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eoiTORA . Abril
Fundoc!ot: VICTOR CIVTTA
(1907. 1990)
,..klentee Editor. Robeno Cl\ib CARTA DO EDITOR
Vice·~•• E•«trtivo: Jairo Mend~ !.rol
con~•lho EditO<iat Robeno Ci1i1a (l'mldcnlc).
lltotnar Soulo Correa f\~re·Presidcnle). Jos.! ltobcno Guuo
Diretor do Assinaturas: Femando Costa
Direto<• Gero! de Ptlbliddade: Thais Chcdc SoartS
Dlrotor Geral de Pubhudade Adjunto: ROgerio Gabriel Comprido
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OiretO<IMRHeAdmtnlsttaçJo:l>illla~ Mltllo
Diretora de Mídia Digitat F~biaoa Zarull Vá até a esquina, compre um despertador do primeiro ambulante
DiretO< de ,...,.,.monto e Controle: 1\uro Luas de lnsl que encontrar e enterre-o em seguida. Mil anos depois, voilá: ele será
o;retor• Superintend~ntto: Hdru Ha~l
Dfn:tora de Núc:teo: Brtnda Fuc.aS. um artefato arqueológico de extraordinário valor. Os R$ 5 que você
pagou terão se transformado em milhões. E os arqueólogos farão
descobertas fantásticas a partir de um objeto tão besta quanto um
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AtWimontotoi.Oitor,;\dl\ftnJ ~~O.~Sanloc~»Admlf'I"'"'Vv..:Catl:b despertador de camelô. Sim, porque ele pode "(alar" muita coisa
Coib C<>l•boror..,. N.,IA Edi(ÓO: l:dulrdo Um;o (tdl\llO). Aodrú Nl~)ll) I Im llindntiOI{(\11~10
dnan·), (;1(1\'.lni\A "'*'·IITII (d<'âi&J-ltt), , _ Nur.csiassi!IL'tllc.pt..."l!~). 1\t.t.dtldOJ s••ula\ (lt\IIIIIOI sobre a sociedade que o produziu. Da análise de suas engrenagens,
cn • UN lt Aldo M11ei.'OO (d"ll:(<'), r\ld•>Ttix-ciJn, R~.na S\u)(), Ruclalg.> l.nnt..').: l~trJirltt dJ \~IA;•
www.superinteressante.com.br sairiam conclusões sobre o quanto aquele povo dominava a e nge
Apolo fdltCMI-~tl tll.a Mr•llks. Car!()s Gtasselli Oepto._dt OcK. • Abfll Prt»: <.ihiC~ de Sou.t•l nharia mecânica. O estudo de suas ligas metálicas indica1ia ate que
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ponto ele evoluiu na metalurgia. E pela comparação com clesper
tadores encontrados em outros lugares do mundo, os arqueólogos
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O(GIOHA"Oomor'->--I'UBUOOADERIOOI'IAH (taO;o.-..... _ descobririam quais sociedades foram mais ou menos evoltudas.
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A-llmoio.!:-.Ddl.~-~twl) )IOo ........ llw.t.. A arqueo logia funciona assim, esbarrando o tempo todo com
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doO.U..._ "'-c- outros ramos da ciência, como a antropologia e a paleontologia.
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poUcia técnica da história. Eles chegam à "cena do crime" e en
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\'a'"'n· 1ll* Cof\wllor: Sn\MI'Ofll.-, fabio lnob~tlfr.ll Prote:Jsos: f\~lilnll \ 'ill.m ASSINATURAS
contram as provas. Com uma diferença fundamental: jamais dão o
Ol1t10r dt All'ndiMento e Relacionamento com o dltnt•: l·t•l'4ctl S M~jU•Ih.•t•· O~~bo'
dtAWtndlmentoao Cor»umidor: \l.akuw Galall."o;c
caso por encerrado. Ainda bem! Se não fosse assim, hoje estaria mo:.
[ MSAO PAUI,O: "l~(JO • ea--lf'oiiD!II~: :.,., d.!; t-l:ii.~t"S t,;nij;s, 7(21. 8' an:l!f. l'il l'lliiW, Cl 1>05~?!).. convencidos de que os antigos egípcios ajudaram os maias a erguer
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®11al2@ GioiiiiiH Sole P01~ 1.. 3JJI·~/l)J ESCRIIORIOS E RfPRIS!NTANlfS Ofi PU8LIC IO~O! suas pirâmides no México e na América Central. "Toda interpreta<,:ão
NO 8R.A$11 • (LIIIIlti.•SP:ret llliUG7-ôSE4 Bauu Grdloo r.t l·li.i R~·C!II~I XC.,$Co'IIO'CIMS, I (1 4J li'2~
rora lr'\\J onr.n~~,,~;~ll-,r.wl:t ll:l.n.:: Mh;•a~V:IO~ Be(m l~r t91i 3222 rJJJ. •·•~~• n·rl,,$-31.• do passado eleve ser provisória", escreve acerLad<lmcnLe o repórteJ
llcr~tl01 !WI Ctll tr lflO Hoii~OII1f: E'SCr".ol'IOiel {S!lJ2e2 033). 'U(31132!2·~'\? Fl"llf&llltu.r• r-~~~
11111 MMifln fA~C.• ror:sC:crS~~IICf•UMS~$lflllfdl..b118'4l 11W:,;ro..21~ ce II~I III II~Q •ar11il Reinaldo José Lopes no texto de introdução deste especial. E é jus
.,_c._....,,.,,. t11'tt "Milii.K ._, r..tr:n~:~nb;lnlll('IIJ3J'l138l0 '-'~nll29-6191 ••r;~l
.,. ~~1$11CJflll ~fSC~~rt.._ mf51t33~'!Q'!Mit.J~II)ll~~'l ....._,. tamente ar que está a graça da arqueologia .
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tan ttt< • • • c-....:a,..c,..c~*IZI-·tt~xtta"' :JPWI.l~tas Aqui não há muito espaço para Indiana Jones nem para lenda"> ou
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«-_. ·..-. c...M.; ~Co,-uc.Uk ~~t:~,~1U$_en' I.IJ>I'<O..tti'O.ni.#I ... OIIrlw.t crendices, como a tal história de extraterrestres ajudando a erguer
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\A.~P.olltto'MUSl tlt•f!Jm2-Kt7,~_4!'13232·11'!ít .-. ~ o&.W»r~IW
monumentos no Egito dos faraós. O que nos interessa e a arqueo
U l..uu..: M4zl:lUOl~ t,.._,,llflta&~~)Sl9rw.~~·ITJCIIft ......
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logia real, do passado e do presente. Nas próximas páginas, o que
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aJo. aJ -,On,.~t~*"-~~cnii~SC:II'tt ,_,.
não falta é aventura, descobertas extraordinárias. fotos incnveis e
AIIMI r......... CIIS321~bt(St)lW-ã!6 '-:e-...._ ~· ,..'f1$11""t:lJ•l< lústórias humanas inesquecíveis. Prepare se para uma viagem ao
to ~r._tlli:.aç.lo IJl ~WlSI)ll?E--S~~t~ t~t'I'I1I.UOMf Rltfl 'VIII"'!fo':.l~
f\t..o<AM •~<1••(11)xt>1·1SS}.t111~ r•~t~fl•lh'i~ cortr A•~'-tt;GMti))"ICllac..C».::'e~·
\1~ !<tcr.u-jy lllf (16)))11·302$ onR.;ntJ4h..~XIlllni~iaW'lt:r S~tAMI( AiiVt>. C:0 1'.tNI'iiPtt. <
passado mais remoto da humanidade, passando por todas as grandes
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1Jt 11'1! ~~~~~11111i~. it m)~ I H94.2 t11atlsa"!llltl~'la'fl:.l..r..Wm civilizações que deixaram suas marcas pelo mundo.
