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Bruce - (Irmãos Da Máfia Livro 3) - 1
Bruce - (Irmãos Da Máfia Livro 3) - 1
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É fácil perdoar?
Ainda mais quando quem te fere é a única pessoa que você permitiu se
aproximar depois de tantos anos de solidão.
Descobrir sobre a máfia foi um choque para ela, no entanto, foi muito pior ser
torturada por ele.
Bruce tinha dado o melhor de si para não quebra-la, mas como perdoa-lo?
O dia tinha começado numa bagunça para Rita, e a pior delas era que estava
muito atrasada. O senhor Albertini iria tirar seu fígado fora, com os dentes,
quando chegasse a sua sala e ela não poderia culpá-lo por tal atrocidade, já que
não estava cumprindo com o combinado e exigido, de nunca se atrasar.
— Josh.
— Se você ainda quiser uma mãe inteira no final do dia, acho bom descer agora!
— gritou de volta.
Endireitou o corpo, pegou sua bolsa e uma pasta de trabalho. Correu para sua
cozinha e pegou o sanduiche que tinha feito para Josh levar para escola, antes
que esquecesse de pegar.
Voltou em passos rápidos para a sala e ele ainda não tinha descido.
— Joshua, desça de uma vez ou eu vou buscá-lo pela orelha — gritou e então
ele apareceu na escada.
Ela sorriu para a figura loira que descia correndo em sua direção, era a cópia
perfeita de seu pai e aquilo sempre balançaria sua estrutura. Amava seu filho
mais do que a si mesma, porém, as características físicas que carregava traziam
saudades de um tempo que nunca mais iria voltar. Mesmo com o coração
apertado ela lhe ofereceu um grande sorriso amoroso.
— Não posso, quando sei que o senhor Albertini vai me arrancar os rins. — Ela
disse e ele sorriu.
— Daqui uns dias você vai ter uma mãe zumbi e a culpa será sua.
Ela sorriu antes de ligar o carro e levá-lo para a rua. Ele fazia isto todas as vezes
que ela tinha que dirigir, para que acalmasse seus medos e inseguranças.
Ela respondeu com lágrimas nos olhos e depois se concentrou na estrada. Não
gostava de dirigir e fazia isto somente por necessidade.
— Mãe?
— Sim.
— E?
— Eu quero tentar.
— Um tênis novo?
— Essa escola tem taxa para tudo! — reclamou. — Nem posso dizer que vou
vender meu fígado para pagar, já que o senhor Albertini vai comê-lo no café da
manhã.
— Ele vai me comer viva isto sim e já posso até ouvir seus gritos por estar
atrasada. Aquele homem não tem coração e você ainda brinca.
Eles riram juntos e Rita se sentiu feliz, todo o momento em que estavam juntos
era assim. Josh trazia a leveza e paz que precisava para a sua alma perturbada.
— Vamos pagar essa taxa de inscrição e você vai ser o meu campeão.
— Eu vou ser — afirmou ele com certa arrogância fazendo sua mãe sorrir.
Gostava de vê-lo confiante e de como suas atitudes eram parecidas com o jeito
de seu pai. Mesmo estando atrasada, seguiu devagar pelas ruas até que
chegasse a escola de Josh. Estacionou o carro longe e precisou acompanhá-lo
até a porta, para garantir que ele entrasse na escola com segurança, mesmo
sobre seus protestos de que era um garoto grande e podia ir até a portaria.
Porém, ela não iria arriscar sua segurança, sabendo que ele podia se virar
sozinho.
— Tchau, mama.
— E daí?
— Já sou um rapaz.
— Sempre será meu bebê, agora vá logo — disse e beijou a bochecha dele. —
Vejo-te mais tarde.
Ela o abraçou forte e ele ficou envergonhado como qualquer mini garoto que se
acha um adolescente. Rita sorriu e esperou até que Josh sumisse para dentro
de sua escola. O porteiro também ajudou para aumentar seu atraso, já que ele
começou a falar com ela sem parar, antes de voltar para seu carro.
— Rita.
Rita escondeu o leve tremor que sentiu por tal ato e sorriu sem graça para o
homem a sua frente.
Encerrou a conversa e entrou no carro. Ettore segurou sua porta e ela ficou
confusa com sua atitude.
— Sempre — garantiu.
Ela começou a tremer com o pânico crescente em seu corpo, viu alguns carros
buzinarem irritados por sua condução rápida e lembranças vieram a sua mente.
Passando por uma pequena ponte, ela girou a direção desviando de uma moto.
Gritou quando o carro bateu na contenção lateral e voou por um instante antes
de bater na água com força.
O pânico não deixava que ela pensasse direito, se debatia na intenção de sair
do carro e sentiu o sangue escorrer de sua testa em um corte. No impacto do
carro na água, ela acabou batendo a cabeça antes do airbag ser acionado. A
água gelada estava entrando pelo carro e já cobria quase todo seu corpo,
fazendo com que enfim tentasse agir e escapar da morte.
Nada que fazia ajudava em salvar sua vida, o ar tinha acabado e o carro foi
tomado pela água. Rita queria chorar por acabar em algo tão trágico e por deixar
Josh órfão, ele não merecia sofrer isto quando ainda era tão jovem.
Rita queria sobreviver e lutar pelo ar, para que seu filho ainda tivesse uma mãe
no final do dia, mas sentiu-se afogando e cada vez mais a esperança se
distanciava.
Sentiu lábios frios e duros contra os dela, enviando fôlego ao seu corpo cansado
e quase morto.
— Respire! — ordenou.
Rita abriu os olhos e mesmo sobre o embaraço neles viu a figura de preto
inclinado sobre ela.
— Bruce.
— Não se atreva, Adônis. — Giulia disse e ele podia ver que sua esposa estava
completamente irritada.
Ela consertou os óculos sobre o nariz em um gesto nervoso que pegou depois
de começar a usá-lo, e Adônis apreciava cada vez que ela fazia isto.
— Apolo como pode pedir tal coisa? Ficou maluco. — Milena bradou irritada.
— O que as duas fazem aqui? — O tom frio de Adônis não teve nenhum efeito
sobre elas e sua esposa o fulminou com o olhar.
— Essa é minha casa também. — Ela disse brava. — Adônis, que Deus me
ajude, mas se você prejudicar a Rita de alguma forma, eu vou sair desta casa
com meus filhos.
— Giulia! — Ele a repreendeu quase que horrorizado com o que ela disse.
— Isto serve para você também, Apolo, mas claro que depois de você acordar
com um gesso de corpo inteiro. — Milena disse e Adônis prendeu um sorriso.
Por Milena ser médica as ameaças dela sempre eram as melhores. Tinha uma
mente tão malvada como a de Apolo, quando era preciso.
— Milena, não brinque com isto. — Apolo disse suave, mas o fato de usar o
nome de sua esposa mostrava que ele ainda estava tentando deixar seu lado
mafioso no controle.
Respeitou seu irmão por isto, mas tinha que fazer alguma coisa.
— Primeiro, isto não é assunto para vocês. — Adônis disse e viu os olhos de sua
esposa brilhar em decepção.
Seu coração se apertou, não gostava de vê-la triste com ele, mas manteve-se
firme.
— Segundo, como ficaram sabendo disto? — Ele perguntou curioso.
Mas seu irmão não, Apolo jogou a cabeça para trás e gargalhou.
— Se continuar a rir, vou dar um jeito de dosar sua bebida com uma maldita
droga que te faça ter uma ereção dolorosa por horas! E que a única solução para
diminuir seja enfiando uma agulha no seu pênis para retirar o sangue. — Milena
ameaçou furiosa fazendo Apolo parar de rir no mesmo instante.
Adônis sorriu e viu Bruce endurecer as feições na tentativa de não rir da situação.
— Você não faria isto, doutora. — Ele disse ainda chocado com a ameaça.
Giulia caminhou e ficou bem na frente de Adônis. Ele olhou em seus olhos em
busca da paz que transmitiam, mas só conseguia encontrar preocupações neles.
— Pequena.
— Adônis, por favor, não mate ela. Eu não sei o que ela fez, mas tem que ter
uma explicação. Rita é a pessoa mais forte e doce que eu conheço, ela cria o
filho sozinha, não pode deixar aquele garoto órfão.
— Promete?
— Sim, vou procurar por respostas, depois tomarei uma decisão do que farei
com ela.
Ele se levantou, limpou o rosto de sua esposa e beijou seus lábios com carinho.
— Não.
O tom irredutível de Apolo a fez endurecer.
Adônis endureceu com a afronta de Milena, e admitiu que fosse uma mulher de
coragem apesar de conseguir ser tão irritante quanto Apolo.
Sua esposa não deveria enfrentar seu irmão, ele era o chefe e tinha que ser
tratado com respeito.
— Mas, não para mim — disse firme e voltou a olhar para o marido. — Apolo,
aquela mulher me ajudou quando ganhei Rapha, ela esteve lá quando eu estive
gripada demais para cuidar dele. — implorou. — Sempre me ajudou e sei que
ajudou Giulia também quando foi preciso, por favor, não me negue isto.
— Sim.
— Muitas coisas. — Adônis respondeu para seu irmão, e mais uma vez estava
cedendo ao ver a preocupação nos olhos de sua esposa.
Sabia que Milena estava certa em se preocupar, elas eram amigas de Rita e ele
entendia que ferir e matar sua secretária traria dor a sua mulher e a do seu irmão.
— Deixe que ela vá até Rita, Apolo — pediu Adônis, não querendo desrespeitar
a opinião do seu irmão.
— Não é uma boa ideia, Adônis, mulheres são muito sensíveis e Milena vai entrar
em guerra comigo para tentar tirar Rita de lá.
— Sabe que Bruce vai tirar respostas dela? Que ele vai lhe causar dor caso ela
não contribua? — Apolo questionou.
— Apolo.
— Esse é meu mundo, querida, pode até ir até Rita para avaliá-la, mas será uma
única vez. Não permito nada mais do que meia hora, e eu não quero nenhuma
discussão sobre isto depois.
— Vou levá-la lá em uma hora, arrume tudo o que precisa para examinar Rita.
— Ok.
— Bruce?
— Senhora?
— Não a machuque muito, por favor. — Giulia pediu com pesar entendendo que
não tinha como brigar sobre aquilo.
Bruce sem saber o que responder, somente acenou com a cabeça concordando.
— Não quero nem pensar sobre isto. — Adônis resmungou, enquanto voltava ao
seu lugar. — Diga-me sobre o acidente.
Bruce queria protestar, mas não o fez. Ele tinha criado alguns sentimentos por
Rita desde que a beijou no elevador um tempo atrás e não queria machucá-la.
Tinha ficado afastado e só observou-a de longe, até que viu Ettore por perto.
Não queria causar dor a ela, mas ele não tinha outra opção. Devia sua lealdade
a máfia e não podia fazer nada para ajudá-la. Ver que quase morreu no acidente
de carro tinha feito coisas estranhas a ele, mas ainda assim não iria contra as
regras de Adônis.
Preferia que fosse ele a buscar por respostas do que qualquer outro.
— O deixe solto por um tempo, vamos ver até onde sua traição pode ir. — Apolo
respondeu pensativo.
— Eu quero estar a três passos à frente dele, sempre. Antes de ir até Rita deixe
o terreno preparado, quero que ele seja como um pequeno rato em minha
armadilha. — Adônis disse e Apolo concordou.
— O que me intriga é o por que Rita? Ela fez algo para ele? Ela sabe de alguma
coisa para ele ter tentado matá-la? — Adônis disse passando a mão sobre a
barba.
— Ela sabe de algo. — Apolo afirmou. — Ele não tentaria algo assim se não se
sentisse ameaçado.
“Todo mundo tem um lado escuro.” Lembrou-se do conselho de seu velho pai.
CAPÍTULO DOIS
Sentindo todo o corpo doer, Rita rolou sobre o colchão macio em que estava
deitada. Não entendia o porquê de tanta dor, mas sabia que precisava acordar.
Algo muito importante tinha acontecido e ela precisava voltar a sua consciência.
Forçou seus olhos abrirem um pouco e viu o colchão novo em que estava
deitada. Levantou um pouco o olhar e encontrou uma parede branca suja no
fundo. Franziu a testa confusa sem reconhecer o lugar. Não entendeu o que
estava acontecendo, gemeu quando virou para o outro lado e todo o sangue
drenou de seu rosto.
Forçou o corpo para cima até conseguir se sentar. Uma dor fisgou em sua coxa
e seu olhar desceu para encontrar o vestido, que colocou esta manhã para
trabalhar, elevado e no meio da coxa uma faixa enrolada.
Arfou com o medo e seus olhos voltaram a percorrer pelo local. Estava
apavorada com sua situação até que seus olhos pararam sobre uma figura de
preto sentada em uma cadeira enquanto a observava.
— Bruce.
Ele não disse nada e somente ficou a olhando com a mesma frieza de sempre.
Rita levou as mãos em seus olhos e os esfregou, tentando buscar por clareza.
Olhou para Bruce novamente e encontrou seus frios olhos verdes sobre ela.
Ele não respondeu e ela sentiu sua garganta ainda mais dolorida.
Seu corpo não tinha forças, mas ela foi teimosa até que conseguiu se colocar
em pé, mesmo balançado sobre os pés. Deu um passo dolorido para frente e
outro, até que segurou nas grades frias.
— Bruce, por favor, eu estou com medo. — Ela sussurrou com lágrimas nos
olhos.
Viu ele se levantar e pegar uma bandeja que tinha na mesa a sua frente.
O tom perigoso dele a fez tropeçar para trás em seu corpo dolorido, acabou
pisando nas suas sandálias no chão da cela e caindo de bunda no chão. Gemeu
alto com a dor que explodia por todo seu corpo.
— Vá para o colchão e fique deitada, não me faça te amarrar nele. — Ele disse
duramente e empurrou a bandeja por baixo da grade em um compartimento.
— Porque está fazendo isto... comigo? ... Nunca te fiz nenhum mal. — Ela
sussurrou e ele evitou seu olhar naquele instante.
— Beba água para aliviar o desconforto em sua garganta, passou mais de dez
horas desacordada. Coma o sanduíche e tome os analgésicos para dor que tem
na bandeja.
— Dez horas?
— Sim.
— Josh.
Ela falou alto e forçou seu corpo para cima de novo, estava hiperventilando e
cambaleando na cela. Agarrou as grades com força para obrigar seu corpo a se
manter de pé.
— Josh... eu preciso... buscar... ele na casa do seu nonno... meu filho... por
favor... Josh... Bruce...
Suas palavras eram bagunçadas e ela se sentiu tonta, mas obrigou seu corpo a
aguentar. Josh precisava dela.
— Ele vai... achar que... eu o abandonei... Josh... o meu Deus... eu nunca faria
isto... ele é minha vida... preciso vê-lo ...
— Bruce para com essa brincadeira, eu preciso ver o meu filho! — Rita gritou
completamente apavorada, enquanto sentia sua cabeça explodir em dor.
Bruce queria xingar a si mesmo por ter sido muito bruto com ela, mas não havia
um jeito mais delicado de fazer isto. Correu para frente e abriu a cela onde ela
tinha acabado de bater no chão, completamente apagada. Não podia culpá-la
pelo seu desespero, é normal o ser humano não saber lidar com o medo, mas o
pavor que ela demonstrou ao achar que o filho pensaria que ela o abandonou
era real. Tão real que a levou no limite de suas forças em poucos segundos.
...
Quando Rita abriu os olhos novamente uma hora mais tarde, ela chorou em
silêncio ao perceber que não era um pesadelo. Ela realmente era uma prisioneira
naquele lugar, era real. Olhou para a perna machucada e viu a faixa branca bem
enrolada em sua coxa.
Ela soltou um soluço e empurrou o corpo para o outro lado tentando ignorar a
presença dele. Não queria comer e nem aliviar a dor que sentia. Queria entender
o porquê estava presa e sair dali de volta para a segurança de sua casa junto
com seu filho.
Ficou naquela posição por muito tempo enquanto chorava baixinho. Sentia os
olhos de Bruce sobre ela e mesmo assim o ignorou.
— Rita.
Ela não o respondeu, deixando que ele provasse do próprio veneno. Bruce era
bom em não responder perguntas, o que sempre a deixava furiosa.
— Por que você se importa? Por que está me mantendo prisioneira? Eu preciso
do meu filho. — Ela murmurou.
— Você não dita às regras aqui, faça o que eu te mando e será o melhor para
você — ameaçou. — Não me force ao limite.
— Nada.
— Não estou mentindo, não fiz nada — afirmou. — Ele está sobre os cuidados
de seu nonno.
— Ele pensa que viajou a trabalho. — Bruce respondeu, mesmo não tento
nenhuma obrigação, ele queria que ela se acalmasse e não se preocupasse
tanto.
— Não.
— Não.
— Ele nunca dormiu longe de mim. — Ela falou e forçou seu corpo virar para o
lado onde Bruce estava. — Por favor, Bruce.
Ele se manteve em silêncio por um tempo tentando decidir se era uma boa ideia.
Mas se queria que o filho acreditasse que ela estava em uma viagem de trabalho,
deveria deixar.
— Vou permitir, se dizer algo a ele sobre o que está acontecendo, eu serei
obrigado a ir atrás dele também.
— Não direi nada! — prometeu ela apavorada que algo acontecesse a Josh.
Bruce acenou com a cabeça e se afastou para pegar o celular que tinha deixado
em cima da mesa.
Voltou até ela e fez a chamada no viva-voz.
— Mama.
— Oi, querido.
— O senhor Albertini arrancou seu rins por chegar atrasada? — Josh brincou um
pouco tenso.
— Mais do que isto, nem sei como ainda estou viva. — Ela respondeu e ficou
tensa com o olhar duro de Bruce sobre ela.
— Vou lhe fazer um zumbi também quando voltar, porque a culpa é sua.
— Mãe, zumbis não sugam sangue e sim vampiros. — Ele riu alto.
— De nada, neh! Eles já vão estar mortos para isto, por isto são zumbis, mortos-
vivos.
Ela quis chorar naquele momento, mesmo tentando impedir que as lágrimas
saíssem, elas escorreram por suas bochechas em silêncio sem sua permissão.
— Ainda acho que eles sugam sangue. — Ela disse com um tom firme, mas por
dentro estava destroçada.
— Quando voltar vamos falar sobre a diferença de zumbi para vampiros, você é
minha mãe e deveria me ensinar, não o contrário — brincou.
— Até minha pele — brincou para que ele não sentisse falta de seu humor.
— Te amo, mãe.
— Oi.
— Já escovou os dentes?
— Sim e já estou na cama, não queria dormir longe da senhora, mas entendo
que tenha que trabalhar, só tenho medo de que nunca volte.
— E mãe.
— Hum.
— Sempre.
Então Rita começou a cantarolar a mesma canção que cantava para ele todas
as noites desde que nasceu. Era uma canção especial que sua mãe também
cantava para ela em sua infância e Rita queria que Josh se sentisse em paz toda
vez que cantarolava para ele, assim como ela se sentia quando ainda era
criança.
Bruce ficou em silêncio até que viu Rita adormecer depois de cantarolar para o
filho. Sua voz suave acalmou seu filho e a ela também. Afastou-se e encerrou a
ligação, voltou a se sentar enquanto observava Rita dormir.
Ele ficou curioso para entender o porquê o garoto tinha tanto medo de que ela o
abandonasse. Também se perguntou por que ele pediu que ela dirigisse com
cuidado. Mas sorriu ao se lembrar da conversa estranha sobre zumbis e
vampiros. Entendeu que ela disse a ele que Adônis arrancaria seus órgãos por
chegar atrasada ao trabalho, algo que ele realmente faria depois de gritar sobre
como odeia esperar.
Rita rolou para o lado e sentiu uma pressão dolorida em sua coxa, percebeu que
estava deitada sobre sua ferida e logo a realidade voltou a sua mente.
— Bruce — sussurrou lembrando que ele estava fazendo dela sua prisioneira.
Forçou seu corpo a levantar e se sentou no colchão, gemeu com a dor de cabeça
e buscou por Bruce com os olhos pelo local.
Ele estava na mesma cadeira de antes, cogitou a ideia de que ele nem mesmo
tenha saído de lá em nenhum instante.
— Pare com isto, Bruce, por favor, me tire daqui — pediu ela.
Ela se levantou com certo esforço e balançou em seus pés até a grade onde se
agarrou para que se manter na vertical.
— Que merda você pensa que está fazendo? Dá para parar com essa
brincadeira ridícula logo? Eu estou cansada. Tenho uma pessoa que depende
de mim e em vez de estar cuidando da minha vida como sempre fiz, estou aqui
presa sem nenhuma razão — bradou ela.
Acidente?
— Você.
Parecia que tentava se esforçar para lembrar o que mais tinha acontecido, ele
viu-a se apoiar na grade tremendo.
Desta vez ela se manteve calada, não confiaria nele para tomar o remédio e
muito menos para comer suas refeições.
Bruce percebeu logo o porquê que ela se negava e resolveu ser mais duro.
Ela o olhou nos olhos e ele deu três passos ameaçadores para frente.
— Vou dizer mais uma única vez e acho bom me obedecer, não sou um bom
praticante de paciência e não vai ser nada bom você testar isto.
— Vai tomar a merda dos analgésicos que deixei para você e depois irá comer
o sanduíche. Caso não faça, eu vou entrar aí, te amarrar e forçá-los em sua
boca. Fui claro?
— Fui claro?
— Sim.
Ela fez o que ele ordenou e tentou puxar os braços, quando avistou as algemas,
ele foi mais rápido e segurou suas mãos.
— Não se atreva.
— Vou levá-la ao banheiro, mas não tente nenhuma gracinha. Eu não tenho
senso de humor, então, não provoque em mim o que você não pode controlar.
