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BRUCE – UM HOMEM DA MÁFIA

SÉRIE IRMÃOS DA MÁFIA


Livro 3
Todos os direitos reservados ao autor.

Está é uma obra de ficção. Qualquer semelhança é mera coincidência. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são frutos da imaginação da
autora.

Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer
meios existentes, sem a autorização por escrito do autor.

Capa: Hellen Pimentel

Revisão: Morgana Brunner


“Livros dão alma ao universo, asas para a mente, voo para a imaginação, e
vida a tudo”. – Platão
Índice
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
EPÍLOGO
CAPÍTULO BÔNUS
SINOPSE

É fácil perdoar?

Não, não é fácil.

Ainda mais quando quem te fere é a única pessoa que você permitiu se
aproximar depois de tantos anos de solidão.

Depois de alguns maus entendidos, Rita se vê a mercê de Bruce e das


crueldades de que ela nunca imaginou que ele fosse capaz de fazer. Era como
se o seu pequeno castelo de areia desmoronasse de uma vez, bem na frente de
seus olhos.

Descobrir sobre a máfia foi um choque para ela, no entanto, foi muito pior ser
torturada por ele.

Como olhar para Bruce e não se lembrar dos dias em cativeiro?

Como permitir que a tocasse depois de ver a violência tão de perto?

Mas e se não fosse ele? Se fosse outro homem, teria sobrevivido?

Não, não teria.

Bruce tinha dado o melhor de si para não quebra-la, mas como perdoa-lo?

Tantas perguntas e nenhuma resposta.


PRÓLOGO

O dia tinha começado numa bagunça para Rita, e a pior delas era que estava
muito atrasada. O senhor Albertini iria tirar seu fígado fora, com os dentes,
quando chegasse a sua sala e ela não poderia culpá-lo por tal atrocidade, já que
não estava cumprindo com o combinado e exigido, de nunca se atrasar.

— Josh.

Rita gritou e ele não apareceu na escada.

— Estou indo, mãe, só mais um minuto. — Ele gritou de seu quarto.

— Se você ainda quiser uma mãe inteira no final do dia, acho bom descer agora!
— gritou de volta.

Rita se agachou e terminou de amarrar as sandálias de saltos nos pés. Tinha


descido completamente desesperada com o horário, que não se deu conta que
faltava prendê-las em seus tornozelos.

Endireitou o corpo, pegou sua bolsa e uma pasta de trabalho. Correu para sua
cozinha e pegou o sanduiche que tinha feito para Josh levar para escola, antes
que esquecesse de pegar.

Voltou em passos rápidos para a sala e ele ainda não tinha descido.

— Joshua, desça de uma vez ou eu vou buscá-lo pela orelha — gritou e então
ele apareceu na escada.

— Calma, mãe — disse. — Já estou descendo.

Ela sorriu para a figura loira que descia correndo em sua direção, era a cópia
perfeita de seu pai e aquilo sempre balançaria sua estrutura. Amava seu filho
mais do que a si mesma, porém, as características físicas que carregava traziam
saudades de um tempo que nunca mais iria voltar. Mesmo com o coração
apertado ela lhe ofereceu um grande sorriso amoroso.

— Não posso, quando sei que o senhor Albertini vai me arrancar os rins. — Ela
disse e ele sorriu.

— Semana passada era o coração — disse ele, enquanto a acompanhava até o


carro.

— Daqui uns dias você vai ter uma mãe zumbi e a culpa será sua.

— Gosto de filmes de terror.

— Você é um garoto sem coração.


— Eu te amo, mãe.

Ela sorriu antes de ligar o carro e levá-lo para a rua. Ele fazia isto todas as vezes
que ela tinha que dirigir, para que acalmasse seus medos e inseguranças.

— Eu também te amo, filho.

Ela respondeu com lágrimas nos olhos e depois se concentrou na estrada. Não
gostava de dirigir e fazia isto somente por necessidade.

— Mãe?

— Sim.

— Os testes para o time principal é na sexta-feira.

— E?

— Eu quero tentar.

— E o que precisamos para fazer de você o melhor jogador do time?

— Um tênis novo?

— Não mesmo — respondeu imediatamente.

— Ah, mãe! – resmungou e implorou. – Por favor!

— Você ganhou um mês passado. — O lembrou.

— Mas tem que pagar uma taxa de inscrição.

— Essa escola tem taxa para tudo! — reclamou. — Nem posso dizer que vou
vender meu fígado para pagar, já que o senhor Albertini vai comê-lo no café da
manhã.

— Não eram os rins? — Ele brincou.

— Ele vai me comer viva isto sim e já posso até ouvir seus gritos por estar
atrasada. Aquele homem não tem coração e você ainda brinca.

Eles riram juntos e Rita se sentiu feliz, todo o momento em que estavam juntos
era assim. Josh trazia a leveza e paz que precisava para a sua alma perturbada.

— Vamos pagar essa taxa de inscrição e você vai ser o meu campeão.

— Eu vou ser — afirmou ele com certa arrogância fazendo sua mãe sorrir.

Gostava de vê-lo confiante e de como suas atitudes eram parecidas com o jeito
de seu pai. Mesmo estando atrasada, seguiu devagar pelas ruas até que
chegasse a escola de Josh. Estacionou o carro longe e precisou acompanhá-lo
até a porta, para garantir que ele entrasse na escola com segurança, mesmo
sobre seus protestos de que era um garoto grande e podia ir até a portaria.
Porém, ela não iria arriscar sua segurança, sabendo que ele podia se virar
sozinho.

— Boa aula, querido.

— Tchau, mama.

— Seu nonno (avô) vem te buscar, não se esqueça. Não fale...

— Com estranhos e nem aceite sua ajuda.

— Isso aí, garoto!

— Mãe, eu tenho doze anos.

— E daí?

— Já sou um rapaz.

— Sempre será meu bebê, agora vá logo — disse e beijou a bochecha dele. —
Vejo-te mais tarde.

Ela o abraçou forte e ele ficou envergonhado como qualquer mini garoto que se
acha um adolescente. Rita sorriu e esperou até que Josh sumisse para dentro
de sua escola. O porteiro também ajudou para aumentar seu atraso, já que ele
começou a falar com ela sem parar, antes de voltar para seu carro.

Abriu a porta e ouviu alguém gritar seu nome.

— Rita.

Virou-se e deu um leve sorriso ao homem que vinha em sua direção.

— Ettore, como vai? — perguntou gentilmente e ele beijou sua bochecha


rapidamente.

Rita escondeu o leve tremor que sentiu por tal ato e sorriu sem graça para o
homem a sua frente.

— Muito melhor agora que te vi — respondeu. — Como foi o fim de semana?

— Corrido e agora estou atrasada, depois nos falamos.

Encerrou a conversa e entrou no carro. Ettore segurou sua porta e ela ficou
confusa com sua atitude.

— Dirija com cuidado, querida.


O tom de sua voz estava estranho e ela franziu a testa estranhando sua maneira
de agir, achando meio suspeito, mas mesmo assim ignorou suas dúvidas e sorriu
para ele.

— Sempre — garantiu.

Fechou a porta e ligou o carro.

Dirigindo devagar novamente pelas ruas manteve sua completa atenção no


trânsito tomando cuidado em sua condução como sempre fazia. Sentiu o carro
acelerar sozinho e seu coração acelerou junto. Seu corpo ficou rígido quando
tentou frear e não funcionou, tentou novamente e teve o oposto, ganhando mais
velocidade.

Ela começou a tremer com o pânico crescente em seu corpo, viu alguns carros
buzinarem irritados por sua condução rápida e lembranças vieram a sua mente.

“Saia daqui, Rita, e chame ajuda.”

Ela não conseguia respirar enquanto tentava manter o controle do carro. As


lembranças daquela noite não ajudaram muito para tranquilizar seu espírito. Sua
mente gritava para que o carro obedecesse a seus comandos, mas nada
funcionava e a cada segundo tomava uma velocidade maior.

Passando por uma pequena ponte, ela girou a direção desviando de uma moto.
Gritou quando o carro bateu na contenção lateral e voou por um instante antes
de bater na água com força.

O pânico não deixava que ela pensasse direito, se debatia na intenção de sair
do carro e sentiu o sangue escorrer de sua testa em um corte. No impacto do
carro na água, ela acabou batendo a cabeça antes do airbag ser acionado. A
água gelada estava entrando pelo carro e já cobria quase todo seu corpo,
fazendo com que enfim tentasse agir e escapar da morte.

Lembrou-se do cinto de segurança e forçou a tirá-lo, mas não conseguiu.


Levantou o rosto quando a água estava quase o alcançando e puxou o ar com
força, enquanto ainda tentava se livrar do cinto.

Nada que fazia ajudava em salvar sua vida, o ar tinha acabado e o carro foi
tomado pela água. Rita queria chorar por acabar em algo tão trágico e por deixar
Josh órfão, ele não merecia sofrer isto quando ainda era tão jovem.

Rita queria sobreviver e lutar pelo ar, para que seu filho ainda tivesse uma mãe
no final do dia, mas sentiu-se afogando e cada vez mais a esperança se
distanciava.

Seus olhos se escureceram e ela parou de lutar.


Ficou inconsciente até que sentiu uma grande pressão sobre o peito, obrigando
seu corpo lutar contra a água que tinha entrado em seus pulmões.

— Vamos lá, porra, respire!

Sentiu lábios frios e duros contra os dela, enviando fôlego ao seu corpo cansado
e quase morto.

— Respire! — ordenou.

A pressão aumentou em seu peito e a água voltou pela sua boca.

Rita abriu os olhos e mesmo sobre o embaraço neles viu a figura de preto
inclinado sobre ela.

— Bruce.

Sussurrou antes de desmaiar em exaustão.


CAPÍTULO UM

Adônis estava em seu escritório, acompanhado de Apolo e Bruce. Ele se


encostou à cadeira de couro em que estava e pensou no que fazer com sua
secretária. Rita foi vista quinze vezes na presença de um inimigo da máfia, aquilo
tinha chamado sua atenção.

— Devemos matá-la? — Apolo perguntou.

Antes que tivesse a chance de responder a porta se abriu e duas figuras


femininas entraram furiosas.

— Não se atreva, Adônis. — Giulia disse e ele podia ver que sua esposa estava
completamente irritada.

Ela consertou os óculos sobre o nariz em um gesto nervoso que pegou depois
de começar a usá-lo, e Adônis apreciava cada vez que ela fazia isto.

— Apolo como pode pedir tal coisa? Ficou maluco. — Milena bradou irritada.

— O que as duas fazem aqui? — O tom frio de Adônis não teve nenhum efeito
sobre elas e sua esposa o fulminou com o olhar.

— Essa é minha casa também. — Ela disse brava. — Adônis, que Deus me
ajude, mas se você prejudicar a Rita de alguma forma, eu vou sair desta casa
com meus filhos.

— Giulia! — Ele a repreendeu quase que horrorizado com o que ela disse.

Escondeu suas emoções para não parecer fraco.

— Isto serve para você também, Apolo, mas claro que depois de você acordar
com um gesso de corpo inteiro. — Milena disse e Adônis prendeu um sorriso.

Por Milena ser médica as ameaças dela sempre eram as melhores. Tinha uma
mente tão malvada como a de Apolo, quando era preciso.

— Milena, não brinque com isto. — Apolo disse suave, mas o fato de usar o
nome de sua esposa mostrava que ele ainda estava tentando deixar seu lado
mafioso no controle.

Respeitou seu irmão por isto, mas tinha que fazer alguma coisa.

— Primeiro, isto não é assunto para vocês. — Adônis disse e viu os olhos de sua
esposa brilhar em decepção.

Seu coração se apertou, não gostava de vê-la triste com ele, mas manteve-se
firme.
— Segundo, como ficaram sabendo disto? — Ele perguntou curioso.

— Nunca falaremos. — Elas disseram juntas e Adônis reprimiu um sorriso.

Mas seu irmão não, Apolo jogou a cabeça para trás e gargalhou.

— Se continuar a rir, vou dar um jeito de dosar sua bebida com uma maldita
droga que te faça ter uma ereção dolorosa por horas! E que a única solução para
diminuir seja enfiando uma agulha no seu pênis para retirar o sangue. — Milena
ameaçou furiosa fazendo Apolo parar de rir no mesmo instante.

Adônis sorriu e viu Bruce endurecer as feições na tentativa de não rir da situação.

— Você não faria isto, doutora. — Ele disse ainda chocado com a ameaça.

— Com certeza eu faria, priapismo é muito doloroso, querido. Não aconselharia


a experimentar.

— Às vezes eu tenho medo de dormir ao seu lado. — Ele brincou.

— É só não me irritar — garantiu.

Giulia caminhou e ficou bem na frente de Adônis. Ele olhou em seus olhos em
busca da paz que transmitiam, mas só conseguia encontrar preocupações neles.

— Pequena.

— Adônis, por favor, não mate ela. Eu não sei o que ela fez, mas tem que ter
uma explicação. Rita é a pessoa mais forte e doce que eu conheço, ela cria o
filho sozinha, não pode deixar aquele garoto órfão.

As lágrimas escorrendo no rosto dela o deixou em conflito, era um assunto da


máfia, mas a dor nos olhos da sua esposa era uma prioridade e precisava
acalmá-la.

— Tudo bem, querida, não vou matá-la.

— Promete?

— Sim, vou procurar por respostas, depois tomarei uma decisão do que farei
com ela.

Ele se levantou, limpou o rosto de sua esposa e beijou seus lábios com carinho.

— Agora me deixe pensar no que fazer — disse calmo e ela sorriu.

— Tudo bem, vamos, Mile.

— Antes eu quero examinar Rita.

— Não.
O tom irredutível de Apolo a fez endurecer.

— Eu quero examiná-la, Apolo, quero ter certeza do seu bem-estar.

— Ela está bem. — Ele garantiu.

— Eu sei que o seu carro caiu em um rio, preciso examiná-la.

— Ela está bem, Milena. — Adônis garantiu.

— Bem quanto? — questionou com petulância. — Quem foi o médico que a


atendeu? Ela se afogou? Engoliu muita água? Feriu seus pulmões? Quebrou
algum osso? Teve algum corte? O quão bem ela está?

Adônis endureceu com a afronta de Milena, e admitiu que fosse uma mulher de
coragem apesar de conseguir ser tão irritante quanto Apolo.

— Milena. — Apolo disse em tom de aviso.

Sua esposa não deveria enfrentar seu irmão, ele era o chefe e tinha que ser
tratado com respeito.

— Bem é suficiente para mim. — Adônis afirmou.

— Mas, não para mim — disse firme e voltou a olhar para o marido. — Apolo,
aquela mulher me ajudou quando ganhei Rapha, ela esteve lá quando eu estive
gripada demais para cuidar dele. — implorou. — Sempre me ajudou e sei que
ajudou Giulia também quando foi preciso, por favor, não me negue isto.

— Gatinha, ela se meteu em uma enrascada sem volta.

— Apolo, eu me meti em uma enrascada sem volta quando te encontrei naquela


madrugada. Era inocente, mas mesmo assim fui sequestrada, amarrada,
agredida e quase morta. — O acusou.

— Disse tudo, você era inocente. — Apolo pontuou.

— Lembra-se de como os efeitos daquela concussão me deixaram?

— Sim.

— Eu tive um traumatismo craniano por causa de uma coronhada, o que acha


que Rita pode ter sofrido por causa de um acidente grave como este?

— Muitas coisas. — Adônis respondeu para seu irmão, e mais uma vez estava
cedendo ao ver a preocupação nos olhos de sua esposa.

Sabia que Milena estava certa em se preocupar, elas eram amigas de Rita e ele
entendia que ferir e matar sua secretária traria dor a sua mulher e a do seu irmão.
— Deixe que ela vá até Rita, Apolo — pediu Adônis, não querendo desrespeitar
a opinião do seu irmão.

— Não é uma boa ideia, Adônis, mulheres são muito sensíveis e Milena vai entrar
em guerra comigo para tentar tirar Rita de lá.

— Apolo, eu prometo não fazer isto, por favor.

— Eu te conheço, gatinha, você tem um bom coração e sempre quer salvar


todos. Não é mesmo?

— Sim, prometo que só vou cuidar dela.

— Sabe que Bruce vai tirar respostas dela? Que ele vai lhe causar dor caso ela
não contribua? — Apolo questionou.

— Apolo.

O tom choramingado de Milena fez Apolo se levantar e abraçá-la.

— Esse é meu mundo, querida, pode até ir até Rita para avaliá-la, mas será uma
única vez. Não permito nada mais do que meia hora, e eu não quero nenhuma
discussão sobre isto depois.

— Tudo bem. — Ela murmurou.

— Vou levá-la lá em uma hora, arrume tudo o que precisa para examinar Rita.

— Ok.

— Bruce?

A voz doce de Giulia chamou a atenção de todos.

— Senhora?

— Não a machuque muito, por favor. — Giulia pediu com pesar entendendo que
não tinha como brigar sobre aquilo.

Bruce sem saber o que responder, somente acenou com a cabeça concordando.

Milena beijou Apolo rapidamente e as duas saíram juntas.

— Tenho medo delas juntas. — Apolo brincou.

— Não quero nem pensar sobre isto. — Adônis resmungou, enquanto voltava ao
seu lugar. — Diga-me sobre o acidente.

— Freios cortados. — Bruce respondeu em um rosnado.

— O que mais? Ela já acordou?


— Não nas ultimas três horas, tenho sido atualizado.

— Como você começou a investigá-la, termine — ordenou Adônis.

Bruce acenou com a cabeça concordando.

— Tire respostas dela de um jeito mais leve — instruiu Adônis.

Bruce queria protestar, mas não o fez. Ele tinha criado alguns sentimentos por
Rita desde que a beijou no elevador um tempo atrás e não queria machucá-la.
Tinha ficado afastado e só observou-a de longe, até que viu Ettore por perto.

Não queria causar dor a ela, mas ele não tinha outra opção. Devia sua lealdade
a máfia e não podia fazer nada para ajudá-la. Ver que quase morreu no acidente
de carro tinha feito coisas estranhas a ele, mas ainda assim não iria contra as
regras de Adônis.

Preferia que fosse ele a buscar por respostas do que qualquer outro.

— O que fazer com Ettore? — Bruce perguntou.

— O deixe solto por um tempo, vamos ver até onde sua traição pode ir. — Apolo
respondeu pensativo.

— Eu quero estar a três passos à frente dele, sempre. Antes de ir até Rita deixe
o terreno preparado, quero que ele seja como um pequeno rato em minha
armadilha. — Adônis disse e Apolo concordou.

— Ele é um idiota que eu vou amar bater a merda fora dele.

— O que me intriga é o por que Rita? Ela fez algo para ele? Ela sabe de alguma
coisa para ele ter tentado matá-la? — Adônis disse passando a mão sobre a
barba.

— Ela sabe de algo. — Apolo afirmou. — Ele não tentaria algo assim se não se
sentisse ameaçado.

— Quero respostas. — Adônis disse a Bruce.

— Vou tê-las — garantiu.

Saiu do escritório do chefe sentindo-se completamente irritado, ainda não sabia


como tiraria respostas de Rita. Não queria feri-la, ele sempre viu o lado bom dela,
mas chegou à conclusão que todos têm um lado escuro, mesmo o mais doce de
todos.

“Todo mundo tem um lado escuro.” Lembrou-se do conselho de seu velho pai.
CAPÍTULO DOIS

Primeiro dia de cativeiro

Sentindo todo o corpo doer, Rita rolou sobre o colchão macio em que estava
deitada. Não entendia o porquê de tanta dor, mas sabia que precisava acordar.
Algo muito importante tinha acontecido e ela precisava voltar a sua consciência.

Forçou seus olhos abrirem um pouco e viu o colchão novo em que estava
deitada. Levantou um pouco o olhar e encontrou uma parede branca suja no
fundo. Franziu a testa confusa sem reconhecer o lugar. Não entendeu o que
estava acontecendo, gemeu quando virou para o outro lado e todo o sangue
drenou de seu rosto.

Estava cercada por grades prateadas e muito resistentes, sua respiração


engasgou quando percebeu que estava presa. Fechou os olhos com força e
voltou a abrir na esperança de que fosse um pesadelo, mas as grades ainda
brilhavam na sua frente zombando de sua esperança.

Forçou o corpo para cima até conseguir se sentar. Uma dor fisgou em sua coxa
e seu olhar desceu para encontrar o vestido, que colocou esta manhã para
trabalhar, elevado e no meio da coxa uma faixa enrolada.

Arfou com o medo e seus olhos voltaram a percorrer pelo local. Estava
apavorada com sua situação até que seus olhos pararam sobre uma figura de
preto sentada em uma cadeira enquanto a observava.

— Bruce.

Disse sentindo a garganta raspar seca.

Ele não disse nada e somente ficou a olhando com a mesma frieza de sempre.
Rita levou as mãos em seus olhos e os esfregou, tentando buscar por clareza.
Olhou para Bruce novamente e encontrou seus frios olhos verdes sobre ela.

— Bruce, o que está acontecendo?

Ele não respondeu e ela sentiu sua garganta ainda mais dolorida.

— Minha garganta está doendo. — Ela resmungou e tentou se levantar.

Seu corpo não tinha forças, mas ela foi teimosa até que conseguiu se colocar
em pé, mesmo balançado sobre os pés. Deu um passo dolorido para frente e
outro, até que segurou nas grades frias.

— Bruce — sussurrou aterrorizada. — O que está acontecendo? Por que estou


presa aqui? ... Não estou entendendo... Bruce, diga alguma coisa.
Ele nem mesmo piscou e ela sentiu o pavor nas veias.

— Bruce, por favor, eu estou com medo. — Ela sussurrou com lágrimas nos
olhos.

Viu ele se levantar e pegar uma bandeja que tinha na mesa a sua frente.

— Afaste-se das grades.

O tom perigoso dele a fez tropeçar para trás em seu corpo dolorido, acabou
pisando nas suas sandálias no chão da cela e caindo de bunda no chão. Gemeu
alto com a dor que explodia por todo seu corpo.

— Vá para o colchão e fique deitada, não me faça te amarrar nele. — Ele disse
duramente e empurrou a bandeja por baixo da grade em um compartimento.

Ela o olhou com lágrimas.

— Porque está fazendo isto... comigo? ... Nunca te fiz nenhum mal. — Ela
sussurrou e ele evitou seu olhar naquele instante.

— Beba água para aliviar o desconforto em sua garganta, passou mais de dez
horas desacordada. Coma o sanduíche e tome os analgésicos para dor que tem
na bandeja.

— Dez horas?

— Sim.

— Josh.

Ela falou alto e forçou seu corpo para cima de novo, estava hiperventilando e
cambaleando na cela. Agarrou as grades com força para obrigar seu corpo a se
manter de pé.

— Josh... eu preciso... buscar... ele na casa do seu nonno... meu filho... por
favor... Josh... Bruce...

Suas palavras eram bagunçadas e ela se sentiu tonta, mas obrigou seu corpo a
aguentar. Josh precisava dela.

— Ele vai... achar que... eu o abandonei... Josh... o meu Deus... eu nunca faria
isto... ele é minha vida... preciso vê-lo ...

— Deite-se — ordenou Bruce.

— Bruce para com essa brincadeira, eu preciso ver o meu filho! — Rita gritou
completamente apavorada, enquanto sentia sua cabeça explodir em dor.

— Eu não estou brincando, agora você é uma prisioneira da máfia.


A voz perigosa de Bruce chegou aos seus ouvidos e então Rita caiu para trás
desmaiada.

Bruce queria xingar a si mesmo por ter sido muito bruto com ela, mas não havia
um jeito mais delicado de fazer isto. Correu para frente e abriu a cela onde ela
tinha acabado de bater no chão, completamente apagada. Não podia culpá-la
pelo seu desespero, é normal o ser humano não saber lidar com o medo, mas o
pavor que ela demonstrou ao achar que o filho pensaria que ela o abandonou
era real. Tão real que a levou no limite de suas forças em poucos segundos.

Pegou-a com cuidado em seus braços e colocou Rita sobre o colchão


novamente. Pôs seus dedos sobre o pulso de seu pescoço e o sentiu leve. Ele
esperava que ela não tivesse machucado a cabeça com a sua queda. Sua perna
machucada chamou a atenção dele pelo vermelho fluindo na faixa e ele suspirou
ao perceber que ela tinha aberto os pontos do corte.

...

Quando Rita abriu os olhos novamente uma hora mais tarde, ela chorou em
silêncio ao perceber que não era um pesadelo. Ela realmente era uma prisioneira
naquele lugar, era real. Olhou para a perna machucada e viu a faixa branca bem
enrolada em sua coxa.

Permanecendo deitada enquanto procurava por Bruce com os olhos e o


encontrou no mesmo lugar de antes, sentado em uma cadeira confortável a
observando.

— Coma e tome os analgésicos para dor e infecção — ordenou ele.

Ela soltou um soluço e empurrou o corpo para o outro lado tentando ignorar a
presença dele. Não queria comer e nem aliviar a dor que sentia. Queria entender
o porquê estava presa e sair dali de volta para a segurança de sua casa junto
com seu filho.

Ficou naquela posição por muito tempo enquanto chorava baixinho. Sentia os
olhos de Bruce sobre ela e mesmo assim o ignorou.

Ouviu ele se aproximando e não esboçou nenhuma reação.

— Rita.

Ela não o respondeu, deixando que ele provasse do próprio veneno. Bruce era
bom em não responder perguntas, o que sempre a deixava furiosa.

— Você precisa comer e se recuperar — disse ele rispidamente.

— Por que está fazendo isto comigo? — sussurrou e o ouviu suspirar.


— Vamos falar sobre isto em algum momento, mas agora você precisa se
alimentar e tomar os medicamentos para sua dor.

— Por que você se importa? Por que está me mantendo prisioneira? Eu preciso
do meu filho. — Ela murmurou.

— Você não dita às regras aqui, faça o que eu te mando e será o melhor para
você — ameaçou. — Não me force ao limite.

— O que você fez com meu filho? — Ela perguntou dolorosamente.

— Nada.

— Não minta para mim, o que fez a ele?

— Não estou mentindo, não fiz nada — afirmou. — Ele está sobre os cuidados
de seu nonno.

— Como posso confiar no que me diz?

— Não pode, mas é a única opção que tem.

— Ele vai pensar que eu o abandonei. — Rita sussurrou.

— Ele pensa que viajou a trabalho. — Bruce respondeu, mesmo não tento
nenhuma obrigação, ele queria que ela se acalmasse e não se preocupasse
tanto.

— Deixe-me falar com ele.

— Não.

— Bruce, por favor — implorou.

— Não.

— Ele nunca dormiu longe de mim. — Ela falou e forçou seu corpo virar para o
lado onde Bruce estava. — Por favor, Bruce.

Ele se manteve em silêncio por um tempo tentando decidir se era uma boa ideia.
Mas se queria que o filho acreditasse que ela estava em uma viagem de trabalho,
deveria deixar.

— Vou permitir, se dizer algo a ele sobre o que está acontecendo, eu serei
obrigado a ir atrás dele também.

— Não direi nada! — prometeu ela apavorada que algo acontecesse a Josh.

Bruce acenou com a cabeça e se afastou para pegar o celular que tinha deixado
em cima da mesa.
Voltou até ela e fez a chamada no viva-voz.

— Alô. — Josh atendeu no segundo toque seu celular.

— Filho. — Rita disse firme, mesmo que sua garganta queimasse.

— Mama.

O tom aliviado de Josh fez o coração dela se apertar.

— Oi, querido.

— O senhor Albertini arrancou seu rins por chegar atrasada? — Josh brincou um
pouco tenso.

— Mais do que isto, nem sei como ainda estou viva. — Ela respondeu e ficou
tensa com o olhar duro de Bruce sobre ela.

Em um empurrão, obrigou-se a se sentar e implorou com o olhar para que ele


não encerrasse a chamada.

— Não ligo de ter uma mãe zumbi. — Ele brincou aliviado.

— Vou lhe fazer um zumbi também quando voltar, porque a culpa é sua.

— Prometo não me atrasar tanto para sair.

— Acho bom, ou teríamos que começar a sugar pessoas para sobreviver.

— Mãe, zumbis não sugam sangue e sim vampiros. — Ele riu alto.

— Então, de que eles sobrevivem?

— De nada, neh! Eles já vão estar mortos para isto, por isto são zumbis, mortos-
vivos.

Ela quis chorar naquele momento, mesmo tentando impedir que as lágrimas
saíssem, elas escorreram por suas bochechas em silêncio sem sua permissão.

— Ainda acho que eles sugam sangue. — Ela disse com um tom firme, mas por
dentro estava destroçada.

— Quando voltar vamos falar sobre a diferença de zumbi para vampiros, você é
minha mãe e deveria me ensinar, não o contrário — brincou.

— Você é um garoto esperto.

— Sou um rapaz, mãe, e preciso levar o dinheiro para a inscrição do futebol.

— Peça a seu nonno, diga a ele que depois repasso o valor.


— Já não tem mais nenhum órgão? O senhor Albertini arrancou tudo? — Josh
brincou.

— Até minha pele — brincou para que ele não sentisse falta de seu humor.

— Te amo, mãe.

— Também o amo, querido, obedeça a seu nonno até que eu volte.

— Vai demorar, mãe?

— Não sei, querido.

— Pode me ligar sempre?

— Não tenho certeza.

— Mãe. — Josh a chamou aflito.

— Oi.

— Não vai me abandonar, não é mesmo?

— Nunca, querido, sempre vou estar com você mesmo longe.

— Cante para eu dormir.

— Já escovou os dentes?

— Sim e já estou na cama, não queria dormir longe da senhora, mas entendo
que tenha que trabalhar, só tenho medo de que nunca volte.

— Não tenha, filho.

— E mãe.

— Hum.

— Dirija com cuidado, está bem?

— Sempre.

Então Rita começou a cantarolar a mesma canção que cantava para ele todas
as noites desde que nasceu. Era uma canção especial que sua mãe também
cantava para ela em sua infância e Rita queria que Josh se sentisse em paz toda
vez que cantarolava para ele, assim como ela se sentia quando ainda era
criança.

Bruce ficou em silêncio até que viu Rita adormecer depois de cantarolar para o
filho. Sua voz suave acalmou seu filho e a ela também. Afastou-se e encerrou a
ligação, voltou a se sentar enquanto observava Rita dormir.
Ele ficou curioso para entender o porquê o garoto tinha tanto medo de que ela o
abandonasse. Também se perguntou por que ele pediu que ela dirigisse com
cuidado. Mas sorriu ao se lembrar da conversa estranha sobre zumbis e
vampiros. Entendeu que ela disse a ele que Adônis arrancaria seus órgãos por
chegar atrasada ao trabalho, algo que ele realmente faria depois de gritar sobre
como odeia esperar.

Suspirou e decidiu que a deixaria dormir até o amanhecer, e que quando


acordasse, ele iria começar o seu trabalho para ter as respostas que precisava.
CAPÍTULO TRÊS

Segundo dia de cativeiro

Rita rolou para o lado e sentiu uma pressão dolorida em sua coxa, percebeu que
estava deitada sobre sua ferida e logo a realidade voltou a sua mente.

— Bruce — sussurrou lembrando que ele estava fazendo dela sua prisioneira.

Forçou seu corpo a levantar e se sentou no colchão, gemeu com a dor de cabeça
e buscou por Bruce com os olhos pelo local.

Ele estava na mesma cadeira de antes, cogitou a ideia de que ele nem mesmo
tenha saído de lá em nenhum instante.

— Pare com isto, Bruce, por favor, me tire daqui — pediu ela.

Ele se manteve em silêncio, fazendo o temperamento de Rita se elevar.

Ela se levantou com certo esforço e balançou em seus pés até a grade onde se
agarrou para que se manter na vertical.

— Que merda você pensa que está fazendo? Dá para parar com essa
brincadeira ridícula logo? Eu estou cansada. Tenho uma pessoa que depende
de mim e em vez de estar cuidando da minha vida como sempre fiz, estou aqui
presa sem nenhuma razão — bradou ela.

Bruce ainda se mantinha em silêncio e Rita gritou frustrada.

— Me solta, per l’amor di Dio! Eu estive em um acidente, quase morri e você me


mantém presa!

Acidente?

Rita estremeceu ao lembrar-se do seu desespero para respirar, enquanto seu


carro afundava no rio.

— Eu estive em um acidente? — Ela sussurrou a pergunta para si mesma.

Bruce ergueu uma sobrancelha em interrogativa quando viu o corpo de Rita


tremer com a constatação de que ela tinha sobrevivido a um acidente. Viu-a
fechar os olhos e tremer novamente, quando seus olhos abriram novamente eles
brilhavam em lágrimas.

— Você.

Ela disse e ele não entendeu, mas continuou em silêncio.

— Você me tirou do carro... Bruce... me lembro... salvou minha vida...


Ela o olhou em busca de confirmação.

— Sim, eu a tirei do carro, e você acabou cortando a perna no vidro da janela.


— Ele respondeu e ela olhou para a sua perna.

Parecia que tentava se esforçar para lembrar o que mais tinha acontecido, ele
viu-a se apoiar na grade tremendo.

— Odeio dirigir... nunca mais... vou dirigir... nunca...

— Por que não gosta de dirigir? — Bruce perguntou curioso.

— Não te interessa. — Ela rosnou brava.

Bruce não se afetou, levantou e se encostou na mesa prateada com os braços


cruzados.

— Tome os medicamentos que deixei.

Desta vez ela se manteve calada, não confiaria nele para tomar o remédio e
muito menos para comer suas refeições.

Bruce percebeu logo o porquê que ela se negava e resolveu ser mais duro.

— Rita. — Ele rosnou seu nome.

Ela o olhou nos olhos e ele deu três passos ameaçadores para frente.

— Vou dizer mais uma única vez e acho bom me obedecer, não sou um bom
praticante de paciência e não vai ser nada bom você testar isto.

A voz assustadoramente calma de Bruce fez Rita tremer em medo.

— Vai tomar a merda dos analgésicos que deixei para você e depois irá comer
o sanduíche. Caso não faça, eu vou entrar aí, te amarrar e forçá-los em sua
boca. Fui claro?

— Preferia quando não falava. — Ela resmungou mal-humorada.

— Fui claro?

— Sim.

— Antes preciso usar um banheiro. — Ela murmurou envergonhada.

— Faça o que eu ordenei primeiro.

A ameaça em suas poucas palavras fez Rita tremer novamente, caminhou em


passos vacilantes até a bandeja que ele havia deixado em um canto e pegou os
comprimidos, jogou-os em sua boca depois de hesitar, e então bebeu a água da
garrafa.
— Coloque seus braços para fora da grade — ordenou e Rita pulou ao perceber
que ele tinha se aproximado dela sem fazer nenhum barulho.

Ela fez o que ele ordenou e tentou puxar os braços, quando avistou as algemas,
ele foi mais rápido e segurou suas mãos.

— Não se atreva.

Bruce rosnou e prendeu as frias algemas em seus pulsos.

— Vou levá-la ao banheiro, mas não tente nenhuma gracinha. Eu não tenho
senso de humor, então, não provoque em mim o que você não pode controlar.
Lembre-se que eu posso muito bem ir buscar seu garoto para vim lhe fazer
companhia nesta cela.

Rita arfou com a ameaça.

— Não vou tentar... não ameace meu filho.

— Me obedeça e ele vai ficar bem.

— Já disse que não vou fazer nada.

— Bom.

Ela o observou voltar para a porta da cela e destrancar o cadeado. As correntes


que prendiam fizeram barulho e a porta se abriu.

— Venha, antes que eu mude de ideia.

Rita balançou em seus pés para frente, ainda sentindo dor no machucado em
sua perna e sua cabeça doía a cada movimento que fazia.

Bruce a pegou pelo cotovelo e a guiou pelo local, e abriu uma porta no canto
direito e ela viu o banheiro.

— A porta fica aberta.

— O quê? Oh não... eu não...

— Não irei olhar, entre antes que eu a leve de volta.

— Bruce, é só uma porta!

— Não interessa. Não está em nenhum hotel de luxo. Entre logo antes que eu te
arraste de volta.

Ela suspirou cansada, sabia que não adiantava discutir com Bruce, não ganharia
essa luta, ainda mais com ele no controle de cada respiração que dava.
Caminhou para dentro e o viu se virar para lhe dar um pouco de privacidade. Ela
usou a privada rapidamente sentindo-se completamente exposta, lavou as mãos
na pequena pia e estranhou o fato de não ter espelho no local. Juntou o cabelo
castanho em um coque acima de sua cabeça e lavou seu rosto, retirando a
maquiagem que tinha usado no dia anterior, tudo com as mãos algemadas.
Sentiu um pequeno curativo em sua testa que não tinha percebido antes e se
lembrou de que havia batido a cabeça com o impacto do carro sobre a água.
Molhou mais o rosto e notou a presença de Bruce atrás dela, suspirou antes de
fechar a torneira e se virar para ele.

Surpreendeu-se quando ele lhe ofereceu uma toalha de rosto preta. Aceitou e
não disse nada, enquanto voltava para a sua cela depois de soltar suas mãos.

— Coma.

A ordem no tom de Bruce à fez tremer de raiva, ela se sentou no colchão de volta
e secou o rosto com a toalha tentando clarear sua mente para entender o que
ele queria dizer.

Ela comeu em silêncio e percebeu o quanto estava com fome. Assim que deixou
a bandeja de lado, ela viu Bruce se levantando novamente.

— Levante-se.

Ela o olhou por um instante hesitando sem saber o que ele queria.

— Não vou dizer de novo.

— Babaca — murmurou e se levantou.

— Tire o vestido.

— O quê? — perguntou com os olhos arregalados.

— Você me ouviu muito bem, Rita. Não vou repetir!

— Você não pode me pedir isto — protestou.

— Não estou pedindo — afirmou. — Estou ordenando que você tire o vestido.

— Bruce...

— Agora. — Bruce rosnou e ela tremeu com a intensidade que ele transmitiu em
uma única palavra.

Alcançou o zíper nas costas e o deslizou para baixo, abrindo-o, respirou fundo
antes de puxar os ombros para baixo e deixar que o vestido preto caísse sobre
seus pés. Ficou agradecida por estar usando sutiã ou ela estaria em uma
situação ainda pior.
— Coloque os braços para fora novamente para que eu possa te algemar.

— O que vai fazer?

— Rita, obedeça. — Ele rosnou.

— Eu vou te odiar para sempre, Bruce, para sempre.

— Eu sei que vai.

— Então, por favor, pare com isto. Solte-me! — implorou. — Deixe que eu volte
para minha casa e meu filho.

— Rita.

— Bruce.

— Não tem essa opção ainda, coloque os braços para fora e não me force a
entrar aí.

Sabendo que ele entraria e que suas promessas não eram vazias, ela cambaleou
para frente sentindo a perna doer, e então, colocou os braços para fora. O frio
das algemas de aço se conectou em seus pulsos e lágrimas encheram seus
olhos.

Ele abriu o cadeado e levou Rita até o meio da enorme sala em que estavam.
Estendeu os braços dela e prendeu o meio das algemas a um gancho que tinha
pendurado em uma corrente presa ao teto. Ela arfou ao sentir que seus pés
quase não tocavam o chão e sentiu choques de dor passar por seus músculos
já cansados, devido ao acidente de carro.

— Rita.

— Não me machuque, por favor. — Ela sussurrou e olhou em seus olhos.

Ela pode detectar uma leve sombra de pesar nos cinzentos olhos verdes de
Bruce.

— Eu sinto muito por isto, mas não há nada que eu possa fazer para te ajudar.
— Ele murmurou e se virou.

Caminhou até a parede e mexeu no painel de temperatura do local, logo Rita


sentiu o clima mudar e viu-o caminhando de volta para sua habitual cadeira. Ele
se sentou de frente para ela e olhou em seus olhos, ela reconheceu a frieza de
volta em suas feições.

Então Rita quebrou o olhar entre eles e olhou para baixo, sabia que Bruce não
deixaria que ela fosse embora tão cedo e que lhe causaria dor. Aquele era
somente o começo e seu coração se apertou com a mágoa crescente dentro de
seu peito.
Aguentaria o que fosse preciso para que pudesse voltar para Josh. Mesmo que
não confiasse mais em Bruce, ela se agarrou a certeza de que ele estava bem
com o seu nonno e aquilo renovou suas forças.

Não sabia quanto tempo tinha se passado, mas ela sentia que não podia
aguentar por muito tempo mais a dor em seu corpo. As pontas de seus dedos
dos pés dilatavam com a dor em ter o peso de seu corpo sobre eles por muito
tempo. Tentava mudar o peso de uma perna para a outra e não conseguia,
devido ao ferimento em sua coxa. Suas mãos ficaram dormentes e seus pulsos
estavam doloridos, sem contar que todo seu corpo tremia com o frio ambiente
que Bruce tinha imposto a ela. Tentava controlar os tremores, mas seus dentes
começaram a bater rápido e com força devido ao gelo se espalhando por cada
centímetro de pele exposta de seu corpo.

De olhos fechados ela tentava lembrar de bons dias, tentava concentrar forçando
sua mente a encontrar forças, mas não podia mais. Sentia que a qualquer
momento entraria em hipotermia se Bruce não trouxesse uma fonte de calor para
ela.

Abriu os olhos quando ouviu o suspiro dele e ficou surpresa em vê-lo na sua
frente. Seu maxilar estava tenso e um músculo saltava com a força que ele
trincava os dentes. Seus olhos tinham uma fúria desconhecida e um leve
arrependimento brilhou nas profundezas de suas sombras.

— Vou lhe fazer perguntas e imagino que já percebeu que eu não estou de
brincadeira. Quero respostas sinceras e cada vez que não gostar do que me
responder haverá punições.

— Bruce...

— Não me faça repetir — ordenou. — Quanto mais rápido me der às respostas


que preciso, mais rápido eu vou te tirar daí...

— Por que está fazendo isto? — Ela sussurrou sentindo-se fraca.

— Vou te dar algo quente e aspirinas para dor. Mas se mentir para mim irá ficar
aí até que seus braços desloquem por causa de seu próprio peso.

— Por favor — sussurrou.

Bruce queria muito pegá-la em seus braços e dar a ela o conforto que precisava.
Ver seu corpo pequeno tremer a cada fisgada de dor que passava em seus
músculos estava matando Bruce por dentro. Mas ele não tinha outra opção,
devia sua lealdade à máfia e ele nunca seria um traidor, por mais difícil que isso
fosse.

— O que sabe da máfia?


— Máfia? — Ela perguntou de volta confusa.

— Rita.

— Eu não sei do que está dizendo.

Bruce se virou e foi até uma pequena mesa com instrumentos de tortura, pegou
um pequeno Taser (arma de choque usado para imobilizar momentaneamente
uma pessoa) e voltou para Rita.

— Bruce? O que vai fazer com isto?

Rita odiou a forma que sua voz tremeu, mas estava assustada em ver o Taser
nas mãos de Bruce.

— O que sabe da máfia, Rita? Última chance.

— Nada, per l’amor di Dio! O que eu saberia? — Ela respondeu exaltada e então
sentiu a arma ser encostada em sua barriga e o choque atravessar seu corpo.

Ela sentiu seu corpo tremer de uma forma violenta causando dor a cada célula
possível. Arfou tão alto que perdeu a capacidade de respirar. Quando o choque
parou, sabia que foi um minuto antes que perdesse a consciência.

Rita sentiu que poderia chorar se não fosse pela dor excruciante corroendo todos
os músculos existentes de seu corpo. Duas mãos grandes seguraram seu rosto
e levantaram sua cabeça, que estava caída para frente.

— Respire! — Bruce ordenou.

Ela fechou os olhos e lembrou-se dele gritando para que ela respirasse quando
a resgatou, “Vamos lá porra, respire!”, ele tinha um desespero na voz que por
um instante ela acreditou que ele tinha medo de que ela tivesse morrido.

— Rita! Respire!

Ela puxou o ar com força e nem se lembrava mais de que não conseguia fazer
seus pulmões obedecerem. Abriu os olhos e encontrou os dele olhando-a com
pesar novamente.

— O choque pode ser extremamente doloroso se for usado inúmeras vezes. —


Ele murmurou. — Não me force a isto.

Os olhos cinzentos de Bruce brilharam com pesar.

— Não me olhe assim. — Ela sussurrou.

— O que sabe da máfia? — Ele voltou a perguntar usando um tom de voz mais
duro.
— Nada, porque eu saberia de alguma coisa?

— Rita, suas respostas não estão te ajudando. — Ele rosnou.

— São as únicas que tenho para te dar! — exclamou quase sem forças.

— Diga-me o que sabe, porra!

— Nada, eu não sei nada!

Bruce voltou a colocar o Taser na barriga dela com raiva por suas respostas. Ele
não queria machucá-la, mas ela não estava cooperando. Assistiu, com pavor, o
corpo dela tremer violentamente novamente com o choque correndo por seus
membros e quando se afastou, ela desmaiou logo em seguida.

Ele se sentiu furioso quando jogou o Taser no chão e estendeu as mãos para
tirá-la do gancho, pegou-a em seu colo preocupado e correu com ela em seus
braços de volta para o colchão.

Colocou dois dedos no pulso de seu pescoço e sentiu seu pulso leve, ele não
podia respirar aliviado, porque não se sentia assim. Soltou as algemas dos
pulsos dela e massageou cada um para aliviar a dor que o vermelho em sua pele
mostrava. Vestiu-a em seu vestido novamente tentando aquecer seu corpo e se
levantou.

Saiu dali e correu para colocar a temperatura ambiente mais quente.

Bruce tremeu com a fúria dentro dele, fúria por ter que machucá-la, fúria por ela
estar nesta situação. Fechou as mãos em punhos e socou a parede.

Uma, duas, três, quatro, quatro vezes.

A dor veio em boa hora para ele, ofegante viu que tinha estragado a parede com
tamanha força que tinha usado e que também feriu os nós de sua mão. O sangue
escorreu de seu machucado e ele encostou a testa na parede, não se importando
com a dor. Só queria terminar com isto logo, decidiu que era melhor ele do que
qualquer outro homem. Sabia que eles não teriam receio em machucá-la
brutalmente, enquanto tentava quebrar sua alma em busca de respostas.

Ela poderia não perdoá-lo, mas ele não poderia lidar com sua alma quebrada.
Tinha tomado a decisão certa em aceitar tirar as respostas dela. Bruce entendia
a profundidade de dor que uma tortura poderia trazer e não estava disposto a
deixar que ela sofresse tal brutalidade.

Ele ficou por perto esperando o momento que ela acordaria, o que não demorou
mais do que meia hora. Ele deixou outro sanduíche e alguns analgésicos para
dor. Por mais que precisasse de respostas, Bruce não tinha forças para feri-la
ainda mais, deixaria que ela se recuperasse um pouco mais, antes de tentar
novamente com algo menos doloroso.
Durante o resto do dia ela não disse uma única palavra, e ele manteve seu
habitual silêncio. Deixou que ela usasse o banheiro mais duas vezes e também
lhe trouxe outras refeições.

Rita ficou no colchão por todo o tempo, cansada demais para lidar com Bruce e
com as coisas que estavam acontecendo. Chorou em silêncio por um tempo e
admitiu para si mesma que ele havia partido seu coração em tantos pedaços que
ela jamais poderia contar.

Quando anoiteceu, Rita implorou para que permitisse que ela falasse com Josh
novamente. Ele estava irredutível com o assunto, não queria permitir que ela
tivesse a oportunidade de falar com o filho de novo.

— Bruce, por favor.

Ela sussurrou derrotada e ele lhe olhou nos olhos.

— Não renda muito, dez minutos é o máximo que eu vou permitir. E acho bom
prepará-lo para os próximos dias, pois não falara com ele.

— Dez minutos. — Ela concordou.

Ele acenou com a cabeça e fez a chamada, ligou o viva-voz e Rita forçou seu
corpo para cima, se levantou ficando encostada na grade e mais próxima do
celular desta vez.

O celular chamou uma vez e o coração de Rita acelerou com a ansiedade,


chamou outra e outra vez e ele não atendeu. Quando a chamada estava quase
encerrando a voz de Josh preencheu o vazio no peito dela.

— Mama?

Ele disse visivelmente aflito.

— Josh. — Ela disse seu nome emocionada.

— Achei que não ia ligar, estava dormindo...

— Desculpe, querido, mas não vou conseguir ligar nos próximos dias... Aqui não
tem um bom sinal de telefone e eu tenho muito trabalho.

Josh ficou em silêncio e Rita chorou.

— É difícil dormir longe de você, mama.

— Também... É difícil dormir longe de você, meu pequeno encrenqueiro.

— Está chorando, mama?

— Só estou com saudades, filho.


— Não chore, mãe, por favor. — Ele sussurrou e ela colocou as mãos sobre a
boca para impedir de chorar alto. — Papa não gostava quando chorava e eu
também não gosto.

— Não vou chorar. — Ela disse firme e as lágrimas caíram grosseiramente em


suas bochechas.

— Fiz a inscrição do futebol, mama, vou passar e ser seu campeão. — Ele disse
de forma presunçosa e ela deu um pequeno sorriso.

— Você já é.

— Mas você não pode ser igual aquelas mães malucas que gritam e choram
durante o jogo. — Ele brincou.

— Não posso prometer isto. — Ela disse quase em um sussurro. — Já sou assim,
escandalosa e maluca.

— Eu te amo, mãe, está realmente bem? — O medo na voz de Josh à fez


escorregar pela grade sem forças.

— Estou... bem. Acho que estou resfriando.

— Já foi ao médico? A senhora nunca fica doente... eu... eu... não posso perdê-
la.

— Estou bem, filho, não vai me perder... estarei sempre com você. Que tal
dormimos agora, hein?

— Tudo bem, estou te esperando voltar, mãe.

Rita não disse nada, só cantarolou a mesma canção de todas as noites. Até que
percebeu Bruce encerrar a ligação e se afastar. O soluço veio alto por entre seus
lábios, ela abraçou com força as pernas, ignorando a picada de dor da coxa
machucada e enfiou sua cabeça entre as pernas enquanto chorava.

Ela era forte e determinada sobre tudo, sempre lutou muito, mas ficar longe de
Josh quebrava sua alma. Saber que talvez nunca mais pudesse vê-lo partiu seu
espírito em tantos pedaços que ela nem sabia se poderia colá-lo um dia. Só
piorou ao perceber que era a última vez que falaria com ele. Ele ficaria esperando
por ela e talvez ela nunca mais retornasse, ele acreditaria que estava o
abandonando e esta constatação a quebrou.

Bruce ficou na sua cadeira, imóvel. Não podia se mover e teve que forçar várias
vezes seus pulmões a respirar sozinho. Rita estava na sua frente, enrolada em
seu próprio corpo, enquanto chorava quebrada.

Ele nunca viu alguém se quebrar desta forma.


Sempre precisava de uma longa sessão de tortura, antes que um prisioneiro
quebrasse em lágrimas na sua frente.

Mas ela era diferente.

Não havia feito praticamente nada do que sabia para infringi-la dor e parecia que
ele tinha acabado com todas suas esperanças. Ele não entendia o porquê
daquilo, o porquê sua dor estava tão forte e quase o sufocava em presenciar
aquela cena.

Então se deu conta do que poderia ser.

Ficar longe do filho tinha quebrado sua alma da forma mais bruta possível.
Talvez ele não devesse ter dito que era a última vez que ela falaria com Josh,
mas era tarde demais para voltar atrás em suas palavras.

Agora ele só tinha que se sentar ali e assistir a dor dela.


CAPÍTULO QUATRO

Terceiro dia de cativeiro

O tremor estava forte em seu corpo frágil e não podia fazer nada além de trincar
os dentes na tentativa de não bater uns nos outros com o frio que estava
sentindo.

Quando amanheceu e ela despertou, Bruce estava no mesmo lugar de sempre


a olhando. Tentou o ignorar, mas hoje impôs sua presença.

Determinado a ter respostas.

— Tire seu vestido — ordenou ainda do mesmo lugar.

— O quê? — Ela perguntou sonolenta, sem entender o que ele queria.

— Não vou falar novamente, tire seu vestido.

— Bruce? — Ela arregalou os olhos com o medo do que viria depois, se


lembrando do que tinha passado no dia anterior.

Ele ficou em silêncio e o seu olhar a fez entender que ele realmente não repetiria.
Lembrou-se de que ele havia dito no dia anterior, que forçaria os remédios em
sua boca caso ela não tomasse por conta própria. E agora o seu olhar dizia que
ele arrancaria o vestido de seu corpo caso ela não o obedecesse.

Forçou seu corpo de pé e abriu o zíper do vestido que estava usando. Tremeu
quando sentiu que o local estava mais frio que o normal e imaginou que ele havia
mudado a temperatura térmica novamente. Deslizou o vestido por seus ombros
até que ele caiu sobre seus pés.

— Solte a faixa em sua coxa.

Ela o olhou ainda sem entender e ele não vacilou o olhar, ainda mantinha uma
expressão fria e perigosa no rosto, fazendo Rita somente o obedecer.

Desenrolou a faixa de sua coxa e sentiu uma fisgada de dor quando ela puxou
um pouco a pele machucada. Viu uma gaze bem colocada e percebeu que deve
ter levado uns quinze pontos naquele corte.

— Deixe a gaze por enquanto.

Ela acenou com a cabeça e então ele a algemou. Guiou-a para fora da cela e
prendeu suas mãos acima de sua cabeça fazendo seus ombros protestarem por
não terem se recuperado da dor anterior, debaixo de um chuveiro que não tinha
visto antes. Abriu a água e deixou que congelasse sobre ela.
Seus pensamentos foram cortados quando a água fechou sobre sua cabeça e
ela piscou para olhar para ele.

— Vou ser direto ao assunto.

Acenou com a cabeça, incapaz de abrir a boca.

Ele se afastou por um instante e voltou com alguns papéis nas mãos, quando se
aproximou viu que eram fotos.

— Você conhece esse homem?

Ele perguntou e levantou a foto de Ettore.

Rita acenou com a cabeça e Bruce a olhou feio.

— Eu quero que você me responda com palavras. Fui claro?

— Sim.

— Você conhece esse homem, Rita?

— Sim, o conheço — disse firme e seu queixo bateu com o frio.

— Qual seu relacionamento com ele?

— Nenhum.

Viu que Bruce não gostou da sua resposta, ele esticou o braço e abriu a água
fria sobre ela novamente.

Rita gemeu com o frio e seu corpo voltou a tremer tanto, que mal podia controlar.

Quando parou de cair água sobre sua cabeça, ela mordeu o lábio inferior para
que ele não tremesse e o olhou com temor.

— Eu não gosto de mentirosos. — Bruce rosnou.

— Eu... não... menti.

— Qual o seu relacionamento com este homem?

— Nenhum... eu não tenho nenhum relacionamento...com ele.

As palavras dela saíam cortadas por causa do forte tremor de seu corpo.

Viu quando um músculo saltou do queixo de Bruce e ele levantou outra foto. Nela
Rita aparecia ao lado de Ettore no parque, tomando sorvete, enquanto ela olhava
Josh brincar com sua bicicleta.

— Então, por que isto parece tão íntimo?


— Não tenho... um relacionamento... com Ettore.

— Mas sabe seu nome.

— Ele... me disse.

— O que ele mais disse?

— Nada... Por quê?

A água fria voltou a cair sobre sua cabeça, Rita tremeu e tentou ser forte para
não chorar mais. Suas lágrimas já tinha alcançado o limite na noite anterior, onde
ela chorou até dormir no canto da cela, e estranhou o fato de acordar no colchão,
mas sabia que Bruce a levou para lá depois que adormeceu.

A água parou de cair sobre ela, fazendo com que se concentrasse em Bruce
novamente.

— Como o conheceu? Diga-me a verdade, se mentir eu vou trazer o inferno para


fora de você. Não brinque comigo.

— O conheci na apresentação... de verão... da escola... Josh teve... um teatro e


eu conheci... Ettore lá... ele disse que seu sobrinho também... participaria...

— Ele não tem sobrinhos, está mentindo para mim.

Rita enrijeceu o corpo para tentar parar o tremor e gritou com Bruce.

— Estou te falando a verdade! Eu não sei o que mais você quer de mim, porra!
Eu o conheci na escola do meu filho e ele me disse que tinha um sobrinho.

— Não grite comigo.

— É o que você merece seu filho da puta! Achou o quê? Que eu ia manter a
calma enquanto você me tortura com água fria? — gritou.