P'UiliCAÇOf$ DA COlTORA AB~ll: 'hja: \\:ia. \q_.. São f'llul11. ~ 1,1111 \\"'IJ&,:l111w.l' NU·
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NU(Ioto (Otnpot'\WN'tltO: I,J.tud•~ f.l011.., NO\o-a NVtleo Jovem; Al•na•Wo~>~" A~d 1\\~ltn"" "'
Eduardo Lima
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6
• ,,.n Xn
Grandes mistérios, esclarecidos ou não.
r. [:\DORES OA
22 RCA
Os maiores exploradores de todos os tempos.
56 EUS
Grandes coleções criadas na base da mão leve.
60 J
O GH!VIMAGES
De volta para
o passado
(mas de olho no futuro)
Embora ainda deva muitas respostas, a arqueologia
tirou a humanidade da ignorância sobre si mesma.
Liquidou algumas dúvidas existenciais. E ainda está
ajudando a garantir nossa sobrevivência no planeta.
1lX10 REINALDO JOS~ LOPES
' ' Aarqueologia é a busc:J por r::uos, para o nosso próprio futuro como espé clíos. Mas nenhum m·quecílogo qul: se dê
não !)ela verdade. Se é a verda- cie. Futuro? Pode apostar: a arqueologia ao rcspeiiO, hoje em clia, pensa em achar
de que vocês procuram, podem moderna está revelando por que algumas a arca de Noé ou se apoderar do graal.
assisl ir à aula de filosofia do dr. sociedades humanas sobreviveram c se A explicação é muito simples: esses
Tyree, do outro lado elo saguão." Quem expandiram, enqua11to outras entraram misterios fascinanles so existem porque
cUsse isso foi o mais famoso arque6logo em colapso; quais eseolhas históricas si'io surgil'am como ficção "inspirad<Jem falos
de todos os tempos, Indiana Joncs, fa lan - sábias e quais podem nos levar para o bu reais" as vetes nem isso. Pode se d izer,
do aos seus alunos no 3" filme da série - raco. Se quisermos sobreviver aos próx! por exemplo. que os espanhóis acharam
i\ Ultima Cruzc~ela. A frase é ótima, princi mos séculos, é bom prestar atenção. o Eldorado no século 16: era o Império
pai mente porque expôe um lado da pes- Inca, que realmente guardava riquezas
quisa arqueológic.:a c.:om o qual as pessoas FAlUSREAIS fabulosas c cuja fam:J. ao ser transmiti
não estão ac.:osturnadas: toda interpreta- Se o velho Indiana mandou bem no ser da via ''telefone sem fio" pelas tribos da
ção do passado sempre c provisória. mão aos alunos, pisou na bola ao propagar Amcrica do Sul, acabou criando a lenda
Nunca soubemos 1anto sobre as origens a idéia de que os arqueólogos passam a de uma ciclacle dourada no muio da flo -
de povos e civilizaçôes quanto sabemos vida arras de cidades perdidas, como El resta AI lãnlida, por sua vez, só existiu
hoje. \!esmo assim, muita<; perguntas so- dorado ou Atlãnrida, e artefatos com po na cabeça de Platão, o filosofo grego que
bre a saga da humanidade continuam sem deres sobrenaturais, do tipo santo graal c mencionou pela primeira vez o "conti
resposta. Tudo bem se considerarmos que arca da Aliança. É fato que as lendas cn nente perdido" noseculo4 a.C. :\o maxi
a importância real desses mistérios e pou volvendo esses lugares e cacarecos deram mo, ele pode ter se inspirado em historias
ca diante de outras questôes talvez menos um belo empurrão nas pesquisas quando a rcspcilo de grandes erupções vu lcãnieas
glamorosas. mas certamente relevan tes a arqueologia a inda vivia os seus primór no M~dilerrânco antigo.
DÚVIDAS CRU~IS
De quem é o rosto da esfinge? Pode até ser
que, nos próximos anos, os arqueólogos
descubram quem serviu de modelo pa
ra esse que é um dos monumentos mais
ilustres do Egito antigo. Mas o que eles
realmente querem é desvendar os mis
térios de grosso calibre. Que fim levou
a gloriosa civilização do vale do Indo,
no subcontinente indiano, cujo império
durou de 2900 a 1900 a. C.? Por que certos
povos, como incas e cartagineses, faziam
sacrifícios humanos?
Como as demais áreas da ciência, o
estudo do passado humano deve avan
çar atrelado a novas tecnologias, como
a capacidade de analisar rapidamente
grandes quantidades de 0:\A ou de usar
lasers e radares para mapear estruturas
antigas com precisão. Há apenas 10 anos,
obter material genético de uma simples
múmia parecia coisa de ficção científica.
lloje, os pesquisadores caminham para
a decodificação completa do genoma dos
neandertais os primos mais próximos
do homem moderno, que se extinguiram
misteriosamente há 30 mil anos.
Ainda que muitas perguntas perma
neçam sem resposta, a arqueologia so
lucionou enigmas complicadíssimos nos
últimos 200 ou 300 anos. Descobriu ci
vilizações que jamais imaginamos pu
dessem ter existido. E decifrou outras
tantas como a egípcia - em detalhes
que surpreenderiam até os próprios fara
ós. Acima ele tudo, ela cumpriu o impor
tante papel ele ti rar a humanidade da mais
absoluta ignorância sobre si mesma, aju
dando nos a encontrar respostas até para
questões de natureza existencial. De onde
viemos? Quando fundamos a civilização?
Vire a página e descubra. 1\
De onde viemos?
187J
~------------------
i----~--~----------·HOMENSDAS
CAVERNAS
A DESCOBERTA A DESCOBERTA A DESCOBERTA
Ao presumir que o homem sempre Marcelino de Sautuola, um Num cemitéri o de 4 mil anos
usou as melhores matérias-primas arqueólogo amador da Espanha, em Tebas, Augustus Pitt-Rivers
disponíveis na fabricação de suas descobre em seu país a caverna de identifica pedras ainda mais
armas, o arqueólogo dinamarquês Alt amira. Ele encontra desenhos antigas. incrustadas nos muros.
Christian Thomsen inventa a de touros nas paredes- pinturas Ele conclui que as rochas foram
classificação de arte fatos por Idades surpeendentemente elaboradas, trabalhadas por mãos humanas
da Pedra, do Bronze e do Ferro. feitas na Idade da Pedra. numa época anterior à dos faraós.
O QUE EXPLICA • O QUE EXPLICA O QUE EXPLICA
Nas décadas seguintes, esse Ohomem primitivo, ao cont rário Uma civilização tinha passado por
sistema de classif icação ajudaria do que se acreditava na época, ali há muito mais que 4 mil anos-
pesquisadores do mundo todo a não era um animal selvagem. enquanto interpretações da Bíblia
provar que a humanidade era bem desprovido de qualquer habilidade afirmam que Adão e Eva deram
mais antiga do que se 1maginava. ou sensibilidade humana. origem à humanidade em 4004 a.C.
Não há retrato
conhecido do
arqueólogo
1927
TERRA PEGADAS
SANTA ANCESTRAIS
A DESCOBERTA - A DESCOBERTA
Vasculhando uma pequena Abritânica Mary Leatley encontra
caverna na região de monte em Laet oli, na Tanzânia, pegadas
Carmel, em território palestino, fossilizadas de 3 hominídeos, que
o britânico Charles Lambert caminharam por ali, sobre uma
encont ra o cabo de uma espécie grande planície coberta de cinzas
de foice rudimentar, com a vulcânicas, há aproximadament e
imagem de um animal entalhada. 3,5 milhões de anos.
O QUE EXPLICA -+ O QUE EXPLICA
A peça indicava quejá se praticava As pegadas provaram que aqueles
a agricultura no Oriente Médio primatas africanos andavam
desde a Pré-História- mais uma regularmente sobre duas pernas.
prova de que os homensda Idade São eles os verdadeiros ancestrais
da Pedra não eram bárbaros. do homem moderno.
Quando inventamos
a civilização?