Lembre-se que eu posso muito bem ir buscar seu garoto para vim lhe fazer
companhia nesta cela.
— Bom.
Rita balançou em seus pés para frente, ainda sentindo dor no machucado em
sua perna e sua cabeça doía a cada movimento que fazia.
Bruce a pegou pelo cotovelo e a guiou pelo local, e abriu uma porta no canto
direito e ela viu o banheiro.
— Não interessa. Não está em nenhum hotel de luxo. Entre logo antes que eu te
arraste de volta.
Ela suspirou cansada, sabia que não adiantava discutir com Bruce, não ganharia
essa luta, ainda mais com ele no controle de cada respiração que dava.
Caminhou para dentro e o viu se virar para lhe dar um pouco de privacidade. Ela
usou a privada rapidamente sentindo-se completamente exposta, lavou as mãos
na pequena pia e estranhou o fato de não ter espelho no local. Juntou o cabelo
castanho em um coque acima de sua cabeça e lavou seu rosto, retirando a
maquiagem que tinha usado no dia anterior, tudo com as mãos algemadas.
Sentiu um pequeno curativo em sua testa que não tinha percebido antes e se
lembrou de que havia batido a cabeça com o impacto do carro sobre a água.
Molhou mais o rosto e notou a presença de Bruce atrás dela, suspirou antes de
fechar a torneira e se virar para ele.
Surpreendeu-se quando ele lhe ofereceu uma toalha de rosto preta. Aceitou e
não disse nada, enquanto voltava para a sua cela depois de soltar suas mãos.
— Coma.
A ordem no tom de Bruce à fez tremer de raiva, ela se sentou no colchão de volta
e secou o rosto com a toalha tentando clarear sua mente para entender o que
ele queria dizer.
Ela comeu em silêncio e percebeu o quanto estava com fome. Assim que deixou
a bandeja de lado, ela viu Bruce se levantando novamente.
— Levante-se.
Ela o olhou por um instante hesitando sem saber o que ele queria.
— Tire o vestido.
— Não estou pedindo — afirmou. — Estou ordenando que você tire o vestido.
— Bruce...
— Agora. — Bruce rosnou e ela tremeu com a intensidade que ele transmitiu em
uma única palavra.
Alcançou o zíper nas costas e o deslizou para baixo, abrindo-o, respirou fundo
antes de puxar os ombros para baixo e deixar que o vestido preto caísse sobre
seus pés. Ficou agradecida por estar usando sutiã ou ela estaria em uma
situação ainda pior.
— Coloque os braços para fora novamente para que eu possa te algemar.
— Então, por favor, pare com isto. Solte-me! — implorou. — Deixe que eu volte
para minha casa e meu filho.
— Rita.
— Bruce.
— Não tem essa opção ainda, coloque os braços para fora e não me force a
entrar aí.
Sabendo que ele entraria e que suas promessas não eram vazias, ela cambaleou
para frente sentindo a perna doer, e então, colocou os braços para fora. O frio
das algemas de aço se conectou em seus pulsos e lágrimas encheram seus
olhos.
Ele abriu o cadeado e levou Rita até o meio da enorme sala em que estavam.
Estendeu os braços dela e prendeu o meio das algemas a um gancho que tinha
pendurado em uma corrente presa ao teto. Ela arfou ao sentir que seus pés
quase não tocavam o chão e sentiu choques de dor passar por seus músculos
já cansados, devido ao acidente de carro.
— Rita.
Ela pode detectar uma leve sombra de pesar nos cinzentos olhos verdes de
Bruce.
— Eu sinto muito por isto, mas não há nada que eu possa fazer para te ajudar.
— Ele murmurou e se virou.
Então Rita quebrou o olhar entre eles e olhou para baixo, sabia que Bruce não
deixaria que ela fosse embora tão cedo e que lhe causaria dor. Aquele era
somente o começo e seu coração se apertou com a mágoa crescente dentro de
seu peito.
Aguentaria o que fosse preciso para que pudesse voltar para Josh. Mesmo que
não confiasse mais em Bruce, ela se agarrou a certeza de que ele estava bem
com o seu nonno e aquilo renovou suas forças.
Não sabia quanto tempo tinha se passado, mas ela sentia que não podia
aguentar por muito tempo mais a dor em seu corpo. As pontas de seus dedos
dos pés dilatavam com a dor em ter o peso de seu corpo sobre eles por muito
tempo. Tentava mudar o peso de uma perna para a outra e não conseguia,
devido ao ferimento em sua coxa. Suas mãos ficaram dormentes e seus pulsos
estavam doloridos, sem contar que todo seu corpo tremia com o frio ambiente
que Bruce tinha imposto a ela. Tentava controlar os tremores, mas seus dentes
começaram a bater rápido e com força devido ao gelo se espalhando por cada
centímetro de pele exposta de seu corpo.
De olhos fechados ela tentava lembrar de bons dias, tentava concentrar forçando
sua mente a encontrar forças, mas não podia mais. Sentia que a qualquer
momento entraria em hipotermia se Bruce não trouxesse uma fonte de calor para
ela.
Abriu os olhos quando ouviu o suspiro dele e ficou surpresa em vê-lo na sua
frente. Seu maxilar estava tenso e um músculo saltava com a força que ele
trincava os dentes. Seus olhos tinham uma fúria desconhecida e um leve
arrependimento brilhou nas profundezas de suas sombras.
— Vou lhe fazer perguntas e imagino que já percebeu que eu não estou de
brincadeira. Quero respostas sinceras e cada vez que não gostar do que me
responder haverá punições.
— Bruce...
— Vou te dar algo quente e aspirinas para dor. Mas se mentir para mim irá ficar
aí até que seus braços desloquem por causa de seu próprio peso.
Bruce queria muito pegá-la em seus braços e dar a ela o conforto que precisava.
Ver seu corpo pequeno tremer a cada fisgada de dor que passava em seus
músculos estava matando Bruce por dentro. Mas ele não tinha outra opção,
devia sua lealdade à máfia e ele nunca seria um traidor, por mais difícil que isso
fosse.
— Rita.
Bruce se virou e foi até uma pequena mesa com instrumentos de tortura, pegou
um pequeno Taser (arma de choque usado para imobilizar momentaneamente
uma pessoa) e voltou para Rita.
Rita odiou a forma que sua voz tremeu, mas estava assustada em ver o Taser
nas mãos de Bruce.
— Nada, per l’amor di Dio! O que eu saberia? — Ela respondeu exaltada e então
sentiu a arma ser encostada em sua barriga e o choque atravessar seu corpo.
Ela sentiu seu corpo tremer de uma forma violenta causando dor a cada célula
possível. Arfou tão alto que perdeu a capacidade de respirar. Quando o choque
parou, sabia que foi um minuto antes que perdesse a consciência.
Rita sentiu que poderia chorar se não fosse pela dor excruciante corroendo todos
os músculos existentes de seu corpo. Duas mãos grandes seguraram seu rosto
e levantaram sua cabeça, que estava caída para frente.
Ela fechou os olhos e lembrou-se dele gritando para que ela respirasse quando
a resgatou, “Vamos lá porra, respire!”, ele tinha um desespero na voz que por
um instante ela acreditou que ele tinha medo de que ela tivesse morrido.
— Rita! Respire!
Ela puxou o ar com força e nem se lembrava mais de que não conseguia fazer
seus pulmões obedecerem. Abriu os olhos e encontrou os dele olhando-a com
pesar novamente.
— O que sabe da máfia? — Ele voltou a perguntar usando um tom de voz mais
duro.
— Nada, porque eu saberia de alguma coisa?
— São as únicas que tenho para te dar! — exclamou quase sem forças.
Bruce voltou a colocar o Taser na barriga dela com raiva por suas respostas. Ele
não queria machucá-la, mas ela não estava cooperando. Assistiu, com pavor, o
corpo dela tremer violentamente novamente com o choque correndo por seus
membros e quando se afastou, ela desmaiou logo em seguida.
Ele se sentiu furioso quando jogou o Taser no chão e estendeu as mãos para
tirá-la do gancho, pegou-a em seu colo preocupado e correu com ela em seus
braços de volta para o colchão.
Colocou dois dedos no pulso de seu pescoço e sentiu seu pulso leve, ele não
podia respirar aliviado, porque não se sentia assim. Soltou as algemas dos
pulsos dela e massageou cada um para aliviar a dor que o vermelho em sua pele
mostrava. Vestiu-a em seu vestido novamente tentando aquecer seu corpo e se
levantou.
Bruce tremeu com a fúria dentro dele, fúria por ter que machucá-la, fúria por ela
estar nesta situação. Fechou as mãos em punhos e socou a parede.
A dor veio em boa hora para ele, ofegante viu que tinha estragado a parede com
tamanha força que tinha usado e que também feriu os nós de sua mão. O sangue
escorreu de seu machucado e ele encostou a testa na parede, não se importando
com a dor. Só queria terminar com isto logo, decidiu que era melhor ele do que
qualquer outro homem. Sabia que eles não teriam receio em machucá-la
brutalmente, enquanto tentava quebrar sua alma em busca de respostas.
Ela poderia não perdoá-lo, mas ele não poderia lidar com sua alma quebrada.
Tinha tomado a decisão certa em aceitar tirar as respostas dela. Bruce entendia
a profundidade de dor que uma tortura poderia trazer e não estava disposto a
deixar que ela sofresse tal brutalidade.
Ele ficou por perto esperando o momento que ela acordaria, o que não demorou
mais do que meia hora. Ele deixou outro sanduíche e alguns analgésicos para
dor. Por mais que precisasse de respostas, Bruce não tinha forças para feri-la
ainda mais, deixaria que ela se recuperasse um pouco mais, antes de tentar
novamente com algo menos doloroso.
Durante o resto do dia ela não disse uma única palavra, e ele manteve seu
habitual silêncio. Deixou que ela usasse o banheiro mais duas vezes e também
lhe trouxe outras refeições.
Rita ficou no colchão por todo o tempo, cansada demais para lidar com Bruce e
com as coisas que estavam acontecendo. Chorou em silêncio por um tempo e
admitiu para si mesma que ele havia partido seu coração em tantos pedaços que
ela jamais poderia contar.
Quando anoiteceu, Rita implorou para que permitisse que ela falasse com Josh
novamente. Ele estava irredutível com o assunto, não queria permitir que ela
tivesse a oportunidade de falar com o filho de novo.
— Não renda muito, dez minutos é o máximo que eu vou permitir. E acho bom
prepará-lo para os próximos dias, pois não falara com ele.
Ele acenou com a cabeça e fez a chamada, ligou o viva-voz e Rita forçou seu
corpo para cima, se levantou ficando encostada na grade e mais próxima do
celular desta vez.
— Mama?
— Desculpe, querido, mas não vou conseguir ligar nos próximos dias... Aqui não
tem um bom sinal de telefone e eu tenho muito trabalho.
— Fiz a inscrição do futebol, mama, vou passar e ser seu campeão. — Ele disse
de forma presunçosa e ela deu um pequeno sorriso.
— Você já é.
— Mas você não pode ser igual aquelas mães malucas que gritam e choram
durante o jogo. — Ele brincou.
— Não posso prometer isto. — Ela disse quase em um sussurro. — Já sou assim,
escandalosa e maluca.
— Já foi ao médico? A senhora nunca fica doente... eu... eu... não posso perdê-
la.
— Estou bem, filho, não vai me perder... estarei sempre com você. Que tal
dormimos agora, hein?
Rita não disse nada, só cantarolou a mesma canção de todas as noites. Até que
percebeu Bruce encerrar a ligação e se afastar. O soluço veio alto por entre seus
lábios, ela abraçou com força as pernas, ignorando a picada de dor da coxa
machucada e enfiou sua cabeça entre as pernas enquanto chorava.
Ela era forte e determinada sobre tudo, sempre lutou muito, mas ficar longe de
Josh quebrava sua alma. Saber que talvez nunca mais pudesse vê-lo partiu seu
espírito em tantos pedaços que ela nem sabia se poderia colá-lo um dia. Só
piorou ao perceber que era a última vez que falaria com ele. Ele ficaria esperando
por ela e talvez ela nunca mais retornasse, ele acreditaria que estava o
abandonando e esta constatação a quebrou.
Bruce ficou na sua cadeira, imóvel. Não podia se mover e teve que forçar várias
vezes seus pulmões a respirar sozinho. Rita estava na sua frente, enrolada em
seu próprio corpo, enquanto chorava quebrada.
Não havia feito praticamente nada do que sabia para infringi-la dor e parecia que
ele tinha acabado com todas suas esperanças. Ele não entendia o porquê
daquilo, o porquê sua dor estava tão forte e quase o sufocava em presenciar
aquela cena.
Ficar longe do filho tinha quebrado sua alma da forma mais bruta possível.
Talvez ele não devesse ter dito que era a última vez que ela falaria com Josh,
mas era tarde demais para voltar atrás em suas palavras.
O tremor estava forte em seu corpo frágil e não podia fazer nada além de trincar
os dentes na tentativa de não bater uns nos outros com o frio que estava
sentindo.
Ele ficou em silêncio e o seu olhar a fez entender que ele realmente não repetiria.
Lembrou-se de que ele havia dito no dia anterior, que forçaria os remédios em
sua boca caso ela não tomasse por conta própria. E agora o seu olhar dizia que
ele arrancaria o vestido de seu corpo caso ela não o obedecesse.
Forçou seu corpo de pé e abriu o zíper do vestido que estava usando. Tremeu
quando sentiu que o local estava mais frio que o normal e imaginou que ele havia
mudado a temperatura térmica novamente. Deslizou o vestido por seus ombros
até que ele caiu sobre seus pés.
Ela o olhou ainda sem entender e ele não vacilou o olhar, ainda mantinha uma
expressão fria e perigosa no rosto, fazendo Rita somente o obedecer.
Desenrolou a faixa de sua coxa e sentiu uma fisgada de dor quando ela puxou
um pouco a pele machucada. Viu uma gaze bem colocada e percebeu que deve
ter levado uns quinze pontos naquele corte.
Ela acenou com a cabeça e então ele a algemou. Guiou-a para fora da cela e
prendeu suas mãos acima de sua cabeça fazendo seus ombros protestarem por
não terem se recuperado da dor anterior, debaixo de um chuveiro que não tinha
visto antes. Abriu a água e deixou que congelasse sobre ela.
Seus pensamentos foram cortados quando a água fechou sobre sua cabeça e
ela piscou para olhar para ele.
Ele se afastou por um instante e voltou com alguns papéis nas mãos, quando se
aproximou viu que eram fotos.
— Sim.
— Nenhum.
Viu que Bruce não gostou da sua resposta, ele esticou o braço e abriu a água
fria sobre ela novamente.
Rita gemeu com o frio e seu corpo voltou a tremer tanto, que mal podia controlar.
Quando parou de cair água sobre sua cabeça, ela mordeu o lábio inferior para
que ele não tremesse e o olhou com temor.
As palavras dela saíam cortadas por causa do forte tremor de seu corpo.
Viu quando um músculo saltou do queixo de Bruce e ele levantou outra foto. Nela
Rita aparecia ao lado de Ettore no parque, tomando sorvete, enquanto ela olhava
Josh brincar com sua bicicleta.
— Ele... me disse.
A água fria voltou a cair sobre sua cabeça, Rita tremeu e tentou ser forte para
não chorar mais. Suas lágrimas já tinha alcançado o limite na noite anterior, onde
ela chorou até dormir no canto da cela, e estranhou o fato de acordar no colchão,
mas sabia que Bruce a levou para lá depois que adormeceu.
A água parou de cair sobre ela, fazendo com que se concentrasse em Bruce
novamente.
Rita enrijeceu o corpo para tentar parar o tremor e gritou com Bruce.
— Estou te falando a verdade! Eu não sei o que mais você quer de mim, porra!
Eu o conheci na escola do meu filho e ele me disse que tinha um sobrinho.
— É o que você merece seu filho da puta! Achou o quê? Que eu ia manter a
calma enquanto você me tortura com água fria? — gritou.
Mal tinha acabado de falar quando a água gelada caiu sobre seus ombros
novamente. Ela tentou manter a raiva viva dentro de si, para que aquecesse seu
corpo, mas não funcionou muito bem. Tremeu muito quando a água foi fechada
e teve que encarar Bruce novamente.
— Não grite comigo. — Ele rosnou. — O que ele fazia com você no parque?
— Ele... não estava comigo... ele apareceu lá... quando fui levar... Josh para
brincar... no parque... com sua bicicleta nova...
— Essa é a verdade. Eu não sei o que ele te fez, Bruce, mas eu não tenho nada
a ver com ... isto.
— Ele não me fez nada. — Bruce disse em um tom de voz tranquilo.
— Sim.
— Não posso acreditar... trabalhei por tantos anos naquela empresa... como
assim? Não estou entendendo nada.
— Não precisa entender, só precisa me dizer o que estava tramando com Ettore.
— O quê?
— Eu não sei do que está falando... Bruce... eu estava levando meu filho... para
escola... o deixei lá... depois me envolvi em um... acidente... e acordei aqui...
sendo sua prisioneira... o que está acontecendo?
— O quê?
— Eu não sei o que fez para ele querer te matar, mas você vai ter que me dizer
ou as coisas vão ficar muito ruins para você.
— Ele... disse-me para dirigir com cuidado... quando voltei para o carro... ele
apareceu e disse... isto.
— Eu não sei... deve perguntar para ele... e não a mim... foi eu quem quase
morreu.
— Diga-me a verdade, Rita.
— Estou dizendo... Como você sabe disto? Que foi ele... quem cortou os freios
do meu carro... Você estava me seguindo e viu isto acontecer... Você não o
parou? Deixou que ele tentasse me prejudicar assim?
— Eu não o vi cortar, estacionei meu carro na frente da escola para ver você
deixar seu filho lá.
— Como então?
— E não me impediu de entrar no carro... eu iria morrer... meu filho iria ficar órfão
e você não fez nada.
— Eu pulei naquele maldito rio e te tirei de lá. — Ele acusou em um tom duro.
— Não dá para entender o porquê fez isto. Se me queria morta também. — Ela
sussurrou. — Devo agradecer por me salvar no acidente e agora me torturar por
respostas?
Bruce ficou em silêncio, ela sempre fazia isto com ele. O deixava sem palavras.
O olhar ferido dela fez seu coração bater descompassado e ele obrigou-se a se
mover. Abriu a torneira novamente e assistiu ela sofrer com o frio daquela água.
Quando fechou, ela tremeu fortemente e ele queria aquecer seu corpo quando a
compaixão e arrependimento bateram dentro dele.
Mas não voltou atrás, continuou fazendo perguntas e todas as vezes que não
obtinha uma resposta que o agradava ele a molhava com a água fria. Seguiram
assim por horas, até que o corpo frágil de Rita não aguentou e ela desmaiou com
os braços ainda pendurados sobre sua cabeça.
— Ela não fala muita coisa que te agrada. — Adônis resmungou ainda
observando Bruce.
— Estranho, Ettore não sabotaria o carro dela caso não se sentisse ameaçado.
Ou faria?
Bruce se manteve firme, mas sentia-se exposto sobre o olhar de Adônis. Ele
realmente era um homem que estava três passos à frente de todos, até mesmo
dos sentimentos que Bruce escondia e negava a si próprio.
— Você mais uma vez me provou sua lealdade, Bruce, mesmo que negue, eu
sei que gosta dela, mas mesmo assim aceitou torturá-la, independente de como
isso fosse difícil.
— Eu não perguntei também, só estou falando o que vejo. Tire as respostas dela
e caso ela for inocentada, vou deixá-la viver e você poderá ficar com ela.
Adônis se afastou sem dizer mais nada e foi embora, deixando Bruce preso em
seus próprios pensamentos.
Assim que a porta fechou, Bruce tremeu de raiva entendendo o que estava
acontecendo. Adônis o estava testando, usando Rita como cobaia. O fato de
Ettore ter aparecido somente motivou seu chefe a testar sua lealdade assim
como seus sentimentos. Olhou para Rita e soube que ficaria tudo bem, só
precisava continuar por mais um ou dois dias. Adônis iria acreditar em sua
inocência, isto se já não fazia, e Bruce ganharia mais de seu respeito.
...
O fogo estava tão alto que Rita mal podia ver o carro, ela segurou Josh com mais
força sobre seu peito e um grito estrangulado saiu de seus lábios. Sentiu braços
fortes ao redor dela e gritou dolorosamente novamente.
Gritou como se sua vida dependesse da resposta deles, mas Rodrigo não gritou
de volta. Muito menos sua mãe.
A voz chorosa do seu pai fez a realidade bater forte. Ela não queria perdê-lo, não
podia, também não podia perder sua mãe. A dor a levou para o choque em
segundos quando outro grito rompeu de seus lábios.
— Acorde, porra!
A voz dura de Bruce a trouxe de volta a dura realidade em que estava vivendo.
Ela prendeu o choro e o olhou com os olhos lagrimejando. Ele levantou de seu
colchão e a encarou em silêncio.
Rita prendeu os lábios firmes para não dar à oportunidade de que outro soluço
saísse por eles. Não iria desmoronar mais uma vez na frente de Bruce, pelo
menos tentaria não fazer isto. Ela já estava exposta demais e não daria a ele o
gosto de ver ainda mais dela.
Ela virou de lado ainda se segurando para não chorar, ignorou o fato de estar
somente de lingerie e puxou algumas das toalhas, que estavam no colchão, para
cima do seu corpo antes do soluço romper de seus lábios. Não permitiu outro
sair, mas as lágrimas desceram silenciosamente pelo seu rosto.
— Coma.
A voz rouca de Bruce a fez arrepiar em terror, lembrando-se dos dias anteriores.
