigrante pobre e recém chegado ao país. Cascatas e Do ponto de vista de um arqueólogo moderno, Heinrich
falta de modéstia à parte, o que não se discute é a importância Schliemann se embananou um bocado. Crente de que as ca-
elos achados elo alemão: ele provou, praticamente sozinho, que madas arqueológicas mais antigas de Hisarlik abrigavam a Tróia
a cidade de Tróia era mais que um mito. de Homero, ele cavou de forma tão afoita que bagunçou toda a
Quase tudo na vida de Schliemann, nascido em 1822, tinha estratigrafia do local, provavelmente destruindo dados valiosos.
um toque rocambolesco. Filho de um pastor protestante, ele Ao achar um conjunto fabuloso de jóias de ouro, Schliemann não
precisou trabalhar muito cedo para ajudar a família e acabou se só fotografou sua jovem esposa grega chamada Soph ia usando-
empregando como grumcte num navio que ia para a Venezue- as como contrabandeou os objetos para fora da 1\Jrquia, o que
la. O navio naufragou na llolanda, mas o rapa7. conseguiu um deixou o governo do Império Turco- Otomano fuJo da vida.

24 GRANDES MISTéRIOS DA ARQUEOLOGIA O lUSTRAÇÓE$; MéR: DE OUVSRA !ROSTOS) EEVAIIDRO BeiiTOl (MAPAS). I COR8ISIIA11NSTOCIC
dos pnme1ros europeus
a desenvolver a escrita.
Mesrno assim, a dupla germano- británka conseguiu vollar
ao trabalho em llisarl ik, revelando uma sucessão ele 9 "Tróias"
- do ano 3000 a .C. à época romana. Schliemam1 identificou
erradamente a "Tróia 2" (destruída por volta de 2200 a.C.) como
sendo a cidade mem;ionada por Homero, a qual deve ter sido
queimada por invasores 1 000 anos mais tarde. Mas o importante
é que o passado troiano deixava a categoria de lenda. Schliemann
ainda escavaria Micenas, a antiga cidadela grega de onde Lerütm
vindo os destruidores de Tróia, descobrindo Ltmà rica civiliz<lção
palaciana que enterrava seus reis t.:om máscaras de ouro.
O megaJoma n íaco alemão provavelrnen 1e ficaria verde de in-
veja se tivesse vivido para ver as descobertas do britânico sir
t\rthur Evans (1851- 1.941). Evans continuou de onde Heinrich
S<:hltemann havia parado, em busca elas ra(zesdacivilização de
Micenas e as encontrou no palácio de Knossos, na ilha deCreta.
Os cretenses da Idade do Bronze foram os primeiros europeus
a dcsenvolve1· sua própria forma de escrita, a Linear A - uma
variação dela, a Linear B, foi usada para registrar uma forma
primitiva do grego em Micenas. De
quebra, parecem ter praticado uma
espécie de tomada ritual que inspixou
o mito do Minotauro (meio homem,
meio touro) e do labirinto deCreta.

MAIAS E AUSTRALOPITECDS
1'\ão é comum que uma idéia ele je -
rico acabe levando a descobertas
Esqueleto
importantes. O americano Edward delucy- c
I lerbert Thompson (1 856-1 935), no
entanto, começou sua carreira jusI a- Aba da
mente assim, ao publicar um artigo
associando a civilização maia com...
o continente perdido da Allãotida.
Mais tarde, Thompson renegaria to-
talmente a proposta estapafúrdia,
mas roi graças a ela que o rapaz de
23 anos conseguiu atrair a atenção do governo dos EVA, que 0 poU(;a gcntc pode se gabar ele ter superado o arqueólogo america -
nomeou cônsui do país em Mérida, no México. no Donald Johan.son . Trabalhando na Etiópia, em 1974, ele e sua
Ao chegar à antiga terra dos maias, no entanto, Thornpson eqtúpe deram de cara comum dos mais completos esqueletos de
deixou as teorias malucas de lado e arregaçou as mangas. 1\pren um ancestral remoto do homem - uma fêmea de hominídeo de
deu a antiga língua maia, ainda falad a por muitos indígenas 1,10 metro, que acabou recebendo o cru·inhoso apelido de Lucy,
da região, e passou a organizar estudos regulares de Chichén por caus(l da música Lucy in tlle Sky with Diamoncls, dos Beatles,
ltzá, cidade qu e foi urna das maiores potências da América pré- que tocava no acampamento naquela noite.
colombiana entre os anos 600 e 1000 de nossa era. Tbompson Estima-se que Lu<.:y e os demais membros de sua espécie {ba-
e seus colaboradores conseguiram investigar o passado maia tizada de Australopithecn<~. afurensiB) tenham vivido há aproxi
até debaixo d'água: eles desceram ao fundo do chamado Poço madamenre 3,2 milhões ele anos. Oulros fósseis mais antigos
Sagrado, um lago no qual havia artefatos de ouro e inúmeros ele hominídeos foram achados desde então, mas os A . qfarensis
esqueletos humanos - cativos sacrificados em honra do deus continuam sendo os ancestrais humanos primitivos mais bem
da chuva, Chaac neia mais no mapa das pógs. 50 e Sl). conhecidos - até bebês da espécie Já foram encontrados. Lucy,
Depois dos triunfos de arqueólogos como Thompson. Layard com 40"/., do esquelelo completo, documenta uma Lransi<yão
e Schliemann, a última fronteira se tornou a compreensão de- importante na evolução humana: seu andar era plenamente
talhada das origens do homem. Entram em cena os palean- bípede, mas detalhes da anatomia das mãos e dos pés de sua
Lropólogos, capazes de analisar fósseis e determinar os passos espécie indicam que ela também era capaz de escalar árvores,
evolutivos que unem os grandes ma<.:acos a nós. Nesse quesi Lo, com agílidade próxima da de um chimpan;r,é atual. ?I

O I~UST11A~ES MEIRE DE OUVEIM (ROSTOS! EEV11110RO BERTOL (M14'1o$) I PHOl ONOUSTOI'IAFP E 2 GETlY IMAGES GRANDES MISTtRIOS DA ARQUEOLOGIA 'lJ
- ."..,.;_ - - - - : - - -

Vale dos Reis


M ais de 60 t umbas escavadas no Egito para abrigar as múm ias d
TEXTO FREIIl LINARDI

FARAÓ SETI 1fl


AMAIS LONGA
DAS TUMBAS
Quando foi descoberta, em
out ubro de 1817, pelo explorador
italiano Giovanni Belzon1, a tumba
do faraó Se ti JD já era cons1derada
a maior de todo o Vale dos Reis.
Naquela ocasião, Belzoni mapeou
100 longos metros de corredores
que levavam à câmara morluária
do antigo governante. Em abril
de 2008. no entanto, arqueólogos
egípc1os descobriram que a tumba
é ainda mais extensae profunda.
Uma nova passagem e mais um
corredor foram encontrados,
aumentando a extensão da tumba
para 138 metros. Ela é também
VALE DOS REIS
Uma das maiores a mais profunda do vale. No total,
"arcas do tesouro" tem 7corredores e 10 câmaras,
já encontradas. decorados com imagens em alt o
e ba1xo relevo nas paredes.

cl;~ r11 Qq~]


Vaso e estátueta
do faraó Setf 1•
encontrados
...................H~º· ~·Rº.A.RQY.~-º.~.Q.~.!Ç9.
Na t umba de Set11o foram achados vasos e esculturas, entre
em sua tumba. o nome
outras prwosidadesde valor incalculável (incluindo a múmia
(0 ~ ~]
do fara6 em
de um Louro). Em 1828, o francês Jean-François Champollion- hieroglifos
que no ano anterior havia t raduzido os hieroglifos egípcios pela egipCIOS.
primeira vez - extraiu dois grandes blocos de parede da tumba,
que hoje integram a coleção egipc1a do Louvre, em Pans