1839 1869
----·-----------------------·,---
PIRÂMIDES -------------------
AssrRIOS
MEXICANAS ESUM~RIOS
A DESCOBERTA A DESCOBERTA A DESCOBERTA
Oamericano John Lloyd Stephens Numa biblioteca em Berlim. No sul do Egito, o britânico
encontra as ruínas de Palenque. o alemão Jules Oppert consegue Flinders Petrie descobre
Omundo é apresentado à civilização traduzir textos da CIVIlização 3 mil covas rasas. Ele acredita
maia, que se desenvolveu a milhares assíria e encontra referências que os corpos são de ancestrais
de quilômetros do Egito antigo. aos ancestrais desse povo. dos egípcios- talvez sumérios.
O (JUE EXPLICA O (JUE EXPLICA O (JUE EXPLICA
Palenque desafiava a teoria de que Essas citações provaram a Ao mesmo tempo em que
acivilização só poderia ter surgido existência de uma civilização reafirmava a exist ência de um
no Oriente Médio e se espalhado pelo ainda mais antiga que a assíria, povo ant erior ao do Egito antigo,
mundo- era odifusionismo, uma Lese que Oppert batizou de suméría. o arqueólogo errou feio ao sugerir
tão inabalável na época que levou à Eram novas evidências de que que os sumérios teriam dado
conclusão de que os egípCIOS ajudaram os egípcios não tinham sido origem à civilização egípcia-
aerguer as pirâmides no México. os inventores da civilização. como previa o difusionismo.
Artefato
1940 .. -
VÁRIAS TUMBA IMP~RIO
ORIGENS DEPACAL ZAPOTECA
A DESCOBERTA A DESCOBERTA A DESCOBERTA
Estudando as cul turas egípcia Omexicano Alberto Ruiz Lhuillier Oamericano Kent Flannery escava
e suméria, o arqueólogo holandês descobre que a piramide na qual no vale de Oaxaca, sul do México,
Henri Franllfart descobre que o rei maia Pacal foi sepultado as ruínas do Império Zapoteca.
elas tinham visões de mundo é a única em toda a cidade de Eencontra sinais de uma casa
completamente diferentes. Palenque usada como tumba. construída por volta de 1300 a.C.
O QUE EXPLICA O QUE EXPLICA O QUE EXPLICA
Se o d1fusionismo est1vesse Se ainda restava alguma dúvida, Flannery constatou que, ao longo
correto, as cul turas egípcia ela acabou com a descoberta de de séculos, os padrões da vida
e suméria seriam parecidas. Lhuillier: os maias não tinham ido cotidiana dos zapotecas- como
Franhfort propõe uma nova buscar insp iraç~o no Egito antigo a disposição dos cômodos numa
teoria: a civilização teria para construir suas pirâmides, habítaç~o - continuaram os
começado simultaneamente em nem contaram com a ajuda de mesmos. Ou seja: eles sempre
diferentes pontos do mundo. outra civilização para erguê-las. foram d1ferentes dos egípcios.
Estátua suméria:
cultura inteiramente
diferente da egípcia.
Busto do rei
Pacal, o mais Figura zapoteca,
poderoso do sul do México:
governante nada a ver com
de Palanque. o Egito antigo.
um
Pompéia e Herculano
O dia-a-dia do Império Romano revelado em detalhes.
Pegos de surpresa
por uma erupção,
transformar os moradores em estátuas so de patrocinar escavações p ara revelar
de cinza vulcânica. Foi exatamente esse de forma cuidadosa as cidades antigas, no os habitant es
o efeito que uma erupção do Vesúvio, no que se tornou um marco para a pesqui viraram estátuas
ano 79 da era cristã, teve sobre Pompéia, sa arqueológica moderna. Desde então,
Herculano. Estábia e outras comunidades os trabalhos na área não pararam mais. de cinza vulcânica.
C llUSTRAÇOES: MEIRE DE OLIVE111A (ROSTOS) E EVN~OAO OE11TOI. (MAPAS). 1 tli\JIOtiAl. 2 RCPROOUÇÁOE3 CORBIS/LATINSrOCK
GRANDES MISTtRIOS DA ARQUEOLO GIA 17
Em
Pedra
de Roseta
Hieroglifos do Egito antigo
traduzidos pela primeira vez.
Champ<l!_lion,
o francêS tradutor exposta em Londres,
de hieroglifos. no Museu Britânico.
Tumba de
Tutancâmon
A descoberta mais espetacular
na história da arqueologia.
'' T
ja exaurido", escreveu em 1912 julgar pelos sinais de reparos nas paredes
o arqueólogo Theodorc M. Da- e reposição de tesouros roubados. Depois
vis, depois de descobrir a tum- disso. nunca mais alguém havia colocado
ba elo faraó lloremheb e o que julgava ser os pés no interior da tumba. A sorte de
o túmulo de outro rei egípcio, um tal Tut, como ficou conhecido, também foi
Tutancâmon (veja o mapa ao lado). Da a de Carter, que teve acesso à quantidade
vis provavelmente quis engolir o próprio nababesca de bens que os faraós carre
chapéu lO anos depois, quando o mundo gavam consigo para o além- túmulo - e,
ficou sabendo de uma incrível descoberta com isso, traçou um quadro preciso de
no mesmo lugar, envolvendo a verdadeira como era o cotidiano da realeza egípcia.
tumba do faraó Tutancâmon.
O britânico Howarcl Carter achou os RIQUEZA POR TODA PARTE
primeiros sinais do mausoléu do monarca A única coisa modesta no funeral de Tut
debaixo de restos de material de constru- parece ter sido a própria câmara mor
ção e tendas de trabalhadores que viveram tuária - tudo indica que o faraó que
mais de um século depois de Tutancâmon. o s ucedeu, Aye, "roubou" a tumba mais
O arqueólogo violou a licença de escava- espaçosa, que deveria ser dele. Fora isso,
ção que lhe fora concedida, entrando na a riqueza estava por toda parte: 4 1\!À'UO-
tumba antes de comunicar a descoberta sos carros de guerra, arcos, cajados, jóias,
às autoridades egípcias (artefatos c jóias estátuas guardiãs, remos de barcos, jogos
da tumba foram encontrados em sua casa ele tabuleiro, comida, vinho, perfumes
depois que ele morreu, sugerindo que as e ungüentos, num total de 700 itens.
peças teriam sido surrupiadas antes que o O cúmulo do requinte, no entanto, eram
governo do Egito pudesse colocar as mãos os 4 sarcófagos, o último pesando aproxi-
sobre o tesouro ele Tutancâmon). Diz a madamente 110 quilos de puro ouro, com
lenda que, após abrir a porta que sepa- a bela máscara mortuária que se tornou
rava a câmara escavada na pedra do mun a "cara" de Tut para o mundo moderno.
Manuscritos
doMar Morto
A chave para entender como
viviam os primeiros cristãos .
s histórias sobre como manus- Os primeiros manuscritos rapidamen- Eles não revelaram
A critos de 2 mil anos de idade
começaram aser encontrados
peno do mar Morro variam.
i\ mais popular delas conta que, eml947,
um beduíno, tentando espantar uma ca-
te foram parar no mercado de antiguida
des da Palestina. e os especia lis tas logo
perceberam que estavam diante de uma
oportunidade única. ~ovas buscas no
noroeste do mar Morto, perto do antigo
segredos sobre
Jesus Cristo, mas
ajudaram a traçar
bra perdida dentro de uma caverna, atirou assen tamento de Khirbel Qumran, na re-
uma pedra e acabou escutando o barulho gião de Jericó. revelaram outras I Ogrutas um quadro mais
de jarros se partindo. Ao investiga r a gru que abrigavam textos antigos, e o lento claro de seu tempo.
ta, deu ele cara com os textos antigos. trabalho ele leitura e publicação dos origi-
nais - alguns eram livros inteiros; outros.
pequenos fragmentos com poucas letras Os :-.bnuscritos do Mar Mono ajuda
- revelou centenas de obras lilerárias rama provar, em primeiro lugar, que
judaicas, a maloria escrila em hebraico a Bfblía é uma obra extrema mente antiga;
e datando ele 200 a.C. a 130 . alguns livros das Escrituras ali encontra
dos são cerca de I 000 anos mais velhos
ORIGEM INCERTA que as cópias mais antigas conhecidas até
Ningttém sabe a origem dos manuscri- então. e apresentam poucas diferenças
tos. Uma das teses mais populares é que em relação ao texto que chegou até nós.
grande parte deles pertencia aos essênios, Além disso. os textos documentam como
um grupo religioso radical que se revol- o cristianismo originalmente era uma re-
tou contra as autoridades de Jerusalém e ligião cheia de comunidades dissidentes.
teria se instalado em Qumran. Também expectativas apocalípticas e previsões
é possível qu~:: outros textos tenham sido mes~iânicas. Em hora os manuscritos não
escondidos nas cavernas por refugiados tragam novidades diretas sobre a vida de
que tentavam escapar da destruição de Cristo. eles traçam um quadro muito mais
Jerusalém pelos romanos, no ano 70. claro do mundo que o influenciou.