Sabendo que não podia ir contra ele, ela se sentou com certo esforço. Seu corpo
estava muito cansado e doía cada músculo que movimentava. Olhou sua barriga
e viu o brilho de uma pomada espalhada nas queimaduras que o Taser causou
em sua pele. Sabia que ele mesmo a machucando estava tentando fazer com
que ela se sentisse melhor, mas isto não aliviava as coisas que fez a ela.
Puxou a bandeja sem esconder que cada movimento que fazia parecia ser muito
doloroso.
Comeu tudo sem reclamar, mas fez isto no seu tempo. Devagar e ignorando os
olhos de Bruce sobre ela. Não sabia o que esperar do dia de hoje com ele, mas
teria que ser forte para aguentar.
Porém, faria.
Ele teve que entrar lá e acordá-la, enquanto ela gritava em seu pesadelo. Ouviu-
a chamar por um homem e ficou irritado por isto. Ele não queria assumir que
ficou com ciúmes e até mesmo muito bravo por ela parecer tão ferida quando
abriu os olhos. Quem quer que tenha sido, tinha machucado ela de um jeito muito
profundo.
Mas ele não tinha o direito de sentir estas coisas, já que estava ferindo-a do
mesmo jeito ou pior que o outro homem. A delicadeza que ela mostrava não
merecia tal aspereza que ele impunha.
Seus olhos caíram nos cabelos castanhos emaranhados sobre a sua cabeça
agora presos em um coque, não pareciam os mesmo. Estavam sem vida e muito
bagunçados. Lembrou-se de como eles pareciam macios e bem cuidados antes
em cada vez que parava para observá-la, quando ninguém estava olhando.
Desceu o olhar e encontrou os olhos baixos dela. Antes eles eram os olhos
castanhos que mais brilhavam que já tinha visto em sua vida. Mas hoje, pareciam
opacos e sem o menor brilho.
Seus lábios estavam pálidos e rachados por causa do frio que enfrentou.
Diferente dos bonitos lábios rosados que ele beijou no elevador.
Sua pele estava extremamente pálida e tinha alguns pontos roxos criados pela
água gelada e as marcas de queimaduras do Taser. Os olhos dele pararam
sobre a cicatriz em sua barriga levemente arredondada, era de uma cesariana.
Seu filho não nasceu de parto normal e ela carregava a marca do nascimento
dele em seu corpo com orgulho.
Desceu o olhar para a coxa ferida e viu que estava irritada a pele, um pouco azul
as bordas pela falta de cuidado de ontem. Bruce quase suspirou sabendo que
ficaria uma cicatriz ali também, seria sua marca dos dias que passaram em
cativeiro e nunca se esqueceria do que ele fez a ela.
Seu corpo era bonito e perfeito aos olhos dele, mas ele não conseguia desejá-la
naquele momento. Ela sempre seria bonita, mas no instante só precisava de
alguém para cuidar e passar a segurança que necessitava. Ele desejava ser
esse homem, que colocaria ela na proteção de seus braços e prometeria que
ficaria tudo bem.
No entanto, ele não podia, era seu carrasco e sequestrador. Ela o odiaria por
toda vida. Pensar que infligiria dor a ela novamente fez seu estômago revirar.
— Levante-se — ordenou.
Rita encontrou seu olhar e não disse nada. Somente forçou seu corpo para cima,
ele podia ver o quanto ela se sentia derrotada e humilhada.
— Vá até o chuveiro.
Mostrou que ela deveria ir e então a seguiu com olhos atentos, seus passos eram
vacilantes e Bruce queria estar pronto para pegá-la, caso fosse necessário. Virou
suas costas para dá-la um pouco de privacidade, ouviu os sons que fazia dentro
e depois que lavou suas mãos, deu a ela passagem pela porta.
Abriu o chuveiro frio e viu-a oscilar em seus pés, quando fechou à torneira ela
tremia incontrolavelmente.
— Tudo... bem.
Ela não respondeu, somente abaixou sua cabeça evitando encontrar o olhar
dele.
— Diga-me.
Bruce puxou a mesa de metal para mais perto dela e se sentou sobre ela. Tirou
do bolso uma pequena caneta, apertou um botão e encostou a ponta na pele de
Rita, fazendo com que ela pulasse quando um pequeno choque atravessou seu
corpo molhado.
— De início ele não causa muitos danos, mas usado com frequência pode ser
extremamente doloroso.
— Não tenho as respostas que quer — sussurrou ainda com o olhar baixo.
— É extremamente... doloroso.
Ela ficou em silêncio por um tempo e pôde perceber o tom mais suave que Bruce
estava a tratando.
— Quem é Rodrigo?
Bruce sabia a resposta, conhecia a vida de Rita e tudo que já lhe aconteceu, mas
já que tinha dado início aquela conversa, decidiu continuar e ouvi-la.
— O que aconteceu?
— O motor aqueceu demais ... eu consegui sair com Josh e meu pai, mas minha
mãe e Rodrigo não... eles morreram quando o ... carro... ex..explo...explodiu...
Porque está tocando... nesta ferida?
— Desculpe.
Bruce não gostou de sua resposta e o choque logo passou pelo corpo de Rita.
Ela arfou com a dor em seus músculos e rangeu os dentes.
— Eu realmente não sei... os motivos dele ... juro que todas vezes que nos
falamos foram em encontros casuais... na escola, no parque, na gelateria perto
da minha casa. Nunca marquei um encontro com ele ou algo do tipo, sei que ele
sempre estava nos lugares em que eu estava com Josh.
— Ele... ele... ele sempre estava perto do Josh também... se tentou me matar...
vai tentar matar o Josh também...
Os olhos dela pareciam que iriam sair de seu rosto pelo jeito que estavam
arregalados. Bruce podia ver o verdadeiro terror sobre ela, principalmente,
quando começou a hiperventilar.
— Olhe para mim — ordenou, mas ela não o atendeu. — Rita! Olhe para mim.
Quando ela levantou o olhar aterrorizado, ele sentiu seu medo.
Ela não disse nada. Sua respiração ainda estava acelerada demais enquanto
tinha um ataque de pânico.
Rita obrigou seu corpo a obedecê-la por um instante e tentou ouvir o que Bruce
dizia.
— Eu tenho todos os passos de Ettore e estou sempre na sua frente, ele não vai
machucar seu filho.
— Não pode, eu sou um homem de palavra, apesar de tudo. Estou dizendo que
ele está seguro, tem que acreditar em mim.
— Você promete... que ele está bem junto com seu nonno.
Bruce segurou para não estremecer com a fragilidade do olhar dela. O desespero
de uma mãe amorosa e preocupada eram evidentes em suas feições.
— Mas ele não se atrasa com seu nonno — afirmou Bruce e ela sorriu de leve
por cima da tristeza que seus olhos transmitiam.
— Rita.
— Sim.
— Entende a confusão que se meteu?
— Sim.
— Entende que eu não posso fazer nada para salvar sua pele?
— Sim — choramingou.
— Entendo.
— Se não me dar a verdade, vamos ficar nesse jogo até que seu corpo não
aguente mais. Eu não quero que isto aconteça, mas devo minha lealdade à máfia
e não poderia descumprir uma ordem. Entende isto?
— Sim.
Rita nunca tinha o visto gritar antes e sentiu medo, Bruce era sempre silencioso
e mal-humorado, mas vê-lo tão irritado assim não foi boa coisa.
— Rita, se acha que o que tem passado em minhas mãos esses dias foi muito
para você, eu te digo que foi o mínimo de dor que posso causar a alguém.
Entende isto?
— Eu só aceitei fazer essa merda, porque outro iria feri-la muito e eu não queria
isto. Mas você não está me dando escolhas, fui treinado para torturar e matar.
Vou acabar causando sua morte se não me disser a verdade, porra!
— Desde que Rodrigo se foi eu nunca tive outro homem, o único que beijei foi
você.
Bruce ficou em silêncio e mais uma vez a vontade de pegá-la em seus braços
para lhe dar todo o conforto que estava preso dentro dele. Quase não se
reconhecia quando se tratava de Rita, seus instintos cruéis eram acalmados e a
única coisa que queria era beijá-la novamente até que perdesse o fôlego.
CAPÍTULO SEIS
Bruce suspirou ao olhar para Rita de cabeça baixa esperando pelo próximo
passo dele.
— Lembre-se de alguma coisa, Rita, precisa esforçar sua mente para me dar
respostas.
— Bruce — choramingou.
— Ele disse algo para você alguma vez? Algo estranho? Ajude-me a te ajudar.
— Qual o problema?
— Estou com tanta dor que não consigo pensar direito — murmurou.
— Se esforce a lembrar de alguma coisa, que eu vou te tirar desse lugar. Vai
poder voltar para seu filho e ter sua vida de volta, sem uma resposta eu não
posso fazer nada disto. Consegue me entender?
— Sim.
— Entendo — suspirou.
— Continue.
— Queria sempre saber como foi meu dia, onde eu iria depois do trabalho...
— O que mais?
— Perguntava sobre o meu trabalho.
— Coisas banais, o que fazia, se era muito cansativo, falava que eu trabalhava
muito...
Ela suspirou sem saber o que dizer, forçou sua mente e a dor em suas têmporas
aumentou.
— O que respondeu?
— Que era muito rígida. Ele perguntou se eu sabia o porquê uma empresa de
construção precisava de tanta segurança, mas eu disse que não sabia e também
não me importava.
O desgosto na voz de Bruce era evidente, Rita o olhou nos olhos e encontrou a
dureza de sempre neles.
— Não sei o que espera de mim, Bruce. Eu sou uma mãe solteira, que trabalha
para seu sustento e que não tem nada a ver com essa coisa toda que está
acontecendo. O conheci na escola do Josh, mas não fui eu a me apresentar.
Não costumo ficar muito próxima de homens.
— Não fiquei.
Bruce ficou visivelmente irritado e andou pelo local em busca das fotos que tinha.
— Então, porque ele sempre está com você? Por que ele beija seu rosto? —
rosnou para ela.
— Era só um cumprimento e ele sempre faz isto sem pedir minha autorização.
Eu trabalho há quase sete anos na construtora Albertini, quantas vezes me viu
beijando alguém?
Eles ficaram em silêncio novamente, Rita por não ter mais o que falar e Bruce
por pensar nas possibilidades.
— Você foi o único. — Ela sussurrou ganhando a atenção dele novamente. —
Bruce, você alcançou um lugar em mim que eu achei que tinha morrido há muito
tempo.
— Que lugar?
— Rita.
— Não diga nada, Bruce, não diga nada — murmurou e desviou o olhar.
— Tudo bem.
— Quantos seguranças tinham no térreo, se tinha que ser revistado para entrar...
Eu nunca pensei que ele queria algo com estas perguntas.
— O que respondeu?
— Disse que éramos revistados para entrar, mas que nunca reparei na
quantidade de seguranças.
— Acha?
— Sim, acho.
— Explique-se, então.
— Meu dia começa sempre atrasado, eu gosto muito de dormir e Josh de tomar
banho. Corro pela casa para ter certeza que o diretor da escola não vá brigar
comigo como antes.
— Como antes?
— Entendo.
— Quando entro no carro, vem outro problema. Tenho pavor de dirigir desde o
acidente, tremo da cabeça aos pés antes de entrar no carro. Mas mesmo assim
entro e vou devagar para não causar nenhum problema. Deixo meu filho na
escola e vou para o trabalho. Lá eu não tenho tempo para respirar. Então não,
eu não me lembro de cada coisa que me perguntam.
— Não, por que eu faria isto? Conheço o contrato que assinei sobre
confidencialidade, nunca quebraria minha palavra sobre isto.
Adônis Albertini.
Ele caminhou tranquilamente pelo local e não se importou em vê-la com suas
roupas intimas.
Rita tentou forçar a sua mente a entender o porquê ela nunca percebeu nada,
todo este tempo trabalhando para ele e nunca viu nada estranho. Ela trabalhava
para um mafioso e não tinha a menor ideia disto.
— Bruce.
— Chefe.
— Não, nenhum.
— Cheguei!
A voz de Apolo encheu o local e fez Adônis fazer uma careta em reprovação.
— Pare de colocar a culpa sobre ele. — Adônis falou e Apolo revirou os olhos.
Estava cansada de tudo o que tinha enfrentado nos últimos quatro dias e só
queria ir para casa. Mas não sabia o que ia acontecer com ela, principalmente,
agora que os dois homens, chefes da máfia, estavam na sua frente. Esperava
que não pudesse piorar, mas as coisas sempre pioravam.
— Acredito em você.
Ele disse e então ela suspirou. Lágrimas encheram seus olhos e desceram por
seu rosto silenciosamente.
— Conheço todos que trabalham para mim e sei que você realmente nunca se
importou com a segurança do local.
— Eu também acredito em você, Adônis realmente te grita a cada cinco minutos.
— Apolo brincou mostrando que estavam escutando a conversa e ela não sorriu,
somente acenou com a cabeça.
— Calado, Apolo.
— Ainda não sei quais são os planos de Ettore, mas vou descobrir em breve.
— E é por isto que acredito que é inocente nesta história. Mas você agora sabe
demais. — Adônis declarou.
Rita abaixou o olhar entendendo que não sairia viva dali e Bruce ficou tenso com
o rumo das coisas.
— Sim.
— Minha mulher gosta muito de você e eu não poderia feri-la. Para continuar
viva, vai ter que seguir as regras.
— Farei isto.
— Tem que ser leal a mim e ao meu irmão. Traição é um crime grave no meu
mundo e só é pago com a morte — disse. — A morte do traidor e toda sua família.
— Não estou pedindo para matar ninguém. Eu quero lealdade, você nunca
deixou a desejar no seu trabalho e eu espero que continue assim. Continuará a
trabalhar para mim e fazer o mesmo de sempre, mas eu ficarei mais atento a
você. Cada passo que der eu vou saber, então, tenha cuidado por onde anda.
Não haverá outra chance. E no mais, seu silêncio é a chave para se manter viva.
— Bom, Bruce vai te levar para um lugar onde possa descansar antes de voltar
para casa. — Adônis disse e ela acenou com a cabeça.
— Disponibilizaremos um carro para você, este será rastreado e com algumas
medidas de segurança. É para garantir a sua segurança e a nossa. — Apolo
disse tranquilo.
— Ok.
Assim que pararam do lado de fora, Adônis se virou para seu segurança.
— Leve-a para o apartamento que temos perto daqui, está tudo arrumado lá para
recebê-los. — Apolo disse.
— Não pode ser outro a fazer isto? — Bruce perguntou tentando não mostrar
sua hesitação.
— Ela irá te perdoar pelas coisas que sofreu, cuide dela, Bruce. — Adônis disse
e se afastou.
— Ficar sem roupa é uma boa coisa, para que ela o perdoe — disse e se afastou.
O peito de Bruce se encheu com insegurança e seu rosto se torceu de raiva. Não
podia brigar com Adônis por isto, mas jurou dar a ele um tempo muito ruim no
próximo treino. Não deixaria aquilo passar.
CAPÍTULO SETE
Rita observou Bruce voltar para dentro do local, ele não encontrou o olhar dela
em nenhum momento. Caminhou com destreza e confiança para dentro da cela,
onde estava presa, pegou o vestido e o par de sandálias que usava antes.
Então voltou para ela, colocou as coisas sobre a mesa e desamarrou Rita.
— Fique de pé.
O tom de ordem dele a fez tremer, mas mesmo assim se levantou. Ele ficou na
sua frente e passou o vestido por sua cabeça.
— Passe os braços.
Ela fez o que ele pediu e então o vestido se encaixou em seu corpo levemente
molhado. Fechou o zíper e pegou a sandália dela sobre a mesa. Bruce colocou
o celular no bolso antes de se abaixar e pegá-la em seus braços fortes.
Rita arfou surpresa com a atitude dele e então quase suspirou ao sentir o calor
do corpo pressionado sobre o dela. Todo o lugar estava frio e ela estava quase
implorando por calor.
Ela queria obrigá-lo a soltá-la afirmando que poderia andar sozinha, entretanto,
seu corpo estava tão cansado e dolorido que a única coisa que fez foi encostar
sua cabeça no peito dele permitindo.
O alívio foi tão grande em saber que estava livre, que ainda não sabia se
acreditava ou não.
Do lado de fora, tinha três carros parados, um homem abriu a porta do carro do
meio e Bruce entrou com ela ainda em seus braços.
Rita tremeu por estar novamente dentro de um carro e tentou sair do colo de
Bruce, mas ele não permitiu. Segurou-a com mais força, prendendo-a no lugar.
E ela ficou, não tinha forças para brigar com Bruce. Ela só queria ser livre
novamente e ver seu pequeno Josh.
Ele se manteve em silêncio por todo o tempo, caminhou pelo local e entrou em
uma suíte. Colocou-a sentada sobre a bancada do banheiro e lhe olhou nos
olhos.
Deslizou o zíper do seu vestido o abrindo. Rita tremeu quando os dedos dele
roçaram em sua pele. Puxou o vestido para baixo de seu corpo e então levou as
mãos nas costas dela soltando o seu sutiã.
— Sei que pode — respondeu antes de puxar a pequena peça de renda preta
pelos braços dela.
Automaticamente Rita colocou as mãos sobre seus seios para se cobrir. Ele não
se importou e ela corou envergonhada. Bruce pegou as alças laterais de sua
calcinha e sem aviso as rasgou em um puxão.
Ela arfou e ele deu um leve sorriso antes de pegá-la nos braços novamente.
Colocou-a em pé debaixo da ducha e abriu. Rita suspirou, apreciando a água
quente sobre seu corpo.
— Vou deixar você terminar seu banho, sozinha. Imagino que não queira mais
minha ajuda.
Ela acenou com a cabeça e ele manteve seu olhar preso nos olhos dela por
alguns segundos.
Bruce estremeceu com a vontade de voltar para o banheiro e tomar Rita, mas
manteve-se fora do banheiro para não perder a cabeça e piorar ainda mais a sua
situação, mesmo quando o estado na região sul do seu corpo se tornou
extremamente dolorida.
Rita respirou aliviada por ter Bruce fora, ela precisava de privacidade e espaço.
A água quente foi muito bem-vinda e ela demorou a sair. Lavou os cabelos sem
pressa e tremeu cada vez que fazia um movimento brusco. Quando saiu do boxe
encontrou toalhas e um roupão de banho.
Enrolou-se em um e saiu para o quarto, nele viu Bruce encostado em uma
parede olhando para ela. Ele não transmitia nada do que pensava em seu olhar,
além de intensidade.
— Eu irei fazer.
— Não...
— Sente-se — ordenou.
— Sente-se, Rita.
Observou cada movimento dele para cuidar de seu ferimento. Ele manteve o
silêncio de sempre e teve muito cuidado com seu machucado. Quando terminou
de enrolar uma faixa em sua perna, deixou a pomada para a queimadura do
Taser na cama e se afastou rápido.
— Tome esses analgésicos para dor e descanse, enquanto eu preparo algo para
comermos.
Bruce saiu tão rápido, que nem deu tempo dela gritar com ele por ser tão idiota,
mas manteve a calma e tomou os remédios que ele havia deixado na cabeceira
da cama junto com o copo de água.
Jogou as roupas que estavam dentro da sacola sobre a cama e encontrou um
par de lingeries de renda rosa claro, uma camiseta branca feminina e um
conjunto de moletom preto em seu tamanho. Ela se vestiu e ficou grata por se
sentir quente novamente. Deitou-se na cama e enrolou.
...
Acordou um tempo depois com Bruce a chamando, ele tinha trazido uma bandeja
com uma refeição. Gostou da massa com bolonhesa que fez, mas não elogiou.
Assim que terminou ele saiu e não voltou mais, deixando-a voltar a dormir.
Na madrugada ela acordou com sede e se levantou, mancou pelo quarto escuro
até a porta. Seu coração estava batendo rápido quando abriu a porta
comprovando não estar trancada, caminhou para fora e na sala viu Bruce parado
na janela. Ele usava somente uma calça de moletom e Rita não pode evitar
passear seus olhos pelas costas musculosas que exibia.
Olhou para o sofá onde tinha um travesseiro e cobertas bagunçadas sobre ele,
junto com um notebook ligado a imagens de câmeras de segurança. Não fazia a
menor ideia de onde poderia ser.
Bruce era o homem mais musculoso que já tinha visto em sua vida, nunca
poderia imaginar que debaixo dos ternos pretos escondia tamanha beleza. Ela
se virou e caminhou para a cozinha, não querendo olhar para ele. Depois dos
dias infernais que passou ao lado dele, agora só desejava distância entre eles.
— E você?
— Eu o quê?
— Nunca descansa?
— Boa noite, Bruce — respondeu sabendo que não iria adiantar discutir com ele.
CAPÍTULO OITO
— Rita, acorde!
Não era suficiente, desejava ser o homem que ela precisava. Pensou Bruce com
pesar.
— Bruce?
— Outro pesadelo?
— Está bem?
Segurou para não estremecer, todo o medo tinha se esvaziado dela quando
encarou seus olhos duros.
Rita forçou a mente a pensar se já houve alguma coisa na empresa que fosse
suspeito, mas não se lembrava de nada. Nunca percebeu nada estranho e aquilo
a intrigou.
Sabia que aquilo não estava ali ontem, com certeza Bruce tinha deixado para
ela. Não queria ficar agradecida a ele, mas ficou, quando sentiu os lábios mais
macios e hidratados.
Rita acenou e ele pegou um copo com água, observou enquanto tomava em
silêncio. E depois colocou uma grande xícara de café preto e puro na frente dela.
— Coma.
Ordenou enquanto puxava uma camisa social preta pelos ombros e abotoava os
botões rapidamente. Era sensual cada movimento dele e ela se obrigou a comer.
Tinha muito tempo que não via um homem se vestir em sua frente, o único que
fez isto já havia partido há tanto tempo que ela nem queria pensar.