Mal tinha acabado de falar quando a água gelada caiu sobre seus ombros
novamente. Ela tentou manter a raiva viva dentro de si, para que aquecesse seu
corpo, mas não funcionou muito bem. Tremeu muito quando a água foi fechada
e teve que encarar Bruce novamente.

— Não grite comigo. — Ele rosnou. — O que ele fazia com você no parque?

— Ele... não estava comigo... ele apareceu lá... quando fui levar... Josh para
brincar... no parque... com sua bicicleta nova...

— E você quer que eu acredite nisto?

— Essa é a verdade. Eu não sei o que ele te fez, Bruce, mas eu não tenho nada
a ver com ... isto.
— Ele não me fez nada. — Bruce disse em um tom de voz tranquilo.

Ela o olhou, confusa, sem entender os motivos de Bruce.

— Ele traiu o meu chefe, e a máfia não tolera traidores.

— Máfia? Você estava realmente dizendo a verdade...

— Sim, a máfia italiana.

— Ele traiu seu Chefe, o chefe da máfia?

— Sim.

Ela ligou os pontos rapidamente.

— O senhor Albertini? — perguntou com os olhos arregalados.

— Sim, o meu chefe.

— Não posso acreditar... trabalhei por tantos anos naquela empresa... como
assim? Não estou entendendo nada.

— Não precisa entender, só precisa me dizer o que estava tramando com Ettore.

— O quê?

— Rita, não me force ao limite.

— Eu não sei do que está falando... Bruce... eu estava levando meu filho... para
escola... o deixei lá... depois me envolvi em um... acidente... e acordei aqui...
sendo sua prisioneira... o que está acontecendo?

— Foi Ettore quem cortou seus freios.

— O quê?

— Eu não sei o que fez para ele querer te matar, mas você vai ter que me dizer
ou as coisas vão ficar muito ruins para você.

— Ele... tentou me matar? ... Santo cristo.

— Diga-me do que está se lembrando — ordenou rudemente.

— Ele... disse-me para dirigir com cuidado... quando voltei para o carro... ele
apareceu e disse... isto.

— Porque ele queria te matar?

— Eu não sei... deve perguntar para ele... e não a mim... foi eu quem quase
morreu.
— Diga-me a verdade, Rita.

— Estou dizendo... Como você sabe disto? Que foi ele... quem cortou os freios
do meu carro... Você estava me seguindo e viu isto acontecer... Você não o
parou? Deixou que ele tentasse me prejudicar assim?

— Eu não o vi cortar, estacionei meu carro na frente da escola para ver você
deixar seu filho lá.

— Como então?

— Fui informado por outro homem.

— E não me impediu de entrar no carro... eu iria morrer... meu filho iria ficar órfão
e você não fez nada.

— Eu pulei naquele maldito rio e te tirei de lá. — Ele acusou em um tom duro.

— Não dá para entender o porquê fez isto. Se me queria morta também. — Ela
sussurrou. — Devo agradecer por me salvar no acidente e agora me torturar por
respostas?

Bruce ficou em silêncio, ela sempre fazia isto com ele. O deixava sem palavras.
O olhar ferido dela fez seu coração bater descompassado e ele obrigou-se a se
mover. Abriu a torneira novamente e assistiu ela sofrer com o frio daquela água.

Quando fechou, ela tremeu fortemente e ele queria aquecer seu corpo quando a
compaixão e arrependimento bateram dentro dele.

Mas não voltou atrás, continuou fazendo perguntas e todas as vezes que não
obtinha uma resposta que o agradava ele a molhava com a água fria. Seguiram
assim por horas, até que o corpo frágil de Rita não aguentou e ela desmaiou com
os braços ainda pendurados sobre sua cabeça.

Apressou-se a tirá-la de lá e a pegou em seus braços. Quando se virou deu de


cara com Adônis o observando, não esperava por sua visita e também não tinha
o ouvido chegar. Caminhou com Rita para o colchão dentro da cela, colocou ela
sobre o lugar macio e depois jogou algumas toalhas em cima do seu corpo
desmaiado.

Saiu e trancou a cela.

Caminhou para frente e viu Adônis ir se sentar na cadeira.

— Ela não fala muita coisa que te agrada. — Adônis resmungou ainda
observando Bruce.

— Não, ela não fala.

— Alguma resposta para nossas dúvidas?


— Nenhuma.

— Estranho, Ettore não sabotaria o carro dela caso não se sentisse ameaçado.
Ou faria?

Bruce ficou em silêncio sem ter uma resposta para Adônis.

— Você gosta dela. — Adônis disse depois de um tempo em silêncio.

Bruce somente levantou uma sobrancelha em interrogativa.

— Não adianta me olhar assim, Bruce, te conheço melhor do que imagina.

Bruce manteve seu costumeiro silêncio e não deixou nada transparecer.

— Eu já vi você sendo muito pior do que isto em busca de respostas. Vi como


seu corpo ficou tenso quando ela desmaiou e sei que só está fazendo isto para
não deixar que outro faça, sabendo que seria muito pior para ela. E imagino que
sua mão não tenha se machucado sozinha, assim como aquela parede não
estragou do nada.

Bruce se manteve firme, mas sentia-se exposto sobre o olhar de Adônis. Ele
realmente era um homem que estava três passos à frente de todos, até mesmo
dos sentimentos que Bruce escondia e negava a si próprio.

— Não sei o que quer que eu diga, chefe.

— Não quero que diga nada.

Adônis se levantou e abotoou o terno, caminhou até Bruce e parou a um passo


dele. Olhando em seus olhos de forma intimidadora que só ele sabia fazer, mas
Bruce não vacilou em seu olhar. Ficou firme, como sempre, enquanto esperava
o próximo passo de Adônis.

— Você mais uma vez me provou sua lealdade, Bruce, mesmo que negue, eu
sei que gosta dela, mas mesmo assim aceitou torturá-la, independente de como
isso fosse difícil.

— Não disse que gostava, chefe.

— Eu não perguntei também, só estou falando o que vejo. Tire as respostas dela
e caso ela for inocentada, vou deixá-la viver e você poderá ficar com ela.

Adônis se afastou sem dizer mais nada e foi embora, deixando Bruce preso em
seus próprios pensamentos.

Assim que a porta fechou, Bruce tremeu de raiva entendendo o que estava
acontecendo. Adônis o estava testando, usando Rita como cobaia. O fato de
Ettore ter aparecido somente motivou seu chefe a testar sua lealdade assim
como seus sentimentos. Olhou para Rita e soube que ficaria tudo bem, só
precisava continuar por mais um ou dois dias. Adônis iria acreditar em sua
inocência, isto se já não fazia, e Bruce ganharia mais de seu respeito.

Mas a que preço? Perguntou Bruce em pensamentos.

Agora ele não tinha mais chances de conquistá-la.


CAPÍTULO CINCO

Quarto dia de cativeiro

...

O fogo estava tão alto que Rita mal podia ver o carro, ela segurou Josh com mais
força sobre seu peito e um grito estrangulado saiu de seus lábios. Sentiu braços
fortes ao redor dela e gritou dolorosamente novamente.

— Rodrigo! — gritou. — Não! Mãe!

Gritou como se sua vida dependesse da resposta deles, mas Rodrigo não gritou
de volta. Muito menos sua mãe.

— Eles se foram, querida.

A voz chorosa do seu pai fez a realidade bater forte. Ela não queria perdê-lo, não
podia, também não podia perder sua mãe. A dor a levou para o choque em
segundos quando outro grito rompeu de seus lábios.

Alguém a balançou com força e ela engasgou um soluço.

— Acorde, porra!

A voz dura de Bruce a trouxe de volta a dura realidade em que estava vivendo.
Ela prendeu o choro e o olhou com os olhos lagrimejando. Ele levantou de seu
colchão e a encarou em silêncio.

Rita prendeu os lábios firmes para não dar à oportunidade de que outro soluço
saísse por eles. Não iria desmoronar mais uma vez na frente de Bruce, pelo
menos tentaria não fazer isto. Ela já estava exposta demais e não daria a ele o
gosto de ver ainda mais dela.

Bruce soltou o ar com força antes de sair e prendê-la novamente.

Ela virou de lado ainda se segurando para não chorar, ignorou o fato de estar
somente de lingerie e puxou algumas das toalhas, que estavam no colchão, para
cima do seu corpo antes do soluço romper de seus lábios. Não permitiu outro
sair, mas as lágrimas desceram silenciosamente pelo seu rosto.

Suavemente ela cantarolou a canção de todas as noites, lembrando-se que não


havia cantado para Josh na noite anterior. Desejou que ele tivesse tido uma boa
noite de sono. A canção de sua mãe acalmou um pouco sua dor e trouxe outras,
mas Rita se manteve firme e não se deixou quebrar novamente.

— Coma.
A voz rouca de Bruce a fez arrepiar em terror, lembrando-se dos dias anteriores.

Sabendo que não podia ir contra ele, ela se sentou com certo esforço. Seu corpo
estava muito cansado e doía cada músculo que movimentava. Olhou sua barriga
e viu o brilho de uma pomada espalhada nas queimaduras que o Taser causou
em sua pele. Sabia que ele mesmo a machucando estava tentando fazer com
que ela se sentisse melhor, mas isto não aliviava as coisas que fez a ela.

Puxou a bandeja sem esconder que cada movimento que fazia parecia ser muito
doloroso.

Comeu tudo sem reclamar, mas fez isto no seu tempo. Devagar e ignorando os
olhos de Bruce sobre ela. Não sabia o que esperar do dia de hoje com ele, mas
teria que ser forte para aguentar.

Bruce a observava de longe quase aflito em ter que torturá-la novamente.

Não queria fazer isto.

Não desejava isto.

Porém, faria.

Ele teve que entrar lá e acordá-la, enquanto ela gritava em seu pesadelo. Ouviu-
a chamar por um homem e ficou irritado por isto. Ele não queria assumir que
ficou com ciúmes e até mesmo muito bravo por ela parecer tão ferida quando
abriu os olhos. Quem quer que tenha sido, tinha machucado ela de um jeito muito
profundo.

Mas ele não tinha o direito de sentir estas coisas, já que estava ferindo-a do
mesmo jeito ou pior que o outro homem. A delicadeza que ela mostrava não
merecia tal aspereza que ele impunha.

Seus olhos caíram nos cabelos castanhos emaranhados sobre a sua cabeça
agora presos em um coque, não pareciam os mesmo. Estavam sem vida e muito
bagunçados. Lembrou-se de como eles pareciam macios e bem cuidados antes
em cada vez que parava para observá-la, quando ninguém estava olhando.

Desceu o olhar e encontrou os olhos baixos dela. Antes eles eram os olhos
castanhos que mais brilhavam que já tinha visto em sua vida. Mas hoje, pareciam
opacos e sem o menor brilho.

Seus lábios estavam pálidos e rachados por causa do frio que enfrentou.
Diferente dos bonitos lábios rosados que ele beijou no elevador.

Sua pele estava extremamente pálida e tinha alguns pontos roxos criados pela
água gelada e as marcas de queimaduras do Taser. Os olhos dele pararam
sobre a cicatriz em sua barriga levemente arredondada, era de uma cesariana.
Seu filho não nasceu de parto normal e ela carregava a marca do nascimento
dele em seu corpo com orgulho.

Desceu o olhar para a coxa ferida e viu que estava irritada a pele, um pouco azul
as bordas pela falta de cuidado de ontem. Bruce quase suspirou sabendo que
ficaria uma cicatriz ali também, seria sua marca dos dias que passaram em
cativeiro e nunca se esqueceria do que ele fez a ela.

Seu corpo era bonito e perfeito aos olhos dele, mas ele não conseguia desejá-la
naquele momento. Ela sempre seria bonita, mas no instante só precisava de
alguém para cuidar e passar a segurança que necessitava. Ele desejava ser
esse homem, que colocaria ela na proteção de seus braços e prometeria que
ficaria tudo bem.

No entanto, ele não podia, era seu carrasco e sequestrador. Ela o odiaria por
toda vida. Pensar que infligiria dor a ela novamente fez seu estômago revirar.

Não queria isto e não tinha outra opção.

— Levante-se — ordenou.

Rita encontrou seu olhar e não disse nada. Somente forçou seu corpo para cima,
ele podia ver o quanto ela se sentia derrotada e humilhada.

Sentimentos e desejos confusos entraram em briga dentro dele, mas Bruce os


ignorou e levantou-se também.

Abriu a cela dela e deu um passo para trás.

— Vá até o chuveiro.

— Preciso usar o banheiro — sussurrou e ele acenou com a cabeça


concordando.

Mostrou que ela deveria ir e então a seguiu com olhos atentos, seus passos eram
vacilantes e Bruce queria estar pronto para pegá-la, caso fosse necessário. Virou
suas costas para dá-la um pouco de privacidade, ouviu os sons que fazia dentro
e depois que lavou suas mãos, deu a ela passagem pela porta.

Novamente caminhou em passos vacilantes até o chuveiro e ficou lá esperando


por ele obediente. Admirou sua força e se sentiu ainda pior sobre o que estava
prestes a fazer com ela.

Abriu o chuveiro frio e viu-a oscilar em seus pés, quando fechou à torneira ela
tremia incontrolavelmente.

— Sente-se na minha cadeira.


Desta vez seu tom foi mais suave e ela não disse nada, caminhou até a cadeira
e se sentou. Ele amarrou seus braços e pernas.

— Vamos começar novamente.

Ela acenou com a cabeça concordando.

— Quero que me responda com palavras.

— Tudo... bem.

— Primeiro, diga-me com que estava sonhando.

Ela não respondeu, somente abaixou sua cabeça evitando encontrar o olhar
dele.

— Diga-me.

— Não quero... falar sobre isto.

Bruce puxou a mesa de metal para mais perto dela e se sentou sobre ela. Tirou
do bolso uma pequena caneta, apertou um botão e encostou a ponta na pele de
Rita, fazendo com que ela pulasse quando um pequeno choque atravessou seu
corpo molhado.

— De início ele não causa muitos danos, mas usado com frequência pode ser
extremamente doloroso.

— Por que... continua fazendo... isto comigo?

— Você ainda não deu as respostas que eu preciso.

— Não tenho as respostas que quer — sussurrou ainda com o olhar baixo.

— Conte-me sobre seu sonho.

— Não quero falar sobre... isto.

— Por que não?

— É extremamente... doloroso.

— Diga-me e não force que eu te dê mais um choque. Responda minha


pergunta.

Ela ficou em silêncio por um tempo e pôde perceber o tom mais suave que Bruce
estava a tratando.

— Era um pesadelo... que foi real ... um dia...

— O que quer dizer com isto?


— Há cinco anos... sofri um acidente de carro... estávamos todos dentro dele ...
Eu... Josh, Rodrigo e meus pais.

— Quem é Rodrigo?

Bruce sabia a resposta, conhecia a vida de Rita e tudo que já lhe aconteceu, mas
já que tinha dado início aquela conversa, decidiu continuar e ouvi-la.

— Meu marid... marido falecido.

— O que aconteceu?

— O motor aqueceu demais ... eu consegui sair com Josh e meu pai, mas minha
mãe e Rodrigo não... eles morreram quando o ... carro... ex..explo...explodiu...
Porque está tocando... nesta ferida?

— Desculpe.

Ela levantou o olhar e encontrou os olhos de Bruce, eles transmitiam sinceridade


em seu pedido fazendo com que a vontade de chorar voltasse.

— O que... mais quer saber?

— Por que Ettore iria querer te matar?

— Deve... perguntar para ele.

Bruce não gostou de sua resposta e o choque logo passou pelo corpo de Rita.
Ela arfou com a dor em seus músculos e rangeu os dentes.

— Ele não iria querer sua morte se não se sentisse ameaçado.

— Eu realmente não sei... os motivos dele ... juro que todas vezes que nos
falamos foram em encontros casuais... na escola, no parque, na gelateria perto
da minha casa. Nunca marquei um encontro com ele ou algo do tipo, sei que ele
sempre estava nos lugares em que eu estava com Josh.

De repente, Rita ficou ainda mais branca.

— Do que você lembrou? — Bruce perguntou atento em suas reações.

— Ele... ele... ele sempre estava perto do Josh também... se tentou me matar...
vai tentar matar o Josh também...

Os olhos dela pareciam que iriam sair de seu rosto pelo jeito que estavam
arregalados. Bruce podia ver o verdadeiro terror sobre ela, principalmente,
quando começou a hiperventilar.

Desceu da mesa e parou na frente dela.

— Olhe para mim — ordenou, mas ela não o atendeu. — Rita! Olhe para mim.
Quando ela levantou o olhar aterrorizado, ele sentiu seu medo.

— Ele está seguro.

Ela não disse nada. Sua respiração ainda estava acelerada demais enquanto
tinha um ataque de pânico.

— Respire fundo e se concentre em minhas palavras.

Rita obrigou seu corpo a obedecê-la por um instante e tentou ouvir o que Bruce
dizia.

— Ele está bem e seguro.

— Como... pode ter certeza?

— Eu tenho todos os passos de Ettore e estou sempre na sua frente, ele não vai
machucar seu filho.

— Como posso acreditar?

— Não pode, eu sou um homem de palavra, apesar de tudo. Estou dizendo que
ele está seguro, tem que acreditar em mim.

— Você promete... que ele está bem junto com seu nonno.

Bruce segurou para não estremecer com a fragilidade do olhar dela. O desespero
de uma mãe amorosa e preocupada eram evidentes em suas feições.

— Eu prometo. Tenho homens o vigiando de longe, ele está bem e chegou à


escola sem atraso — disse e ela olhou em seus olhos com intensidade
procurando pela verdade.

— Pelo menos ele não se atrasou — sussurrou, enquanto fungava.

Bruce quis sorrir, mas manteve os lábios pressionados.

— Ele sempre se atrasa? — Ele perguntou.

— Sim... eu demoro a levantar... e ele demora uma vida no chuveiro... qualquer


dia sua pele vai cair de tanto que fica no banho...

— Mas ele não se atrasa com seu nonno — afirmou Bruce e ela sorriu de leve
por cima da tristeza que seus olhos transmitiam.

— Meu pai jamais permitiria, ele é sempre muito pontual.

Bruce se agachou na frente dela para que estivesse na mesma altura.

— Rita.

— Sim.
— Entende a confusão que se meteu?

— Sim.

— Entende que eu não posso fazer nada para salvar sua pele?

— Sim — choramingou.

— Eu preciso da verdade, nada menos do que isto.

— Entendo.

— Se não me dar a verdade, vamos ficar nesse jogo até que seu corpo não
aguente mais. Eu não quero que isto aconteça, mas devo minha lealdade à máfia
e não poderia descumprir uma ordem. Entende isto?

— Sim.

— Então, por favor, fale-me sobre Ettore.

— Eu já disse tudo, Bruce, precisa acreditar em mim.

Ele levantou bruscamente agora estressado.

— Vou acabar te matando se não me falar a verdade, porra! — Bruce gritou


furioso e ela estremeceu na cadeira.

Rita nunca tinha o visto gritar antes e sentiu medo, Bruce era sempre silencioso
e mal-humorado, mas vê-lo tão irritado assim não foi boa coisa.

— Eu não quero isto, porra! — gritou com ela de novo.

— Então, não me mate — pediu e ele puxou o ar com força.

— Rita, se acha que o que tem passado em minhas mãos esses dias foi muito
para você, eu te digo que foi o mínimo de dor que posso causar a alguém.
Entende isto?

— Sim — sussurrou assustada.

— Eu só aceitei fazer essa merda, porque outro iria feri-la muito e eu não queria
isto. Mas você não está me dando escolhas, fui treinado para torturar e matar.
Vou acabar causando sua morte se não me disser a verdade, porra!

E eu não poderia dormir depois disto. Pensou Bruce.

— Bruce. — Ela sussurrou. — Eu já disse tudo o que sabia, não tenho as


respostas que precisa. Eu o conheci na escola de Josh e sempre estava por
perto em algum momento. Nunca o deixei se aproximar muito de mim, assim
como qualquer outro homem.
— Explique-se.

— Desde que Rodrigo se foi eu nunca tive outro homem, o único que beijei foi
você.

— Nunca teve nada com Ettore?

— Nunca. Estou falando a verdade, acredite em mim, por favor.

— Por que deveria?

— Você já perdeu alguém que amou muito? — Ela sussurrou a pergunta. —


Perder Rodrigo e minha mãe juntos, dilacerou minha alma. Quase não sobrevivi
ao luto se não fosse pelo Josh, ele dependia de mim. Então, tinha que ser forte
para ele. Vivi como um zumbi por quase dois anos, não dormia bem... Porque
deitar na nossa cama a noite trazia a sua falta e acordar nela destruía-me,
procurava por ele ao meu lado roubando o espaço todo da cama e não o
encontrava. Quando saía do quarto pensava em ligar para minha mãe, para dizê-
la como minha noite tinha sido difícil sem o meu Rodrigo... Mas ela também tinha
ido para longe de mim... Comer era difícil... A única coisa fácil foi trabalhar... Fui
para a empresa Albertini diariamente e ficava lá por quanto tempo precisasse.
Não queria voltar para casa, mas Josh estava me esperando... Então, precisava
voltar.

Bruce ficou em silêncio e mais uma vez a vontade de pegá-la em seus braços
para lhe dar todo o conforto que estava preso dentro dele. Quase não se
reconhecia quando se tratava de Rita, seus instintos cruéis eram acalmados e a
única coisa que queria era beijá-la novamente até que perdesse o fôlego.
CAPÍTULO SEIS

Bruce suspirou ao olhar para Rita de cabeça baixa esperando pelo próximo
passo dele.

— Lembre-se de alguma coisa, Rita, precisa esforçar sua mente para me dar
respostas.

— Bruce — choramingou.

— Ele disse algo para você alguma vez? Algo estranho? Ajude-me a te ajudar.

— Não que eu me lembre. — Ela sussurrou e fechou os olhos.

Sua expressão mostrou dor e Bruce estava atento.

— Qual o problema?

— Estou com tanta dor que não consigo pensar direito — murmurou.

— Onde está com dor?

— Todos meus músculos e minha cabeça...

— Olhe para mim.

Ela abriu os olhos e a tristeza refletia neles.

— Se esforce a lembrar de alguma coisa, que eu vou te tirar desse lugar. Vai
poder voltar para seu filho e ter sua vida de volta, sem uma resposta eu não
posso fazer nada disto. Consegue me entender?

— Sim.

— Me dê o que eu quero, e eu vou te dar um banho quente e roupas. Nunca


mais te causarei dor, mas precisa falar comigo, Rita.

— Entendo — suspirou.

— Se eu não tiver as respostas, outra pessoa virá tirá-las de você e eu não


poderei fazer nada — disse sério. — O chefe precisa de respostas e eu tenho
que tê-las, não me obrigue machucá-la.

— Ele era muito curioso.

— Continue.

— Queria sempre saber como foi meu dia, onde eu iria depois do trabalho...

— O que mais?
— Perguntava sobre o meu trabalho.

— O que ele perguntava?

— Coisas banais, o que fazia, se era muito cansativo, falava que eu trabalhava
muito...

— Diga-me mais sobre isto.

Ela suspirou sem saber o que dizer, forçou sua mente e a dor em suas têmporas
aumentou.

— Uma vez me perguntou sobre a segurança do local.

— O que respondeu?

— Que era muito rígida. Ele perguntou se eu sabia o porquê uma empresa de
construção precisava de tanta segurança, mas eu disse que não sabia e também
não me importava.

— Vocês falavam muito.

O desgosto na voz de Bruce era evidente, Rita o olhou nos olhos e encontrou a
dureza de sempre neles.

— Não sei o que espera de mim, Bruce. Eu sou uma mãe solteira, que trabalha
para seu sustento e que não tem nada a ver com essa coisa toda que está
acontecendo. O conheci na escola do Josh, mas não fui eu a me apresentar.
Não costumo ficar muito próxima de homens.

— Mas ficou dele.

— Não fiquei.

Bruce ficou visivelmente irritado e andou pelo local em busca das fotos que tinha.

— Então, porque ele sempre está com você? Por que ele beija seu rosto? —
rosnou para ela.

— Era só um cumprimento e ele sempre faz isto sem pedir minha autorização.
Eu trabalho há quase sete anos na construtora Albertini, quantas vezes me viu
beijando alguém?

— Uma vez — respondeu se referindo ao beijo que trocaram no elevador.

— E foi você quem me beijou! — exclamou. — Eu não permiti, mas você me


beijou!

Eles ficaram em silêncio novamente, Rita por não ter mais o que falar e Bruce
por pensar nas possibilidades.
— Você foi o único. — Ela sussurrou ganhando a atenção dele novamente. —
Bruce, você alcançou um lugar em mim que eu achei que tinha morrido há muito
tempo.

— Que lugar?

— Meu coração, você o alcançou com seu jeito silencioso e mal-humorado. Em


pensar que eu o permiti entrar... não deveria ter deixado... você o quebrou...

— Rita.

— Não diga nada, Bruce, não diga nada — murmurou e desviou o olhar.

— Vamos voltar sobre as perguntas sobre a segurança do prédio.

— Tudo bem.

— O que mais ele perguntou?

— Quantos seguranças tinham no térreo, se tinha que ser revistado para entrar...
Eu nunca pensei que ele queria algo com estas perguntas.

— O que respondeu?

— Disse que éramos revistados para entrar, mas que nunca reparei na
quantidade de seguranças.

— Nunca reparou? — questionou duvidando.

— Não, nunca reparei.

— E quer que eu acredite nisto? — arqueou uma sobrancelha.

— Quando comecei a trabalhar estava empolgada demais com o trabalho e


minha vida sempre foi muito corrida. Tinha um filho pequeno, marido e casa para
cuidar. Eu trabalho tanto naquela empresa que às vezes não tenho tempo para
comer, imagine só, se eu ia ficar contando quantos seguranças tinham lá. Senhor
Albertini grita meu nome a cada cinco minutos e me faz correr de um lado para
o outro que eu não tinha tempo para essa bobagem... Logo depois entrei em luto,
era automático... Levantar, comer, levar Josh para escola, trabalhar e voltar para
casa. Quando meu luto acabou, depois de um longo período, essas coisas não
faziam diferença para mim, entrava e saía de lá sem me dar conta de como era
a segurança.

— Até Ettore perguntar — afirmou.

— Sim, mas não dei importância.

— Ele pediu algo para você?


— Como assim?

— Pediu que você observasse como funcionava tudo lá dentro?

— Acho que sim, não estou certa disto.

— Acha?

— Sim, acho.

— E por que não está certa disto?

— Isso já tem um tempo, eu não guardo tudo o que falam comigo.

— Não te acho desatenta.

— No trabalho eu realmente não sou, preciso dele para me sustentar.

— Explique-se, então.

— Meu dia começa sempre atrasado, eu gosto muito de dormir e Josh de tomar
banho. Corro pela casa para ter certeza que o diretor da escola não vá brigar
comigo como antes.

— Como antes?

— Sim, depois da morte de Rodrigo tive dificuldade de levá-lo a tempo para a


escola. Ele sempre fazia isto para mim e quando vi que eu teria que fazer algo
que era costumeiro dele... Foi um desastre... Várias vezes fui chamada pelo
diretor para falar do atraso.

— Entendo.

— Quando entro no carro, vem outro problema. Tenho pavor de dirigir desde o
acidente, tremo da cabeça aos pés antes de entrar no carro. Mas mesmo assim
entro e vou devagar para não causar nenhum problema. Deixo meu filho na
escola e vou para o trabalho. Lá eu não tenho tempo para respirar. Então não,
eu não me lembro de cada coisa que me perguntam.

— Deu alguma informação para ele sobre a segurança do prédio?

— Não, por que eu faria isto? Conheço o contrato que assinei sobre
confidencialidade, nunca quebraria minha palavra sobre isto.

A porta de entrada do local fez um pequeno barulho chamando a atenção dos


dois, por ela entrou uma figura potente que eles conheciam bem.

Adônis Albertini.

Ele caminhou tranquilamente pelo local e não se importou em vê-la com suas
roupas intimas.
Rita tentou forçar a sua mente a entender o porquê ela nunca percebeu nada,
todo este tempo trabalhando para ele e nunca viu nada estranho. Ela trabalhava
para um mafioso e não tinha a menor ideia disto.

— Bruce.

— Chefe.

— Rita. — Ele a cumprimentou e ela arregalou os olhos.

— Senhor Albertini. — murmurou.

— Imagino que não tenha tido nenhum avanço — disse a Bruce.

— Não, nenhum.

— Eu venho acompanhando a conversa de vocês...

— Cheguei!

A voz de Apolo encheu o local e fez Adônis fazer uma careta em reprovação.

— Atrasado. — Adônis disse repreendendo Apolo.

— Rapha derramou sua mamadeira em mim, não tenho culpa.

— Pare de colocar a culpa sobre ele. — Adônis falou e Apolo revirou os olhos.

— Rita. — Apolo a cumprimentou sorridente.

— Senhor — murmurou e abaixou o olhar.

Estava cansada de tudo o que tinha enfrentado nos últimos quatro dias e só
queria ir para casa. Mas não sabia o que ia acontecer com ela, principalmente,
agora que os dois homens, chefes da máfia, estavam na sua frente. Esperava
que não pudesse piorar, mas as coisas sempre pioravam.

— Olhe para mim, Rita. — Adônis ordenou.

Ela levantou os olhos e encontrou os de Adônis, eram os mesmo de sempre.


Duros e sombrios. Queria desviar o olhar, mas não fez isto. Tinha que enfrentá-
lo.

— Acredito em você.

Ele disse e então ela suspirou. Lágrimas encheram seus olhos e desceram por
seu rosto silenciosamente.

— Conheço todos que trabalham para mim e sei que você realmente nunca se
importou com a segurança do local.
— Eu também acredito em você, Adônis realmente te grita a cada cinco minutos.
— Apolo brincou mostrando que estavam escutando a conversa e ela não sorriu,
somente acenou com a cabeça.

— Calado, Apolo.

— Só estou dizendo a verdade. — Ele deu de ombros.

— Ainda não sei quais são os planos de Ettore, mas vou descobrir em breve.

— Espero que sim. — Ela murmurou.

— Ele tentou te matar e isto me intriga.

— Nunca faria nada para colocar meu filho em risco.

— E é por isto que acredito que é inocente nesta história. Mas você agora sabe
demais. — Adônis declarou.

Rita abaixou o olhar entendendo que não sairia viva dali e Bruce ficou tenso com
o rumo das coisas.

— Você sabe que sou o chefe da máfia.

— Sim.

— Eu não quero te matar, Rita.

Ela levantou os olhos e encontrou sinceridade nos de Adônis.

— Minha mulher gosta muito de você e eu não poderia feri-la. Para continuar
viva, vai ter que seguir as regras.

— Farei isto.

— Tem que ser leal a mim e ao meu irmão. Traição é um crime grave no meu
mundo e só é pago com a morte — disse. — A morte do traidor e toda sua família.

Rita ficou tensa sem entender o que Adônis queria dela.

— Não estou pedindo para matar ninguém. Eu quero lealdade, você nunca
deixou a desejar no seu trabalho e eu espero que continue assim. Continuará a
trabalhar para mim e fazer o mesmo de sempre, mas eu ficarei mais atento a
você. Cada passo que der eu vou saber, então, tenha cuidado por onde anda.
Não haverá outra chance. E no mais, seu silêncio é a chave para se manter viva.

— Nunca falarei nada, juro.

— Bom, Bruce vai te levar para um lugar onde possa descansar antes de voltar
para casa. — Adônis disse e ela acenou com a cabeça.
— Disponibilizaremos um carro para você, este será rastreado e com algumas
medidas de segurança. É para garantir a sua segurança e a nossa. — Apolo
disse tranquilo.

— Terá sempre um homem te seguindo de início, ainda não sabemos o que


Ettore quer apesar de algumas suspeitas, ele tentou te matar uma vez e quando
vê que isto não aconteceu tentará novamente.

— Ok.

— Bruce. — Adônis o chamou e junto com Apolo caminhou para fora.

Assim que pararam do lado de fora, Adônis se virou para seu segurança.

— Tenha certeza de garantir a segurança dela e de seu filho. Também ensine a


ela algumas de nossas regras, não quero ter que matá-la.

— Leve-a para o apartamento que temos perto daqui, está tudo arrumado lá para
recebê-los. — Apolo disse.

— Não pode ser outro a fazer isto? — Bruce perguntou tentando não mostrar
sua hesitação.

— Não consegue manter as calças fechadas? — Apolo brincou.

— Não — respondeu com sinceridade.

Adônis o observou por um tempo.

— Ela irá te perdoar pelas coisas que sofreu, cuide dela, Bruce. — Adônis disse
e se afastou.

Apolo sorriu antes de falar.

— Ficar sem roupa é uma boa coisa, para que ela o perdoe — disse e se afastou.

Raiva borbulhou dentro de Bruce, sabia que o chefe tinha aproveitado a


oportunidade da traição de Ettore para inserir Rita na máfia. Isto o ajudaria em
muitas coisas, desde que é muito eficiente em seu trabalho. E o envolveu nisto
para que ninguém quebrasse sua alma, por saber que nutria algum sentimento
por ela, mas machucá-la tinha acabado com a possibilidade de um dia conquistá-
la.

Na máfia sempre tinha um preço e este era o dele.

O peito de Bruce se encheu com insegurança e seu rosto se torceu de raiva. Não
podia brigar com Adônis por isto, mas jurou dar a ele um tempo muito ruim no
próximo treino. Não deixaria aquilo passar.
CAPÍTULO SETE

Rita observou Bruce voltar para dentro do local, ele não encontrou o olhar dela
em nenhum momento. Caminhou com destreza e confiança para dentro da cela,
onde estava presa, pegou o vestido e o par de sandálias que usava antes.

Então voltou para ela, colocou as coisas sobre a mesa e desamarrou Rita.

— Fique de pé.

O tom de ordem dele a fez tremer, mas mesmo assim se levantou. Ele ficou na
sua frente e passou o vestido por sua cabeça.

— Passe os braços.

Ela fez o que ele pediu e então o vestido se encaixou em seu corpo levemente
molhado. Fechou o zíper e pegou a sandália dela sobre a mesa. Bruce colocou
o celular no bolso antes de se abaixar e pegá-la em seus braços fortes.

Rita arfou surpresa com a atitude dele e então quase suspirou ao sentir o calor
do corpo pressionado sobre o dela. Todo o lugar estava frio e ela estava quase
implorando por calor.

— O que está fazendo? — perguntou.

— Te levando deste lugar como prometi.

Ela queria obrigá-lo a soltá-la afirmando que poderia andar sozinha, entretanto,
seu corpo estava tão cansado e dolorido que a única coisa que fez foi encostar
sua cabeça no peito dele permitindo.

O alívio foi tão grande em saber que estava livre, que ainda não sabia se
acreditava ou não.

Do lado de fora, tinha três carros parados, um homem abriu a porta do carro do
meio e Bruce entrou com ela ainda em seus braços.

Rita tremeu por estar novamente dentro de um carro e tentou sair do colo de
Bruce, mas ele não permitiu. Segurou-a com mais força, prendendo-a no lugar.

— Fique quieta — ordenou.

E ela ficou, não tinha forças para brigar com Bruce. Ela só queria ser livre
novamente e ver seu pequeno Josh.

Ficou tensa quando o carro entrou em movimento, a mão de Bruce em suas


costas lhe fez um carinho na tentativa de acalmar seus medos. Ficaria grata se
ele não tivesse lhe causado tanto sofrimento nos últimos dias.
Os carros pararam na garagem de um prédio e, sozinho, Bruce a levou para o
elevador. Digitou um código e então o elevador os levou para dentro de um
apartamento.

Ele se manteve em silêncio por todo o tempo, caminhou pelo local e entrou em
uma suíte. Colocou-a sentada sobre a bancada do banheiro e lhe olhou nos
olhos.

Deslizou o zíper do seu vestido o abrindo. Rita tremeu quando os dedos dele
roçaram em sua pele. Puxou o vestido para baixo de seu corpo e então levou as
mãos nas costas dela soltando o seu sutiã.

— O que está fazendo? — Ela sussurrou temerosa.

— Cuidando de você como prometi.

— Eu posso fazer isto sozinha.

— Sei que pode — respondeu antes de puxar a pequena peça de renda preta
pelos braços dela.

Automaticamente Rita colocou as mãos sobre seus seios para se cobrir. Ele não
se importou e ela corou envergonhada. Bruce pegou as alças laterais de sua
calcinha e sem aviso as rasgou em um puxão.

Ela arfou e ele deu um leve sorriso antes de pegá-la nos braços novamente.
Colocou-a em pé debaixo da ducha e abriu. Rita suspirou, apreciando a água
quente sobre seu corpo.

— Vou deixar você terminar seu banho, sozinha. Imagino que não queira mais
minha ajuda.

Ela acenou com a cabeça e ele manteve seu olhar preso nos olhos dela por
alguns segundos.

— Tem produtos femininos na prateleira, use o que precisar. Caso precise de


alguma coisa, me grite.

Ele murmurou a última frase antes de correr para fora.

Bruce estremeceu com a vontade de voltar para o banheiro e tomar Rita, mas
manteve-se fora do banheiro para não perder a cabeça e piorar ainda mais a sua
situação, mesmo quando o estado na região sul do seu corpo se tornou
extremamente dolorida.

Rita respirou aliviada por ter Bruce fora, ela precisava de privacidade e espaço.
A água quente foi muito bem-vinda e ela demorou a sair. Lavou os cabelos sem
pressa e tremeu cada vez que fazia um movimento brusco. Quando saiu do boxe
encontrou toalhas e um roupão de banho.
Enrolou-se em um e saiu para o quarto, nele viu Bruce encostado em uma
parede olhando para ela. Ele não transmitia nada do que pensava em seu olhar,
além de intensidade.

— Sente-se que eu vou refazer o curativo em sua perna.

— Posso fazer isto sozinha.

— Eu irei fazer.

— Não...

— Sente-se — ordenou.

— Tem que parar de me dar ordens.

— Sente-se, Rita.

Ela tremeu de raiva e se sentou.

— Juro que gostava mais de você quando não falava nada.

— Eu continuo gostando de você do mesmo jeito.

Ela o olhou e ele deu de ombros enquanto caminhava em sua direção, se


ajoelhou em sua frente. Levantou um pouco o roupão que ela usava e analisou
o machucado.

Observou cada movimento dele para cuidar de seu ferimento. Ele manteve o
silêncio de sempre e teve muito cuidado com seu machucado. Quando terminou
de enrolar uma faixa em sua perna, deixou a pomada para a queimadura do
Taser na cama e se afastou rápido.

Pegou uma sacola que estava em um canto e lhe entregou.

— Tem algumas roupas aqui para você.

— Obrigada — resmungou mal-humorada.

— Tome esses analgésicos para dor e descanse, enquanto eu preparo algo para
comermos.

— Não estou com fome.

— Não te fiz uma pergunta.

Bruce saiu tão rápido, que nem deu tempo dela gritar com ele por ser tão idiota,
mas manteve a calma e tomou os remédios que ele havia deixado na cabeceira
da cama junto com o copo de água.
Jogou as roupas que estavam dentro da sacola sobre a cama e encontrou um
par de lingeries de renda rosa claro, uma camiseta branca feminina e um
conjunto de moletom preto em seu tamanho. Ela se vestiu e ficou grata por se
sentir quente novamente. Deitou-se na cama e enrolou.

Seus pensamentos foram a levando para um sono pesado, os remédios que


tomou fez seu corpo relaxar e trouxe grande sonolência.

...

Acordou um tempo depois com Bruce a chamando, ele tinha trazido uma bandeja
com uma refeição. Gostou da massa com bolonhesa que fez, mas não elogiou.
Assim que terminou ele saiu e não voltou mais, deixando-a voltar a dormir.

O que não demorou muito.

Na madrugada ela acordou com sede e se levantou, mancou pelo quarto escuro
até a porta. Seu coração estava batendo rápido quando abriu a porta
comprovando não estar trancada, caminhou para fora e na sala viu Bruce parado
na janela. Ele usava somente uma calça de moletom e Rita não pode evitar
passear seus olhos pelas costas musculosas que exibia.

— Deveria estar dormindo.

Bruce murmurou ainda de costas, a surpreendendo.

— Estou com sede — disse.

Olhou para o sofá onde tinha um travesseiro e cobertas bagunçadas sobre ele,
junto com um notebook ligado a imagens de câmeras de segurança. Não fazia a
menor ideia de onde poderia ser.

— Vou pegar para você — ofereceu virando-se para ela.

— Eu faço isto — disse quase sem fôlego.

Bruce era o homem mais musculoso que já tinha visto em sua vida, nunca
poderia imaginar que debaixo dos ternos pretos escondia tamanha beleza. Ela
se virou e caminhou para a cozinha, não querendo olhar para ele. Depois dos
dias infernais que passou ao lado dele, agora só desejava distância entre eles.

Pegou um copo na bancada e abriu a geladeira em busca de água gelada para


se refrescar. Depois de beber, voltou para a sala e o encontrou no mesmo lugar,
seu corpo parecia tenso enquanto ficava ali parado.

— Vá descansar, Rita, se estiver sentindo-se melhor amanhã irei te levar para


casa.

— E você?
— Eu o quê?

— Nunca descansa?

Ele ficou em silêncio e visivelmente tenso.

— Boa noite, Rita.

— Boa noite, Bruce — respondeu sabendo que não iria adiantar discutir com ele.
CAPÍTULO OITO

Bruce estava na cozinha do apartamento preparando café da manhã quando um


grito atravessou todo o lugar. Seu corpo ficou rígido e em alerta ao mesmo
tempo, correu para o quarto em que Rita estava dormindo e a encontrou gritando
em meio de mais um pesadelo.

Debruçou-se sobre ela e agarrou seus ombros.

— Rita, acorde!

Ele sacudiu seus ombros e ela abriu os olhos completamente aterrorizados, o


medo estampados neles fez Bruce puxá-la para seus braços em um abraço de
conforto. Sabia que ela o odiaria para sempre, mas vê-la tão assustada daquela
forma, fazia que ele esquecesse o Bruce bruto e cruel para ser o Bruce que ela
precisava.

Não era suficiente, desejava ser o homem que ela precisava. Pensou Bruce com
pesar.

Sentiu lágrimas quentes em seu peito nu e apertou-a mais em seus braços.

— Bruce?

Ele se afastou dela e viu a confusão em seus olhos.

— Outro pesadelo?

— Sim... ainda estávamos no carro...

— Você está segura, tudo bem?

— Sim... Obrigada por me acordar.

— Está bem?

— Estou — disse confiante.

Segurou para não estremecer, todo o medo tinha se esvaziado dela quando
encarou seus olhos duros.

— Pronta para levantar?

Ela acenou com a cabeça e ele se afastou completamente dela.

— Estarei te esperando na cozinha, não tenha pressa.

Rita acenou novamente incapaz de desviar os olhos da montanha de músculos


que ele ostentava. Estava vestido somente com uma calça social preta e seus
sapatos pretos, que foram exaustivamente engraxados. Quando se virou, ela
pôde ver a arma enfiada na cintura de sua calça.

Prendeu o ar e ele não olhou para trás enquanto saía.

Rita forçou a mente a pensar se já houve alguma coisa na empresa que fosse
suspeito, mas não se lembrava de nada. Nunca percebeu nada estranho e aquilo
a intrigou.

Eles eram realmente muito discretos ou ela era muito distraída?

Levantou devagar, ainda divagando em seus pensamentos, e foi ao banheiro.


Encontrou uma nova escova de dente sobre o balcão e estremeceu ao lembrar
quando esteve sobre ele e Bruce arrancou as roupas de seu corpo. Os dedos
dele roçando sua pele haviam acendido algo que estava apagado há muito
tempo, mas ela não queria pensar sobre isto. Não queria sofrer da síndrome de
Estocolmo, então, obrigou sua mente a esquecer das possibilidades que antes
desejava dar a Bruce.

— Antes que me sequestrasse — murmurou enquanto se olhava no espelho.

Seu cabelo estava bagunçado, depois de penteá-los fez um coque no alto da


cabeça. Ainda tinha um pequeno curativo na testa. Seus olhos estavam fundos
e os lábios pálidos. Lavou o rosto e quando levantava a cabeça encontrou um
batom para hidratação labial.

Sabia que aquilo não estava ali ontem, com certeza Bruce tinha deixado para
ela. Não queria ficar agradecida a ele, mas ficou, quando sentiu os lábios mais
macios e hidratados.

Depois de completar sua higiene, foi mancando para a cozinha. O encontrou de


costas novamente, mas desta vez mexia no fogão, ainda estava vestindo
somente a calça social com a arma no cós atrás. Suas costas pareciam ter sido
esculpidas e chegava a ser hipnotizante olhar os músculos trabalhados em sua
extensão.

Bruce se virou assim que Rita se acomodou no banco alto da ilha.

— Tome esses analgésicos — disse colocando os remédios na sua frente.

Rita acenou e ele pegou um copo com água, observou enquanto tomava em
silêncio. E depois colocou uma grande xícara de café preto e puro na frente dela.

Ela murmurou um agradecimento e observou ele se mover, colocou alguns pães


na ilha para que tomasse seu desjejum.

— Coma.
Ordenou enquanto puxava uma camisa social preta pelos ombros e abotoava os
botões rapidamente. Era sensual cada movimento dele e ela se obrigou a comer.
Tinha muito tempo que não via um homem se vestir em sua frente, o único que
fez isto já havia partido há tanto tempo que ela nem queria pensar.

— Bruce — chamou-o baixo.

— Hm — resmungou.

— Aquele dia em que ficou muito bravo comigo por não passar o telefone... Nível
três... Se não me engano... O que tinha acontecido?

— Para quem não lembra muito das coisas, você tem uma boa memória. — Ele
disse em um tom duro.

Ela se encolheu em seu lugar.

— Eu só estou tentando me lembrar de algumas coisas, acho que realmente sou


muito desatenta... E não tem como esquecer a forma que você veio para cima
de mim, parecia que iria arrancar minha cabeça com as próprias mãos —
murmurou e observou-o colocar a camisa para dentro da calça.

— O que tem aquele dia?

— O que aconteceu? — perguntou curiosa. — Você apareceu machucado


depois.

— Tive em um acidente de carro, te disse isto.

— O que significava nível três?

— Algo grave.

— E você estava em algo grave.

— Sim.

— Evasivo... Tudo bem... Não precisa dizer.

— Estava levando Giulia para alguns exames em uma clínica e fomos seguidos
— disse e deu de ombros. — Algumas caminhonetes nos perseguiram e
conseguiram se livrar das minhas escoltas de apoio.

— Sério?

— Sim.

— E o que aconteceu depois?

Ele puxou a gravata pelo seu pescoço e começou a fazer o nó.


— Quando consegui falar com Adônis, ele correu para nos ajudar.

— Mas você se machucou.

— Sim, antes de Adônis chegar a mim, acabei perdendo o controle do carro


quando bateram contra a traseira. Capotamos algumas vezes antes de parar,
mas ele chegou a tempo de impedir que fôssemos mortos.

Rita congelou com os olhos arregalados, ele falou com tanta naturalidade que
ela mal podia acreditar que quase causou a morte dele e de Giulia.

— Rita?

— Você quase morreu por minha causa. — Ela murmurou ainda chocada.

— Não foi por sua causa.

— Eu demorei a passar o telefone...

— Você demorou e me irritou por isto, mas não foi sua culpa — afirmou. — Não
esperávamos pela perseguição e os homens que fizeram isto pagaram pela
ousadia.

— Por isto ficou tão bravo aquele dia.

— Sim.

— Me matou de susto... Achei que me bateria... Estava tão furioso. — Ela disse
e tremeu com a lembrança.

— Não bateria em você.

— Não parecia.

— Eu só não gosto de falhas. — Ele murmurou enquanto puxava o terno pelos


braços e o ajeitou sobre os ombros. — Sente-se melhor?

— Sim.

— E a perna?

— Ainda dói.

— Precisa de mais alguma coisa?

— Não.

— Quer que eu te leve para casa ou precisa descansar mais um pouco antes de
voltar?

— Você não parece confortável em cuidar de mim.


— E não estou.

— Sinto muito, então.

— Não é por sua causa, cuido da segurança pessoal de Adônis e não gosto de
ficar longe dele, mas ele não me dá opções quando cisma com algo.

— Gosta dele — afirmou.

— Sim — respondeu evasivo. — Então, o que decide?

— Posso descansar em casa.

— Ok

— Que dia da semana é?

— Sexta.

Ela pulou para fora do banco e gemeu quando a dor explodiu em sua perna.

— O que está fazendo? — perguntou surpreso. — Ficou doida.

— Vamos, logo — apreçou-o. — Hoje é dia da seleção de Josh.

— De quê? — questionou confuso.

— O teste para entrar no time.

Bruce acenou com a cabeça e andou pelo local, foi até o sofá e tirou de dentro
de uma caixa um par de tênis femininos de uma marca cara.

— Venha até aqui, vou ajudá-la a calçá-los.

Ela acenou com a cabeça lembrando que estava descalça ainda. Mancou até
ele e se sentou no sofá, ele se ajoelhou em sua frente. Colocou meias brancas
em seus pés, mesmo sobre seus protestos de que podia fazer isto sozinha, e
colocou os tênis.

Foram em silêncio para o carro no térreo e desta vez não tinha escolta, Bruce
abriu a porta para ela e depois entrou no lado do motorista. Pelo caminho ele foi
falando de algumas regras básicas para manter-se viva e salva da máfia. Ela
escutou com atenção, com medo de que fizesse alguma coisa errada que
causaria danos sem reparos. Nunca colocaria Josh em perigo, então, seguiria à
risca tudo que Bruce lhe disse.

Ainda estava processando as informações, era como se fosse demais para


acreditar que esse tempo todo trabalhou para os chefes de uma grande
organização criminosa e nunca percebeu. Mesmo assim, ela se esforçou para
memorizar cada coisa que Bruce falava, não queria cometer nenhum erro que
pudesse custar a sua família.

— Ettore pode aparecer na escola.

— Você acha?

— Ele está naquela região, não sei quais vão ser os seus passos. Caso ele se
aproxime de você, mantenha a calma e não deixe transparecer nada. Deixe-o
acreditar que fez algo errado no seu carro e não conseguiu concluir o que tinha
planejado.

— E se ele tentar de novo?

— Ele vai.

— Bruce. — Ela tremeu.

— Estou por perto, Rita, não tem o porquê se preocupar.

— Mas...

— Tenho homens por todos os lados nesta cidade e conheço cada passo que
Ettore dá, não vai lhe causar nenhum dando — garantiu. — Eu te dou minha
palavra que você está segura, assim com Josh e seu nonno.

Ele estacionou o carro na frente da escola.

— Vou te acompanhar hoje, já pensou no que dizer a ele quando perceber que
você está machucada? Irá dizer do acidente?

— Não, ele também tem medo de carros. Não quero assustá-lo, só vou dizer que
caí. — disse. — É suficiente.

— Tudo bem, acredito que Ettore não vai se aproximar de você comigo do seu
lado, mas se acontecer, não se esqueça de agir naturalmente.

— Não vou me esquecer.

— Bom.

Ele saiu do carro e abriu a porta para ela, ajudando-a a sair do veículo com
cuidado por causa de sua perna ferida.

Guiou Rita para dentro da escola e foram para o lado das quadras de esportes.
Viu-a sorrir com lágrimas nos olhos quando achou o filho aquecendo no canto
do gramado.

O garoto se virou e encontrou a mãe com o olhar, ele pareceu surpreso de início,
mas depois correu na direção dela.
Bruce se posicionou atrás de Rita e segurou seu peso quando Josh se jogou
contra ela.

— Mama.

— Filho.

Ela o abraçou forte e não se importou com a dor na perna. Josh apertou seus
braços em volta de sua cintura.

— Estava com saudades. — Ele murmurou e Rita riu.

— Estou vendo, nem se importou de abraçar essa pobre mãe na frente dos seus
amigos.

— Não ligo para eles, senti sua falta.

— Também senti.

Quando ele se afastou olhou em seu rosto e depois para Bruce que continuava
atrás dela lhe dando apoio.

— O que aconteceu? — questionou preocupado. — Está machucada?

— Eu caí e acabei me machucando um pouco.

— Mama.

— Estou bem, ainda não sou uma mãe zumbi sugadora de sangue.

Ele sorriu e abraçou-a de novo.

— Zumbis não sugam sangue.

— Como eles são chatos, deve ser tão sem graça ser um zumbi.

— Eles são legais — disse se afastando. — Quem é ele?

— Josh — repreendeu-o. — Seja mais educado.

— Desculpe, mãe.

Josh estendeu a mão para Bruce.

— Sou Josh.

Bruce pegou sua mão e lhe deu um aperto firme.

— Bruce — disse. — Trabalho com sua mãe.

— Cuidou dela depois que se machucou? — perguntou e levantou uma


sobrancelha inquisitiva.
— Joshua. — Rita o repreendeu novamente.

— Cuidei dela, vou acompanhá-la depois para casa quando você tiver garantido
sua vaga no time.

— Hm... eu vou.

Rita o puxou e beijou sua testa presunçosa.

— Vá logo, pirralho.

— Vai ficar realmente bem? — Ele perguntou ainda preocupado.

Rita sabia que suas feições não eram as melhores e que isto estava assustando-
o. Então, sorriu e encheu seu rosto de beijos.

— Claro que eu vou ficar bem.

— Está babando em mim, mãe.

Ela se afastou e o olhou séria.

— Eu não babo.

— Então, que gosma é essa no meu rosto? — brincou e ela sorriu animada.

— Acho que estou me tornando um zumbi.

Josh jogou a cabeça para trás e gargalhou trazendo alívio a alma de Rita.

— Vá antes que eu sugue seu sangue delicioso — brincou.

— Mãe! — exclamou. — Já disse que eles não sugam sangue.

— Como eles são chatos!

Ele sorriu, jogou um beijo para ela e depois correu para o campo.

Rita soltou um suspiro alto e estremeceu quando se deu conta da mão de Bruce
em suas costas.

— Qual o problema? — Ele perguntou baixo.

— Pensei que nunca mais iria vê-lo — sussurrou e limpou rapidamente a lágrima
que desceu sobre sua bochecha.

— Vamos encontrar algum lugar para sentar.

Rita acenou com a cabeça e juntos deram dois passos para frente, mas parou
quando uma figura feminina entrou em seu campo de visão vindo em sua
direção.
— Quem é ela? — Bruce perguntou baixo.

— Alguém que eu não tenho paciência para lidar hoje. — Ela murmurou e
continuou a caminhar para as arquibancadas com a intenção de se sentar no
local mais baixo, por causa do ferimento em sua perna.

O barulho de saltos batendo no concreto mostrava que a mulher insistia em falar


com ela, e Rita se sentiu irritada.

— Rita?

Suspirou antes de levantar o olhar.

Viu os sapatos pretos de saltos luxuosos, seguidos por um vestido branco e um


corpo perfeito.

— Talita.

— O que aconteceu com você? Está horrível.

A mulher era a cópia da perfeição e um sonho para qualquer homem, mas só


era bonita por fora. Talita conseguia irritar Rita em níveis assassinos cada vez
que se encontravam.

De repente, Rita se sentiu cansada e desejou por tranquilidade. Algo que parecia
raro em seus dias agora.

— Estou bem, precisa de alguma coisa?

— Precisar de você para alguma coisa? Não querida, eu não preciso — esnobou.
— Vi que seu filho vai fazer o teste, Daniel também irá conseguir uma vaga no
time.

— Boa sorte para ele, Talita, agora se me der licença, vim aqui para ver meu
filho e não gastar meu tempo com você.

— Desculpe, não me apresentei — disse para Bruce. — Sou Talita Agnelli.

Ofereceu sua mão a ele.

Mas o segurança olhou para sua mão estendida e depois para seu rosto, não
mostrando nenhuma reação. Rita viu o rosto da mulher corar envergonhada e
logo ficar furiosa pela reação de Bruce.

— Ele não é de muitas palavras, como disse, nos dê licença para que eu possa
assistir meu filho.

Rita caminhou rápido passando por Talita e sentiu a presença de Bruce em suas
costas. Mesmo mancando, foi para as arquibancadas e se sentou no primeiro
lance.
— Não precisava ser tão mal-educado. — Ela resmungou assim que ele se
sentou no seu lado.

— Não gosto de pessoas que se acham melhores do que os outros — respondeu


ganhando a atenção de Rita.

Ela o olhou estreitando os olhos.

Bruce encarava os garotos no gramado e quando se virou lhe deu um olhar


intenso, fazendo o ar ficar preso em seus pulmões.

— Você tem um ponto — disse.