A NECRÓPOLE DE TEBAS Alvo de inúmeros saqueadores ao longo da história. ··

~ O QUE FOI ~ QUEM DESCOBRIU ~ O QUE SE SABE ~ O QUE NÃO SE SABE


OVal e dos Reis era parte da As tumbas são conhec idas Já foram mapeadas 63 tumbas Há 26 tumbas espalhadas pelo
necrópole de Tebas, cap ital desde a Antiguidade e foram no Vale dos Reis . Os egfpcios Vale dos Reis sobre as quais
do Império Novo. Trata - se alvo de inúmeros saqueadores t 1raram proveito do solo os a1·queólogos simplesmente
de um conjunto de tumbas e cat:adores de tesouros. cal cário da região, mais fác il não sabem nada. Uma das que
construldas entre os séculos Começaram a ser exploradas de ser escavado. A construção guardam mais segredos é a KV
16 e 11 a.C. Elas abrigavam por arqueólogos europeus de uma tumba começava no 63- última a ser descoberta,
as múmias de faraós, seus no século 18. Quando abertas, Inicio do reinado de seu dono em ZOOS. Nela foram achados
familiares e mtegrantes muitas foram encontradas e demorava cerca de 6 anos vários jarros e 6 sarcófagos,
da nobreza egfpcía. vazias e depredadas. para ser conc lufda. mas nenhuma múmia.

28 GRAND ES MISTÉRIOS OAARQU EOLOG IA to IIIJSTAAÇ0ES LUCIANOVFRONEZI, I fOTOS AEPROOUÇM. ~NATIONAL GEOCMPIIIC, 3 CORBIS.'LATINS!OCK
INFO-EXPEDitAO

Machu Picchu
Encastelada no topo dos Andes, ela é uma das 7 novas maravilhas do m undo.
TE.Xm FRED UNARDI

ENGENHARIA
AGRrCOLA
Um dos alimentos mais
cultivados era o m1lho. 1 INTIHUATANA
Esta pedra
A úmca água utilizada na localizava os habitantes de Machu
irrigação era a da ct1uva Picchu no tempo, marcando os dois equmóc10s
e o solo era t rabalhado anuais e outroseventos astronômicos. Nessas
datas, os incas faziam rituaissagrados. Alguns
0 .... ~;Rm.ilr.~.~.C?.~.r.~:~.~i.m~.!'!~.~g~.
Como não há muitas áreas arqueólogos acreditam que. aqui, também
planas em Machu Picchu. ocorriam sacrifícios animais e humanos.
seus habitantes ti veram
2 TEMPLO PRINCIPAL
Faz parte de um complexo Importante.
formado ainda pelo Templo dasTrêsJanelas
e pelaCasa do Sacerdote. Aqualidade do
polimento das pedras e o enca1xe entre elas
é impressionante. Utensílios de cozinha foram
terra
decult1vo encontrados recentemente nesta área.
escada
de pedras 3 PALÁCIO
Era onde as
00 INCA
maiores autoridades do império
se hospedavam quando visitavam a cidade.
Há sinais de quartos privados. refeitório.
banheiros e área reservada aos funcionários.
Anexos à casa, ficavam um curral e um terraço,
com vista para o lado leste de Machu Picchu.
CERÂMICAS EJÓIAS
...... .... ................................................................. [J
Ohistoriador que descobriu
Machu Picchu. o americano 4 TEMPLO DO SOL
Sua torre semicirc ular temj anelas que
Hiram Bingham, encontrou
nas ruínas dezenas de a1tefato s se alinham com os ra10s do Sol nos solstíclos.
arqueológicos, entre cerâmicas Era assim que os habit ant es conseguiam
e adornos debronze. prata e ouro. se planejar para as épocas de plantio e colhe1ta.
Hoje, essas peças integram Acredita-se que Pachacutl, fundador do re1no
a coleção de históna natural inca de Cuzco, tenha sido sepultado neste local.
da Un1versidade Vale. nos EUA.

30 GRANOES MIST~RIO S OA ARQUCOLOGIA


TRABALHO SUADO
Blocos de até 100 toneladas eram cortados
no sopé da montanha e arrastados até o topo.
®
Lá no alto, toras ajudavam atransportá-los (a).
Para colocá -los de pé, dois grupos suavam
acamisa (b). Oprimeiro usava uma corda para
puxar o monólito, enquanto o segundo preenchia
oespaço deixado por ele. As pedras eram polidas
até que o encaixe entre elas ficasse perfeito
-tornando desnecessário o uso de argamassa.

0 llUSTRAÇ0ES LUCIAilO VERONEZI. FOTOS REP!lOOUÇÂO. I ROGEAl'lOUEl!AFP Fonte El Comercio GRANDES MIST~RIOS DA ARQUEOLOGIA 3]
INFO-EXPEDICÂO

Jerusalélll
Um dos pedaços de chão mais disputados do mundo é pura arqueologia.
TEXTO FRED LINARDI

MAIS DE 3 MIL ANOS DE HISTÓRIA

1 TÚNEIS DO MURO
Ao longo de séculos, est e labirinto de túneis, arcos e passagens subterrâneas
permaneceu intocado. Várias descobertas foram feitas aqui- entre elas
uma pedra que, acredita-se, tenha sido a maior já usada numa construção,
com 12,5 metros de comprimento e pesando mais de 570 toneladas.

2 localizada
PASSAGEM SECRETA
abaixo de uma grande v1a, foi construlda no século 12 para
facilitar o trânsito entre a cidade alta e o monte do Templo. Em sua estrutura
é posslvel notar elementos das Cruzadas e traços das culturas islâm1ca,
romana e bizantma- tudo isso sob ruínas da época do Segundo Templo.

3 Suas
SALÃO DE HEROOES
paredes de pedras são decoradas no estilo tfpico das construções de
Herodes, rei da Judéia entre 37 e 4 a.C., período em que a cidade esteve sob
controle romano. Osalão foi construído na mesma época do Segundo Templo
e não se sabe qual era sua função- provavelmente um prédio público.

4 ÉMURO DAS LAMENTAt0ES


parte da construção original do Segundo Templo, que os judeus construíram
ao regressar do cativeiro na Babilônia, em 539 a.C.- exatamente no mesmo
local onde existiu o Templo de Salomão. Trata-se do lugar mais sagrado do
judaísmo. Oresto do templo foi posta abaixo pelos romanos no ano 70 .

5 Escavações
A C~U ABERTO
conduzidas pelo arqueólogo israelense Benjamin Mazar a partir
de 1968 nesta área revelaram portões arqueados que davam acesso ao
Segundo Templo, várias miklevs (espécie de banheiras para purificação) e
uma rua com 10 metros de largura. que estava sob escombros desde o ano 70.

32 GRANDES MIST~RIOS DA ARQUEOLOGIA O ltUSTilAÇAO SA1111, FOTOS RD'ftoouç.IO


GRANDES MIST~RI OS DA ARQUEOLOGIA 33
Sem~reuma
noviàade
Por mais que já tenham sido estudados,
.
certos monumentos antigos continuam
na mira dos arqueólogos. Resultado: ..1: 1:1 .'"'"'"'""',;

as descobertas não param nunca.