— Hm — resmungou.
— Aquele dia em que ficou muito bravo comigo por não passar o telefone... Nível
três... Se não me engano... O que tinha acontecido?
— Para quem não lembra muito das coisas, você tem uma boa memória. — Ele
disse em um tom duro.
— Algo grave.
— Sim.
— Estava levando Giulia para alguns exames em uma clínica e fomos seguidos
— disse e deu de ombros. — Algumas caminhonetes nos perseguiram e
conseguiram se livrar das minhas escoltas de apoio.
— Sério?
— Sim.
Rita congelou com os olhos arregalados, ele falou com tanta naturalidade que
ela mal podia acreditar que quase causou a morte dele e de Giulia.
— Rita?
— Você quase morreu por minha causa. — Ela murmurou ainda chocada.
— Você demorou e me irritou por isto, mas não foi sua culpa — afirmou. — Não
esperávamos pela perseguição e os homens que fizeram isto pagaram pela
ousadia.
— Sim.
— Me matou de susto... Achei que me bateria... Estava tão furioso. — Ela disse
e tremeu com a lembrança.
— Não parecia.
— Sim.
— E a perna?
— Ainda dói.
— Não.
— Quer que eu te leve para casa ou precisa descansar mais um pouco antes de
voltar?
— Não é por sua causa, cuido da segurança pessoal de Adônis e não gosto de
ficar longe dele, mas ele não me dá opções quando cisma com algo.
— Ok
— Sexta.
Ela pulou para fora do banco e gemeu quando a dor explodiu em sua perna.
Bruce acenou com a cabeça e andou pelo local, foi até o sofá e tirou de dentro
de uma caixa um par de tênis femininos de uma marca cara.
Ela acenou com a cabeça lembrando que estava descalça ainda. Mancou até
ele e se sentou no sofá, ele se ajoelhou em sua frente. Colocou meias brancas
em seus pés, mesmo sobre seus protestos de que podia fazer isto sozinha, e
colocou os tênis.
Foram em silêncio para o carro no térreo e desta vez não tinha escolta, Bruce
abriu a porta para ela e depois entrou no lado do motorista. Pelo caminho ele foi
falando de algumas regras básicas para manter-se viva e salva da máfia. Ela
escutou com atenção, com medo de que fizesse alguma coisa errada que
causaria danos sem reparos. Nunca colocaria Josh em perigo, então, seguiria à
risca tudo que Bruce lhe disse.
— Você acha?
— Ele está naquela região, não sei quais vão ser os seus passos. Caso ele se
aproxime de você, mantenha a calma e não deixe transparecer nada. Deixe-o
acreditar que fez algo errado no seu carro e não conseguiu concluir o que tinha
planejado.
— Ele vai.
— Mas...
— Tenho homens por todos os lados nesta cidade e conheço cada passo que
Ettore dá, não vai lhe causar nenhum dando — garantiu. — Eu te dou minha
palavra que você está segura, assim com Josh e seu nonno.
— Vou te acompanhar hoje, já pensou no que dizer a ele quando perceber que
você está machucada? Irá dizer do acidente?
— Não, ele também tem medo de carros. Não quero assustá-lo, só vou dizer que
caí. — disse. — É suficiente.
— Tudo bem, acredito que Ettore não vai se aproximar de você comigo do seu
lado, mas se acontecer, não se esqueça de agir naturalmente.
— Bom.
Ele saiu do carro e abriu a porta para ela, ajudando-a a sair do veículo com
cuidado por causa de sua perna ferida.
Guiou Rita para dentro da escola e foram para o lado das quadras de esportes.
Viu-a sorrir com lágrimas nos olhos quando achou o filho aquecendo no canto
do gramado.
O garoto se virou e encontrou a mãe com o olhar, ele pareceu surpreso de início,
mas depois correu na direção dela.
Bruce se posicionou atrás de Rita e segurou seu peso quando Josh se jogou
contra ela.
— Mama.
— Filho.
Ela o abraçou forte e não se importou com a dor na perna. Josh apertou seus
braços em volta de sua cintura.
— Estou vendo, nem se importou de abraçar essa pobre mãe na frente dos seus
amigos.
— Também senti.
Quando ele se afastou olhou em seu rosto e depois para Bruce que continuava
atrás dela lhe dando apoio.
— Mama.
— Estou bem, ainda não sou uma mãe zumbi sugadora de sangue.
— Como eles são chatos, deve ser tão sem graça ser um zumbi.
— Desculpe, mãe.
— Sou Josh.
— Cuidei dela, vou acompanhá-la depois para casa quando você tiver garantido
sua vaga no time.
— Hm... eu vou.
— Vá logo, pirralho.
Rita sabia que suas feições não eram as melhores e que isto estava assustando-
o. Então, sorriu e encheu seu rosto de beijos.
— Eu não babo.
— Então, que gosma é essa no meu rosto? — brincou e ela sorriu animada.
Josh jogou a cabeça para trás e gargalhou trazendo alívio a alma de Rita.
Ele sorriu, jogou um beijo para ela e depois correu para o campo.
Rita soltou um suspiro alto e estremeceu quando se deu conta da mão de Bruce
em suas costas.
— Pensei que nunca mais iria vê-lo — sussurrou e limpou rapidamente a lágrima
que desceu sobre sua bochecha.
Rita acenou com a cabeça e juntos deram dois passos para frente, mas parou
quando uma figura feminina entrou em seu campo de visão vindo em sua
direção.
— Quem é ela? — Bruce perguntou baixo.
— Alguém que eu não tenho paciência para lidar hoje. — Ela murmurou e
continuou a caminhar para as arquibancadas com a intenção de se sentar no
local mais baixo, por causa do ferimento em sua perna.
— Rita?
— Talita.
De repente, Rita se sentiu cansada e desejou por tranquilidade. Algo que parecia
raro em seus dias agora.
— Precisar de você para alguma coisa? Não querida, eu não preciso — esnobou.
— Vi que seu filho vai fazer o teste, Daniel também irá conseguir uma vaga no
time.
— Boa sorte para ele, Talita, agora se me der licença, vim aqui para ver meu
filho e não gastar meu tempo com você.
Mas o segurança olhou para sua mão estendida e depois para seu rosto, não
mostrando nenhuma reação. Rita viu o rosto da mulher corar envergonhada e
logo ficar furiosa pela reação de Bruce.
— Ele não é de muitas palavras, como disse, nos dê licença para que eu possa
assistir meu filho.
Rita caminhou rápido passando por Talita e sentiu a presença de Bruce em suas
costas. Mesmo mancando, foi para as arquibancadas e se sentou no primeiro
lance.
— Não precisava ser tão mal-educado. — Ela resmungou assim que ele se
sentou no seu lado.
Ele prendeu seu olhar no dela e depois quebrou o olhar, voltando a encarar o
gramado.
CAPÍTULO NOVE
Bruce dirigiu em silêncio na volta, levando Rita e Josh para casa depois do teste
de futebol.
Dividindo sua atenção no trânsito e no aparelho ele discou para Dânio, o homem
que ele escolheu para a segurança de Rita quando não estivesse por perto.
— Diga, Bruce.
— Tempo.
— Cinco.
Bruce não perdeu o sarcasmo em sua voz, olhou pelo retrovisor e viu-o
estremecer levemente.
— Joshua.
— Sinto muito, vou prestar mais atenção na próxima vez. — Bruce murmurou.
Sabia que eles tinham trauma de carro e eram tensos todas as vezes que
estavam dentro de um. Não pioraria a situação ainda mais, seria cuidadoso a
partir daquele momento.
Assim que estacionou o carro na porta da casa de Rita, ele não perdeu o alívio
no rosto dela.
— Claro, já estou fora — disse e saiu do carro mais depressa do que imaginou
ser possível para um pré-adolescente.
Ele não respondeu de início. Esticou o braço para o banco detrás e pegou uma
caixa que estava ali.
— Esses são alguns de seus pertences que foram resgatados de seu carro.
Coloquei junto alguns medicamentos e aparatos para cuidar do corte em sua
perna — informou. — No fim da próxima semana vou levá-la para tirar os pontos.
Também há um celular novo e outros aparelhos eletrônicos que foram perdidos
no acidente.
— Não...
— Você não tem a opção de negar — disse rude. — São ordens do chefe.
— Volte ao trabalho quando se sentir melhor e pronta para isto. Haverá sempre
um segurança te seguindo onde quer que vá, assim como Josh e seu nonno.
Não precisará mais dirigir, Dânio estará sempre à disposição para isto e não
precisa se preocupar em estar atrás de um volante. — um pouco de alívio passou
por Rita. — Evite se desviar de perto dos homens que te seguirem e não brinque
com sua segurança. Se eles te perderem de vista, pode colocar em dúvida sua
lealdade, então não teste isto.
— Vai ser difícil se acostumar, mas você só precisa ignorá-los que vai ficar tudo
bem — disse. — Caso Ettore se aproxime, você deve me procurar
imediatamente. Evite ficar sozinha com ele, ou em algum lugar muito vazio.
— Ok.
— E Rita?
— Hm.
— Não quero falar sobre isto. — Rita disse e abriu a porta do carro.
— Nunca pensei que sentiria tanta falta de casa — murmurou esperando que ele
acreditasse em suas palavras.
Rita virou na cama e sentiu o corpo adormecido de Josh ocupando a maior parte
da cama, assim como seu pai era. Parecia sempre ter os mesmos hábitos de
Rodrigo. Sorriu e acariciou seus cabelos, aliviada por tê-lo novamente perto. Foi
uma semana muito ruim e estava feliz por estar de volta em casa.
— Alô.
— Sim, estive lá para buscá-lo — disse e sorriu. — Ele passou e agora é o novo
jogador do time.
— Que bom. — Seu pai pareceu animado. — Sua voz parece cansada.
Ficou ali, observando e velando o sono dele por boa parte da noite até que
adormeceu.
O sábado amanheceu mais frio do que o normal. Rita passou o dia assistindo
filmes com Josh e deixando seu corpo se recuperar do cansaço e maus tratos
sofridos pela semana sendo prisioneira de Bruce, ou melhor, da máfia.
Sua mente ainda corria preocupada por nunca ter reparado nada de errado na
construtora. Sentia-se preocupada e receosa em agora estar envolvida com algo
tão perigoso quanto à máfia.
Ao anoitecer ele dormiu em sua cama novamente, não assumiu, mas ela sabia
que ele sentiu muito sua falta. Sem poder negar isto a ele, deixou que dormisse
com ela, gostando de tê-lo tão próximo.
...
— Já vou, mãe.
— Tudo bem, Frank, Josh está cada dia mais parecido com Rodrigo.
Frank era o melhor amigo de Rodrigo e nunca se afastou depois de sua morte,
foi um ótimo amigo nos últimos anos e continuava a ser.
— Estou bem, logo vou estar ainda melhor — garantiu. — Quer algo para beber?
— Eu mesmo pego, sente-se que eu vou nos servir uma taça de vinho.
...
Uma hora ou outra, teria que enfrentar Adônis Albertini outra vez e ela não
correria disto. Mesmo ainda com o medo correndo em suas veias, decidiu que
lidaria com tudo da melhor forma possível.
Adônis havia dito que nada mudaria em seu trabalho e ela acreditou nele, mesmo
que uma vontade enorme de estapeá-lo se fez dentro dela, ao lembrar que ele
era o responsável pela tortura que sofreu nas mãos de Bruce.
Ettore, este era outro que ela queria bater até a morte. Faria o possível e o
impossível para ficar longe dele, ainda não acreditava que tentou matá-la.
Mas porque ele a queria morta? Essa era a pergunta de um milhão de dólares.
Tomou um banho quente com a mente cheia de dúvidas e foi para o seu closet.
Fez um novo curativo no corte em sua perna e respirou fundo, enquanto
procurava o que vestir para o dia de trabalho.
Suas mãos tremiam e ela ignorou o nervosismo espalhando por seu corpo.
Pegou um vestido azul escuro que ia até seus joelhos e calçou as sapatilhas
pretas.
Caminhou até o espelho do closet e observou seu rosto. Não estava mais tão
pálida como antes e ainda tinha olheiras abaixo dos olhos.
Escovou o cabelo e puxou uma trança embutida prendendo todos os fios, menos
a franja. Fez uma boa maquiagem que escondesse todos os traços de cansaço
do seu rosto e passou o mesmo batom rosa de todos os dias.
Pegando suas coisas de trabalho e um casaco de frio para o dia, ela saiu de seu
quarto e bateu na porta do quarto de Josh.
— Estou contando.
Ela respirou fundo inúmeras vezes e se obrigou a relaxar quando ouviu Josh
descer as escadas.
— Nenhum.
Josh parou e olhou atentamente Rita. Ele a conhecia melhor do que ela
acreditava. Em seus dozes anos, já podia dizer todas as diferenças de humor da
mãe e agora não seria diferente.
— Você acordou cedo e está em silêncio — pontuou. — Sem contar que passou
o fim de semana disfarçando que não está preocupada com algo.
— Josh...
— Mãe, me conte qual é o problema e vamos ver o que podemos fazer — disse
como se já fosse adulto.
— Eu confio, querido.
Rita pensou por um instante antes de decidir o que falar para Josh.
— Lembra-se de Ettore?
— O cara que sempre aparece onde quer que estamos?
— Sim.
— Não, querido, ele não me machucou. Eu quero que você me prometa que toda
vez que ele se aproximar, você vai se afastar e nunca ficar sozinho com ele.
Jamais! Vai sair e me ligar, ou mandar mensagem na mesma hora.
— Por que...
— Não precisa saber o porquê, Josh. Eu sou sua mãe e você tem que confiar
em meu julgamento quando digo que não confio nele para ficar por perto de nós
dois.
— Querido, você ainda não precisa se preocupar com o que ele fez ou deixou
de fazer. Eu só quero que me prometa que vai ficar longe dele e caso se
aproxime, você procure ir para um lugar com mais pessoas. Pode me prometer
isto?
— Obrigada.
— Bom, agora vamos logo com isto antes que eu chegue atrasada.
— Acho que ele vai me tirar os membros. — Ela respondeu e ele sorriu.
E pela primeira vez em muito tempo, eles não estavam tão atrasados para sair
de casa. Pegaram suas coisas, trancaram a porta e quando olharam para fora
um Jeep preto os aguardava.
— Estragou.
— O quê?
— Estragou alguma coisa nele, mandei consertar, mas acredito que eu vá vendê-
lo e comprar um melhor. Até lá o senhor Albertini liberou um carro e um motorista
para nos acompanhar.
— Pelo menos não vai precisar dirigir — murmurou e Rita não percebeu como
ele pareceu aliviado com isto.
Rita teve que sorrir com a facilidade de Josh para aceitar com outras pessoas,
nem parecia que tinha somente doze anos, afinal quando ele se tornou um adulto
assim? Ela se perguntou e sorriu gostando de ver como ele crescia rápido.
— Senhorita?
Dânio a chamou e ela percebeu que ainda estava parada no mesmo lugar.
Ele acenou e ela entrou no carro ao lado do motorista, não era porque agora
tinha alguém para dirigir para ela que sentaria atrás como uma madame
qualquer.
Apesar do alívio de não ter que dirigir, Rita acabou tremendo levemente com as
lembranças do último acidente em que esteve envolvida. Porém, o que realmente
a deixou tensa foi à imagem de Bruce debruçado sobre ela exigindo que
respirasse. A sensação de seus lábios frios sobre os dela eram ainda tão vivos
em sua mente, mais do que desejava.
Decidiu optar pela frieza, faria o seu trabalho como fez durante todos os anos
em que esteve na construtora e esqueceria que trabalhava para um mafioso.
Mas a frieza em si seria para Bruce, não falaria com ele nada além do que fosse
necessário. Antes ela sempre o cumprimentava e perguntava como estava, ou
como foi seu fim de semana. Tentava manter um diálogo com ele, mesmo com
suas respostas monótonas e seu silêncio insuportável.
— Tchau, mama, valeu Dânio.
— Mãe.
— Também a amo.
Ele disse e pulou para fora do carro. Dânio e Rita ficaram observando Josh, até
que ele sumiu para dentro da escola.
— Obrigada.
— Não por isto, este é meu número, me ligue quando precisar sair do prédio.
— Não...
— Não lute contra isto, Rita, são regras e elas devem ser seguidas à risca.
— Tudo bem, não saia sem minha companhia — pediu. — Vou estar te
observando de longe e atento, mas me procure quando precisar.
Ela acenou com a cabeça incapaz de continuar aquela conversa. Sabia que ele
ficaria o dia todo observando seus passos pelas câmeras de segurança e de
repente se sentiu irritada por isto.
Rita saiu do carro carregando sua bolsa e o novo notebook, sem olhar para trás.
Apertou o botão e aguardou. Dânio continuava no mesmo lugar garantindo que
ela não fizesse outra coisa além de subir para trabalhar.
Assim que as portas se abriram, ela deu um passo para frente, mas parou
quando viu Adônis Albertini e Bruce atrás dele olhando para ela sem demonstrar
nenhuma reação.
Rita prendeu a respiração e obrigou seu corpo a não tremer na frente deles, seu
olhar saiu de Adônis e encontrou o frio dos olhos de Bruce. A lembrança dele
abrindo o chuveiro gelado sobre sua cabeça brilhou em sua mente e uma raiva
apareceu nos olhos de Rita.
Rita engoliu o caroço de raiva que tinha se formado em sua garganta e forçou
seu rosto a se tornar frio, quase impassível.
— Senhor Albertini.
Viu Adônis e Bruce entrarem para o escritório, então pode respirar aliviada.
Ela focou sua atenção em seu trabalho, enquanto tentava recuperar sua agenda
para a semana.
Não demorou muito e a porta se abriu novamente, dela saiu Bruce com sua
postura tensa e rosto frio.
— Rita?
Ela o olhou e não falou nada, somente esperou que ele dissesse o que queria.
Rita acenou com a cabeça e ficou em silêncio, ele a observou por um instante
enquanto se levantou pegando suas coisas para enfrentar Adônis.
— Rita eu...
Ela não o ouviu, entrou na sala e fechou a porta em seu rosto sem se importar
com a educação.
— Sim, sente-se.
Ordenou no seu costumeiro tom calmo e olhar sombrio. Ela não se importou,
estava acostumada com ele mandando nela e seu olhar não a assustava muito
mais.
Sentou na sua frente e tentou não se constranger com o olhar dele sobre ela.
Adônis prolongou um silêncio entre eles, fazendo com que ela começasse a ficar
ansiosa. Porém, Rita manteve o rosto impassível mostrando que não ia se abalar
por fora, mesmo que por dentro estivesse tremendo de medo do próximo passo
que o mafioso iria dar.
— Tem certeza de que não precisa de mais alguns dias em casa? — Ele
perguntou.
— Sim, não teria o que fazer lá — respondeu firme e ele a considerou por um
momento.
— Estou bem.
— Bom.
— Percebi que você ignorou Bruce no elevador, algo que nunca fez antes. —
Adônis disse.
— Não quero falar sobre Bruce, senhor. — Rita disse firme, mas acabou
tremendo levemente.
— Ele só fez o que era preciso — afirmou. — Era uma ordem minha.
Rita se esforçou para esconder sua raiva, respirou devagar e manteve o rosto
impassível.
— Eu sei.
— Se está pronta para trabalhar, vamos começar pela agenda. — Adônis disse
não rendendo mais o assunto.
— Estou pronta.
Outra coisa incômoda foi ter Bruce sentado no sofá da sala, onde geralmente
Pietro ficava. Na verdade sempre tinha um segurança sentado ali, mas hoje
Bruce tomou o posto e mesmo com um notebook no colo, ela não perdeu que
ele estava sempre a olhando.
Ela não conseguiu formar palavras para responder, estava abalada demais para
dizer qualquer coisa. A presença das duas mulheres a fez se lembrar de que
eram esposas dos homens que comandavam a máfia. Dos homens que a
manteve presa injustamente por quatro longos dias. Queria ficar com raiva delas,
mas não pôde, a preocupação daquelas mulheres eram puramente genuínas e
não mereciam o desprezo de Rita.
— Sim, está sentindo alguma coisa? Não me diga que Adônis te mandou voltar
sem se recuperar. — Giulia disse preocupada.
— E nem pense em me castrar, porque eu não fiz nada. — Ele disse para a
esposa e sorriu.
— Seu idiota. — Ele respondeu e olhou para Giulia. — Sabe que eu não posso
mais fugir com você, neh? Está uma gata, mas agora sou um homem casado.
— Porque não levam Rita para almoçar? — Apolo disse. — Que bom que está
de volta, Rita.
E Rita se rendeu, não poderia lutar contra as duas juntas. Foi arrastada para fora
e levada para o restaurante do prédio, sentaram-se no lugar mais privado
possível e fizeram seus pedidos.
— Sinto muito por tudo que passou, Rita. Assim que descobrimos o que estava
acontecendo, fizemos o impossível para impedir que fosse morta. — Giulia
informou.
— Como assim?
— Ele planejou ser sequestrado para pegar um inimigo, mas eu acabei caindo
no meio desta confusão. Fui levada e muito machucada. Quando libertada, Apolo
me deixou voltar para minha vida, mas me perseguiu por cada canto. Até que
engravidei e ele me mandou abortar, fez um inferno minha vida, até que paramos
de brigar e escutamos um ao outro. — Milena contou e revirou os olhos com
certeza lembrando-se de alguma coisa que não queria compartilhar.
— Eu pedi para que ele não a machucasse muito, sabia que não tinha como lutar
contra isto. — Giulia disse com pesar.
— Só o corte na perna.
— Então, ele realmente pegou leve com você. — Milena afirmou e Rita arregalou
os olhos.