Ele prendeu seu olhar no dela e depois quebrou o olhar, voltando a encarar o
gramado.
CAPÍTULO NOVE

Bruce dirigiu em silêncio na volta, levando Rita e Josh para casa depois do teste
de futebol.

— Viu como eu fui bem, mama? — questionou eufórico.

— Claro que vi.

— Nossa, e aquele gol! — exclamou. — Puta merda!

— Olha o linguajar, Joshua.

Bruce segurou o sorriso ao ouvir a repreensão na voz de Rita. No pouco tempo


que teve perto dos dois, percebeu que apesar de todo o bom humor que os
rodeava, ela não dava moleza para Josh no quesito educação.

Ele estendeu a mão e pegou o celular.

Dividindo sua atenção no trânsito e no aparelho ele discou para Dânio, o homem
que ele escolheu para a segurança de Rita quando não estivesse por perto.

No segundo toque Dânio atendeu.

— Diga, Bruce.

— Pacote a caminho, faça uma vistoria completa no local antes da chegada.

— Tempo.

— Cinco.

— Bom, farei isto.

Bruce desligou e sentiu os olhares tensos de Rita e Josh sobre ele.

— Algum problema? — perguntou colocando o celular no meio das pernas e


levando a outra mão para o volante.

— Nada além de você estar usando o celular e dirigindo ao mesmo tempo. —


Josh disse.

Bruce não perdeu o sarcasmo em sua voz, olhou pelo retrovisor e viu-o
estremecer levemente.

— Joshua.

Rita disse em tom de aviso para o filho e Josh deu de ombros.

— Sinto muito, vou prestar mais atenção na próxima vez. — Bruce murmurou.
Sabia que eles tinham trauma de carro e eram tensos todas as vezes que
estavam dentro de um. Não pioraria a situação ainda mais, seria cuidadoso a
partir daquele momento.

Assim que estacionou o carro na porta da casa de Rita, ele não perdeu o alívio
no rosto dela.

— Josh, poderia me dar uns minutos com sua mãe?

— Claro, já estou fora — disse e saiu do carro mais depressa do que imaginou
ser possível para um pré-adolescente.

— O que quer, Bruce?

Ele não respondeu de início. Esticou o braço para o banco detrás e pegou uma
caixa que estava ali.

— Esses são alguns de seus pertences que foram resgatados de seu carro.
Coloquei junto alguns medicamentos e aparatos para cuidar do corte em sua
perna — informou. — No fim da próxima semana vou levá-la para tirar os pontos.
Também há um celular novo e outros aparelhos eletrônicos que foram perdidos
no acidente.

— Não...

— Você não tem a opção de negar — disse rude. — São ordens do chefe.

Rita o olhou ultrajada e ficou calada esperando que ele continuasse.

— Volte ao trabalho quando se sentir melhor e pronta para isto. Haverá sempre
um segurança te seguindo onde quer que vá, assim como Josh e seu nonno.
Não precisará mais dirigir, Dânio estará sempre à disposição para isto e não
precisa se preocupar em estar atrás de um volante. — um pouco de alívio passou
por Rita. — Evite se desviar de perto dos homens que te seguirem e não brinque
com sua segurança. Se eles te perderem de vista, pode colocar em dúvida sua
lealdade, então não teste isto.

— Ótimo — murmurou irônica.

— Vai ser difícil se acostumar, mas você só precisa ignorá-los que vai ficar tudo
bem — disse. — Caso Ettore se aproxime, você deve me procurar
imediatamente. Evite ficar sozinha com ele, ou em algum lugar muito vazio.

— Ok.

— E Rita?

— Hm.

— Sinto muito pelo que passamos esta semana.


Ela o olhou por um instante percebendo a sinceridade em seus duros olhos, mas
desviou o olhar.

— Não quero falar sobre isto. — Rita disse e abriu a porta do carro.

Bruce ficou tentado a insistir em conversarem sobre o que houve, mas


permaneceu calado observando-a sair do carro com um pouco de dificuldade.

Esperou que ela entrasse em casa antes de ligar o carro e sair.

Rita encostou-se à porta fechada e suspirou aliviada por estar em casa


novamente. O choro estava preso em sua garganta e quando levantou o olhar
encontrou Josh a observando.

— Nunca pensei que sentiria tanta falta de casa — murmurou esperando que ele
acreditasse em suas palavras.

Ele sorriu deixando-a aliviada, se aproximou e pegou a caixa pesada de suas


mãos.

— Venha mãe, descanse um pouco.


CAPÍTULO DEZ

Rita virou na cama e sentiu o corpo adormecido de Josh ocupando a maior parte
da cama, assim como seu pai era. Parecia sempre ter os mesmos hábitos de
Rodrigo. Sorriu e acariciou seus cabelos, aliviada por tê-lo novamente perto. Foi
uma semana muito ruim e estava feliz por estar de volta em casa.

O telefone fixo tocou em sua base, em cima da mesa de cabeceira. Estendeu a


mão para pegar e atendeu.

— Alô.

— Filha, que bom que está de volta.

— Oi, papai, estou de volta.

— Como foi o trabalho?

— Cansativo, mas estou bem — mentiu com facilidade.

— Fiquei sabendo que esteve no teste de Josh.

— Sim, estive lá para buscá-lo — disse e sorriu. — Ele passou e agora é o novo
jogador do time.

— Que bom. — Seu pai pareceu animado. — Sua voz parece cansada.

— Estou cansada, acho que peguei um resfriado.

— Quer que eu vá aí?

— Estou bem, papa, prometo que se precisar de ajuda vou chamá-lo.

— Tudo bem, então, vou deixar você descansar.

Eles se despediram e ela voltou a aconchegar Josh em seus braços.

Ficou ali, observando e velando o sono dele por boa parte da noite até que
adormeceu.

O sábado amanheceu mais frio do que o normal. Rita passou o dia assistindo
filmes com Josh e deixando seu corpo se recuperar do cansaço e maus tratos
sofridos pela semana sendo prisioneira de Bruce, ou melhor, da máfia.

Sua mente ainda corria preocupada por nunca ter reparado nada de errado na
construtora. Sentia-se preocupada e receosa em agora estar envolvida com algo
tão perigoso quanto à máfia.

Mas que opções ela tinha?


A verdade era que não tinha opções. O tom calmo de Adônis falando com ela
sobre os riscos que correria se não fosse leal a ele ainda lhe causava arrepios.
Mesmo com a mente fervendo em dúvidas e medos, ela não deixou Josh
perceber.

Ao anoitecer ele dormiu em sua cama novamente, não assumiu, mas ela sabia
que ele sentiu muito sua falta. Sem poder negar isto a ele, deixou que dormisse
com ela, gostando de tê-lo tão próximo.

...

— Josh, atenda a porta para mim — gritou da cozinha.

— Já vou, mãe.

Rita colocou a lasanha no forno e começou a lavar as vasilhas sujas.

— Pelo cheiro parece que vamos ter comida boa.

A voz masculina encheu seus ouvidos, ela sorriu e se virou.

— Como se eu tivesse te convidado — disse e abraçou o homem em sua


cozinha.

— Você está cada dia mais malvada.

— Quanto tempo não aparece por aqui, Frank — sorriu.

— E ainda bem que voltei em um bom momento — brincou apontando para o


forno.

— Como sempre movido à comida.

— E não vou embora antes do almoço.

— Sinta-se à vontade, sabe que é de casa.

— Aquele garoto está crescendo mais rápido do que eu imaginava e parece


com... Desculpe Rita.

— Tudo bem, Frank, Josh está cada dia mais parecido com Rodrigo.

Frank era o melhor amigo de Rodrigo e nunca se afastou depois de sua morte,
foi um ótimo amigo nos últimos anos e continuava a ser.

— Porque está mancando?

— Caí e machuquei a perna.

— Como? — questionou. — Está bem?

— Estou bem, logo vou estar ainda melhor — garantiu. — Quer algo para beber?
— Eu mesmo pego, sente-se que eu vou nos servir uma taça de vinho.

Rita sorriu em resposta.

— Sinta-se em casa — disse e ele acenou.

...

Quando amanheceu na segunda-feira, Rita se levantou determinada a não se


atrasar. Não precisava voltar a trabalhar tão cedo, mas o que ela faria em casa
o dia todo?

Uma hora ou outra, teria que enfrentar Adônis Albertini outra vez e ela não
correria disto. Mesmo ainda com o medo correndo em suas veias, decidiu que
lidaria com tudo da melhor forma possível.

Adônis havia dito que nada mudaria em seu trabalho e ela acreditou nele, mesmo
que uma vontade enorme de estapeá-lo se fez dentro dela, ao lembrar que ele
era o responsável pela tortura que sofreu nas mãos de Bruce.

Em sua opinião, não precisava de tudo aquilo. Era só perguntá-la se tinha


alguma dúvida sobre seu comportamento referente à presença de Ettore.

Ettore, este era outro que ela queria bater até a morte. Faria o possível e o
impossível para ficar longe dele, ainda não acreditava que tentou matá-la.

Mas porque ele a queria morta? Essa era a pergunta de um milhão de dólares.

Tomou um banho quente com a mente cheia de dúvidas e foi para o seu closet.
Fez um novo curativo no corte em sua perna e respirou fundo, enquanto
procurava o que vestir para o dia de trabalho.

Suas mãos tremiam e ela ignorou o nervosismo espalhando por seu corpo.
Pegou um vestido azul escuro que ia até seus joelhos e calçou as sapatilhas
pretas.

Caminhou até o espelho do closet e observou seu rosto. Não estava mais tão
pálida como antes e ainda tinha olheiras abaixo dos olhos.

— Seja corajosa, Rita — murmurou para si mesma.

Escovou o cabelo e puxou uma trança embutida prendendo todos os fios, menos
a franja. Fez uma boa maquiagem que escondesse todos os traços de cansaço
do seu rosto e passou o mesmo batom rosa de todos os dias.

Pegando suas coisas de trabalho e um casaco de frio para o dia, ela saiu de seu
quarto e bateu na porta do quarto de Josh.

— Não se atrase, gatinho.


— Cinco minutos, mama.

— Estou contando.

Desceu as escadas devagar sentindo os pontos na ferida repuxarem um pouco,


colocou suas coisas no sofá e foi para a cozinha preparar dois cappuccinos.
Suas mãos tremiam enquanto esperava a primeira xícara ficar pronta.

Ela respirou fundo inúmeras vezes e se obrigou a relaxar quando ouviu Josh
descer as escadas.

— Buongiorno. — Rita disse assim que o viu entrar na cozinha.

— Bom dia, mama.

Beijou sua testa e ele se sentou para tomar o café.

Colocou uma xícara na frente do filho e alguns biscoitos. Ficaram em silêncio


ainda sofrendo um pouco de sono.

— Qual o problema? — Ele perguntou e tomou um gole do seu cappuccino.

— Nenhum.

Josh parou e olhou atentamente Rita. Ele a conhecia melhor do que ela
acreditava. Em seus dozes anos, já podia dizer todas as diferenças de humor da
mãe e agora não seria diferente.

— Sério? — O tom irônico dele a fez sorrir.

— O respeito passa longe — disse e ele revirou os olhos.

— Você acordou cedo e está em silêncio — pontuou. — Sem contar que passou
o fim de semana disfarçando que não está preocupada com algo.

— Josh...

— Mãe, me conte qual é o problema e vamos ver o que podemos fazer — disse
como se já fosse adulto.

— Quando você cresceu tão rápido assim? — brincou e ele sorriu.

— Não sei bem, mas quero que confie em mim, mãe.

— Eu confio, querido.

— Então, me diga qual é o problema.

Rita pensou por um instante antes de decidir o que falar para Josh.

— Lembra-se de Ettore?
— O cara que sempre aparece onde quer que estamos?

— Sim.

— O que tem ele?

— Eu quero que você fique longe dele.

— Ele te machucou? Fez alguma coisa para você? — perguntou ficando


vermelho de raiva igual ao pai.

— Não, querido, ele não me machucou. Eu quero que você me prometa que toda
vez que ele se aproximar, você vai se afastar e nunca ficar sozinho com ele.
Jamais! Vai sair e me ligar, ou mandar mensagem na mesma hora.

— Por que...

— Não precisa saber o porquê, Josh. Eu sou sua mãe e você tem que confiar
em meu julgamento quando digo que não confio nele para ficar por perto de nós
dois.

— Confio em você, mãe, mas me diz...

— Querido, você ainda não precisa se preocupar com o que ele fez ou deixou
de fazer. Eu só quero que me prometa que vai ficar longe dele e caso se
aproxime, você procure ir para um lugar com mais pessoas. Pode me prometer
isto?

— Sim, eu prometo, mama.

— Obrigada.

— Pode confiar em mim, não vou deixá-lo se aproximar.

— Bom, agora vamos logo com isto antes que eu chegue atrasada.

— O senhor Albertini vai arrancar algum órgão desta vez? — brincou.

— Acho que ele vai me tirar os membros. — Ela respondeu e ele sorriu.

E pela primeira vez em muito tempo, eles não estavam tão atrasados para sair
de casa. Pegaram suas coisas, trancaram a porta e quando olharam para fora
um Jeep preto os aguardava.

— Onde está seu carro, mama?

Rita ficou visivelmente tensa quando a lembrança dela se afogando, brilhou em


sua mente. Mas para sua sorte, Josh estava distraído observando o carro e o
segurança que saiu dele.

— Estragou.
— O quê?

— Estragou alguma coisa nele, mandei consertar, mas acredito que eu vá vendê-
lo e comprar um melhor. Até lá o senhor Albertini liberou um carro e um motorista
para nos acompanhar.

— Pelo menos não vai precisar dirigir — murmurou e Rita não percebeu como
ele pareceu aliviado com isto.

— Buongiorno. — Dânio disse ao se aproximar.

— Bom dia. — Rita e Josh responderam.

— Estão prontos para irem? — perguntou e sorriu levemente.

— Estamos. — Rita afirmou.

Ele acenou e abriu a porta detrás para Josh.

— Não se esqueça do cinto, garoto.

— Não vou, valeu, cara.

Rita teve que sorrir com a facilidade de Josh para aceitar com outras pessoas,
nem parecia que tinha somente doze anos, afinal quando ele se tornou um adulto
assim? Ela se perguntou e sorriu gostando de ver como ele crescia rápido.

— Senhorita?

Dânio a chamou e ela percebeu que ainda estava parada no mesmo lugar.

— Somente Rita, Dânio.

Ele acenou e ela entrou no carro ao lado do motorista, não era porque agora
tinha alguém para dirigir para ela que sentaria atrás como uma madame
qualquer.

Apesar do alívio de não ter que dirigir, Rita acabou tremendo levemente com as
lembranças do último acidente em que esteve envolvida. Porém, o que realmente
a deixou tensa foi à imagem de Bruce debruçado sobre ela exigindo que
respirasse. A sensação de seus lábios frios sobre os dela eram ainda tão vivos
em sua mente, mais do que desejava.

Decidiu optar pela frieza, faria o seu trabalho como fez durante todos os anos
em que esteve na construtora e esqueceria que trabalhava para um mafioso.
Mas a frieza em si seria para Bruce, não falaria com ele nada além do que fosse
necessário. Antes ela sempre o cumprimentava e perguntava como estava, ou
como foi seu fim de semana. Tentava manter um diálogo com ele, mesmo com
suas respostas monótonas e seu silêncio insuportável.
— Tchau, mama, valeu Dânio.

— Tchau, garoto. — Dânio respondeu e acenou para ele.

— Se cuida, moleque, lembra-se das regras...

— Nada de falar com estranhos.

— Isto aí, pirralho.

— Mãe.

Ele gemeu frustrado e ela sorriu.

— Te amo, querido, qualquer coisa me ligue.

— Também a amo.

Ele disse e pulou para fora do carro. Dânio e Rita ficaram observando Josh, até
que ele sumiu para dentro da escola.

Os dois foram em silêncio rumo à empresa, mas no caminho passaram pela


ponte que Rita caiu com o carro. Ela prendeu a respiração e tremeu tensa, Dânio
percebeu e não disse nada. Ele tinha o controle do carro e queria que ela
percebesse isto sozinha.

Quando chegou ao prédio, ele dirigiu para o estacionamento de funcionários e


parou na frente do elevador.

— Está entregue — disse fazendo-a olhar para ele.

— Obrigada.

— Não por isto, este é meu número, me ligue quando precisar sair do prédio.

— Não...

— Não lute contra isto, Rita, são regras e elas devem ser seguidas à risca.

— Só ia dizer que não pretendia sair antes do meu expediente — murmurou e


ele acenou.

— Tudo bem, não saia sem minha companhia — pediu. — Vou estar te
observando de longe e atento, mas me procure quando precisar.

Ela acenou com a cabeça incapaz de continuar aquela conversa. Sabia que ele
ficaria o dia todo observando seus passos pelas câmeras de segurança e de
repente se sentiu irritada por isto.
Rita saiu do carro carregando sua bolsa e o novo notebook, sem olhar para trás.
Apertou o botão e aguardou. Dânio continuava no mesmo lugar garantindo que
ela não fizesse outra coisa além de subir para trabalhar.

Assim que as portas se abriram, ela deu um passo para frente, mas parou
quando viu Adônis Albertini e Bruce atrás dele olhando para ela sem demonstrar
nenhuma reação.

Rita prendeu a respiração e obrigou seu corpo a não tremer na frente deles, seu
olhar saiu de Adônis e encontrou o frio dos olhos de Bruce. A lembrança dele
abrindo o chuveiro gelado sobre sua cabeça brilhou em sua mente e uma raiva
apareceu nos olhos de Rita.

— Pronta para entrar, Rita?

Adônis perguntou e ela o olhou.


CAPÍTULO ONZE

Rita engoliu o caroço de raiva que tinha se formado em sua garganta e forçou
seu rosto a se tornar frio, quase impassível.

— Senhor Albertini.

Ela o cumprimentou e entrou no elevador, ficou um passo na frente de Adônis e


se virou de costas para ele quando as portas do elevador fecharam.

— Pronta para volta? — Adônis perguntou duvidando de que já estivesse pronta


para trabalhar.

— Sim, senhor. — Rita respondeu firme e ficou orgulhosa por isto.

Ficaram em silêncio até o andar da presidência e assim que as portas se abriram


novamente, ela mancou para fora com confiança mesmo estando ciente que os
olhos dos homens estavam em suas costas.

Parou em sua mesa e começou a organizar suas coisas.

Viu Adônis e Bruce entrarem para o escritório, então pode respirar aliviada.

Seja forte, Rita. Disse ela a si mesma.

Ela focou sua atenção em seu trabalho, enquanto tentava recuperar sua agenda
para a semana.

Não demorou muito e a porta se abriu novamente, dela saiu Bruce com sua
postura tensa e rosto frio.

— Rita?

Ela o olhou e não falou nada, somente esperou que ele dissesse o que queria.

— Adônis está te aguardando.

Rita acenou com a cabeça e ficou em silêncio, ele a observou por um instante
enquanto se levantou pegando suas coisas para enfrentar Adônis.

— Rita eu...

Ela não o ouviu, entrou na sala e fechou a porta em seu rosto sem se importar
com a educação.

— Senhor Albertini, me chamou?

— Sim, sente-se.
Ordenou no seu costumeiro tom calmo e olhar sombrio. Ela não se importou,
estava acostumada com ele mandando nela e seu olhar não a assustava muito
mais.

Sentou na sua frente e tentou não se constranger com o olhar dele sobre ela.
Adônis prolongou um silêncio entre eles, fazendo com que ela começasse a ficar
ansiosa. Porém, Rita manteve o rosto impassível mostrando que não ia se abalar
por fora, mesmo que por dentro estivesse tremendo de medo do próximo passo
que o mafioso iria dar.

— Tem certeza de que não precisa de mais alguns dias em casa? — Ele
perguntou.

— Sim, não teria o que fazer lá — respondeu firme e ele a considerou por um
momento.

— Vi que ainda está mancando — afirmou.

— Estou bem.

— Bom.

O silêncio se estendeu novamente e Adônis não tirou os olhos de cima de Rita,


estava procurando por qualquer reação, mas ela se manteve firme ganhando um
pouco mais do respeito dele.

— Percebi que você ignorou Bruce no elevador, algo que nunca fez antes. —
Adônis disse.

— Não quero falar sobre Bruce, senhor. — Rita disse firme, mas acabou
tremendo levemente.

Outra pessoa não teria percebido, mas Adônis estava atento.

— Ele só fez o que era preciso — afirmou. — Era uma ordem minha.

Rita se esforçou para esconder sua raiva, respirou devagar e manteve o rosto
impassível.

— Eu sei.

— Não leve para o lado pessoal.

— É pessoal para mim.

Ela assumiu e ele acenou com a cabeça.

— Se está pronta para trabalhar, vamos começar pela agenda. — Adônis disse
não rendendo mais o assunto.
— Estou pronta.

As horas se arrastaram depois disto, mesmo que o trabalho acumulado estivesse


tomando toda sua atenção. Rita ficou aliviada de que Adônis colocou um dos
seus seguranças para correr de um lado para o outro em seu lugar, para que ela
ficasse sentada e não forçasse sua perna.

Aquilo ajudou muito, não podia negar.

Outra coisa incômoda foi ter Bruce sentado no sofá da sala, onde geralmente
Pietro ficava. Na verdade sempre tinha um segurança sentado ali, mas hoje
Bruce tomou o posto e mesmo com um notebook no colo, ela não perdeu que
ele estava sempre a olhando.

Rita não retribuiu seu olhar em nenhum momento.

Não iria deixá-lo se aproximar nunca mais. Prometeu a si mesma.

Seus pensamentos foram interrompidos quando dois furacões atravessaram a


sala quase que correndo e gritando.

Um ruivo e outro moreno.

— Graças a Deus! — Giulia exclamou.

— Estou tão feliz em te ver de novo, Rita. — Milena disse.

— Ver de novo, VIVA. — enfatizou Giulia.

— Sim, viva, Santo Cristo. — Milena disse e abraçou Rita.

— Como você está querida? – Giulia perguntou e abraçou também Rita.

Ela não conseguiu formar palavras para responder, estava abalada demais para
dizer qualquer coisa. A presença das duas mulheres a fez se lembrar de que
eram esposas dos homens que comandavam a máfia. Dos homens que a
manteve presa injustamente por quatro longos dias. Queria ficar com raiva delas,
mas não pôde, a preocupação daquelas mulheres eram puramente genuínas e
não mereciam o desprezo de Rita.

— Deveria estar em casa descansando. — Milena disse.

— Sim, está sentindo alguma coisa? Não me diga que Adônis te mandou voltar
sem se recuperar. — Giulia disse preocupada.

— Eu vou castrar Apolo se ele fez isto. — Milena ameaçou.

Rita se obrigou a respirar fundo.

— Estou bem. — murmurou.


— Vocês parecem duas loucas sufocando a mulher.

A voz de Apolo encheu a sala.

— E nem pense em me castrar, porque eu não fiz nada. — Ele disse para a
esposa e sorriu.

— Idiota. — Milena disse e ele abraçou sua cintura.

— Seu idiota. — Ele respondeu e olhou para Giulia. — Sabe que eu não posso
mais fugir com você, neh? Está uma gata, mas agora sou um homem casado.

— Bobo, como se eu o quisesse. — Giulia disse e sorriu.

— Porque não levam Rita para almoçar? — Apolo disse. — Que bom que está
de volta, Rita.

Ela somente acenou com a cabeça sentindo-se de repente cansada


mentalmente.

— Boa ideia, amor, vamos almoçar. — Milena falou.

— Eu não posso, tenho muita coisa para fazer...

— Não aceitamos não como resposta. — Giulia disse.

E Rita se rendeu, não poderia lutar contra as duas juntas. Foi arrastada para fora
e levada para o restaurante do prédio, sentaram-se no lugar mais privado
possível e fizeram seus pedidos.

A mão de Giulia posou sobre a de Rita assustando ela um pouco.

— Sinto muito por tudo que passou, Rita. Assim que descobrimos o que estava
acontecendo, fizemos o impossível para impedir que fosse morta. — Giulia
informou.

— Imagino que ainda esteja em choque com o que passou, eu fiquei


completamente abalada. — Milena disse e sorriu com compaixão para ela.

— Como vocês acabaram se casando com eles? — Rita murmurou cansada.

— Eu fui sequestrada. — Giulia disse.

— Eu também, mas por motivos diferentes. — Milena riu.

— E Rita também, parece destino. — Giulia disse brincando docemente.

— O que aconteceu? — Rita perguntou curiosa.

— Adônis me sequestrou como pagamento da dívida que Otaviano, meu


padrasto, tinha com ele. Mas logo que descobriu tudo o que eu sofria nas mãos
daquele homem e ainda por ser cega, fez de mim sua protegida. Porém, antes
me deixou dois dias em uma cela suja, com fome e frio. — Giulia contou e Rita
não perdeu o olhar apaixonado dela.

Se não conhecesse Giulia e Adônis, duvidaria da felicidade da mulher que se


tornou sua amiga. Sabia que o chefe a amava mais do que a própria vida e era
extremamente protetor.

— Eu fui levada em um sequestro junto com Apolo. — Milena disse.

— Como assim?

— Ele planejou ser sequestrado para pegar um inimigo, mas eu acabei caindo
no meio desta confusão. Fui levada e muito machucada. Quando libertada, Apolo
me deixou voltar para minha vida, mas me perseguiu por cada canto. Até que
engravidei e ele me mandou abortar, fez um inferno minha vida, até que paramos
de brigar e escutamos um ao outro. — Milena contou e revirou os olhos com
certeza lembrando-se de alguma coisa que não queria compartilhar.

— O que Bruce fez a você? — Giulia perguntou.

— Coisas que eu não quero me lembrar. — Rita respondeu e mexeu em sua


refeição sem vontade de comer.

— Eu pedi para que ele não a machucasse muito, sabia que não tinha como lutar
contra isto. — Giulia disse com pesar.

— Tem algum ferimento que eu não esteja vendo? — Milena perguntou.

— Só o corte na perna.

— Então, ele realmente pegou leve com você. — Milena afirmou e Rita arregalou
os olhos.

— Foi horrível. — Ela disse ultrajada.

— Imagino que sim, querida, não pergunte como, mas eu sei do que eles são
capazes para conseguir respostas. Quase não tenho estômago para suportar, e
olha que sou médica, já vi de tudo nesta vida. — Milena falou e segurou a mão
de Rita tentando confortá-la.

Todos sabiam que Bruce não a machucou realmente, comparado ao que ele
estava acostumado a fazer.

...

Bruce entrou na sala de Adônis atrás de Apolo, que abriu a porta sem bater como
sempre fazia e revirou os olhos para a expressão brava do irmão.

— Rita foi arrastada daqui pelas senhoras Albertini.


Disse como se fosse desculpa para não ser anunciado e Bruce queria revirar os
olhos para Apolo. Sabia que ele nunca se importaria em impor sua presença em
qualquer lugar e muito menos esperar ser anunciado.

— Como se isto fizesse alguma diferença. — Adônis disse e voltou sua atenção
para o notebook.

— Você pensa tão mal de mim. — Apolo disse e se sentou na frente do irmão.

— Pare, Apolo.

— Que? Não fiz nada, só estava dizendo.

— Vamos logo ao que interessa. — Adônis disse olhando para Bruce. — Preciso
ver como está a rota de entrega e ver o que podemos fazer para melhorar, não
quero mais ser surpreendido por policiais.

Bruce acenou e se sentou ao lado de Apolo.

— Já dei uma adiantada e pesquisei sobre possíveis aliados, devo receber um


relatório mais completo em cinco minutos.

— Bom.

Adônis o observou por um instante antes de voltar a falar.

— Ela continua te ignorando? — perguntou.

— Sim — respondeu evasivo como se não se importasse.

— Quem? — Apolo perguntou perdido na conversa. — Rita?

— Sim. — Adônis respondeu para Bruce.

— Vai ter uma merda de trabalho para conquistá-la, se ainda quer domar a fera
— brincou Apolo.

Bruce ignorou o comentário e tentou se focar no que realmente interessava no


momento, mas sua mente insistia em fazê-lo pensar nela. Não perdeu o quanto
Rita estava bonita essa manhã ao entrar no elevador, seu cheiro era tão bom
como se lembrava, e ele queria muito ter agarrado ela e permitido que nunca
mais se afastasse.

Desejava fazer o brilho de seus olhos voltarem e a que raiva viu neles não
existisse mais. Porém, não podia culpá-la por nada, ele merecia seu tratamento
frio e impassível.

Bruce não queria que ela continuasse assim, desejava que voltasse ser a mulher
faladeira e cheia de perguntas que era.
Decidiu deixá-la por agora, talvez o tempo o ajudasse a se entender com ela.

Ou não!
CAPÍTULO DOZE

Os dias foram se passando rápido, logo completaram semanas e então um mês


se passou desde o acidente e sequestro de Rita. Ela não facilitou em nada para
Bruce, levou sua vida longe do filho praticamente no automático. O ignorou cada
vez que foi possível e se tornou uma pessoa fria no trabalho, nada de sorrir ou
falar demais. Mesmo no dia em que ele a levou em uma clínica para retirar os
pontos do ferimento em sua perna.

Trabalhou com eficiência e não ouviu nada sobre a máfia durante esse tempo.
Deu-se conta que não era desatenta, a verdade era que todos envolvidos nesta
organização criminosa eram discretos demais para deixar qualquer coisa passar
despercebido.

Ettore ainda não tinha aparecido e Rita começou acreditar que ele desistiu, mas
Dânio não concordava, sempre dizia que Ettore só estava esperando um
momento de distração. Dânio continuou a levando para todos os lados e se
tornou amigo de Josh desde os primeiros dias em que esteve por perto.

Outra pessoa que ficou mais próximo foi Frank, ele sempre aparecia para um
almoço no fim de semana ou um passeio por perto. Rita gostou de sua
aproximação, Frank sempre a fazia se lembrar dos tempos bons ao lado de
Rodrigo e isto a fez bem.

Giulia e Milena também foram presentes durante o decorrer do mês. Sempre que
dava almoçavam juntas e falavam sobre muitas coisas em um tempo muito curto.
Mas quando Rita voltava para o escritório, seu rosto voltava a ser a máscara fria
que tinha se tornado.

Desviando os olhos do notebook, ela pegou seu celular que chamava em cima
da mesa, reconheceu ser o número da escola e ficou tensa antes de atender.

— Alô.

— Senhora Castiel?

— Sim.

— Sou Eleonora, secretaria do diretor Tommaso, estou ligando para pedir que
venha até a escola imediatamente.

— Qual problema?

— Seu filho, Joshua Castiel, se envolveu em uma briga.

— Ele fez o quê?

— Brigou com um colega.


— Estou a caminho.

Rita desligou e seu corpo tremeu em raiva, não podia acreditar que Josh tinha
se envolvido em uma briga. Ela arrumou a mesa correndo, feliz por estar quase
na hora do almoço, assim poderia sair rapidamente. Levantou e bateu na porta
do escritório de Adônis, entrou quando ele liberou.

Ela parou ainda na porta observando seu chefe e as costas de Bruce, que estava
ali há mais de uma hora em uma reunião com Adônis.

— Rita?

— Desculpe, senhor.

— Algum problema?

— Sim.

Assim que ela respondeu, Bruce se virou para olhá-la.

— Gostaria de sair mais cedo para o meu almoço, preciso ir à escola de meu
filho. Seu diretor está me aguardando.

— O que aconteceu com ele? — Adônis perguntou sério.

— Se envolveu em uma briga — respondeu entre dentes sentindo uma raiva


incontrolada aumentando dentro dela.

— Tudo bem, vá ver como ele está — disse. — Bruce irá lhe acompanhar.

— Não precisa, Dânio...

— Vamos. — Bruce disse a interrompendo.

Ele se levantou rápido e ela olhou para Adônis, o olhar dele dizia que não havia
alternativa. Aceitou de uma vez seu destino já que com ele não havia como
discutir.

Caminharam para fora e ela pegou sua bolsa, seguiram para o elevador em
silêncio. Quando estavam dentro do carro a caminho da escola, Bruce resolveu
tentar mais uma vez falar com ela.

— Só disseram que ele se envolveu em um briga? — perguntou.

— Sim.

— Você parece com raiva.

— Eu estou.

— Talvez não tenha sido nada demais, se acalme.


— Por que mesmo você está falando comigo? — questionou rudemente.

— Porque estou cansado de você me ignorando e me evitando a qualquer custo


— respondeu controlando seu temperamento.

— Só estou te tratando da forma que merece — acusou. — Afinal, não era você
mesmo que era cheio de respostas monossílabas e ficava em silêncio ignorando
qualquer coisa?

— Rita...

— Não, não diga nada.

— Em algum momento vamos ter que conversar, sabe disto.

— Eu não quero conversar com você, Bruce.

Ele estacionou o carro na porta da escola e antes de destravar a porta, se virou


para olhar nos olhos de Rita.

— Uma vez eu te disse que não sou um bom praticante de paciência e acredite,
já me cansei de esperar — disse em um tom de aviso. — Em algum momento,
muito em breve, vamos conversar.

O tom baixo, calmo e firme de Bruce fez Rita ferver em raiva.

Como ele era tão controlado daquela forma? Perguntou-se.

Irritada por ele praticamente prendê-la dentro do carro com a intenção de fazê-
la ouvi-lo, Rita esticou a mão na tentativa de apertar o botão para destravar as
portas.

Mas Bruce foi mais rápido e segurou seu pulso no meio do caminho.

— Nós vamos conversar Rita, nem que eu tenha que te levar em meus ombros
— ameaçou. — Eu vou fazê-la falar comigo, vou fazer você soltar toda essa raiva
que tem presa dentro de você e vamos nos acertar.

Ele soltou o braço dela e Rita se arrepiou com a perda repentina do calor dele.
Destravou o carro e saiu sem esperar por ela, em silêncio ela também saiu e
juntos foram para a sala do diretor.

A secretária se levantou logo que os viu. Josh estava sentado em um canto com
sua mochila e tinha uma bochecha inchada.

Rita se encheu de preocupação, mas seus olhos foram para a porta do diretor
que se abriu no momento, uma mulher com um garoto que tinha um olho roxo
saiu da sala. Não podia acreditar que Josh tinha feito aquilo.

Simplesmente não podia.


— Senhora Castiel. — A secretária a cumprimentou e ela acenou.

O diretor a olhou por um instante antes de voltar para sua conversa com a outra
mãe.

— Espero que isto realmente não volte acontecer.

A mãe do garoto disse e depois saiu puxando o menino para fora da sala, mas
não antes de esbarrar no ombro de Rita. Ela balançou em seus saltos e Bruce
segurou sua cintura impedindo que tropeçasse.

— Que bom que chegou, senhora Castiel.

— Diretor. — Ela apertou sua mão e depois lançou um olhar de desapontamento


para Josh. — Poderia me dizer o que aconteceu?

— Claro, mas os dois garotos não quiseram me dizer o porquê se socaram. Sinto
muito que tenha lhe tirado do seu trabalho, não poderia deixar isto passar.

— Entendo.

— Esse comportamento é inaceitável, coloquei os dois para ajudar no projeto da


feira depois das aulas, duas vezes por semana — informou. — E caso Josh se
envolva em mais uma briga, irei tirá-lo do time de futebol.

— Vou conversar com ele sobre isto. — Rita afirmou. — Quando começa os
projetos da feira?

— Amanhã.

— Tudo bem, mais alguma coisa?

— Não, ele está liberado.

— Obrigada, senhor Tommaso, e me desculpe pelo o comportamento do meu


filho.

— Estarei observando-o mais de perto, não vou aceitar violência na minha


escola.

— Eu realmente o entendo. — Ela disse firme e olhou para Josh. — Joshua,


vamos.

O garoto se levantou com os ombros baixos e não olhou para o rosto da mãe.
Caminharam para fora, Bruce apressou para abrir a porta do carro para Josh e
depois para Rita.

Antes de dar uma volta no carro, Bruce visualizou Ettore do outro lado da rua os
observando e ele ficou rígido, mas o homem foi esperto em sumir rápido.
Esperou alguns minutos para ter certeza de que ele estava longe, abriu o capô
do carro para garantir que não teriam nenhuma surpresa no caminho.

Entrou no carro e deu partida.

— Algum problema? Porque abriu o capô? — Rita perguntou desconfiada.

— Sei que não gostam, mas preciso fazer uma chamada. — Bruce disse olhando
o retrovisor.

Rita também olhou pelo espelho procurando por algo suspeito e não viu nada.
Voltou a olhar para Bruce, mas ele já tinha o celular em sua orelha.

— Pietro, alvo muito perto. — Bruce disse. — Mande uma equipe para minha
última localização, não o perca — ordenou antes de desligar.

— Bruce? — A voz de Rita quase tremeu e ele percebeu.

— Está tudo bem. — Ele garantiu e jogou o celular em cima do painel.

Um pouco mais para frente, Bruce puxou o carro para o estacionamento de uma
farmácia.

— Esperem por mim dentro do carro — ordenou antes de sair.

Rita se manteve em silêncio e concordou que ficaria dentro do carro.


Desconfiava de que o tal alvo, em que ele se referiu na sua chamada, era Ettore
e isto a fez tremer. Quando Bruce voltou, estava com uma pequena sacola na
mão. Tirou de dentro um saco de gelo e estendeu para Josh.

— Coloque na bochecha que daqui a pouco vai desinchar — disse.

— Obrigado, Bruce. — Josh murmurou.

Rita considerou que Bruce merecia um ponto depois de demonstrar preocupação


com Josh.

— Vamos deixá-lo em seu nonno? — Bruce perguntou.

— Sim.

— Ok.

O celular de Bruce tocou novamente e ele atendeu mesmo sobre o olhar


temeroso de Rita.

— Chefe... Não, tudo tranquilo... Eu o tenho. Nada que não se possa resolver...
Farei isto.

Ele desligou e eles ficaram calados.


— Por que brigou na escola Joshua? — Rita perguntou não aguentando esperar
para conversarem.

— Mama — resmungou.

— Diga-me a verdade — exigiu.

— Ele falou mal do meu pai. — Josh disse e emburrou o rosto.

— Explique-se antes que eu pense em um castigo muito severo para você. —


Ela o ameaçou.

Bruce segurou um sorriso.

— Eu estava na minha, mas ele começou a me provocar por não ter um pai.

— Você tem um pai e sabe disto — repreendeu-o.

— Eu sei... Mas ele ficou dizendo que eu estava mentindo, que meu pai não
morreu, que na verdade ele tinha ido embora por não suportar ficar com a gente.

— Josh...

— Eu sei que não é verdade, mama, mas ele me irritou muito e eu lhe acertei o
olho — disse emburrado.

— O que eu já te falei sobre violência? — questionou.

— Violência gera violência... Não existe nada que não possa se resolver com
calma.

— Bom, então eu ainda não entendi o porquê de socar seu colega. — Ela disse
pensativa.

— Mama! — Ele exclamou nervoso e ela se virou no banco para olhar o filho.

— Josh você tem um pai, que morreu, mas que te amou muito quando ainda era
vivo. Não há razão para se irritar sobre isto, já que nós nunca mentimos um para
o outro. Socar aquele garoto pode ter te feito extravasar um pouco de sua raiva,
mas te trouxe outros problemas. Como: ser chamado pelo diretor, me tirar do
trabalho, te fazer ficar depois da aula dois dias por semana e sem contar que
você está proibido de jogar vídeo game pelos próximos quinze dias.

— Ah, não, mãe. — Ele gemeu inconformado.

— Ah, sim. Afinal, não poderia sair assim tão fácil para você — disse e sorriu da
cara indignada dele.

— Isto não se faz, mãe! — protestou.


— O que realmente não se faz é socar uma pessoa por uma coisa que você sabe
que não é verdade — repreendeu-o duramente. — E reze para que seu nonno
não decida te dar um castigo também.

— Merda, aquele soco está saindo mais caro do que eu imaginei. — Josh
resmungou e Bruce sorriu gostando de ver a relação dos dois.

Ele viu que Rita era uma mãe melhor do que imaginava, vê-la o disciplinando foi
quase que incrível para Bruce. Achou ela ainda mais atraente em seu papel de
mãe brava e ficou difícil resistir ao desejo de conquistá-la.

— Olha a boca, pirralho. — Ela resmungou e Bruce estacionou na porta da casa


do pai de Rita. — Vou falar com seu avô por um minuto.

Quando Josh ia sair, Bruce o chamou.

— Josh?

— Hm.

— Sua mãe está certa sobre a coisa da violência, mas você tem um bom soco
de direita.

Bruce não perdeu o sorriso orgulhoso que ele deu.

— Não podia deixá-lo falar mal do meu pai, não me arrependo de socá-lo mesmo
sabendo que é errado.

— Eu sei que não, mas na próxima vez me chame, que eu mesmo vou dar uma
lição nesse pirralho. — Bruce disse e ofereceu um cartão para Josh.

— Obrigado.

— E não conte para sua mãe sobre o que eu disse da sua direita.

— Ela iria castrá-lo, não vou contar — prometeu rindo. — Valeu, Bruce.

— Tchau, garoto.

...

Para o alívio de Rita na volta para a empresa Bruce foi em silêncio, mas ela
percebeu que ele estava tenso mesmo que tentasse passar uma postura
relaxada. Quando o celular dele tocou, Bruce atendeu em menos de um
segundo.

— Diga — rosnou para o telefone. — Ele fez o quê? Tem certeza? Merda do
caralho... Estou a caminho, chego em quatro minutos.

Desligou a chamada.
— Algum problema? — Rita perguntou curiosa.

— Nada que tenha que se preocupar — respondeu baixo.

— Ettore estava na escola, não é mesmo?

— Sim.

— Ele fez alguma coisa? É por isto que está nervoso?

— Talvez.

— Então, é isto? Respostas monossílabas de novo.

— Rita, Ettore está cavando sua própria cova e eu sou o primeiro na fila para
surrá-lo até a morte. Então, se quiser uma resposta completa sobre o que está
acontecendo ou o que estou pensando, acho melhor pensar bem antes, poderia
se chocar com o tamanho da brutalidade que guardo dentro de mim.

Bruce respondeu em um tom baixo e calmo enquanto entrava na garagem, Rita


tinha se calado e estava visivelmente irritada.

Saíram do carro e foram para o elevador.

Bruce sorriu ao ver os punhos dela fechados, ela era uma mulher feroz e muito
valente. Que não gostava de ser afrontada como ele tinha acabado de fazer.
Seus olhos brilhavam de raiva e ele gostou. Acabou admirando os lábios rosados
dela e desejou, muito, poder beijá-la.

Um pensamento atravessou sua mente e ele gostou do que pretendia depois.


Puxou ela por um braço e empurrou seu corpo contra a parede gelada do
elevador.

Viu-a arfar surpresa e em choque de sua atitude, segurou-a pela nuca e colocou
seu peso sobre ela, prendendo-a ali.

— Que merda está fazendo, Bruce?

— Estou fazendo o que devia ter feito há muito tempo.

Então ele abaixou sua cabeça e beijou Rita, ela ficou rígida e não correspondeu.
Mas ele não desistiu, lambeu seu lábio inferior e o puxou com os dentes.

— Beije-me — exigiu.

— N...

Ele aproveitou sua deixa e levou sua língua para dentro da boca dela, ela socou
seu peito para afastá-lo e não teve nenhum sucesso. Ela cedeu e o
correspondeu, o beijou na mesma intensidade e suas mãos não sabiam o que
fazer, se batia nele ou se o trazia para mais perto.

Os dois foram queimados em um desejo brutal de serem possuídos um pelo


outro. Paixão os envolveram, seus corações aceleraram e o ar lhes faltou.

Rita se dando conta do que estava acontecendo, tentou se afastar novamente,


não querendo permitir que ele se aproximasse de novo e a machucasse. Ele não
se moveu um único centímetro e então ela mordeu seu lábio inferior com força.

— Merda.

Ele resmungou e se afastou, Rita pode ver que cortou sua boca ao mordê-lo.

Bem feito.

Pensou que ele ficaria furioso, mas ao invés disto, Bruce sorriu.

— Pode me morder o quanto quiser, Rita — provocou. — Você é minha,


independentemente de qualquer coisa.

— Eu não sou sua!

— Ah, você é — afirmou. — E não se esqueça do que eu disse, nós vamos


conversar muito em breve.

— Eu não sou sua. — Ela rosnou e ele a olhou com intensidade.

— A resposta para sua pergunta é não — disse.

— Não o quê? — perguntou confusa.

— Você afirmou no cativeiro que eu a queria morta, a resposta para isto é não.
Eu não a quero morta, me joguei naquele rio e a tirei do carro para te salvar,
porque o mundo não seria o mesmo para mim se tivesse que te enterrar.

Ele disse e saiu rápido do elevador.

Rita respirou fundo tentando entender o que ele quis dizer e saiu também, ainda
bamba, mas a tempo de vê-lo entrar no escritório de Adônis rapidamente como
se já estivessem esperando por ele. Tinha acontecido alguma coisa e ela sabia
que não ia querer saber do que se tratava.
CAPÍTULO TREZE

Bruce entrou na sala de Adônis sentindo o lábio inferior dilatar, onde Rita o tinha
mordido. Encontrou um grupo de homens o observando e ele fechou seu
semblante.

— O que aconteceu com a boca, Bruce? — Apolo perguntou curioso.

Bruce queria bater nele por ser tão inconveniente.

— Nada que seja necessário compartilhar — garantiu.

— Apolo, vamos ao que realmente interessa. — Adônis disse chamando a


atenção do irmão.

— Foi mal, mas minha curiosidade não me deixa ficar calado — disse e deu de
ombros.

— O que aconteceu a entrega do porto? — Bruce perguntou.

— Precisamos voltar com ela, havia uma blitz inesperada no caminho. — Pietro
informou.

— Acabei de falar com alguns contatos e eles informaram de uma denúncia


anônima. — Malone disse.

— Preciso de mais informações. — Adônis disse.

— Vou hackear as chamadas da polícia e rastrear a chamada da denúncia. —


Bruce informou.

— Você quer invadir o sistema da polícia? — Malone questionou. — Não é uma


boa ideia.

— Porque não? — Apolo perguntou curioso.

— É muito difícil cobrir os rastros — respondeu.

Adônis voltou a encarar seu homem de confiança.

— É difícil, mas não impossível. — Bruce garantiu.

— Eles vão nos alcançar. — Pietro informou.

— E não acharão nada. — Bruce disse firme. — Minha intenção é deixar que
eles nos encontre, acreditando que alguém daqui de dentro invadiu seus
sistemas — explicou. — Mas depois de vasculharem o prédio, ou alguns
computadores irão ver que não passa de um mal-entendido.
— Você é demais, Bruce. — Apolo brincou. — Tem certeza que dará certo?

— Sim — afirmou. – E será o meio mais fácil de conseguirmos rastrear a


chamada que denunciou nossa carga.

— Faça isto. – Adônis concordou. — Não é difícil se livrar de meia dúzia de


policiais.

— Mas tenho quase certeza de que Ettore está por trás disto. — Bruce opinou.

— Eu tenho certeza. — Apolo afirmou pensativo.

— Ele está tentando desviar nossa atenção com Rita. — Adônis disse e todos
concordaram.

— Vamos pegar todos os contatos dele. — Apolo ordenou.

— O encurralem, vamos ver até onde ele pode ir para tentar ganhar o meu
território. — Adônis se pronunciou.

Apolo encarou o irmão e sorriu maldoso gostando do jogo em quem estavam.

Todos os homens trabalharam juntos para encontrar o responsável pela


denúncia anônima durante todo o dia e quando o encontraram, Bruce ficou
encarregado de buscá-lo. Logo um dossiê foi montado, mostrando cada passo
da vida do alvo. Bruce leu cada linha pelo menos duas vezes para que não
perdesse nenhum detalhe.

Gostava de estar sempre bem informado, para quando começasse o trabalho


em busca de respostas.

Bruce organizou uma equipe e logo se espalharam pelas ruas italianas a procura
do homem responsável pela denúncia. Assim que o pegasse, Bruce seria o
responsável por conseguir respostas e depois o fazer sofrer. Foi considerado
como inimigo e merecia a morte por afrontar a máfia.

O celular de Bruce vibrou e ele atendeu no primeiro toque.

— Estou vendo o alvo. — O segurança na linha disse.

— O encurralem — ordenou antes de desligar.

Seguiu em direção onde seus homens estavam, estacionou o carro em um ponto


cego e saiu a pé pelas sombras da rua. Viu o exato momento em que o homem
paralisou no meio da calçada. Seis dos seus saíram das sombras e o cercaram.

— Eu ... uu não tenho dinheiro.

Ele disse e tremeu em medo.


— Por favor... Se afastem.

Os homens de preto não se afastaram, fizeram exatamente o contrário.


Aproximaram-se mais, fazendo uma roda em volta do alvo e só deram espaço
para que Bruce entrasse no meio.

— Não queremos o seu dinheiro. — Bruce disse baixo e calmo atrás do homem
que tremeu de medo ao ouvir sua voz.

Antes que ele pudesse gritar ou fazer qualquer outro tipo de besteira, Bruce o
acertou na nuca uma coronhada, fazendo-o cair no chão completamente
apagado.

— Levem-no para o galpão, chego lá em algumas horas. — Bruce disse e seus


homens acenaram.

Ele se virou e nas sombras voltou para o seu carro. Mal tinha entrado e ligado o
motor, quando seu celular tocou.

Era Adônis.

— Chefe.

— Relatório — ordenou.

— Alvo sendo levado para o galpão norte, como combinado.

— Bom — disse. — Onde você está indo?

Bruce tentou não hesitar com Adônis na linha, mas como sempre, o homem
estava sempre um passo à frente de todos e já sabia que ele não acompanhava
o novo prisioneiro.

— Indo marcar presença — disse firme. — Vou mostrar a ela que não vai ser tão
fácil assim me ignorar.

Sabia que Adônis iria compreender o que ele estava falando.

— Leve o tempo que precisar — disse.

— Não vou precisar de muito — disse presunçoso. — Essa noite ainda, terá as
resposta que precisa de nosso prisioneiro.

— Bom, estarei no cinema com as crianças e minha mulher — informou.

— Estarei de olho — afirmou.

Bruce não teve nenhuma resposta de Adônis a não ser à chamada encerrada,
era típico dele, desligar sem informar ou se despedir. Não se importava com
formalidades, esse era outro fato que o fez se dar tão bem com Adônis, os dois
tinham os mesmo hábitos.

Dirigiu rápido pelas ruas e mandou uma mensagem liberando Dânio por algumas
horas. Ele logo respondeu mandando sua localização e Bruce sorriu de leve em
saber que Rita estava em um salão de beleza.

Virou na próxima esquina e entrou na rua do salão onde ela estava. Logo
visualizou Josh e sentiu seu corpo rígido ao ver que Ettore estava parado na
frente do garoto. Estacionou o carro bruscamente e não deixou de notar que seu
inimigo ficou tenso.

Saiu depressa e bateu a porta do carro com força, mostrando sua insatisfação.

— Como vai, Bruce? — Ettore perguntou em tom de provocação.

— Vá ficar com sua mãe, Josh. — ordenou Bruce ignorando a pergunta de


Ettore.

— Hum... Sim... Eu só vim buscar o chinelo dela... Vou ficar com ela. — Ele disse
por fim ao perceber a intensidade do olhar de Bruce em cima de Ettore.

Josh se virou e andou rápido para dentro do estabelecimento para encontrar sua
mãe, como se pressentisse o perigo.

— Quanta hostilidade, Bruce.

O deboche no tom de voz de Ettore irritou Bruce.

— Vá embora antes que eu te mate. — Bruce falou baixo e calmo.

— Não tenho medo de você, afinal, não estou fazendo nada demais.

Bruce colocou uma mão nas costas mostrando que poderia pegar a arma e sorriu
para Ettore de forma maldosa.

— Deveria ter, afinal, eu ainda posso te dar um tiro.

O tom calmo de Bruce assustou seu inimigo e ele ficou satisfeito com a sua
reação.

— Se afaste, antes que eu resolva te levar mais cedo para o chefe — ordenou.

— Você e mais quantos? — provocou-o.

— Não vou precisar de ajuda, sou meu próprio exército se for preciso. — garantiu
Bruce.

Ao ver que Bruce não hesitaria, Ettore deu dois passos para trás.

— Ainda não acabamos essa conversa, sabe disto, não é mesmo?


— Estou esperando ansioso o dia em que meus punhos conversarão com você.
— Bruce respondeu calmo e baixo.

Ettore endureceu e deu mais alguns passos atrás antes de se sumir nas
sombras.

Bruce ficou ali ainda por um tempo e fez algumas chamadas antes de entrar para
procurar por Rita. Quando se sentiu seguro, tentou relaxar um pouco seu corpo
e caminhou para dentro do salão. Uma bela e sorridente mulher estava na
recepção o observando.

— Estou aguardando Rita Castiel. — disse a ela.

— Claro! Pode entrar e ficar com ela lá dentro enquanto termina as unhas.

Ele hesitou por um segundo antes de concordar e seguir a recepcionista para


dentro do estabelecimento. Logo avistou Rita sentada em uma poltrona
enquanto uma moça limpava os cantos das suas unhas de suas mãos. Josh
estava ao seu lado e Bruce não perdeu o quanto os dois pareciam tensos.

Assim que Rita o viu, ela parecia confusa com sua presença e depois relaxou
um pouco. Ele caminhou para dentro do lugar tentando não se constranger com
a quantidade de mulheres falando e se arrumando no local.

Relaxou os ombros e se sentou ao lado de Josh.

— Ele já foi embora? — Ela perguntou parecendo preocupada.

— Sim. — respondeu e observou as unhas dela pintadas de branco.

— O que ele queria?

— Nada que tenha que se preocupar — respondeu e Rita ficou tensa, mas
entendeu que ali não era local para conversarem sobre aquele assunto.

Eles ficaram em silêncio por um tempo até que a manicure finalizou o serviço.

— Prontinha, Rita.

— Obrigada, Esther, ficou ótimo — disse. — Josh pague a ela, por favor.

Ele concordou e pegou o dinheiro na bolsa da mãe, pagou a mulher e quando


se levantaram para sair.

— Você não pegou meu chinelo, filho.

— Dânio não estava lá fora.

— Algum problema? — Bruce perguntou confuso ao vê-la segurar com cuidado


os sapatos de salto que usou durante o dia.
— Tinha deixado meu chinelo no carro de Dânio, para que não estragasse as
unhas quando terminasse.

Ele desviou a atenção do rosto de Rita para seus pés descalços, onde também
tinha esmalte novo brilhando em suas unhas.

— Eu o liberei por algumas horas. — Bruce informou e voltou a olhar para Rita
que agora parecia irritada.

— Como assim você o liberou por algumas horas? — perguntou brava.

— Não sei se você já percebeu, mas sou eu quem manda nele abaixo de Adônis
e Apolo. — Bruce respondeu calmo e viu-a ficar ainda mais brava.

— Você não pode fazer isto...

— Eu posso fazer o que eu quiser — afirmou tranquilo.

— Por que vocês dois estão brigando? — Josh perguntou.

— Não estou brigando. — Bruce afirmou.

— Eu também não, mas ele me irrita...

Antes que pudesse concluir sua frase, foi surpreendida por Bruce que a levantou
em seus braços.

— O que...

— Vou te carregar até o carro, madame. — Ele disse em um tom divertido e


ouviu risadinhas vindas das mulheres ao redor.

— Me coloque no chão, Bruce, posso ir descalça até o carro.

Ele não lhe deu ouvidos, carregou-a para fora ignorando todos os seus protestos.
Josh riu com a situação e parou quando sua mãe o olhou brava.

— Não ria, Joshua, ou eu vou pensar em um castigo para você.

— Já parei, mama — disse segurando o sorriso.

Bruce a colocou de pé do lado do carro e destravou as portas.

— Como sua mãe está mal-humorada — disse a Josh que ficou tentado a
concordar, mas não ousaria desafiar a mãe.

Ela abriu a porta resmungando e bateu depois que entrou, fazendo Josh rir alto
e Bruce sorrir com a situação.

Entraram no carro e Bruce colocou o veículo em movimento.

— Josh?
— Diga, Bruce.

— O que Ettore disse a você? — perguntou Bruce.

Pode sentir Rita ficando tensa ao seu lado.

— Nada demais, perguntou se eu e minha mãe estávamos bem já que soube


que ela tinha se machucado no mês passado.

— Como ele soube? — Bruce perguntou em um tom indiferente.

— Não sei bem, disse que encontrou com minha mãe e ela contou que acabou
se machucando em uma viagem de trabalho. — Josh respondeu.