TEXffi FREO UNAROI

. --
~ D QUE FORAM ~ DESCOBERTA RECENTE
Tumbas dos faraós egípcios Quéops, Quéfren e Miquerinos- pai,
filho e neto, respectivamente. Elas comes;aram a ser co.nstrufdas
'"
Nos últimos anos, a arqueologia aJudou a desfazer um dos gra
mitos envolvendo as pirâmides: elas não foram erguidas por
por voltado ano de 2700 a.C. es6ficaram prontas 20 anos mais escravos, mas por trabalhadores especializados nesse tipo de
tarde. Dentro delas nllo hâ nada além de uma tumbã, parecida construç:lo. Estima-se que as obras mobilizavam cerca de 5 mil
com as encontradas no Vale dos Reis. Originalmente, tinha m operários fixos no perfodo de-um ano. Além desses, outros ZO mil
o vértice coberto de ouro, para refl~tir de longe os raios.do·sol. "' ,homens davam apoio ao canteiro de obras durante alguns meses.
, \
STONEHENGE
-.O QUE FOI _. DESCOBERTA RECENTE
O c1rcu lo de pedras mais famoso do mundo foi construído há cerca Além de observatório astronômico, Stonehenge pode ter
de 5 mil anos e provavelmente era um observatório. Suas 35 rochas SidO usado para cerimônias relig1osas, 1nclus1ve funerárias.
marcam alguns eventos astronômicos, como os solsticios de verão Ossos humanos encontrados na área sugerem que uma espécie
e inverno, e ajudavam os ingleses da Pré-História a distinguir as de cemitério existiu a h desde a primeira fase de construção.
estações. Tudo indica que as pedras vieram de um lugar a ma1s A análise dos restos mortais indica que o local provavelmente
de 30 quilômetros de distância. A mais pesada tem 40 toneladas. era reservado aos indivíduos mais ricos e importantes. 1\
A floresta que cobria os primeiros habitantes do continente Américas. Para ela, já está provado que
americano. E sustentavam a teoria de que a cultura Clóvis não foi a primeira a se es
esta região há 9 mil o continente havia sido colonizado pela tabelecer no continente nem deu origem
passagem de Behring, a partir da .Ásia. a todos os outros povos americanos.
anos era habitada Em toda a América do Sul, já foram "lloje, podemos afirmar que a chega
por mastodontes e identificados 9 sítios arqueológicos que da elo .Homo sapiens ao continente ame
desafiam essa tese - os chamados pré rica no aconteceu em levas que, saindo de
preguiças-gigantes. Clóvis (veja o mapa ao lado). Em Monte diferentes lugares, seguiram diferentes
Verde, no Chile, há vestígios de ativi- caminhos", afirma Niéde Guidon. "J\s
Quando os aHefatos encontrados por dade humana com 12 300 anos de ida primeiras levas devem ter entrado na
Niéde Guidon começaram a ser datados, de. Na Argentina, estudos apontam para América entre 150 mil e 100 mil anos
a serra da Capivara foi arrastada para I3 mil anos em Piedra Museu e Los Toldos. atrás." Para a arqueóloga, é bastante ra-
o centro de uma polémica internacional. E em Ta i ma Taima, na Venezuela, foram zoável supor que um continente como o
Segundo a arqueóloga, as dataçües indi- encontrados indícios que remontam a americano, que vai do Pólo Norte ao Pólo
cam que aquele pedaço de chão piauiense 15 mil anos. No Brasil, a serra da Capiva- Sul, tenha sido ocupado a partir de diver
roi habitado há pelo menos 60 mil anos. ra não é o único sítio dessa categoria. Há sos pontos. E ma is: a geografia também
São registros de presença humana muito pelo menos mais 4, entre eles o da Pedra sugere que os primeiros habitantes po-
mais antigos, portanto, que os da cultura Pintada, no Pará, que guarda lembranças dem ter chegado aqui, inclusive, por via
Clóvis - homens primitivos que viveram, da pré história amazônica estimadas em marítima, através elo oceano J\tlânrico.
entre 10 500 e 11400 anos atrás, na região 11300 anos. As pesquisas conduzidas pe- Há quem conteste as descobertas ele
que hoje corresponde ao estado ameri- la arqueóloga americana Anna Roosevelt Niéde Guidon. Nos EUA, alguns pesqui
ca no do Novo .México. J\té meados do nesse local levaram- na a propor um no- sadores argumentam que vários artefatos
sécu lo passado, eles eram considerados vo modelo para explicar a ocupação das coletados por ela na serra da Capivara po
dem ser resultado ele fenômenos da na
tureza. Instrumentos de pedra lascada
não passariam ele lascas surgidas natu
ralmente. Pedaços de carvão seriam pro
duto de incêndios igualmente naturais,
e não de fogueiras acesas pelo homem.
Até os vestígios de fogões primitivos en
contrados por Niécle e suas equipes se

Pedra Furada, na serra da


capivara: as datações mais
antigas foram obtidas aqui.

38 GRANDES MISTÉRIOS DA ARQUEOLOGIA


-
I

riam meras obras do acaso, formados


por blocos coincidentemente caídos uns
sobre os outros. Para a arqueóloga, ne -
nhuma dessas dúvidas tem fundamento.
"Colegas da Texas A&M University, nos
EUA, analisaram os artefatos de pedra
e concluíram , como nós, que eles certa-
mente foram feitos por mãos humanas",
garante Niéde. " E para rebater a idéia de
que o carvão pode ter vindo de incêndios
espontâneos,fizernossondagenserntodo
o vale da Pedra Furada. Descobrimos que
só há carvão dentro do sítio arqueológico.
Incêndios teriam deixado carvão espa-
lhado por todos os lados. "

REINO DA BICHARADA
i\s datações mais antigas na serra da Ca-
pivara foram obtidas nos sítios conhe-
cidos como Boqueirão da Pedra Furada,
Toca elo Sítio do Meio e Toca do Caldei-
rão do Rodrigues. Todos os 3 apresen-
tam o que os arqueólogos chamam de
abrigos sob rocha, formações rochosas
que, esculpidas pela erosão ao longo dos
anos, acabaram se transformando
em verdadeiras caban.as naturais.
Os piauienses da Pré- História
usaram esses abrigos naturais
como casa. E pintaram nas
paredes de pedra cenas do
cotidiano - ou a "repre-
sentação gráfica de sua tra-
dição oral", como preferem
os pesquisadores.
Polêmicas à parte, Nié -
de está convencida de que os
primeiros brasileiros viviam em
plena harmonia com a natureza.
E que natureza! As pesquisas levadas a
cabo nesses 35 anos, desde as primeiras
descobertas, indicam que, até 9 mil anos
atrás, naquela região corriam rios cau-
dalosos e a vegetação em nada se pare-
cia com a caatinga de hoje. Toda a área
era coberta por densa floresta tropical,
habitada por preguiças e tatus gigantes,
tigres- dentes -de- sabre, mastodontes, AMtRICA
cavalos selvagens e até ancestrais das ANCESTRAL
Possíveis rotas
lhamas - uma fauna pintada e eterniza- de ocupação
da nas únicas testemunhas disso tudo: do continente.
as paredes de rocha calcária.

C 1 GltVAII BARRETO, MAPA: EVANORO BERTOL FOTOS: REPRODUÇÃO


BRASIL DE ONTEM

Do Rio Grande à Amazônia


Os 20 mil sítios arqueológicos espalhados pelo país já revelaram de tudo.
Inclusive Luzia, a brasileira mais antiga de que se tem notícia. rexro MARJANAsGARtoNt

Ilha de Marajó
ARQUEOLOGIA AMAZONICA
Muitos pesquisadores acredita
m que as futuras grandes desc
arqueológicas no Brasil vão oco obertas
rrer na Amazônia. HoJe, um dos
obje tos de estudo é a cerâmica pnnc1pa1s
. Os primeiros ceramistas daqu
surgiram por volta de 6500 a.C. ela região
Inicialmente, produziam peças
simples e sem adornos. Com o tem utilitárias,
po, eles passaram a cerâmicas
elaboradas. Alguns dos melhores mais
exemplos estão na ilha de Marajó.
Peças das culturas marajoara (foto
) e tapaJÕnica são adm1radas no mun
inteiro, reproduzidas como obra do
s de arte. No sitio da Pedra Pint
no Pará, há sinais de presença hum ada,
ana datados de 11300 anos.