C !UJSIR.'ICOES· ME111E OE OLIVI:IRA (ROSl OS) EEVANORO BEAl DL(Mi\1'1\S), I CORBISIL\TII~STOCK E2 1~ATIONAL GRANDES MI STéRIOS OA ARQUEO LOGIA 21
ouco mais de 150 anos atrás. a ignorância ela huma
OlUSIIIAÇO(S l.lmf OE OlMIRA(HOSJOSlE EVAMlRO 8ERIOllhW'IISI. I R(PnOiliJÇAO GRANDES MIST~R IOS DA ARQUEOLOGIA 23
do mundo, a partir do ano 4000 a.C. De quebra, Wooley e com- emprego numa firma de importação e exportação que o man-
panhia também acharam túmulos reais, datados de 2700 a.C., dou para a Rússia, onde montou seu próprio negócio no ramo.
com indícios de UJJ1 funeral assustador: os servos dos soberanos Pa<>sou algum tempo na Califórnia, atuando como atravessador
teriam sido mortos para acompanha los no além. durante a corrida do ouro, até voltar para a Rússia e finalmen-
te enriquecer vendendo matérias- primas para o Exército rus-
A TRÓIA DE HOMERO so durante a Guerra da Criméia (1854-1856). Pouco antes dos
Ninguém pode acusar o arqueólogo alemão Heinrich Schlie- 40 anos, ele não precisava mais traba Ihar e se tornou um viajante
mann de falsa modéstia: afinal. são poucos os sujeitos com internacional com uma obsessão: encontrar Tróia.
a cara de pau de mandar escrever a frase heroi schlimannoi Na época, a historie idade dos poemas de Homero sobre a guer-
("ao herói Sch liemann", em grego antigo) no próprio túmulo. ra enl're gregos e troianos era contestada por quase todos os
De fato, há fortes indícios de que Schliemann foi um marque- especialistas, mas Schliemann acreditava ser capaz de provar
Leito despudorado, que fazia de tudo para criar uma boa lenda que eles estavam redondamente errados. Para isso, em 1871,
em torno de si mesmo. Ele dizia ser fluente em nada menos juntou se ao arqueólogo britânico Frederick Calvert, que já es-
que 13 lmguas, algumas delas desaparecidas havia milhares de tava escavando havia tempos na localidade turca de 1-lisarük,
anos, c ter almoçado com o presidente dos EUA quando ainda uma das candidatas a abrigar a antiga cidade.
era um imigrante pobre e recém chegado ao país. Cascatas e Do ponto de vista de um arqueólogo moderno, Heinrich
falta de modéstia à parte, o que não se discute é a importância Schliemann se embananou um bocado. Crente de que as ca-
elos achados elo alemão: ele provou, praticamente sozinho, que madas arqueológicas mais antigas de Hisarlik abrigavam a Tróia
a cidade de Tróia era mais que um mito. de Homero, ele cavou de forma tão afoita que bagunçou toda a
Quase tudo na vida de Schliemann, nascido em 1822, tinha estratigrafia do local, provavelmente destruindo dados valiosos.
um toque rocambolesco. Filho de um pastor protestante, ele Ao achar um conjunto fabuloso de jóias de ouro, Schliemann não
precisou trabalhar muito cedo para ajudar a família e acabou se só fotografou sua jovem esposa grega chamada Soph ia usando-
empregando como grumcte num navio que ia para a Venezue- as como contrabandeou os objetos para fora da 1\Jrquia, o que
la. O navio naufragou na llolanda, mas o rapa7. conseguiu um deixou o governo do Império Turco- Otomano fuJo da vida.
24 GRANDES MISTéRIOS DA ARQUEOLOGIA O lUSTRAÇÓE$; MéR: DE OUVSRA !ROSTOS) EEVAIIDRO BeiiTOl (MAPAS). I COR8ISIIA11NSTOCIC
dos pnme1ros europeus
a desenvolver a escrita.
Mesrno assim, a dupla germano- británka conseguiu vollar
ao trabalho em llisarl ik, revelando uma sucessão ele 9 "Tróias"
- do ano 3000 a .C. à época romana. Schliemam1 identificou
erradamente a "Tróia 2" (destruída por volta de 2200 a.C.) como
sendo a cidade mem;ionada por Homero, a qual deve ter sido
queimada por invasores 1 000 anos mais tarde. Mas o importante
é que o passado troiano deixava a categoria de lenda. Schliemann
ainda escavaria Micenas, a antiga cidadela grega de onde Lerütm
vindo os destruidores de Tróia, descobrindo Ltmà rica civiliz<lção
palaciana que enterrava seus reis t.:om máscaras de ouro.
O megaJoma n íaco alemão provavelrnen 1e ficaria verde de in-
veja se tivesse vivido para ver as descobertas do britânico sir
t\rthur Evans (1851- 1.941). Evans continuou de onde Heinrich
S<:hltemann havia parado, em busca elas ra(zesdacivilização de
Micenas e as encontrou no palácio de Knossos, na ilha deCreta.
Os cretenses da Idade do Bronze foram os primeiros europeus
a dcsenvolve1· sua própria forma de escrita, a Linear A - uma
variação dela, a Linear B, foi usada para registrar uma forma
primitiva do grego em Micenas. De
quebra, parecem ter praticado uma
espécie de tomada ritual que inspixou
o mito do Minotauro (meio homem,
meio touro) e do labirinto deCreta.
MAIAS E AUSTRALOPITECDS
1'\ão é comum que uma idéia ele je -
rico acabe levando a descobertas
Esqueleto
importantes. O americano Edward delucy- c
I lerbert Thompson (1 856-1 935), no
entanto, começou sua carreira jusI a- Aba da
mente assim, ao publicar um artigo
associando a civilização maia com...
o continente perdido da Allãotida.
Mais tarde, Thompson renegaria to-
talmente a proposta estapafúrdia,
mas roi graças a ela que o rapaz de
23 anos conseguiu atrair a atenção do governo dos EVA, que 0 poU(;a gcntc pode se gabar ele ter superado o arqueólogo america -
nomeou cônsui do país em Mérida, no México. no Donald Johan.son . Trabalhando na Etiópia, em 1974, ele e sua
Ao chegar à antiga terra dos maias, no entanto, Thornpson eqtúpe deram de cara comum dos mais completos esqueletos de
deixou as teorias malucas de lado e arregaçou as mangas. 1\pren um ancestral remoto do homem - uma fêmea de hominídeo de
deu a antiga língua maia, ainda falad a por muitos indígenas 1,10 metro, que acabou recebendo o cru·inhoso apelido de Lucy,
da região, e passou a organizar estudos regulares de Chichén por caus(l da música Lucy in tlle Sky with Diamoncls, dos Beatles,
ltzá, cidade qu e foi urna das maiores potências da América pré- que tocava no acampamento naquela noite.