Bruce acenou com a cabeça concordando e Rita ficou ainda mais rígida em seu
acento. O celular dele começou a tocar e Bruce pediu para que Rita o encaixasse
no Bluetooth do carro.

— Estou no viva-voz, Pietro. — Bruce anunciou assim que atendeu a chamada.

— Estamos a caminho do cinema, consegui reservar uma sala somente para


eles.

— Bom.

— Apolo também está indo, com a esposa e filho.

— Conecte-me as imagens de vídeo — ordenou. — Deixe uma equipe de


emergência pronta e espalhe duas pelo local.

— Algo mais?

— Tenha certeza de que vai ficar tudo bem. — instruiu. — Estarei ocupado por
um tempo, mas nada me impede de ir aí se for preciso.

— O manterei informado — garantiu Pietro.

— Bom.

Bruce resmungou antes de desligar.

— Seu trabalho parece ser legal. — Josh disse conseguindo a atenção de Bruce.

— Ele é.

— Já precisou atirar em alguém? — questionou curioso. — Ou ter um momento


como aqueles de filmes?

A animação em sua voz fez Bruce sorrir.

— Algumas vezes. — respondeu.


— Uau! Deve ser emocionante estar em uma perseguição. — Josh disse
entusiasmado.

— A adrenalina é excitante, mas é melhor que situações como essa se


mantenham somente em filmes Josh.

Bruce disse para que Rita relaxasse um pouco, ela estava visivelmente tensa
por causa do assunto e ele não podia recriminá-la por isto. Desde que entraram
no carro não estavam tendo um bom momento.

Permaneceram em silêncio por todo o caminho.

Assim que estacionou o carro, Bruce pediu para falar com Rita por um momento
e o garoto concordou saindo do carro para dar a eles a privacidade que
precisavam.

— Eu não falei com ele. — Rita disse nervosa assim que Josh fechou a porta.

— Eu sei — afirmou tranquilo

— Eu realmente não falei com ele... Você sabe?

— Sei cada passo que dá Rita, você não falou com ele — confirmou.

— Então, porque ele disse isto a Josh?

— Ainda não sei, mas tenho a sensação de que vou descobrir muito em breve.

— Bruce, eu não estou entendendo.

— Ele está te usando para desviar nossa atenção de outros assuntos. — Bruce
esclareceu.

— Ele vai tentar me matar de novo, não vai?

Bruce a olhou e demorou a responder.

— Não entendo porque ele demorou tanto para aparecer depois do acidente. —
Rita disse.

— Ele estava sendo cuidadoso, deve acreditar que não estamos prestando muita
atenção. — Bruce respondeu.

— Ele vai tentar de novo — murmurou preocupada.

— Provavelmente — assegurou.

Rita tremeu levemente, mas Bruce percebeu.

— Estou por perto, Rita, não vou permitir que ele te machuque.

— Você já permitiu uma vez — acusou.


— Só queria saber o que ele estava planejando e a confiança em você estava
abalada.

— Confiança abalada? Per l’amor di Dio! Você me deixou voltar para aquele
carro e eu não morri por muito pouco.

— Você não morreu porque eu te tirei de lá a tempo — lembrou.

— E o que você quer de mim? Que eu te agradeça? Se estavam em dúvida


sobre meus atos deveriam ter me perguntado a respeito e não me prender por
quatro dias em uma cela, enquanto me torturava por respostas que eu não tinha.

— Calma.

— Não me peça para ficar calma!

— Rita...

— Eu não quero falar sobre isto.

— Vamos falar sobre isto.

Ela abriu a porta do carro e ele foi rápido em segurar seu braço para impedi-la
de sair.

— Solte-me.

— Não vamos falar sobre isto agora, mas vamos conversar em algum momento.
Você não tem para onde correr Rita — disse baixo. — Onde quer que tente ir,
para longe de mim, eu vou atrás de você. Não há alternativas.

Bruce disse baixo e calmo, mas foi tão ameaçador quanto poderia. Soltou Rita e
deixou que saísse do carro. Observou ela entrando em casa e ele ficou ali fora
de guarda por um tempo, até que Dânio voltou.

Seguiu direto para o galpão para tirar as respostas que precisava de seu
prisioneiro. Adônis teria suas perguntas respondidas ao amanhecer, disto Bruce
tinha certeza.
CAPÍTULO QUATORZE

Rita suspirou ao ver o carro de Bruce se afastar, ele não a deixaria em paz. Essa
era sua única certeza sobre o comportamento dele. Quando se tratava de Bruce,
ela nunca sabia o que fazer. Deveria ficar o mais longe possível dele, depois de
tudo que sofreu em suas mãos.

Mas como? Se seu coração mole e traidor desejava outra coisa.

Ela ainda podia sentir os lábios exigentes dele sobre os seus. Mesmo com toda
a brutalidade e violência que ele ostentava, Bruce tinha um jeito surpreendente
de beijá-la. Rita se repreendeu por desejar mais dele. Em sua opinião, mesmo
com todos seus atrativos, Bruce não merecia nada dela.

Colocá-la debaixo da água fria por horas e lhe dar choques não era coisa de
perdoar.

— Não vou me render — murmurou para si mesma ainda naquela noite.

Queria ter uma boa noite de sono, mas não conseguiu. Cada vez que fechava
os olhos lembrava-se das palavras de Bruce no elevador.

“Eu não a quero morta, me joguei naquele rio e a tirei do carro para te salvar,
porque o mundo não seria o mesmo para mim se tivesse que te enterrar.”

Sua mente fez questão de deixá-la ainda mais confusa do que antes, memórias
diferentes passavam por sua mente e a primeira delas foi quando ele caminhou
em sua direção, furioso, estavam na sala de Adônis e parecia que ele queria
matá-la com as próprias mãos. Era uma cena que nunca poderia se esquecer, a
raiva no rosto dele a fez tremer dos pés à cabeça naquele dia. Hoje ela sabia
que não podia culpá-lo por sua fúria, afinal quase tinha morrido, assim como
Giulia, naquele dia em que ela demorou a passar o telefone para o chefe.

Nunca sequer passou por sua cabeça que eles estavam em uma perseguição.
Ela se arrepiou pensando que a morte deles poderia ser sua culpa.

Outra lembrança veio em sua mente, quando Bruce a beijou pela primeira vez.
Ela ficou em choque pelo resto do dia sem poder esquecer-se de como sua boca
exigia a dela. Entretanto, não podia esconder o fato de que ele se afastou ainda
mais dela depois daquele dia. Não permitia nenhum tipo de aproximação e aquilo
a magoou. Talvez agora entenda um pouco seus motivos, já que atrás de toda
aquela fachada de empresa existe uma grande organização criminosa, que atrai
muitos perigos, onde ela nunca imaginou que existisse.

Porém, ainda assim ele não merecia seu perdão.


— Ele não merece nada — murmurou em sua cama e se virou para o outro lado
tentando dormir.

Quando enfim amanheceu, Rita se sentiu quase que aliviada, tirando o fato de
que não conseguiu descansar durante a noite. Arrumou-se e como sempre,
estava atrasada.

Pegou seu casaco e o lanche de Josh, correu pela casa em busca de sua bolsa
e gritou pelo filho.

— Joshua, desça agora ou vai lavar a louça por um mês inteiro — ameaçou.

— Um mês é muito tempo, estou quase pronto. — Ele gritou de volta.

— Acho que de dois meses será melhor...

Antes que terminasse sua fala, ele já tinha aparecido na escada.

— Nem pensar — resmungou descendo.

Sorriu para seu filho de um jeito amoroso.

— Estamos atrasados. — Rita afirmou o óbvio.

— Eu sei, de novo.

— Vamos, antes que Dânio perca a paciência em nos esperar.

Ele acenou concordando e guardou seu lanche na mochila. Saíram pela porta e
Rita a trancou.

— Dânio, desculpa a demora...

Ela disse e virou-se para olhar o carro, mas se calou quando não viu Dânio, e
sim Bruce. Ele estava encostado no carro com os braços cruzados no peito
fazendo com que todo o tecido de seu caro terno preto se esticasse em seus
músculos.

Josh pareceu não se importar e caminhou na direção dele.

— E aí, Bruce!

Seu filho levantou a mão e eles bateram suas palmas, uma na outra, como se
conhecessem por anos. Rita estava chocada com a facilidade de que seu filho
tinha para fazer amizades, nunca imaginou que Bruce aceitaria um cumprimento
tão adolescente como aquele.

— Bom dia, garoto.

— Vamos logo antes que o chefe da mamãe arranque seus órgãos por estar
atrasada — brincou e entrou no carro quando Bruce abriu a porta.
— Algo que ele realmente faria. — Bruce afirmou em tom de brincadeira mesmo
sabendo que era uma verdade quase que crua.

Josh sorriu e Bruce fechou a porta voltando sua atenção para Rita.

— Pronta? — perguntou e abriu a porta para ela.

— Onde Dânio está?

— Ocupado.

— Você o liberou novamente — afirmou sentindo sua irritação inflar.

— Mandei que ele fizesse algo para mim. — Bruce afirmou e sorriu de leve
ajudando aumentar a irritação de Rita.

— Você está tentando fazer com que eu aceite sua presença — afirmou baixo.

— Não preciso fazer isto, eu sempre pego o que quero.

Rita queria bater em Bruce por sua presunção, bater talvez até a morte. Sua
resposta só fez com que ela se sentisse frustrada e com raiva de sua insistência.

— Ei, vocês aí, vamos logo ou eu vou para a sala do diretor. — Josh gritou de
dentro do carro.

Bruce deu um passo ao lado e ela passou quase que soltando fogo, entrou no
carro e fechou a porta deixando-o do lado de fora. Ele não se importou, deu a
volta no carro e entrou.

No caminho para a escola, Josh contou para Bruce sobre o seu primeiro jogo.
Sem conter sua animação ele o convidou para ir assistir, fazendo com que sua
mãe fizesse uma careta desaprovando, mas não disse nada.

Quando enfim chegaram ao prédio da construtora, ele estacionou o carro e em


silêncio caminharam para o elevador. As portas se abriram, revelaram Adônis e
Pietro dentro dele.

Rita queria suspirar por sempre haver esses encontros no elevador.

— Bom dia. — Ela disse e entrou acompanhada de Bruce.

— Bom dia, Rita. — Adônis falou e Pietro somente acenou com a cabeça.

Bruce ficou ao seu lado e as portas se fecharam. O silêncio dentro daquele


pequeno local era desconfortável para ela, no entanto, fez um grande esforço
em não demonstrar.

— Bruce, ainda não recebi seu relatório. — Adônis disse baixo ao seu segurança.
— O enviei há alguns minutos. — Bruce disse ao seu lado sem olhar para o rosto
do chefe.

Rita tentou não ficar curiosa, o que era praticamente impossível.

— Imagino que trabalhou a noite toda. — Adônis disse.

— Sim.

— Bom — resmungou.

Rita obrigou seu corpo a ficar relaxado, de alguma forma estranha ela tinha a
sensação de que Adônis estava a testando com aquela conversa enigmática. Ela
fingiu não se importar, mesmo que ficou curiosa para saber o que Bruce fez a
noite. Demorou um segundo para voltar atrás em sua curiosidade, não queria
mais saber o que ele tinha feito. Na verdade, sentiu até um pouco de medo de
que tivesse uma resposta, se manteve quieta e forçou-se a parecer indiferente
aquela conversa.

Saíram do elevador juntos, ela foi para sua mesa e os três homens entraram na
sala do chefe.

...

O dia passou mais devagar do que Rita desejava.

Enquanto digitava um relatório, percebeu o olhar de Pietro em cima dela.

— Pare de olhar para mim.

Murmurou sem desviar seus olhos da tela de seu notebook.

— Você o tem de quatro. — Pietro disse de seu posto.

— Quem? — olhou-o confusa.

— Não seja tão má com ele — disse e sorriu largamente para ela.

Rita estreitou os olhos e entendeu de quem ele estava falando.

— Não sei quem colocou essas minhocas em sua cabeça.

— Eu vejo. — Pietro garantiu.

— Você devia ficar calado e me deixar trabalhar.

— Seu mau humor não vai conseguir me fazer calar.

— Pietro pare.

Ela pediu voltando sua atenção para o relatório que estava preparando.
— Ele gosta de você — afirmou.

Rita bufou com seu comentário.

Desde quando tortura-se alguém que se gosta?

— Sei o que está pensando e não deveria ir por esse lado.

— Cale a boca, Pietro. — Rita disse calmamente e ele sorriu de novo.

— Bruce pegou leve com você.

— Não sei o que significa leve para você, devemos ter definições diferentes
sobre essa palavra — disse e o olhou.

Viu Pietro ficar tenso por um instante e um sorriso malvado sair de seus lábios.

— Banho frio e pequenos choques são leves para mim. — Pietro afirmou.

Rita ficou rígida ao ver que ele também sabia o que tinha passado.

— Não quero falar sobre isto — murmurou.

— Não se preocupe, somente alguns de nós sabemos o que aconteceu.

Ela ficou em silêncio e tentou ignorá-lo, mas Pietro não estava disposto a se
calar tão rápido.

— Se Bruce não tivesse ido, provavelmente, você estaria no hospital se


recuperando.

Aquilo chamou sua atenção, ela o olhou novamente e desta vez com curiosidade.

— Outro homem teria feito muito pior — garantiu. — Dedos quebrados, unhas
arrancadas, queimaduras com cigarros ou charuto, afogamentos, entre outras
coisas.

Os olhos de Rita se arregalaram e Pietro sorriu.

— Não seja tão dura com ele — disse e pensou. — Talvez só um pouco já que
ele tem um mau humor do cão, mas Bruce aceitou o trabalho só para que você
não sofresse tanto, mesmo que o odiasse pelo resto da vida.

Ela desviou o olhar sem saber o que dizer e para seu alívio, desta vez Pietro
acabou se calando. Concentração foi uma coisa difícil depois das coisas que
ouviu. Não conseguia aceitar a facilidade em que Pietro relatou algumas das
coisas que ela poderia ter sofrido em cativeiro, caso fosse outro homem no lugar
de Bruce.

Suas mãos tremiam enquanto tentava digitar, precisou respirar com calma
diversas vezes em busca da frieza que precisava.
Em um momento ela viu Pietro tenso e ele mudou de posição, saiu da pequena
sala e fez guarda na porta de Adônis. Murmurou algo em seu ponto eletrônico e
ela não conseguiu entender.

A porta do elevador se abriu e de dentro saiu um homem, de jeans e jaqueta,


acompanhado de um policial. Rita franziu a testa sem entender, mas a tensão
de Pietro a deixou em alerta.

— Boa tarde, senhorita.

— Boa tarde, tem horário marcado? — Ela perguntou firme, mesmo sabendo
que não tinha.

O homem sorriu para ela e mostrou seu distintivo.

— Sou o detetive Gonçalo e não preciso de um horário.

Rita não gostou da arrogância em seu tom de voz e se levantou.

— Se não tem horário marcado, então, o que faz aqui, senhor Gonçalo? — Ela
perguntou firme.

— Vim falar com o seu chefe, Adônis Albertini.

— Ele não vai poder te atender.

O detetive pareceu que não ouviu o que ela disse, voltou sua atenção para Pietro
e disse:

— Ele está nesta sala? Se sim, saia da frente ou eu vou tirá-lo daí.

Rita se sentiu extremamente brava, deu dois passos e ficou na frente de Pietro
encarando o detetive.

— Eu realmente não sei e nem quero saber o motivo de sua visita, detetive, mas
creio que pelo menos um pouco de educação o senhor deve ter.

— Olhe aqui, moça, não estou aqui para falar com você.

— Mas vai falar, desde que não está sendo educado em um local que não o
pertence.

O tom firme de Rita fez o homem ficar vermelho.

— Fale direito comigo ou vou prendê-la por desacato.

— Não a ameace.

A voz rosnada atrás de Rita a vez se arrepiar.


Bruce tinha aberto a porta e se projetava em suas costas como um cão de
guardas raivoso.

— Já disse que vim até aqui para falar com o senhor Adônis Albertini.

O homem não pareceu intimidado com Bruce, mas o policial que o acompanhava
estava pronto para sair correndo. Pietro deu um passo ao lado e uma grande
figura passou por Rita.

— Detetive Gonçalo, sou Adônis Albertini.

O homem ameaçou a falar, mas Adônis não permitiu.

— Se não me engano, eu permiti sua entrada mesmo sem hora marcada ou um


mandado judicial, e como minha secretária mesmo disse, o senhor não está
sendo educado.

— Não me importo com educação, não vou deixar que atrapalhe minha
investigação.

— Se não falar baixo e com educação comigo, sou eu que não vou me importar
com os bons modos. — Adônis disse assustadoramente calmo.

— Isto é uma ameaça?

— Não sou um homem de ameaças, diga logo o que veio fazer aqui antes que
eu perca minha paciência.

Rita estava quase sem fôlego ao ver o homem cruel que ele era quando preciso.
Em todos os anos trabalhando ali, nunca o viu olhar uma pessoa daquela forma.
Sem contar que seu tom de voz fez arrepios horríveis passar por sua espinha.

Alguém tocou seu ombro de leve e ela viu Bruce a olhando, entendeu que ele
queria que ela se afastasse e foi o que fez. Caminhou de volta para sua mesa e
em choque assistiu à cena na sua frente.

— Minhas fontes me trouxeram até aqui, senhor Albertini.

— Fontes?

— Sim, o sistema de denúncias da polícia foi hackeado.

— E o senhor acha que eu fui o responsável por isto. — Adônis afirmou calmo.

— Tudo indica que sim.

— E? — questionou.

O homem pareceu confuso por um minuto e depois ficou bravo.

— O senhor acha que eu estou brincando?


— Detetive, não sei o que o senhor acha que sabe, mas para mim não passa de
perda de tempo. — Adônis sorriu friamente. — Por que eu gastaria meu tempo
corrido para invadir o departamento da polícia?

O detetive ficou vermelho e deu um passo ameaçador à frente. Para o choque


de Rita aumentar, viu Bruce introduzir-se na frente de Adônis com os punhos
cerrados pronto para iniciar uma briga.

— Se der mais um passo à frente, aceitarei como uma ameaça. — Bruce disse
baixo.

— Saia da minha frente. — O detetive disse.

Bruce o observou de perto, seus olhos desceram para as mãos dele que tremiam
levemente. Voltou a olhar o rosto do detetive Gonçalo sem perder nenhum
detalhe.

— Sabe como isto se chama? — Bruce questionou.

— O quê? — Gonçalo agora parecia confuso.

Bruce acenou para suas mãos trêmulas e voltou a falar.

— Isto é adrenalina, detetive, ou eu arriscaria soldado? Fuzileiro? — perguntou.


— O senhor está evidentemente estressado e eu não vou dar nenhum passo
para longe do homem que sou pago para proteger, desde que estou vendo que
sofre TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático).

— O que... como...

— Sou Bruce Wright, ex-franco atirador do exército britânico — informou. — Sei


reconhecer um homem com problemas de guerra a quilômetros e o senhor é um
deles. Por favor, dê alguns passos para trás ou qualquer movimento seu
reconhecerei como ameaça.

— Eu não sou um homem desequilibrado — bradou.

Bruce ficou tenso.

— Não foi o que disse, mas já dei o seu aviso — ameaçou.

Rita estava completamente surpresa com as coisas em que estava ouvindo.


Nunca imaginou que Bruce seria britânico e muito menos ex-soldado. Franziu a
testa quando o detetive deu dois passos atrás devolvendo a segurança que
Bruce precisava para sair da frente de Adônis.

Sabia que Bruce era o chefe da segurança e que proteger Adônis era sua
prioridade, mas nunca tinha visto algo assim acontecer. Um olhar para Bruce e
ela viu que ele estava pronto para dar sua vida pela a do chefe, assim como
Pietro.

Desviou o olhar para Adônis e percebeu que ele estava completamente relaxado,
apesar de todo o conflito. Era como se não se importasse com o rumo daquela
história. Não se sentia ameaçado.

— Soldado? — perguntou em um tom tranquilo.

— Fuzileiro. — O detetive respondeu.

Adônis acenou concordando e não rendeu aquele assunto.

— Toda essa conversa já me cansou, detetive. Diga logo o que quer, pois eu
realmente tenho mais o que fazer. — Adônis foi claro em mostrar que não daria
a ele mais tempo do que estava disposto.

— Gostaria de ter acesso ao seu computador — disse sem se intimidar.

— Você é mais abusado do que imaginei, Detetive.

Adônis sorriu de forma malvada e encostou-se à mesa de Rita.

— Cheguei tarde para a festinha?

A voz de Apolo se fez presente na sala e ele sorriu ao se aproximar do irmão.

— Na verdade, não fui convidado. — Ele se corrigiu ao impor sua presença.

Adônis o olhou por um segundo e seu olhar dizia mais do que as pessoas ao
redor saberiam. Quando encarou o detetive novamente, Adônis, tinha uma
expressão sombria no rosto.

— Vem até minha empresa sem ser convidado — disse a Gonçalo. — Ameaça
minha secretária, acusa-me de coisas que não tem provas, teve a ousadia de
me enfrentar em meu próprio lugar e agora quer vascular meu computador sem
um mandado judicial.

— Uau. — Apolo disse fazendo certo drama e sorriu quando Adônis o olhou feio.
— Quê? Parece que estava mais divertido antes da minha chegada.

— Vou conseguir um mandato. — O detetive disse e se virou para sair.

— Detetive? — Adônis o chamou de volta.

O homem parou e olhou para Adônis sem esconder seu desgosto.

— Sinta-se à vontade para dar uma olhadinha no meu notebook, afinal, não
queremos que você perca sua visita ou precise voltar depois.

O detetive pareceu surpreso.


— Pietro, traga o meu notebook para o detetive Gonçalo. — Adônis ordenou e
Pietro entrou em sua sala.

Voltou um minuto depois com o aparelho em mãos e entregou ao detetive.

Todos ficaram em silêncio enquanto o homem mexia e vasculhava cada pasta,


arquivo e memória do notebook.

Os homens ao redor de Rita pareciam calmos e tranquilos, mas ela não


conseguia encontrar essa tranquilidade que eles ostentavam sem o menor
esforço. Sentou-se e pacientemente esperou o detetive terminar sua busca por
provas.

— Então? Algo interessante? — Adônis perguntou quando seu aparelho foi


fechado.

— Não... Sinto muito pelo inconveniente. — disse e pareceu contrariado por não
achar respostas que queria.

Se quisesse uma busca mais completa precisaria de um mandato, no entanto,


isto não o ajudaria muito. Já que não existia mais nenhuma prova que
incriminasse os irmãos Albertini.

— Aceite isto como cortesia, pois da próxima vez não vai conseguir entrar aqui
sem uma ordem judicial. — Adônis agora tinha um tom de voz duro e quase que
impaciente.

O detetive ficou vermelho de raiva e talvez até de vergonha, mas se levantou,


despediu com um aceno de cabeça e entrou no elevador na companhia de
Pietro.

Adônis se desencostou da mesa e olhou para Bruce.

— Relatório no final do dia, siga cada passo dele e descubra tudo sobre essa
merda de investigação — disse mostrando a Rita que não estava surpreso. —
Quero saber até com quantas pessoas ele falou no dia, faça esse idiota ser útil
para mim — ordenou e entrou em sua sala sem olhar para trás.

Apolo o seguiu, deixando Bruce sozinho com Rita.

— Você está bem? — Ele perguntou a ela.

— Sim.

Bruce a encarou procurando saber se ela tinha sido verdadeira em sua


afirmação.

— Preciso ir — murmurou fazendo-a olhar em seu rosto.


Bruce nunca dava satisfação do que tinha que fazer, sempre se afastava sem ao
menos que ela percebesse. Não conseguiu esconder a surpresa que sentiu.

Acenou para ele e voltou a encará-lo com uma máscara fria.

— Foi o que pensei — disse ela.

O olhar dele se manteve intenso sobre ela.

Fúria fluía em suas veias pela frieza de Rita. Gostaria de ter mais tempo com
ela, talvez conseguisse logo reverter toda situação.

Entretanto, agora outra coisa tinha se tornado sua prioridade. Precisa descobrir
tudo sobre a vida do detetive, ameaçar Rita foi o maior erro do homem.

O fez prometer que seria o único a trazer a morte para o detetive.

Virou as costas e saiu em busca dos primeiros passos para se vingar.


CAPÍTULO QUINZE

— Pronta para ir?

A voz de Bruce chegou aos ouvidos de Rita, ela estava concentrada no e-mail
que escrevia e não percebeu sua presença. Algo que não a surpreendia, os
seguranças do prédio sempre andavam sem fazer um único barulho. Bruce
superava todos, parece um animal sorrateiro quando caminhava.

Franziu a testa para ele.

— Irei levá-la para casa — explicou e ela revirou os olhos.

— Continua impondo sua presença. — Rita murmurou.

Ele deu de ombros não se importando e sorriu de leve. O bom da convivência


com Apolo era que Bruce aprendeu a impor sua presença sem se importar com
a opinião alheia e ele usaria todas suas armas para que ela o aceitasse.

Rita finalizou o que estava fazendo, arrumou sua mesa, se levantou e pegou sua
bolsa. Ao lado de Bruce caminhou para o elevador. Rita respirou fundo e
devagar, tentando ignorar a tensão. As portas se fecharam prendendo-os no
pequeno espaço. Sem conter sua curiosidade, ela resolveu ceder um pouquinho
e conversar com Bruce.

— Exército britânico? — perguntou.

Bruce a olhou sem demostrar nenhum tipo de oscilação em surpresa por sua
pergunta. Acenou com a cabeça confirmando e quebrou o olhar.

— Como entrou para a máfia, Bruce?

— Nasci nela — respondeu o óbvio.

Ela revirou os olhos para ele por ser evasivo sobre sua história.

— Conte-me — pediu e se encostou à parede.

Bruce pensou por alguns segundos, não gostava de falar de sua vida. No
entanto, se isto despertasse o interesse de Rita, estava disposto a contar sua
história.

— Meu pai era italiano e minha mãe inglesa — disse.

— Continue.

— Eles tiveram um romance de uma noite e minha mãe ficou grávida — explicou
em um tom baixo. — Ela voltou para Inglaterra e para o noivo que tinha em
Londres. E meu pai continuou sua vida de criminoso, na Itália.
— Sua mãe se casou com o noivo inglês? — questionou curiosa.

— Sim, e ele não ficou muito feliz em descobrir a traição dela — resmungou. —
Mas ele não queria que o chamassem de corno por aí, se casou com ela e
assumiu o filho que não era dele.

— Ele foi um bom padrasto?

Bruce segurou um suspiro.

— Não, me tratava mal por ser um bastardo — disse. — Culpava-me por minha
mãe nunca mais ter engravidado. Porém, preferia viver assim a ter uma má
reputação, por causa de infidelidade de sua mulher.

Rita acenou pensativa.

— Como seu pai biológico te encontrou?

— Ele me disse que uma vez estava em Londres a trabalho e a viu comigo. Ficou
possesso por não ter sido informado de minha existência e investigou mais a
fundo — contou sério. — Nesta época, eu já tinha quase que dezoito anos,
estava pronto para minha primeira missão no exército.

Saíram do elevador e caminharam para o carro. Entraram e Bruce colocou o


veículo em movimento.

— Como conseguiu se alistar já que não era filho legítimo de britânicos? — Ela
perguntou curiosa.

— Meu padrasto era um senador na época e usou seus contatos para me


empurrar para os campos de guerra — murmurou mal-humorado. — Meu pai
biológico me encontrou e disse que era seu filho — deu de ombros. — Claro que
eu sabia que não era filho do senador, ele nunca escondeu o seu desprezo por
mim, mas acho que foi muito pior descobrir que meu pai era um mafioso.

— Ainda assim você veio para a Itália. — Rita afirmou.

— Não foi tão fácil assim — disse. — Meu pai permitiu que eu fosse para o
exército britânico, com o argumento que ficaria mais resistente e duro vendo a
guerra de perto. — Sua voz ficou amarga. — Lembro como se fosse ontem
quando ele me disse para ir, mas que não deveria me encher de honestidade, já
que assim que terminasse minha missão ele estaria esperando por mim na Itália
— balançou a cabeça em desaprovação. — Depois de dois anos no inferno que
eles chamam de guerra, enfim, estava voltando para casa. Não queria voltar para
minha casa, quero dizer, para casa da minha mãe — corrigiu. — Ela morreu
quando eu estava fora, então, não tinha razão para voltar a Londres.

— E o seu padrasto? — questionou.


— O que tem ele?

— Ainda está vivo?

— Não — afirmou frio.

— Morreu?

— Sim, eu o matei.

— Eu deveria perguntar o porquê? — Rita interrogou não se surpreendendo com


aquela informação.

— Ele aproveitou que eu estava preso no exército para se livrar de minha mãe
— rosnou baixo. — Descobri isto anos depois, o imbecil queria a herança que
ela tinha recebido naquela época — explicou. — Quando descobri já estava há
alguns anos na máfia, fui até ele e acertei nossas contas.

Rita segurou para não estremecer com a frieza na voz de Bruce.

— O que fez quando terminou sua missão? — perguntou mudando o assunto, já


que Bruce estava tenso demais com aquela conversa sobre seu padrasto.

— Meu pai me enviou uma boa quantia de dinheiro junto com uma passagem
aérea para que eu viesse imediatamente para a Itália, mas fui para outro lugar
— contou. — Fugi dele por quase seis meses em minha ingenuidade.

Bruce se calou quando parou no semáforo.

— E ele te encontrou?

— Sim.

— O que aconteceu depois?

— Ele me bateu.

— Te bateu? — Rita perguntou em choque.

— Sim, me espancou por dias para que aprendesse a não fazê-lo de bobo —
deu uma baixa risada amarga. — Quando se nega a máfia, a pena é a morte. E
meu pai jamais aceitaria uma desonra desta. Ele me caçou a cada canto
possível, até que me encontrou. — Ele segurou um suspiro. — Quando me
recuperei de sua surra, fui apresentado a Omero Albertini, o chefe daquela
época. Ele sabia que eu tinha fugido, mesmo que meu pai não tenha dito nada,
algo que aprendi rápido sobre os chefes — disse. — Era para Omero ter me
matado naquele dia, mas um Albertini nunca descarta o que pode ser útil.

Rita franziu a testa confusa.


— Como assim útil?

Bruce a encarou e sorriu de leve.

— Eu me dei bem no exército — informou. — Fiz parte de uma equipe de elite e


tinha boa pontaria, além de ser “filho” de um senador. Deram-me uma
oportunidade como franco, apesar de ser só um garoto. Fui muito bem no teste,
apesar de algumas circunstâncias, e me promoveram a franco-atirador — deu
de ombros. — Omero não tinha um atirador tão bom quanto eu. Então ali estava
minha chance, cobria suas costas onde quer que estivesse e mantinha minha
cabeça sobre os ombros.

— Entendi — murmurou. — Como chegou a ser o principal homem de Adônis?

— Mérito — afirmou. — Conquistei meu lugar, mas devo isto ao meu pai. Ele
nunca me deixou relaxar, me treinou duramente. Assim como Adônis e Apolo,
eu e Malone enfrentamos um inferno sendo treinados quase que no mesmo nível
dos herdeiros — explicou. — Um dia houve uma invasão onde morreu o chefe
da máfia e meu pai, que era seu principal segurança. Adônis tomou posse e me
colocou ao seu lado.

— Você gosta desta vida que leva? — perguntou curiosa.

— Eu nasci para ela, Rita. No começo não aceitei muito bem, mas me adaptei
rápido — deu de ombros. — Ou me acostumava, ou morria sendo considerado
um traidor e fraco.

Bruce estacionou o carro na porta da escola. Josh apareceu um minuto depois,


correndo e ainda usando suas roupas de treino. Abriu a porta, jogou sua mochila
dentro e entrou ofegante.

— Oi, gente.

— Que cansaço é esse filho? — Rita questionou virando em seu banco para
olhá-lo. — Por que não tomou banho no vestiário?

— Não deu tempo mãe, to exausto.

Bruce sorriu de leve e voltou a dirigir.

— Você está fedorento! — Rita exclamou.

— Isto é cheiro de homem, mãe. — Josh brincou sabendo que estava com mau
cheiro, por causa do suor.

Rita não segurou a gargalhada. Riu tanto que pequenas lágrimas escorreram
dos cantos de seus olhos.
Bruce não pode rir, ele estava encantado demais pelo som que ouvia sair dos
lábios dela.

— Chegando em casa eu vou te afogar na banheira, Deus me livre desse cheiro


de homem impregnando minha casa.

— Não vou tomar banho esses dias. — Josh provocou a mãe.

— Então, vai dormir na casinha do cachorro.

— Não temos uma. — Ele sorriu com a afirmação.

Rita riu alto.

— O que você não sabe é que vou comprar uma agora, não é mesmo, Bruce?
— questionou.

— Já estamos no caminho. — Ele afirmou e sorriu gostando de ser posto na


conversa de mãe e filho.

Rita e Josh riram juntos trazendo uma sensação de paz para Bruce. Ele jamais
saberia explicar porque se sentiu assim, mas daria até sua última moeda para
que se sentir assim novamente.

— O treinador pegou pesado hoje, queria ter tomado banho. — Josh resmungou
depois de um tempo.

— Eu não iria reclamar. — Rita brincou e relaxou no banco.

Eles foram para casa ouvindo Josh contar sobre seu treino de futebol. Quando
Bruce estacionou na frente da casa de Rita, o garoto foi o primeiro a descer
depois de se despedir. Rita agarrou sua bolsa e segurou a porta mostrando que
também não iria demorar.

— Obrigada. — Ela murmurou.

Bruce franziu a testa levemente confuso.

— Pelo que exatamente está me agradecendo? — questionou.

— Por ter pegado leve comigo no cativeiro — respondeu.

Seus olhos brilharam em lágrimas contidas.

— Não...

Rita o interrompeu.

— Pietro me irritou um pouco hoje, sobre esse assunto — suspirou. — Ele me


disse por alto o que outro homem poderia ter feito a mim.
— Jamais permitiria. — Bruce afirmou convicto.

Ela acreditou nele.

Se encaram em silêncio por alguns segundos que mais pareceram uma


eternidade.

— Bruce? — chamou-o em um sussurro.

Bruce se conteve para não segurá-la quando uma pitada de fragilidade brilhou
em seus olhos castanhos.

— Sim?

— Você me mataria caso Adônis mandasse?

— Não — afirmou sério e rápido.

Rita não desviou seus olhos dos dele, não perdendo a sinceridade que brilhavam
neles.

— Porque não? — perguntou em um sussurro.

— Já te disse, não saberia viver em um mundo em que eu tivesse que te enterrar


— murmurou. — Nunca poderia viver sabendo que a matei.

— Mas você deve sua lealdade à máfia.

Bruce se virou mais em seu banco, ficando totalmente de frente para Rita.

— Entenda uma coisa, Rita, quando se trai a máfia, se paga com a morte —
disse firme. — Não tenho uma família para proteger, então, não me importaria
em morrer para que você ficasse viva.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Rita e Bruce se apressou para limpá-la.

— Não chore, Rita, por favor.

— Você nunca falou tanto. — Ela brincou tentando aliviar o clima.

Ela respirou fundo segurando a enxurrada de lágrimas que queriam sair.

— Faço qualquer coisa por você. — Ele murmurou.

— Bruce...

O celular dele vibrou e Rita acenou que deveria atender. Bruce pegou o aparelho,
leu a mensagem que recebeu e depois esfregou o próprio rosto com as duas
mãos agora parecendo visivelmente cansado.

— Eu preciso ir. — Ele disse.


— Tudo bem, você parece cansado.

— Estou bem...

Rita ergueu uma sobrancelha e Bruce sorriu de leve concordando.

— Talvez um pouco cansado.

Ela abriu a porta do carro e tentou sair, mas ele segurou seu braço. Rita voltou
seu olhar para Bruce um pouco confusa com a sua atitude. Não se surpreendeu
quando ele se inclinou sobre ela e beijou seus lábios de leve.

Um arrepio se passou por sua espinha.

A sensação dos seus lábios eram sempre as melhores. A encantava com sua
suavidade.

O beijo foi delicado e rápido. Rita não lutou contra ele, não podia. Seu coração
não permitia. E quando ele se afastou seus olhos cinzentos brilharam em
intensidade.

— Você é minha, Rita. — Ele disse baixo.

— Eu não sou sua, Bruce. — Ela respondeu.

Bruce ficou levemente tenso.

— Vou te mostrar que está muito errada sobre isto, em breve — prometeu. —
Muito em breve.

— Você não deveria ser tão presunçoso. — Rita disse e desceu do carro.

— Só afirmei o que nós dois já sabemos. — Bruce afirmou com arrogância.

Ela o encarou com impaciência antes de fechar a porta do carro.

Rita caminhou para dentro da sua casa sentindo-se um pouco mais leve em seus
sentimentos confusos, apesar de seu corpo estar cansado. Seu dia tinha sido
tumultuado. Estava exausta, tanto emocionalmente, quanto fisicamente.

Uma noite mal dormida, discussão com Bruce pela manhã, a conversa do
elevador, as revelações de Pietro, a briga do detetive, a história de vida do ex-
franco atirador britânico que agora é um homem da máfia.

As confissões no carro.

Rita se sentou no sofá pesadamente e fechou os olhos encostando a cabeça no


acolchoado.

“Não tenho uma família para proteger, então, não me importaria em morrer para
que você ficasse viva.”
As palavras de Bruce ainda estavam vivas em sua mente, assim como a
sinceridade de seu olhar.

Ele realmente quis dizer aquilo. Pensou ela e suspirou alto.

Não sabia mais o que pensar a respeito do homem que conheceu depois do
sequestro. Imaginar que ela poderia ter sentido a dor de ter os dedos quebrados
ou o sofrimento das unhas arrancadas fez Rita estremecer.

Se poderia ser pior, então, ele realmente pegou muito leve comigo. Pensou
assumindo que poderia ter sido pior caso outro homem estivesse no lugar de
Bruce.

— Você gosta dele.

A voz de Josh trouxe Rita de volta dos seus devaneios.

— O quê? — perguntou confusa.

Abriu os olhos e viu que ele estava sentado no sofá a sua frente, já de banho
tomado.

Como não o ouvi se aproximar? Perguntou-se internamente.

— Você gosta do Bruce — afirmou sério.

Sentou-se reta.

— Josh, de onde tirou isto?

— Não sou cego, mama — disse e agora sorriu. — Também gosto dele, não me
importaria se namorasse Bruce.

Ela ergueu a sobrancelha totalmente surpresa e depois sorriu.

— Então senhor meu filho adulto, como chegou a essa conclusão?

Josh sorriu de leve antes de responder.

— Ele te faz sentir, mama.

— Ainda não entendi...

— Você o olha feio quando pensa que não estou vendo e ele percebe, mas não
se importa. Você sempre briga com ele, mas é visível que confia nele, de um
jeito estranho, mas confia. Eu não perdi que você fica aliviada quando ele está
por perto e acaba afastando Ettore — disse e deu de ombros.

— Muito observador, garoto, mas porque eu devo namorar Bruce? — Rita


perguntou e não mostrou a ele que ficou abalada com a forma que ele via as
coisas.
— Mama.

— Hm...

— Desde sempre eu te vejo apagada e sei que é por causa do meu pai — disse
deixando-a sem palavras. — Mas Bruce te faz reagir e brilhar, mesmo que seja
de raiva — brincou.

— Não vou namorar Bruce — afirmou taxativamente.

— Deve dizer isto a ele. — Josh zombou e correu para longe da mãe, quando
ela começou a jogar almofadas em cima dele.
CAPÍTULO DEZESSEIS

Bruce estava dirigindo a caminho de uma construção, levando Rita com ele. Ela
avaliaria a etapa final dos acabamentos em um cassino que Adônis e Apolo
estavam construindo. Era um lugar para chamar atenção dos policiais, por ser
afastado e ser um cassino, mas também era um local de distração. Quanto mais
as autoridades focassem sua atenção ali, mais brechas teriam para os negócios
ilegais da máfia em outros lugares.

Ele olhou o retrovisor garantindo que somente a escolta o seguia e depois


desviou o olhar para Rita. Ela digitava quase que furiosamente em seu notebook,
com muita eficiência, alheia aos olhos dele. Pelo menos era o que ele acreditava.

Era uma missão simples que não duraria mais do que uma hora, mas Bruce não
estava tão confiante assim. Aquele sexto sentido de militar que ele tinha em suas
veias nunca falhava, o que estava deixando-o apreensivo. Não queria colocá-la
em perigo e isto o angustiava como nunca antes.

Tinha a sensação de perigo próximo, seus ombros estavam rígidos de tensão.


Batucou os dedos no volante de forma quase que imperceptível, já que ele nunca
demonstrava o que estava sentido.

— Qual o problema, Bruce?

Rita perguntou sem desviar os olhos do notebook em seu colo.

— Nenhum — garantiu.

— Já olhou o retrovisor três vezes. — Ela resmungou.

— Só estou garantindo que ninguém está nos seguindo.

Rita levantou o olhar e deu uma olhada no retrovisor do seu lado, observando o
carro de escolta que os seguia e nenhum outro vinha atrás. Deu de ombros e
voltou sua atenção para o notebook. Rita sabia que Bruce era quase paranoico
no quesito segurança, já que era o seu trabalho.

Então, não se importou.

Quando estacionou o carro na frente do prédio praticamente pronto, Bruce viu


que o homem responsável pela obra já estava os aguardando.

— Não saia do meu lado em nenhum momento. — Ele disse.

Observou ela organizar suas coisas rapidamente.

— Bruce, não é a primeira vez que eu venho fazer uma inspeção aqui. — Rita
garantiu.
Sentia-se levemente impaciente com a preocupação dele.

Esticou-se entre os bancos e deixou o notebook atrás.

— Estou falando sério, Rita — repreendeu.

— Não tem com o que se preocupar...

— Eu sempre me preocupo — disse interrompendo-a.

— Mas...

— Não existe “mas” no meu vocabulário, Rita.

Ela o olhou com impaciência, era a primeira vez que o via tão protetor. Em sua
mente não via nenhum perigo e acreditava ser exagero da parte dele.

— Deixa de ser chato. — Ela o repreendeu. — Vamos logo que Allesio já está
nos aguardando.

Bruce segurou o seu braço de leve, obrigando que ela o olhasse nos olhos.

— Estou falando sério, Rita — disse baixo e ameaçador. — Se a merda vier a


baixo, você se esconde em minhas costas até que eu encontre um lugar seguro
para você — ordenou. — E não teime comigo.

— Não vai acontecer nada — suspirou.

— Espero que não — disse. — Fique no carro por mais alguns minutos.

— Bruce — gemeu frustrada.

Ele a ignorou e pegou seu celular.

— Dânio, coloquem o ponto eletrônico e chame reforço.

— Viu algo diferente? — Dânio perguntou sério.

— Não, mas não estou com uma boa sensação — informou. — Deixe dois
homens escondidos e mande um ficar de sentinela — ordenou. — Traga nosso
franco, ele tem quatro minutos para chegar aqui.

— Algo mais?

— Você e o homem que sobrou entram comigo, fiquem longe das janelas e tome
cuidado com cada andar em que passarmos — instruiu. — Tenha sempre uma
parede de escudo, como no treinamento, e coloque o colete a prova de balas.
Não deixe sua cabeça a prêmio, esteja em alerta.

— Tem certeza que não viu nada? — questionou.


Dânio nunca iria contra uma ordem de Bruce, mas ele só queria ter certeza de
todos os fatos.

— Algo não me cheira bem — disse e esfregou a nuca. — Chame uma equipe
de apoio e deixe outra pronta para emergências.

Bruce desligou e colocou o celular de lado.

— Bruce, qual é o problema? — Rita perguntou agora levemente preocupada.

— Por enquanto nenhum — respondeu e conteve a vontade de levá-la para


longe daquele lugar.

— Então, porque tudo isto?

Ele puxou a gravata pela cabeça e arrancou o terno de seus ombros.

— Só estou sendo cuidadoso.

— Está sendo neurótico — acusou e arregalou os olhos. — Porque está tirando


a roupa?

Bruce não respondeu.

Desabotoou a camisa tão rápido que Rita quase não conseguiu acompanhar o
movimento de seus dedos. Ele puxou a camisa por seus ombros e deixou-a
embolada nas costas do acento, enquanto esticava-se para pegar o colete a
prova de balas que ficava debaixo do banco detrás.

Rita ficou sem ar com o corpo musculoso de Bruce exposto e tão próximo dela.
Não sabia qual reação ter, mas queria muito poder tocar na sua pele e sentir o
seu calor. Contudo, seus pensamentos foram cortados por perceber a tensão
que ele tinha nos ombros. Ainda achava que fosse exagero dele, mas sabia que
não iria ganhar esta briga.

Viu-o passar o colete preto pela cabeça e prender sobre o corpo com agilidade.
Depois puxou a camisa social preta sobre os ombros e abotoou com a mesma
rapidez com que desabotoou. Colocou o terno e a gravata em segundos,
deixando Rita boquiaberta com sua eficiência em ser rápido.

Ele colocou um pequeno aparelho no ouvido e então puxou a arma da cintura,


fazendo-a arfar, mas Bruce não se importou. Estava concentrado demais no que
fazia.

Bruce pegou diversos cartuchos de recarregar de sua arma e colocou nos


bolsos.

— Guarde esses na sua bolsa para mim — pediu entregando ela três recargas.

— O quê?... Oh não mesmo.


— Rita, se uma merda acontecer eu quero ter balas para salvar o seu traseiro —
disse baixo e rude. — Guarde isto para mim e reze para que eu não precise usar.

— Você está sendo neurótico — suspirou.

— Melhor neurótico do que morto — afirmou.

Ela bufou inconformada, porém, fez o que ele pediu, ou melhor, mandou.
Colocou os cartuchos na bolsa, na tentativa de fazê-lo permitir que saísse logo
do carro.

— Não se esqueça, Rita, fique ao meu lado o tempo todo e caso precise, nas
minhas costas — relembrou.

— Tudo bem — concordou para não render mais o assunto.

Bruce murmurou algo em seu ponto eletrônico antes de saírem do carro. Rita viu
Dânio e outro homem os seguindo, fazendo-a querer revirar os olhos.

— Como vai, Rita?

Alessio chamou sua atenção e ela apertou a mão do homem.

— Bem, Alessio, e as coisas por aqui? — perguntou.

Caminharam juntos para dentro do prédio com Bruce colado nas costas dela.

— O processo de acabamento está no final...

— Pensei que tivesse acabado. — Rita o interrompeu.

O senhor com problemas de peso ficou levemente tenso.

— Hm... Os cinco primeiros andares foram concluídos e os outros três só


precisam de um retoque final para ter a certeza de que não falta nada, como por
exemplo, um simples rodapé de canto ou algo do tipo.

Rita acenou a mão para ele com irritação.

— Alessio, você marcou essa inspeção sabendo que não é assim que as coisas
funcionam. — Rita disse.

Eles entraram no elevador com Bruce, deixando os outros dois seguranças no


térreo. Alessio apertou o código para o último andar antes de explicar.

— Eu sei, Rita, mas esta construção é muito grande e ...

— Não há desculpas para isto, sabe que o senhor Albertini não irá aprovar a
próxima etapa. — Rita foi firme e o homem suspirou.

— Vamos pelo menos olhar os andares prontos, assim adiantamos o trabalho.


— Sabe que não vai adiantar, terei que voltar e olhar tudo de novo. — disse
irritada. — Vou embora, e então marcamos quando tudo estiver pronto. E espere
pelo esporro que vai levar, por não ter cumprido o prazo.

— Rita, por favor, vamos adiantar...

Antes que ele terminasse de falar, Bruce já tinha partido para cima do homem.
O prendeu na parede e colocou a arma na sua têmpora.

— Bruce! — Rita arfou chocada.

Medo passou por sua coluna.

— Para quem você trabalha? — Bruce rosnou para o homem.

Apertou sua arma na cabeça de Alessio

— O ... que... o que está fazendo? — gaguejou. — Rita... Tire esse homem de
cima de mim...

— Bruce que merda, solte ele — implorou.

— Cale a boca, Rita, e trave o elevador — ordenou.

— Bruce — implorou novamente.

— AGORA! — Ele gritou.

Rita tremeu.

Só tinha o ouvido gritar quando estava presa no cativeiro e ele estava sob muita
pressão querendo respostas dela. Bruce esticou a mão que prendia o homem e
arrancou a câmera de segurança com facilidade da parede.

— Rita. — Bruce disse baixo.

Ela não se mexeu, seus olhos arregalados e o coração acelerado quase a


deixaram em pânico.

— Trave o elevador agora, faça isto, confie em mim — disse baixo e sem desviar
os olhos dos de Alessio.

Rita se mexeu e travou o elevador confiando que Bruce tivesse certeza que algo
estava errado. Ela considerou isto, já que não visitava um local sem que a etapa
da construção estivesse pronta.

Algo realmente estava errado. Pensou ela e estremeceu.

— Para quem você está trabalhando? — Bruce rosnou.

— Não.o sei do que está falando... trabalho para o senhor Adônis Albertini...
— Não vou perguntar mais uma vez — ameaçou. — Se não falar o que eu quero
ouvir, vou te dar um tiro.

— Não me ma.a.a.te... Rita, me ajude. — Alessio implorou.

— Bruce, tem certeza que ele sabe de alguma coisa? — Rita questionou tensa.

— Vou contar até três.

— Eu não fiz nada...

— Um.

— Por favor. — Alessio choramingou.

— Dois.

— Não sei de nada, sou só um supervisor de construção...

— Ele vai te matar. — Rita disse suspirando. — Diga a ele.

— Escute ela, Alessio, eu vou te matar sem hesitar.

— Alguém sequestrou minha família. — Ele gaguejou. — E me mando.o.ou um


vídeo falando que deveria... chamar a inspeção do prédio antes do prazo... caso
quisesse minha esposa e meu filho de volta... não sei de quem se trata... mas eu
não sabia o que fazer.

— Há mais alguém no prédio? — Bruce perguntou furioso.

— Não.o.o que eu saiba, na inspeção não pode ter funcionários trabalhando.

Bruce revistou o homem e só encontrou seu aparelho de telefone. Pegou e


guardou em seu bolso para caso alguém entrasse em contato.

— Bruce.

A voz temerosa dela o deixou ainda mais com raiva.

— Rita, fique calma, por favor, sem pânico — pediu. — Vou te tirar daqui, mas
tem que confiar em mim.

— Ok — murmurou e ele acenou.

— Tire sua camisa social. — Bruce ordenou a Alessio.

— O.o. o que vai fazer comigo?

— Faça agora o que mandei! — exigiu. — Cada vez que eu repetir algo para
você, vou te dar um tiro em um lugar diferente.
O homem ficou pálido, quase transparente, mas começou a se mover para fazer
o que Bruce ordenou.

Apertando o dedo sobre seu ponto eletrônico no ouvido, Bruce disse:

— Dânio, nível três, porra.

— Estou chamando a equipe de emergência. — Dânio confirmou e Bruce ouviu


algumas maldições de seus homens.

— Fique atento a qualquer movimento — disse. — Mate qualquer um que


aparecer sem ser convidado.

Naquele momento, os únicos convidados eram a equipe de homens que o


ajudariam a tirar Rita daquele prédio.

— Estou em alerta. — Dânio afirmou.

— Estou em posição. — Roy o franco da máfia disse no ponto eletrônico.

Bruce olhou o relógio para ter certeza que ele tinha chegado no tempo
estipulado.

— Atire em qualquer coisa que se mover que não seja eu ou Rita.

— Eu vou. — Roy afirmou.

Bruce sabia que ele estava rindo animado em querer atirar em alguns inimigos.

— Onde você está? — Victor perguntou.

— Ainda no elevador, parei no terceiro andar, mas vou sair dele em outro andar.
— Bruce informou.

— Nos mantenha informado, vamos tirar Rita desta merda em segurança. —


Dânio afirmou e Bruce concordou.

Enquanto conversava com seus parceiros, Bruce cortava a camisa do homem


em retalhos. Amarrou seus pulsos nas costas com bastante força. Fez uma
mordaça para sua boca e também amarrou suas pernas com a camisa, fazendo-
o se sentar no canto do elevador.

— Fique aqui quieto e não me subestime, Alessio — ameaçou. — Um movimento


errado e eu vou garantir que morra bem devagar.

Bruce desviou o olhar para Rita.

— Destrave o elevador e trave perto do quinto andar — ordenou baixo.

Ela acenou concordando e fez o que ele pediu.


Bruce voltou a olhar o homem amarrado no chão.

— Não faça nenhuma besteira — disse. — Talvez quando essa merda acabar
você consiga ficar vivo e com a sua família, mas não me teste, Alessio.

Ele acenou com a cabeça concordando sem esconder o medo de seus olhos.

Bruce olhou para cima em busca da saída de emergência, usou a vantagem de


ser alto e conseguiu abrir o teto com certo esforço.

— O que vamos fazer? — Rita perguntou temerosa.

— Sair por aqui — apontou para cima.

— Porque não paramos na porta? — perguntou confusa.

— Quem estiver nos esperando do lado de fora sabe que estamos travados no
elevador — explicou. — Vamos sair pela saída de emergência e ter alguma
vantagem.

— Tem certeza que alguém estaria nos esperando do lado de fora? — perguntou
insistindo de que aquilo não poderia ser verdade.

— E você acha que Adônis aceitaria um processo pela metade? — Bruce ergueu
uma sobrancelha para ela. — Que alguém mandaria Alessio pedir a inspeção de
etapas sem concluir só para te trazer aqui à toa?

Rita queria entrar em pânico, na verdade, ela estava pronta para isto, mas sabia
que não era o momento para choros e lamentações.

— Ettore? — questionou e estremeceu ao lembrar que ele tentou matá-la.

— Sim.

— E como tem tanta certeza?

— Quem mais quer te ver morta?

Ela travou por um segundo com medo e ele respirou fundo.

— Não vamos falar sobre isto, Rita, não agora pelo menos — disse. — Eu vou
te levantar e você sai primeiro. Tudo bem?

— Sim, eu não tenho outra opção, não é mesmo?

— Não.

Ela colocou a alça da bolsa atravessada em seu pescoço, para que não caísse
de seu ombro, e deixou Bruce segurar sua cintura.

— Eu vou te tirar daqui, Rita, e vou te levar para casa, para o Josh.
— Para o Josh — disse determinada.

Ele beijou seus lábios rapidamente, surpreendendo-a. Se encararam por um


segundo, antes dele a segurar mais firme. Bruce ergueu Rita e esperou que ela
conseguisse sentar na borda e se levantar em cima do elevador. Deu um pulo,
impulsionando seu corpo para cima. Segurou as bordas, mostrando a força de
suas mãos, e por muito pouco não passou por causa de seus músculos. Sentou
na borda e se ergueu rápido.

— Como vamos abrir a porta? — Rita sussurrou.

— Com força bruta — murmurou aliviado em ver que ela travou o elevador
próximo da porta, assim não precisaria escalar o poço.

Colocou as duas mãos no meio e usou toda força que tinha para abrir. No
entanto, a porta não abriu na primeira tentativa. Ficou surpreso quando Rita
passou por baixo de seus braços, se equilibrando em seus sapatos, e ficou na
frente dele.

— Vou te ajudar — disse.

Ele acenou concordando.

— Assim que abrir você se abaixa — instruiu. — Não quero correr o risco de ter
alguém atirando em você.

— Tudo bem.

Os dois juntos fizeram forças para abrir as portas, não foi uma tarefa fácil. Rita
ficou ofegante na terceira tentativa, mas enfim conseguiu que a porta se abrisse.

Ela se abaixou como ele pediu.

Bruce saiu primeiro segurando sua arma, garantindo que não tinha ninguém no
andar. Depois a puxou para fora do poço do elevador. Deram alguns passos à
frente.

Bruce travou a fazendo bater nas suas costas.

— O que foi? — Ela sussurrou.

— Seus saltos fazem muito barulhos — murmurou.

— Não vou tirar, detesto ficar descalça — protestou baixo.

— Tire logo, antes que eu arranque de seus pés — ameaçou.

— Você é tão grosso — resmungou brava.

— Rita, sem teimosia! — Ele rosnou e ela bufou.


Rita se inclinou e tirou os sapatos. Bruce andou na frente e ela repetiu seus atos
sentindo todo o corpo rígido com a ansiedade em suas veias.