RUfNAS URBANAS
Elas são poucas- afinal. a urba
nização é recente no Brasil. Mas
Éo caso de Canudos. povoado surg ex1stem.
ido às margens do rio Vaza Barr
na Bah1a. No f 1m do século 19, ele is.
foi palco de um dos capítulos ma1s
dramáticos da históna brasileira
: uma guerra entre seus habitan
e o Exército. que deixou milhares tes
de mortos. Na década de 1970. o
foi coberta pelo lago de um açud vilarejo
e. Hoje, na época da seca, algumas
construções afloram (foto). No
Rio Grande do Sul há outro exem
de ruínas urbanas: São Miguel Arca plo
njo. Do século 17. seus prédios são
testemunhas das missões jesuítica
s de catequização dos índios guar
anis.

a-tJ~i :tJa11!~1
Onome vem da língua tupi (tam
pa= marisco; ki =amontoado). Eles
guardam vestígios de grupos que
habitaram o litoral há 6 mil anos
v1vendo da pesca e da coleta de ,
moluscos. Esses homens juntava
mesmo lugar tudo que produzia m num
m e consumiam, hábito que deu
a sambaquis espalhados por toda origem
a costa. Neles encontram-se rest
de fogueiras, sobras de alimento os
e sinais de sepultamentos. Osam
do Pindal. no Maranhão, preserva baqui
relíquias de antigos povos indíg
No da barra do rio ltapitangui, enas.
em São Paulo (foto), foram encontr
ossos. machados rudimentares ados
e pontas de lança feitas de pedra lasc
ada.

Em 1975, foi encontrado na Lapa


Vermelha , em Minas Gerais, um
humano de11 mil anos. Aná lises fóssil
reve laram tratar-se de uma mul
-a brasileira ma1 santiga de que her
se tem notícia. batizada Luzia.
foi reconstituído com técnicas Seu rosto
semelhantes às que recriaram
do faraó egípcio Tutancâmon (foto a face
). Luzia era uma mulher de traços
forte s, que lembram os atuais abo
rígenes da Austrália. Dois anos
tarde. em 1977, uma criança mum mais
ificada. com idade entre 9 e 10 anos
foi encontrada no sítio da gruta ,
do Gentio, em Unaí, também em
Estima-se que a gruta começo Minas.
u a ser habitada há cerca de 10
250 anos.

ARTE RUPESTRE
São pin turas nas roc has. geralme
nte monocromáticas. feitas com
pigmentos à base de gordura anim
al ou vegetal. Segundo a Fundaçã
Museu do Homem Americano, há o
260 sítios arqueológicos com arte
rupestre na serra da Capivara -
alguns com idade esti mada em
anos. Omaior conjunto de grav 60 mil
uras em pedra do Brasil, no enta
está na Ilha do Campeche. em San nto,
ta Catarina: 167 símbolos gravado
Ou tro monumento importante s.
é a Pedra do lngfi, na Paraíba-
paredão rochoso com 20 metros um
de comprimento por 3 metros de
altura, contendo inscrições que
os arqueólogos ainda não decifrar
am. ?i

O ('111010 &lllOI., fOTO


S~
s exploradores de hoje são

O bem diferentes daqueles que


escreveram a história da ar -
queologia até a 1• metade
do século 20. Agora eles têm outro foco.
Em vez ele poderosos governantes, cida-
Ao facilitar a troca de informaçõe s
entre especialistas, a internet está
revolucionando a nova arqueologia.
des perdidas, tesouros mesopotâmicos alguns artefatos que, antes, eram consi - pinturas, embora estivessem num sítio
e tumbas faraônicas, estão bem mais derados de pouco interesse. É o caso dos genuinamente egípcio, eram idênticas
preocupados com o estudo do dia - a - dia, grafites de várias cidades romanas, como às encon tradas na ilha de Greta, feitas
do cotidiano de grandes civilizações da Pompéia. "Eles tratam dos sentimentos por outra civilização. Estava provado
Antiguidade. É claro que descobertas da população, n a forma de poemas, de- que, além de manter relações comerciais,
extraordinárias ainda acontecem, e com senhos e até piadas, revelando romanos antigas civilizações ta mbém trocavam
uma freqüência como n unca se viu (leia muito diferentes daque les que encon- influências culturais c artísticas.
ma.is no mapa dali págs. 44 e 45}. Mas ra- tramos na literatura erudita", diz Pedro Se a arqueologia nunca fez tantas des
ramente elas vêm acompanhadas de uma Paulo Funari, professor de arqueologia cobertas quanto nos Ll ltimos 50 anos, ela
múmia cercada por objetos de ouro. e coordenador do .:-Júcleo de Estudos certam en te deve esse fato, em boa parte,
"A arqueologia tende a se ver m ais co- Estratégicos da Universidade de Campi à tecnologia que foi sendo transformada
mo uma ciência social, para a qual pai á- nas (Unicamp), em São Paulo. "Por m eio em instrumento de trabalho nesse mes-
cios ou tesouros muitas vezes são menos desses grafites, o quadro da cu ltma roma mo p eríodo. Hoje, os arqueólogos con
importan tes do que as questões que eles na se tornou mais amplo e variado." tam com recursos que rloward Carter - o
p ode m responder" , diz Roger 13agnall, descobridor da tumba de 'l\.1tancâmon.
o dire tor do Instituto para o Estudo do CONCEITOS SUPERADOS em 1922 - não imaginaria nem em seus
Mundo Antigo da Univers idade de Nova A nova arqueologia acabou derrubando sonhos mais desvairados. Mapeamento
York, nos EUA. O britânico Robin Boast, velhos conceitos, como o de que os povos de escavações com imagens de satélite,
curador do Museu de Arqueologia e An da Antiguidade se mantiveram isolados radiografia de artefatos arqueológicos
tropologia da Universidade de Cambrid - a maior parte de sua história e só entra e tomografia computadorizada de múmias
ge, na Inglaterra, concorda: "Mais parao ram em contato uns com outros no campo são apenas alguns exemplos. A ferramen-
fim elo século 20, houve uma grande mu- de batalha. Em 1990, uma descoberta de ta tecnológica que m ais tem facilitado o
dança ele interesse, que migrou de 'civili- Ma nfrecl Beitak, professor do Instituto avanço da ciência, porém , é mais corri -
zações' para 'culturas' e 'sociedades"'. Austríaco de Arqueologia, fez desmoro- queira: a inte rnet. "Ela abriu um canal
Esse novo olhar lançado sobre o pas- nar o que restava dessa teoria. Escavan - de comunicação e colaboração en tre as
sado ampliou o horizon te da arqueologia do grandes murais em TeU El Da'ba, no diversas comunidades de especialistas",
e transformou em achados imp ortantes delta do Nilo, ele percebeu que aquelas d iz o arqueólogo Robin Boast. ?i

Tomografia
de uma
múmia
inca com
mais de
5 mil anos:
recurso
que os
exploradores
do passado
não tinham.
Novas datações por radiocarbono feitas
em artefatos da cultura Clóvis(foto). que
habitou a América do Norte na Pré-História,
indicam que ela não é tão antiga e durou
menos do que se imaginava (mois no p6g. 36).

mi.l!l
OBSERVATÓRIO SOLAR
DE CHANKILLO
Arqueólogos descobriram que as torres
de Chan~illo (foto}, na verdade, são um
observatório solar construído por volta
de 300 a.C. As pedras correspondem ao
movimento do Sol ao longo do ano.

mlt!l
SEMENTESDEABÓBORA
NUMA SEPULTURA
Adescoberta. ocorrida no vale Nanchoc,
provou que a agricultura começou
a ser praticada nas Américas pouco
tempo depOIS de ter surgtdo na Europa.
As sementes têm cerca de 10 mil anos.