colombiana entre os anos 600 e 1000 de nossa era. Tbompson Estima-se que Lu<.:y e os demais membros de sua espécie {ba-
e seus colaboradores conseguiram investigar o passado maia tizada de Australopithecn<~. afurensiB) tenham vivido há aproxi
até debaixo d'água: eles desceram ao fundo do chamado Poço madamenre 3,2 milhões ele anos. Oulros fósseis mais antigos
Sagrado, um lago no qual havia artefatos de ouro e inúmeros ele hominídeos foram achados desde então, mas os A . qfarensis
esqueletos humanos - cativos sacrificados em honra do deus continuam sendo os ancestrais humanos primitivos mais bem
da chuva, Chaac neia mais no mapa das pógs. 50 e Sl). conhecidos - até bebês da espécie Já foram encontrados. Lucy,
Depois dos triunfos de arqueólogos como Thompson. Layard com 40"/., do esquelelo completo, documenta uma Lransi<yão
e Schliemann, a última fronteira se tornou a compreensão de- importante na evolução humana: seu andar era plenamente
talhada das origens do homem. Entram em cena os palean- bípede, mas detalhes da anatomia das mãos e dos pés de sua
Lropólogos, capazes de analisar fósseis e determinar os passos espécie indicam que ela também era capaz de escalar árvores,
evolutivos que unem os grandes ma<.:acos a nós. Nesse quesi Lo, com agílidade próxima da de um chimpan;r,é atual. ?I
O I~UST11A~ES MEIRE DE OUVEIM (ROSTOS! EEV11110RO BERTOL (M14'1o$) I PHOl ONOUSTOI'IAFP E 2 GETlY IMAGES GRANDES MISTtRIOS DA ARQUEOLOGIA 'lJ
- ."..,.;_ - - - - : - - -
28 GRAND ES MISTÉRIOS OAARQU EOLOG IA to IIIJSTAAÇ0ES LUCIANOVFRONEZI, I fOTOS AEPROOUÇM. ~NATIONAL GEOCMPIIIC, 3 CORBIS.'LATINS!OCK
INFO-EXPEDitAO
Machu Picchu
Encastelada no topo dos Andes, ela é uma das 7 novas maravilhas do m undo.
TE.Xm FRED UNARDI
ENGENHARIA
AGRrCOLA
Um dos alimentos mais
cultivados era o m1lho. 1 INTIHUATANA
Esta pedra
A úmca água utilizada na localizava os habitantes de Machu
irrigação era a da ct1uva Picchu no tempo, marcando os dois equmóc10s
e o solo era t rabalhado anuais e outroseventos astronômicos. Nessas
datas, os incas faziam rituaissagrados. Alguns
0 .... ~;Rm.ilr.~.~.C?.~.r.~:~.~i.m~.!'!~.~g~.
Como não há muitas áreas arqueólogos acreditam que. aqui, também
planas em Machu Picchu. ocorriam sacrifícios animais e humanos.
seus habitantes ti veram
2 TEMPLO PRINCIPAL
Faz parte de um complexo Importante.
formado ainda pelo Templo dasTrêsJanelas
e pelaCasa do Sacerdote. Aqualidade do
polimento das pedras e o enca1xe entre elas
é impressionante. Utensílios de cozinha foram
terra
decult1vo encontrados recentemente nesta área.
escada
de pedras 3 PALÁCIO
Era onde as
00 INCA
maiores autoridades do império
se hospedavam quando visitavam a cidade.
Há sinais de quartos privados. refeitório.
banheiros e área reservada aos funcionários.
Anexos à casa, ficavam um curral e um terraço,
com vista para o lado leste de Machu Picchu.
CERÂMICAS EJÓIAS
...... .... ................................................................. [J
Ohistoriador que descobriu
Machu Picchu. o americano 4 TEMPLO DO SOL
Sua torre semicirc ular temj anelas que
Hiram Bingham, encontrou
nas ruínas dezenas de a1tefato s se alinham com os ra10s do Sol nos solstíclos.
arqueológicos, entre cerâmicas Era assim que os habit ant es conseguiam
e adornos debronze. prata e ouro. se planejar para as épocas de plantio e colhe1ta.
Hoje, essas peças integram Acredita-se que Pachacutl, fundador do re1no
a coleção de históna natural inca de Cuzco, tenha sido sepultado neste local.
da Un1versidade Vale. nos EUA.
0 llUSTRAÇ0ES LUCIAilO VERONEZI. FOTOS REP!lOOUÇÂO. I ROGEAl'lOUEl!AFP Fonte El Comercio GRANDES MIST~RIOS DA ARQUEOLOGIA 3]
INFO-EXPEDICÂO
Jerusalélll
Um dos pedaços de chão mais disputados do mundo é pura arqueologia.
TEXTO FRED LINARDI
1 TÚNEIS DO MURO
Ao longo de séculos, est e labirinto de túneis, arcos e passagens subterrâneas
permaneceu intocado. Várias descobertas foram feitas aqui- entre elas
uma pedra que, acredita-se, tenha sido a maior já usada numa construção,
com 12,5 metros de comprimento e pesando mais de 570 toneladas.
2 localizada
PASSAGEM SECRETA
abaixo de uma grande v1a, foi construlda no século 12 para
facilitar o trânsito entre a cidade alta e o monte do Templo. Em sua estrutura
é posslvel notar elementos das Cruzadas e traços das culturas islâm1ca,
romana e bizantma- tudo isso sob ruínas da época do Segundo Templo.
3 Suas
SALÃO DE HEROOES
paredes de pedras são decoradas no estilo tfpico das construções de
Herodes, rei da Judéia entre 37 e 4 a.C., período em que a cidade esteve sob
controle romano. Osalão foi construído na mesma época do Segundo Templo
e não se sabe qual era sua função- provavelmente um prédio público.
5 Escavações
A C~U ABERTO
conduzidas pelo arqueólogo israelense Benjamin Mazar a partir
de 1968 nesta área revelaram portões arqueados que davam acesso ao
Segundo Templo, várias miklevs (espécie de banheiras para purificação) e
uma rua com 10 metros de largura. que estava sob escombros desde o ano 70.
. --
~ D QUE FORAM ~ DESCOBERTA RECENTE
Tumbas dos faraós egípcios Quéops, Quéfren e Miquerinos- pai,
filho e neto, respectivamente. Elas comes;aram a ser co.nstrufdas
'"
Nos últimos anos, a arqueologia aJudou a desfazer um dos gra
mitos envolvendo as pirâmides: elas não foram erguidas por
por voltado ano de 2700 a.C. es6ficaram prontas 20 anos mais escravos, mas por trabalhadores especializados nesse tipo de
tarde. Dentro delas nllo hâ nada além de uma tumbã, parecida construç:lo. Estima-se que as obras mobilizavam cerca de 5 mil
com as encontradas no Vale dos Reis. Originalmente, tinha m operários fixos no perfodo de-um ano. Além desses, outros ZO mil
o vértice coberto de ouro, para refl~tir de longe os raios.do·sol. "' ,homens davam apoio ao canteiro de obras durante alguns meses.
, \
STONEHENGE
-.O QUE FOI _. DESCOBERTA RECENTE
O c1rcu lo de pedras mais famoso do mundo foi construído há cerca Além de observatório astronômico, Stonehenge pode ter
de 5 mil anos e provavelmente era um observatório. Suas 35 rochas SidO usado para cerimônias relig1osas, 1nclus1ve funerárias.
marcam alguns eventos astronômicos, como os solsticios de verão Ossos humanos encontrados na área sugerem que uma espécie
e inverno, e ajudavam os ingleses da Pré-História a distinguir as de cemitério existiu a h desde a primeira fase de construção.
estações. Tudo indica que as pedras vieram de um lugar a ma1s A análise dos restos mortais indica que o local provavelmente
de 30 quilômetros de distância. A mais pesada tem 40 toneladas. era reservado aos indivíduos mais ricos e importantes. 1\
A floresta que cobria os primeiros habitantes do continente Américas. Para ela, já está provado que
americano. E sustentavam a teoria de que a cultura Clóvis não foi a primeira a se es
esta região há 9 mil o continente havia sido colonizado pela tabelecer no continente nem deu origem
passagem de Behring, a partir da .Ásia. a todos os outros povos americanos.