— Imagino que sim, querida, não pergunte como, mas eu sei do que eles são
capazes para conseguir respostas. Quase não tenho estômago para suportar, e
olha que sou médica, já vi de tudo nesta vida. — Milena falou e segurou a mão
de Rita tentando confortá-la.
Todos sabiam que Bruce não a machucou realmente, comparado ao que ele
estava acostumado a fazer.
...
Bruce entrou na sala de Adônis atrás de Apolo, que abriu a porta sem bater como
sempre fazia e revirou os olhos para a expressão brava do irmão.
— Como se isto fizesse alguma diferença. — Adônis disse e voltou sua atenção
para o notebook.
— Você pensa tão mal de mim. — Apolo disse e se sentou na frente do irmão.
— Pare, Apolo.
— Vamos logo ao que interessa. — Adônis disse olhando para Bruce. — Preciso
ver como está a rota de entrega e ver o que podemos fazer para melhorar, não
quero mais ser surpreendido por policiais.
— Bom.
— Vai ter uma merda de trabalho para conquistá-la, se ainda quer domar a fera
— brincou Apolo.
Desejava fazer o brilho de seus olhos voltarem e a que raiva viu neles não
existisse mais. Porém, não podia culpá-la por nada, ele merecia seu tratamento
frio e impassível.
Bruce não queria que ela continuasse assim, desejava que voltasse ser a mulher
faladeira e cheia de perguntas que era.
Decidiu deixá-la por agora, talvez o tempo o ajudasse a se entender com ela.
Ou não!
CAPÍTULO DOZE
Trabalhou com eficiência e não ouviu nada sobre a máfia durante esse tempo.
Deu-se conta que não era desatenta, a verdade era que todos envolvidos nesta
organização criminosa eram discretos demais para deixar qualquer coisa passar
despercebido.
Ettore ainda não tinha aparecido e Rita começou acreditar que ele desistiu, mas
Dânio não concordava, sempre dizia que Ettore só estava esperando um
momento de distração. Dânio continuou a levando para todos os lados e se
tornou amigo de Josh desde os primeiros dias em que esteve por perto.
Outra pessoa que ficou mais próximo foi Frank, ele sempre aparecia para um
almoço no fim de semana ou um passeio por perto. Rita gostou de sua
aproximação, Frank sempre a fazia se lembrar dos tempos bons ao lado de
Rodrigo e isto a fez bem.
Giulia e Milena também foram presentes durante o decorrer do mês. Sempre que
dava almoçavam juntas e falavam sobre muitas coisas em um tempo muito curto.
Mas quando Rita voltava para o escritório, seu rosto voltava a ser a máscara fria
que tinha se tornado.
Desviando os olhos do notebook, ela pegou seu celular que chamava em cima
da mesa, reconheceu ser o número da escola e ficou tensa antes de atender.
— Alô.
— Senhora Castiel?
— Sim.
— Sou Eleonora, secretaria do diretor Tommaso, estou ligando para pedir que
venha até a escola imediatamente.
— Qual problema?
Rita desligou e seu corpo tremeu em raiva, não podia acreditar que Josh tinha
se envolvido em uma briga. Ela arrumou a mesa correndo, feliz por estar quase
na hora do almoço, assim poderia sair rapidamente. Levantou e bateu na porta
do escritório de Adônis, entrou quando ele liberou.
Ela parou ainda na porta observando seu chefe e as costas de Bruce, que estava
ali há mais de uma hora em uma reunião com Adônis.
— Rita?
— Desculpe, senhor.
— Algum problema?
— Sim.
— Gostaria de sair mais cedo para o meu almoço, preciso ir à escola de meu
filho. Seu diretor está me aguardando.
— Tudo bem, vá ver como ele está — disse. — Bruce irá lhe acompanhar.
Ele se levantou rápido e ela olhou para Adônis, o olhar dele dizia que não havia
alternativa. Aceitou de uma vez seu destino já que com ele não havia como
discutir.
Caminharam para fora e ela pegou sua bolsa, seguiram para o elevador em
silêncio. Quando estavam dentro do carro a caminho da escola, Bruce resolveu
tentar mais uma vez falar com ela.
— Sim.
— Eu estou.
— Só estou te tratando da forma que merece — acusou. — Afinal, não era você
mesmo que era cheio de respostas monossílabas e ficava em silêncio ignorando
qualquer coisa?
— Rita...
— Uma vez eu te disse que não sou um bom praticante de paciência e acredite,
já me cansei de esperar — disse em um tom de aviso. — Em algum momento,
muito em breve, vamos conversar.
Irritada por ele praticamente prendê-la dentro do carro com a intenção de fazê-
la ouvi-lo, Rita esticou a mão na tentativa de apertar o botão para destravar as
portas.
Mas Bruce foi mais rápido e segurou seu pulso no meio do caminho.
— Nós vamos conversar Rita, nem que eu tenha que te levar em meus ombros
— ameaçou. — Eu vou fazê-la falar comigo, vou fazer você soltar toda essa raiva
que tem presa dentro de você e vamos nos acertar.
Ele soltou o braço dela e Rita se arrepiou com a perda repentina do calor dele.
Destravou o carro e saiu sem esperar por ela, em silêncio ela também saiu e
juntos foram para a sala do diretor.
A secretária se levantou logo que os viu. Josh estava sentado em um canto com
sua mochila e tinha uma bochecha inchada.
Rita se encheu de preocupação, mas seus olhos foram para a porta do diretor
que se abriu no momento, uma mulher com um garoto que tinha um olho roxo
saiu da sala. Não podia acreditar que Josh tinha feito aquilo.
O diretor a olhou por um instante antes de voltar para sua conversa com a outra
mãe.
A mãe do garoto disse e depois saiu puxando o menino para fora da sala, mas
não antes de esbarrar no ombro de Rita. Ela balançou em seus saltos e Bruce
segurou sua cintura impedindo que tropeçasse.
— Claro, mas os dois garotos não quiseram me dizer o porquê se socaram. Sinto
muito que tenha lhe tirado do seu trabalho, não poderia deixar isto passar.
— Entendo.
— Vou conversar com ele sobre isto. — Rita afirmou. — Quando começa os
projetos da feira?
— Amanhã.
O garoto se levantou com os ombros baixos e não olhou para o rosto da mãe.
Caminharam para fora, Bruce apressou para abrir a porta do carro para Josh e
depois para Rita.
Antes de dar uma volta no carro, Bruce visualizou Ettore do outro lado da rua os
observando e ele ficou rígido, mas o homem foi esperto em sumir rápido.
Esperou alguns minutos para ter certeza de que ele estava longe, abriu o capô
do carro para garantir que não teriam nenhuma surpresa no caminho.
— Sei que não gostam, mas preciso fazer uma chamada. — Bruce disse olhando
o retrovisor.
Rita também olhou pelo espelho procurando por algo suspeito e não viu nada.
Voltou a olhar para Bruce, mas ele já tinha o celular em sua orelha.
— Pietro, alvo muito perto. — Bruce disse. — Mande uma equipe para minha
última localização, não o perca — ordenou antes de desligar.
Um pouco mais para frente, Bruce puxou o carro para o estacionamento de uma
farmácia.
— Sim.
— Ok.
— Chefe... Não, tudo tranquilo... Eu o tenho. Nada que não se possa resolver...
Farei isto.
— Mama — resmungou.
— Eu estava na minha, mas ele começou a me provocar por não ter um pai.
— Eu sei... Mas ele ficou dizendo que eu estava mentindo, que meu pai não
morreu, que na verdade ele tinha ido embora por não suportar ficar com a gente.
— Josh...
— Eu sei que não é verdade, mama, mas ele me irritou muito e eu lhe acertei o
olho — disse emburrado.
— Violência gera violência... Não existe nada que não possa se resolver com
calma.
— Bom, então eu ainda não entendi o porquê de socar seu colega. — Ela disse
pensativa.
— Mama! — Ele exclamou nervoso e ela se virou no banco para olhar o filho.
— Josh você tem um pai, que morreu, mas que te amou muito quando ainda era
vivo. Não há razão para se irritar sobre isto, já que nós nunca mentimos um para
o outro. Socar aquele garoto pode ter te feito extravasar um pouco de sua raiva,
mas te trouxe outros problemas. Como: ser chamado pelo diretor, me tirar do
trabalho, te fazer ficar depois da aula dois dias por semana e sem contar que
você está proibido de jogar vídeo game pelos próximos quinze dias.
— Ah, sim. Afinal, não poderia sair assim tão fácil para você — disse e sorriu da
cara indignada dele.
— Merda, aquele soco está saindo mais caro do que eu imaginei. — Josh
resmungou e Bruce sorriu gostando de ver a relação dos dois.
Ele viu que Rita era uma mãe melhor do que imaginava, vê-la o disciplinando foi
quase que incrível para Bruce. Achou ela ainda mais atraente em seu papel de
mãe brava e ficou difícil resistir ao desejo de conquistá-la.
— Josh?
— Hm.
— Sua mãe está certa sobre a coisa da violência, mas você tem um bom soco
de direita.
— Não podia deixá-lo falar mal do meu pai, não me arrependo de socá-lo mesmo
sabendo que é errado.
— Eu sei que não, mas na próxima vez me chame, que eu mesmo vou dar uma
lição nesse pirralho. — Bruce disse e ofereceu um cartão para Josh.
— Obrigado.
— E não conte para sua mãe sobre o que eu disse da sua direita.
— Ela iria castrá-lo, não vou contar — prometeu rindo. — Valeu, Bruce.
— Tchau, garoto.
...
Para o alívio de Rita na volta para a empresa Bruce foi em silêncio, mas ela
percebeu que ele estava tenso mesmo que tentasse passar uma postura
relaxada. Quando o celular dele tocou, Bruce atendeu em menos de um
segundo.
— Diga — rosnou para o telefone. — Ele fez o quê? Tem certeza? Merda do
caralho... Estou a caminho, chego em quatro minutos.
Desligou a chamada.
— Algum problema? — Rita perguntou curiosa.
— Sim.
— Talvez.
— Rita, Ettore está cavando sua própria cova e eu sou o primeiro na fila para
surrá-lo até a morte. Então, se quiser uma resposta completa sobre o que está
acontecendo ou o que estou pensando, acho melhor pensar bem antes, poderia
se chocar com o tamanho da brutalidade que guardo dentro de mim.
Bruce sorriu ao ver os punhos dela fechados, ela era uma mulher feroz e muito
valente. Que não gostava de ser afrontada como ele tinha acabado de fazer.
Seus olhos brilhavam de raiva e ele gostou. Acabou admirando os lábios rosados
dela e desejou, muito, poder beijá-la.
Viu-a arfar surpresa e em choque de sua atitude, segurou-a pela nuca e colocou
seu peso sobre ela, prendendo-a ali.
Então ele abaixou sua cabeça e beijou Rita, ela ficou rígida e não correspondeu.
Mas ele não desistiu, lambeu seu lábio inferior e o puxou com os dentes.
— Beije-me — exigiu.
— N...
Ele aproveitou sua deixa e levou sua língua para dentro da boca dela, ela socou
seu peito para afastá-lo e não teve nenhum sucesso. Ela cedeu e o
correspondeu, o beijou na mesma intensidade e suas mãos não sabiam o que
fazer, se batia nele ou se o trazia para mais perto.
— Merda.
Ele resmungou e se afastou, Rita pode ver que cortou sua boca ao mordê-lo.
Bem feito.
Pensou que ele ficaria furioso, mas ao invés disto, Bruce sorriu.
— Você afirmou no cativeiro que eu a queria morta, a resposta para isto é não.
Eu não a quero morta, me joguei naquele rio e a tirei do carro para te salvar,
porque o mundo não seria o mesmo para mim se tivesse que te enterrar.
Rita respirou fundo tentando entender o que ele quis dizer e saiu também, ainda
bamba, mas a tempo de vê-lo entrar no escritório de Adônis rapidamente como
se já estivessem esperando por ele. Tinha acontecido alguma coisa e ela sabia
que não ia querer saber do que se tratava.
CAPÍTULO TREZE
Bruce entrou na sala de Adônis sentindo o lábio inferior dilatar, onde Rita o tinha
mordido. Encontrou um grupo de homens o observando e ele fechou seu
semblante.
— Foi mal, mas minha curiosidade não me deixa ficar calado — disse e deu de
ombros.
— Precisamos voltar com ela, havia uma blitz inesperada no caminho. — Pietro
informou.
— E não acharão nada. — Bruce disse firme. — Minha intenção é deixar que
eles nos encontre, acreditando que alguém daqui de dentro invadiu seus
sistemas — explicou. — Mas depois de vasculharem o prédio, ou alguns
computadores irão ver que não passa de um mal-entendido.
— Você é demais, Bruce. — Apolo brincou. — Tem certeza que dará certo?
— Mas tenho quase certeza de que Ettore está por trás disto. — Bruce opinou.
— Ele está tentando desviar nossa atenção com Rita. — Adônis disse e todos
concordaram.
— O encurralem, vamos ver até onde ele pode ir para tentar ganhar o meu
território. — Adônis se pronunciou.
Bruce organizou uma equipe e logo se espalharam pelas ruas italianas a procura
do homem responsável pela denúncia. Assim que o pegasse, Bruce seria o
responsável por conseguir respostas e depois o fazer sofrer. Foi considerado
como inimigo e merecia a morte por afrontar a máfia.
— Não queremos o seu dinheiro. — Bruce disse baixo e calmo atrás do homem
que tremeu de medo ao ouvir sua voz.
Antes que ele pudesse gritar ou fazer qualquer outro tipo de besteira, Bruce o
acertou na nuca uma coronhada, fazendo-o cair no chão completamente
apagado.
Ele se virou e nas sombras voltou para o seu carro. Mal tinha entrado e ligado o
motor, quando seu celular tocou.
Era Adônis.
— Chefe.
— Relatório — ordenou.
Bruce tentou não hesitar com Adônis na linha, mas como sempre, o homem
estava sempre um passo à frente de todos e já sabia que ele não acompanhava
o novo prisioneiro.
— Indo marcar presença — disse firme. — Vou mostrar a ela que não vai ser tão
fácil assim me ignorar.
— Não vou precisar de muito — disse presunçoso. — Essa noite ainda, terá as
resposta que precisa de nosso prisioneiro.
Bruce não teve nenhuma resposta de Adônis a não ser à chamada encerrada,
era típico dele, desligar sem informar ou se despedir. Não se importava com
formalidades, esse era outro fato que o fez se dar tão bem com Adônis, os dois
tinham os mesmo hábitos.
Dirigiu rápido pelas ruas e mandou uma mensagem liberando Dânio por algumas
horas. Ele logo respondeu mandando sua localização e Bruce sorriu de leve em
saber que Rita estava em um salão de beleza.
Virou na próxima esquina e entrou na rua do salão onde ela estava. Logo
visualizou Josh e sentiu seu corpo rígido ao ver que Ettore estava parado na
frente do garoto. Estacionou o carro bruscamente e não deixou de notar que seu
inimigo ficou tenso.
Saiu depressa e bateu a porta do carro com força, mostrando sua insatisfação.
— Hum... Sim... Eu só vim buscar o chinelo dela... Vou ficar com ela. — Ele disse
por fim ao perceber a intensidade do olhar de Bruce em cima de Ettore.
Josh se virou e andou rápido para dentro do estabelecimento para encontrar sua
mãe, como se pressentisse o perigo.
— Não tenho medo de você, afinal, não estou fazendo nada demais.
Bruce colocou uma mão nas costas mostrando que poderia pegar a arma e sorriu
para Ettore de forma maldosa.
O tom calmo de Bruce assustou seu inimigo e ele ficou satisfeito com a sua
reação.
— Se afaste, antes que eu resolva te levar mais cedo para o chefe — ordenou.
— Não vou precisar de ajuda, sou meu próprio exército se for preciso. — garantiu
Bruce.
Ao ver que Bruce não hesitaria, Ettore deu dois passos para trás.
Ettore endureceu e deu mais alguns passos atrás antes de se sumir nas
sombras.
Bruce ficou ali ainda por um tempo e fez algumas chamadas antes de entrar para
procurar por Rita. Quando se sentiu seguro, tentou relaxar um pouco seu corpo
e caminhou para dentro do salão. Uma bela e sorridente mulher estava na
recepção o observando.
— Claro! Pode entrar e ficar com ela lá dentro enquanto termina as unhas.
Assim que Rita o viu, ela parecia confusa com sua presença e depois relaxou
um pouco. Ele caminhou para dentro do lugar tentando não se constranger com
a quantidade de mulheres falando e se arrumando no local.
— Nada que tenha que se preocupar — respondeu e Rita ficou tensa, mas
entendeu que ali não era local para conversarem sobre aquele assunto.
Eles ficaram em silêncio por um tempo até que a manicure finalizou o serviço.
— Prontinha, Rita.
— Obrigada, Esther, ficou ótimo — disse. — Josh pague a ela, por favor.
Ele desviou a atenção do rosto de Rita para seus pés descalços, onde também
tinha esmalte novo brilhando em suas unhas.
— Eu o liberei por algumas horas. — Bruce informou e voltou a olhar para Rita
que agora parecia irritada.
— Não sei se você já percebeu, mas sou eu quem manda nele abaixo de Adônis
e Apolo. — Bruce respondeu calmo e viu-a ficar ainda mais brava.
Antes que pudesse concluir sua frase, foi surpreendida por Bruce que a levantou
em seus braços.
— O que...
Ele não lhe deu ouvidos, carregou-a para fora ignorando todos os seus protestos.
Josh riu com a situação e parou quando sua mãe o olhou brava.
— Como sua mãe está mal-humorada — disse a Josh que ficou tentado a
concordar, mas não ousaria desafiar a mãe.
Ela abriu a porta resmungando e bateu depois que entrou, fazendo Josh rir alto
e Bruce sorrir com a situação.
— Josh?
— Diga, Bruce.
— Não sei bem, disse que encontrou com minha mãe e ela contou que acabou
se machucando em uma viagem de trabalho. — Josh respondeu.
Bruce acenou com a cabeça concordando e Rita ficou ainda mais rígida em seu
acento. O celular dele começou a tocar e Bruce pediu para que Rita o encaixasse
no Bluetooth do carro.
— Bom.
— Algo mais?
— Tenha certeza de que vai ficar tudo bem. — instruiu. — Estarei ocupado por
um tempo, mas nada me impede de ir aí se for preciso.
— Bom.
— Seu trabalho parece ser legal. — Josh disse conseguindo a atenção de Bruce.
— Ele é.
Bruce disse para que Rita relaxasse um pouco, ela estava visivelmente tensa
por causa do assunto e ele não podia recriminá-la por isto. Desde que entraram
no carro não estavam tendo um bom momento.
Assim que estacionou o carro, Bruce pediu para falar com Rita por um momento
e o garoto concordou saindo do carro para dar a eles a privacidade que
precisavam.
— Eu não falei com ele. — Rita disse nervosa assim que Josh fechou a porta.
— Sei cada passo que dá Rita, você não falou com ele — confirmou.
— Ainda não sei, mas tenho a sensação de que vou descobrir muito em breve.
— Ele está te usando para desviar nossa atenção de outros assuntos. — Bruce
esclareceu.
— Não entendo porque ele demorou tanto para aparecer depois do acidente. —
Rita disse.
— Ele estava sendo cuidadoso, deve acreditar que não estamos prestando muita
atenção. — Bruce respondeu.
— Provavelmente — assegurou.
— Estou por perto, Rita, não vou permitir que ele te machuque.
— Confiança abalada? Per l’amor di Dio! Você me deixou voltar para aquele
carro e eu não morri por muito pouco.
— Calma.
— Rita...
Ela abriu a porta do carro e ele foi rápido em segurar seu braço para impedi-la
de sair.
— Solte-me.
— Não vamos falar sobre isto agora, mas vamos conversar em algum momento.
Você não tem para onde correr Rita — disse baixo. — Onde quer que tente ir,
para longe de mim, eu vou atrás de você. Não há alternativas.
Bruce disse baixo e calmo, mas foi tão ameaçador quanto poderia. Soltou Rita e
deixou que saísse do carro. Observou ela entrando em casa e ele ficou ali fora
de guarda por um tempo, até que Dânio voltou.
Seguiu direto para o galpão para tirar as respostas que precisava de seu
prisioneiro. Adônis teria suas perguntas respondidas ao amanhecer, disto Bruce
tinha certeza.
CAPÍTULO QUATORZE
Rita suspirou ao ver o carro de Bruce se afastar, ele não a deixaria em paz. Essa
era sua única certeza sobre o comportamento dele. Quando se tratava de Bruce,
ela nunca sabia o que fazer. Deveria ficar o mais longe possível dele, depois de
tudo que sofreu em suas mãos.
Ela ainda podia sentir os lábios exigentes dele sobre os seus. Mesmo com toda
a brutalidade e violência que ele ostentava, Bruce tinha um jeito surpreendente
de beijá-la. Rita se repreendeu por desejar mais dele. Em sua opinião, mesmo
com todos seus atrativos, Bruce não merecia nada dela.
Colocá-la debaixo da água fria por horas e lhe dar choques não era coisa de
perdoar.
Queria ter uma boa noite de sono, mas não conseguiu. Cada vez que fechava
os olhos lembrava-se das palavras de Bruce no elevador.
“Eu não a quero morta, me joguei naquele rio e a tirei do carro para te salvar,
porque o mundo não seria o mesmo para mim se tivesse que te enterrar.”
Sua mente fez questão de deixá-la ainda mais confusa do que antes, memórias
diferentes passavam por sua mente e a primeira delas foi quando ele caminhou
em sua direção, furioso, estavam na sala de Adônis e parecia que ele queria
matá-la com as próprias mãos. Era uma cena que nunca poderia se esquecer, a
raiva no rosto dele a fez tremer dos pés à cabeça naquele dia. Hoje ela sabia
que não podia culpá-lo por sua fúria, afinal quase tinha morrido, assim como
Giulia, naquele dia em que ela demorou a passar o telefone para o chefe.