1!:11!1
OSSO DE GALJNHA POLIN~SIA
A análise do ONA de um osso de galinha
encontrado em El Arena! mostrou que a ave
vtveu ali entre 1321 e 1407- muito antes da
chegada dos primeiros europeus. Ela pode
ter stdo levada para o Chile por polinésios.
~ i~~;~~~~ um arqueólogo do Museu Britânico
descobriu, entre 100 mil artefatos com
escrita cuneiforme não decifrados(foto),
referência ao personagem Nebo-Sarsellim-
aos cuidados de quem, segundo aBfblia,
o profeta Jeremias teria sidoconfiado.

ema
CENTRO URBANO
OETELLBRAK
Foram encontradas evidências de que
Te li Brall, no norte da Síria, já era um centro
urbano há 6 mil anos. Nesse mesmo período,
surgiram as primeiras cidades de que se
tinha notícia, no sul da Mesopotâmia.

COMPLEXO CERIMONIAL
OE LISMULLIN
Durante a construção de uma estrada em
Lismullin, nas proximidades do monte Tara,
descobriu-se um complexo cerimonial
da Idade do Ferro, com 2 mil anos de idade.
Olugar foi batizado de Lismullin Henge.

limmtl
HDMD HAB/L/5
EHDMD ERECTUS
A datação dos ossos de um Homa habilis
(fato) e de um Hama erectus encontrados
na África constatou idades muito próximas
para as duas ossadas. As espécies teriam
convivido por cerca de 500 mil anos.

lí(JW!•Jtl
COLAPSODAGRANDEANGKOR
Arqueólogos encontraram indícios de que
A primeira expedição arqueológica da a antiga capital do Império Khmer (foto),
história a investigar chimpanzés encontrou que floresceu no Sudeste Asiático entre
instrumentos de pedra, parecidos com os séculos g e15, pode ter desaparecido
martelos, usados por esses animais na por causa da pressão ambiental causada
África há aproximadamente4 300 anos. pela superpopulação e pelo desmatamento.
os próximos 50 anos, a ar

N
TEMPOS MODERNOS
queologia fará poucos acha-

Um futuro
dos espetaculosos, do tipo
"grandes tesouros" ou "cida-
des perdidas". Em compensação, dizem
os especialistas, as descobertas verdadei
ramente espetaculares - daquelas com

brilhante potencial para reescrever capítulos in te i-


ros dos livros de história - serão muitas.
E continuarão acontecendo num ritmo
acelerado, como nas últimas 5 décadas.

pela frente
Os arqueólogos, segundo eles mesmos,
nunca tiveram tantos recursos e tanras
informações à disposição. Respostas para
muitos mistérios da Antiguidade fatal
mente serão enconrradas. Mas elas virão
do estudo de artefatos bem menos glamo
rosos que um sarcófago de ouro maciço.
Catalho~üR, na Turquia, está entre os sítios Um dos sítios arqueológicos mais
mais promissores do mundo - berço de uma promissores é o de Çatalhõyük, na Tur-
quia. Descoberto no fim dos anos 50, ele
cultura bastante avançada da Pré-História. é o maior e mais bem preservado sítio
TEXTO JOS~ S~RGIO OSSE Neolítico do mundo. Seus extratos mais

46 GRANDES MISTÉRIOS OA ARQUEOLOGIA


antigos datam de 7500 a. C. As escavações Para o britânico Robin Boast, professor As escavações
ficaram famosas ainda na década de 1960, da Universidade de Cambridge, na Ingla-
quando começaram a revelar belas pintu- terra, a mudança de foco experimentada 'ficaram famosas
rasem paredes e outras várias expressões pela arqueologia nas últimas décadas - ainda na década
artísticas. Em 1993, uma equipe in terna do gra ndioso para o corriqueiro - teve
cional de arqueólogos liderada pelo bri- um efeito colateral: a aplicação prática de1960,quando
tânico Ian I Iodder - deu in fcio a novos do conhecimento gerado nas escavações.
trabalhos. E está lá até hoje, descobrindo Teorias sobre o colapso da civilização
começaram a
que aquela região da Turquia, chamada egípcia, por exemplo, relacionando sua revelar pinturas
Anatólia, foi o centro de uma cultura bas decadência ao impacto ambiental que ela
tante avançada da Pré História. representava, já nos ajudam a calcular os de 7500 a.C.
"O trabalho em Çatalhõyük ajudará a efeitos da superpopulação e da ocupação
estudar os primeiros passos da civilização desordenada num determinado espaço. tra e documenta sinais dos antepassados
no Velho Mundo", di7 Pedro Paulo Funari, Outro exemplo é o trabalho conduzido desses povos. A intenção é mapear a área
professor de arqueologia da Universidade pelo arqueólogo Graeme Barker, também ocupada por eles no passado e provar que
de Campinas (Unicamp), em São Paulo. da Universidade de Cambridge, com du- os tenan e os kelabit são os legítimos do-
"As escavações que estão sendo feitas na as comunidades da Malásia: os coletores nos daquelas terras- sob constante pres-
Turquia não são uma simples coleta de ar- caçadores tenan e os plantadores de arroz são de madeireiras e mineradoras. "Não
tefatos arqueológicos com o objetivo de kelabit. Os dois povos habitam as flores há mensagens simples quando elas vêm
documentar a antiga cidade, mas um le- tas de planalto da região de Sarawak, no do passado". diz Barker. ":\tfas enten-
vantamento do cotidiano das pessoas que pedaço malaio da ilha de Bornéu. Junto der a complexidade dessas mensagens é
um dia habitaram o local e, com o tempo, com outros arqueólogos, ambientalistas fundamental para os atuais debates sobre
deram origem a outras civilizações." e antropólogos, Barker procura, encon a sustentabilidade presente e futura." 1-

C f{)TOS REPRODUÇÃO. 1 COROIS/IJ\TINSTOCK GRANDES MI STÉRIOS DA ARQUEOLOG IA 47


de Atlântida
Arqueólogos já não perdem tempo com a lenda do continente perdido.
Estão bem mais interessados em ruínas de cidades que hoje estão
debaixo d'água, naufrágios históricos e cavernas alagadas. rExw MARIANAsGARJoNJ

or mais que seu "escritório" se- queólogo trabalha como qualquer outro, lho desses profissionais da arqueologia

P ja uma imensidão azul, os ar


queólogos subaquáticos pas-
sam boa parte do tempo em
situações extremamente claustrofóbi-
cas. Quando não estão se esgueirando nos
usando os mesmos conceitos e procedi
mentos adotados fora d'água. Com uma
diferença: é preciso saber mergulhar.
Graças a essa fachada aventureira, ar
queólogos subaquáticos freqüentemcn
é outro: entender e preservar os incríveis
sítios submersos que foram localizados
nas últimas 5 ou 6 décadas. Eles já não
se preocupam com a busca pelo mítico
continente de Atlãntida nem se dedi-
destroços de um naufrágio, estão mer- te são confundidos com caçadores de cam apenas à exploração de naufrágios.
gulhando numa caverna ou ficam horas tesouros, piratas modernos que ganham Na verdade, quase sempre dão apoio às
literalmente enlatados em algum tipo a vida encontrando galeões naufragados pesquisas levadas a cabo pelos colegas em
de veículo submersível. Parecem coisas e vendendo tudo que conseguem retirar terra firme. Exemplo: o carregamento de
de aventureiro, não é verdade? Mas são deles. Para sorte do patrimônio históri ânforas de um naufrágio fenício, ao ser
"apenas" pesquisas cien 1fficas . Esse ar- co da humanidade, no entanto, o traba descoberto no Mediterrâneo, pode ajudá-