anos era habitada Em toda a América do Sul, já foram "lloje, podemos afirmar que a chega
por mastodontes e identificados 9 sítios arqueológicos que da elo .Homo sapiens ao continente ame
desafiam essa tese - os chamados pré rica no aconteceu em levas que, saindo de
preguiças-gigantes. Clóvis (veja o mapa ao lado). Em Monte diferentes lugares, seguiram diferentes
Verde, no Chile, há vestígios de ativi- caminhos", afirma Niéde Guidon. "J\s
Quando os aHefatos encontrados por dade humana com 12 300 anos de ida primeiras levas devem ter entrado na
Niéde Guidon começaram a ser datados, de. Na Argentina, estudos apontam para América entre 150 mil e 100 mil anos
a serra da Capivara foi arrastada para I3 mil anos em Piedra Museu e Los Toldos. atrás." Para a arqueóloga, é bastante ra-
o centro de uma polémica internacional. E em Ta i ma Taima, na Venezuela, foram zoável supor que um continente como o
Segundo a arqueóloga, as dataçües indi- encontrados indícios que remontam a americano, que vai do Pólo Norte ao Pólo
cam que aquele pedaço de chão piauiense 15 mil anos. No Brasil, a serra da Capiva- Sul, tenha sido ocupado a partir de diver
roi habitado há pelo menos 60 mil anos. ra não é o único sítio dessa categoria. Há sos pontos. E ma is: a geografia também
São registros de presença humana muito pelo menos mais 4, entre eles o da Pedra sugere que os primeiros habitantes po-
mais antigos, portanto, que os da cultura Pintada, no Pará, que guarda lembranças dem ter chegado aqui, inclusive, por via
Clóvis - homens primitivos que viveram, da pré história amazônica estimadas em marítima, através elo oceano J\tlânrico.
entre 10 500 e 11400 anos atrás, na região 11300 anos. As pesquisas conduzidas pe- Há quem conteste as descobertas ele
que hoje corresponde ao estado ameri- la arqueóloga americana Anna Roosevelt Niéde Guidon. Nos EUA, alguns pesqui
ca no do Novo .México. J\té meados do nesse local levaram- na a propor um no- sadores argumentam que vários artefatos
sécu lo passado, eles eram considerados vo modelo para explicar a ocupação das coletados por ela na serra da Capivara po
dem ser resultado ele fenômenos da na
tureza. Instrumentos de pedra lascada
não passariam ele lascas surgidas natu
ralmente. Pedaços de carvão seriam pro
duto de incêndios igualmente naturais,
e não de fogueiras acesas pelo homem.
Até os vestígios de fogões primitivos en
contrados por Niécle e suas equipes se
REINO DA BICHARADA
i\s datações mais antigas na serra da Ca-
pivara foram obtidas nos sítios conhe-
cidos como Boqueirão da Pedra Furada,
Toca elo Sítio do Meio e Toca do Caldei-
rão do Rodrigues. Todos os 3 apresen-
tam o que os arqueólogos chamam de
abrigos sob rocha, formações rochosas
que, esculpidas pela erosão ao longo dos
anos, acabaram se transformando
em verdadeiras caban.as naturais.
Os piauienses da Pré- História
usaram esses abrigos naturais
como casa. E pintaram nas
paredes de pedra cenas do
cotidiano - ou a "repre-
sentação gráfica de sua tra-
dição oral", como preferem
os pesquisadores.
Polêmicas à parte, Nié -
de está convencida de que os
primeiros brasileiros viviam em
plena harmonia com a natureza.
E que natureza! As pesquisas levadas a
cabo nesses 35 anos, desde as primeiras
descobertas, indicam que, até 9 mil anos
atrás, naquela região corriam rios cau-
dalosos e a vegetação em nada se pare-
cia com a caatinga de hoje. Toda a área
era coberta por densa floresta tropical,
habitada por preguiças e tatus gigantes,
tigres- dentes -de- sabre, mastodontes, AMtRICA
cavalos selvagens e até ancestrais das ANCESTRAL
Possíveis rotas
lhamas - uma fauna pintada e eterniza- de ocupação
da nas únicas testemunhas disso tudo: do continente.
as paredes de rocha calcária.
Ilha de Marajó
ARQUEOLOGIA AMAZONICA
Muitos pesquisadores acredita
m que as futuras grandes desc
arqueológicas no Brasil vão oco obertas
rrer na Amazônia. HoJe, um dos
obje tos de estudo é a cerâmica pnnc1pa1s
. Os primeiros ceramistas daqu
surgiram por volta de 6500 a.C. ela região
Inicialmente, produziam peças
simples e sem adornos. Com o tem utilitárias,
po, eles passaram a cerâmicas
elaboradas. Alguns dos melhores mais
exemplos estão na ilha de Marajó.
Peças das culturas marajoara (foto
) e tapaJÕnica são adm1radas no mun
inteiro, reproduzidas como obra do
s de arte. No sitio da Pedra Pint
no Pará, há sinais de presença hum ada,
ana datados de 11300 anos.
RUfNAS URBANAS
Elas são poucas- afinal. a urba
nização é recente no Brasil. Mas
Éo caso de Canudos. povoado surg ex1stem.
ido às margens do rio Vaza Barr
na Bah1a. No f 1m do século 19, ele is.
foi palco de um dos capítulos ma1s
dramáticos da históna brasileira
: uma guerra entre seus habitan
e o Exército. que deixou milhares tes
de mortos. Na década de 1970. o
foi coberta pelo lago de um açud vilarejo
e. Hoje, na época da seca, algumas
construções afloram (foto). No
Rio Grande do Sul há outro exem
de ruínas urbanas: São Miguel Arca plo
njo. Do século 17. seus prédios são
testemunhas das missões jesuítica
s de catequização dos índios guar
anis.
a-tJ~i :tJa11!~1
Onome vem da língua tupi (tam
pa= marisco; ki =amontoado). Eles
guardam vestígios de grupos que
habitaram o litoral há 6 mil anos
v1vendo da pesca e da coleta de ,
moluscos. Esses homens juntava
mesmo lugar tudo que produzia m num
m e consumiam, hábito que deu
a sambaquis espalhados por toda origem
a costa. Neles encontram-se rest
de fogueiras, sobras de alimento os
e sinais de sepultamentos. Osam
do Pindal. no Maranhão, preserva baqui
relíquias de antigos povos indíg
No da barra do rio ltapitangui, enas.
em São Paulo (foto), foram encontr
ossos. machados rudimentares ados
e pontas de lança feitas de pedra lasc
ada.
ARTE RUPESTRE
São pin turas nas roc has. geralme
nte monocromáticas. feitas com
pigmentos à base de gordura anim
al ou vegetal. Segundo a Fundaçã
Museu do Homem Americano, há o
260 sítios arqueológicos com arte
rupestre na serra da Capivara -
alguns com idade esti mada em
anos. Omaior conjunto de grav 60 mil
uras em pedra do Brasil, no enta
está na Ilha do Campeche. em San nto,
ta Catarina: 167 símbolos gravado
Ou tro monumento importante s.
é a Pedra do lngfi, na Paraíba-
paredão rochoso com 20 metros um
de comprimento por 3 metros de
altura, contendo inscrições que
os arqueólogos ainda não decifrar
am. ?i
Tomografia
de uma
múmia
inca com
mais de
5 mil anos:
recurso
que os
exploradores
do passado
não tinham.
Novas datações por radiocarbono feitas
em artefatos da cultura Clóvis(foto). que
habitou a América do Norte na Pré-História,
indicam que ela não é tão antiga e durou
menos do que se imaginava (mois no p6g. 36).
mi.l!l
OBSERVATÓRIO SOLAR
DE CHANKILLO
Arqueólogos descobriram que as torres
de Chan~illo (foto}, na verdade, são um
observatório solar construído por volta
de 300 a.C. As pedras correspondem ao
movimento do Sol ao longo do ano.
mlt!l
SEMENTESDEABÓBORA
NUMA SEPULTURA
Adescoberta. ocorrida no vale Nanchoc,
provou que a agricultura começou
a ser praticada nas Américas pouco
tempo depOIS de ter surgtdo na Europa.