Nunca sequer passou por sua cabeça que eles estavam em uma perseguição.
Ela se arrepiou pensando que a morte deles poderia ser sua culpa.
Outra lembrança veio em sua mente, quando Bruce a beijou pela primeira vez.
Ela ficou em choque pelo resto do dia sem poder esquecer-se de como sua boca
exigia a dela. Entretanto, não podia esconder o fato de que ele se afastou ainda
mais dela depois daquele dia. Não permitia nenhum tipo de aproximação e aquilo
a magoou. Talvez agora entenda um pouco seus motivos, já que atrás de toda
aquela fachada de empresa existe uma grande organização criminosa, que atrai
muitos perigos, onde ela nunca imaginou que existisse.
Quando enfim amanheceu, Rita se sentiu quase que aliviada, tirando o fato de
que não conseguiu descansar durante a noite. Arrumou-se e como sempre,
estava atrasada.
Pegou seu casaco e o lanche de Josh, correu pela casa em busca de sua bolsa
e gritou pelo filho.
— Joshua, desça agora ou vai lavar a louça por um mês inteiro — ameaçou.
— Eu sei, de novo.
Ele acenou concordando e guardou seu lanche na mochila. Saíram pela porta e
Rita a trancou.
Ela disse e virou-se para olhar o carro, mas se calou quando não viu Dânio, e
sim Bruce. Ele estava encostado no carro com os braços cruzados no peito
fazendo com que todo o tecido de seu caro terno preto se esticasse em seus
músculos.
— E aí, Bruce!
Seu filho levantou a mão e eles bateram suas palmas, uma na outra, como se
conhecessem por anos. Rita estava chocada com a facilidade de que seu filho
tinha para fazer amizades, nunca imaginou que Bruce aceitaria um cumprimento
tão adolescente como aquele.
— Vamos logo antes que o chefe da mamãe arranque seus órgãos por estar
atrasada — brincou e entrou no carro quando Bruce abriu a porta.
— Algo que ele realmente faria. — Bruce afirmou em tom de brincadeira mesmo
sabendo que era uma verdade quase que crua.
Josh sorriu e Bruce fechou a porta voltando sua atenção para Rita.
— Ocupado.
— Mandei que ele fizesse algo para mim. — Bruce afirmou e sorriu de leve
ajudando aumentar a irritação de Rita.
— Você está tentando fazer com que eu aceite sua presença — afirmou baixo.
Rita queria bater em Bruce por sua presunção, bater talvez até a morte. Sua
resposta só fez com que ela se sentisse frustrada e com raiva de sua insistência.
— Ei, vocês aí, vamos logo ou eu vou para a sala do diretor. — Josh gritou de
dentro do carro.
Bruce deu um passo ao lado e ela passou quase que soltando fogo, entrou no
carro e fechou a porta deixando-o do lado de fora. Ele não se importou, deu a
volta no carro e entrou.
No caminho para a escola, Josh contou para Bruce sobre o seu primeiro jogo.
Sem conter sua animação ele o convidou para ir assistir, fazendo com que sua
mãe fizesse uma careta desaprovando, mas não disse nada.
— Bom dia, Rita. — Adônis falou e Pietro somente acenou com a cabeça.
— Bruce, ainda não recebi seu relatório. — Adônis disse baixo ao seu segurança.
— O enviei há alguns minutos. — Bruce disse ao seu lado sem olhar para o rosto
do chefe.
— Sim.
— Bom — resmungou.
Rita obrigou seu corpo a ficar relaxado, de alguma forma estranha ela tinha a
sensação de que Adônis estava a testando com aquela conversa enigmática. Ela
fingiu não se importar, mesmo que ficou curiosa para saber o que Bruce fez a
noite. Demorou um segundo para voltar atrás em sua curiosidade, não queria
mais saber o que ele tinha feito. Na verdade, sentiu até um pouco de medo de
que tivesse uma resposta, se manteve quieta e forçou-se a parecer indiferente
aquela conversa.
Saíram do elevador juntos, ela foi para sua mesa e os três homens entraram na
sala do chefe.
...
— Não seja tão má com ele — disse e sorriu largamente para ela.
— Pietro pare.
Ela pediu voltando sua atenção para o relatório que estava preparando.
— Ele gosta de você — afirmou.
— Não sei o que significa leve para você, devemos ter definições diferentes
sobre essa palavra — disse e o olhou.
Viu Pietro ficar tenso por um instante e um sorriso malvado sair de seus lábios.
— Banho frio e pequenos choques são leves para mim. — Pietro afirmou.
Rita ficou rígida ao ver que ele também sabia o que tinha passado.
Ela ficou em silêncio e tentou ignorá-lo, mas Pietro não estava disposto a se
calar tão rápido.
Aquilo chamou sua atenção, ela o olhou novamente e desta vez com curiosidade.
— Outro homem teria feito muito pior — garantiu. — Dedos quebrados, unhas
arrancadas, queimaduras com cigarros ou charuto, afogamentos, entre outras
coisas.
— Não seja tão dura com ele — disse e pensou. — Talvez só um pouco já que
ele tem um mau humor do cão, mas Bruce aceitou o trabalho só para que você
não sofresse tanto, mesmo que o odiasse pelo resto da vida.
Ela desviou o olhar sem saber o que dizer e para seu alívio, desta vez Pietro
acabou se calando. Concentração foi uma coisa difícil depois das coisas que
ouviu. Não conseguia aceitar a facilidade em que Pietro relatou algumas das
coisas que ela poderia ter sofrido em cativeiro, caso fosse outro homem no lugar
de Bruce.
Suas mãos tremiam enquanto tentava digitar, precisou respirar com calma
diversas vezes em busca da frieza que precisava.
Em um momento ela viu Pietro tenso e ele mudou de posição, saiu da pequena
sala e fez guarda na porta de Adônis. Murmurou algo em seu ponto eletrônico e
ela não conseguiu entender.
— Boa tarde, tem horário marcado? — Ela perguntou firme, mesmo sabendo
que não tinha.
— Se não tem horário marcado, então, o que faz aqui, senhor Gonçalo? — Ela
perguntou firme.
O detetive pareceu que não ouviu o que ela disse, voltou sua atenção para Pietro
e disse:
— Ele está nesta sala? Se sim, saia da frente ou eu vou tirá-lo daí.
Rita se sentiu extremamente brava, deu dois passos e ficou na frente de Pietro
encarando o detetive.
— Eu realmente não sei e nem quero saber o motivo de sua visita, detetive, mas
creio que pelo menos um pouco de educação o senhor deve ter.
— Olhe aqui, moça, não estou aqui para falar com você.
— Mas vai falar, desde que não está sendo educado em um local que não o
pertence.
— Não a ameace.
— Já disse que vim até aqui para falar com o senhor Adônis Albertini.
O homem não pareceu intimidado com Bruce, mas o policial que o acompanhava
estava pronto para sair correndo. Pietro deu um passo ao lado e uma grande
figura passou por Rita.
— Não me importo com educação, não vou deixar que atrapalhe minha
investigação.
— Se não falar baixo e com educação comigo, sou eu que não vou me importar
com os bons modos. — Adônis disse assustadoramente calmo.
— Não sou um homem de ameaças, diga logo o que veio fazer aqui antes que
eu perca minha paciência.
Rita estava quase sem fôlego ao ver o homem cruel que ele era quando preciso.
Em todos os anos trabalhando ali, nunca o viu olhar uma pessoa daquela forma.
Sem contar que seu tom de voz fez arrepios horríveis passar por sua espinha.
Alguém tocou seu ombro de leve e ela viu Bruce a olhando, entendeu que ele
queria que ela se afastasse e foi o que fez. Caminhou de volta para sua mesa e
em choque assistiu à cena na sua frente.
— Fontes?
— E o senhor acha que eu fui o responsável por isto. — Adônis afirmou calmo.
— E? — questionou.
— Se der mais um passo à frente, aceitarei como uma ameaça. — Bruce disse
baixo.
Bruce o observou de perto, seus olhos desceram para as mãos dele que tremiam
levemente. Voltou a olhar o rosto do detetive Gonçalo sem perder nenhum
detalhe.
— O que... como...
Sabia que Bruce era o chefe da segurança e que proteger Adônis era sua
prioridade, mas nunca tinha visto algo assim acontecer. Um olhar para Bruce e
ela viu que ele estava pronto para dar sua vida pela a do chefe, assim como
Pietro.
Desviou o olhar para Adônis e percebeu que ele estava completamente relaxado,
apesar de todo o conflito. Era como se não se importasse com o rumo daquela
história. Não se sentia ameaçado.
— Toda essa conversa já me cansou, detetive. Diga logo o que quer, pois eu
realmente tenho mais o que fazer. — Adônis foi claro em mostrar que não daria
a ele mais tempo do que estava disposto.
Adônis o olhou por um segundo e seu olhar dizia mais do que as pessoas ao
redor saberiam. Quando encarou o detetive novamente, Adônis, tinha uma
expressão sombria no rosto.
— Vem até minha empresa sem ser convidado — disse a Gonçalo. — Ameaça
minha secretária, acusa-me de coisas que não tem provas, teve a ousadia de
me enfrentar em meu próprio lugar e agora quer vascular meu computador sem
um mandado judicial.
— Uau. — Apolo disse fazendo certo drama e sorriu quando Adônis o olhou feio.
— Quê? Parece que estava mais divertido antes da minha chegada.
— Sinta-se à vontade para dar uma olhadinha no meu notebook, afinal, não
queremos que você perca sua visita ou precise voltar depois.
— Não... Sinto muito pelo inconveniente. — disse e pareceu contrariado por não
achar respostas que queria.
— Aceite isto como cortesia, pois da próxima vez não vai conseguir entrar aqui
sem uma ordem judicial. — Adônis agora tinha um tom de voz duro e quase que
impaciente.
— Relatório no final do dia, siga cada passo dele e descubra tudo sobre essa
merda de investigação — disse mostrando a Rita que não estava surpreso. —
Quero saber até com quantas pessoas ele falou no dia, faça esse idiota ser útil
para mim — ordenou e entrou em sua sala sem olhar para trás.
— Sim.
Fúria fluía em suas veias pela frieza de Rita. Gostaria de ter mais tempo com
ela, talvez conseguisse logo reverter toda situação.
Entretanto, agora outra coisa tinha se tornado sua prioridade. Precisa descobrir
tudo sobre a vida do detetive, ameaçar Rita foi o maior erro do homem.
A voz de Bruce chegou aos ouvidos de Rita, ela estava concentrada no e-mail
que escrevia e não percebeu sua presença. Algo que não a surpreendia, os
seguranças do prédio sempre andavam sem fazer um único barulho. Bruce
superava todos, parece um animal sorrateiro quando caminhava.
Rita finalizou o que estava fazendo, arrumou sua mesa, se levantou e pegou sua
bolsa. Ao lado de Bruce caminhou para o elevador. Rita respirou fundo e
devagar, tentando ignorar a tensão. As portas se fecharam prendendo-os no
pequeno espaço. Sem conter sua curiosidade, ela resolveu ceder um pouquinho
e conversar com Bruce.
Bruce a olhou sem demostrar nenhum tipo de oscilação em surpresa por sua
pergunta. Acenou com a cabeça confirmando e quebrou o olhar.
Ela revirou os olhos para ele por ser evasivo sobre sua história.
Bruce pensou por alguns segundos, não gostava de falar de sua vida. No
entanto, se isto despertasse o interesse de Rita, estava disposto a contar sua
história.
— Continue.
— Eles tiveram um romance de uma noite e minha mãe ficou grávida — explicou
em um tom baixo. — Ela voltou para Inglaterra e para o noivo que tinha em
Londres. E meu pai continuou sua vida de criminoso, na Itália.
— Sua mãe se casou com o noivo inglês? — questionou curiosa.
— Sim, e ele não ficou muito feliz em descobrir a traição dela — resmungou. —
Mas ele não queria que o chamassem de corno por aí, se casou com ela e
assumiu o filho que não era dele.
— Não, me tratava mal por ser um bastardo — disse. — Culpava-me por minha
mãe nunca mais ter engravidado. Porém, preferia viver assim a ter uma má
reputação, por causa de infidelidade de sua mulher.
— Ele me disse que uma vez estava em Londres a trabalho e a viu comigo. Ficou
possesso por não ter sido informado de minha existência e investigou mais a
fundo — contou sério. — Nesta época, eu já tinha quase que dezoito anos,
estava pronto para minha primeira missão no exército.
— Como conseguiu se alistar já que não era filho legítimo de britânicos? — Ela
perguntou curiosa.
— Não foi tão fácil assim — disse. — Meu pai permitiu que eu fosse para o
exército britânico, com o argumento que ficaria mais resistente e duro vendo a
guerra de perto. — Sua voz ficou amarga. — Lembro como se fosse ontem
quando ele me disse para ir, mas que não deveria me encher de honestidade, já
que assim que terminasse minha missão ele estaria esperando por mim na Itália
— balançou a cabeça em desaprovação. — Depois de dois anos no inferno que
eles chamam de guerra, enfim, estava voltando para casa. Não queria voltar para
minha casa, quero dizer, para casa da minha mãe — corrigiu. — Ela morreu
quando eu estava fora, então, não tinha razão para voltar a Londres.
— Morreu?
— Sim, eu o matei.
— Ele aproveitou que eu estava preso no exército para se livrar de minha mãe
— rosnou baixo. — Descobri isto anos depois, o imbecil queria a herança que
ela tinha recebido naquela época — explicou. — Quando descobri já estava há
alguns anos na máfia, fui até ele e acertei nossas contas.
— Meu pai me enviou uma boa quantia de dinheiro junto com uma passagem
aérea para que eu viesse imediatamente para a Itália, mas fui para outro lugar
— contou. — Fugi dele por quase seis meses em minha ingenuidade.
— E ele te encontrou?
— Sim.
— Ele me bateu.
— Sim, me espancou por dias para que aprendesse a não fazê-lo de bobo —
deu uma baixa risada amarga. — Quando se nega a máfia, a pena é a morte. E
meu pai jamais aceitaria uma desonra desta. Ele me caçou a cada canto
possível, até que me encontrou. — Ele segurou um suspiro. — Quando me
recuperei de sua surra, fui apresentado a Omero Albertini, o chefe daquela
época. Ele sabia que eu tinha fugido, mesmo que meu pai não tenha dito nada,
algo que aprendi rápido sobre os chefes — disse. — Era para Omero ter me
matado naquele dia, mas um Albertini nunca descarta o que pode ser útil.
— Mérito — afirmou. — Conquistei meu lugar, mas devo isto ao meu pai. Ele
nunca me deixou relaxar, me treinou duramente. Assim como Adônis e Apolo,
eu e Malone enfrentamos um inferno sendo treinados quase que no mesmo nível
dos herdeiros — explicou. — Um dia houve uma invasão onde morreu o chefe
da máfia e meu pai, que era seu principal segurança. Adônis tomou posse e me
colocou ao seu lado.
— Eu nasci para ela, Rita. No começo não aceitei muito bem, mas me adaptei
rápido — deu de ombros. — Ou me acostumava, ou morria sendo considerado
um traidor e fraco.
— Oi, gente.
— Que cansaço é esse filho? — Rita questionou virando em seu banco para
olhá-lo. — Por que não tomou banho no vestiário?
— Isto é cheiro de homem, mãe. — Josh brincou sabendo que estava com mau
cheiro, por causa do suor.
Rita não segurou a gargalhada. Riu tanto que pequenas lágrimas escorreram
dos cantos de seus olhos.
Bruce não pode rir, ele estava encantado demais pelo som que ouvia sair dos
lábios dela.
— O que você não sabe é que vou comprar uma agora, não é mesmo, Bruce?
— questionou.
Rita e Josh riram juntos trazendo uma sensação de paz para Bruce. Ele jamais
saberia explicar porque se sentiu assim, mas daria até sua última moeda para
que se sentir assim novamente.
— O treinador pegou pesado hoje, queria ter tomado banho. — Josh resmungou
depois de um tempo.
Eles foram para casa ouvindo Josh contar sobre seu treino de futebol. Quando
Bruce estacionou na frente da casa de Rita, o garoto foi o primeiro a descer
depois de se despedir. Rita agarrou sua bolsa e segurou a porta mostrando que
também não iria demorar.
— Não...
Rita o interrompeu.
Bruce se conteve para não segurá-la quando uma pitada de fragilidade brilhou
em seus olhos castanhos.
— Sim?
Rita não desviou seus olhos dos dele, não perdendo a sinceridade que brilhavam
neles.
Bruce se virou mais em seu banco, ficando totalmente de frente para Rita.
— Entenda uma coisa, Rita, quando se trai a máfia, se paga com a morte —
disse firme. — Não tenho uma família para proteger, então, não me importaria
em morrer para que você ficasse viva.
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Rita e Bruce se apressou para limpá-la.
— Bruce...
O celular dele vibrou e Rita acenou que deveria atender. Bruce pegou o aparelho,
leu a mensagem que recebeu e depois esfregou o próprio rosto com as duas
mãos agora parecendo visivelmente cansado.
— Estou bem...
Ela abriu a porta do carro e tentou sair, mas ele segurou seu braço. Rita voltou
seu olhar para Bruce um pouco confusa com a sua atitude. Não se surpreendeu
quando ele se inclinou sobre ela e beijou seus lábios de leve.
A sensação dos seus lábios eram sempre as melhores. A encantava com sua
suavidade.
O beijo foi delicado e rápido. Rita não lutou contra ele, não podia. Seu coração
não permitia. E quando ele se afastou seus olhos cinzentos brilharam em
intensidade.
— Vou te mostrar que está muito errada sobre isto, em breve — prometeu. —
Muito em breve.
— Você não deveria ser tão presunçoso. — Rita disse e desceu do carro.
Rita caminhou para dentro da sua casa sentindo-se um pouco mais leve em seus
sentimentos confusos, apesar de seu corpo estar cansado. Seu dia tinha sido
tumultuado. Estava exausta, tanto emocionalmente, quanto fisicamente.
Uma noite mal dormida, discussão com Bruce pela manhã, a conversa do
elevador, as revelações de Pietro, a briga do detetive, a história de vida do ex-
franco atirador britânico que agora é um homem da máfia.
As confissões no carro.
“Não tenho uma família para proteger, então, não me importaria em morrer para
que você ficasse viva.”
As palavras de Bruce ainda estavam vivas em sua mente, assim como a
sinceridade de seu olhar.
Não sabia mais o que pensar a respeito do homem que conheceu depois do
sequestro. Imaginar que ela poderia ter sentido a dor de ter os dedos quebrados
ou o sofrimento das unhas arrancadas fez Rita estremecer.
Se poderia ser pior, então, ele realmente pegou muito leve comigo. Pensou
assumindo que poderia ter sido pior caso outro homem estivesse no lugar de
Bruce.
Abriu os olhos e viu que ele estava sentado no sofá a sua frente, já de banho
tomado.
Sentou-se reta.
— Não sou cego, mama — disse e agora sorriu. — Também gosto dele, não me
importaria se namorasse Bruce.
— Você o olha feio quando pensa que não estou vendo e ele percebe, mas não
se importa. Você sempre briga com ele, mas é visível que confia nele, de um
jeito estranho, mas confia. Eu não perdi que você fica aliviada quando ele está
por perto e acaba afastando Ettore — disse e deu de ombros.
— Hm...
— Desde sempre eu te vejo apagada e sei que é por causa do meu pai — disse
deixando-a sem palavras. — Mas Bruce te faz reagir e brilhar, mesmo que seja
de raiva — brincou.
— Deve dizer isto a ele. — Josh zombou e correu para longe da mãe, quando
ela começou a jogar almofadas em cima dele.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Bruce estava dirigindo a caminho de uma construção, levando Rita com ele. Ela
avaliaria a etapa final dos acabamentos em um cassino que Adônis e Apolo
estavam construindo. Era um lugar para chamar atenção dos policiais, por ser
afastado e ser um cassino, mas também era um local de distração. Quanto mais
as autoridades focassem sua atenção ali, mais brechas teriam para os negócios
ilegais da máfia em outros lugares.
Era uma missão simples que não duraria mais do que uma hora, mas Bruce não
estava tão confiante assim. Aquele sexto sentido de militar que ele tinha em suas
veias nunca falhava, o que estava deixando-o apreensivo. Não queria colocá-la
em perigo e isto o angustiava como nunca antes.
— Nenhum — garantiu.
Rita levantou o olhar e deu uma olhada no retrovisor do seu lado, observando o
carro de escolta que os seguia e nenhum outro vinha atrás. Deu de ombros e
voltou sua atenção para o notebook. Rita sabia que Bruce era quase paranoico
no quesito segurança, já que era o seu trabalho.
— Bruce, não é a primeira vez que eu venho fazer uma inspeção aqui. — Rita
garantiu.
Sentia-se levemente impaciente com a preocupação dele.
— Mas...
Ela o olhou com impaciência, era a primeira vez que o via tão protetor. Em sua
mente não via nenhum perigo e acreditava ser exagero da parte dele.
— Deixa de ser chato. — Ela o repreendeu. — Vamos logo que Allesio já está
nos aguardando.
Bruce segurou o seu braço de leve, obrigando que ela o olhasse nos olhos.
— Espero que não — disse. — Fique no carro por mais alguns minutos.
— Não, mas não estou com uma boa sensação — informou. — Deixe dois
homens escondidos e mande um ficar de sentinela — ordenou. — Traga nosso
franco, ele tem quatro minutos para chegar aqui.
— Algo mais?
— Você e o homem que sobrou entram comigo, fiquem longe das janelas e tome
cuidado com cada andar em que passarmos — instruiu. — Tenha sempre uma
parede de escudo, como no treinamento, e coloque o colete a prova de balas.