48 GRANDES MI STéRIOS OA ARQUEOLOGIA


Na hora de resgatar um artefato, todo
cuidado é pouco. Ele pode simplesmente
se desintegrar ao ser retirado da água.
Quem deu o pontapé inicial no dcscn
volvimcnto de equipamentos para a ar
queologia subaquática foi o oceanógrafo
francês .l acquesCousteau, eml943, quan
do desenvolveu, com o engenheiro Emi -
le Gagnan, a aparelhagem de respiração
a partir do ar comprimido contido num
<.:ilindro. O Aqua -Lung (pulmão aquáli
co), como foi batizado, permitiu aos ar
queólogos investigar bem ele perto o que
antes eles só podiam imaginar. Desde en
tão, cientistas vêm desenvolvendo as mais
variadas técnicas para descer cada vez
mais fundo. Hoje, há equipamentos que
permitem investigações arqueológicas
a mais ele 6 mil metros de profundidade,
como os desenvolvidos pelo Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos
EUA. O Departamento de Pesquisas de
Arqueologia em Águas Profundas daquela
instituição espe<.:ializou se em inventar
sensores, câmeras e robôs que levam a
ciência a lugares onde a pressão é morta I
los a descobrir rotas comerciais da Anti e o homem jamais chegaria.
guidadesobre as quais não se tinha notfcia. Um elos achados arqueológicos mais
Os dois ramos da ciência trabalham juntos importantes dos últimos tempos foi fei
um no se<.:o, o outro dentro d'água. to justamente com a ajuda de um desses
aparelhos. No mar Negro, fotos c vídeos
DE COUSTEAU AO TITANIC trouxeram à tona vestígios de presença
Se por um lado o ambiente subaquático humana há mais ele 7 mil anos (veja o mapa
oferece riscos e impõe uma série de li das págs. 50 e SI). Quem estava à frente da
mites, por outro ele costuma ser garantia expedição era o oceanógrafo americano
de descobertas espetaculares. A ausência Robert Ballard, que, em 1985, tornou se
do ar, temperaturas mais baixas c pouca mundialmente conheddo por encontrar
ou nenhuma luz natural são fatores que o naufrágio Titanic no Atlânti<.:o Norte.
colaboram para a preservação de muitos Para ele, a grande descoberta, quando
artefatos. Em compensação. é preciso ter acontece, tem o efeito de um nocaute.
extremo cuidado na hora de retirá los da "É como levar dois socos em seguida, algo
água. Submersos há dezenas, centenas meio esquizofrênico", diz o explorador.
ou milhares de anos, alguns deles podem "No caso do Titanic, esse segundo soco
simplesmente se desintegrar ao ser remo- veio no momento em que vi todos aque-
vidos. A coleta pode ser feita pelos pró les sapatos espalhados pelo interior do
prios arqueólogos, manualmente, ou com navio. Os corpos se vão, mas os sapatos
a ajuda de equipamentos de última gera - continuam inteiros. Até em naufrágios
ção, como computadores de visualização romanos ainda é possível ver sandálias.
e robôs comandados a dislânda. São imagens emocionantes." ?;

C FRAtlCK GOOOIO/ BILTI FOliNOATION: I CI!RISTOPII OEAIOK E 3 JEROMEDELAFOSSE GRANDES MISTÉR IOS DA ARQU EOLOGIA 49
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
Descoberta em 1955 por Henri Cosquer. ela abriga

Tesouros dezenas de pinturas- as mais antigas com cerca


de 27 mil anos de idade. A entrada da caverna fica
a 35 metros de profundidade. Na época em que

submersos os desenhos foram feitos, o nível dos oceanos


era bem mais baixo, algo entre 110 e 120 metros.

De cidades egípcias engoli das pelo


mar a um submarino da 2ª Guerra,
melhores lugares do mundo para
ulhar em busca de história.

Oesaparec1do em 1718. o navio do lendário p1rata


Barba Negra foi encontrado em 1996 por uma
equipe de arqueólogos montada pela empresa
privada lntersal. Entre os artefatos recuperados
estão um canhão, balas de 241ibras, um sino de
bronze e cerca de 16 mil armas de pequeno porte.

As cavernas alagadas do México formaram um


sistema de rios subterrâneos, usado como fonte
de água potável pelos maias. Nelas, arqueólogos
subaquáticos já encontraram ossadas humanas
e ferrament as, que ajudaram a reconstituir
o estilo de vida dos antigos habitantes da região.

Ogaleão espanhol afundou em 1622, vítima Durante a 2~ Guerra Mundial, uma força-tarefa
de um furacão. Estava carregado de ouro, prata, aliada afundou o submarino japonês 1-52, cuja
tabaco e índigo. Em 1986, o caçador de tesouros carga incluía 2,2 toneladas de ouro. Em 1995, o
americano Mel F1sher localizou-o, a17 metros americano Paul Tidwell encontrou os destroços
de profundidade. A maior parte da carga foi da embarcação, a 5 240 metros. Parte do ouro foi
a leilão- rendendo a Fisher US$ 400 milhões. recuperada, além de ópio e material radioativo.
Descoberta em 1986 no Japão, o monument o está
em águas rasas, a 32 metros de profundidade.
Astmetna das hnhas e a abundância de ângulosna
estrutura sugerem que ela foi esculpida - t alvez
há 10 mil anos. Para os céticos, no entanto, t rata-
se de uma surpreendente obra da natureza.

Turquia, Síria, Líbano e Israel concent ram


milhares de naufrágios antigos. especialmente
fenícios. Em 1999, o americano Bob Ballard
encontrou dois navios que f oram a pique por
volta de 750 a.C. Acarga - vinho em ânforas de
cerâmica - tinha o Egito como provável destino.

Éconsiderado um caldeirão arqueológico.


Expedições lideradas pelo americano Bob Ballard
a partir de 1999 tentaram localizar os destroços
da arca de Noé. Nenhum sinal do personagem
bíblico foi encontrado. Em compensação, vi eram
à tona artefatos arqueológicos com 7mil anos.

As ctdades foram engolidas pela água no século Uma das 7maravilhas da Antiguidade, era
8 a.C .. depois de uma acomodação tectônica que um edifício monumental, com 100 metros de
elevou o nível do mar. As escavações, lideradas altura. No ano 365, t erremotos derrubaram
pelo francês FranR Goddio, começaram em seu andar superior. Eoutro tremor, no século
1991 eJá revelaram centenas de artefatos 14, levou abaixo o que restava. As ruínas foram
arqueológicos- alguns com 3 mil anos de idade. encontradas em 1961. pelo egípcio Abu ei-Saadat.
Na mão leve
Boa parte das principais coleções de arqueologia do mundo foi pilhada
quando Inglaterra, França e Alemanha dominavam o mundo. rEXm EouARooszKLARZ

m magnífico altar de má r mo Outros museus europeus não ficam de fogo para saquear o patrimônio ar-

U re dedicado a Zeus, erigido


no século 2 a.C. em Pérgamo
(atua l ~ergama, m1 Turqu ia),
surpreende logo na entrada quem visita o
Pergamon. i\ enorme estrULura foi esca
atrás. :"Jo Louvre, em Paris, c no .Museu
Bri tân ico, em Londres, as t:ole<;ões anti-
gas são Lã o sensacionais que Lemos a im
pressão de estar no Egito dos faraós ou na
Acrópole de Atenas. Tudo isso seria mes-
queológico das zonas ocupadas c rechear
o acervo ele suas inslitu ições culturais.