As sementes têm cerca de 10 mil anos.
1!:11!1
OSSO DE GALJNHA POLIN~SIA
A análise do ONA de um osso de galinha
encontrado em El Arena! mostrou que a ave
vtveu ali entre 1321 e 1407- muito antes da
chegada dos primeiros europeus. Ela pode
ter stdo levada para o Chile por polinésios.
~ i~~;~~~~ um arqueólogo do Museu Britânico
descobriu, entre 100 mil artefatos com
escrita cuneiforme não decifrados(foto),
referência ao personagem Nebo-Sarsellim-
aos cuidados de quem, segundo aBfblia,
o profeta Jeremias teria sidoconfiado.
ema
CENTRO URBANO
OETELLBRAK
Foram encontradas evidências de que
Te li Brall, no norte da Síria, já era um centro
urbano há 6 mil anos. Nesse mesmo período,
surgiram as primeiras cidades de que se
tinha notícia, no sul da Mesopotâmia.
COMPLEXO CERIMONIAL
OE LISMULLIN
Durante a construção de uma estrada em
Lismullin, nas proximidades do monte Tara,
descobriu-se um complexo cerimonial
da Idade do Ferro, com 2 mil anos de idade.
Olugar foi batizado de Lismullin Henge.
limmtl
HDMD HAB/L/5
EHDMD ERECTUS
A datação dos ossos de um Homa habilis
(fato) e de um Hama erectus encontrados
na África constatou idades muito próximas
para as duas ossadas. As espécies teriam
convivido por cerca de 500 mil anos.
lí(JW!•Jtl
COLAPSODAGRANDEANGKOR
Arqueólogos encontraram indícios de que
A primeira expedição arqueológica da a antiga capital do Império Khmer (foto),
história a investigar chimpanzés encontrou que floresceu no Sudeste Asiático entre
instrumentos de pedra, parecidos com os séculos g e15, pode ter desaparecido
martelos, usados por esses animais na por causa da pressão ambiental causada
África há aproximadamente4 300 anos. pela superpopulação e pelo desmatamento.
os próximos 50 anos, a ar
N
TEMPOS MODERNOS
queologia fará poucos acha-
Um futuro
dos espetaculosos, do tipo
"grandes tesouros" ou "cida-
des perdidas". Em compensação, dizem
os especialistas, as descobertas verdadei
ramente espetaculares - daquelas com
pela frente
Os arqueólogos, segundo eles mesmos,
nunca tiveram tantos recursos e tanras
informações à disposição. Respostas para
muitos mistérios da Antiguidade fatal
mente serão enconrradas. Mas elas virão
do estudo de artefatos bem menos glamo
rosos que um sarcófago de ouro maciço.
Catalho~üR, na Turquia, está entre os sítios Um dos sítios arqueológicos mais
mais promissores do mundo - berço de uma promissores é o de Çatalhõyük, na Tur-
quia. Descoberto no fim dos anos 50, ele
cultura bastante avançada da Pré-História. é o maior e mais bem preservado sítio
TEXTO JOS~ S~RGIO OSSE Neolítico do mundo. Seus extratos mais
or mais que seu "escritório" se- queólogo trabalha como qualquer outro, lho desses profissionais da arqueologia
C FRAtlCK GOOOIO/ BILTI FOliNOATION: I CI!RISTOPII OEAIOK E 3 JEROMEDELAFOSSE GRANDES MISTÉR IOS DA ARQU EOLOGIA 49
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
Descoberta em 1955 por Henri Cosquer. ela abriga
Ogaleão espanhol afundou em 1622, vítima Durante a 2~ Guerra Mundial, uma força-tarefa
de um furacão. Estava carregado de ouro, prata, aliada afundou o submarino japonês 1-52, cuja
tabaco e índigo. Em 1986, o caçador de tesouros carga incluía 2,2 toneladas de ouro. Em 1995, o
americano Mel F1sher localizou-o, a17 metros americano Paul Tidwell encontrou os destroços
de profundidade. A maior parte da carga foi da embarcação, a 5 240 metros. Parte do ouro foi
a leilão- rendendo a Fisher US$ 400 milhões. recuperada, além de ópio e material radioativo.
Descoberta em 1986 no Japão, o monument o está
em águas rasas, a 32 metros de profundidade.
Astmetna das hnhas e a abundância de ângulosna
estrutura sugerem que ela foi esculpida - t alvez
há 10 mil anos. Para os céticos, no entanto, t rata-
se de uma surpreendente obra da natureza.
As ctdades foram engolidas pela água no século Uma das 7maravilhas da Antiguidade, era
8 a.C .. depois de uma acomodação tectônica que um edifício monumental, com 100 metros de
elevou o nível do mar. As escavações, lideradas altura. No ano 365, t erremotos derrubaram
pelo francês FranR Goddio, começaram em seu andar superior. Eoutro tremor, no século
1991 eJá revelaram centenas de artefatos 14, levou abaixo o que restava. As ruínas foram
arqueológicos- alguns com 3 mil anos de idade. encontradas em 1961. pelo egípcio Abu ei-Saadat.
Na mão leve
Boa parte das principais coleções de arqueologia do mundo foi pilhada
quando Inglaterra, França e Alemanha dominavam o mundo. rEXm EouARooszKLARZ
m magnífico altar de má r mo Outros museus europeus não ficam de fogo para saquear o patrimônio ar-
PILHAGENS E ESPOLIOS
O general francês :\'apoleão Bonaparle era
vada no fim do século 19 pelo arqueólogo mo fantástico, não fosse por um pequeno um mestre da pilhagem. Tanto que serviu
Carlllumann, enviada aos pedaços para detalhe: boa parte desse acervo foi parar de exemplo para os saqueadores nazistas
a Alemanha e reconstruída no museu de lá na base da pilhagem. Inglaterra, França no século 20. Em 1798, quando marchou
Berlim t:om absoluta precisão, como se e Alemanha, as potências coloniais dos com suas tropas pelo Egito, Napoleão le-
aquele fosse o seu lugar de origem. séculos 19 e 20, aproveitaram seu poder vou um grupo de eruditos para estudar
N
Parece loucura, e foi mesmo: os pesqui cidades, a escrita, belas obras de arte.. .
trais no 1'' e no 3" filmes da sadores de Hitler escavaram o norte da Tudo parecia vir da Ásia, a milhares de
série de cinema Indiana .fo- Alemanha, saquearam museus na Polô quilômetros dos bosques gelados do norte
nes. A bordo ele aviões, bar n ia, analisaram inscrições r upestres da europeu. E o füh rer precisava convencer
cose motocicletas, eles disputam com o Suécia, vasculharam covas paleolíticas o povo alemão de que essa antiga civili-
intrépido arqueólogo a busca pela arca da na França, visitaram templos no lraque zação de fato existira.