De repente, Bruce a empurrou para trás em uma pilastra e o estouro de tiros


quase perfuraram seus tímpanos com o eco no prédio vazio. Ela ficou de costas
contra a pilastra e Bruce se espremeu contra ela, fazendo com que ela ficasse
ciente de cada músculo pesado dele.

Ele atirou de volta e ela quase ficou congelada ao ver as balas se chocando
contra a parede do fundo. Eles estavam protegidos por uma única pilastra. Bruce
falava algo em seu ponto eletrônico e ela não conseguia prestar atenção no que
ele dizia. Seus olhos estavam arregalados e a respiração ofegante.

— Fique aqui — ordenou. — Somente se mova se ver algo vindo em sua direção.

— Aonde vai? — Ela perguntou segurando o pânico.

— Na próxima vez em que eu atirar, vou me mover para frente e pegar os


desgraçados.

— Não, Bruce...

— Vou ficar bem.

Não deu a ela tempo de protestar, se afastou e atirou. Começou a caminhar


rapidamente, usou algumas pilastras até que um homem apareceu na sua frente.
Seu dedo apertou o gatilho e a bala atravessou a testa do inimigo. Segurou o
corpo usando-o como escudo contra as próximas balas que vieram em sua
direção.

Jogou o corpo no chão e se escondeu atrás de uma parede, balas batiam contra
a quina dela. Esperou o momento em que o inimigo precisou recarregar e voltou
a avançar.

Atirou em mais dois no caminho e bateu com o punho no quarto quando sua
arma mascou vazia. Foi rápido e certeiro. Em um segundo já tinha trocado o
cartucho da arma e atirado no homem. Um barulho atrás o fez virar rápido. Viu
o exato momento em que um homem caiu para frente depois que uma bala
atravessou seu crânio, depois de quebrar o vidro.

— Tenho suas costas, Bruce. — Roy disse no ponto e riu. — Contabilizei um.

— Quatro.

— Você não sabe brincar, Bruce, seus números são sempre maiores. — Roy
protestou.

Bruce limpou a mão esquerda na calça, tirando grosseiramente o sangue e


voltou a caminhar para buscar Rita.
— Peguei dois no primeiro andar. — Victor informou.

— Onde você está Bruce? — Dânio perguntou.

— No quinto andar — informou.

— Cortaram a energia, terá que descer pelas as escadas. — Dânio avisou.

— Estou saindo daqui — disse.

Bruce ignorou as vozes em seu ouvido, dos homens conversando, e foi até Rita.
Ainda estava na mesma pilastra e parecia aterrorizada.

— Bruce — choramingou assim que o viu.

— Está tudo bem, querida, vamos.

Rita ignorou o sangue sobre o terno de Bruce. Abriu os braços e o envolveu em


um abraço apertado. Alívio corria por seu corpo e pode respirar com calma por
senti-lo retribuir seu abraço.

— Fiquei com medo de que fosse atingido — sussurrou. — Não se atreva a


morrer.

— Não vou — garantiu. — Estou bem, temos que ir.

Bruce beijou a testa dela e a obrigou caminhar.

— Não olhe para o chão, mantenha os olhos entre as paredes e o gesso do teto
— disse assim que avistou os corpos.

— Você os matou — sussurrou.

— Eles teriam feito o mesmo conosco — afirmou. — Respire pela boca e não
olhe.

Ela sabia que ele estava certo, mas se acostumar com tamanha brutalidade não
era algo fácil. Rita gemeu quando pisou em algo morno, sabia que era sangue,
mas não abaixou seus olhos. Fez o que Bruce disse, manteve o olhar no alto e
ignorou qualquer coisa que sua visão periférica pegasse.

Ele a puxou por todo o local. Rita odiou como aquele prédio era grande, somente
tornava a saída deles mais difícil. Sempre andando com cuidado, se escondendo
atrás de pilastras e paredes. Garantindo que não fossem pegos de surpresa.

— Calem a boca. — Bruce ordenou duramente.

— Eu não disse nada. — Rita franziu a testa confusa.

— Não estou falando com você, querida — resmungou irritado. — Esses idiotas
que ficam fofocando no ponto eletrônico, numa situação de merda como essa.
Pararam perto da porta de emergência e Bruce abriu devagar, apontou sua arma
cegamente para dentro e entrou.

Dois minutos depois Rita o escutou.

— Está limpo, venha.

Ela caminhou para dentro e os dois começaram a descer as escadas. Rita o viu
apertar seu ponto de ouvido e imaginou que os seguranças continuavam a falar.

— Último aviso — disse. — Calem a porra da boca, ou eu vou me lembrar disto


no próximo treinamento.

A ameaça foi eficaz, já que Bruce pareceu relaxar.

— Você está indo muito devagar. — Ele murmurou.

— Estou sem fôlego, corremos aquele andar inteiro e agora escadas... Santo
Deus... Eu vou ter um ataque cardíaco a qualquer momento.

— Rita, respire fundo e vamos logo, precisamos sair daqui.

— Eu mesma vou matar Ettore, filho da puta...

Bruce segurou um sorriso ao ver o mau humor de Rita e continuou puxando-a


escada abaixo. Quando alcançou o quarto andar, ele pretendia voltar a entrar no
andar e ir para a outra escada do outro lado do prédio, sabia que teria mais
homens aguardando por eles em algum lugar nos andares a baixo.

Antes que Bruce abrisse a porta, ela foi aberta por um homem e atrás dele tinha
mais três. Atirou no primeiro e forçou o ombro de Rita para baixo, para que ela
se agachasse. Estava muito perto e poderia ser baleada. O segundo homem fez
menção de atirar, Bruce foi mais rápido. Atirou no braço do cara, que deixou sua
arma cair, deu dois passos à frente para lutar.

Bruce atirou no peito do inimigo, duas vezes. Não tinha tempo para lutar e o
jogou para baixo nas escadas, onde acabou vendo que vinham mais três em sua
direção. Bruce pensou rápido e antes de ser atingido pelo terceiro homem, atirou
uma vez, mas errou quando um punho veio para cima dele. Desviou e acabou
entrando em uma luta corporal.

Percebeu que eles o queriam, vivo.

Talvez Ettore quisesse se vingar de Bruce, sequestrando-o, e isto trouxe uma


raiva maior para o peito de Bruce.

Rita arregalou os olhos vendo Bruce lutar com dois homens de uma única vez.
Não era uma luta justa, mas o homem da máfia não perdia um único soco. Jogou
o homem pela escada e o barulho oco dele batendo foi horrível.
Um soco forte atingiu o rosto do outro homem e ele deu dois passos para trás
com o impacto. Bruce o olhou com frieza e o atingiu com três tiros no peito,
fazendo-o se desequilibrar e cair para trás na escada com seu corpo morto.

Tiros subiram e Rita arfou.

— Estão vindo de baixo, vamos entrar no andar. Bruce disse puxando-a para
cima.

Balas estouravam a cima deles. Rita firmou as pernas e deixou os sapatos para
trás. Precisava correr mais rápido e segurar coisas que estava atrapalhando.

— Pegue-os.

Bruce ordenou e ela não entendeu nada, tentou protestar, mas ele se abaixou
rápido e pegou os sapatos.

Saíram com Bruce em alerta.

Para o alívio deles, não havia mais homens ali.

— Fique atrás da pilastra e atenta a qualquer movimento — ordenou e ela


acenou concordando.

Bruce usou os saltos do sapato para travar a porta e depois voltou sua atenção
para Rita quando a ouviu gemer frustrada.

— Eles custaram seiscentos euros — gemeu frustrada novamente.

Iria deixá-los para trás com o coração apertado, porém, ver Bruce praticamente
destruindo seus saltos doeu. Ele ignorou seu protesto, não se importou com
quanto custou o sapato. Pegou sua mão e correram pelo andar.

— Estou no quarto andar...

Bruce se calou no momento em que viu mais homens vindo em sua direção.
Puxou Rita para baixo e agachados se protegeram atrás do balcão de um bar
daquele andar. Ela iria fazer alguma pergunta e Bruce a calou, colocando sua
mão sobre boca dela, impedindo que fizesse barulho.

— Contei cinco vindo, fique quieta — sussurrou.

Ela acenou concordando.

Ele a liberou.

Rita se segurou para não puxar o ar com força. Respirou devagar recuperando
o fôlego. Sentiu todo seu corpo tenso quando ouviu a conversa dos homens que
queriam matá-los.
— Eles estão aqui, travaram a porta da escada.

— O cara é bom, matou todos que estavam em cima — disse. — Que porra!

— Cale a boca, eles estão em algum canto desse andar.

Um tiro soou.

Um segundo depois um barulho oco preencheu o lugar, era o som de um corpo


caindo sem vida.

— Peguei mais um, Bruce. — Roy disse em seu ponto.

Os homens se abaixaram e xingaram algumas maldições. Começaram a atirar


para todos os lados tentando pegar o responsável pela morte do seu parceiro.

— Tem mais chegando, são muitos... que merda! — Victor disse.

— Estamos enfrentando alguns no terceiro andar e não vai demorar para nossa
munição acabar, inferno. — Dânio informou ofegante.

Bruce respirou fundo e agachado puxou Rita para ficar mais no canto do bar.

— Fique encolhida aqui, só se mova se sua vida estiver em perigo — ordenou.

— O que vai fazer?

— Vou atirar neles, minha munição também vai acabar em algum momento e eu
preciso economizá-las...

— Bruce — choramingou.

— Vai ficar tudo bem — garantiu. — Me dê àqueles cartuchos de recarga que


guardou para mim.

Rita tremeu quando abriu a bolsa e pegou o que ele queria.

— Acha que tinha mais homens nos andares acima? — Ela perguntou em um
sussurro.

— Sim — disse baixo e calmo. — Vieram preparados para pegar você ou eu,
não sei bem, Ettore sabe que não seria tão fácil nos enfrentar. Por isto, mandou
tanto homens.

Bruce se ajoelhou e espiou por cima do balcão.

— Fique quieta — murmurou relembrando ela.

Rita se encolheu no canto quando Bruce começou a atirar. O barulho era


ensurdecedor e parecia não acabar nunca. Os segundos se tonaram quase que
horas para ela. Prendeu o ar em pânico assistindo balas se chocarem contra a
parede atrás deles.

Seus pulmões doeram pela falta de oxigênio. Começou a hiperventilar quando


percebeu que estavam encurralados ali.

O inferno estava no local.

Gritos, múrmuros e estouros de balas de diversas armas diferentes. Homens


gritando ordens ou gemendo de dor quando eram atingidos.

— Merda, meu último cartucho.

— Vamos morrer. — Rita murmurou.

Bruce encarou os olhos arregalados de Rita e prometeu uma morte muito


dolorosa para Ettore.

— Não vamos morrer. — Ele afirmou. — Não hoje.

— O que vai fazer se não tem mais balas? Vamos morrer...

— Eu não vou morrer hoje — interrompeu Rita.

Ele se levantou deixando-a em choque com sua coragem.

Viu-o atirar duas vezes e pular por cima do bar, com tamanha agilidade que ela
nunca imaginou que fosse possível para um homem do tamanho dele, saindo do
esconderijo deles. Rita ficou em pânico, com medo de que ele morresse ou fosse
gravemente ferido. Ela se ajoelhou e espiou por cima da bancada. Viu que ele
continuava a caminhar e atirar em pontos certos. Por onde passava deixava um
corpo caído para trás mostrando que não errava um alvo.

Ela o viu jogar a arma no chão e começar uma luta corpo a corpo com os homens
que pareciam cada vez se multiplicarem mais. Ele apanhou e levou alguns
socos, mas batia como se fosse uma máquina de morte que estava pronta para
assassinar qualquer um que se levantasse ao seu redor.

Mais homens se juntaram e ela os reconheceu como homens de Adônis. Eles se


misturaram atirando em qualquer coisa que se movia e ajudaram Bruce em sua
luta, alguns batendo e outros atirando.

Rita arfou quando sua atenção voltou para um homem se aproximando dela. Se
abaixou com o coração batendo mais forte do que achava possível. Agindo com
a adrenalina, enfiou a mão dentro da bolsa descartada no chão e em tempo
recorde achou duas canetas dentro dela. As únicas armas que tinha no
momento.

Tirou as tampas e aguardou.


CAPÍTULO DEZESSETE

Com a respiração travada e o sangue pulsando em seus ouvidos, Rita não


conseguia se mexer. Fechou com força as mãos em punhos, escondendo as
canetas que começaram a machucar sua pele. Por incrível que pareça ela não
tremia, seu corpo estava rígido esperando pelo perigo.

Arfou quando algo grande passou por cima do balcão e caiu agachado na sua
frente. A ponta da arma foi a primeira coisa que viu, já que estava apontada para
seu rosto. Encontrou o olhar morto daquele homem e se arrepiou.

— Achei você, ratinha — disse e um sorriso frio se mostrou em seus lábios.

Rita olhou por cima do ombro dele e fez cara de surpresa conseguindo desviar
a atenção do homem, ele ficou tenso e olhou para trás apontando sua arma. Ela
aproveitou essa distração e gritou quando jogou seu corpo em cima do homem.
Ele apertou o gatilho acertando a parede e gritou em desespero quando Rita
afundou as duas canetas em seu pescoço, uma de cada lado. Desmoronou em
cima dela e deixou sua arma cair, enquanto tentava fazer com que Rita se
afastasse.

Ela colocou mais força perfurando o homem com as pontas de suas canetas. Um
tiro soou muito perto dela. O seu agressor gritou de agonia. Ofegante, Rita
empurrou o homem para o lado. Uma bala tinha atravessado sua panturrilha e
ele sofria com a dor. Rita levantou o olhar e encontrou Adônis os encarando com
frieza. Ela se rastejou para longe do seu atacante sem tirar os olhos do chefe.

Foi quando ele apertou o gatilho mais uma vez.

Parecia câmera lenta, podia dizer que conseguiu ver todo o trajeto, a bala passou
por ela e se enterrou entre os olhos do bandido. Arfou em choque quando a vida
foi arrancada do corpo daquele homem.

Respingos de sangue mancharam sua pele grosseiramente fazendo-a começar


a tremer em pânico. Sabia que era a sua vida ou a dele, mas nada diminuiria a
clareza dos fatos. Nada faria com que se sentisse melhor, depois de presenciar
tanta violência a sangue frio.

Sentia-se como se não fosse capaz de dormir nunca mais. Seus olhos
continuavam grudados naquele corpo sem vida. Alguém chamou seu nome e ele
não se moveu. Não conseguia reagir.

— Rita!

Seu nome foi duramente chamado.

Desviou o olhar devagar e o encontrou encarando-a com preocupação.


Bruce.

— Rita — disse suavemente agora. — Acabou, querida.

Não respondeu.

O encarou em silêncio tentando encontrar a paz que precisava nos seus olhos
cinzentos.

— Está tudo bem. — Bruce garantiu. — Você está segura.

Ele começou a se preocupar ainda mais quando ela não se moveu. Seus olhos
estavam tão arregalados que ele pensou que poderiam saltar de seu rosto.

Bruce segurou um suspiro.

O rosto dela estava manchado com respingos de sangue, o que parecia deixar
a situação ainda pior. Agachou devagar na frente dela, não queria assustá-la
ainda mais. Seus músculos o fez estremecer de leve, dor irradiou por todo seu
corpo, mas Bruce ignorou. Sua prioridade era ela.

— Rita?

A voz de Pietro soou atrás dele, mas Bruce não desviou sua atenção.

— Não olhe para o lado — disse baixo. — Foque sua atenção somente em mim,
Rita.

Ela não o respondeu.

No entanto, Pietro não teve o mesmo problema em ficar calado.

— Ela está bem? — Pietro questionou. — Quer que eu a carregue para fora?
Está em choque? Precisa que alguém cuide dela?

Ciúmes encheu o peito de Bruce.

Se ergueu em menos de um segundo e encarou Pietro com raiva. Não estava


gostando de toda aquele preocupação que demonstrava pela mulher que
considerava sua.

Bruce não disse nada, não tinha palavras para dizer ao amigo, mas se ele
abrisse a boca de novo iria tomar um tiro por demonstrar afeição demais com
aquela que o pertencia.

— Bruce, acalme-se. — Adônis ordenou calmo, vendo que seu homem estava
pronto para matar Pietro. — Ele não vai mais abrir a boca, você ainda está com
adrenalina muito alta — disse. — Foque sua atenção em Rita.
Bruce não se moveu. Ainda encarava Pietro com raiva, como um animal raivoso,
pronto para começar uma briga para afastar o homem de perto de Rita. A
adrenalina estava tão forte em suas veias que ele estava perdendo a razão, mas
não se importava, não aceitaria tal coisa.

Seu monstro interior tinha tomado posse de suas atitudes para proteger Rita.

— Bruce.

O murmuro trêmulo atrás dele o fez esquecer de sua raiva. Se virou para ela.
Rita olhava para suas mãos trêmulas e sujas de sangue. Sua respiração estava
alta e seus olhos cheios de lágrimas.

Ainda agindo por impulso, caiu sobre seus joelhos na frente dele. Segurou suas
mãos, impedindo-a que continuasse a ver o sangue. Apesar de que as mãos de
Bruce não estavam em uma situação melhor, mas era melhor ela ver as dele do
que as dela.

— Olhe nos meus olhos, Rita — ordenou.

Ela levantou o olhar.

— Está tudo bem, você está bem.

— Eu o machuquei... Com canetas... — soluçou. — Nunca machuquei ninguém...


Na vida...

— Ele iria te matar, você só se defendeu — afirmou Adônis.

— Fez bem em se defender. — Bruce disse baixo. — Se machucou?

— Não.

— Tem certeza? — questionou preocupado. — Ele não a machucou?

— Não estou ... machucada.

— Vamos sair daqui. — Bruce disse.

Ela acenou confirmando.

Bruce a ergueu em seus braços, sentiu Rita ficar tensa por um segundo e depois
se aconchegou em seu peito. Não ficaria melhor a situação, já que seu terno
preto estava coberto de sangue, mas tê-la em seus braços o fez se sentir melhor.

Seus músculos voltaram a protestar de dor e a serem ignorados.

O importante era tirá-la daqui. Afirmou Bruce em pensamentos.


Rita respirou devagar sentindo seu corpo relaxar de leve. A forma que Bruce a
segurava contra seu peito acalmou a tormenta que tinha se formado em seu
peito.

...

— Por que me trouxe para casa? — Rita perguntou assim que Bruce estacionou
na porta de sua casa.

— Você não precisa voltar hoje para o trabalho — respondeu.

Ele saiu do carro sem esperar pela resposta dela, deu a volta e abriu a porta.

— Vamos, vou cuidar de você — prometeu em um sussurro.

Rita desviou o olhar dele para suas mãos ainda sujas de sangue.

— Não olhe. — Bruce pediu.

Ela voltou sua atenção para ele e se perdeu na intensidade que transmitia seus
olhos, Bruce a pegou nos braços novamente e ela não protestou. Sentia-se como
se tivesse sido atropelada por um caminhão de emoções desenfreadas.

Ele a levou para dentro e ela não o parou quando Bruce começou a subir as
escadas. Rita apontou qual era o seu quarto, entraram no quarto e ela suspirou
aliviada de poder estar de volta. Bruce sentou na cama com ela em seu colo e
apertou seus fortes braços ao redor de Rita.

— Você salvou minha vida mais uma vez. — Ela murmurou.

Rita estremeceu com as lembranças do pesadelo que passou nas últimas horas.

— Sempre vou salvar você — prometeu.

Ela se aconchegou no peito dele gostando da proximidade e suspirou.

— Como você sabia que tinha algo errado? — perguntou baixo.

— Não sei explicar, talvez seja os anos de experiência — resmungou. — Ou


minha veia de mafioso que me diz quando tem merda vindo no meu caminho.

— Estou feliz por isto, não quero nem pensar em como iríamos sobreviver
aquilo...

— Não pense sobre isto — disse sério.

— Preciso de um banho.

— Deixe-me te segurar mais um pouco — pediu baixo.


Ela acenou concordando e ficou quieta em seus braços. Rita sabia que ele ainda
estava tenso, apesar de não demonstrar o que sentia.

— Você se machucou? — Ela perguntou.

— Não sei. — Bruce murmurou e beijou os cabelos de Rita.

— Como assim não sabe?

Ela se afastou e olhou seu rosto.

— Minha adrenalina ainda está muito alta, só sinto algumas dores musculares...

— Deixe-me sair do seu colo...

— Fique — ordenou.

— Bruce.

— Eu preciso segurar você, por pouco eu a perdi para sempre — murmurou


olhando-a nos olhos.

— Bruce...

— Eu não posso te perder.

Rita viu angústia pura no rosto dele e ficou surpresa por ver suas emoções tão
claras. Bruce sempre era muito fechado e o máximo que demonstrava era seu
mau humor evidente.

— Eu estou bem.

Garantiu ainda presa na angústia que mostrava em seus cinzentos olhos verdes.

Bruce se inclinou e beijou os lábios de Rita, ela suspirou e deixou que a beijasse.
Deu passagem para sua língua e foi beijada delicadamente. Era como se
quisesse garantir que realmente a tinha em seus braços. Foi o beijo mais doce
que recebeu em toda sua vida. Ele degustava e explorava sua boca devagar e
dominante.

Surpreendia que ele pudesse ser capaz de ter tamanha suavidade. Era gentil e
demonstrava paciência em beijá-la com carinho.

Todo o mundo ao redor foi esquecido e só existia os dois naquele momento. Não
havia mais lembranças das horas de puro terror que passaram e também não
havia mais a magoa que Rita sentia por ele a ter torturado em cativeiro.

Nada mais importava.

Era como se suas almas, enfim, estivessem completas.


Que, enfim, a paz e harmonia estavam entre eles.

Rita sabia que não existia mais volta. Não queria estar em outro lugar a não ser
nos braços dele.

E Bruce?

Ele tinha certeza de que ela o pertencia e ninguém seria capaz de dizer o
contrário.
CAPÍTULO DEZOITO

Seus lábios desaceleram lentamente. Apreciavam a maciez de suas bocas


enquanto suas respirações se misturavam. Aquele momento não parecia real,
tantos sentimentos se passaram em um simples beijo. Os lábios quentes e
molhados. Os corações acelerados e os olhos aquecidos de paixão.

Bruce se levantou com Rita em seus braços, um segundo depois que desgrudou
sua boca da dela. Ele caminhou em direção ao banheiro dela e a colocou
sentada no mármore negro da pia. Desviou seu olhar e levou as mãos de Rita
debaixo da torneira para lavar o sangue que havia nelas.

Assim que lavou toda a mancha vermelha de sua pele delicada e pálida, ele
voltou a olhar para ela. Também limpou as manchas de respingo no rosto dela.
Respirou devagar apreciando a beleza de seus olhos castanhos. Ergueu sua
grande mão e fez um carinho no rosto dela. Rita fechou os olhos contemplando
o carinho. Uma mexa de seu cabelo foi colocada atrás de sua orelha com
cuidado.

— Você é tão linda. — Bruce murmurou incapaz de manter seus pensamentos


para si.

Ela abriu os olhos e o encarou.

— Você está sendo gentil, devo estar horrível depois do que passamos — disse.

— A mais linda de todas — garantiu.

Ela sorriu.

— Eu quero você — afirmou Bruce e o sorriso de Rita se fechou. — Quero como


nunca quis outra mulher.

Ele se encaixou entre suas pernas e a segurou pela nuca. Os braços de Rita se
fecharam no pescoço dele e desta vez ela o beijou. Ela não tinha mais forças
para lutar contra aquilo que sentia. Não existia mais a possibilidade de mantê-lo
longe, de ficar sem ele. Apesar de surpreso, Bruce retribuiu o beijo de Rita sem
hesitar nenhum segundo.

Não havia a mesma delicadeza de antes. Agora Bruce exigia mais dela.
Explorava e domava sua boca com a dele sem medir esforços.

Descendo as mãos pelas costas dela e depois voltando por sua cintura, Bruce
começou a desabotoar a camisa azul de seda que ela vestia. Rita não o parou,
não era capaz de pará-lo. Depois de tudo o que sofreu, ela só precisava
esquecer. Isto acontecia sempre que beijava e tocava em Bruce. Ele era sua
válvula de escape. Não existia outra pessoa que desejava mais do que ele,
mesmo com todos os problemas e divergências, ela não poderia o querer menos.
Muito antes de conhecer o verdadeiro homem que se escondia atrás do chefe
de segurança, ela já tinha permitido que ele acessasse seu coração.

Empurrou o terno dele para fora de seus ombros, com pressa para tê-lo nu.
Bruce a ajudou a tirar aquela peça que teria que ir para o lixo depois do dia
enfático que enfrentou.

A blusa de Rita foi jogada na mesma direção do terno dele no chão e ela se
concentrou em tirar a gravata, desfez o nó e a puxou pela gola. Seus dedos
foram rápidos em encontrar os botões da camisa de Bruce. Sem paciência
acabou puxando com força o tecido, fazendo os botões se estourarem e voarem
pelo banheiro.

Ele afastou sua boca da dela e os dois respiraram fundo ouvindo o quicar dos
botões no piso.

Bruce empurrou a camisa para fora dos ombros e Rita olhou para o colete a
prova de balas que ele ainda usava. Assim que saíram da construção do cassino,
Bruce somente a colocou no carro e acelerou para fora de lá a toda velocidade,
ansioso em colocar distância entre o local e eles. Não tinha se livrado de suas
roupas sujas e equipamento de segurança.

Ele abriu o colete e o tirou para longe de seu corpo. Franziu o cenho quando os
olhos de Rita arregalaram. Bruce olhou para o seu peito e viu marcas vermelhas
e arroxeadas marcando sua pele.

— O que fez isto? — sussurrou preocupada.

— Balas.

— Você foi atingido? — perguntou chocada.

— Algumas vezes.

— Argh. — Rita praguejou. — Tenho vontade de te bater quando fala assim,


como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Estou bem — garantiu.

Rita bufou e analisou o peitoral de Bruce. Viu marcas vermelhas em alguns


lugares e seus olhos quase saltaram para fora quando viu o machucado em seu
braço esquerdo.

— Bruce você está sangrando — sussurrou assustada.

— Foi só de raspão, depois de um banho vai parar.

— Porque não disse que estava machucado?


— Estou bem, Rita, isto foi só de raspão.

— Seu queixo está começando a inchar — reparou preocupada.

— Gelo resolve — disse.

Rita gemeu irritada com a facilidade que Bruce tinha de naturalizar coisas que
poderiam ter tirado sua vida.

Tentou descer e para buscar gelo. Ele a segurou, impedindo que se movesse.

— Estou bem e você não vai a lugar nenhum — garantiu.

— Bruce...

— Eu quero muito te tirar destas roupas e tê-la totalmente para mim — disse
rouco.

Rita ia protestar novamente, mas Bruce foi mais rápido. Ele a calou com sua
boca e a distraiu com suas carícias. Não deu oportunidade para que Rita
pensasse mais, soltou o sutiã que usava e arrancou a saia do corpo dela.

A boca dele era exigente e não permitia que Rita raciocinasse com clareza.
Bruce rasgou a calcinha que ela usava fazendo-a ofegar em sua boca. Seus
lábios desceram devagar pelo pescoço dela até encontrar seu seio. Enquanto
provava dela, abriu seu cinto e tirou o resto de suas roupas, deliciou com seus
suaves gemidos. As pernas de Rita enlaçaram sua cintura nua e ele a carregou
para dentro do boxe sem afastar sua boca da pele dela.

Com as costas prensada na parede gelada, Rita sentiu a água morna descer
pelo seu corpo. Bruce moveu de leve o quadril fazendo sua dura ereção esfregar
no ponto mais sensível de Rita.

Ela gemeu alto incendiada por um prazer alucinante, que há muito tempo não
sentia. Suas reações aos movimentos dele só o incentivou a fazer de novo e de
novo, até que Rita não suportou e entregou a ele o seu ápice.

Seu mundo parou enquanto sentia o prazer atravessar seu corpo como um
choque alcançando cada célula. Tornando respirar difícil com o mar de
sensações que a afogava em deleite.

Abriu os olhos e encontrou Bruce a encarando. Os seus olhos verdes cinzentos


brilhavam em paixão e satisfação ao mesmo tempo, deixando Rita presa pela
intensidade que eles transmitiam.

— Você é minha.

A voz rouca de Bruce fez arrepios se espalharem por sua pele.


Ele levantou uma mão e fez um carinho na bochecha de Rita, antes de segurar
seu rosto.

— Eu te protegerei sempre, nada vai acontecer a você ou a Josh, mesmo que


custe minha vida — prometeu. — Nada irá te machucar, Rita, nada. Nem mesmo
eu — garantiu. – Nunca mais irá sentir a brutalidade que há dentro de mim —
jurou.

Rita sentiu os olhos lacrimejarem ao detectar verdade em cada palavra em que


Bruce disse. Seus olhos brilhavam cheios de sentimentos sinceros.

— Bruce...

— Ter-lhe presa aqueles dias foi mais difícil para mim do que imagina —
sussurrou para ela. — Preferia que me odiasse pela vida inteira do que ver você
quebrada, tanto fisicamente quanto mentalmente... E isto aconteceria se eu
tivesse permitido que outro homem a interrogasse.

Ele se calou e lágrimas desceram pelo rosto de Rita, se misturando com a água
do chuveiro. Ela sabia que eles conversariam sobre aquele dia, mas não
imaginou que seria ali e agora. Entretanto, não podia pará-lo, precisava ouvi-lo
e entender os seus motivos.

— Todas as noites ainda sonho com você — disse baixo. — Ainda escuto você
me dizendo “Bruce, por favor, eu estou com medo” — sussurrou. — Acredito que
não entenderia o quanto quis ir até você, pegá-la nos meus braços e te dizer que
ia ficar tudo bem.

Rita soluçou e ele acariciou seu rosto, em um gesto delicado e atencioso.

— Não tive uma única noite de paz desde então, ainda te escuto me pedindo
para não machucá-la — disse cheio de pesar. — Vejo em meus sonhos suas
lágrimas, suas expressões de dor e pânico, seu corpo tremer de frio ou de
choque... Doeu mais em mim em torturá-la.

— Sei que poderia ter sido muito pior. — Rita disse tentando fazê-lo se sentir
melhor.

— Sim, muito pior do que pode imaginar — afirmou. — Não sou um bom homem
e já fiz coisas que te enjoariam o estômago se soubesse. Costumo não ter
piedade ou compaixão, e às vezes acredito que não existe mais humanidade
dentro de mim — disse. — Mas você alcançou algo em mim que eu pensei que
tivesse morrido há muito tempo.

— Que lugar? — Ela sussurrou sabendo da resposta.

Rita ainda se lembrava de cada momento no cativeiro, assim como Bruce.


“— Bruce, você alcançou um lugar em mim que eu achei que tinha morrido há
muito tempo.

— Que lugar?

— Meu coração, você o alcançou com seu jeito silencioso e mal-humorado. Em


pensar que eu o permiti entrar... não deveria ter deixado... você o quebrou...”.

As palavras estavam tão vivas em sua mente que parecia estar revivendo, a dor
da mágoa naquela época era tão difícil de suportar que tornou impossível
esquecer.

— Meu coração.

Bruce sussurrou fazendo outro soluço sair dos lábios de Rita, ela acreditava na
sinceridade de cada palavra que dizia.

— Você o alcançou e o reviveu com seu jeito alegre e falador — disse com um
leve sorriso. — E ele se quebrou junto com o seu naqueles dias em que passou
como minha prisioneira. — tristeza passou por seus olhos. — Senti cada dor e
mágoa que sentiu, porque meu coração já pertencia a você.

— Bruce...

— Eu me apaixonei por você, Rita — admitiu. — Você pode nunca me perdoar


pelo que fiz a você ou até mesmo me odiar pelo resto da vida, mas nada vai
mudar o que sinto — disse com pesar. — Perdoa-me? Deixe-me lhe mostrar que
posso te fazer feliz? — implorou com suavidade. — Que posso te proteger. Que
posso te amar.

Eles ficaram em silêncio por um longo tempo sobre o barulho da água chocando
contra os dois. Rita ainda não sabia o que dizer com tudo o que ouviu e Bruce
esperava pela rejeição, sabendo que era merecido se ela não o quisesse nunca
mais.
CAPÍTULO DEZENOVE

Rita o olhou emocionada, ergueu sua mão e tocou o rosto de Bruce com carinho.
Sinceridade ainda brilhava nos olhos dele e ela nunca poderia dizer que não
acreditava em suas palavras. Aquele conversa lhe mostrou que Bruce veio para
lhe erguer das cinzas. Veio tirá-la da solidão. Ser seu porto seguro. Sua força. E
por mais que o caminho não tenha sido fácil, era o momento de receber o que
tanto precisava.

Amor. Cuidado. Aconchego.

Sem poder suportar o silêncio entre eles, Rita abriu um grande sorriso, Bruce a
observava atentamente e pareceu levemente confuso com sua reação.

— Você nunca foi tão falador assim — brincou e ele sorriu de leve.

— Sou somente para você — afirmou ainda com os lábios curvamos.

— Eu acredito em sua sinceridade, Bruce, e eu o perdoo, vamos esquecer


aqueles dias de merda e seguir em frente. — Rita disse.

— Você tem certeza que...

Rita o interrompeu.

— Eu quero que você me beije e depois me leve para cama...

Antes que terminasse de falar, Bruce já tinha atacado sua boca com a dele e ela
retribuiu com a mesma intensidade.

Não havia nada que pudesse afastá-los naquele momento.

Bruce não deixaria que Rita se arrependesse de sua decisão, ou melhor, de seu
pedido. Ele fechou a água do chuveiro e a carregou para fora. Somente parou
diante do armário do banheiro, afastou de sua boca e se esticou para pegar
algumas toalhas.

Caminhou para o quarto com ela em seus braços e antes de deitá-la sobre a
cama, Bruce forrou o local com as toalhas para que eles não a encharcassem.
Devagar a deitou sobre o colchão, sem desviar seus olhos dos dela, e a cobriu
com seu corpo.

Palavras não eram mais necessárias.

Desculpas não haviam mais sentido.

E o perdão tinha sido dado.


Bruce venerou Rita com sua boca, beijou e mordiscou cada pedaço de pele que
encontrou em sua frente. Fez com que ela se perdesse no mar de sensações
prazerosas. Usou todas suas armas, enlouquecendo-a aos poucos e se
perdendo junto.

Conheceu a definição de céu depois que deslizou para dentro dela, claro,
devidamente protegido com um preservativo. Inicialmente devagar e lento, mas
ao senti-la se apertar ao seu redor, Bruce acabou empalando Rita em uma única
estocada dura. Em resposta ganhou um gemido alto.

Merda. Amaldiçoou Bruce em pensamentos quando percebeu que não


conseguiria fazer amor com ela, acabaria fodendo rápido e duro.

Ele ainda estava de joelhos, encaixado até o eixo dentro dela quando a viu
arquear as costas empinando os seios e o enlaçando com suas pernas.

— Mova-se, Bruce, por favor.

Ele fechou sua expressão quando ela o comprimiu em seu interior.

— Isto não vai durar se continuar me apertando assim, porra.

Rita se apoiou nos cotovelos e levantou a cabeça olhando para Bruce.

— Duro e rápido — ordenou. — Agora, Bruce!

Ele estreitou os olhos para ela.

Sorriu de leve quando puxou o quadril e o investiu com força, fazendo-a jogar a
cabeça para trás e gemer alto. Então ele fez de novo, puxou devagar e voltou
duro para dentro dela. E de novo.

Quando deu por si, já estava em um ritmo frenético em busca do prazer para
ambos.

O ar faltava.

O corpo necessitava.

A pele se arrepiava.

E o prazer os atravessou, Rita arfou alto quando foi tomada por um forte orgasmo
e Bruce gemeu rouco quando gozou.

As sensações eram como as ondas do mar em um dia de tempestade, levando-


os para outro lugar com a emoção agradável que os ligava naquele instante tão
íntimo.

Ele caiu por cima dela e a beijou ternamente, sem fôlego.


— Você é minha — murmurou convicto.

— Você é meu. — Ela rebateu e ele sorriu.

— Só seu.

O celular de Bruce começou a tocar de dentro do banheiro e ele acabou


suspirando sabendo que o trabalho o esperava.

— Preciso atender — resmungou agora mal-humorado.

— Tudo bem.

Bruce voltou a beijá-la antes de sair da cama. Caminhou em passos apressados


para o banheiro onde encontrou o aparelho, ainda vibrando no meio de suas
roupas descartadas no chão.

— Chefe.

Bruce disse assim que atendeu.

— Que porra de demora, Bruce. — Adônis gritou do outro lado.

Bruce se manteve em silêncio esperando pelo que seu chefe queria.

— Como Rita está? — Adônis perguntou um minuto depois, parecendo mais


calmo.

Bruce não se importava, Adônis era como uma bomba perto de explodir. Gritava
quando não conseguia se conter, mas recuperava rápido seu controle.

— O choque inicial passou e agora está bem.

— Bom — disse. — Traga Ettore para mim, cansei dessa brincadeira de gato e
rato.

— Vou rastreá-lo em um minuto.

Bruce tirou a camisinha e a jogou no lixo.

— Bom trabalho hoje.

Lavou as mãos e pegou a calça no chão.

— Não podia deixar que a machucassem. — Bruce murmurou e puxou a calça


social por suas pernas.

— Porque não matou Alessio no elevador? — Adônis questionou.

— Não faria isto na frente dela e ele parecia desesperado por causa da família
— explicou.
— Traga Ettore para mim. — Adônis ordenou e desligou.

Bruce queria suspirar sabendo que Ettore estaria escondido em algum buraco
agora.

...

Rita ainda estava extasiada com a calmaria em seu corpo depois do sexo incrível
com Bruce. Nunca poderia imaginar que seria daquela forma, mas não desejou
que fosse diferente. Também não imaginou que sentia tanta falta de um corpo
masculino contra o dela. Ele havia a levado ao céu em segundos. Era uma
viagem sem volta. E ela não queria retornar nunca mais. Acreditava em cada
palavra que ele lhe disse. Sabia que Bruce não era homem de palavras, sempre
foi calado e mal-humorado. Ela jamais se esqueceria da postura dura e
expressão fria de seu rosto todas as vezes que o encontrava na empresa.
Algumas vezes ele mal a respondia quando o cumprimentava, poderia contar
nos dedos quantas ocasiões ela o ouvir falar. Sempre muito fechado.

E foi isto que chamou sua atenção.

Seus pensamentos fugiram quando o viu sair do banheiro vestido somente com
a calça que usava mais cedo e parecia tenso.

— Bruce? — questionou.

— Vou ao carro buscar uma muda de roupas que tenho lá e pegar meu notebook,
volto em alguns minutos.

Seu tom de voz foi duro, não duro com ela, mas duro com sua tensão que estava
sobre os ombros dele.

— Está com fome? — perguntou.

Queria agradá-lo.

— Um pouco — resmungou.

— Vou preparar algo para comermos enquanto trabalha.

Bruce acenou concordando e saiu do quarto. Apesar de querer não demonstrar,


Rita sabia que ele estava bravo com alguma coisa que ouviu em seu telefonema.
Rita se levantou e tomou um banho rápido para tirar o suor do corpo e terminar
o que tinha começado com Bruce. Foi para o seu closet e colocou um vestido
solto de verão, alças finas e tecido leve de cor azul.

Desceu as escadas no exato momento em que ele voltou para dentro ainda
tenso. Rita passou direto, sabia que não deveria perguntar desde que não teria
uma resposta. Ele tinha dito a ela quando a tirou do cativeiro que perguntas sobre
as coisas que a máfia fazia ou acontecia, não deveriam ser feitas.
Passou para cozinha e começou a preparar um almoço para os dois. Sentiu ele
se aproximar enquanto trabalhava em dourar alguns bifes de frango.

Rita se virou para vê-lo e o encontrou escorado na parede com os braços


cruzados sobre o peito. Bruce tinha trocado de roupa, agora usava jeans e uma
camiseta preta. Parecia ainda mais bonito do que o normal, em seu estilo casual.

— Organizei a bagunça que fizemos no seu banheiro — disse baixo.

Ela acenou concordando.

— Cuidou dos seus machucados? — questionou.

— Não, estou bem...

— Sente-se aqui que eu vou fazer um curativo nesse ferimento em seu braço.

Ela desligou o fogo e voltou sua atenção para Bruce. Era claro que ele pensou
em protestar, mas ao ver o olhar dela, o desafiando a dizer alguma coisa, acabou
cedendo. Queria sorrir, porém, também não se atreveu.

Rita buscou a caixa de primeiro socorros e se sentou na frente de Bruce.

— Tire a camisa — ordenou.

Ele não protestou, estava gostando da atenção que recebia. O ferimento no


braço realmente não era nada grave, parecia um arranhão profundo. Não
precisaria de pontos e Rita ficou aliviada ao perceber isto. Limpou e cobriu o
machucado sem que ele demonstrasse nenhuma careta de dor.

Ela olhou os roxos em seu peito e queixo. Suspirou sabendo que se ele não
tivesse colocado o colete a prova de balas ainda no carro, Bruce estaria morto
naquele momento. Sentiu-se agradecida por ele ser paranoico com a segurança.

— Isto doeu? — sussurrou preocupada.

Passou os dedos de leve por cima das marcas.

— Como um inferno — respondeu fazendo que ela o olhasse nos olhos.

— Você está mesmo bem?

— Sim, querida, eu estou bem. — garantiu. — Não é a primeira vez que isto
acontece e na hora estava com tanta raiva, que mal me importei.

Rita acenou concordando e pegou um gel de massagem para dores musculares.


O gel tinha um ótimo anti-inflamatório e ajudaria a aliviar a dor que ele deveria
estar sentindo, mas era orgulhoso demais para admitir. Passou o gel gelado na
pele dele e esfregou devagar tomando cuidado para não causar mais dor.
Bruce levantou o queixo dela com as pontas de seus dedos e a beijou devagar,
fazendo Rita parar de espalhar o gel.

Seu mundo parou e um frio se instalou em sua barriga.

Parecia que todas as vezes em que a beijava isto acontecia, mas a mágica entre
eles foi cortada quando o celular de Bruce começou a tocar novamente.

Bruce se afastou e sorriu de leve para Rita, antes de puxar o celular do bolso
para atender.

— Diga... Quando? ... Vamos fechar o circo para ele do mesmo jeito de sempre...
Qualquer coisa é só me chamar.

Assim que desligou, ela estreitou os olhos para Bruce.

— Está indo atrás de Ettore. — Rita afirmou.

— Sim — confirmou.

Não havia motivos para negar.

— O que significa fechar o circo? — questionou curiosa.

— Deixá-lo sem alternativas. — respondeu calmo.

— E isto envolve?

— Rita. — Bruce disse em tom de aviso.

— É uma merda ser curiosa. — Ela murmurou agora mal-humorada.

Bruce a puxou para seu colo, sorrindo, gostando da paz que estava entre eles.

— Sabe que não deve me fazer perguntas — disse.

Rita bufou inconformada.

— E além do mais, acredito que não gostaria de ouvir do que somos capazes de
fazer para pegar um inimigo.

Rita ponderou sobre o que Bruce disse e resolveu deixar aquilo para lá, ela
realmente não queria saber. Temia ter pesadelos pelo resto da vida se ouvisse
do que eles são capazes, já bastava a quantidade de corpo que viu hoje.

— O que vai acontecer com Alessio? — perguntou lembrando-se do homem.

— Ainda não sei, mas não deve ser nada legal.

— Mas ele foi chantageado — protestou.

— Ele traiu Adônis, não à volta para a traição.


— Ele é uma boa pessoa...

Bruce a interrompeu com um olhar duro.

— Eu não tenho poder sobre isto Rita. — disse sério. — Ele sabia que caso
acontecesse algo do tipo, deveria nos procurar. Estava em uma das clausuras
do contrato em que assinou — avisou calmo. — É uma forma de informar aos
funcionários que eles correm o risco de que algo assim aconteça. Então,
deveriam entrar em contato com a segurança dos Albertini imediatamente.

— O cara estava desesperado, nesta hora não se pensa...

— Já aconteceu antes, de um funcionário ter a família sequestrada, mas o cara


foi inteligente em nos procurar e pedir ajuda como dizia no contrato de
confidencialidade — contou. — Resgatamos a família dele sem que
descobrissem da máfia e até hoje ele faz parte do quadro de funcionários.

— Alessio não deve ter pensado direito nas coisas, se algo acontecesse com
Josh eu ficaria desnorteada. — Rita disse.

— O destino dele está nas mãos de Adônis.

— Acha que vai matá-lo? — perguntou.

— É o mais provável. — não mentiu.

Rita estremeceu lembrando que Adônis não tinha hesitado em apertar o gatilho
contra o homem que a atacava, mesmo a salvando, Rita não podia esquecer a
frieza do ato.

— Adônis e Apolo não perdoam traidores. — Bruce murmurou e abraçou Rita na


tentativa de confortá-la. — Não fique assim, está bem?

Ela não o respondeu, sentia-se tensa.

Erguendo o rosto dela, Bruce a beijou, calmo e lento. Rita suspirou retribuindo o
beijo e esquecendo de toda aquela conversa que estavam tendo.

Sem querer se conter, ele aprofundou o beijo a dominando.

Afastou sua boca da dela e ficou orgulhoso em como Rita estava ofegante. Com
uma força quase que sobrenatural, a levantou de seu colo e depois a colocou de
novo, mas desta vez com as pernas separadas, uma em cada lado de sua
cintura. Segurou sua cintura e a puxou mais contra seu corpo, pressionando sua
ereção no ponto mais sensível dela. Rita gemeu com a sensação e quase
enlouqueceu Bruce com o som. Ela agarrou a camisa que ele usava e puxou por
cima de sua cabeça, a jogou no chão logo em seguida. Depois o abraçou,
fazendo com que suas mãos descessem pelas costas quente e musculosa de
Bruce, descobrindo-o com os dedos.
Ele puxou seu vestido para cima e Rita precisou largá-lo para que se livrassem
da peça de roupa.

— Você é tão linda. — Bruce murmurou hipnotizado com a beleza da mulher em


seus braços.

Os cabelos dela que estavam presos em um coque preso no alto de sua cabeça,
se desfez e caiu sobre o ombro e rosto de Rita, deixando Bruce congelado com
a beleza daquele simples movimento.

Rita empurrou o quadril para frente e os dois gemeram com a sensação de


prazer pelo contato. Bruce acabou saindo do seu estado de choque e encaixou
seus dedos nos cabelos castanhos de Rita o tirando do rosto dela, e a puxando
para um beijo.

Eles arderam em desejo quando o beijo se tornou dominante e desesperado ao


mesmo tempo. A outra mão de Bruce largou a cintura de Rita e se encaixou no
meio das pernas dela, rasgou o frágil tecido de renda que ela usava. Seus dedos
deslizaram com facilidade para dentro de Rita que prendeu o ar se deliciando
com as sensações.

Bruce irá me enlouquecer. Pensou Rita.

A boca dele encontrou os seus seios, deu atenção a cada um deles com seus
beijos e sugadas fortes. Rita sentiu-se pronta para desmaiar com tanto prazer.
Era como se seus seios tivessem ligação direta com seu clitóris. Seu corpo fervia
em uma paixão descontrolada. A leve mordida de Bruce em seu mamilo fez com
que Rita jogasse a cabeça para trás quando um gemido alto escapou de seus
lábios. Ele encurvou os dedos dentro dela alcançando um ponto muito sensível,
trazendo um arrepio pela pele dela com o prazer atravessando seu corpo. Bruce
mudou a boca para o outro seio e depois de sugá-lo, mordeu a ponta.

Aquele foi o ponto de ruptura de Rita, outro gemido alto escapou de seus lábios
quando o orgasmo veio forte e sem barreiras, assim como uma represa com
suas comportas abertas.

Bruce a segurou firme em seus braços enquanto assistia Rita se perder em


prazer. Ele sentia-se tão duro em vê-la, que chegou ao ponto de dor. Quando
ela voltou seu olhar para ele, seu ego masculino foi nas alturas ao ver a pura
satisfação brilhar em seus olhos nublados.

Rita sorriu e deitou sua cabeça no ombro dele.

Bruce a segurou ali, aliviado por enfim tê-la para si. Ele nunca imaginou que se
sentiria assim, tão leve e sem aquele vazio que a frieza trazia.

Sentiu as mãos de Rita abrirem seu jeans e ele a ajudou puxar um pouco para
baixo junto com a box que usava. Estremeceu quando ela agarrou sua carne
extremamente dura e dolorida. A maciez de sua palma desceu e subiu em sua
pele. Desejou por mais dela. Enfiou a mão no bolso e pegou uma camisinha, que
tinha conseguido em seu carro quando foi buscar sua muda de roupas. Por sorte
encontrou uma no porta-luvas.

Rasgando a embalagem, deslizou o látex sobre sua ereção. Agarrou a cintura


de Rita a levantando e a desceu sobre si, preenchendo-a com todo seu prazer.
Os dois gemeram juntos quando ele estava todo enterrado dentro dela.

— Nunca vou me acostumar com o quão boa é você, puta merda. — Ele
murmurou.

Rita o beijou.

Ela subiu e desceu sobre Bruce com sua ajuda, porém, ele precisava de mais.
Levantou-se a carregando sem desgrudar suas bocas. Colocou Rita sentada
sobre a mesa e começou a balançar contra ela, duro e forte sem poder e nem
querer se conter.

Ela arrastou sua boca longe da dele para poder respirar, mas acabou ofegando
com o prazer que Bruce a proporcionava.

O celular dele tocou novamente e Rita o viu ficar com raiva.

— Celular do caralho — praguejou.

— Bruce.

Rita gemeu seu nome enquanto ouvia o celular tocar insistentemente. Ela o ouviu
resmungar alguma maldição, mas não parou, ignorou totalmente a chamada e
só existiam os dois naquele momento. Nada mais importava. A fez se sentir mais
importante, mais venerada, pelo simples fato de ignorar suas chamadas para dar
a ela toda atenção que precisava.

Rita ficou ainda mais excitada ao ver a figura máscula que Bruce ostentava. O
olhar quente. A boca avermelhada, dos beijos que trocaram. A expressão dura
com o maxilar trincado. A fina camada de suor que cobria sua pele rígida e
musculosa.

Nada nele era pouco para os seus olhos.

Ela escorou os braços na mesa e ele segurou a tampa de vidro com força,
fazendo os músculos de seus braços saltarem enquanto chocava contra ela.

Duro e rápido.

— Rita.
Ele rosnou seu nome mostrando que não ia durar muito mais tempo e ela sentia
a mesma coisa sobre si. Jogando a cabeça para trás, Rita sentiu o prazer
atravessar seu corpo mais uma vez naquele dia.

O gemido que escapou dos seus lábios agora, foi tão alto quanto poderia. Com
mais duas ou três balançadas contra ela, Rita escutou o rouco gemido de Bruce.
Olhou em seu rosto enquanto ele se derramava e viu-se perdida na intensidade
que seus olhos transmitiam.
CAPÍTULO VINTE

Quando enfim recuperaram o ar, foi preciso mais um banho. Desta vez, Rita foi
primeiro. Enquanto Bruce ficou no celular rosnando e latindo ordens para a
pessoa do outro lado da linha. Parecia que cada vez que ele atendia o celular
ficava ainda mais irritado com as informações que ouvia.

Ela se banhou e voltou para a cozinha quase que correndo, estava faminta e
depois de todo aquele sexo, quase selvagem, precisava repor suas energias.

Preparou salada, bifes de frango e molho para acompanhar.

Bruce voltou para a cozinha e juntos eles comeram. Ele até tentou ignorar o
celular algumas vezes, mas parecia ser impossível. Depois de deixar a cozinha
limpa, Rita foi atrás de Bruce e o encontrou na sala com o notebook no colo e o
celular preso entre o ombro e o ouvido.

— Me mantenha informado, vamos fazer a varredura assim que anoitecer —


ordenou.

Ele desligou e ela se deitou no sofá ao seu lado.

— Você parece cansada — disse e ela bocejou.

— Estou um pouco — respondeu.

Rita ligou a TV com o volume bem baixo, para não incomodá-lo, e ficou quieta
ali perto dele até que adormeceu. Acordou três horas depois arfando com o
pesadelo dos piores momentos do seu dia em seus sonhos. Bruce a abraçou e
com toda calma, que ela não sabia que ele tinha, esperou que ela voltasse a se
tranquilizar prometendo que ninguém iria machucá-la.

Acreditava nele.

O que ela viu Bruce fazer naquela construção para protegê-la não deixava
espaço para dúvidas.

Ela voltou a cochilar no sofá com a cabeça na perna de Bruce, por mais meia
hora, antes de se levantar e ir se arrumar para irem buscar Josh na escola. Vestiu
uma calça jeans preta e apertada, nos pés colocou um tênis branco casual.
Camiseta preta e jaqueta por cima. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto
e passou o batom rosa nos lábios.

Quando voltou para a sala encontrou Bruce arrumado e ele tinha até mesmo
organizado a sala, e estava observando algumas fotos na estante. Ela parou ao
lado dele e viu que seu olhar estava focado na foto dela com Rodrigo, seu
falecido marido, e Josh.
— Ele é a cópia do pai. — Bruce murmurou.

— Sim, a cópia idêntica do pai — disse melancólica.

Bruce desviou o olhar da foto e focou sua atenção em Rita.

— Sente falta dele — afirmou.

— Todos os dias — afirmou e ele ficou um pouco tenso.

Rita sorriu e pegou a mão de Bruce.

— Rodrigo fez grande parte da minha vida e nunca vai ser esquecido, Bruce —
disse baixo. — Já aceitei a morte dele, mas isto não significa que eu deixei de
amá-lo. No entanto, não diz que os meus sentimentos por você não são sinceros
— explicou. — Ele faz parte do meu passado, passado que não deve ser
esquecido, e você está fazendo parte do meu presente — sorriu para ele. —
Presente que deve ser vivido e sentido.

— Entendo — murmurou e segurou o rosto dela. — Se ainda há um espaço para


mim em seu coração, posso viver com isto.

— Você é incrível — disse.

— Pronta? — perguntou se aproximando.

— Sim.

— Linda. — Ele sussurrou antes de beijá-la.

Rita abraçou o pescoço de Bruce e retribuiu o calmo beijo dele.

Quando se afastaram, ela sorriu e de mãos dadas caminharam para fora da


casa. Bruce abriu a porta do carro para Rita e depois deu a volta. Colocou o carro
em movimento e em um silêncio confortável foram até a escola de Josh.

— Acho que chegamos cedo. — Bruce disse enquanto estacionava na porta da


escola.

— Vinte minutos mais cedo — respondeu olhando o delicado relógio em seu


pulso. — Vamos entrar, hoje é dia de treino.

— Tudo bem.

Saíram do carro e o porteiro liberou a entrada deles. Bruce ficou o tempo todo
segurando a cintura de Rita enquanto iam para a quadra de esportes da escola.

Se sentaram na arquibancada e Rita sorriu ao ver Josh correr chutando a bola.


Ele desviou de dois colegas e então fez o gol. Não aguentando se segurar ela
levou dois dedos na boca e assoviou alto assustando Bruce, por não estar
esperando tal coisa.

Josh olhou na direção dela reconhecendo o assovio e sorriu.

— Isto aí, filho! — gritou e ele balançou a cabeça sorrindo.

— Você assovia igual um moleque de rua. — Bruce murmurou.

Rita riu.

— Já me disseram isto.

— Quase estourou meus tímpanos — acusou.

— Seus tímpanos são blindados, Bruce, depois de aguentar todo aquele barulho
pela manhã um assovio não é nada.

Ele murmurou alguma coisa que ela não entendeu e eles voltaram sua atenção
para o final do jogo.

— O garoto é bom. — Ele disse.

— É meu filho — respondeu presunçosa.

Bruce sorriu da forma orgulhosa que Rita disse.

— Rita, você por aqui?

Ela levantou seus olhos e encontrou Talita Agnelli vindo em sua direção. Rita
queria bufar, aquela mulher a irritava em níveis assassinos. Sentiu todo seu bom
humor escorrer pelos dedos, sabendo que ela não desistiria tão fácil.

— Como vai, Talita? — perguntou sendo educada, mesmo desejando que


tropeçasse nos saltos e quebrasse o tornozelo.

— Estou ótima como sempre, novamente acompanhada.

Ela disse se referindo a Bruce.

Rita somente a olhou com impaciência.

— Fiquei sabendo que seu filho corre risco de deixar o time por causa da briga
na escola, deveria educá-lo melhor.

Rita estava calada, somente ouvindo.