PILHAGENS E ESPOLIOS
O general francês :\'apoleão Bonaparle era
vada no fim do século 19 pelo arqueólogo mo fantástico, não fosse por um pequeno um mestre da pilhagem. Tanto que serviu
Carlllumann, enviada aos pedaços para detalhe: boa parte desse acervo foi parar de exemplo para os saqueadores nazistas
a Alemanha e reconstruída no museu de lá na base da pilhagem. Inglaterra, França no século 20. Em 1798, quando marchou
Berlim t:om absoluta precisão, como se e Alemanha, as potências coloniais dos com suas tropas pelo Egito, Napoleão le-
aquele fosse o seu lugar de origem. séculos 19 e 20, aproveitaram seu poder vou um grupo de eruditos para estudar

56 GRA NDES MISTIÔRIOS OAARQUEOLOGIA


os tesouros escondidos no deserto. "Mais De fato, com a vitória da Inglaterra so
de 150 astrônomos, botânicos, engenhei - bre a França no início do século 19, várias
ros e artistas acompanharam as tropas", obras piJ ha das pelos franceses foram pa-
escreve a americana Nina Burleigh no H- rar no .Museu Britânico. Uma delas é a Pe-
vro Mirage: Napoleon 's Scientists and the dra de Roseta, um bloco de granito negro
Unveiling of Egypt ("Miragem: Cientis- de 760 quilos com wn texto gravado em
tas de Napoleão e a Revelação do Egito", 3 tipos de escrita: egípcio clemótico, grego
sem tradução para o português). Entre os clássico e hieroglifos egípcios (leia mais
cientistas de Napoleão estava Dominique na reportagem da pág. 16). Como o grego
Vivant, futuro diretor do Louvre. era bem conhecido, a pedra serviu como
"Hoje, se o visitante gastar apenas um uma chave para decifrar os hieroglifos.
minuto em cada peça da seção de arte Mas trouxe também um problema: quan-
egípcia do Louvre, vai precisar de 10 dias to maior o conhecimento ocidental sobre
para ver tudo", diz o egiptólogo francês as civilizações antigas, maior se tornou a
Claude Rilly. Claro que nem todo o acervo caça aos seus artefatos.
é fruto ele pilhagem. Boa parte foi recebida Que o diga lorde Elgin, embaixador bri
em doação ou comprada. Em sua página tânico em Constantinopla. Ele mandou
da internet, o Louvre informa que a cria - remover centenas de rcl(quias de Atenas
ção de seu departamento egípcio não foi e despachou-as de navio para Londres.
conseqüência direta da expedição napo- O conjunto englobava quase metade do
leônica. "Os ingleses confiscaram, como friso original do Parthenon, 15 das 92 mé-
Altar dedicado a Zeus,
espólio de guerra, as antiguidades coleta- topas (painéis esculpidos) e 17 figuras em no Museu Pergamon, e
das por acadêmicos durante a viagem." tamanho natural (os Mármores de Elgin). vaso egípcio do Louvre.

O fOTOS REPROOUÇI\0 GRAND ES M ISTtRIOS DA ARQUEOLOG IA 57


·-
Relíquias arqueológicas
espalhadas pelos acervos do
Louvre e do Museu Britânico:
hoje, vários países exigem
o repatriamento de artefatos.

58 GRANDES MISTtRIOS DA ARQUEOLOGIA


a:.~istas são personagens cen-

N
Parece loucura, e foi mesmo: os pesqui cidades, a escrita, belas obras de arte.. .
trais no 1'' e no 3" filmes da sadores de Hitler escavaram o norte da Tudo parecia vir da Ásia, a milhares de
série de cinema Indiana .fo- Alemanha, saquearam museus na Polô quilômetros dos bosques gelados do norte
nes. A bordo ele aviões, bar n ia, analisaram inscrições r upestres da europeu. E o füh rer precisava convencer
cose motocicletas, eles disputam com o Suécia, vasculharam covas paleolíticas o povo alemão de que essa antiga civili-
intrépido arqueólogo a busca pela arca da na França, visitaram templos no lraque zação de fato existira.
Aliança e o santo graa l. Na verdade, es- e mosteiros nas alturas do Himalaia. Mas Quem encontrou a solução para o dite
sas histórias não são to ta Lmente fictfcias. afinal: o que eles descobriram'? ma do führer foi Heimich Himmler, chefe
Nos anos 30 e 40, llitler enviou arqueólo da truculenta organização paramilitar SS
gos para vasculhar sítios na Eu ropa, Asia O PLANO (Schutzstaffel, ou "Esquadrão de Defe-
e Oriente Médio. O objetivo era coletar Adolf Hitler tinha obsessão pela idéia de sa"). Fiel a Hitler e metido a intelectual,
evidências de que suas terras haviam si- raça. Em sua própria visão da h istória e Himmler criou em 1935 o Ahnenerbe,
do ocupadas, há milênios, por uma raça da Pré-História, ele dizia que os arianos um instituto de pesquisa que produzia
de guerreiros esbeltos, loiros e ele olhos eram os únicos "criadores da cultura" c provas arqueológicas com fins políticos.
azuis: os arianos. Para o fUhrer, essa era ansiava por recriar aquela poderosa ci Seu nome vinha de um termo alemão que
a origem elo povo germânico. Só faltava a vilização. Já as "raças inferiores". como significa "herança ancestral".
arqueologia encontrar as provas. os judeus, deveriam ser eliminadas. Só "O Ahnenerbe recrutou arqueólogos,
Ao rastrear esses supostos antepassa havia um problema: os cientistas não paleontólogos, historiadores, botânicos e
dos, o 3" Reich poderia justificar a expan- tinham encontrado nenhuma prova da outros especialistas com uma dupla mis
são por seus antigos domínios, povoá los tal raça que supostamente acendera a to são: desenterrar evidências dos ancestrais
e perpetuar sua linhagem sobre a Terra. cha do progresso humano. As primeiras dos alemães e transmiti-las à opinião
pública em livros, artigos e congressos considerados de segunda classe", diz a suspeita. Como não acharam a evidência,
científicos", diz a jornalista canadense arqueóloga Bettina Arnold, ela Universi eles decidiram fabricá la: o arqueólogo
lleather Pringle, especialis ta no assun- dade de Wisconsin, nos EUA. "A ascensão Julius Andrce anunciou ter encontrado
to e autora elo liv ro The Master Plan ("O elo nazismo gerou uma grande mudança: uma cerâmica germânica ali. "Investiga-
Plano Mestre", sem tradução no Brasil). pela primeira vez, havia dinheiro do Es- çõcs posteriores mostraram que a ocupa-
"Na realidade, essa organização se dedi tado para financiar pesquisas não apenas ção do local datava da Idade Média. Por
cava à criação ele mitos. A tare fa de seus em zonas de língua alemã mas em luga- isso, a cerâmica ele Andree deve ter sido
prestigiosos pesquisadores era distorcer res que o governo queria ocupar, como tirada de outro lugar", diz Bettina. Frau-
a verdade e criar provas para respaldar as a Polônia. " Portanto, os arqueólogos ele des como essa geraram uma enorme con-
idéias raciais de llitler. " Himmler andavam numa corda bamba trovérsia entre os arqueólogos sérios da
Mas o que teria motivado essa turma entre o que ele queria que dissessem e o Alemanha, que temiam pela reputação do
ele cientistas a fazer isso? Depende. Al - que realmente descobriam. "A pergun - país. Mas, com a crescente repressão do
guns in tegrantes do Ahnenerbe eram ta não é o que os arqueólogos buscavam, Estado, eles liveran1 de se calar.
ultranacionalistas, outros, racistas de- e sim o que o Estado estava interessado
clarados. Também havia quem desejasse em encontrar. Ou seja: apenas coisas que AS EXPEDIC:0ES
apenas subir na carreira, pegando carona fossem úteis a ele", diz Bettina. A primeira expedição do Almenerbe par
na megalomania nazista. "Antes de 1933, Foi o caso da região de Externsteine, tiu em 1936 rumo ao povoado sueco de
quando Adolf Hitler chegou ao poder, os no norte da Alemanha, considerada um Bohuslan, que abrigava 5 mil peças de ar
principais arqueólogos alemães pesqui santuário de antigas tribos germânicas. te rupestre talhadas em granito na Idade
savam Grécia e Roma. Os que se inte Nos anos 30, os nazistas financiaram es- do Bronze. O líder da missão, Herman
rcssavam pela pré história alemã eram cavações ali, esperando confirmar essa Wirth, concluiu que as inscrições for -
Braço direito mavam um antigo texto sagrado nórdi- famosa por seus rituais de bruxaria. Gro
co. Wirth seguiu para a jazida de Backa, nhagen passou semanas em cabanas de
de Adolf Hitler, na Suécia, onde tirou moldes de algumas madeira gravando cantos mágicos dos
Himmler achava rochas desenhadas com círculos. Para ele,
eram símbolos de origem germânica li-
anciões, que, segundo ele, continham
elementos do idioma original ariano.
que o martelo gados ao Sol. Depois, foi de barco para
Rodoya, uma ilha gelad a bem ao sul do PACIENTE PSIQUIÁTRICO
de Thor era uma Artico. Ali, estudou a pintura de uma Ii- "Heinrich Himmlcr ficou absolutamenle
peça sofisticada gura humana usando esquis e julgou ser fascinado com os relatórios de Gronha
outra "pista" deixada pelos arianos. gen. Estava convencido de que as Eddas
de engenharia Segundo Heather, a empreitada durou - textos da mitologia nórdica - repre
elétrica feita dois meses, custou 12 590 marcos do Rei-
ch (aproximadamente R$150 mil em di-
sentavam uma verdade literal e que o
martelo do deus Thor era uma sofisticada
pelos arianos. nheiro atual) e marcou a linha de conduta peça de engenharia elétrica, feita pelos
para as missões seguintes: era preciso ser arianos para vencer seus inimigos", diz
discreto e amável com as auloridades lo- 1Ieather. O consultor de Himmler para
cais, para ter acesso aos sítios, e nunca tradições nórdicas era Karl- Maria Wili-
revelar o real objetivo da viagem. gut, um ex -coronel austríaco que posava
Em 1936, o líder das SS mandou o eru- de místico do 3° Reich e se dizia descen-
dito finlandês Yrjo von Gronhagen para a dente direto de Thor. Detalhe: Wiligut
Carélia, uma terra remota da Finlândia, havia sido paciente psiquiátrico.
Em 1937, outra notícia impressionou da, lutado com o homem ele Neandertal, Fotografaram 2 mil tibetanos, mediram
os nazistas. Escavando em grutas de causando sua extinção há cerca de 30m il 376 deles e tiraram moldes de 17 rostos.
Mauern, na região ela Baviera, o alemão anos. O fato é que o Neandertal realmente Em seu relatório, anotaram os traços nór-
R. R. Schmidt encontrou um leito terro conviveu com o Cro-Magnon e, depois, dicos daquele pessoal: "rosto estreito, na
so tingido por um mineral de tona lidade desapareceu. Mas até hoje ninguém sa riz proeminente, cabelo liso e a percepção
ocre. Sobre o leito, jazia o esqueleto de be o motivo . E não há provas ela suposta de si mesmos como dominantes" .
um mamute, em boas condições ele con- relação com os nórdicos. Os nazistas também p lanejaram ir à
servação e coberto com armas e ferra- Bolívia, ao Irã, à Islândia e às ilhas Caná-
mentas de pedra. O animal deve ter feito SABICHtiES DO 311 REICH rias, mas o plano virou pó com o colap
parte do ritual de um antepassado nosso, Os nazistas também vasculharam o soda Alemanha na 2" Guerra. " Em 1944,
o homem de Cro Magnon um dos po- Oriente 1\:!édio, em 1938, com a expedi Himmler ordenou ao Estado- Maior que
vos mais antigos conhecidos na Europa , ção do historiador Franz Allheim e sua estudasse uma forma ele construir uma
que viveu há mais de 40 mil anos e usava amante, a fotógrafa Erika Trautmann. versão moderna do martelo de Thor:
ocre em suas pinturas. A descoberta não No Iraque, eles analisaram as ruínas de uma gigantesca arma elétrica capaz de
tinha nenhuma relevância extrordiná Ctesilonte, antiga capital dos reis persas inutilizar os sistemas elétricos dos Alia-
ria, mas causou frisson entre os racistas - que os sabichões do 3° Reich conside dos, desde os radares até o arranque dos
alemães. Um deles, o eugenista e inte ravarn nórdicos. Mais longe ainda foram tanques", diz Heather. Foi seu último de
grante do partido nazista llans Friedrich Ernst Schafer e Bruno Beger, especialistas vaneio. Meses depois, llitler e Himmler se
Karl Gunther, declarou que os nórdicos em estudos raciais das SS. Eles viajaram suicidaram, a Alemanha perdeu a guerra e
descendiam de uma "raça Cro Magnon" até o Tibete para rastrear uma suposta a arqueologia nazista virou mais um capí
especial, que teria convivido e, em segui- conquista ariana da região do Himalaia. tu lo na história da loucura humana. 11
..