Aliança e o santo graa l. Na verdade, es- e mosteiros nas alturas do Himalaia. Mas Quem encontrou a solução para o dite
sas histórias não são to ta Lmente fictfcias. afinal: o que eles descobriram'? ma do führer foi Heimich Himmler, chefe
Nos anos 30 e 40, llitler enviou arqueólo da truculenta organização paramilitar SS
gos para vasculhar sítios na Eu ropa, Asia O PLANO (Schutzstaffel, ou "Esquadrão de Defe-
e Oriente Médio. O objetivo era coletar Adolf Hitler tinha obsessão pela idéia de sa"). Fiel a Hitler e metido a intelectual,
evidências de que suas terras haviam si- raça. Em sua própria visão da h istória e Himmler criou em 1935 o Ahnenerbe,
do ocupadas, há milênios, por uma raça da Pré-História, ele dizia que os arianos um instituto de pesquisa que produzia
de guerreiros esbeltos, loiros e ele olhos eram os únicos "criadores da cultura" c provas arqueológicas com fins políticos.
azuis: os arianos. Para o fUhrer, essa era ansiava por recriar aquela poderosa ci Seu nome vinha de um termo alemão que
a origem elo povo germânico. Só faltava a vilização. Já as "raças inferiores". como significa "herança ancestral".
arqueologia encontrar as provas. os judeus, deveriam ser eliminadas. Só "O Ahnenerbe recrutou arqueólogos,
Ao rastrear esses supostos antepassa havia um problema: os cientistas não paleontólogos, historiadores, botânicos e
dos, o 3" Reich poderia justificar a expan- tinham encontrado nenhuma prova da outros especialistas com uma dupla mis
são por seus antigos domínios, povoá los tal raça que supostamente acendera a to são: desenterrar evidências dos ancestrais
e perpetuar sua linhagem sobre a Terra. cha do progresso humano. As primeiras dos alemães e transmiti-las à opinião
pública em livros, artigos e congressos considerados de segunda classe", diz a suspeita. Como não acharam a evidência,
científicos", diz a jornalista canadense arqueóloga Bettina Arnold, ela Universi eles decidiram fabricá la: o arqueólogo
lleather Pringle, especialis ta no assun- dade de Wisconsin, nos EUA. "A ascensão Julius Andrce anunciou ter encontrado
to e autora elo liv ro The Master Plan ("O elo nazismo gerou uma grande mudança: uma cerâmica germânica ali. "Investiga-
Plano Mestre", sem tradução no Brasil). pela primeira vez, havia dinheiro do Es- çõcs posteriores mostraram que a ocupa-
"Na realidade, essa organização se dedi tado para financiar pesquisas não apenas ção do local datava da Idade Média. Por
cava à criação ele mitos. A tare fa de seus em zonas de língua alemã mas em luga- isso, a cerâmica ele Andree deve ter sido
prestigiosos pesquisadores era distorcer res que o governo queria ocupar, como tirada de outro lugar", diz Bettina. Frau-
a verdade e criar provas para respaldar as a Polônia. " Portanto, os arqueólogos ele des como essa geraram uma enorme con-
idéias raciais de llitler. " Himmler andavam numa corda bamba trovérsia entre os arqueólogos sérios da
Mas o que teria motivado essa turma entre o que ele queria que dissessem e o Alemanha, que temiam pela reputação do
ele cientistas a fazer isso? Depende. Al - que realmente descobriam. "A pergun - país. Mas, com a crescente repressão do
guns in tegrantes do Ahnenerbe eram ta não é o que os arqueólogos buscavam, Estado, eles liveran1 de se calar.
ultranacionalistas, outros, racistas de- e sim o que o Estado estava interessado
clarados. Também havia quem desejasse em encontrar. Ou seja: apenas coisas que AS EXPEDIC:0ES
apenas subir na carreira, pegando carona fossem úteis a ele", diz Bettina. A primeira expedição do Almenerbe par
na megalomania nazista. "Antes de 1933, Foi o caso da região de Externsteine, tiu em 1936 rumo ao povoado sueco de
quando Adolf Hitler chegou ao poder, os no norte da Alemanha, considerada um Bohuslan, que abrigava 5 mil peças de ar
principais arqueólogos alemães pesqui santuário de antigas tribos germânicas. te rupestre talhadas em granito na Idade
savam Grécia e Roma. Os que se inte Nos anos 30, os nazistas financiaram es- do Bronze. O líder da missão, Herman
rcssavam pela pré história alemã eram cavações ali, esperando confirmar essa Wirth, concluiu que as inscrições for -
Braço direito mavam um antigo texto sagrado nórdi- famosa por seus rituais de bruxaria. Gro
co. Wirth seguiu para a jazida de Backa, nhagen passou semanas em cabanas de
de Adolf Hitler, na Suécia, onde tirou moldes de algumas madeira gravando cantos mágicos dos
Himmler achava rochas desenhadas com círculos. Para ele,
eram símbolos de origem germânica li-
anciões, que, segundo ele, continham
elementos do idioma original ariano.
que o martelo gados ao Sol. Depois, foi de barco para
Rodoya, uma ilha gelad a bem ao sul do PACIENTE PSIQUIÁTRICO
de Thor era uma Artico. Ali, estudou a pintura de uma Ii- "Heinrich Himmlcr ficou absolutamenle
peça sofisticada gura humana usando esquis e julgou ser fascinado com os relatórios de Gronha
outra "pista" deixada pelos arianos. gen. Estava convencido de que as Eddas
de engenharia Segundo Heather, a empreitada durou - textos da mitologia nórdica - repre
elétrica feita dois meses, custou 12 590 marcos do Rei-
ch (aproximadamente R$150 mil em di-
sentavam uma verdade literal e que o
martelo do deus Thor era uma sofisticada
pelos arianos. nheiro atual) e marcou a linha de conduta peça de engenharia elétrica, feita pelos
para as missões seguintes: era preciso ser arianos para vencer seus inimigos", diz
discreto e amável com as auloridades lo- 1Ieather. O consultor de Himmler para
cais, para ter acesso aos sítios, e nunca tradições nórdicas era Karl- Maria Wili-
revelar o real objetivo da viagem. gut, um ex -coronel austríaco que posava
Em 1936, o líder das SS mandou o eru- de místico do 3° Reich e se dizia descen-
dito finlandês Yrjo von Gronhagen para a dente direto de Thor. Detalhe: Wiligut
Carélia, uma terra remota da Finlândia, havia sido paciente psiquiátrico.
Em 1937, outra notícia impressionou da, lutado com o homem ele Neandertal, Fotografaram 2 mil tibetanos, mediram
os nazistas. Escavando em grutas de causando sua extinção há cerca de 30m il 376 deles e tiraram moldes de 17 rostos.
Mauern, na região ela Baviera, o alemão anos. O fato é que o Neandertal realmente Em seu relatório, anotaram os traços nór-
R. R. Schmidt encontrou um leito terro conviveu com o Cro-Magnon e, depois, dicos daquele pessoal: "rosto estreito, na
so tingido por um mineral de tona lidade desapareceu. Mas até hoje ninguém sa riz proeminente, cabelo liso e a percepção
ocre. Sobre o leito, jazia o esqueleto de be o motivo . E não há provas ela suposta de si mesmos como dominantes" .
um mamute, em boas condições ele con- relação com os nórdicos. Os nazistas também p lanejaram ir à
servação e coberto com armas e ferra- Bolívia, ao Irã, à Islândia e às ilhas Caná-
mentas de pedra. O animal deve ter feito SABICHtiES DO 311 REICH rias, mas o plano virou pó com o colap
parte do ritual de um antepassado nosso, Os nazistas também vasculharam o soda Alemanha na 2" Guerra. " Em 1944,
o homem de Cro Magnon um dos po- Oriente 1\:!édio, em 1938, com a expedi Himmler ordenou ao Estado- Maior que
vos mais antigos conhecidos na Europa , ção do historiador Franz Allheim e sua estudasse uma forma ele construir uma
que viveu há mais de 40 mil anos e usava amante, a fotógrafa Erika Trautmann. versão moderna do martelo de Thor:
ocre em suas pinturas. A descoberta não No Iraque, eles analisaram as ruínas de uma gigantesca arma elétrica capaz de
tinha nenhuma relevância extrordiná Ctesilonte, antiga capital dos reis persas inutilizar os sistemas elétricos dos Alia-
ria, mas causou frisson entre os racistas - que os sabichões do 3° Reich conside dos, desde os radares até o arranque dos
alemães. Um deles, o eugenista e inte ravarn nórdicos. Mais longe ainda foram tanques", diz Heather. Foi seu último de
grante do partido nazista llans Friedrich Ernst Schafer e Bruno Beger, especialistas vaneio. Meses depois, llitler e Himmler se
Karl Gunther, declarou que os nórdicos em estudos raciais das SS. Eles viajaram suicidaram, a Alemanha perdeu a guerra e
descendiam de uma "raça Cro Magnon" até o Tibete para rastrear uma suposta a arqueologia nazista virou mais um capí
especial, que teria convivido e, em segui- conquista ariana da região do Himalaia. tu lo na história da loucura humana. 11
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VIDA REAL