Raiva borbulhou em seu sangue, fechou suas mãos em punhos.

— Afinal, não podemos correr o risco de Joshua saia por aí socando quem bem
entender.
Bruce sentiu Rita tremer de raiva.

Ele mesmo estava com raiva, queria poder calá-la de um jeito doloroso, por estar
tentando ferir sua Rita.

— Se fosse meu filho a ser machucado, por um selvagem como o seu, eu teria
te processado — provocou. — Talvez o fato de ser mãe solteira faça você falhar
na educação do garoto, o pai dele deve estar decepcionado...

Aquele foi o estopim para Rita.

Se levantou em um movimento rápido, bufando de raiva, e só não foi para cima


da mulher porque Bruce segurou seu ombro.

— Não fale do meu filho e nem da memória do meu marido — rosnou furiosa. —
Ou vai sair daqui direto para um hospital.

A mulher ficou chocada com a reação de Rita, mas se recuperou rápido.

— Esse comportamento selvagem de Joshua vem de você, olhe só como está


me ameaçando! — exclamou.

— Cale sua boca, Talita, ou eu não sei do que sou capaz para defender meu
filho.

— Mãe, pare com isto.

Um garoto ao lado chamou atenção de Rita, era Daniel, filho da mulher a sua
frente e ao lado dele estava Josh com os olhos arregalados.

— Saia da minha frente antes que eu te bata na frente do seu filho — ameaçou.

— Você não ousaria encostar um dedo...

— Você não me conhece e não sabe do que sou capaz para defender o meu
filho e o meu marido.

— Seu marido morto — provocou venenosa.

Rita deu um passo à frente e Bruce a segurou novamente.

— Senhora Agnelli, se não calar sua boca eu serei obrigado a lhe ensinar boas
maneiras. — Bruce disse friamente conseguindo a atenção de todos. — Eu não
vou permitir que continue a perturbar minha Rita e Josh com suas palavras
venenosas.

— Não me ameace...
— Não mexa com eles e tenha pelo menos um pouco de respeito pela dor deles
e não coloque Rodrigo no meio da conversa — disse em um tom
assustadoramente calmo.

Bruce puxou Rita para trás do seu corpo e olhou fixamente para a mulher.

— Eu não sou um homem de ameaças ou promessas vazias, então, acho bom


não testar para saber do que sou capaz — disse agora duramente. — Com um
único telefonema, eu tenho sua vida inteira em minhas mãos.

A mulher ficou pálida e deu um passo para trás, conseguindo a atenção do


mafioso em Bruce. Ele estendeu a mão e pegou Josh, o colocou atrás do seu
corpo e encarou a mulher.

— É a última vez que perturba Rita com suas palavras cruéis, ou terei a certeza
de que nunca mais sairá por aí esbanjando dinheiro e arrogância — ameaçou.

Talita tremeu com a voz calma e fria de Bruce, agarrou seu filho pelo ombro e
saiu rápido sem ao menos olhar para trás.

— Que merda está acontecendo aqui? — Josh perguntou.

— Nada. — Rita disse.

— Bruce ameaçou a mãe do meu colega. — Josh protestou curioso.

Bruce se segurou para não ficar tenso.

— Era só um susto, para ela aprender que sua mãe tem alguém para defendê-
la. — Bruce afirmou.

— Ela estava falando de mim e do meu pai, não é? — questionou e seu rosto foi
ficando vermelho.

— Sim. — Rita respondeu ainda tremendo em fúria.

— Que bom que estava com Bruce, não quero ninguém magoando minha mãe.
— Josh disse e abraçou Rita.

— Não me agradeça por isto. — Bruce disse aliviado pelo garoto não ter ficado
assustado com o que presenciou.

— Vamos embora. — Rita pediu.

— Preciso de um banho primeiro. — Josh disse e Rita negou.

— Não hoje, vamos para casa, não quero ficar mais um segundo nesse lugar. —
Ela disse.
— Vai ter que aguentar meu cheiro de macho até em casa. — Josh brincou e
Rita sorriu.

Ela beijou seu rosto e o olhou emocionada.

— Por você, querido, eu aguento qualquer coisa, mesmo que talvez eu queira
derrubar seu traseiro em uma banheira quente — disse amorosa.

Eles sorriram e começaram a caminhar para fora da quadra. Josh pegou sua
mochila em um canto e reparou o queixo roxo e as mãos feridas de Bruce.

— Mama?

— Sim.

— Deve ensinar Bruce aquela coisa sobre violência — brincou e Bruce sorriu.

— Também estou achando, querido. — Rita respondeu rindo.

— O que aconteceu, Bruce?

— Bati em alguns idiotas — respondeu.

— Alguns? — questionou.

— Sim.

— E onde eles estão agora? — Josh perguntou curioso.

— Enterrados em algum lugar. — Bruce respondeu.

Rita ficou tensa e Josh gargalhou achando que ele estava brincando.

— Quero algumas aulas de luta — pediu.

— Nem pensar, garoto. — Rita falou e ele revirou os olhos para mãe antes de
entrar no carro.

Bruce sorriu para ela e abriu a porta.

— Nem pense nisto, Bruce, violência não se resolve nada.

— Não disse nada, querida — respondeu e abaixou a voz. — Não se esqueça


que eu salvei seu bonito traseiro com meus punhos hoje.

Ela entrou no carro sem responder, sabia que era verdade o que ele disse, mas
não gostava de se render tão fácil assim.

Bruce colocou o carro em movimento e Josh chamou sua atenção.

— Quantos Bruce? — perguntou.


— Uns cinco, talvez.

Respondeu sabendo que se referia à quantidade de oponentes.

— E você ainda está vivo, que legal! — exclamou.

— Nada legal. — Rita resmungou.

— Vivo e pronto pra outra. — Bruce disse.

— Qual era o motivo da briga?

— Sabe que eu sou o chefe de segurança, não é mesmo? — questionou.

— Sim. — Josh respondeu curioso.

— Caímos em uma emboscada e eu não tinha muitas balas para resolver o


problema — deu de ombros. — Então, acabei optando pela luta corporal.

— Wow! — exclamou. — Conte-me mais, quantos seguranças estavam com


você?

— Mais cinco no andar de baixo e eu estava sozinho com a pessoa que tinha
que proteger — respondeu. — Foi bom socar algumas pessoas.

— Bruce, não o incentive. — Rita protestou.

Ele olhou para o retrovisor e encontrou o olhar de Josh.

— Escute sua mãe sobre aquela coisa de violência — brincou e Josh sorriu.

— Vocês dois estão diferentes — observou Josh mudando o assunto.

— Diferente como? — Rita perguntou.

Josh pareceu pensar um pouco no que iria dizer, até que soltou o que veio à
mente.

— Estão se pegando, não é mesmo? — Ele perguntou e gargalhou depois.

— Joshua! — Rita o repreendeu chocada.

— Mama, confesse logo, já te disse que vejo mais do que imagina — disse
sorrindo.

— Estamos sim. — Bruce afirmou. — Na verdade gostaria de namorar sua mãe,


mas vejo que você não se importaria.

— Bruce! — exclamou Rita.

— Ela é muito teimosa. – Bruce disse e deu de ombros fazendo Josh rir.
— Ela é! — Ele afirmou.

— Pronto, isto é um complô! — Rita resmungou.

— Cuide dela, Bruce, e eu não vou me importar. — Josh disse.

— Sempre.

— Não a magoe. — Josh disse sem esconder que tinha uma ameaça atrás de
suas palavras.

— Nunca. — Bruce garantiu.

— E nem a machuque — completou.

— Daria minha vida pela dela — afirmou.

— Ainda estou aqui! — Rita disse irritada.

Mas ela não teve muita atenção, o celular de Bruce voltou a tocar e ele atendeu
rápido. Bruce não perdeu que todo bom humor de Josh se perdeu e que Rita
ficou tensa. Eles ainda tinham problemas com carro, mas não podia fazer nada,
precisava atender a chamada.

— Diga e seja rápido — falou para Malone do outro lado da linha.

— Temos dois parceiros dele.

— O que mais?

— Ele sumiu do mapa.

— Fodido do caralho — murmurou Bruce.

— Qual o próximo passo? — Malone questionou.

— Vou ter as respostas essa noite e esperar Adônis para uma reunião, ele dita
os passos.

— Bom, nos vemos depois — disse Malone. — Vou acompanhar Milena e


Raphael ao médico.

— Ele está bem?

Preocupou-se, Bruce gostava dos herdeiros e sempre zelava por eles.

— Sim — afirmou. — Milena está grávida novamente, vai fazer alguns exames
de sangue e Rapha tem uma consulta de rotina hoje. Vamos aproveitar para não
ter que retornar depois.

— Estarei de olho — informou.


— Eu sei que sim, qual foi a última vez que dormiu uma noite inteira? — Malone
questionou.

— Estou bem.

— Não foi isto que perguntei. — Malone protestou.

Bruce não rendeu o assunto, desligou a chamada e jogou o celular no painel. Ele
estava tenso novamente, mas Rita e Josh respeitaram o seu silêncio até que
estacionou na porta da casa de Rita.

— Valeu, Bruce. — Josh disse e desceu do carro sem esperar por resposta.

Bruce segurou o volante com força, estava com raiva por Ettore estar
escorregando por seus dedos.

Sabia que não seria fácil pegá-lo e isto o enfureceu.

Queria vingança por tudo o que estava fazendo Rita passar.

— Bruce?

A voz calma de Rita o fez respirar fundo, ele olhou para ela. Rita ficou em silêncio
ao detectar a fúria no olhar dele.

Bruce pegou o celular de novo e fez uma chamada rápida para Dânio.

— Tem cinco minutos para assumir seu posto.

Disse assim que o segurança atendeu sem lhe dar a oportunidade de falar algo
e desligou sem esperar por resposta.

— Você está com raiva. — Rita afirmou e ele manteve o silêncio. — Parece que
voltamos à estaca zero, pelo menos antes eu tinha respostas monossílabas,
agora eu só estou tendo o seu silêncio.

Soltando o ar pela boca e levou a mão ao rosto dela fazendo-lhe um carinho.

— Estou com raiva, mas não é de você — disse. — Só preciso resolver alguns
problemas.

— Ettore? — perguntou.

— Sim — afirmou.

— Sumiu no mapa, imagino — disse.

— Sim.

— Ter respostas essa noite, quer dizer que vai torturar alguém até a morte para
lhe dizer onde Ettore estar. — Ela afirmou.
Bruce ficou em silêncio e aquela foi à resposta que precisava, era sua
confirmação.

— Bruce...

— Não diga mais nada, por favor, é melhor não falarmos sobre isto — disse
baixo. — Não quero que se afaste de mim sabendo do que sou capaz de fazer.

— Tudo bem — suspirou. — Vem amanhã ou Dânio vai me levar ao trabalho?

— Estarei aqui no horário de sempre — garantiu.

Bruce desviou o olhar para o retrovisor, um carro tinha acabado de estacionar


atrás do seu Jeep. Ficou tenso esperando por problemas. Viu um homem sair de
dentro e olhar para casa de Rita. Segurou para não bufar de ira. Ele sabia quem
era, Dânio mandou fotos dele todas as vezes que vinha ver Rita e Josh.

Bruce mordeu a língua, estava com ciúmes e com raiva em ver aquele homem
ali novamente.

— O que foi...

Ela se calou e viu o que ele estava olhando.

— Está tudo bem, Bruce, este é Frank.

— Quem? — arqueou uma sobrancelha para Rita.

— Um amigo — respondeu.

— Amigo?

Bruce viu o homem caminhar para o portão.

— Sim, um amigo, por que está me olhando assim?

— Diga-me mais sobre ele — ordenou.

— Já disse que é um amigo, Bruce — revirou os olhos. — Ele era o melhor amigo
de Rodrigo e depois da morte dele, me ajudou muito.

— Ele te quer — afirmou Bruce sem olhar para Rita.

Ele continuava observando os passos do homem. Frank tocou a companhia e


esperou na porta.

— O quê? — estava chocada. — De onde tirou esse absurdo?

— Por que ele está aqui? — perguntou a ignorando.

— Não sei, deve ser alguma visita, sei lá.


Bruce viu Josh abrir a porta, sorrir e bater a mão na do homem em um
comprimento. Josh apontou para o carro mostrando onde a mãe dele estava e
percebeu a confusão no rosto do homem.

Ele voltou sua atenção para Rita que continuava o olhando em confusão.

— Você é minha Rita, minha.

O tom baixo de Bruce era ameaçador.

Rita não teve oportunidade de falar, Bruce a beijou firme e grosseiro impondo
sua possessividade sobre ela. Ele estava com ciúmes e queria mostrar para Rita
a quem ela pertencia.

Sua mão segurou a nuca dela com força, para que não se afastasse, enquanto
a beijava. Rita sentia-se sem fôlego, mas sabia que Bruce não estava disposto
a se afastar para que respirasse. Ele a sobrepujava com sua boca e sua língua
batalhada com a dela pelo domínio.

Quando enfim ele se afastou, Rita ofegou em busca de ar.

— Você é minha.

Ele rosnou e parecia com raiva.

— Bruce, ele não me quer.

Rita disse devagar e pausadamente na tentativa de acalmá-lo, mas não fez


nenhum efeito.

— Espero que você esteja certa, Rita, porque se ele encostar um dedo em você,
eu vou matá-lo.

A ameaça estava ali em seu tom frio e calmo, fazendo-a ficar rígida sabendo que
Bruce poderia matar Frank.

— Não se atreva, ouviu bem? — disse chocada. — Não se atreva a encostar um


dedo nele Bruce, porque aí sim não haverá perdão para você.

Ela abriu a porta do carro e foi rápida em sair para não dar a ele a oportunidade
de segurá-la. Antes de fechar a porta viu a frieza no rosto de Bruce e bateu a
porta sem lhe dar nenhum tchau.

Virou-se e marchou na direção de Frank e Josh.

Frank sorriu e lhe beijou o rosto. Josh a olhou atentamente percebendo que o
humor da mãe mudou e não comentou nada. Juntos entraram em casa e
deixaram Bruce do lado de fora ainda de vigia, enquanto aguardava Dânio
chegar.
CAPÍTULO VINTE E UM

Bruce tremia de raiva por ver Frank beijar o rosto de Rita e logo entrar para a
casa dela. Não conhecia o homem, mas isto não esfriava seu sangue assassino.
Mil e um modos de tortura e morte passavam em sua mente. Sentia-se afrontado
por ela e pelo homem, que segundo os pensamentos possessivos e ciumentos
de Bruce, queria sua mulher.

Ela ainda o protege. Pensou com raiva.

Sua atenção foi desviada quando Dânio estacionou do outro lado da rua. Ele
ligou o carro e saiu em direção ao depósito onde tinha dois prisioneiros
aguardando por ele.

Por todo o caminho ele ainda tremia de raiva por alguém ter tocado em Rita.
Bruce sabia que ela não saía por aí distribuindo beijos e como prova disto, ele
viu Frank beijar o rosto dela.

Ela nunca se aproximava primeiro e de certa forma seu orgulho masculino inflou
ao lembrar que ela nunca tinha beijado outro homem desde que perdeu o marido.
O único privilegiado foi ele e mesmo assim foi ele quem a atacou naquele
elevador. Esse pensamento o acalmou um pouco, mas não durou muito. Pois
ainda se lembrava de que ela tinha Frank dentro de sua casa. Sentiu-se bravo
por ver a ingenuidade dela em não perceber que o homem a queria.

Bruce estacionou e desceu, travou o carro e caminhou em passos duros para


dentro. Geralmente ele seria silencioso, mas sua raiva não permitia discrição.
Passando pelo local, foi direto para o porão e encontrou alguns de seus homens
pelo caminho.

Uma porta se fechou atrás dele garantindo que estavam sozinhos naquele porão.
Viu Roy sentado em um canto tomando uma cerveja e os dois prisioneiros
amarrados a um gancho no teto, seus pés mal tocavam o chão.

— Quer “uma” Bruce? — Roy perguntou levantando a garrafa.

Ele acenou e o homem lhe entregou uma completamente gelada, torceu a tampa
e bebeu a metade em um gole.

— Wow!

— Calado.

Bruce murmurou sua ordem e se sentou olhando para os dois homens


pendurados. A bebida gelada ajudou a esfriar o sangue dele um pouco.

— Me tirem daqui, porra!


Um gritou.

— Ettore, fodido do caralho.

O outro resmungou.

— Calados! — Bruce ordenou friamente, enquanto terminava sua bebida.

— Seu filho da puta, me solte — ordenou o homem e Bruce o encarou em


silêncio. — Eu não sei quem é você, só me tirem daqui caralho!

— Esse é um maldito papagaio, não cala a boca nunca. — Roy disse e entregou
outra garrafa para Bruce.

— Vou cortar a língua dele se não calar a boca. — Bruce disse calmo e tomou
um longo gole de sua cerveja.

— Você não faria isto, não é mesmo? Ou puta merda...

Roy ignorou o homem e se sentou do lado de Bruce.

— Você parece irritado.

Tentou iniciar uma conversa, mas Bruce manteve-se calado.

— Vamos lá, Bruce, diga-me qual é o problema — insistiu.

— Não te interessa. — Ele murmurou e Roy revirou os olhos.

— Está assim por causa dela, não é?

Bruce ficou em silêncio.

— Ela te chutou para fora? Não te perdoou pelo cativeiro? — chutou


possibilidades.

— Você anda ficando muito perto de Pietro. — Bruce disse lembrando-se de que
queria matar o amigo pela manhã.

Sorriu mentalmente ao perceber que Roy era tão questionador quanto o amigo.

— Só estou curioso — defendeu-se rindo.

— Minha vida pessoal não interessa a ninguém, então, guarde sua curiosidade
para si.

Bruce disse baixo e colocou a garrafa vazia no chão, levantou e puxou a camisa
para cima. Não tinha mais peças de roupas no carro e não queria sujar às que
usava.

— Puta merda! — Roy exclamou e Bruce se virou para olhar para ele. — Então,
ela gosta de colocar as garras de fora. — Roy brincou.
Bruce se deu conta de que Rita havia realmente o arranhado. No momento em
que estava com ela nada o importou, além do prazer dela.

— Cale a boca — ordenou mal-humorado

Tirou os sapatos e calça, ficando só de cueca.

— Porque diabos ele está tirando as roupas?

Roy deu de ombros e sorriu de um jeito frio.

— Ele não quer manchar as roupas de sangue — respondeu.

Os prisioneiros perderam a cor do rosto enquanto observava cada movimento


que Bruce fazia. A primeira coisa que pegou foi um alicate e parou na frente do
homem que falava muito.

— Você será o primeiro — disse calmo.

— Não toque em mim.

— Eu quero respostas.

— Não sei do que está falando.

O homem respondeu e tremeu de medo quando Bruce agarrou seu rosto e


obrigou sua boca a abrir.

— Então, vamos começar os jogos.

O grito de dor ecoou por todo o lugar quando Bruce arrancou o primeiro dente.
Movido por ira, lembrando de todos os perigos que Rita já tinha passado por
causa de Ettore, nada era capaz de pará-lo.

Apesar da frieza de seu corpo por fora, por dentro ele queimava em uma raiva
descontrolada.

Vingança o manteve motivado por toda a noite.

Quando enfim acabou e tinha algumas respostas, dois corpos e muito sangue
sobre si mesmo. Desviou a atenção para o canto onde Roy ainda estava e
encontrou nos olhos dele certo receio, o mesmo receio de quando observavam
Adônis e Apolo torturar alguém.

Bruce estava ofegante e com uma expressão quase que selvagem.

— Devia ir para casa descansar um pouco. — Roy murmurou e Bruce acenou.

Caminhou até o canto do porão onde tinha uma mangueira, tirou a boxer que
usava jogando-a no lixo e lavou o sangue que manchava sua pele. A água gelada
não foi capaz de acalmá-lo, mas aliviou um pouco da tensão de seus ombros.
Roy jogou uma toalha assim que acabou. Bruce viu alguns homens entrando
para iniciar a limpeza do local. Em completo silêncio ele se vestiu, acenou para
Roy e saiu dali.

Dirigiu sentindo o cansaço pensar em seus ombros, mas não parou. Foi para
casa de Adônis, onde era mais perto. O portão se abriu para ele e Bruce levou o
carro para o chalé que tinha no terreno. Entrou, tomou outro banho, desta vez
mais demorado e quente. Arrastou-se nu para cama e, depois de colocar o
celular para despertar em um par de horas, adormeceu.

...

Bruce estacionou na porta da casa de Rita cinco minutos atrasado, mas sabia
que ela também estaria atrasada. Aguardou dentro do carro por quinze minutos
até que a viu sair de casa com Josh ao seu lado.

Ele ficou paralisado com a beleza natural que ela exibia. O vestido cor de vinho
e o blazer preto deixavam muito para sua imaginação. Os saltos altos alongavam
suas pernas, o que deixou Bruce duro em segundos ao se lembrar de como elas
o enlaçaram, com perfeição, no dia anterior. O cabelo solto e os lábios rosados,
trouxeram a vontade de agarrar os fios e beijar a boca que tanto o atraia.

Josh foi o primeiro a entrar e em seguida Rita.

— Bom dia, Bruce.

Os dois disseram ao mesmo tempo.

— Buongiorno.

Ele murmurou mal-humorado.

Ficaram em silêncio por todo o caminho até a escola de Josh.

Quando estacionou na porta o garoto parou para falar com Bruce.

— Meu jogo é hoje à noite, você vai vim mesmo? — perguntou tentando não
parecer ansioso.

— Estarei aqui a tempo de te ver jogar. — Bruce garantiu gostando que Josh
quisesse sua presença.

Ele pulou para fora do carro depois de ouvir todas as recomendações da mãe.
Depois aguardaram até que Josh sumiu para dentro da escola. Bruce voltou a
colocar o carro em movimento.

Rita se virou para observá-lo sem perder nenhum detalhe. Os ombros rígidos,
as olheiras escuras e a barba de três dias. Era visível que ele estava cansado e
ela queria sair desse clima pesado que estava entre eles, mas não queria irritá-
lo, parecia cansado e merecia um pouco de paz.

— Pare de me olhar assim — murmurou sem tirar os olhos do trânsito.

— Quantas horas você dormiu essa noite?

Bruce não respondeu e isto começou a deixar Rita brava.

— Responda-me, Bruce — exigiu.

— Algumas.

— Algumas quantas?

— Duas horas e cinco minutos.

Ela arregalou os olhos chocada com a resposta e ele a ignorou.

— Bruce...

— Vou dormir mais assim que tiver tempo.

— Eu não sei se você sabe, mas dormir é uma necessidade básica assim como
comer.

— Não me diga.

O tom irônico dele a fez ficar brava em segundos.

— Você é uma idiota.

Rita se virou e olhou para a janela, agora seria ela que o ignoraria. Não queria
entrar em mais uma briga, sentia o pesar de que o clima de paz que eles
passaram ontem tinha acabado.

— Rita? — chamou-a. — Sinto muito, eu sou mesmo um idiota.

— Concordamos em algo — resmungou.

— Só estou cansado e mal-humorado.

— Percebi.

— Seu amigo não durou muito tempo na sua casa ontem — disse baixo.

— Quer mesmo falar sobre isto a está hora da manhã? — ergueu uma
sobrancelha.

— Não... eu só...

— Está com ciúmes — afirmou.


— Sim, estou.

— Não há razão para isto. — Ela disse e suspirou.

Bruce ficou calado e estacionou na garagem. Ela também não esperou que ele
dissesse algo, saiu do carro e o aguardou no elevador.

Ele desceu do carro e o travou enquanto seguia até ela, colocou as mãos nos
bolsos e juntos entraram no elevador. Ficou um passo atrás dela e seus olhos
correram para o corpo de Rita sem nenhuma discrição.

Bruce não aguentava mais não tocá-la. Ele agarrou sua cintura e colou seu corpo
nas costas dela. Rita arfou surpresa e ficou tensa por alguns segundos, mas
relaxou ao sentir as mãos dele sobre ela. Bruce segurou firme suas coxas
prendendo-a forte, pressionando-a contra a ereção que ele tinha desde que a viu
sair de casa.

— Eu quero você — sussurrou em seu ouvido.

Rita se arrepiou e virou o rosto para poder beijá-lo pela primeira vez naquele dia.
Ele entendeu o pedido e beijou Rita, devagar e sensual. Os dois estavam
completamente excitados, mas o barulho do elevador parando e abrindo obrigou
que se afastassem.

Ela sorriu para Bruce e ele sentiu-se se derreter por dentro em saber que aquele
sorriso sincero era seu. Aquele sorriso o fez esquecer-se de todos os problemas
e só focar nela enquanto caminhavam para fora.

Rita parou em sua mesa e Bruce bateu na porta de Adônis, que já o aguardava.

Entrou no escritório do chefe e ele estava lá com Apolo.

— Bruce? — Adônis questionou e sorriu para ele.

Apolo se virou e sorriu abertamente.

— Vejo que se acertou com Rita. — Apolo afirmou e Bruce ergueu uma
sobrancelha. — Você não fica bem de batom rosa.

Apolo gargalhou.

Bruce revirou os olhos impaciente antes de levar a mão aos lábios e limpar o
batom. Ele também queria sorrir, Rita o tirava do sério e depois do beijo no
elevador ele não teve capacidade de pensar em muitas coisas que não fosse
tomá-la.

— Ettore realmente está escondido em algum buraco. — Bruce disse mudando


de assunto.
Adônis endureceu as feições e acenou para que ele se sentasse. Apolo ainda
sorria por causa do batom e Bruce o ignorou.

— O que descobriu? — Adônis questionou.

— A intenção dele era pegar sua área de distribuição, por isto, começou esse
inferno na nossa cabeça — informou. — O ataque de ontem era uma tentativa
de matar Rita e se conseguisse me pegar, ele queria me torturar até a morte.

— E por que ele quer você? — Apolo perguntou descontraído.

— Como já relatei antes, tive uma pequena conversa com ele uns dias atrás e
acredito que não ficou muito feliz em ser intimidado — respondeu com
tranquilidade. — Deveria ter atirado naquele idiota.

— Ele só está com o ego ferido, assim como foi com Belchior. — Adônis disse e
os homens acenaram concordando.

— Mas, continua tentando pegar Rita. — Apolo observou.

— Eu descobri o porquê. — Bruce resmungou irritado. — Ele nos viu seguindo


ela, mais precisamente, me viu a seguindo quando desconfiei da proximidade
dele. Resolveu matá-la para que não contasse que estava tentando se aproximar
dela.

— Se ele te viu pode ter pensado que iríamos estragar os planos dele antes que
conseguisse algo. — Adônis disse e Bruce acenou concordando.

— E então acharia outro funcionário que lhe desse informações sobre a


segurança do prédio. — Apolo afirmou. — Talvez ele estivesse tentando pegar
algum registro nosso, ou até mesmo querendo nossa cabeça para conseguir o
território.

— Ele só queria descartá-la. — Bruce rosnou e os homens concordaram.

A inocência dela era irrevogável, mesmo sabendo disto somente agora, Bruce
nunca se perdoaria por não ter impedido de voltar para o carro. Principalmente,
por ter a torturado por cinco dias seguidos, mesmo que tenha pegado, nada o
faria se perdoar por ter imposto tamanha aspereza sobre a mulher que se
apaixonou.

No entanto, Bruce não se deixou levar somente pela raiva em Ettore. Sabia que
Adônis se aproveitou da situação para inserir Rita como colaboradora da
organização. Respirou devagar, tentando não demonstrar suas reações, mas
seu chefe sabia que ele não era nenhum idiota. Que descobriria logo suas
intenções. Se encararam por um segundo e um recado brilhou nos olhos de
Adônis. Foi melhor assim. Bruce não disse nada, era melhor se manter calado
do que prejudicar a aqueles quem agora tinha a obrigação de proteger.
— Estou cansado desses idiotas achando que podem me tocar, Bruce. — Adônis
falou. — Vamos fechar o circo para Ettore, pegar todos os seus homens e
também suas famílias. Ele foi longe demais achando que poderia pegar algo
meu.

— Vamos visitar nossos aliados e aterrorizar algumas pessoas, talvez os


lembrando de quem manda na cidade afaste esses imbecis. — Apolo disse sério.
— Eu não quero colocar a minha família em risco, ainda mais agora que Milena
está grávida. — Agora ele não tinha nenhum traço de bom humor.

— O que fez com Alessio? — Bruce perguntou já sabendo a resposta.

— Morto. — Adônis afirmou com frieza. — Nada de traidores ao meu redor, mas
mandei resgatar a família dele — disse. — Fique de olho neles e tenha certeza
de que não sabem da máfia, caso contrário, sabe o que deve ser feito.

Bruce acenou e se levantou pronto para sair.

— E Bruce? — Adônis o chamou novamente.

— Sim, chefe.

— Antes de tudo, vá para casa dormir — ordenou.

— E...

— Para casa dormir. — Adônis repetiu desta vez, mostrando que não aceitaria
desculpas. — Quantas noites sem dormir direito?

— Quatro — respondeu sem gostar de ter que tirar o dia de folga.

— Volte no final do dia — ordenou Adônis e Bruce acenou concordando.

Ele caminhou para a porta e antes de abrir ouviu Apolo dizer:

— Faça a barba e não use mais batom, não pega bem.

— Você é um idiota, Apolo. — Adônis o xingou.

Bruce saiu sem olhar para trás, concordando que Apolo era um idiota.

Mas sorriu ao passar a língua no lábio inferior, não se importava em usar o batom
tirado diretamente da boca dela.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

Rita sentou em sua cadeira depois que Bruce entrou para a sala de Adônis, ela
sabia que eles iriam demorar em reunião. Deixou a agenda pronta para atualizar
o chefe e viu que teriam uma visita da decoradora ainda àquela manhã. Caso
Bruce demorasse muito, o responsável pela decoração iria ter que esperar.

— Fui informado que a decoradora está subindo.

Pietro disse assim que assumiu seu posto ao lado da porta de Adônis.

— Mas já? — questionou. — Está adiantada, Bruce acabou de entrar.

Ele deu de ombros.

— Ela vai tomar um chá de cadeira. — Pietro disse confirmando o que já sabia.

Voltou sua atenção ao seu notebook por alguns segundos até que o elevador
apitou suavemente avisando que pararia no andar. Rita prendeu a respiração ao
ver a figura que saiu de dentro. Caminhava com o nariz empinado ao lado de um
dos seguranças do prédio, como manda a regra.

Talita Agnelli.

Mau humor encheu Rita e suas feições endureceram. Não tinha a menor
paciência para lidar com Talita depois da noite anterior. Viu que ela ficou
surpresa ao vê-la sentada a aguardando, mas logo tinha se recuperado.
Continuou caminhando em sua direção com ar de superioridade.

— Tenho uma reunião com o senhor Albertini, Rita. — Talita disse.

Rita odiou a forma em que pronunciou seu nome, mas não se deixou ser
humilhada.

— Tem hora marcada? — perguntou.

— Sim — afirmou com arrogância. — Vim no lugar de Angelina, sou a


decoradora.

Um discreto sorriso apareceu nos lábios de Rita.

— Entendo — disse antes de soltar sua provocação. — A decoradora reserva.

O olhar de Talita brilhou com uma raiva contida.

— Pode aguardar ali. — Rita apontou para a sala de espera com uma enorme
satisfação.
Talita lhe deu um olhar frio antes de se virar e caminhar com o mesmo ar de
superioridade que chegou.

— Perdi alguma coisa? — Pietro perguntou baixo. — O que foi essa troca de
farpas assassinas?

Rita revirou os olhos para ele.

— Não perdeu nada — garantiu.

— Vamos lá, Rita, me conte, sou curioso por natureza.

Rita o olhou com impaciência.

Pietro a lembrava de Josh com suas infinitas perguntas e besteiras que dizia.

— Ela é uma vadia que gosta de me irritar, é mãe de um amiguinho do Josh —


explicou baixo. — Gosta de tentar me humilhar.

— Vadia, eh? — brincou.

Rita não o respondeu, era como colocar gasolina na fogueira, ele nunca pararia
com as perguntas.

— Quer que eu a chute pra fora? — perguntou. — Não gosto de pessoas que se
acham melhor do que os outros.

Rita riu baixinho.

— Fique quieto e me deixe trabalhar.

Ele sorriu e acenou que ia, enfim, se calar.

Quase uma hora depois Bruce saiu do escritório. Rita olhou em sua direção e se
surpreendeu ao encontrar um leve sorriso em seus lábios.

— Bruce? — questionou confusa já que ele nunca sorria fácil assim.

— Querida, eu...

Ele começou a dizer, mas se calou quando seu olhar varreu a sala de espera e
encontrou Talita. Suas feições endureceram, seus ombros rígidos e suas costas
restas. Parecia em alerta e ficou pior quando a mulher lhe deu um sorriso
superior.

Rita o encava com fascinação, ele parecia ter crescido uns dez centímetros em
sua posição de pronto para o ataque. Bruce voltou a encarar Rita, seus olhos
estavam frios.

— O que essa mulher está fazendo aqui? — perguntou baixo.


— Decoradora substituta. — Rita respondeu e deu de ombros. — Tem uma
reunião agora para decidir o padrão em que se deve seguir no cassino.

— Mas o cassino vai demorar a estar pronto, depois da última inspeção.

Ela segurou para não estremecer, o cassino tinha virado uma zona de guerra e
precisaria de muitas reformas.

— Ainda assim eles precisam adiantar o trabalho — respondeu baixo. — Para


conseguirem todo o material a tempo.

Bruce acenou com a cabeça.

— Vou avisar o chefe para você.

— Não precisa...

A cortou.

— Faço questão, estaremos na sala de reunião em alguns minutos.

Rita acenou sabendo que não adiantava teimar com Bruce, principalmente, no
trabalho. Ele voltou para dentro do escritório e alguns minutos depois ela recebeu
uma ligação avisando que estavam na sala de reuniões. No escritório de Adônis
tinha uma porta de acesso para a sala de reunião.

Respirou fundo antes de levantar e chamar Talita.

— Senhora Agnelli, vamos?

— Sim — respondeu com arrogância.

A espera não parecia ter a incomodado.

Rita abriu a porta e deixou que ela passasse primeiro. Logo após entrou e fechou
a porta. Na mesa estavam Adônis e Apolo e atrás deles, como um cão raivoso,
Bruce.

— Senhor Albertini, eu sou...

— Já fui informado, sente-se e vamos direto ao que interessa. — Adônis falou


curto e grosso.

Rita ficou surpresa pelo tratamento dele. Talita tinha ficado pálida, parecia não
saber encarar a frieza do olhar de seu chefe e lidar com sua voz grossa. Rita
segurou para não rir, apontou onde Talita deveria se sentar e depois se sentou
ao lado de Adônis.

A reunião começou tensa, porém, logo tornou profissional. Apolo ditava suas
ideias que logo era discutida com o irmão. Já que Adônis gostava de um estilo
mais discreto e Apolo não negava ao luxo e extravagâncias. Talita acompanhava
tudo atenta e dava suas ideias.

Entretanto, havia dois fatos que conseguia deixar Rita irritada. Primeiro, o fato
de que Talita sempre desviava seu olhar para Bruce e sorria de forma
provocativa, flertando com ele sem esconder suas intenções. Segundo, a cada
fala tinha uma provocação para Rita. Era como se fosse superior a ela, por Rita
ser uma secretária. O olhar de Talita mostrava que não acreditava que Rita
merecesse ser secretária executiva dos homens que estavam naquela sala.

— Estou curioso. — Apolo disse conseguindo a atenção de todos.

— Com o quê, senhor Albertini? — Talita perguntou sorrindo a ele.

O sorriso que apareceu nos lábios de Apolo fez Rita querer tremer. Descobriu
que aquele sorriso travesso, em algumas situações, significava que iria fazer
alguma maldade.

— Eu gosto de suas ideias, senhora Agnelli — disse e ela sorriu presunçosa. —


Mas eu não gosto da forma que está tratando nossa secretária, assim como não
gosto da forma que sempre desvia seu olhar para Bruce. — O sorriso dela
morreu. — Poderia me dizer o motivo? Estou curioso.

Talita ficou tensa, era fácil ver que ela não esperava por aquela pergunta. Talvez
tenha pensado que os Albertini seriam tão arrogantes como ela. Rita admirou
como ela recuperou o controle de suas emoções rapidamente. A encarou de
forma desafiadora, provocando a dizer.

— Não a trato de jeito nenhuma — respondeu com superioridade. — Afinal, não


me misturo com pessoas de classe tão baixa.

— E você se acha superior? — Adônis questionou calmo.

— De forma alguma, mas ainda assim prefiro manter a distância.

— Pelo que entendi, vocês se conhecem da escola de Josh. — Apolo disse como
se fosse muito próximo do filho de Rita.

Talita o olhou confusa, como se não entendesse como ele poderia saber daquilo
já que não disse.

Apolo apontou um dedo para trás.

— Esse homem com cara de cão raivoso é o nosso chefe de segurança. — Apolo
brincou por um segundo explicando e depois fez seu rosto ficar frio. — Ainda
estou confuso, como ela pode ser de uma classe baixa se vocês frequentam o
mesmo lugar.
— Oh, por favor, não se confunda — disse desdenhosa. — Não gosto dela e da
forma como cria aquele pobre garoto. O menino é quase um selvagem, agrediu
um colega da turma com um soco no olho...

— Não fale do meu filho. — Rita rosnou irritada.

Talita olhou para ela com impaciência.

— Querida, só estou falando à verdade que não quer ouvir, um pai firme e duro
o iria ensinar bons modos — disse.

— Não fale do meu filho. — Rita repetiu.

Se levantou devagar, a raiva borbulhando em seu sangue a impedia de ficar


quieta.

— O que vai fazer? Ameaçar-me? — provocou. — Deveria se colocar em seu


lugar e ficar com medo de perder seu emprego — disse com prepotência. —
Imagino que esteja tendo um caso com o chefe de segurança, mas acredito que
ele mereça alguém melhor do que você.

— Cale a boca. — Rita ordenou baixo.

— Perguntaram minha opinião e isto é o que eu penso. Seu falecido marido...

— Não fale dele. — Rita disse baixo.

Suas mãos começarem a tremer com a fúria que se formava em seu peito. Talita
estava atravessando limites que não deveria. Rita nunca entendeu o motivo da
implicância dela, nunca deu motivos. Mas agora percebeu que não precisava de
motivos, Talita gostava de espalhar seu veneno por aí para se sentir melhor.

— Você deveria parar de protegê-lo já que está morto mesmo.

Rita desviou o olhar de Talita para Adônis.

— Chefe? — disse em tom de pedido.

Adônis somente acenou concordando.

Apolo a olhou dizendo “Chute essa vadia daqui”.

Rita respirou fundo antes de afastar sua cadeira, começou a dar a volta na mesa
determinada a acabar com aquela mulher ofensiva. Nunca deu liberdade a ela
para se meter em sua vida pessoal, era o momento de colocar um ponto final
naquela história.

Talita percebeu a mudança no ar e se levantou com cautela.


— O que pensa que está fazendo? — questionou. — Volte para o seu lugar —
ordenou.

Rita não parou, continuou andando devagar até a mulher. Seu corpo tremia de
raiva a cada passo que dava.

Ficaram frente a frente.

Rita ofegante e Talita levemente assustada.

Não precisou de muito para Rita agir, as ofensas ainda repetiam em sua mente
como um mantra. Era a última vez que Talita iria humilhá-la. Em um piscar de
olhos, a mão de Rita se ergueu e acertou um forte tapa no rosto de sua rival.
Talita gritou quando o rosto flamejou. Antes que pudesse reagir outro tapa veio,
com a mesma força, e outro. Ela tropeçou para trás e Rita agarrou seu cabelo
pela nuca.

Arrastou-a em direção ao elevador de emergência. Talita perdeu um de seus


sapatos no caminho, ela gritava alto de dor. Os dedos de Rita estavam cravados
em seu cabelo como garras de ferro, incapaz de soltar. Ela também não
conseguia dar atenção aos protestos de Talita, estava com tanta raiva que seus
ouvidos pulsavam a cada batida frenética de seu coração.

Apertou com força o botão e as portas se abriram imediatamente. Rita a acertou


com mais dois tapas. Sangue desceu do canto da boca da mulher, gritou
parecendo horrorizada. Rita não a ouviu, a jogou dentro e tremeu em fúria.

— Quando for ofender alguém, pelo menos saiba se defender antes! — disse
bradou.

— Você ficou louca! — Talita gritou.

— Você ainda não me viu louca — avisou. — Não fale nunca mais do meu filho,
não ouse dizer algo do meu marido — ordenou furiosa. — Não fale da minha
família.

A mulher tinha um olhar arregalado e ofegava quase que sem entender o que
estava acontecendo.

— Essa é a última vez que eu lhe dou um aviso, Talita, na próxima eu mesma
vou fazer questão de enterrar seu corpo morto — ameaçou. — Porque é isto que
vai acontecer se continuar a ofender a memória do meu Rodrigo ou por insultar
meu Josh — tremeu. — E nem se atreva a dizer algo do meu Bruce. Nem mesmo
olhe na mesma direção dele, ou que Deus te ajude, porque eu vou lhe bater até
a morte.
Rita deu um passo atrás e Pietro passou por ela, não tinha visto o homem entrar
na sala. De forma quase que rude, ele se abaixou, agarrou o braço de Talita
trazendo-a em seus pés.

— Vou te acompanhar até a saída e aguardarei que suas coisas sejam


entregues.

O tom de voz de Pietro fez Rita estremecer, aquele tom calmo e frio nunca
significava boa coisa. As portas se fecharam e foi a última vez que ela olhou para
Talita.

O som de palmas a vez virar em seus pés, Apolo ria e aplaudia como se tivesse
visto um show de talentos emocionante.

— Você está saindo melhor do que encomenda. — Apolo afirmou e gargalhou.

Adônis tinha um sorriso malvado nos lábios, também parecia ter apreciado o
show.

E Bruce?

Ele a olhava de forma orgulhosa e sorriu quando seus olhares se encontraram.

De repente, tudo aquilo estava sendo demais para Rita. A raiva incontrolada a
levou ao limite e sentia-se pronta para deixar uma enxurrada de lágrimas saírem.
Se enrolar em algum lugar e não sair até que tudo volte ao seu lugar.

Lembranças encheram sua mente e ela oscilou em seus pés.

Acidente. Sequestro. Perseguições. Tiroteios. Mortes. Medo. Raiva.

Tudo se acumulava dentro dela a sufocando aos poucos. Olhar para aqueles
homens depois de ter ameaçado a vida de uma pessoa a levou ao pânico.
Percebeu que mesmo que fosse para defender sua família ela estava se
acostumando com as brutalidades da máfia.

O sorriso de Bruce foi o primeiro a morrer.

Rita estremeceu e não encarou os irmãos Albertini, virou em seus pés e


caminhou para fora daquela sala o mais rápido que conseguiu.

...

Bruce estava orgulhoso de Rita, mas agora se sentia preocupado ao vê-la correr
para fora. A gargalhada de Apolo se calou e Adônis continuou quieto. As cadeiras
dos dois se viraram para Bruce no mesmo instante.

— O que ainda está fazendo aqui? — Apolo perguntou sem deixar de sorrir.

— Vá logo atrás dela. — Adônis ordenou.


Bruce ficou confuso.

— Meu Deus! O amor faz os homens ficarem burros...

— Diga isto só por você. — Adônis completou interrompendo o irmão que revirou
os olhos.

— Ela está em pânico com a raiva que sentiu. — Apolo explicou e Bruce
começou a se mover para ir atrás de Rita. — Tire suas roupas e acalme ela, não
me decepcione Bruce — gritou.

Bruce ignorou Apolo e correu para fora em busca de Rita.

Saiu a tempo de vê-la entrar no banheiro feminino. Estava preocupado, nunca


imaginou que a reunião terminaria daquela forma ou jamais teria permitido que
Talita continuasse no prédio. Assim que a viu na sala de espera, Bruce voltou
para informar Adônis e Apolo da situação e de como não confiava na mulher. Já
que ela sempre arrumava um jeito de humilhar Rita ou tocar em suas feridas,
assim como em Josh.

Eles eram seus para proteger. Pensou Bruce.

Contrariando uma ordem de Adônis, para ir descansar, Bruce insistiu em ficar. E


agora se sentia aliviado por ter insistido.

Entrou no banheiro e trancou a porta, encontrou Rita soluçando debruçada em


cima de uma pia tentando lavar o rosto.

— Rita — murmurou.

Ela ficou tensa.

— Preciso ficar sozinha por um tempo, Bruce — sussurrou.

Ele caminhou para dentro e no armário pegou uma toalha branca. Segurou os
ombros de Rita e a virou para ele, a dor em seus olhos o fez se sentir mal. No
entanto, não se afastou. Desejava cuidar dela.

— Está tudo bem, querida — murmurou.

Com carinho secou o rosto e as mãos dela.

Outro soluço saiu de seus lábios e Bruce a abraçou, dando-lhe o conforto que
precisava. Pegou Rita em seus braços e caminhou com ela, chorando baixinho
em seus braços, até o elegante sofá que tinha no canto.

— Eu bati nela.

— Bateu. — Bruce afirmou.


Afagou suas costas.

— E ameacei.

— Ameaçou — confirmou.

— Ela falou do Rodrigo e insultou o Josh — choramingou.

— Não precisa se justificar, querida, se você não fizesse algo eu faria — garantiu.
— Você está certa em defender quem ama. Ninguém vai julgá-la por isto.

— Josh não é selvagem... ele só bateu no garoto por...

— Porque se sentiu insultado ao ver alguém falando do pai.

Ela chorou mais alto desta vez e se agarrou ao corpo de Bruce como se fosse
sua tábua de salvação. Ele ficou ali, com Rita em seus braços, segurando-a e
mostrando que não iria a lugar nenhum.

Que permaneceria com ela até que se sentisse bem.

E quando enfim Rita se acalmou, Bruce ergueu seu rosto e limpou as marcas de
lágrimas.

— Não se sinta mal por defendê-los, querida, está tudo bem — garantiu. — Eu
vou ter a certeza de que nunca mais precise encontrar com aquela mulher —
prometeu. — Não vou permitir que ninguém te ofenda ou te faça chorar.
Entendeu?
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Bruce não lhe deu tempo para responder.

Rita ofegou quando ele simplesmente a atacou, beijou-a duramente, afastando


todos os sentimentos que a afligiam. Depois que a surpresa passou, ela abriu os
lábios e deu a ele passagem em sua boca.

Ela entendia e acreditava que ele faria de tudo para protegê-la. A intensidade de
seu olhar mostrava o quanto era sincero em suas palavras, quando garantiu que
nunca iria permitir que alguém a ofendesse ou fizesse chorar novamente. Atrás
de suas promessas também havia uma ameaça de quem a ferisse, física ou
mentalmente, sofreria em suas mãos.

Rita arfou em busca de ar.

Bruce se levantou carregando-a, fazendo que se sentisse leve e feminina em


seus braços. Depositou-a sobre o mármore branco da pia. Se afastou por um
instante antes de abrir suas pernas e se encaixar no meio delas.

Bruce a encarou por um segundo e, então, voltou a beijá-la arduamente.

A primeira roupa a cair foi o tradicional terno preto que ele usava todos os dias.
Depois que passou por seus fortes braços, foi descartado no chão. Bruce desfez
o nó de sua gravata sem desgrudar os lábios exigentes dos de Rita. Puxou o
tecido pela gola que teve o mesmo destino que o terno.

Rita não o ajudou a se despir, suas mãos estavam grudadas nos cabelo da nuca
de Bruce. Aproveitando que ele estava deixando os fios crescerem para puxá-
los enquanto se exploravam em um beijo enlouquecedor.

Antes que percebesse, Bruce já tinha se livrado da camisa social preta e sua
pele levemente bronzeada estava exposta para suas mãos. Uma mão de Rita
largou o cabelo e apertou a massa de músculos do braço dele.

Um gemido alto foi ouvido e Rita custou a perceber que o barulho veio dela.
Bruce tinha rasgado a fina renda de sua calcinha e a arrancado de seu corpo.
Outro gemido de pura satisfação saiu de sua garganta. Os grossos dedos dele
a acariciaram espalhando a umidade que se fazia presente no meio de suas
pernas, devido ao tamanho de sua excitação.

Rita puxou sua boca para longe da dele e o olhou com os olhos nublados pelo
prazer em tê-lo massageando seu clitóris inchado. Quando um dedo deslizou
para dentro dela Rita gemeu alto.

— Bruce — choramingou.
— Sim, querida.

— Vai me matar se continuar...

Ela não conseguiu concluir o que estava dizendo, Bruce tinha puxado seu dedo
para fora e deslizado dois de volta para dentro dela. Rita se segurou mais forte
a ele com medo de cair, por se perder no meio do mar de prazeres, quase que
insanos, que se sentia.

A adrenalina de bater em Talita e do choro ainda estavam muito presentes em


suas veias, fazendo a experiência com Bruce naquele banheiro se tornar ainda
mais intensa do que realmente seria.

Teve que soltá-lo quando ele começou a se abaixar. Acompanhou o olhar de


Bruce descer por seu corpo e encontrou seu vestido preso em sua barriga e suas
pernas bem espalhadas, uma mão dele continuava a estocar seus dedos dentro
dela.

Sentiu a respiração dele em sua pele exposta e se arrepiou. Antes que tivesse
tempo de protestar ou falar algo, Bruce já estava com sua boca sobre ela. A
atacando com tamanha maestria que fez Rita jogar a cabeça para trás e morder
os lábios, impedindo a si mesma de gritar com o prazer.

Ele era implacável, enquanto a chupava duro e firme, e seus dedos trabalhavam
rápidos dentro dela.

É demais. Pensou Rita incapaz de segurar o gemido de satisfação.

O nome dele escapou de seus lábios inúmeras vezes como um mantra, tentando
memorizar cada toque de sua boca em sua pele. Mas chegou em um momento
que não podia mais se segurar, o prazer era tanto que chegou a ser doloroso.
Mais uma vez o nome dele saiu de sua boca enquanto explodia em um orgasmo
intenso, talvez o mais intenso que já teve. Estremeceu fortemente com as
sensações inundando seu corpo e um arrepio atravessou sua pele fazendo-a
perder o ar.

Antes que pudesse se recuperar, viu Bruce se levantar já puxando sua boxer
para baixo. Ele ergueu suas pernas, para abraçarem sua cintura, segurou suas
coxas e em um só golpe entrou nela. Rita segurou seus ombros e mordeu com
força os lábios para não gritar. Bruce puxou o quadril e o empurrou com força
novamente para dentro dela. Os dois gemeram. Ele não parou. Balançou cada
vez mais forte e mais rápido contra Rita. Estavam presos um no outro, nada mais
importava. Somente a conexão de tinham. O prazer. O leve suor. A respiração
falha. O corpo dele a invadindo. E o dela o recebendo. Não havia nada que
pudesse os separar ou diminuir os sentimentos que inflavam entre eles naquele
momento tão íntimo.
— Rita.

Quando Bruce rosnou seu nome, soube que ele estava por um fio. Agarrou o
cabelo da nunca dele e então o puxou para um beijo. O mesmo beijo duro em
que eles começaram iria terminar. Ele a engoliu com a boca e suas línguas
batalharam em uma dança sensual.

Rita foi à primeira em encontrar o prazer, mas desta vez foi mais suave. Duas
estocadas a mais e Bruce se derramou dentro dela com um gemido rouco, ele
estremeceu ao senti-la se apertar em sua volta.

Afastaram-se um pouco ofegantes.

Linda. Pensou Bruce e sorriu de leve para ela.

— Amo quando sorri. — Rita sussurrou ainda com os olhos nublados de prazer.

Ele escorregou os dedos pelo rosto dela e agarrou os cabelos de Rita com
carinho.

— Eu amo você. — Bruce sussurrou sem desviar os olhos.

Rita demorou um tempo para raciocinar sobre o que ele havia dito. Seus olhos
brilharam com a declaração que acabou de ouvir e com a sinceridade que via
nos verdes cinzentos de Bruce.

Era o que mais gostava nele, sempre que se falavam, ele a olhava nos olhos e
demonstrava ser sincero em cada palavra que a dizia.

Mostrava o quanto queria honestidade entre eles.

— Eu também o amo.

Ela respondeu deixando que ele se sentisse aliviado por ouvir sua declaração
sincera. Bruce sorriu novamente e voltou a beijá-la. Rita correspondeu ao beijo
e o sentiu endurecer novamente dentro dela, porém, algo a fez congelar no lugar.

Camisinha, não usamos camisinha. Pensou ainda congelada.

— Rita? O que foi, querida? — perguntou quando sentiu a tensão do corpo dela.

Bruce se preocupou ao ver os seus olhos arregalados, pensou que tivesse a


machucado.

— Rita? Te machuquei? — questionou.

— Camisinha.

O sussurro dela quase não pôde ser ouvido, mas Bruce entendeu o porquê ter
paralisado. Sentiu-se endurecer ainda mais quando apreciou o calor molhado
dela sem o látex para atrapalhá-lo. Nunca tinha feito sexo sem camisinha, mas
Rita o levava à beira da insanidade tirando dele qualquer pensamento sensato e
responsável.

Não se arrependeu.

De repente, ela saiu de seu estado de choque e queria afastá-lo, mas Bruce não
se moveu.

— Preciso ir a uma farmácia... Oh merda... Não estou no controle de natalidade...


Uma pílula do dia seguinte...

Atrapalhou com suas palavras.

— Você não vai à farmácia. — Ele disse.

— Você vai pra mim? — perguntou confusa.

— Não, não vou permitir que tome uma pílula — afirmou.

— Bruce! — exclamou chocada.

Ele segurou seu rosto entre as mãos e a fez encará-lo.

— Você é minha, Rita, se engravidar, eu não vou me importar — disse sério. —


Na verdade quero isto, quero ter um filho com você.

Rita arfou assombrada.

— Você enlouqueceu? — perguntou. — Per l’amor di Dio, Bruce, começamos a


nos envolver ontem e você já quer ter um filho comigo?

— Ontem começamos a nos envolver, mas há quanto tempo tem sentimentos


por mim? — questionou. — Posso responder por mim...

— Isto é insano — protestou.

— Eu a quero desde o primeiro dia em que a vi entrar neste prédio para uma
entrevista de emprego — confessou. — Mas você era casada e tinha um filho
pequeno. Eu a desejei desde sempre, mas nunca me aproximei, não queria
atrapalhar sua vida e muito menos a trazer para o meu mundo — disse. — Isto
foi anos atrás e hoje eu ainda te quero, a diferença é que eu te quero para mim
todos os dias. Você já conhece o mundo em que nasci e o homem que me tornei.

— Bruce...

— Eu quero você, Rita, sempre! — afirmou. — A pediria em namoro, mas a


verdade é quero me casar com você.

— Por favor, vamos com calma...


Preciso ir com calma. Pensou Bruce e respirou fundo. Desacelerar, para não
assustá-la.

— Vamos fazer o seguinte, prometo usar camisinha sempre, mas você não vai
tomar nenhuma pílula agora — propôs.

— Bruce...

— Se ficar grávida lidaremos com isto, tudo bem? — perguntou.

— Bruce, eu vou fazer trinta anos, não tenho mais idade para ter outro filho —
protestou.

— Besteira, você ainda é jovem e cheia de amor de mãe — disse. — Promete


que não vai tomar nada?

Ela ficou em silêncio e mordeu o lábio inferior indecisa, achando aquilo


insanidade.

Uma loucura completa.

— Rita, promete? — insistiu.

— Sim — murmurou ainda acreditando que aquilo era loucura.

Bruce voltou a beijá-la fazendo com que esquecesse o motivo da discussão entre
eles. Rita gemeu quando ele balançou de leve contra ela.

— Bruce, eu preciso voltar ao trabalho. — Rita disse afastando a boca da dele.

Ele escondeu o rosto no pescoço dela e começou a beijá-la ali.

— Uma rapidinha — pediu enquanto movia os quadris devagar.

Rita gemeu baixinho no ouvido dele.

— Bruce...

Não pode mais falar, Bruce estava incontrolável quando começou a estocar
rápido contra ela. Batendo em cima do ponto mais sensível de seu corpo.
Fazendo com que cedesse.

Uma rapidinha não vai fazer mal. Concordou ela em pensamentos.