Não deixe sua cabeça a prêmio, esteja em alerta.
— Algo não me cheira bem — disse e esfregou a nuca. — Chame uma equipe
de apoio e deixe outra pronta para emergências.
Desabotoou a camisa tão rápido que Rita quase não conseguiu acompanhar o
movimento de seus dedos. Ele puxou a camisa por seus ombros e deixou-a
embolada nas costas do acento, enquanto esticava-se para pegar o colete a
prova de balas que ficava debaixo do banco detrás.
Rita ficou sem ar com o corpo musculoso de Bruce exposto e tão próximo dela.
Não sabia qual reação ter, mas queria muito poder tocar na sua pele e sentir o
seu calor. Contudo, seus pensamentos foram cortados por perceber a tensão
que ele tinha nos ombros. Ainda achava que fosse exagero dele, mas sabia que
não iria ganhar esta briga.
Viu-o passar o colete preto pela cabeça e prender sobre o corpo com agilidade.
Depois puxou a camisa social preta sobre os ombros e abotoou com a mesma
rapidez com que desabotoou. Colocou o terno e a gravata em segundos,
deixando Rita boquiaberta com sua eficiência em ser rápido.
— Guarde esses na sua bolsa para mim — pediu entregando ela três recargas.
Ela bufou inconformada, porém, fez o que ele pediu, ou melhor, mandou.
Colocou os cartuchos na bolsa, na tentativa de fazê-lo permitir que saísse logo
do carro.
— Não se esqueça, Rita, fique ao meu lado o tempo todo e caso precise, nas
minhas costas — relembrou.
Bruce murmurou algo em seu ponto eletrônico antes de saírem do carro. Rita viu
Dânio e outro homem os seguindo, fazendo-a querer revirar os olhos.
Caminharam juntos para dentro do prédio com Bruce colado nas costas dela.
— Alessio, você marcou essa inspeção sabendo que não é assim que as coisas
funcionam. — Rita disse.
— Não há desculpas para isto, sabe que o senhor Albertini não irá aprovar a
próxima etapa. — Rita foi firme e o homem suspirou.
Antes que ele terminasse de falar, Bruce já tinha partido para cima do homem.
O prendeu na parede e colocou a arma na sua têmpora.
— O ... que... o que está fazendo? — gaguejou. — Rita... Tire esse homem de
cima de mim...
Rita tremeu.
Só tinha o ouvido gritar quando estava presa no cativeiro e ele estava sob muita
pressão querendo respostas dela. Bruce esticou a mão que prendia o homem e
arrancou a câmera de segurança com facilidade da parede.
— Trave o elevador agora, faça isto, confie em mim — disse baixo e sem desviar
os olhos dos de Alessio.
Rita se mexeu e travou o elevador confiando que Bruce tivesse certeza que algo
estava errado. Ela considerou isto, já que não visitava um local sem que a etapa
da construção estivesse pronta.
— Não.o sei do que está falando... trabalho para o senhor Adônis Albertini...
— Não vou perguntar mais uma vez — ameaçou. — Se não falar o que eu quero
ouvir, vou te dar um tiro.
— Bruce, tem certeza que ele sabe de alguma coisa? — Rita questionou tensa.
— Um.
— Dois.
— Bruce.
— Rita, fique calma, por favor, sem pânico — pediu. — Vou te tirar daqui, mas
tem que confiar em mim.
— Faça agora o que mandei! — exigiu. — Cada vez que eu repetir algo para
você, vou te dar um tiro em um lugar diferente.
O homem ficou pálido, quase transparente, mas começou a se mover para fazer
o que Bruce ordenou.
Bruce olhou o relógio para ter certeza que ele tinha chegado no tempo
estipulado.
Bruce sabia que ele estava rindo animado em querer atirar em alguns inimigos.
— Ainda no elevador, parei no terceiro andar, mas vou sair dele em outro andar.
— Bruce informou.
— Não faça nenhuma besteira — disse. — Talvez quando essa merda acabar
você consiga ficar vivo e com a sua família, mas não me teste, Alessio.
Ele acenou com a cabeça concordando sem esconder o medo de seus olhos.
— Quem estiver nos esperando do lado de fora sabe que estamos travados no
elevador — explicou. — Vamos sair pela saída de emergência e ter alguma
vantagem.
— Tem certeza que alguém estaria nos esperando do lado de fora? — perguntou
insistindo de que aquilo não poderia ser verdade.
— E você acha que Adônis aceitaria um processo pela metade? — Bruce ergueu
uma sobrancelha para ela. — Que alguém mandaria Alessio pedir a inspeção de
etapas sem concluir só para te trazer aqui à toa?
Rita queria entrar em pânico, na verdade, ela estava pronta para isto, mas sabia
que não era o momento para choros e lamentações.
— Sim.
— Não vamos falar sobre isto, Rita, não agora pelo menos — disse. — Eu vou
te levantar e você sai primeiro. Tudo bem?
— Não.
Ela colocou a alça da bolsa atravessada em seu pescoço, para que não caísse
de seu ombro, e deixou Bruce segurar sua cintura.
— Eu vou te tirar daqui, Rita, e vou te levar para casa, para o Josh.
— Para o Josh — disse determinada.
— Com força bruta — murmurou aliviado em ver que ela travou o elevador
próximo da porta, assim não precisaria escalar o poço.
Colocou as duas mãos no meio e usou toda força que tinha para abrir. No
entanto, a porta não abriu na primeira tentativa. Ficou surpreso quando Rita
passou por baixo de seus braços, se equilibrando em seus sapatos, e ficou na
frente dele.
— Assim que abrir você se abaixa — instruiu. — Não quero correr o risco de ter
alguém atirando em você.
— Tudo bem.
Os dois juntos fizeram forças para abrir as portas, não foi uma tarefa fácil. Rita
ficou ofegante na terceira tentativa, mas enfim conseguiu que a porta se abrisse.
Bruce saiu primeiro segurando sua arma, garantindo que não tinha ninguém no
andar. Depois a puxou para fora do poço do elevador. Deram alguns passos à
frente.
Ele atirou de volta e ela quase ficou congelada ao ver as balas se chocando
contra a parede do fundo. Eles estavam protegidos por uma única pilastra. Bruce
falava algo em seu ponto eletrônico e ela não conseguia prestar atenção no que
ele dizia. Seus olhos estavam arregalados e a respiração ofegante.
— Fique aqui — ordenou. — Somente se mova se ver algo vindo em sua direção.
— Não, Bruce...
Jogou o corpo no chão e se escondeu atrás de uma parede, balas batiam contra
a quina dela. Esperou o momento em que o inimigo precisou recarregar e voltou
a avançar.
Atirou em mais dois no caminho e bateu com o punho no quarto quando sua
arma mascou vazia. Foi rápido e certeiro. Em um segundo já tinha trocado o
cartucho da arma e atirado no homem. Um barulho atrás o fez virar rápido. Viu
o exato momento em que um homem caiu para frente depois que uma bala
atravessou seu crânio, depois de quebrar o vidro.
— Tenho suas costas, Bruce. — Roy disse no ponto e riu. — Contabilizei um.
— Quatro.
— Você não sabe brincar, Bruce, seus números são sempre maiores. — Roy
protestou.
Bruce ignorou as vozes em seu ouvido, dos homens conversando, e foi até Rita.
Ainda estava na mesma pilastra e parecia aterrorizada.
— Não olhe para o chão, mantenha os olhos entre as paredes e o gesso do teto
— disse assim que avistou os corpos.
— Eles teriam feito o mesmo conosco — afirmou. — Respire pela boca e não
olhe.
Ela sabia que ele estava certo, mas se acostumar com tamanha brutalidade não
era algo fácil. Rita gemeu quando pisou em algo morno, sabia que era sangue,
mas não abaixou seus olhos. Fez o que Bruce disse, manteve o olhar no alto e
ignorou qualquer coisa que sua visão periférica pegasse.
Ele a puxou por todo o local. Rita odiou como aquele prédio era grande, somente
tornava a saída deles mais difícil. Sempre andando com cuidado, se escondendo
atrás de pilastras e paredes. Garantindo que não fossem pegos de surpresa.
— Não estou falando com você, querida — resmungou irritado. — Esses idiotas
que ficam fofocando no ponto eletrônico, numa situação de merda como essa.
Pararam perto da porta de emergência e Bruce abriu devagar, apontou sua arma
cegamente para dentro e entrou.
Ela caminhou para dentro e os dois começaram a descer as escadas. Rita o viu
apertar seu ponto de ouvido e imaginou que os seguranças continuavam a falar.
— Estou sem fôlego, corremos aquele andar inteiro e agora escadas... Santo
Deus... Eu vou ter um ataque cardíaco a qualquer momento.
Antes que Bruce abrisse a porta, ela foi aberta por um homem e atrás dele tinha
mais três. Atirou no primeiro e forçou o ombro de Rita para baixo, para que ela
se agachasse. Estava muito perto e poderia ser baleada. O segundo homem fez
menção de atirar, Bruce foi mais rápido. Atirou no braço do cara, que deixou sua
arma cair, deu dois passos à frente para lutar.
Bruce atirou no peito do inimigo, duas vezes. Não tinha tempo para lutar e o
jogou para baixo nas escadas, onde acabou vendo que vinham mais três em sua
direção. Bruce pensou rápido e antes de ser atingido pelo terceiro homem, atirou
uma vez, mas errou quando um punho veio para cima dele. Desviou e acabou
entrando em uma luta corporal.
Rita arregalou os olhos vendo Bruce lutar com dois homens de uma única vez.
Não era uma luta justa, mas o homem da máfia não perdia um único soco. Jogou
o homem pela escada e o barulho oco dele batendo foi horrível.
Um soco forte atingiu o rosto do outro homem e ele deu dois passos para trás
com o impacto. Bruce o olhou com frieza e o atingiu com três tiros no peito,
fazendo-o se desequilibrar e cair para trás na escada com seu corpo morto.
— Estão vindo de baixo, vamos entrar no andar. Bruce disse puxando-a para
cima.
Balas estouravam a cima deles. Rita firmou as pernas e deixou os sapatos para
trás. Precisava correr mais rápido e segurar coisas que estava atrapalhando.
— Pegue-os.
Bruce ordenou e ela não entendeu nada, tentou protestar, mas ele se abaixou
rápido e pegou os sapatos.
Bruce usou os saltos do sapato para travar a porta e depois voltou sua atenção
para Rita quando a ouviu gemer frustrada.
Iria deixá-los para trás com o coração apertado, porém, ver Bruce praticamente
destruindo seus saltos doeu. Ele ignorou seu protesto, não se importou com
quanto custou o sapato. Pegou sua mão e correram pelo andar.
Bruce se calou no momento em que viu mais homens vindo em sua direção.
Puxou Rita para baixo e agachados se protegeram atrás do balcão de um bar
daquele andar. Ela iria fazer alguma pergunta e Bruce a calou, colocando sua
mão sobre boca dela, impedindo que fizesse barulho.
Ele a liberou.
Rita se segurou para não puxar o ar com força. Respirou devagar recuperando
o fôlego. Sentiu todo seu corpo tenso quando ouviu a conversa dos homens que
queriam matá-los.
— Eles estão aqui, travaram a porta da escada.
— O cara é bom, matou todos que estavam em cima — disse. — Que porra!
Um tiro soou.
— Estamos enfrentando alguns no terceiro andar e não vai demorar para nossa
munição acabar, inferno. — Dânio informou ofegante.
Bruce respirou fundo e agachado puxou Rita para ficar mais no canto do bar.
— Vou atirar neles, minha munição também vai acabar em algum momento e eu
preciso economizá-las...
— Bruce — choramingou.
— Acha que tinha mais homens nos andares acima? — Ela perguntou em um
sussurro.
— Sim — disse baixo e calmo. — Vieram preparados para pegar você ou eu,
não sei bem, Ettore sabe que não seria tão fácil nos enfrentar. Por isto, mandou
tanto homens.
Viu-o atirar duas vezes e pular por cima do bar, com tamanha agilidade que ela
nunca imaginou que fosse possível para um homem do tamanho dele, saindo do
esconderijo deles. Rita ficou em pânico, com medo de que ele morresse ou fosse
gravemente ferido. Ela se ajoelhou e espiou por cima da bancada. Viu que ele
continuava a caminhar e atirar em pontos certos. Por onde passava deixava um
corpo caído para trás mostrando que não errava um alvo.
Ela o viu jogar a arma no chão e começar uma luta corpo a corpo com os homens
que pareciam cada vez se multiplicarem mais. Ele apanhou e levou alguns
socos, mas batia como se fosse uma máquina de morte que estava pronta para
assassinar qualquer um que se levantasse ao seu redor.
Rita arfou quando sua atenção voltou para um homem se aproximando dela. Se
abaixou com o coração batendo mais forte do que achava possível. Agindo com
a adrenalina, enfiou a mão dentro da bolsa descartada no chão e em tempo
recorde achou duas canetas dentro dela. As únicas armas que tinha no
momento.
Arfou quando algo grande passou por cima do balcão e caiu agachado na sua
frente. A ponta da arma foi a primeira coisa que viu, já que estava apontada para
seu rosto. Encontrou o olhar morto daquele homem e se arrepiou.
Rita olhou por cima do ombro dele e fez cara de surpresa conseguindo desviar
a atenção do homem, ele ficou tenso e olhou para trás apontando sua arma. Ela
aproveitou essa distração e gritou quando jogou seu corpo em cima do homem.
Ele apertou o gatilho acertando a parede e gritou em desespero quando Rita
afundou as duas canetas em seu pescoço, uma de cada lado. Desmoronou em
cima dela e deixou sua arma cair, enquanto tentava fazer com que Rita se
afastasse.
Ela colocou mais força perfurando o homem com as pontas de suas canetas. Um
tiro soou muito perto dela. O seu agressor gritou de agonia. Ofegante, Rita
empurrou o homem para o lado. Uma bala tinha atravessado sua panturrilha e
ele sofria com a dor. Rita levantou o olhar e encontrou Adônis os encarando com
frieza. Ela se rastejou para longe do seu atacante sem tirar os olhos do chefe.
Parecia câmera lenta, podia dizer que conseguiu ver todo o trajeto, a bala passou
por ela e se enterrou entre os olhos do bandido. Arfou em choque quando a vida
foi arrancada do corpo daquele homem.
Sentia-se como se não fosse capaz de dormir nunca mais. Seus olhos
continuavam grudados naquele corpo sem vida. Alguém chamou seu nome e ele
não se moveu. Não conseguia reagir.
— Rita!
Não respondeu.
O encarou em silêncio tentando encontrar a paz que precisava nos seus olhos
cinzentos.
Ele começou a se preocupar ainda mais quando ela não se moveu. Seus olhos
estavam tão arregalados que ele pensou que poderiam saltar de seu rosto.
O rosto dela estava manchado com respingos de sangue, o que parecia deixar
a situação ainda pior. Agachou devagar na frente dela, não queria assustá-la
ainda mais. Seus músculos o fez estremecer de leve, dor irradiou por todo seu
corpo, mas Bruce ignorou. Sua prioridade era ela.
— Rita?
A voz de Pietro soou atrás dele, mas Bruce não desviou sua atenção.
— Não olhe para o lado — disse baixo. — Foque sua atenção somente em mim,
Rita.
— Ela está bem? — Pietro questionou. — Quer que eu a carregue para fora?
Está em choque? Precisa que alguém cuide dela?
Bruce não disse nada, não tinha palavras para dizer ao amigo, mas se ele
abrisse a boca de novo iria tomar um tiro por demonstrar afeição demais com
aquela que o pertencia.
— Bruce, acalme-se. — Adônis ordenou calmo, vendo que seu homem estava
pronto para matar Pietro. — Ele não vai mais abrir a boca, você ainda está com
adrenalina muito alta — disse. — Foque sua atenção em Rita.
Bruce não se moveu. Ainda encarava Pietro com raiva, como um animal raivoso,
pronto para começar uma briga para afastar o homem de perto de Rita. A
adrenalina estava tão forte em suas veias que ele estava perdendo a razão, mas
não se importava, não aceitaria tal coisa.
Seu monstro interior tinha tomado posse de suas atitudes para proteger Rita.
— Bruce.
O murmuro trêmulo atrás dele o fez esquecer de sua raiva. Se virou para ela.
Rita olhava para suas mãos trêmulas e sujas de sangue. Sua respiração estava
alta e seus olhos cheios de lágrimas.
Ainda agindo por impulso, caiu sobre seus joelhos na frente dele. Segurou suas
mãos, impedindo-a que continuasse a ver o sangue. Apesar de que as mãos de
Bruce não estavam em uma situação melhor, mas era melhor ela ver as dele do
que as dela.
— Não.
Bruce a ergueu em seus braços, sentiu Rita ficar tensa por um segundo e depois
se aconchegou em seu peito. Não ficaria melhor a situação, já que seu terno
preto estava coberto de sangue, mas tê-la em seus braços o fez se sentir melhor.
...
— Por que me trouxe para casa? — Rita perguntou assim que Bruce estacionou
na porta de sua casa.
Ele saiu do carro sem esperar pela resposta dela, deu a volta e abriu a porta.
Rita desviou o olhar dele para suas mãos ainda sujas de sangue.
Ela voltou sua atenção para ele e se perdeu na intensidade que transmitia seus
olhos, Bruce a pegou nos braços novamente e ela não protestou. Sentia-se como
se tivesse sido atropelada por um caminhão de emoções desenfreadas.
Ele a levou para dentro e ela não o parou quando Bruce começou a subir as
escadas. Rita apontou qual era o seu quarto, entraram no quarto e ela suspirou
aliviada de poder estar de volta. Bruce sentou na cama com ela em seu colo e
apertou seus fortes braços ao redor de Rita.
Rita estremeceu com as lembranças do pesadelo que passou nas últimas horas.
— Estou feliz por isto, não quero nem pensar em como iríamos sobreviver
aquilo...
— Preciso de um banho.
— Minha adrenalina ainda está muito alta, só sinto algumas dores musculares...
— Fique — ordenou.
— Bruce.
— Bruce...
Rita viu angústia pura no rosto dele e ficou surpresa por ver suas emoções tão
claras. Bruce sempre era muito fechado e o máximo que demonstrava era seu
mau humor evidente.
— Eu estou bem.
Garantiu ainda presa na angústia que mostrava em seus cinzentos olhos verdes.
Bruce se inclinou e beijou os lábios de Rita, ela suspirou e deixou que a beijasse.
Deu passagem para sua língua e foi beijada delicadamente. Era como se
quisesse garantir que realmente a tinha em seus braços. Foi o beijo mais doce
que recebeu em toda sua vida. Ele degustava e explorava sua boca devagar e
dominante.
Surpreendia que ele pudesse ser capaz de ter tamanha suavidade. Era gentil e
demonstrava paciência em beijá-la com carinho.
Todo o mundo ao redor foi esquecido e só existia os dois naquele momento. Não
havia mais lembranças das horas de puro terror que passaram e também não
havia mais a magoa que Rita sentia por ele a ter torturado em cativeiro.
Rita sabia que não existia mais volta. Não queria estar em outro lugar a não ser
nos braços dele.
E Bruce?
Ele tinha certeza de que ela o pertencia e ninguém seria capaz de dizer o
contrário.
CAPÍTULO DEZOITO
Bruce se levantou com Rita em seus braços, um segundo depois que desgrudou
sua boca da dela. Ele caminhou em direção ao banheiro dela e a colocou
sentada no mármore negro da pia. Desviou seu olhar e levou as mãos de Rita
debaixo da torneira para lavar o sangue que havia nelas.
Assim que lavou toda a mancha vermelha de sua pele delicada e pálida, ele
voltou a olhar para ela. Também limpou as manchas de respingo no rosto dela.
Respirou devagar apreciando a beleza de seus olhos castanhos. Ergueu sua
grande mão e fez um carinho no rosto dela. Rita fechou os olhos contemplando
o carinho. Uma mexa de seu cabelo foi colocada atrás de sua orelha com
cuidado.
— Você está sendo gentil, devo estar horrível depois do que passamos — disse.
Ela sorriu.
Ele se encaixou entre suas pernas e a segurou pela nuca. Os braços de Rita se
fecharam no pescoço dele e desta vez ela o beijou. Ela não tinha mais forças
para lutar contra aquilo que sentia. Não existia mais a possibilidade de mantê-lo
longe, de ficar sem ele. Apesar de surpreso, Bruce retribuiu o beijo de Rita sem
hesitar nenhum segundo.
Não havia a mesma delicadeza de antes. Agora Bruce exigia mais dela.
Explorava e domava sua boca com a dele sem medir esforços.
Descendo as mãos pelas costas dela e depois voltando por sua cintura, Bruce
começou a desabotoar a camisa azul de seda que ela vestia. Rita não o parou,
não era capaz de pará-lo. Depois de tudo o que sofreu, ela só precisava
esquecer. Isto acontecia sempre que beijava e tocava em Bruce. Ele era sua
válvula de escape. Não existia outra pessoa que desejava mais do que ele,
mesmo com todos os problemas e divergências, ela não poderia o querer menos.
Muito antes de conhecer o verdadeiro homem que se escondia atrás do chefe
de segurança, ela já tinha permitido que ele acessasse seu coração.
Empurrou o terno dele para fora de seus ombros, com pressa para tê-lo nu.
Bruce a ajudou a tirar aquela peça que teria que ir para o lixo depois do dia
enfático que enfrentou.
A blusa de Rita foi jogada na mesma direção do terno dele no chão e ela se
concentrou em tirar a gravata, desfez o nó e a puxou pela gola. Seus dedos
foram rápidos em encontrar os botões da camisa de Bruce. Sem paciência
acabou puxando com força o tecido, fazendo os botões se estourarem e voarem
pelo banheiro.