VIDA REAL

Indiana Jones existe?


Há semelhanças entre o personagem e alguns exploradores
de hoje e de ontem. A revista americanaArchaeology aponta
8 aventureiros que podem ser o verdadeiro lnd!::J. rEx lo MAuRrc•oMANoeL

NELSNELSDN SVLVANUS MORLEV 111t.IIUS BIRD FllANK HIBBEN


- ...
Era respeitado pela
,;) ..J
Foi um dos maiores Sabia tudo sobre os povos Além de arqueólogo,
capacidade intelectual especialistas do mundo mais antigos do Ocidente era um exímio caçador.
epor sua cons1stente em civilização maia. e fez grandes descobertas Serviu na Marinha dos
produção teórica. liderou Comandou escavações no Ch1le e no Peru. EUA durante a 2a Guerra
grandes escavações em Chichén ltzá, no Chegava a certos sít1os Mundial e dedicou-se a
na Mongólia, na Espanha México, e trabalhou como arqueológiCOs de barco vános sítios arqueológicos
e nos EUA. Einspirou espião para os EUA durante ou ao volante de um velho na Áfnca depois de
uma legião de jovens a 1a Guerra, monitorando Ford T. Eusava sempre dar baixa. Suspeita-se
arqueólogos na primeira as atividades de alemães um chapéu, no melhor que Hibben tenha sido
metade do século 20. na América Central. estilo "doutor Jones". colaborador da CIA.
................. ........ ..........
_. ~._ ..............................

ROBEilT rARNEIRO GEOFF E~RERltNG CONSTANZA rFRIITI SCOTIVMOORE


192 6 J7 )
Este etnógrafo é um Escavou no Oriente Médio Éarqueóloga de grandes Éo apresentador
dos mais importantes por quase 20 anos e altitudes e ganha a vida do programa Bone
evolucionistas sociais da foi diretor do campo escalando nos Andes, Oetectives ('Detetives
atualidade, reverenciado de Tell Brall, no lraque, à procura de sítios de Ossos"). do Discovery
por sua teoria sobre a onde ficam as ruínas cerimoniais dos incas. Channel. Trabalhou em
origem dos Estados. Mas de uma dascidades Em 1999, ela encontrou escavações do Arizona à
gosta mesmo é de estudar grandes mais antigas da 3 múmias no pico do vulcão Sibéria nos últimos anos.
as cabeças que índios da Mesopotâmia. Agora está Llullaillaco, Argentina, Veste-se como Indiana.
Amazônia costumavam no Sudão. investigando a 6736 metros- as mais Ese mete em tantas
encolher no passado. o antigo reino de Kush. bem preservadas da história. aventuras quanto o próprio.

66 GRANDES M ISTéRIOS DA ARQUEOLOG IA 0 ILUSTRIIÇOES MEinE DE OLIVEIRA. I 01\1\JI GAÇÂO E 2 1STOCKPHOTO

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