Como prometido, Bruce foi rápido em levá-los ao prazer e muito eficiente em ter
a certeza de que ela gozasse novamente. Quando se derramou dentro dela, mais
uma vez naquela manhã, desejou que fosse suficiente para engravidá-la. Já que
prometeu usar camisinha nas próximas vezes e ele nunca quebrava uma
promessa.
Mesmo com a impaciente vontade em tê-la de todas as formas, como sua mulher
e esposa, como mãe de seus filhos, como sua. Bruce sabia que tinha que
desacelerar, ela tinha sofrido muito quando ficou viúva e estava acostumada a
ser sozinha. Ele iria mostrá-la que as coisas mudaram, que não era mais
sozinha, que o pertencia.

Rita observou Bruce abotoar a camisa devagar e parecia preso em seus


pensamentos. Ela olhou seu rosto e viu que ele parecia mais cansado do que
mostrava. Rita se sentou no sofá e continuou o olhando se vestir. Passou a
gravata pela gola da camisa e com eficiência fez um nó. Quando se abaixou para
pegar o terno percebeu que ela o olhava e, então, sorriu de leve.

Um sorriso que ela aprendeu a apreciar a cada vez que recebia um. Nunca era
um sorriso aberto demais, era sempre pequeno e discreto, mas que fazia seu
coração bater cada vez mais rápido e apaixonado ao notar que ele sorria
somente para ela.

— Volto para te buscar à tarde...

A voz dele a fez se concentrar.

— Vai sair? — perguntou preocupada e ele vestiu o terno.

— Vou, Adônis ordenou que eu fosse para casa dormir um pouco — resmungou.

— Ele ordenou? — sorriu achando graça daquilo.

— Sim — murmurou agora levemente mal-humorado. — Mas eu concordo com


ele, preciso de algumas horas de sono. Afinal, dormir também é uma
necessidade básica, não é mesmo?

Rita riu e abraçou o pescoço dele.

— Sim, estarei te esperando no final do dia.

— Se precisar de alguma coisa, me ligue ou peça para Dânio — instruiu.

— Não vou precisar de nada — garantiu e o beijou.

Bruce fez um carinho em seu rosto e ela fechou os olhos apreciando o gesto.

— Fique bem, por favor, se cuide enquanto estou fora — pediu.

— Vou ficar bem.

Ele a beijou mais uma vez, mas desta vez foi delicado e cuidadoso. Caminharam
para fora de mãos dadas e Bruce parou na frente do elevador, levantou seu olhar
e encontrou Pietro sorrindo para ele.
— Fique longe de Pietro também, ou vou ser obrigado a dar uma surra nele —
disse sem esconder o ciúmes.

— Bruce. — Ela o repreendeu.

Ele fechou mais sua expressão.

— Volto mais tarde para irmos ver Josh jogar — garantiu.

Rita sorriu satisfeita em vê-lo se importar com seu filho.

— Estarei aqui, te esperando — prometeu.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Rita estava organizando sua mesa no final do expediente e tentando não dar
ouvido para as besteiras que Pietro dizia.

— Ainda estou chocado — disse ele e riu alto.

— Você não tem nada pra fazer não? — questionou impaciente.

— Você bateu naquela mulher — disse fingindo estar chocado.

Então, gargalhou e Rita revirou os olhos.

— Juro, parecia uma de nós — provocou-a.

— Cale a boca. — Ela pediu tentando não pensar nos acontecimentos daquela
manhã.

— Ela ainda deve estar tentando entender qual foi o caminhão que a atropelou
— brincou.

Desta vez, Rita não conseguiu resistir e riu alto concordando com as besteiras
de Pietro. Ainda se sentia surpresa por ter ficado com tanta raiva, mas não podia
negar a graça do fato.

— Espero que o rosto dela queime o dia inteiro, para aprender que ninguém
mexe com meu filho — disse.

Eles riram e desviaram o olhar para o elevador quando as portas se abriram. Rita
prendeu a respiração quando de lá saiu o homem que tem abalado seus dias.

Bruce.

Envolto em um terno preto, que se ajustava perfeitamente em seu corpo, e com


os cabelos molhados de um recém banho, parecia mais lindo do que nunca. Ela
acompanhou cada passo que ele deu em sua direção. Rita não perdeu a forma
que Bruce estreitou os olhos na direção de Pietro, que ainda sorria como sem
medo do homem que se aproximava.

Com passos perigosamente calculados, mostrando agressividade e poder,


Bruce chegou até eles parando a um metro de Pietro. Como se preferisse a
distância ou seria capaz de iniciar uma briga.

— Está bonitão, Bruce. — Pietro provocou.

Bruce o lançou um olhar ameaçador antes de desviar para Rita.

— Pronta, querida?
— Sim.

— Querida? — Pietro questionou. — Uau! Temos um progresso.

— Você é um idiota. — Rita disse sorrindo ao segurança.

— Ela tem razão, você é um idiota, mas um idiota que vai sair daqui carregando
os dentes se não parar de sorrir. — Bruce ameaçou.

— Uma pena que ela não tirou esse seu mau humor. — Pietro brincou.

— Pare de provocar Bruce ou eu vou deixá-lo te dar uma lição.

A voz de Adônis encheu a sala deixando todos surpresos, menos Bruce que
tinha o visto se aproximar.

— Chefe. — Pietro disse e torceu o nariz na tentativa de não rir.

— Vamos buscar Giulia e as crianças na biblioteca de Frontin, antes que eles


coloquem fogo nos livros do avô. — Adônis disse e sorriu de leve ao pensar em
como seus filhos estavam levados.

— Sim, chefe. — Pietro se prontificou e deu alguns passos à frente.

Adônis não o acompanhou.

Ele olhou para Bruce e depois para Rita, reprimiu um sorriso gostando que os
dois, enfim, estavam se acertando.

— Rita?

— Sim, senhor Albertini.

— Minha Giulia pediu para convidá-la para almoçar conosco no domingo.

Ela pensou em protestar, mas Adônis não aceitaria não como resposta. Se Giulia
queria que ela fosse almoçar no domingo com eles, então, ela iria, nem que fosse
amarrada.

— Estaremos esperando por você, Josh e Bruce, não se atrasem.

Dizendo isto, ele se virou e saiu não dando a oportunidade de protestarem.


Quando o elevador se fechou, Rita desviou o olhar para Bruce.

— Você pegou isto dele — acusou.

— O quê? — perguntou confuso.

— Ficar dando ordem para pessoas e sair sem ouvir o que elas têm a dizer. —
Rita disse e jogou as mãos para cima em um gesto irritado.

Ele sorriu e esperou por ela.


...

Bruce estacionou o carro na escola, segurou a mão de Rita e a puxou para um


beijo. Ela o correspondeu a mesma altura, mostrando a falta que sentiu durante
o dia em que estiveram afastados.

Poderia estar juntos a menos de dois dias, mas os sentimentos que tinham um
pelo outro eram sinceros e foram alimentados por muitos anos.

Quando se afastaram, ela arfou em busca de ar e ele sorriu orgulhoso ao ver


que a deixou tão ofegante. Rita levantou a mão e limpou o batom rosa dos lábios
dele e Bruce mordeu de leve seu dedo.

— Quero você.

Murmurou rouco atraindo os olhos dela.

— Terá que esperar.

Os olhos de Bruce caíram sobre o colo de Rita e se lembrou de um pequeno


detalhe.

— Você ainda está sem calcinha — afirmou rouco.

— Culpa sua — murmurou e ele sorriu de leve.

— Quero você.

— Não aqui, não me olhe assim — ordenou. — Nem pensar, vamos logo antes
que me ataque.

Bruce gemeu frustrado, sentia-se duro e louco para ter o corpo nu de Rita sobre
ele. Mas ela estava certa.

Não aqui. Pensou mal-humorado em ter que esperar.

— Vamos.

O tom duro dele mostrou a Rita que seu costumeiro mau humor estava de volta,
mas Rita não se importou, achava atraente sua cara fechada e somente sorriu
concordando. Desceu do carro e Bruce fez questão de pegar em sua mão,
entrelaçaram seus dedos e caminharam para dentro. Rita não protestou, mas
também não era como se fosse adiantar alguma coisa. Sabia que ele não era
homem de perder uma briga facilmente e ela não estava a fim de estragar o
momento de paz entre eles.

Nas arquibancadas, Bruce fez questão de se sentarem no primeiro lance. Não


deixando que ela subisse e se sentasse mais no alto, por estar sem calcinha,
culpa dele, mas isto não significava que estava disposto a arriscar que ela se
distraísse e mostrasse mais do que deveria.
Mal se sentaram e Bruce percebeu a aproximação de dois homens, ele os
conhecia. Um era Marzio Adamo, pai de Rita e nonno de Josh. E o outro era
Frank, o cara que fingia não querer a mulher que pertencia a Bruce e que se
passava por amigo.

— Filha?

— Papa, que bom que vieram.

Rita sorriu e abraçou a pai fazendo o peito de Bruce inchar ao ver como era
carinhosa. Seu pai retribuiu o abraço do mesmo modo e sorriu para ela.

— Claro que iria vir, é o meu garoto que vai jogar. — Marzio disse e desviou o
olhar para Bruce.

— Papa e Frank, esse é Bruce. — Rita os apresentou.

Marzio o olhou por alguns instantes e Bruce não se intimidou com seu olhar de
pai avaliador. O deixou encarar por quanto tempo quisesse, nada faria Bruce
desistir de Rita. Quando o homem na sua frente sorriu, o alívio foi instantâneo.

— Muito prazer, Bruce. — Marzio disse. — Vejo que alguém restaurou o coração
da minha menina.

Bruce apertou firme a mão do homem e sorriu quando Rita protestou.

— Pai!

— Bom conhecê-lo, senhor Adamo. — Bruce disse.

— Somente Marzio, seja bem-vindo à família.

— Pai!

Rita não sabia se ria ou chorava com o seu pai.

— Obrigado. — Bruce respondeu e sorriu de leve ao perceber de onde Rita


puxou seu jeito inconveniente e falador.

— Quê? Eu não sou cego e nem burro, Rita, você não traria alguém para ver
Josh se você não estivesse namorando com ele. E Josh também me disse
algumas coisas...

— Vou matar aquele garoto fofoqueiro. — Rita resmungou.

— Ele é um bom informante. — Marzio disse e deu de ombros.

Bruce desviou o olhar para o homem calado atrás do pai de Rita e sorriu de forma
maldosa, hábito que pegou depois de sua convivência com Adônis e Apolo.
Pode desejá-la, mas ela é minha. Pensou enquanto o encarava e fechou sua
expressão para mostrá-lo que era melhor nem tentar tocar no que o pertencia.

Você a toca e eu arranco suas mãos. Prometeu em pensamentos. Seu


temperamento inflou quando o homem se aproximou de Rita e beijou o rosto
dela.

— Bruce? — Frank disse sério e estendeu a mão.

Bruce acenou com a cabeça e aceitou sua mão, mas o que Frank não esperava
era que ele apertaria com força.

— Vou comprar pipoca. — Marzio disse já se afastando e não percebeu o que


estava acontecendo.

Rita ficou confusa ao ver os olhos de Frank arregalar e então desviou seu olhar
para Bruce, que tinha uma expressão fria no rosto. Ainda sem entender, ela
olhou para as mãos deles que se apertavam e entendeu o motivo. A grande mão
de Bruce espremia os dedos de Frank, um segundo depois ele a soltou e não
disse nada.

— Vou buscar uma água, aceitam alguma coisa? — Frank perguntou


constrangido.

— Não, obrigada, Frank. — Rita respondeu e ele se afastou.

Ela respirou fundo antes de olhar novamente para o homem ao seu lado.

— Bruce! — repreendeu-o.

Ele deu de ombros e se sentou tranquilo.

— Quê? Não tenho culpa se ele não aprecia um bom aperto de mãos.

A cara de paisagem que Bruce fez, foi o que mais irritou Rita. Ele tinha feito de
propósito e não precisava ser nenhum gênio para chegar a essa conclusão.
Puxando o ar com força tentou controlar a vontade de acertar o rosto dele
algumas vezes também para ver se aprendia a não ser tão ridículo, possessivo,
ciumento, idiota... e lindo.

— Não vai se sentar? O jogo vai começar — disse provocando-a.

— Estou tentando não te acertar. — Ela murmurou e ele sorriu.

— Se fizer isto, eu vou te arrastar para algum lugar nessa escola e vou te foder.

— Você está insuportável! — exclamou e sentou do lado dele.

Bruce sorriu antes de segurar o rosto de Rita e fazê-la encará-lo.


— Você é minha, Rita, não importa quem diga o contrário — afirmou. — E se
seu amigo se atrever a tocar em você, eu vou matá-lo, entendeu? — perguntou
baixo e ameaçador.

— Não se atreva, Bruce — disse no mesmo tom.

— Então, acho bom fazê-lo manter as mãos longe de você, Rita — avisou. – Ou
eu vou arrancá-las e vê-lo sangrar até a morte.

Bruce viu o medo nos olhos de Rita, tentou se arrepender, mas não sentia
nenhum pouco de arrependimento pela ameaça. Jamais permitiria que outro
homem a tocasse e vivesse. Ele faria muito mais do que arrancar as mãos do
homem, o faria sofrer muito.

— Você sabe quem eu sou e o mundo que vivo, Rita — disse. — Sempre vou
cuidar e proteger de você, mas não acredite que o que sinto por você me fará
mudar, mataria qualquer um que tente tocar no que é meu. E você é minha!

— Você me assusta quando fala assim — sussurrou.

— Não o deixe se aproximar. — Ele pediu em um tom mais suave.

Selou seus lábios com os dela.

Sorriu de leve para Rita e segurou sua mão ao ver que o seu pai estava
retornando, acompanhado de Frank. Marzio se sentou ao lado da filha e entregou
a ela pipoca, ofereceu a Bruce, que recusou, conversaram enquanto esperavam
o início do jogo. Frank ficou em silêncio observando o gramado e Bruce interagiu
com o sogro em alguns momentos.

Quando Josh entrou no campo, Rita se levantou e começou a assoviar alto.

— Santo Cristo, vou ficar surdo assim. — Marzio protestou e Rita olhou para ele
sorrindo.

Bruce riu baixo.

— Isto é um fato que vem com a idade e o senhor...

— Está me chamando de velho? — questionou.

— Jamais — afirmou e assoviou alto olhando para o pai, que fez uma careta.

Rita voltou a olhar para o campo, assoviou e gritou pelo filho, que logo achou a
mãe. Balançou a cabeça e sorriu com seu jeito espontâneo.

O jogo começou e ela não se sentou em nenhum momento. Mostrou a Bruce


como ela era uma mãe babona e orgulhosa a cada grito, assovio e sorriso que
dava. Quando Josh pegou a bola e fez um gol, Rita foi à loucura sem a menor
vergonha de demonstrar o quanto era maluca, apoiando o filho em cada passo.
Para a diversão de Bruce, Marzio não era diferente, ele só não sabia assoviar,
mas gritava e pulava com a filha enquanto torciam pelo garoto no campo.

O jogo ficou empatado no final, mas valeu a pena cada segundo. Assim que o
juiz apitou, Josh correu para abraçar a mãe. Rita abriu os braços e o recebeu
com um grande aperto quando ele se jogou sobre ela. Bruce manteve uma mão
nas costas dela para que não caísse e sorriu ao ver que Marzio tinha feito à
mesma coisa.

— Garoto suado e fofoqueiro mais lindo da mamãe — brincou e ele se afastou


sorrindo.

— Você é terrível, mama — disse e levantou a mão para Bruce. — E aí, Bruce?

Os dois bateram as palmas e Rita sorriu, gostando daquela interação entre eles.

— Jogo incrível, garoto. — Bruce o elogiou.

Ele sorriu orgulhoso e foi abraçar o avô, que o recebeu da mesma forma que a
mãe, com um grande abraço de urso. Josh também bateu na mão de Frank e
depois se afastou dizendo que iria tomar um banho no vestiário e voltaria logo.

Bruce abraçou Rita pela cintura enquanto ela conversava com o pai. Frank se
afastou um momento depois dizendo que logo voltaria.

— Poderíamos ir a uma pizzaria assim que sairmos daqui. — Marzio disse.

— Ótima ideia pai, principalmente, de que não vou precisar cozinhar. — Rita
respondeu animada.

— O que acha, Bruce? — Marzio perguntou.

— Por mim, tudo bem — concordou.

— Bom, vou buscar uma garrafa de água — disse. — Estou quase morto de
sede depois de toda essa gritaria.

— Vamos te esperar aqui. — Rita falou ao pai e ele acenou concordando antes
de se afastar.

Bruce segurou a cintura de Rita e a puxou, ficando com o corpo colado ao dele.
Ele fez um carinho em seu rosto e colocou uma mecha de seu cabelo para trás.

— Você é linda — disse.

Rita sorriu e abraçou seu pescoço, gostava de quando ele era doce e carinhoso.
O que mais a encantava era seu tom de voz e o olhar sincero. Ela sabia que
Bruce não era homem de muitas palavras, às vezes quase nenhuma palavra,
mas que se esforçava para se comunicar melhor com ela.
— Você é lindo — disse a ele que sorriu de leve, o mesmo sorriso discreto de
sempre que amava ver.

Acompanhou seu olhar descer para seus lábios e um segundo depois sentiu seu
beijo. Fechou os olhos e apreciou a delicadeza em que era beijada. Foi um beijo
curto, mas que valeu cada segundo.

Quando ele abriu os olhos o desejo de prolongar brilhava nos seus olhos verdes
cinzentos, porém, um segundo depois, o corpo de Bruce ficou tenso e seu olhar
frio quando encontrou algo atrás dela.

Rita se virou rápido sabendo que alguma coisa estava acontecendo, pela a
mudança rápida de Bruce. Encontrou o motivo correndo em sua direção. Josh.
Ele estava de banho tomado, carregava sua mochila e tinha um rosto tomado
pelo pânico.

— Josh! — exclamou preocupada.

Ele se jogou em seus braços e a abraçou com força. Rita quase caiu ao se
desequilibrar em seus saltos, mas Bruce a segurou.

— Mama. — Ele tremeu.

— O que aconteceu? — perguntou alarmada.

— Ettore — respondeu e estremeceu.

— O quê? — Bruce questionou assim que Rita congelou.

Josh afastou da mãe e encontrou o olhar duro de Bruce.

— Ele tentou me pegar na saída do vestiário... já que fui o último a sair... quando
me agarrou... pisei no seu pé com força e depois... dei uma cotovelada no
estômago... ele me soltou e eu corri para cá.

— Onde ele foi? — perguntou calmo e frio.

Josh apontou a direção.

— Fique aqui com sua mãe, mantenha-se perto de muita gente.

Josh acenou com a cabeça e viu Bruce tirar o celular e correr na direção que
indicou. A saída. Rita voltou a puxar Josh pelos ombros e o abraçou forte. Sua
mente tinha travado assim que ouviu o nome do homem que a queria morta.

— Mama? — Josh a chamou.

Ela não respondeu.


O pânico corria fortemente em suas veias ao pensar que Ettore poderia ter
machucado seu filho.

Foi por muito pouco. Pensou tensa.

— Mama? — Josh a chamou novamente. — Está me sufocando — disse


ofegante e garantiu. — Estou bem.

Rita o soltou e puxou o ar.

— Desculpe — murmurou.

Seu olhar varreu o corpo do filho para saber se ele estava bem.

— Por que ele queria me pegar? — Josh perguntou.

— Não sei, querido — respondeu aflita.

— Bruce não deveria ter ido atrás dele. — Josh disse preocupado.

Olhou a multidão em busca do homem de terno preto.

— Você está mesmo bem? — Rita questionou.

— Sim — afirmou. — Bruce vai ficar bem? Mama?

Ela respirou fundo e tentou se concentrar no que ele perguntava.

— Bruce?

— É mãe, o cara grande como um armário. Dois metros de altura, músculos e


uma cara de mafioso do mal — brincou. — Já se esqueceu dele?

Rita estreitou os olhos para o filho.

— Eu sei quem é ele — disse.

— Ele foi atrás de Ettore.

— Não se preocupe com ele.

— Tem certeza?

Completamente. Pensou ao se lembrar de como ele os salvou no atentado que


sofreram na construção do cassino.

— Sim, eu tenho — afirmou. — Se ele fosse pra guerra, seria o próprio tanque
— brincou tentando aliviar a tensão.

Josh pensou por um segundo e depois sorriu concordando.


— Seria mesmo, nunca vi um homem tão grande na minha vida — sorriu. — E
ele também é chefe de segurança, sabe chutar traseiros por aí.

Rita sorriu e tornou a abraçá-lo, desta vez sem tanta força. Somente queria senti-
lo em seus braços e voltar a ter a paz em saber que seu filho estava bem.

Alguns minutos depois viu Bruce se aproximar com o rosto tenso e o andar
perigoso, as pessoas saíam do caminho dele sem que pedisse.

— Olhe lá como ele parece um tanque de guerra. — Rita mostrou a Josh.

— As pessoas se afastam sem precisar pedir. — Josh disse e gargalhou.

Rita respirou aliviada em ver Bruce de volta, mesmo sabendo que ele poderia se
virar muito bem sozinho. Também se sentiu mais leve ao ver que o humor do
filho tinha voltado e a expressão de pânico havia sumido do seu rosto.

— Ele sumiu, tem muita gente aqui, fica fácil se misturar. — Bruce informou.

— Será que ele vai voltar? — Josh perguntou tenso.

— Estarei pronto para pôr minhas mãos sobre ele. — Bruce garantiu fazendo o
garoto relaxar. — Fez bem em acertá-lo e correr para um lugar cheio.

Josh acenou e Bruce se abaixou para ficar no mesmo nível que ele.

— Não conte a ninguém sobre o que aconteceu hoje...

— Mas...

Bruce pediu para que ele se calasse quando levantou uma mão.

— Está vendo os cincos homens de terno preto igual o meu atrás de mim?

Josh levantou o olhar e encontrou os homens espalhados, era fácil detectá-los.


O terno preto e o tamanho deles não permitia que fosse impossível de achar.

— São meus homens, eles estarão por perto enquanto outros procuram por
Ettore. Ele não vai ficar muito tempo escondido, porque eu vou pegá-lo —
prometeu. — Não vamos preocupar mais ninguém com esse assunto, está bem?

— Sim. — Josh disse e hesitou. — Vai chamar a polícia?

— Tenho o delegado na chamada de emergência do meu celular, uma ligação e


não teremos mais com o que se preocupar — garantiu.

— Tudo bem — concordou.

— Enquanto isto, evite ficar sozinho e sempre tenha o celular contigo — instruiu.
— Ligue-me caso tenha qualquer coisa estranha por perto, vou chegar a você
ou a sua mãe o mais rápido que puder — prometeu.
— Vou fazer isto. — Josh afirmou.

— Bom. — Bruce se ergueu. — Vamos achar seu nonno e o idi... Frank para
irmos comer em algum lugar.

— Você ia dizer idiota. — Josh sorriu.

Bruce piscou para ele.

— Bruce. — Rita disse em tom de repreensão.

— O que foi, querida? Não disse nada — defendeu-se.

Ele a abraçou e Josh riu alto.

— Posso saber o motivo de tanto riso? — Marzio perguntou ao se aproximar,


Frank o acompanhava.

Josh deslizou seu olhar de Bruce para seu nonno e encontrou Frank, então,
prendeu o riso.

— Nada demais, nonno, vamos comer que eu estou faminto — respondeu.

— E desde quando você não está com fome garoto? — Frank perguntou.

— Uma boa pergunta. — Marzio concordou.

— Não sei, diria que quando durmo, mas eu sonho com comida também —
brincou fazendo todos rirem.

Caminharam para fora conversando, menos Bruce, que se manteve calado


observando as pessoas ao seu redor. Apesar da postura calma, ele estava em
chamas por dentro em uma fúria quase que incontrolável, por saber que Ettore
esteve tão perto e não o pegou. Quase sequestrou Josh, e Bruce temia pelo que
o inimigo teria coragem de fazer ao garoto. Gostava de Josh e zelava pelo seu
bem-estar. Também não queria ver Rita ferida por terem arrancado seu filho da
proteção de seus braços.

Sabia que não demoraria para Ettore se aproximar de novo. Seu foco ficou maior
em Rita, agora não se importava se ela contaria algo ou não.

Ele estava com raiva e queria se vingar.

Bruce só estaria aguardando o momento em que ele seria imprudente, para fazer
Ettore se arrepender do dia que nasceu.

Ninguém mexia com aqueles que protegia.

E Bruce detesta falhas, não falharia em protegê-los.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

Todos se acomodaram do lado de fora da pizzaria, que estava bem cheia no


momento, mas Marzio conseguiu uma mesa, já que o dono era seu amigo.

— Trabalha como o que, Bruce?

O homem mais velho perguntou.

— Segurança — respondeu evasivo.

— Você é um segurança? — Frank perguntou quase que desmerecendo a


função.

— Sim. — Bruce respondeu o olhando e o desafiando a continuar.

— Ele é chefe de segurança do chefe da mamãe. — Josh disse.

Bruce viu o sorriso debochado de Frank se desfazer.

— Uau, deve ser emocionante. — Marzio disse. — Aposentei como contador e


a coisa mais emocionante que fiz no meu trabalho foi fazer contas.

Bruce sorriu.

— Não posso negar, trabalho com adrenalina — afirmou.

— Tem acesso a armas? — Frank perguntou.

Bruce quase se negou a responder aquela pergunta idiota.

— Sim.

— Não gosto de armas. — Frank disse.

— Elas não atiram sozinhas. — Bruce garantiu.

E a ameaça estava ali escondia em suas poucas palavras.

— Meu pai se alistou e foi para guerra, mas eu me neguei a isto. — Marzio
contou. — Não queria ver mortes tão de perto. — Marzio disse.

— Você não perdeu nada em não se alistar — afirmou Bruce.

— Já foi do exército? — Marzio perguntou surpreso e curioso.

— Sim, exército britânico — respondeu.

— Uau, Bruce, que maneiro. — Josh disse animado.

— Não é italiano? — Marzio questionou.


Bruce queria revirar os olhos.

Cheio de perguntas como a filha. Pensou, mas mesmo assim respondeu.

— Sou inglês, mas meu pai era italiano.

— Era? — Frank perguntou.

Cada vez que ouvia a voz do homem, sua vontade de socá-lo aumentava.

— Sim, morreu há alguns anos.

— O que você fazia no exército? — Josh perguntou.

— Franco.

— O que é isto? — perguntou confuso.

Seu nonno sorriu e explicou.

— Ele era um atirador, especializado em armas e tiros de precisão — disse. —


Isto mesmo, não é?

— Sim — confirmou. — Perseguir e eliminar o inimigo com um único tiro a


distância.

— Já errou algum? — Rita perguntou.

— Nunca errei um alvo — disse calmo, mas outra ameaça estava em suas
palavras, quando desviou o olhar para Frank que o encarava sério.

Conversaram mais um pouco até que o celular de Bruce tocou, ele olhou o visor
um segundo e no outro já tinha colocado em seu ouvido.

— Chefe.

Todos olharam para Bruce, ele ouviu o que Adônis tinha para dizer sem modificar
suas feições e desligou sem dizer nada. Na verdade, Adônis desligou, ele
sempre fazia isto. Ligava, dava ordens e desligava sem esperar por respostas.

Colocou o celular no bolso e se levantou.

— Peço desculpas, mas preciso sair por um instante — informou.

— Aconteceu algo? — Marzio perguntou um pouco preocupado.

— Nada difícil de resolver — respondeu e olhou para Rita. — Volto em meia


hora, querida.

— Bruce...

— Meia hora — garantiu.


Ele beijou os lábios de Rita rapidamente, impedindo-a de prosseguir com
perguntas. O barulho de um carro freando bruscamente chamou a atenção de
todos. Bruce acenou para o pai de Rita antes de caminhar rápido até o carro. A
porta foi aberta antes assim que se aproximou, com destreza entrou e bateu a
porta.

Rita quase ofegou quando o carro cantou pneu e acelerou pelas ruas.

— Nossa! Quase um filme de ação. — Marzio exclamou. — É sempre assim?

— Não. — Rita mentiu.

— Como o seu chefe sabia que ele estava aqui? — Josh perguntou curioso.

— O senhor Albertini sabe até quantas vezes Bruce respira por dia — respondeu
e revirou os olhos sabendo que Adônis tinha o controle de cada pessoa ao seu
redor.

Como Milena sempre dizia, era o seu cão.

— Você está mesmo namorando com esse cara? — Frank perguntou.

— Esse cara se chama Bruce, e sim, estou com ele — afirmou. — Algum
problema com isto?

— Nenhum — garantiu.

— Bom.

Josh sorriu ao ver como sua mãe era uma fera para proteger quem gostava. E
só agora parou para observar as reações de Frank, acabou concordando com
Bruce. Ele estava sendo um idiota com suas perguntas e olhares.

Josh sabia que Frank estava interessado em sua mãe, mas ela nunca o deu
esperanças. Gostava de Frank, mas isto não significava que ele podia agir como
um babaca. Sua mãe estava feliz e isto tinha que ser somente motivos de
alegrias para eles.

Já que a viram sofrer por tanto tempo.

...

Bruce pulou para fora do Jeep assim que foi freado bruscamente e entrou na
caminhonete que o aguardava. Victor dirigia e Roy estava no banco de trás com
as armas.

— Vamos fazer alguns furos. — Roy disse animado e lhe passou uma máscara.
Bruce colocou sobre o rosto e pegou a metralhadora que Roy ofereceu. Em
silêncio, conferiu a potente arma que tinhas nas mãos, mesmo sabendo que seus
homens já tinham feito aquilo.

Roy e Victor falavam besteiras durante o rápido caminho.

Entretanto, Bruce estava concentrado e ignorando os dois rapazes. Ainda podia


ouvir a voz fria e calma de Adônis quando atendeu o celular.

“Mandei alguém te busca, tem vinte minutos para fazer o que mandei e poderá
voltar para sua mulher.”

Ele suspeitava de algo e foi confirmado assim que entrou no carro. Pedro o
informou que o detetive não era mais útil, sua fonte de informações vinha de
Ettore e naquele momento estava de guarda na frente de um dos galpões de
Adônis, fazendo tocaia.

Esse foi o erro dele, chegar muito perto. Pensou Bruce.

O local era distante de casas e quase não tinha movimento, o homem tinha
colocado o carro debaixo de uma árvore fora da estrada e só estava aguardando.

Bruce apoiou um joelho no banco e abriu a janela dois segundos antes do carro
frear. Sabia que Roy também estava posicionado. Eles abriram fogo, juntos. Seu
corpo nem sequer balançou com a potência dos disparos. Firmou as mãos ainda
mais sobre a arma, enquanto acabavam com o carro e com a vida do detetive.
Ele e Roy garantiram que não sobrasse nenhum espaço sem furo na lataria do
sedan.

Quando estavam satisfeitos um de seus homens correu até o alvo e acenou


confirmando a morte do detetive Gonçalo.

Victor acelerou para longe, fazendo a volta para encontrar com o Jeep que
levaria Bruce de volta para a pizzaria.

Bruce devolveu a arma para Roy e começou a tirar a roupa. Limpou as mãos
para apagar os resquícios de pólvora e vestiu um terno limpo, seus homens eram
eficientes e sabiam que ele voltaria para Rita.

Outros homens iriam limpar a cena do crime e jogar o corpo morto do homem
em algum lugar. Poderia ter matado o detetive de outra forma, mais discreta,
mas aquele era um jeito de informar aos seus inimigos quem manda na cidade.

— Valeu, cara.

Roy gritou assim que Bruce pulou para fora da caminhonete e entrou no Jeep
onde Pedro dirigia.

— Cinco minutos para me deixar de volta na pizzaria.


Pedro sorriu concordando e pisou fundo no acelerador, somente diminuiu a
velocidade quando estavam próximos e parou devagar para não levantar
suspeitas.

Bruce desceu do carro e encontrou Rita e sua família no mesmo lugar,


conversavam distraídos e só o notaram quando se aproximou.

Marzio sorriu e olhou o relógio de prata em seu pulso.

— Vinte e nove minutos, estou impressionado — brincou.

Bruce sorriu de leve, enquanto se sentava ao lado de Rita.

— Sou um homem de palavra — afirmou.

— Ninguém aqui dúvida — brincou Josh.

Bruce desviou o olhar para o garçom que trazia a pizza sobre uma pedra.

Ele tinha chegado a tempo de acompanhá-los para a refeição, pediu uma bebida
sem álcool e beijou Rita. Ela olhou em seus olhos tentando descobrir o que tinha
ido fazer, mas Bruce não demonstrou nada, como sempre. Ele somente piscou
para ela e voltou sua atenção ao garçom que lhe serviu uma fatia de pizza.

A noite foi agradável, apesar da presença irritante de Frank. Bruce manteve a


calma todas as vezes que foi provocado e nenhuma vez sacou sua arma para
atirar no homem que não escondia que queria algo que somente o pertencia.

O que foi um alívio ver que ele manteve seu controle, mas isto não significava
que Bruce não estaria pronto para ir atrás de Frank mais tarde.

— Mama?

A voz de Josh fez Rita se concentrar.

Estava cansada de seu dia e semana de trabalho, e agora estava quieta


enquanto Bruce os levava para casa.

— Sim.

— Sabia que a mãe de Daniel o abandonou com a nonna dele? — questionou.

— Como? — perguntou se virando para encarar Bruce.

Ele deu de ombros.

— Ele me contou hoje, estava triste porque a mãe dele o deixou, mas disse que
ela não o tratava bem — explicou.

— Ela o deixou? — perguntou ainda em choque.


— Sim, nunca vai me abandonar, neh mãe?

— Jamais, querido — garantiu.

— Acho que ele vai ficar bem com a nonna, sua mãe o tratava mal e ele é um
cara legal. — Josh disse.

— Talvez seja o melhor para ele. — Rita disse sem desviar os olhos de Bruce.

Ela sabia que ele tinha algo a ver com aquele assunto.

— Sim, vai ser melhor para ele. — Josh concordou.

Voltaram a ficar em silêncio por todo o caminho e quando Bruce estacionou na


porta da casa dela. Josh foi o primeiro a sair, como sempre fazia, para deixar
que a mãe conversasse com Bruce e se despedisse.

— O que você fez? — Ela perguntou séria.

— Eu?

— Bruce. — repreendeu-o.

— Não fiz nada, nem sei do que está falando — resmungou.

Rita deu um tapa no ombro dele.

— Seu cínico, como fez Talita abandonar o filho? Isto é maldade.

Bruce a encarou com olhos duros.

— Maldade é ela maltratar aquele garoto — afirmou. — Ele vai ficar bem sem
ela, e não, eu não fiz nada com ela — deu de ombros. — Talvez algumas
ameaças, ordens diretas de Adônis — defendeu-se. — Ele a expulsou da cidade
depois de descobrir algumas coisas erradas que fez por aí.

— E por acaso ele pode expulsar alguém da cidade? — perguntou ainda brava.

Bruce somente ergueu uma sobrancelha como se aquela fosse à pergunta mais
idiota que já ouviu.

— Tudo bem, não quero saber — resmungou. — Ela o maltratava mesmo?

— Sim.

Rita suspirou, o garoto iria ficar bem com a avó.

— O que ele descobriu sobre ela? — perguntou curiosa.

— Todo mundo tem esqueletos no armário e o dela não era nada bonito — disse.
— Sonegação de impostos, traía o marido e outras coisas que foi possível
chantageá-la para sair da cidade e não voltar mais.
Rita encostou a cabeça no descanso do banco, cansada.

— O que foi, querida?

Bruce se aproximou dela.

— Que dia! – murmurou. — Ou melhor, que semana! Parece que não vai acabar
nunca.

— Entre e vá descansar um pouco — ordenou.

Ela o olhou e permitiu que a beijasse. Começou devagar e lento, para se tornar
quente e necessitado. Mesmo não querendo admitir, Rita sabia que nunca mais
seria a mesma depois de deixá-lo tocá-la.

Nunca teria suficiente, sempre desejaria mais.

Puxou sua boca para longe da dele.

— Quer passar a noite comigo? — perguntou em um murmuro rápido.

Tinha medo de se arrepender e voltar atrás no pedido.

— Tem certeza?

Pareceu surpreso.

— Vai mesmo me dar tempo para pensar se eu o quero ou não você na minha
cama a noite toda comigo?

— Vamos — afirmou.

Rita riu quando ele pulou para fora do carro.

Entraram em casa e encontraram Josh na sala ligando o vídeo game.

— Nem pensar. — Rita falou alto fazendo o garoto pular assustado.

— Quase me mata do coração, mama — acusou.

— Pode desligar isto e ir direto para cama — ordenou.

— Só uma partida — insistiu.

— Não. — Rita negou firme.

Ele gemeu frustrado e desligou a TV.

— O que Bruce ainda faz aqui? — perguntou agora levemente curioso.

Com o olhar esperto de Josh, percebeu sua mãe hesitar.

— Já entendi, ele vai passar a noite.


— Josh...

— Boa noite, mama — cortou-a. — Noite, Bruce.

— Boa noite, Josh.

Bruce respondeu enquanto observava o garoto pegar a mochila e o par de tênis


descartado no chão. Ele sorriu de leve para eles e subiu as escadas.

— Tem certeza que quer que eu fique? — perguntou não querendo causar
nenhum mal-estar entre eles.

— Sim, vou falar com ele e já volto — disse.

— Tudo bem, vou no carro pegar uma roupa e fazer algumas ligações.

Ele beijou-a devagar e lento antes de voltar a sair da casa em direção ao carro.

Rita suspirou e subiu as escadas, parou na porta do quarto de Josh e bateu de


leve antes de entrar. Ele estava deitado sua cama com os braços atrás da
cabeça e olhando o teto.

— Filho?

— Oi, mama — murmurou.

Rita entrou e deitou ao lado dele.

— Algum problema em ter Bruce passando a noite comigo? — perguntou.

— Não sei — resmungou.

— Posso mandá-lo embora...

— Não precisa, mãe. — Josh suspirou.

— Mas...

— Estou bem com você namorando Bruce.

— Então, qual é o problema? — perguntou confusa.

— Você esqueceu o meu pai?

— Não, nunca seria capaz de esquecê-lo.

— Eu só estou sendo bobo.

— Não, querido — disse. — Você não está sendo bobo.

Ela se moveu na cama, levantando de leve para encarar o filho nos olhos.
— Eu sempre vou amar seu pai — disse baixo. — Rodrigo foi meu primeiro amor
e era totalmente diferente de Bruce. O que tive com seu pai foi um amor leve e
suave que fazia bem para minha alma — explicou amorosa. — Mas isto não quer
dizer que eu não possa amar mais ninguém — disse emocionada. — Meu
coração sempre vai ter espaço para mais um amor.

— E como é o amor com Bruce? — Josh perguntou.

— Intenso — respondeu e sorriu. — Seu pai sorria e falava fácil, era divertido e
bem-humorado. Totalmente contrário da personalidade de Bruce. — Seu sorriso
aumentou. — Nunca vi um homem tão mal-humorado na minha vida.

Josh sorriu concordando.

— Ele sempre chamou minha atenção por causa disto, sempre calado e fechado
— contou. — Era praticamente a sombra de Adônis e aquilo me intrigava. Eu
poderia fazer mil e uma perguntas que ele não me responderia — sorriu. — Se
respondesse seria com uma irritante resposta monossílaba.

— Ele é fechado mesmo. — Josh concordou e riu.

— Começamos a nos acertar há pouco tempo — hesitou um pouco.

— Mas sempre houve um sentimento entre vocês — afirmou Josh.

— Sim — concordou. — Ainda não estou acostumada em como você está


crescendo rápido.

— Pra você eu sempre seria um bebê — revirou os olhos.

— Você sempre vai ser meu bebê — afirmou e apertou as bochechas dele.

— Para mãe — protestou.

Ela riu e beijou o rosto dele.

— Então, está tudo bem? — Rita sondou.

— Sim, o deixe ficar e o coloque para dormir — disse. – Acho que ele nunca
dorme, daqui uns dias vai virar um zumbi — brincou.

— E vai fazer parte da família zumbi sugadora de sangue que estamos nos
tornando.

— Mãe. — Ele gemeu frustrado. — Zumbis não sugam sangue.

— Como eles são chatos — riu e se levantou. — Você está bem? Precisa de
algum remédio para dor muscular?

— Estou bem.
— Bom — beijou a testa dele. — Boa noite, querido.

— Boa noite, mama.

Rita saiu do quarto do filho aliviada por ter tanta liberdade em conversar com ele.
Entendia os seus receios e medos, chegou até mesmo a cogitar a ideia de pedir
para Bruce ir embora. Achando que tinha se precipitado.

No entanto, quando desceu e o encontrou sentado em seu sofá conversando


baixo no celular, soube que tinha acertado em pedi-lo para ficar.

Ela já tinha superado o luto há muito tempo e agora estava pronta para outro
relacionamento. Mesmo achando que poderia ser loucura, já que Bruce não
conhecia o significado da palavra devagar. Dois dias juntos e eles já haviam feito
sexo loucamente, ele afirmou que queria compromisso sério com ela, e também
existia a possibilidade de uma gravidez. Já que não tinha usado camisinha
quando estiveram juntos naquela manhã.

Uma loucura completa.

Pularam todas as etapas possíveis.

Rita acreditava estar enlouquecendo pelo simples fato de que ainda não tinha
pirado e aceitado tudo com tanta facilidade.

— Ele está bem?

A voz baixa de Bruce a tirou de seus devaneios.

— Sim — afirmou.

— Porque continua parada aí?

— Desculpe, estava perdida em meus pensamentos.

Caminhou e se sentou no colo de Bruce.

— Posso ir...

— Ele está bem, só estava com receio de que seu pai fosse esquecido — contou.
— Expliquei que isto nunca seria possível — sorriu. — Então, meu filho de doze
anos que parece um adulto me mandou te colocar para dormir, porque acha que
você nunca fez isto, e que a qualquer momento vai virar um zumbi também —
brincou.

Bruce sorriu e aconchegou Rita nos braços.

— Esse garoto é demais.


— Não estou pronta para deixá-lo crescer — disse e deitou a cabeça no peito de
Bruce.

— Nenhuma boa mãe está.

Rita riu e eles ficaram em silêncio, até que a curiosidade despertou Bruce.

— Querida, me responda uma coisa — pediu.

— Sim.

— Por que ele tem tanto medo de que você o abandone?

Rita ficou tensa e sentiu Bruce afagar suas costas, respirou fundo e decidiu
responder. Afinal, Bruce sempre contava tudo sobre sua vida e merecia o
mesmo.

— A mãe de Rodrigo, ela colocou esse medo nele depois do acidente —


suspirou.

— O que aconteceu?

— Eu me perdi no meio da dor que senti, meu luto foi forte, quase morri de tanta
tristeza. Cuidava do Josh no automático com a ajuda do meu pai, que também
estava sofrendo — murmurou. — Um dia meu corpo não aguentou, fui internada
e fiquei alguns dias lá para me recuperar. Então, minha ex-sogra aproveitou para
ficar um pouco com Josh. No momento eu não me importei, já que não esperava
que ela fosse fazer o que fez.

Rita se calou e respirou devagar tentando ignorar o caroço que se formava em


sua garganta.

— Ela juntou todas as coisas dele e o levou embora para Nova York, onde mora
até hoje — disse e raiva brilhou em seus olhos. — Quando descobri o que
aconteceu movi céus e terras para buscá-lo, mesmo ainda imersa no luto. Meu
pai usou seus contados e um advogado foi comigo buscá-lo. No início se negou
a devolvê-lo, a polícia considerou sequestro de menor. Não sei como ela
conseguiu levá-lo sem a autorização devida, mas isto não importa — disse firme.
— Fui e peguei meu menino, mas antes de sair de lá eu lhe dei uns bons tapas.

— Bateu nela? — Ele perguntou rindo.

— Sim, aquela vaca — xingou. — Meu advogado lhe deu uma ordem de
restrição, ela nunca mais pôde se aproximar do meu filho até que ele tenha
dezoito anos e decida o que quer — afirmou. — Mas ela deu uma ferrada na
mente de Josh — suspirou. — Disse a ele que eu não o queria mais. Que meu
amor pelo pai dele era maior do que o que sentia por ele. Ele era só um bebê
que não entendia muito as coisas, mas que passou pelo acidente... o carro que
explodiu na frente de nossos olhos... e vem aquela mulher roubar meu filho.
— Ela nunca mais voltou?

— Tentou no início, mas quando viu que eu não iria ceder, ela desistiu.

— Bom.

Bruce levantou o rosto de Rita e a beijou com a clara intenção de fazê-la


esquecer das coisas que estavam conversando. Ela retribuiu o carinho e os dois
se perderam, um nos lábios dos outros.

Ele a levantou em seus braços e subiu as escadas em direção ao quarto de Rita.


Precisava dela nua e sobre ele. Ela não protestou, sentia-se da mesma forma.
Os dois estavam viciados um no outro.

Depois de colocá-la sobre a cama, os dois se amaram intensamente, sem se


importar ou lembrar-se de qualquer outra coisa.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

Bruce despertou quando ouviu um leve barulho. Rita continuava dormindo na


mesma posição de conchinha com ele, usando seu bíceps de travesseiro e ele
segurava sua cintura com o outro braço.

Levantou a cabeça ao ver uma luz fraca pela fresta da porta e então ouviu alguns
passos leves. Sentiu-se tenso por um momento e até mesmo pensou em pegar
sua arma, mas não o fez. Se fosse alguém tentando matá-los, seria mais
cuidadoso com passos e não acenderia a luz. A porta se abriu devagar e lá
estava a pessoa que fez o barulho que o acordou.

Josh.

— Posso entrar? — perguntou com a voz hesitante.

Carregava um travesseiro e uma coberta, usava somente a calça de flanela de


seu pijama e o olhava ansioso. Bruce acenou com a cabeça e o garoto pareceu
aliviado quando caminhou para dentro e fechou a porta devagar.

Bruce se lembrou de que Rita ordenou que ele usasse pelo menos a boxer, já
que tinha a certeza que Josh apareceria no quarto em algum momento. De início
não entendeu, então, ela explicou que o medo que ele sentiu ao quase ser pego
por Ettore o traria a sua cama quando acordasse. Ela vestiu uma camisola de
ceda rosa claro e se aconchegou a ele, logo caiu no sono por causa da exaustão,
depois de três rodadas de sexo intenso. Eles tinham sido cuidados em trancar a
porta e não fazer muito barulho enquanto namoravam, mas depois de se
vestirem ela destrancou a porta.

O movimento na cama chamou sua atenção, Josh deitou ao lado da mãe. Como
se soubesse, ela o aconchegou ainda dormindo.

— Achei que estaria dormindo. — Ele murmurou baixo.

— Tenho sono leve. — Bruce respondeu baixo.

O silêncio ficou entre eles por alguns segundos até que Josh voltou a falar.

— Bruce?

— Sim?

— Você sente falta do seu pai? — questionou surpreendendo Bruce.

— Não — foi sincero.

— Por quê?
— Ele não foi um bom pai — murmurou.

— Eu sinto falta do meu pai, mas quase não me lembro dele — divagou. —
Estranho isto, sentir falta de algo que não se tem memórias.

— Não é estranho, ele foi um bom pai para você e querer que ele não tenha ido
é normal. — Bruce o confortou.

— Minha mãe sempre diz que ele me amou muito quando era vivo.

— Tenho certeza que sim.

— Você a ama? — perguntou.

— Sim.

— Não machuque o coração dela — ordenou.

— Não posso prometer isto.

— Por quê? — perguntou um pouco tenso.

— Sou homem, e os homens sempre fazem besteiras — respondeu e sorriu.

Josh se segurou para não rir alto.

— Sério?

— Sim, somos um bando de idiotas. — Bruce murmurou. — Vai aprender isto


daqui um tempo.

— Tudo bem, posso viver com isto — disse. — Sabe por que eu não me importo
de que namore minha mãe?

Bruce ficou em silêncio surpreso com o rumo que aquela conversa no meio da
madrugada, com o filho da mulher que ele ama e que passou horas fazendo
sexo, estava tendo.

— Não — murmurou e ouviu Josh suspirar.

— Você faz minha mãe sentir.

— Sentir?

— Sim, nem que seja raiva — brincou e Bruce sorriu. — Ela não tinha brilho e
há alguns meses isso mudou, você a mudou.

Bruce sentiu o garoto se aconchegar mais nos braços da mãe e suspirar.

— Obrigado por me deixar ficar aqui. — Josh murmurou.


— Não me agradeça por isto, amo sua mãe, mas nunca vou querer tomar o lugar
do seu pai — prometeu.

— Estou feliz por isto.

Eles ficaram quietos até que Bruce sentiu a respiração de Josh mudar,
comprovando que ele estava dormindo. A cama ficou um pouco sem espaço com
o novo corpo sobre ela, mas Bruce nunca se sentiu tão bem quanto naquele
momento. Jamais negaria a ele a oportunidade de deitar na cama da mãe,
também não ocuparia o lugar de seu pai.

Sabia que eles nunca deixariam de amar Rodrigo, mas havia espaço para um
novo amor ali.

Um novo relacionamento.

Bruce estava disposto a dar o seu melhor para que desse certo.

...

Bruce acordou assustado por não lembrar direito onde estava ainda inerte de
sono. Deparou-se com uma cama vazia e lembranças vieram em sua mente.
Suspirou sabendo que sobreviveu a uma noite com Rita, e Josh grudado nela.
Rolou para fora ainda surpreso pelo sono pesado que teve, coisa que não
acontecia há muitos anos.

Aquilo o chocou um pouco.

Tomou a liberdade de tomar um banho na suíte dela e depois de se vestir,


desceu as escadas procurando pelos dois. Encontrou Josh tomando café na ilha
da cozinha ainda vestido somente com a calça de seu pijama. E na frente dele
estava a mulher mais linda que ele já conheceu. Rita. Um hobby de seda envolvia
seu corpo, cobrindo somente até suas coxas nuas.

— Buongiorno.

Ela disse a ele que precisou de um segundo antes de responder.

— Bom dia — murmurou.

Se sentou ao lado de Josh e Rita colocou uma xícara na frente dele.

— Dormiu muito. — Ela disse e ele ficou tenso.

— Oh, merda. — Bruce xingou percebendo que ainda tinha um trabalho a zelar.

— Mama, Bruce precisa de boas maneiras. — Josh brincou.


Ele puxou o celular do bolso se lembrando de que não olhou se tinha alguma
chamada. Empalideceu quando viu que já era nove da manhã e leu algumas
mensagens de Adônis.

— Adônis vai comer meu traseiro, porra!

Murmurou fazendo Josh rir alto.

— Bruce! — Ela o repreendeu.

— Desculpe, falei alto.

— Algum problema? — Rita perguntou.

— Nunca dormi tanto na minha vida, não ouvi as mensagens do chefe — disse
e fez uma careta fazendo o garoto ao seu lado se divertir com a situação.

— Precisa ir? — Ela questionou. — Aconteceu alguma coisa?

— Não, deixei Pietro no comando ontem à noite.

— Ei, Bruce? Sabe jogar vídeo game? — Josh perguntou.

— Sim.

— Quer jogar uma partida comigo?

— Claro.

— Depois do café. — Rita lembrou. — E eu não me esqueci que você estava de


castigo. — Josh gemeu frustrado.

Tomaram o desjejum juntos e tranquilo. Bruce fez algumas ligações e depois foi
jogar com Josh, depois de muita insistência sua mãe permitiu.

Adônis tinha dado a ele o dia de folga e Bruce apreciou isto. Não sabia quando
foi a última vez que tirou uma folga e esperou que Pietro tivesse bastante
trabalho para compensar as horas que ele o perturbava.

Bruce passou o dia na companhia de Rita e Josh, jogou algumas partidas com o
garoto e beijou Rita várias vezes escondido. Os levou ao mercado e depois
pararam para tomar um gelato próximo à casa dela.

Mais tranquilo do que aquilo não poderia ficar.

Quando anoiteceu, Bruce esperou Josh ir dormir para então ter o que tanto
esperou por todo o dia.

Levou-a para cama e fez amor com ela por incontáveis horas até que seu celular
tocou e precisou sair para o trabalho. Rita não gostou muito de ser deixada
depois do que fizeram em sua cama, mas entendeu que não tinha como lutar
contra aquilo. Deu uma chave reserva para ele, assim quando terminasse, o que
foi fazer, poderia voltar para sua cama.

O domingo amanheceu preguiçoso para Rita, mas ao sentir o calor de um grande


corpo prensado em suas costas se despertou. Bruce retornou no meio da
madrugada e ela não tinha percebido. A segunda coisa que percebeu era que
ele estava completamente nu e excitado, como qualquer homem pela manhã.

— Fique quieta. — Ele murmurou sonolento.

Rita sorriu sabendo que estava o provocando. Ficou quieta por um minuto e
depois se remexeu contra ele.

— Rita.

Agora ele não parecia tão sonolento, sua voz veio com um tom de aviso e ela
gostou da sensação de perigo que soou. Esfregou-se mais contra ele e sentiu a
mão de Bruce segurar sua coxa, a puxou contra seu corpo duro. Contudo, não
durou muito, ele a soltou logo e se inclinou sobre ela.

— Eu vou te foder.

Não era um pedido e sim uma afirmação.

Rita sorriu animada e deixou que ele fizesse o que queria com ela. Estava a sua
mercê. Apesar do rosto marcado pelo sono, Bruce tinha um olhar quente.

Mais tarde ela saiu do quarto deixando um Bruce completamente morto em sua
cama. Ele parecia cansado e Rita se sentiu um pouco culpada por ter o
provocado, aquele sentimento não durou muito.

Rita estava mais do que satisfeita sabendo que valeu cada segundo em que ele
a beijou, cada canto do seu corpo, a levou a beira da loucura tomando-a de forma
selvagem.

Encontrou Josh cochilando no sofá tentando assistir desenhos animados.


Balançou a cabeça pensando que ele poderia dormir mais um pouco em seu
quarto em vez de insistir em ver TV àquela hora da manhã.

Foi para cozinha e preparou um café. Se deitou no sofá com Josh e o


aconchegou em seus braços como sempre fazia.

Duas horas mais tarde, Bruce desceu as escadas completamente arrumado em


um terno preto. Rita se sentiu encantada quando viu o rosto dele. Não tinha mais
aquela sombra mal-humorada que se acostumou em ver. Ele parecia relaxado e
tranquilo.

O cheiro dele a fez sorrir, gostava do perfume masculino e o frescor que tinha.
Bruce a beijou de leve e bagunçou os cabelos de Josh.
— Preciso sair, volto em uma hora para buscar vocês — avisou.

— Devo perguntar aonde vai? — Rita questionou.

Josh deu uma risadinha quando viu Bruce hesitar.

— Acho que não, mas estou indo chutar o traseiro de um idiota — respondeu.

— Bruce! — Rita exclamou preocupada e também em tom de repreensão.

— Brincadeira, querida — disse. — Só vou ao aeroporto acompanhar a escolta


da senhora Jianne Albertini, até a casa do chefe. — Bruce sorriu e olhou para
Josh. — Nada de chutar traseiros por aí, garoto, me chame quando for preciso,
não ligo para essa coisa de violência.

— Bruce! — Rita o olhou brava.

Josh gargalhou e Bruce caminhou na direção da porta.

— Vou chamar. — Josh gritou.

— É só ligar. — Bruce garantiu rindo e saiu ouvindo as maldições de Rita.

Rita olhou para o filho que ainda ria e tentou não rir.

— Nem pense nisto, ouviu?

— Ah, mama.

— Eu vou matar aquele idiota. — Rita ameaçou.

— Mama, nada de violência. — Josh brincou.

— Não pense em chamá-lo para bater em alguém ou vai ficar de castigo até
completar vinte anos.

Ele riu e os dois seguiram naquela conversa por mais um tempo, antes de irem
se arrumar para o almoço na casa de Adônis e Giulia.

Bruce retornou no tempo estipulado e teve que esperar Rita se arrumar, algo que
ele já deveria ir se acostumando se quisesse continuar com o relacionamento.
Ela demorava muito para se aprontar e Josh não ficava atrás, o garoto demorava
em sair do chuveiro e era muito vaidoso.

Isto sim deixou Bruce impaciente.

Esperar era uma coisa que ele não estava acostumado. Sempre foi pontual e
nunca se atreveu em deixar Adônis esperando. Quando, enfim, Rita desceu ele
esqueceu tudo e somente se importou na bela mulher que tinha ao seu lado.
O almoço na casa do chefe da máfia foi tranquilo e animado. Coisas que Rita
nunca imaginou que seria. Ver Adônis e Apolo em um ambiente tão familiar como
aquele, a surpreendeu. Claro que ela já tinha presenciado situações deles com
suas esposas e filhos, até mesmo frequentado suas casas quando eles não
estavam, tinha se tornado amiga de Giulia e Milena, mas vê-los completamente
relaxados era algo que nunca imaginou.

Foi muito bem recebida por Giulia e sua sogra, dona Jianna. Depois de tantos
anos de trabalho na construtora, Rita já conhecia todos e se sentiu muito à
vontade entre eles. Menos no momento em que Apolo contou a todos como foi
que ela chutou Talita para fora do prédio na sexta-feira. Josh ficou um pouco
surpreso, mas depois sorriu pedindo mais detalhes do que havia acontecido.
Claro que Apolo não negou, narrou tudo e até acrescentou coisas a história.

O momento em que Apolo não riu muito foi quando Marion e Frontin começaram
a perturbá-lo por ser pai de uma menina agora. Sim, Milena está grávida de
quase quatro meses e gerava uma linda menininha. Claro que Apolo estava
animado com a notícia, mas também paranoico. Não escondeu o fato de que sua
filha seria colocada em um internato de freiras e cada vez que um garoto
respirasse ao lado dela ele iria matá-lo por tamanha ousadia. Adônis concordou
com o irmão e garantiu que a mesma coisa ia ser feita com Lilian, mas ele não
deixou de provocá-lo dizendo que Apolo pagaria todos seus pecados com juros
e correção monetária nas mãos de sua pequena princesa.

Suas esposas somente riam deixando os maridos se iludirem, acreditando que


iriam prender suas meninas. Rita entendia o porquê delas não discutirem.
Aqueles homens ao seu redor eram bons em discussão e não entravam em uma
briga para perder. Naquele momento, poderiam acreditar nas besteiras em que
diziam, mas elas jamais permitiriam tal coisa, o que deixou a conversa ainda
mais divertida.

Quando a tarde chegou, ela voltou para casa se sentindo cansada, mas era um
cansaço bom. Há muitos anos não se divertia tanto, uma leveza encheu seu
coração e ela pode dormir tranquila sabendo que teria uma longa semana de
paz.

Pelo menos era o que esperava.


CAPÍTULO VINTE E SETE

— Josh!

Bruce quase estremeceu quando Rita gritou pelo filho. Ele respirou devagar e
levou a xicara nos lábios, o sabor do cappuccino o ajudou a relaxar. Havia se
passado pouco mais de um mês que estava namorando Rita, e desde então,
nunca mais teve uma manhã silenciosa.

A primeira e mais difícil coisa que teve que se adaptar era a falta do silêncio. Os
dois sempre estavam animados demais para uma manhã. Não importava qual
dia fosse, sempre teria conversas e risos. No entanto, Bruce não reclamava.
Tudo aquilo preenchia um vazio que ele nem sabia que tinha dentro de si.

A segunda coisa que teve que se acostumar era com os atrasos pelas manhãs.
Algo inevitável. Rita enrolava na cama até o último minuto possível e Josh se
esquecia do mundo quando estava tomando banho. Não havia nada que
pudesse ser feito para mudar aqueles hábitos e pelo jeito também não adiantaria
muito.

Então Bruce se sentava na bancada, tomava seu café tranquilamente e resolvia


alguns de seus problemas pelo telefone. Enquanto Rita ameaçava Josh com
castigos por demorar muito no banheiro.

Um pequeno sorriso se formou nos lábios dele quando percebeu que não trocaria
aquela nova rotina nem por um milhão de dólares. Estar perto de Rita fazia
qualquer outra coisa perder a importância.

Durante esse tempo que se passou, ele dormiu quase todas as noites na cama
dela e não houve outro episódio com Josh invadindo o quarto de madrugada.
Acreditava que o garoto tinha realmente se assustado naquele dia, por isto,
precisou se sentir mais seguro durante a noite, no que seria na cama da mãe.

— Joshua! – gritou. — Se não descer em um minuto, não vou mais permitir que
viaje com a escola — ameaçou.

Desta vez Bruce estremeceu de leve.

Encontrava-se tão distraído em seus pensamentos que não percebeu que Rita
estava pronta para arrancar as duas orelhas do filho, que ainda não tinha
descido.

— Ele vai descer, querida — disse baixo e descansou sua xícara na bancada.

— Esse garoto está merecendo umas palmadas, isto sim — murmurou.


Bruce a observou preparar o café para o filho e não perdeu a forma como seus
ombros estavam rígidos.

— Já estou aqui, mama. — Josh disse ofegante.

Sentou do lado de Bruce e sorriu.

— Estamos atrasados, ou melhor, você está — disse. — Tinha que chegar mais
cedo hoje e não vamos conseguir.

— Ainda dá tempo, mama. — Ele disse para tranquilizá-la.

Rita ficou em silêncio por um minuto.

— Tem certeza que quer ir? — perguntou hesitante

Preocupação se mostrou em seus olhos.

— Sim, todos meus amigos vão. — Josh respondeu e gemeu frustrado.

— Não se preocupe, Rita. — Bruce disse tentando aliviar a situação.

— Mas...

Ele a interrompeu.

— Nada de “mas” hoje, ele vai viajar com a escola e vai se divertir — disse firme.
— Conversamos sobre isto.

— Bruce. — Rita choramingou preocupada.

— Sei que está preocupada, mas não tem o porquê. — Bruce afirmou.

— Mama, está tudo bem — garantiu.

Bruce fechou o semblante e se virou para Josh.

— Eu quero que se divirta, mas que seja inteligente — disse firme. — Nunca
fique sem seu celular ou esqueça-se de verificar a bateria. Não fique sozinho em
nenhum lugar, esteja sempre acompanhado de seus amigos e professores —
instruiu. — Se ver algo estranho, corra para perto de seus amigos e vá para um
lugar seguro.

— Bruce, se Ettore aparecer por lá. — Rita disse aflita.

Ele a encarou por um segundo e voltou a olhar para o garoto.

— Josh — disse calmo. — Se ele aparecer você vai me ligar e correr para os
seguranças que estarão te olhando.

Bruce pegou o celular e mostrou as fotos dos homens que seguiriam Josh.
— Esses são Pedro e Victor — apontou. — Eles vão estar por perto garantindo
que esteja seguro. Se a merda vier a baixo, você corre para eles — ordenou. —
E se ainda assim eles estiverem feridos você entra no carro e se tranca lá. Todos
os meus carros são blindados e vai estar seguro até que eu o alcance —
prometeu.

— Você acha que ele vai atrás de mim? — perguntou hesitante.

— Não, eu não acho — afirmou. — Você já sabe o que fazer, no mais somente
se divirta.

— Posso fazer isto. — Josh sorriu.

Rita gemeu frustrada conseguindo a atenção de Bruce.

— Ele vai ficar bem — garantiu.

— Ok — murmurou.

Rita voltou sua atenção para outra coisa. Queria acreditar que Josh ficaria bem,
mas não conseguia. Saber que ele passaria três dias longe dela não lhe trazia
nenhum conforto. Além de que, seu lado mãe protetora estava ligado no máximo.
Não queria aceitar que seu filho estava crescendo tão rápido e já não dependia
mais tanto dela.

Foram para o carro e deixaram Josh na escola depois de Rita repetir tudo o que
Bruce tinha dito a ele na cozinha. Quando voltou a entrar no carro a sessão de
choro começou e Bruce foi obrigado a parar em algum lugar para acalmá-la.

Rita acabou confessando que estava mais chateada por se separar dele. Depois
de doze anos sempre cuidado do filho e a forma em que superaram a morte de
Rodrigo juntos, os deixou ainda mais unidos, era difícil se separar. Mesmo que
fosse somente por três dias. Ela não queria que ele crescesse, mas entendia
que não podia prendê-lo a ela para sempre. Josh precisava crescer longe de
suas asas. Rita entendia, porém, como toda mãe coruja, não queria aceitar
aquele fato tão facilmente.

Depois de meia hora sendo consolada e ouvida por Bruce, eles enfim puderam
ir para a construtora. O dia de trabalho foi longo e passou devagar, a cada duas
horas ela recebia uma mensagem de Bruce afirmando que estava tudo bem com
Josh. Rita apreciou seu gesto, saber que ele estava bem acalmava seu coração.

Lhe trazia um pouco de paz.

No fim do expediente, Rita foi para casa com Dânio. Bruce tinha ligado e avisado
que não poderia acompanhá-la. Estava ocupado com algo, que ele não disse o
que era, mas afirmou que voltaria para dormir com ela em seus braços.
Rita não escondeu que ficou aliviada, não queria enfrentar a casa sozinha sem
a presença do filho. Seria bom tê-lo para distraí-la, seus nervos de ansiedade
estavam acabando com ela.

Tomou um longo banho quente e vestiu uma camisola de seda branca que ia até
seus pés. Escovou os cabelos com calma, tentado ignorar a aflição de estar
sozinha. Quando não tinha mais nada para fazer no quarto, desceu e foi para
cozinha preparar algo para comer.

Logo após ficou um pouco na sala assistindo qualquer coisa que lhe prendia um
pouco de interesse. Quando isto não funcionou, se arrastou de volta para seu
quarto e tentou dormir.

Fechou seus olhos e diminuiu o ritmo.

Acabou adormecendo somente por meia hora e abriu os olhos de novo sentindo-
se impaciente. Levantou e no escuro da casa desceu de volta para cozinha.
Pegou um copo e abriu a geladeira. Pegou a garrafa de leite e derramou o
conteúdo no copo. Guardou e fechou a geladeira. No escuro da cozinha, se
encostou na ilha e tomou a bebida devagar.

Um pequeno ruído do lado de fora a fez congelar. Rita respirou lentamente e


esperou para ver se ouvia algo de novo. Alguns minutos se passaram e não
ouviu nada. Seu corpo relaxou. Caminhou até a pia e colocou seu copo dentro
com a intenção de lavá-lo no outro dia.

Porém, o pequeno som de alguém torcendo a maçaneta da porta da cozinha à


fez paralisar novamente. Hesitou por um segundo pensando que fosse Bruce,
mas ele tinha somente a chave da porta da frente e do portão.

Ouviu o som de algo sendo encaixado na fechadura e estremeceu de medo.


Adrenalina subiu em suas veias e ela respirou devagar enquanto esticava as
mãos para pegar duas facas no apoio em cima da bancada.

Precisava subir e pegar seu celular para ligar para Bruce, no entanto, o barulho
do clique na porta informou que não tinha mais tempo.

Rita caminhou devagar para um canto e aguardou. Um segundo depois sua porta
fez o costumeiro barulho irritante de quando é aberta, mostrando que precisava
ser lubrificada em alguns pontos.

A luz de fora iluminou um pouco e ela viu um homem entrando com uma arma
na mão. Segurou para não tremer ao detectar o rosto coberto para não ser
identificado.

Veio me matar. Rita pensou com a adrenalina bombeando fortemente em suas


veias.
Questionou se deveria fugir, mas tinha praticamente a certeza de que ele não
veio sozinho.

O homem deu três passos para dentro, passando sem perceber que ela
espreitava. Rita, pulou em suas costas e afundou suas facas no corpo dele. O
homem gritou em agonia deixando sua arma cair no chão. Rita em completo
desespero puxava e afundava as facas afiadas nas costas dele.

Não sabia dizer quantas vezes o esfaqueou, mas quando o homem caiu para
frente e se esparramou no chão na cozinha, ela estava completamente trêmula
e ofegante.

Eu matei um homem. Pensou quase em um pânico completo.

Antes que pudesse piscar novamente algo a puxou e a empurrou para baixo.
Uma de suas facas caiu de sua mão e a outra enfiou no braço do seu agressor.
Ele gritou de dor e ela se debateu quando teve as mãos imobilizadas.

— Sua vadia.

Rita parou, agora congelada de pânico.

Conhecia aquela voz.

Arrepios passaram por sua pele e ela respirou com dificuldade, por causa do
peso em cima dela.

Ettore.

Rita o olhou, teve dificuldades para vê-lo direito por causa da falta de luz, mas o
brilho fraco que vinha do lado de fora dava para reconhecê-lo. Uma barba cheia
cobria seu rosto e seu cabelo loiro foi pintado para uma cor escura.

Entretanto os olhos, os olhos eram os mesmos frios e sem muita emoção que
ela conhecia.

— Ettore? — questionou. — Largue-me, seu maldito — disse alto.

Conseguiu esconder o medo de sua voz.

— Sua vadia, você me esfaqueou — praguejou.

— E vou fazer de novo se não sair da minha casa — ameaçou.

— Vejo que não tem medo de mim — disse. — Quero ver até quando.

— Saia daqui! — ordenou.

— Eu não vou a lugar nenhum, sem antes garantir que você não respire mais —
afirmou.
— O.o..o que você quer de mim? — gaguejou. — Nunca lhe fiz mal, nem mesmo
te conhecia. Porque...

— Quero te matar? — completou com deboche.

Ele gargalhou e inclinou mais seu corpo sobre o dela tirando o ar de seus
pulmões com o peso.

— Queria que fosse minha informante quando me aproximei, mas você nunca
me deu muita brecha — disse. — Tentei isto por três fodidos meses e você não
me deu nenhuma informação. Tanta perca de tempo para nada! — exclamou
furioso.

— Por que eu faria isto, seu idiota? — questionou brava. — Jamais


compartilharia informações.

Rita arfou em busca de ar quando Ettore segurou seus punhos com uma mão e
a outra se fechou em seu pescoço.

— Percebi isto, poderia ter deixado para lá — rosnou. — Mas um dia vi aquele
cão de guarda da máfia te seguindo.

— N.ã..o sei... do.. que esta.. faland.o..

— Bruce — gritou. — Eu o vi te seguindo e precisava descartar você, não poderia


colocar em risco meu plano de tomar o posto de venda da máfia — disse em um
rosnado. — Mas você é mais difícil de matar do que pensei. Desta vez, não vai
escapar de mim Rita. Eu mesmo vou te matar com minhas próprias mãos. Vou
te fazer sofrer pela raiva e perca de tempo que me fez passar. Vai experimentar
dor e humilhação na sua própria casa. E depois vou deixar seu fodido corpo para
que aqueles idiotas venham enterrar — ameaçou.

Rita estava em pânico, completo pânico para ser mais exato. Percebendo as
intenções dele de machucá-la primeiro, ela voltou a lutar pela sua vida. Mesmo
quase não conseguindo respirar gritou alto e se debateu tentando salvar a si
mesma de um fim cruel.

Bruce! Gritou em sua mente esperando inutilmente que ele a ouvisse e viesse
logo em seu socorro.

...

Bruce estava encostado em uma pilastra em um armazém observando Adônis e


Apolo torturarem dois homens. Eles trabalhavam para Ettore e agora estavam
próximos da morte. Não havia sobrado muito deles e faltava pouco para darem
seus últimos suspiros.
Sentiu o celular vibrar no bolso e o pegou, uma mensagem avisava de um ataque
a um galpão no norte da cidade. Longe de onde eles estavam, aquilo fez o
estômago de Bruce se contorcer.

Pietro e Malone que estavam pertos receberam a mesma mensagem. Olharam


para Bruce esperando que ele interrompesse os chefes e lhe informasse que
tinha uma emergência.

— Bruce? — Pietro o chamou com tensão.

Bruce não desviou o olhar da tela tentando entender o que estava acontecendo.

— Bruce? — Malone o chamou.

Também não teve resposta.

Sabendo que era uma emergência grave, Malone chamou por Adônis.

— Chefe — disse firme.

Quando os homens se viraram para ele, Malone temeu um pouco pela


brutalidade que estava mostrava em seus olhos.

— O que é? — Adônis perguntou grosseiramente.

Bruce não escutou mais o que foi dito, discou o número de Dânio e levou o celular
em seu ouvido. Chamou até cair à ligação, aquilo fez um arrepio passar por sua
coluna. Ligou novamente e de novo não obteve respostas.

— Bruce, estou falando com você, porra. — Adônis gritou furioso.

Encontrou seu olhar e não se afetou com a violência que via em suas
expressões.

— Vamos para o norte e nos dividir, quero os homens vivos para ter algumas
respostas. — Adônis ordenou.

Bruce aprumou seu corpo.

— Eu não vou — afirmou.

Todos os olhares se viraram para ele.

— Como é? — Adônis questionou.

— Ficou louco. – Apolo falou no mesmo tom de irritação do irmão.

Bruce respirou devagar quando viu Adônis dar um passo ameaçador em sua
direção.
— Tem algo errado — disse sério e isto fez Adônis parar. — Dânio não atende
o celular e agora esse ataque.

Seu corpo tremeu de raiva ao entender o que estava acontecendo.

— É uma porra de distração. — Bruce gritou.

Virou em seus pés e correu.

— Esse maldito foi atrás da minha mulher! — gritou furioso.

Adônis precisou de um segundo para entender o que tinha acontecido, estava


pronto para chutar Bruce por tê-lo afrontado.

— Apolo vá para o galpão com uma equipe, estou indo com Bruce até a casa de
Rita com outra — ordenou.

— Porra! — Apolo resmungou antes de sair.

Bruce pisou fundo no acelerador e logo percebeu outros carros o seguindo.


Sabia que Adônis tinha entendido que o ataque ao galpão não passava de
distração. Cortou os carros em sua frente e fez curvas em alta velocidade.

A casa de Rita parecia mais longe do que se lembrava. Bruce nunca tinha rezado
em sua vida, ou se alguma vez já o fez, não lembrava. Contudo, agora ele
implorava aos céus para que não fosse tarde demais. Não poderia viver se
precisasse enterrá-la. Já havia dito isto a Rita algumas vezes e era a mais pura
verdade. Não poderia. Medo o agarrava da forma mais desesperadora possível.

Como uma tentativa de se agarrar a uma falsa esperança, ele ligou para o celular
dela diversas vezes por todo o caminho, ansioso para que o atendesse e que
tudo não passasse de paranoia sua. Ele iria respirar aliviado e depois daria uma
surra em Dânio, por fazê-lo quase ter um ataque cardíaco com o medo de
encontrá-la morta. Sem contar que apanharia de Adônis por afrontá-lo, mas
valeria a pena se encontrasse Rita bem e viva.

Seu coração batia tão violento em seu peito que não duvidou da hipótese de
sofrer algo quando ele parasse de bater por exaustão.

Conseguiu respirar um pouco ao virar na rua dela, os pneus do carro cantaram


com sua virada brusca. Avistou o carro de Dânio e freou ao lado e correu para
fora do veículo. Viu o homem sentado no banco, à janela do carro estava
parcialmente aberta e para seu desespero havia um furo na têmpora do
segurança.

Sacou sua arma.


Viu Adônis pulando para fora de um carro. Bruce correu atravessando a rua e
pulou o pequeno portão da casa dela. Algo pulou atrás dele e sabia que era o
chefe, mas não deu importância, precisava chegar até ela.

Um grito atravessou a noite.

Bruce ignorou qualquer prudência em seus atos.

Bateu o ombro contra a porta da frente e não conseguiu arrombá-la. Esquecendo


que tinha posse da chave. Deu um passo atrás e quando se lançou na porta,
Adônis foi junto com ele. A força dos dois rompeu a madeira bruscamente.

Bruce movia-se automaticamente em direção aos gritos de sua Rita. Invadiu a


cozinha e presenciou o exato momento em que Ettore soltou as mãos dela e
rasgou sua camisola entre os seios.

Ele estava tão envolvido com o que planejava fazer com Rita que não percebeu
a presença dos homens em suas costas. Bruce caminhou para frente e deu uma
coronhada forte na nuca de Ettore. A frieza dentro dele não permitiu que
apertasse o gatilho. Precisava se vingar lhe dando uma morte lenta e muito
dolorida. Puxou o homem pelo cabelo e o jogou do outro lado da cozinha.

Então, seus olhos a encontraram.

Estava aterrorizada e coberta de sangue, sua camisola branca destacava todo o


líquido viscoso que caiu sobre ela. O decote foi rasgado até seu umbigo, porém,
não revelava muito de seus seios. Seus cabelos estavam selvagens e molhados
de sangue inimigo.

Bruce a viu hiperventilar em pânico. Acompanhou seu olhar para um corpo morto
que ainda sangrava no impecável chão branco de sua cozinha. Ele não sabia o
que sentir, estava entre o alívio e o medo. Alívio de ter chegado a tempo para
encontrá-la com vida e medo por ela ter matado um homem, talvez nunca seja
capaz de se recuperar.

O medo e pânico em seus olhos deixou Bruce aflito, ele se agachou devagar
perto dela para não assustá-la mais, já que parecia perdida em seu próprio
medo.
CAPÍTULO VINTE E OITO

Lidar com a morte nunca é fácil.

Porém, lidar com o fato de que matou um homem e quase foi morta por outro é
ainda pior. Era como se vivesse em um pesadelo do qual nunca fosse capaz de
acordar.

Quando fechava os olhos podia ver cada vez que suas mãos empurraram
aquelas facas nas costas do bandido que invadiu sua casa. Ainda sentia o calor
morno do sangue em suas roupas e do pânico sentido ao percebeu que Bruce
não chegaria a tempo para ajudá-la.

Era como se já tivesse com um pé do lado do mundo dos mortos, não haveria
mais volta. Não existiria outra chance. Todas suas esperanças tinham
escorregado por entre seus dedos.

A lembrança do peso do corpo de Ettore sendo retirada de cima de si ainda


brilhava em sua mente, mesmo tendo passado dois dias do incidente.

Depois daquele momento, sua mente falhou em algumas lembranças. Rita se


lembrava de ver Bruce agachado ao seu lado e na sua frente estava Adônis com
alguns de seus homens. Era fácil visualizar a fúria no rosto deles e sentiu medo.

A voz suave de Bruce ao falar com ela ainda marcava sua memória.

— Rita? — chamou baixo. — Está tudo bem, querida, eu a tenho.

Estava mesmo tudo bem? Era uma pergunta que não se calava enquanto
hiperventilava em pânico.

Ele foi sábio em não tocá-la sem sua permissão, naquele instante não sabia se
podia entender que não era seu inimigo.

Bruce foi paciente em esperar que se acalmasse um pouco, teve a certeza de


garantir que ele a tinha. Que nada mais poderia machucá-la ou feri-la. Que
estava segura.

Mas como acreditar naquilo depois dos longos minutos de completo desespero
que passou?

— Respire devagar, diminua o ritmo — instruiu com calma.

Ela fez o que ele pediu. Respirou devagar e diminuiu o ritmo até normalizar sua
respiração, sem desviar seus olhos dos dele em nenhum momento.

— Eu tenho você, tudo bem? — perguntou mostrando que iria carregá-la.


Rita acenou com a cabeça incapaz de formar palavras e desviou o olhar para
sua camisola que grudava em seu corpo. O vermelho sangue cobria quase todo
o branco da seda em seu corpo e aumentou seu choque. Bruce exigiu que ela
olhasse somente para ele e seu corpo agiu no automático. Encontrou os olhos
verdes cinzentos dele e ficou presa nele, enquanto Bruce a carregava para seu
quarto.

Ele a colocou debaixo do chuveiro e ela não se lembrava de quando e nem como,
Bruce retirou sua camisola e as roupas dele. Rita foi completamente obediente
em não desviar os olhos. O encarou o tempo todo, tinha a certeza de que a água
que escorria de seu corpo tinha uma tonalidade vermelha intensa.

Não queria olhar para confirmar o seu crime.

Sabia que ele lavou sua pele e teve a certeza de que não tivesse nenhuma gota
de sangue sobre ela. Assim como também garantiu que não tivesse nenhum
machucado grave que precisasse de assistência médica. Sem mesmo perceber,
Bruce tinha a vestido com moletom e camiseta.

Depois, Rita se lembra de estar dentro de um carro no colo dele seguindo para
algum lugar longe da sua casa. Somente percebeu que estavam no apartamento,
que ele a levou depois do cativeiro, algum tempo depois. Lá, ele a carregou para
cama e ficou ao seu lado até que Milena entrou carregando sua maleta médica.

Ela tinha feito questão de atender a Rita, para ter a certeza de que ficaria bem.
Em todo o tempo, Milena falava e pergunta coisas a ela, mas Rita somente
conseguia balançar a cabeça em resposta. Nem se quer se lembra do que foi
perguntado.

...

Bruce não esqueceu nenhum momento do pesadelo que Rita estava vivendo.
Observou Milena fechar a maleta e se levantar.

— Ela está em choque, não deixe que fique sozinha por muito tempo — disse
preocupada.

— Ela vai ficar bem? — perguntou hesitante.

— Não sei, Bruce, ela não tem machucados físicos, mas ainda está em um
grande estado de choque — suspirou. — Aconselharia levá-la a um psicólogo ou
algo do tipo quando a barreira emocional dela se romper.

— Você acha que ela vai se quebrar? — preocupou-se mais.

— Sim, infelizmente, eu acho — afirmou. — Por isto precisa ficar ao lado dela.

— Não vou a lugar nenhum — garantiu com a voz rouca de determinação.


— Eu sei que não, qualquer coisa é só me chamar que venho imediatamente —
disse.

Ele acenou e observou Milena sair do quarto. Adônis apareceu na porta e lhe
deu um breve aceno de cabeça antes de sair do apartamento.

Bruce ficou ali com Rita em seus braços a noite toda. Ela não fechou os olhos
em nenhum momento e aquilo o angustiava cada vez mais. Quando amanheceu,
ele cochilou por alguns minutos e quando acordou, ficou assustado por ela não
estar na cama ao seu lado.

Ouviu seu soluço.

Correu para o banheiro, onde encontrou Rita encolhida dentro da banheira seca.
Parecia que ela somente se deitou lá e se deixou quebrar. Sentindo os olhos
úmidos, Bruce se aproximou devagar e sentou dentro da banheira. Puxou o
corpo magro e frio de Rita para seu colo permitindo que ela chorasse em seus
braços.

Aquele foi o momento mais íntimo e perturbador que ele já teve em sua vida.
Ouvindo o choro dolorido dela e as confissões dos seus medos e pânico do que
aconteceu em sua casa. Mesmo sabendo que tudo que fez era para sobreviver,
Rita não podia se conformar com a brutalidade em que atacou o homem pelas
costas.

Bruce não tinha o que dizer para confortá-la, somente ficou ao seu lado e lhe
deu todo o apoio que precisava.

Quando amanheceu na segunda-feira, Bruce teve que colocar Rita para se


mover.

— O que pretende? — questionou. — Voltar para sua casa ou morar comigo?

Ela não respondeu, estava mais uma vez perdida em seus pensamentos.

— Rita, estou falando com você, querida — chamou sua atenção.

— Posso ficar com você? — pediu quase que dolorosamente.

Não queria voltar para sua casa, lá existiam lembranças demais para aguentar.

— Claro, se apresse então — disse e lhe ofereceu um sorriso de conforto.

— Vou me arrumar em dois minutos. — Ela garantiu.

— Tudo bem, no caminho vamos pegar Josh na casa do seu pai — informou. —
Sabe que vai precisar conversar com ele, não é mesmo?

— Sim — murmurou e deu as costas para Bruce.


Adônis tinha organizado tudo como se o homem que Rita matou tinha ido lá para
roubar. Homens da máfia infiltrados no departamento de polícia foram chamados
e fizeram um relatório completamente diferente do que realmente tinha
acontecido.

No sábado de manhã, Marzio tinha ido falar com Rita e vê-la, já que também foi
informado do que tinha “acontecido”. Ele estava realmente preocupado com a
filha e ficou ainda mais em ver seu estado de espírito.

Quando Bruce estacionou na porta da casa de Marzio, Josh já estava na porta


com sua mochila nas mãos e parecia visivelmente ansioso. Rita pulou para fora
e agarrou o garoto com tanta força que Bruce pensou que poderia quebrar as
costelas do garoto se ela não afrouxasse o aperto. Porém, aquela foi à primeira
reação espontânea dela desde sexta à noite e ele ficou aliviado em ver que ela
não tinha quebrado sua alma por completo.

Bruce os levou dali direto para a casa que ganhou de Adônis. Era ao lado da
dele e dividiam o mesmo muro. A casa era usada somente como saída de
emergência caso fosse preciso e estava desocupada há muitos anos. Giulia,
Milena, Sonia e Jianna tinham trabalhado o fim de semana inteiro para mobiliar
a mansão inteira, para que ficasse confortável e familiar para receber Rita e Josh.

Bruce nunca poderia ser grato suficiente por isto.

Ele já tinha mandado recolher todas as coisas dela e de Josh na sexta mesmo,
antes de levá-la de lá para o apartamento. Se Rita tivesse dito que queria voltar
para casa dela, daria um jeito de persuadi-la a dizer o contrário. Aquele tinha
sido o último dia em que viveriam separados e não existia ninguém no mundo
que pudesse separá-los.

Ao entrar na casa não repararam muito nas coisas ao redor, somente foram para
o quarto principal. Rita se deitou com o filho na cama apreciando a presença
dele. Bruce não se importou, parecia estar se juntando para Josh e aquilo fazia
bem a ela. Ele os deixou sozinhos e foi fazer algumas ligações.

Quando voltou para o quarto, Rita tinha adormecido. O que foi de grande alívio
para Bruce, já que ela mal tinha dormido nos últimos três dias. Josh a abraçava
carinhosamente e Bruce sorriu de leve ao ver o tamanho do amor entre eles.

Sentiu-se um pouco nostálgico e se lembrou de sua mãe. Ela não foi a melhor
mãe do ano, mas ele não tinha dúvidas que ela o amava. Ainda se lembrava dos
seus carinhos e do sabor dos biscoitos que fazia para o chá da tarde. Foi uma
boa mãe, mas sempre escolhia o padrasto em vez do filho, e isto o machucou
muito.

Bruce afastou as lembranças, não querendo pensar em um passado que lhe


trazia tanto pesar.
— Bruce?

A voz de Josh o fez se concentrar.

— Sim.

— O que realmente aconteceu? — perguntou baixo para não acordar Rita.

Bruce ficou em silêncio por um tempo pensando no que responder ao garoto, até
que decidiu que ele merecia uma explicação mais clara. Josh era um bom filho
e sempre queria o melhor para a mãe, merecia seu respeito e sinceridade.

— Vamos conversar em outro lugar. — Bruce pediu.

Josh acenou e com cuidado desceu da cama. Seguiu Bruce para fora do quarto
e pararam na sala do segundo andar. Sentaram-se um na frente do outro. Bruce
pensava em como explicar a ele de uma forma suave o que tinha acontecido.

— Comece do começo, Bruce — pediu.

Bruce sorriu de leve.

O garoto era mais esperto do que imaginava e ele gostava daquilo.

— Tudo bem — disse. — Os meus chefes, Adônis e Apolo, são homens muito
ricos e importantes na cidade. — Bruce começou hesitando um pouco,
procurando pelas palavras certas. — E isto atrai muitos inimigos.

— Ettore era um inimigo — afirmou Josh.

— Sim, ele viu em sua mãe uma possibilidade de ter informações confidenciais
da construtora — explicou.

— Então foi por isto que ele se aproximou, pensou que minha mãe divulgaria
informações a ele — afirmou pensativo.

— Vai me deixar contar? — questionou impaciente. — Ou vai continuar


afirmando coisas e mostrando que parece um adulto no corpo de um
adolescente?

Josh sorriu.

— Tudo bem, continue — disse.

— Ettore se aproximou com essa intenção e tentou por um tempo, até que eu
percebi a presença dele — segurou um suspiro. — Como chefe de segurança
sei cada passo que os funcionários dão, para evitar que coisas deste tipo
aconteçam — explicou. — Ele me viu o seguindo e decidiu que teria que... hum...
matar sua mãe para que ela não contasse de sua aproximação.
Josh ficou tenso, mas continuou calado.

— Ele tentou algumas vezes, mas eu não permiti que tivesse êxito em suas
tentativas — contou.

— Por isto Dânio sempre estava por perto e você também. — Josh afirmou.

— Sim, mas na noite de sexta-feira — suspirou. — Eu estava com Adônis


resolvendo alguns problemas quando um galpão nosso foi atacado. Era para
termos corrido diretamente para lá, mas estranhei a situação e liguei para Dânio
algumas vezes. Ele não me atendeu, percebi que aquele ataque era somente
uma distração, já que Dânio sabia que comeria o fígado dele por não me atender
— explicou. — Corri para sua casa com minha equipe, encontrei Dânio morto e
Ettore atacando sua mãe.

— Ela o matou? — questionou tenso referindo a Ettore.

— Não, ela me disse que percebeu que tinha alguém invadindo a casa, então,
pegou duas facas e esperou o invasor passar. Viu que ele tinha uma arma e
tampava o rosto. Ela agiu na adrenalina e atacou o homem o esfaqueado —
contou. — Ettore apareceu depois e quase a machucou se eu não tivesse
chegado a tempo.

— Ele está preso? — perguntou preocupado.

— Não, morto — garantiu. — Eu o matei.

Bruce rosnou com raiva, Ettore ainda não estava morto, mas estaria em alguns
dias, assim que se vingasse. Não iria parar tão rápido de fazê-lo sofrer. Adônis
tinha lhe dado a liberdade para torturar o homem e ele faria com um enorme
prazer.

— Ela está assim por que... matou... alguém? — Josh perguntou com a voz falha.

— Sim — afirmou.

Josh suspirou.

Bruce percebeu a preocupação nos olhos do garoto.

— Lidar com a morte nunca é fácil, Josh — disse. — Quando matei meu primeiro
homem, ainda no exército, fiquei mal por longos dias, eu sabia que a guerra
sempre era movida por interesses políticos. Motivos idiotas — contou
calmamente. — Eles se desentendem e se acham no direito de iniciar uma
guerra para imporem suas vontades. Matam qualquer um que não concorde com
seus termos, ou até mesmo quem não tem sua nacionalidade, crença, opção
sexual ou outras coisas. A primeira e segunda guerra mundial acabaram há
muito tempo, mas ainda existe muita guerra em países que não tem tanta
importância para o resto do mundo. — Bruce explicou.
— Acho que se os grandes presidentes quisessem poderiam acabar com esses
conflitos. — Josh disse pensativo.

— Claro que eles poderiam, tem força e dinheiro, mas não faria bem para a
política e economia. Muitas vezes eles não intervêm porque é de puro interesse,
o comércio de armas e munições é milionário — esclareceu.

Bruce se calou e os dois olharam para as grandes portas da varanda da sala.

— Quando matei o primeiro homem, foi um inferno — murmurou. — Sempre tive


boa pontaria. Estava há um quilometro de distância do meu alvo naquele dia. Um
único tiro — disse. — Atravessou a nuca do inimigo e ele foi abatido. Passei mal
por três dias diretos, até que meu capitão me chamou e me xingou. Eu era um
soldado e tinha que aprender a lidar com a morte. Ele não me aprovou no teste
para ser franco por me considerar fraco com as emoções — sorriu malvado. —
Até que nosso acampamento foi atacado duas noites depois. Meus colegas
estavam dormindo bêbados e eu acordado — contou. — Vi a aproximação e
carreguei minha arma, salvei o traseiro de muita gente aquela noite.
Principalmente, do meu capitão. — Bruce sorriu ao perceber o interesse de Josh
em suas histórias. — Com minha pontaria e meu sobrenome consegui o posto
de franco.

— Não passou mais mal depois? — perguntou curioso.

— Claro que passei, por mais de três dias e às vezes quando fecho meus olhos
ainda lembro-me de como nosso acampamento ficou. Parecia uma cena vinda
direto do inferno. — Bruce se calou e suspirou. — Isto vai acontecer com sua
mãe, ela não vai esquecer o que aconteceu. A lembrança sempre vai estar em
sua mente, pesadelos, medos. — De repente Bruce parecia cansado. — Ela vai
precisar de nós dois nesse período, ela vai superar, mas talvez demore um
pouco para isto.

Josh suspirou e parecia triste.

— Vamos ajudá-la a superar — disse convicto com sua afirmação.

— Bom — acenou. — E quanto ao que conversamos você não deve contar a


ninguém, Josh. São informações confidenciais que eu lhe disse somente porque
merece saber a verdade.

— Eu sei, meu avô me disse que foi um assalto — disse.

— E ele deve continuar acreditando nisto — afirmou.

— Tudo bem, não vou dizer a ninguém.

Bruce acreditou, Josh tinha as mesmas características de Rita e lealdade era


uma delas.
Mais dois dias tinham se passado e o estado de ânimo de Rita tinha dado uma
leve melhora. Josh não foi para a escola e ficou com ela o tempo todo,
principalmente, quando Bruce precisava se afastar. Os dois fizeram uma boa
dupla e estavam determinados a não deixar que Rita se quebrasse por completo.

Bruce entrou em casa depois de resolver alguns problemas e não encontrou com
nenhum dos dois pelo caminho. Foi até seu quarto e não os encontrou na cama
também, mas ouviu a voz baixa de Rita vindo do closet.

Caminhou devagar para dentro e parou na porta. Josh e Rita estavam sentados
no chão de costas para ele e não perceberam sua aproximação.

— Esse dia foi incrível. — Ela disse e levantou uma foto. — Passamos o dia
inteiro em um parque e no final passamos mal de tanta besteira que comemos.

Rita riu alto e deixando Bruce encantado.

— Também, depois de cinco voltas na montanha russa não tem estômago que
aguente — disse ainda rindo.

Josh riu junto com ela e vasculhou a caixa com as lembranças que estavam
guardadas há tantos anos.

— Essa foi de quando eu nasci. — Ele disse lhe mostrando outra foto.

— Sim, xinguei seu pai a noite inteira — contou.

— Por quê? — perguntou.

— Oras, por ele ter me engravidado — respondeu e riu alto. — Foi extremamente
doloroso e no final eu não aguentei, mandei fazerem uma cesariana logo e me
livrasse daquele sofrimento.

— Eu realmente não quero descobrir como os bebês nascem. — Josh brincou e


riu.

— Toma. — Ela lhe entregou a caixa. — Agora é sua.

— Mas, mãe...

— Eu vive muitos anos com seu pai, ele foi meu primeiro amor desde a
adolescência. Não preciso destas fotos para me lembrar dele, filho — disse
emocionada. — Fique com elas e guarde o seu pai para sempre contigo.

Josh sorriu e pareceu levemente emocionado.

— Obrigado, mama.

— Não me agradeça por isto, querido.


— Agora vamos fazer novas lembranças, mas com Bruce. — Josh disse.

Bruce ergueu uma sobrancelha surpreso em ser incluído naquela conversa.

— Sim, vamos fazer novas lembranças com Bruce. — Rita afirmou e beijou a
testa de Josh.

Ela acabou percebendo a presença de Bruce e sorriu para ele. Bruce não se
moveu, ele estava paralisado em ver seu sorriso. Não tinha percebido o quanto
sentia falta de quando ela sorria.

— Ele está com aquela cara de bobo apaixonado. — Josh brincou.

— Acho que estou com essa mesma cara de bobo. — Rita disse rindo.

Bruce sorriu e se aproximou deles, se sentou do lado de Rita e beijou os lábios


dela rapidinho.

— Que bom vê-la sorrindo. — Ele disse e os olhos de Rita marejaram.

— Acho que deveríamos tirar aquela foto agora. — Josh disse e estendeu o
celular.

Os três se juntaram e tiraram uma selfie. Todos sorrindo, até mesmo Bruce que
quase nunca sorria, tinha um aberto sorriso para aquela foto. Era o momento em
que tudo estava ficando para trás, eles estariam trilhando um novo caminho
juntos.

Se seria fácil?

Claro que não!

Viver nunca é fácil.

Mas estavam dispostos a tudo para serem felizes, para se protegerem e,


principalmente, para se amarem.

No entanto, velhos hábitos nunca morrem.

Bruce continuaria sendo um homem da máfia, duro e cruel, mas também protetor
e mal-humorado. Rita sempre seria destrambelhada, faladeira e uma fera
quando preciso, mas com um coração enorme.

E Josh? Continuaria a demorar no banho até que um dia sua pele caísse, mas
manteria o costumeiro bom humor e a perspicaz de sempre.

Eles agora eram uma família...

... E uma família nunca seria perfeita.

Fim!
EPÍLOGO

Bruce acordou e estremeceu quando um pé gelado foi posto em sua panturrilha.


Nunca se acostumaria com o fato de que Rita tinha uma temperatura corporal
tão baixa pela manhã.

Parece uma pedra de gelo. Pensou e sorriu de leve quando ela agarrou suas
costas.

Murmurou algo em seu sono, que ele não entendeu. Logo, Bruce, sentiu um leve
empurrão nas costas. Seu filho. Rita estava grávida de sete meses e o garoto já
era bagunceiro em seu ventre. Seu lado protetor inflou um pouco mais, eles
agora eram sua família. Sua prioridade. Seus para proteger e amar.

Aquele dia no banheiro da construtora tinha atendido o desejo de Bruce em


querer engravidá-la. Agora era um homem completo e se sentia feliz com a
paternidade. Ainda podia se lembrar claramente de como descobriram a
gravidez. Tinha acabado de chegar em casa quando ouviu Rita gritando com
Josh.

— Joshua!

— Calma, mama. — Ele pediu.

— Não me mande ficar calma! — gritou. — É a terceira vez essa semana que
encontro seu quarto parecendo uma zona de GUERRA.

Bruce tinha parado atrás de Josh tentando entender o motivo de tanto estresse.

— Eu já vou arrumar, só vou terminar essa partida que comecei...

Antes que ele terminasse de falar, ela já tinha atirado um porta-retrato de


madeira em sua direção. Josh se abaixou e Bruce segurou o objeto um segundo
antes de acertá-lo. Josh se virou e viu a cara de Bruce, acabou gargalhando com
a situação. O que com toda certeza deixou a mãe ainda mais brava do que antes.

— Puta merda! — disse olhando para Bruce.

— Querida, o que está acontecendo? — Bruce perguntou calmo.

Deixou o porta-retrato no sofá e se preparou para pegar qualquer outra coisa


que ela jogasse.

— Esse pirralho! — exclamou furiosa. — Ele acha que sou empregada dele! Está
precisando de umas palmadas e ficar de castigo pelo resto da vida. — Seu rosto
estava vermelho de raiva. — Se ele continuar rindo Bruce, vai ter que levá-lo ao
dentista! Porque vou fazer um estrago nele — ameaçou.
— Já disse que vou arrumar. — Josh protestou ainda sorrindo.

— Eu vou quebrar você e essa merda de vídeo game — avisou.

— Mama, você está muito nervosa...

— Se me mandar ficar calma de novo, vai levar as chineladas que nunca tomou...

Rita não conseguiu concluir, colocou uma mão na boca e saiu correndo para o
banheiro mais próximo. Vomitou tudo o que tinha no estômago e para o
desespero de Bruce e Josh, desmaiou.

Bruce a pegou no colo e levou ela para o hospital no mesmo instante. Lá


acabaram descobrindo a gravidez de dois meses e Bruce ficou em choque com
a notícia. Sabia que era possível e até mesmo desejava que acontecesse.
Porém, não estava pronto para o choque em descobrir que iria ser pai.

Josh riu dele por dias em lembrar-se da cara de pânico que fez.

Depois daquela notícia, sua vida virou uma loucura enquanto Rita provava que
grávidas poderiam ser loucas por comida, sexo e com suas mudanças de humor.
Precisou trazer uma senhora para trabalhar em casa e ajudar sua mulher com
as tarefas domésticas. Josh não fazia mais tantas bagunças e os dois se
revezavam em cuidar dela.

Quando descobriu que esperavam um menino, ela logo o quis chamar de Dânio.
Era uma pequena homenagem ao segurança que tanto zelou por ela e Josh,
mas que acabou morto pela covardia de Ettore.

Rita tinha chorado muito quando soube que ele tinha sido morto. Quando
descobriu que ele não tinha família e nem filhos, quis que seu bebê se chamasse
Dânio. Bruce não se opôs, também ficou triste com a morte do rapaz, além de
que ele nunca seria capaz de negar algo a Rita.

De homem da máfia a pau mandado. Pensou ele ainda deitado em sua cama.

Esse era seu destino e não tinha como voltar atrás, nem mesmo queria. Casou-
se com Rita quando ela completou cinco meses de gestação. Claro que depois
de muito persuadi-la. O fato de colocar uma aliança no dedo dela e lhe dar seu
sobrenome, enfim, afastou Frank. Ele não aceitou muito bem o fato de Rita não
o querer e foi preciso Bruce lhe fazer algumas ameaças. Coisa que ele não
contou a sua mulher ou ela teria o decapitado. Rita ainda se sentia um pouco
triste por Frank ter se afastado, gostava dele e o considerava seu amigo, mas o
homem não foi capaz de superar seus sentimentos frustrados.

Depois de ser chutado mais uma vez nas costas por seu filho, que ainda estava
no ventre da mãe, Bruce acabou cedendo e levantando. Tomou um banho rápido
e foi treinar um pouco antes que sua esposa acordasse.
...

Rita soube o exato momento em que Bruce se levantou, mas estava com muito
sono para acompanhá-lo. Seu bebê se mexia muito e ela tentava ignorar para
que conseguisse mais algumas horas de sono.

Depois de meia hora virando de um lado para o outro, ela também acabou se
levantando.

Tomou um banho e depois foi ao quarto de Josh. Viu o filho dormindo e lhe deu
um beijo na testa antes de sair. Pegou um café que Maria lhe ofereceu e seguiu
para sala de treinamentos onde sabia que iria encontrar o marido.

Parou na porta assim que o avistou, somente com uma calça de moletom,
fazendo abdominal pendurado no grande saco de pancadas.

Suas pernas fortes estavam presas ao redor das correntes que seguravam o
saco de pancadas e ele estava de cabeça para baixo. Suas mãos atrás da nuca
enquanto forçava o corpo para cima em seu exercício abdominal. Uma leve
camada de suor cobria sua pele, seus músculos estavam mais rígidos e
evidentes, seu maxilar trincado e o rosto vermelho.

— Vai... Ficar... Aí... Me... Observando?

Ele disse cada palavra depois de concluir um abdominal.

— Sim, você é uma visão e tanto, querido — disse sorrindo.

Bruce largou o corpo para baixo e olhou para ela do ponto em que estava
pendurado.

— Amo você, linda. — Ele disse um pouco sem fôlego.

— Eu amo você suado. — Ela provocou e deu de ombros.

Bruce piscou para ela e impulsionou o corpo, torcendo o tronco e caindo


agachado no chão.

— Uau! — sorriu. — Impressionante — brincou.

Ele se ergueu e começou a caminhar na direção dela. Seus passos eram


perigosamente calmos excitando Rita com a expectativa. Parou na sua frente,
segurou sua nuca e cintura arredondada.

— Quero te ver impressionada quando eu te dobrar aqui mesmo. — Ele disse


com a voz baixa e um pouco rouca.

— Mostre-me tudo o que tem e eu vou decidir se me impressiona...


Ele a atacou em um beijo faminto e Rita retribuiu no mesmo momento. Antes que
se desse conta, ele já tinha deixado ela nua e a dobrado na parede. Estava
pronta para recebê-lo e ele não esperou.

Sentia-se feliz.

Estava feliz, na verdade.

Depois de tudo o que passou, ela conseguiu dar a volta por cima. Josh e Bruce
foram os grandes responsáveis por não ter se perdido em desespero e pânico.
Ainda não tinha esquecido que tirou a vida de uma pessoa, mas a cada dia que
se passava superava mais um pouco. E foi assim todos os seus dias, vivendo
um de cada vez e com calma.

Certo, nem tanta calma assim.

Gerar outro filho também lhe trouxe mais forças, mais determinação e muito mais
amor. Não precisava de mais nada na vida, ela tinha tudo o que queria.

Um marido lindo e dedicado.

Filhos incríveis.

Não era perfeito, mas não mudaria nada.


CAPÍTULO BÔNUS

Por Bruce.

Abri a porta da minha casa as duas da manhã, estava tudo quieto e silencioso.
Algo realmente raro, mas de madrugada era o momento de todos estarem em
suas camas. Subi as escadas e antes de entrar no meu quarto, para encontrar
minha esposa, vi que uma fraca luz brilhava pela fresta do quarto de Josh.

Caminhei até lá e bati de leve. Abri a porta e o encontrei jogando vídeo game.

— Sua mãe vai arrancar suas orelhas por ainda estar jogando — digo baixo.

Ele sorriu sabendo que era verdade, tinha uma expressão muito mais madura e
parecia ter mais do que seus dezesseis anos. Seu corpo se desenvolveu
bastante depois das longas sessões de luta que eu o obriguei a fazer. Queria
que sempre estive pronto para se defender, assim como nossa família. O
considerava meu filho e não queria que nada de mal o acontecesse.

— Estou sem sono — disse e pausou seu jogo.

— Algo errado? — perguntei.

Ele não me respondeu de imediato.

Fechei a porta atrás de mim e me sentei na beirada de sua cama. O encarei nos
olhos me perguntando o que estava acontecendo.

— Bruce? — disse.

— Hm.

— Você trabalha para a máfia, não é mesmo? — perguntou.

Fiquei tenso por uma fração de segundo e relaxei.

— Como chegou até essa pergunta? — perguntei.

Josh se sentou na cama e me encarou pensativo.

— Sou observador — disse.

Nunca foi uma novidade para mim que o garoto fosse observador, mas eu estava
curioso para saber em como ele chegou a àquela verdadeira conclusão.

— Você sempre volta de madrugada, ou as vezes somente pela manhã —


pontuou. — Anda mais armado do que a própria polícia e tem um olhar duro.

— E isto te fez concluir que sou um mafioso? — perguntei.


Ele sorriu.

— Sabe que não — disse. — Não minta para mim, Bruce, eu quero saber a
verdade.

— E por que a verdade se tornou tão importante para você agora? — perguntei.

— Porque quero saber se eu também preciso me tornar um homem igual a você.

O encarei em silêncio pensando na melhor resposta.

— Você continua me levando para seus treinos, me ensinando a lutar e usar


armas — disse pensativo. — É como se estivesse me preparando para o pior.

— Quero que saiba se proteger quando eu não puder — digo.

— Mas, como pode ter tanta certeza de que um dia não vai poder? — perguntou.
— Você é o homem mais grande que conheço, claro que depois de Adônis.

Sorri de leve.

— Quer mesmo saber a verdade? — perguntei.

— Sim, eu quero — afirmou sério.

— Eu sou um mafioso, sim.

Josh me encarou pensativo e não parecia surpreso.

— Minha mãe sabe?

— Sim.

— E o que ela diz a respeito?

— Nada.

— Por que? — questionou curioso.

— Porque um dia ela acabou na mira de um inimigo e soube da pior forma que
traição se paga com a morte — digo. — Não existe nada para se dizer, somente
precisa ser leal.

Percebi que ficou tenso.

— Você tem me treinado para fazer parte desta máfia? — perguntou.

— Não.

— Quero a verdade, Bruce — disse. — Não vou te julgar por fazer parte de uma
organização criminosa, porque sei de tudo o que fez por mim e por minha mãe.
Sei que ama a família que criou e eu nunca seria capaz de ir contra aquilo que
você fez a vida inteira — suspirou. — Mas acredito que mereço sua sinceridade.

Acenei concordando.

— Você não tem nenhuma obrigação com a máfia desde que eu não sou seu
pai, caso queira entrar, vou te assumir como filho e será meu sucessor — explico.
— Mas eu não tenho te treinado por isto. Você precisa saber se defender, precisa
estar pronto para proteger nossa família. Não sou imortal, Josh, um dia algo
muito ruim pode acontecer e minha vida ser tirada, quem vai proteger sua mãe?
Quem irá proteger nossa família? — perguntou sério. — Terá que ser você,
porque Dânio ainda é uma criança.

— Dânio será seu sucessor? — perguntou preocupado com o irmão.

— Sim, todos meus filhos farão parte da máfia.

— E isto foi o que sempre quis? — perguntou. — Que seus filhos sejam
criminosos?

Sorri com pesar para ele.

— Não — respondo. — Da mesma forma que nunca imaginei que me tornaria


um — suspirei. — Nunca pensei que o homem responsável por me dar a vida
era um mafioso e que eu teria que assumir seu lugar. Essa vida foi mais dura
comigo do que pode imaginar, Josh — digo. — Mas eu tenho sangue criminoso
correndo nas veias, se eu não assumisse meu papel seria morto. As regras da
família são cruéis e a punição é sempre com a morte.

Josh suspirou preocupado.

— Eu entendo um pouco, mas depois vai ter que me contar direito toda sua
história.

— Tudo bem — aceno. — Não se esqueça, tudo o que disse neste quarto não
deve ser compartilhado. Lembre-se que a punição é sempre a morte, isto afeta
toda a família.

— Não vou me esquecer.

— Chega desta conversa, vamos dormir — levanto-me.

Caminho para a porta e paro quando ele me chama novamente.

— Não morra, Bruce, não posso perder mais ninguém — pediu.

Acenei concordando, não iria morrer tão cedo. Tinha muito o porquê viver e lutar.
Saí do seu quarto e esperei um minuto do lado de fora, ouvi que ele desligou seu
vídeo game e suspirou. Sabia que ele não dormiria bem essa noite, mas a
conversa foi boa e esclarecedora. Esperava que ele não decidisse se juntar a
máfia, no entanto, algo me dizia que ele estaria lá ao meu lado. Josh era protetor
e saber que seus irmãos seriam parte de algo tão perigoso o atrairia.

Abri a porta do lado e um pequeno abajur de avião rodava lentamente no canto.


Entrei no quarto e encontrei meu filho dormindo tranquilamente em sua cama.
Agora com três anos, Dânio era difícil de se segurar. Corria por toda a casa e
tinha mais brinquedos do que conseguia brincar. Agachei ao lado da sua cama
e fiquei encarando aquela pequena parte de mim.

— Meu pequeno Dânio — murmurei e beijo seus cabelos castanhos.

Ele se mexeu e abriu os olhos devagar. Olhos verdes cinzentos como os meus.
Percebeu minha presença e sorriu sonolento.

— Papai.

Meu coração inchava em uma emoção que nunca seria capaz de me acostumar.

— Boa noite, filho.

Seu sorriso se abriu novamente, tão bonito quanto o da sua mãe. Seus pequenos
braços se ergueram e rodearam meu pescoço, um abraço gostoso e inocente
que eu tanto amava. Me soltou e voltou para o travesseiro. Beijei sua testa e
fiquei ali velando seu sono. Queria que ele soubesse que sempre estaria zelando
por sua vida.

Saí do quarto quinze minutos depois, Dânio estava em sono profundo e agora
era a vez de ver outra pessoa. Entrei no meu quarto e as encontrei na minha
cama. Minha esposa dormia tranquilamente e ao seu lado nossa pequena Isa de
dois meses. Encarei minha filha e encontrei seus olhos abertos brincando com o
cabelo da mãe.

Sorri me sentindo em paz.

Depois de toda a brutalidade que fiz essa noite, sentia-me recompensado com a
paz que minha família me trazia. Peguei minha bebê da cama e a embalei em
meus braços.

— Você deveria estar dormindo, pequena encrenqueira — murmuro e ela sorri


para mim.

Não existia nada melhor do que a paternidade. Era incrível saber que somos
capazes de criar seres tão incríveis como minha pequena encrenqueira. Para o
completo terror de Rita, Isa tinha herdado todo o meu mau humor. Era impaciente
e fazia a casa tremer cada vez que chorava de fome ou birra, já estava manhosa
e só queria ficar no colo.
Balancei ela devagar e caminhei para o seu quarto cor de rosa. Não sabia como,
mas a cada dia aparecia mais brinquedos cor de rosa dentro daquele quarto.
Daqui alguns meses terei que reservar um quarto somente para as tralhas, que
são chamadas de brinquedos, ou não teríamos mais como andar dentro de casa.

Parei na frente do seu berço e percebi que ela dormia. A coloquei lá bem devagar
e cobri seu pequeno corpo. Fiz o mesmo que fiz com Dânio, fiquei com ela por
alguns minutos e depois fui para o meu quarto. Tirei minhas roupas e deitei ao
lado da minha esposa.

Ela logo se enrolou em meu corpo.

— Você a levou — afirmou sonolenta.

— Sim — digo.

Rita abriu os olhos e me encarou com a mesma intensidade de quatro anos atrás.

— Eu te amo, Bruce.

Sorri para ela e a beijei nos lábios.

— Eu também te amo, Rita — murmurei antes de inclinar meu corpo sobre o


dela.

Essa era a minha família.

Família que pensei nunca ser capaz de ter, mas que por sorte do destino ou
alguma benção divina, eu tinha.

Daria minha vida pela deles.

Mataria quem os fizesse sofrer.

E os amaria por toda a eternidade intensamente.

Eu conhecia a morte de perto e faria de tudo para que minha vida ao lado deles
não fosse desperdiçada.

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