Ele afastou sua boca da dela e os dois respiraram fundo ouvindo o quicar dos
botões no piso.
Bruce empurrou a camisa para fora dos ombros e Rita olhou para o colete a
prova de balas que ele ainda usava. Assim que saíram da construção do cassino,
Bruce somente a colocou no carro e acelerou para fora de lá a toda velocidade,
ansioso em colocar distância entre o local e eles. Não tinha se livrado de suas
roupas sujas e equipamento de segurança.
Ele abriu o colete e o tirou para longe de seu corpo. Franziu o cenho quando os
olhos de Rita arregalaram. Bruce olhou para o seu peito e viu marcas vermelhas
e arroxeadas marcando sua pele.
— Balas.
— Algumas vezes.
Rita gemeu irritada com a facilidade que Bruce tinha de naturalizar coisas que
poderiam ter tirado sua vida.
Tentou descer e para buscar gelo. Ele a segurou, impedindo que se movesse.
— Bruce...
— Eu quero muito te tirar destas roupas e tê-la totalmente para mim — disse
rouco.
Rita ia protestar novamente, mas Bruce foi mais rápido. Ele a calou com sua
boca e a distraiu com suas carícias. Não deu oportunidade para que Rita
pensasse mais, soltou o sutiã que usava e arrancou a saia do corpo dela.
A boca dele era exigente e não permitia que Rita raciocinasse com clareza.
Bruce rasgou a calcinha que ela usava fazendo-a ofegar em sua boca. Seus
lábios desceram devagar pelo pescoço dela até encontrar seu seio. Enquanto
provava dela, abriu seu cinto e tirou o resto de suas roupas, deliciou com seus
suaves gemidos. As pernas de Rita enlaçaram sua cintura nua e ele a carregou
para dentro do boxe sem afastar sua boca da pele dela.
Com as costas prensada na parede gelada, Rita sentiu a água morna descer
pelo seu corpo. Bruce moveu de leve o quadril fazendo sua dura ereção esfregar
no ponto mais sensível de Rita.
Ela gemeu alto incendiada por um prazer alucinante, que há muito tempo não
sentia. Suas reações aos movimentos dele só o incentivou a fazer de novo e de
novo, até que Rita não suportou e entregou a ele o seu ápice.
Seu mundo parou enquanto sentia o prazer atravessar seu corpo como um
choque alcançando cada célula. Tornando respirar difícil com o mar de
sensações que a afogava em deleite.
— Você é minha.
— Bruce...
— Ter-lhe presa aqueles dias foi mais difícil para mim do que imagina —
sussurrou para ela. — Preferia que me odiasse pela vida inteira do que ver você
quebrada, tanto fisicamente quanto mentalmente... E isto aconteceria se eu
tivesse permitido que outro homem a interrogasse.
Ele se calou e lágrimas desceram pelo rosto de Rita, se misturando com a água
do chuveiro. Ela sabia que eles conversariam sobre aquele dia, mas não
imaginou que seria ali e agora. Entretanto, não podia pará-lo, precisava ouvi-lo
e entender os seus motivos.
— Todas as noites ainda sonho com você — disse baixo. — Ainda escuto você
me dizendo “Bruce, por favor, eu estou com medo” — sussurrou. — Acredito que
não entenderia o quanto quis ir até você, pegá-la nos meus braços e te dizer que
ia ficar tudo bem.
— Não tive uma única noite de paz desde então, ainda te escuto me pedindo
para não machucá-la — disse cheio de pesar. — Vejo em meus sonhos suas
lágrimas, suas expressões de dor e pânico, seu corpo tremer de frio ou de
choque... Doeu mais em mim em torturá-la.
— Sei que poderia ter sido muito pior. — Rita disse tentando fazê-lo se sentir
melhor.
— Sim, muito pior do que pode imaginar — afirmou. — Não sou um bom homem
e já fiz coisas que te enjoariam o estômago se soubesse. Costumo não ter
piedade ou compaixão, e às vezes acredito que não existe mais humanidade
dentro de mim — disse. — Mas você alcançou algo em mim que eu pensei que
tivesse morrido há muito tempo.
— Que lugar?
As palavras estavam tão vivas em sua mente que parecia estar revivendo, a dor
da mágoa naquela época era tão difícil de suportar que tornou impossível
esquecer.
— Meu coração.
Bruce sussurrou fazendo outro soluço sair dos lábios de Rita, ela acreditava na
sinceridade de cada palavra que dizia.
— Você o alcançou e o reviveu com seu jeito alegre e falador — disse com um
leve sorriso. — E ele se quebrou junto com o seu naqueles dias em que passou
como minha prisioneira. — tristeza passou por seus olhos. — Senti cada dor e
mágoa que sentiu, porque meu coração já pertencia a você.
— Bruce...
Eles ficaram em silêncio por um longo tempo sobre o barulho da água chocando
contra os dois. Rita ainda não sabia o que dizer com tudo o que ouviu e Bruce
esperava pela rejeição, sabendo que era merecido se ela não o quisesse nunca
mais.
CAPÍTULO DEZENOVE
Rita o olhou emocionada, ergueu sua mão e tocou o rosto de Bruce com carinho.
Sinceridade ainda brilhava nos olhos dele e ela nunca poderia dizer que não
acreditava em suas palavras. Aquele conversa lhe mostrou que Bruce veio para
lhe erguer das cinzas. Veio tirá-la da solidão. Ser seu porto seguro. Sua força. E
por mais que o caminho não tenha sido fácil, era o momento de receber o que
tanto precisava.
Sem poder suportar o silêncio entre eles, Rita abriu um grande sorriso, Bruce a
observava atentamente e pareceu levemente confuso com sua reação.
— Você nunca foi tão falador assim — brincou e ele sorriu de leve.
Rita o interrompeu.
Antes que terminasse de falar, Bruce já tinha atacado sua boca com a dele e ela
retribuiu com a mesma intensidade.
Bruce não deixaria que Rita se arrependesse de sua decisão, ou melhor, de seu
pedido. Ele fechou a água do chuveiro e a carregou para fora. Somente parou
diante do armário do banheiro, afastou de sua boca e se esticou para pegar
algumas toalhas.
Caminhou para o quarto com ela em seus braços e antes de deitá-la sobre a
cama, Bruce forrou o local com as toalhas para que eles não a encharcassem.
Devagar a deitou sobre o colchão, sem desviar seus olhos dos dela, e a cobriu
com seu corpo.
Conheceu a definição de céu depois que deslizou para dentro dela, claro,
devidamente protegido com um preservativo. Inicialmente devagar e lento, mas
ao senti-la se apertar ao seu redor, Bruce acabou empalando Rita em uma única
estocada dura. Em resposta ganhou um gemido alto.
Ele ainda estava de joelhos, encaixado até o eixo dentro dela quando a viu
arquear as costas empinando os seios e o enlaçando com suas pernas.
Sorriu de leve quando puxou o quadril e o investiu com força, fazendo-a jogar a
cabeça para trás e gemer alto. Então ele fez de novo, puxou devagar e voltou
duro para dentro dela. E de novo.
Quando deu por si, já estava em um ritmo frenético em busca do prazer para
ambos.
O ar faltava.
O corpo necessitava.
A pele se arrepiava.
E o prazer os atravessou, Rita arfou alto quando foi tomada por um forte orgasmo
e Bruce gemeu rouco quando gozou.
— Só seu.
— Tudo bem.
— Chefe.
Bruce não se importava, Adônis era como uma bomba perto de explodir. Gritava
quando não conseguia se conter, mas recuperava rápido seu controle.
— Bom — disse. — Traga Ettore para mim, cansei dessa brincadeira de gato e
rato.
— Não faria isto na frente dela e ele parecia desesperado por causa da família
— explicou.
— Traga Ettore para mim. — Adônis ordenou e desligou.
Bruce queria suspirar sabendo que Ettore estaria escondido em algum buraco
agora.
...
Rita ainda estava extasiada com a calmaria em seu corpo depois do sexo incrível
com Bruce. Nunca poderia imaginar que seria daquela forma, mas não desejou
que fosse diferente. Também não imaginou que sentia tanta falta de um corpo
masculino contra o dela. Ele havia a levado ao céu em segundos. Era uma
viagem sem volta. E ela não queria retornar nunca mais. Acreditava em cada
palavra que ele lhe disse. Sabia que Bruce não era homem de palavras, sempre
foi calado e mal-humorado. Ela jamais se esqueceria da postura dura e
expressão fria de seu rosto todas as vezes que o encontrava na empresa.
Algumas vezes ele mal a respondia quando o cumprimentava, poderia contar
nos dedos quantas ocasiões ela o ouvir falar. Sempre muito fechado.
Seus pensamentos fugiram quando o viu sair do banheiro vestido somente com
a calça que usava mais cedo e parecia tenso.
— Bruce? — questionou.
— Vou ao carro buscar uma muda de roupas que tenho lá e pegar meu notebook,
volto em alguns minutos.
Seu tom de voz foi duro, não duro com ela, mas duro com sua tensão que estava
sobre os ombros dele.
Queria agradá-lo.
— Um pouco — resmungou.
Desceu as escadas no exato momento em que ele voltou para dentro ainda
tenso. Rita passou direto, sabia que não deveria perguntar desde que não teria
uma resposta. Ele tinha dito a ela quando a tirou do cativeiro que perguntas sobre
as coisas que a máfia fazia ou acontecia, não deveriam ser feitas.
Passou para cozinha e começou a preparar um almoço para os dois. Sentiu ele
se aproximar enquanto trabalhava em dourar alguns bifes de frango.
— Sente-se aqui que eu vou fazer um curativo nesse ferimento em seu braço.
Ela desligou o fogo e voltou sua atenção para Bruce. Era claro que ele pensou
em protestar, mas ao ver o olhar dela, o desafiando a dizer alguma coisa, acabou
cedendo. Queria sorrir, porém, também não se atreveu.
Ela olhou os roxos em seu peito e queixo. Suspirou sabendo que se ele não
tivesse colocado o colete a prova de balas ainda no carro, Bruce estaria morto
naquele momento. Sentiu-se agradecida por ele ser paranoico com a segurança.
— Sim, querida, eu estou bem. — garantiu. — Não é a primeira vez que isto
acontece e na hora estava com tanta raiva, que mal me importei.
Parecia que todas as vezes em que a beijava isto acontecia, mas a mágica entre
eles foi cortada quando o celular de Bruce começou a tocar novamente.
Bruce se afastou e sorriu de leve para Rita, antes de puxar o celular do bolso
para atender.
— Diga... Quando? ... Vamos fechar o circo para ele do mesmo jeito de sempre...
Qualquer coisa é só me chamar.
— Sim — confirmou.
— E isto envolve?
Bruce a puxou para seu colo, sorrindo, gostando da paz que estava entre eles.
— E além do mais, acredito que não gostaria de ouvir do que somos capazes de
fazer para pegar um inimigo.
Rita ponderou sobre o que Bruce disse e resolveu deixar aquilo para lá, ela
realmente não queria saber. Temia ter pesadelos pelo resto da vida se ouvisse
do que eles são capazes, já bastava a quantidade de corpo que viu hoje.
— Eu não tenho poder sobre isto Rita. — disse sério. — Ele sabia que caso
acontecesse algo do tipo, deveria nos procurar. Estava em uma das clausuras
do contrato em que assinou — avisou calmo. — É uma forma de informar aos
funcionários que eles correm o risco de que algo assim aconteça. Então,
deveriam entrar em contato com a segurança dos Albertini imediatamente.
— Alessio não deve ter pensado direito nas coisas, se algo acontecesse com
Josh eu ficaria desnorteada. — Rita disse.
Rita estremeceu lembrando que Adônis não tinha hesitado em apertar o gatilho
contra o homem que a atacava, mesmo a salvando, Rita não podia esquecer a
frieza do ato.
Erguendo o rosto dela, Bruce a beijou, calmo e lento. Rita suspirou retribuindo o
beijo e esquecendo de toda aquela conversa que estavam tendo.
Afastou sua boca da dela e ficou orgulhoso em como Rita estava ofegante. Com
uma força quase que sobrenatural, a levantou de seu colo e depois a colocou de
novo, mas desta vez com as pernas separadas, uma em cada lado de sua
cintura. Segurou sua cintura e a puxou mais contra seu corpo, pressionando sua
ereção no ponto mais sensível dela. Rita gemeu com a sensação e quase
enlouqueceu Bruce com o som. Ela agarrou a camisa que ele usava e puxou por
cima de sua cabeça, a jogou no chão logo em seguida. Depois o abraçou,
fazendo com que suas mãos descessem pelas costas quente e musculosa de
Bruce, descobrindo-o com os dedos.
Ele puxou seu vestido para cima e Rita precisou largá-lo para que se livrassem
da peça de roupa.
Os cabelos dela que estavam presos em um coque preso no alto de sua cabeça,
se desfez e caiu sobre o ombro e rosto de Rita, deixando Bruce congelado com
a beleza daquele simples movimento.
A boca dele encontrou os seus seios, deu atenção a cada um deles com seus
beijos e sugadas fortes. Rita sentiu-se pronta para desmaiar com tanto prazer.
Era como se seus seios tivessem ligação direta com seu clitóris. Seu corpo fervia
em uma paixão descontrolada. A leve mordida de Bruce em seu mamilo fez com
que Rita jogasse a cabeça para trás quando um gemido alto escapou de seus
lábios. Ele encurvou os dedos dentro dela alcançando um ponto muito sensível,
trazendo um arrepio pela pele dela com o prazer atravessando seu corpo. Bruce
mudou a boca para o outro seio e depois de sugá-lo, mordeu a ponta.
Aquele foi o ponto de ruptura de Rita, outro gemido alto escapou de seus lábios
quando o orgasmo veio forte e sem barreiras, assim como uma represa com
suas comportas abertas.
Bruce a segurou ali, aliviado por enfim tê-la para si. Ele nunca imaginou que se
sentiria assim, tão leve e sem aquele vazio que a frieza trazia.
Sentiu as mãos de Rita abrirem seu jeans e ele a ajudou puxar um pouco para
baixo junto com a box que usava. Estremeceu quando ela agarrou sua carne
extremamente dura e dolorida. A maciez de sua palma desceu e subiu em sua
pele. Desejou por mais dela. Enfiou a mão no bolso e pegou uma camisinha, que
tinha conseguido em seu carro quando foi buscar sua muda de roupas. Por sorte
encontrou uma no porta-luvas.
— Nunca vou me acostumar com o quão boa é você, puta merda. — Ele
murmurou.
Rita o beijou.
Ela subiu e desceu sobre Bruce com sua ajuda, porém, ele precisava de mais.
Levantou-se a carregando sem desgrudar suas bocas. Colocou Rita sentada
sobre a mesa e começou a balançar contra ela, duro e forte sem poder e nem
querer se conter.
Ela arrastou sua boca longe da dele para poder respirar, mas acabou ofegando
com o prazer que Bruce a proporcionava.
— Bruce.
Rita gemeu seu nome enquanto ouvia o celular tocar insistentemente. Ela o ouviu
resmungar alguma maldição, mas não parou, ignorou totalmente a chamada e
só existiam os dois naquele momento. Nada mais importava. A fez se sentir mais
importante, mais venerada, pelo simples fato de ignorar suas chamadas para dar
a ela toda atenção que precisava.
Rita ficou ainda mais excitada ao ver a figura máscula que Bruce ostentava. O
olhar quente. A boca avermelhada, dos beijos que trocaram. A expressão dura
com o maxilar trincado. A fina camada de suor que cobria sua pele rígida e
musculosa.
Ela escorou os braços na mesa e ele segurou a tampa de vidro com força,
fazendo os músculos de seus braços saltarem enquanto chocava contra ela.
Duro e rápido.
— Rita.
Ele rosnou seu nome mostrando que não ia durar muito mais tempo e ela sentia
a mesma coisa sobre si. Jogando a cabeça para trás, Rita sentiu o prazer
atravessar seu corpo mais uma vez naquele dia.
O gemido que escapou dos seus lábios agora, foi tão alto quanto poderia. Com
mais duas ou três balançadas contra ela, Rita escutou o rouco gemido de Bruce.
Olhou em seu rosto enquanto ele se derramava e viu-se perdida na intensidade
que seus olhos transmitiam.
CAPÍTULO VINTE
Quando enfim recuperaram o ar, foi preciso mais um banho. Desta vez, Rita foi
primeiro. Enquanto Bruce ficou no celular rosnando e latindo ordens para a
pessoa do outro lado da linha. Parecia que cada vez que ele atendia o celular
ficava ainda mais irritado com as informações que ouvia.
Ela se banhou e voltou para a cozinha quase que correndo, estava faminta e
depois de todo aquele sexo, quase selvagem, precisava repor suas energias.
Bruce voltou para a cozinha e juntos eles comeram. Ele até tentou ignorar o
celular algumas vezes, mas parecia ser impossível. Depois de deixar a cozinha
limpa, Rita foi atrás de Bruce e o encontrou na sala com o notebook no colo e o
celular preso entre o ombro e o ouvido.
Rita ligou a TV com o volume bem baixo, para não incomodá-lo, e ficou quieta
ali perto dele até que adormeceu. Acordou três horas depois arfando com o
pesadelo dos piores momentos do seu dia em seus sonhos. Bruce a abraçou e
com toda calma, que ela não sabia que ele tinha, esperou que ela voltasse a se
tranquilizar prometendo que ninguém iria machucá-la.
Acreditava nele.
O que ela viu Bruce fazer naquela construção para protegê-la não deixava
espaço para dúvidas.
Ela voltou a cochilar no sofá com a cabeça na perna de Bruce, por mais meia
hora, antes de se levantar e ir se arrumar para irem buscar Josh na escola. Vestiu
uma calça jeans preta e apertada, nos pés colocou um tênis branco casual.
Camiseta preta e jaqueta por cima. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto
e passou o batom rosa nos lábios.
Quando voltou para a sala encontrou Bruce arrumado e ele tinha até mesmo
organizado a sala, e estava observando algumas fotos na estante. Ela parou ao
lado dele e viu que seu olhar estava focado na foto dela com Rodrigo, seu
falecido marido, e Josh.
— Ele é a cópia do pai. — Bruce murmurou.
— Rodrigo fez grande parte da minha vida e nunca vai ser esquecido, Bruce —
disse baixo. — Já aceitei a morte dele, mas isto não significa que eu deixei de
amá-lo. No entanto, não diz que os meus sentimentos por você não são sinceros
— explicou. — Ele faz parte do meu passado, passado que não deve ser
esquecido, e você está fazendo parte do meu presente — sorriu para ele. —
Presente que deve ser vivido e sentido.
— Sim.
— Tudo bem.
Saíram do carro e o porteiro liberou a entrada deles. Bruce ficou o tempo todo
segurando a cintura de Rita enquanto iam para a quadra de esportes da escola.
Rita riu.
— Já me disseram isto.
— Seus tímpanos são blindados, Bruce, depois de aguentar todo aquele barulho
pela manhã um assovio não é nada.
Ele murmurou alguma coisa que ela não entendeu e eles voltaram sua atenção
para o final do jogo.
Ela levantou seus olhos e encontrou Talita Agnelli vindo em sua direção. Rita
queria bufar, aquela mulher a irritava em níveis assassinos. Sentiu todo seu bom
humor escorrer pelos dedos, sabendo que ela não desistiria tão fácil.
— Fiquei sabendo que seu filho corre risco de deixar o time por causa da briga
na escola, deveria educá-lo melhor.
— Afinal, não podemos correr o risco de Joshua saia por aí socando quem bem
entender.
Bruce sentiu Rita tremer de raiva.
Ele mesmo estava com raiva, queria poder calá-la de um jeito doloroso, por estar
tentando ferir sua Rita.
— Se fosse meu filho a ser machucado, por um selvagem como o seu, eu teria
te processado — provocou. — Talvez o fato de ser mãe solteira faça você falhar
na educação do garoto, o pai dele deve estar decepcionado...
— Não fale do meu filho e nem da memória do meu marido — rosnou furiosa. —
Ou vai sair daqui direto para um hospital.
— Cale sua boca, Talita, ou eu não sei do que sou capaz para defender meu
filho.
Um garoto ao lado chamou atenção de Rita, era Daniel, filho da mulher a sua
frente e ao lado dele estava Josh com os olhos arregalados.
— Saia da minha frente antes que eu te bata na frente do seu filho — ameaçou.
— Você não me conhece e não sabe do que sou capaz para defender o meu
filho e o meu marido.
— Senhora Agnelli, se não calar sua boca eu serei obrigado a lhe ensinar boas
maneiras. — Bruce disse friamente conseguindo a atenção de todos. — Eu não
vou permitir que continue a perturbar minha Rita e Josh com suas palavras
venenosas.
— Não me ameace...
— Não mexa com eles e tenha pelo menos um pouco de respeito pela dor deles
e não coloque Rodrigo no meio da conversa — disse em um tom
assustadoramente calmo.
Bruce puxou Rita para trás do seu corpo e olhou fixamente para a mulher.
— É a última vez que perturba Rita com suas palavras cruéis, ou terei a certeza
de que nunca mais sairá por aí esbanjando dinheiro e arrogância — ameaçou.
Talita tremeu com a voz calma e fria de Bruce, agarrou seu filho pelo ombro e
saiu rápido sem ao menos olhar para trás.
— Era só um susto, para ela aprender que sua mãe tem alguém para defendê-
la. — Bruce afirmou.
— Ela estava falando de mim e do meu pai, não é? — questionou e seu rosto foi
ficando vermelho.
— Que bom que estava com Bruce, não quero ninguém magoando minha mãe.
— Josh disse e abraçou Rita.
— Não me agradeça por isto. — Bruce disse aliviado pelo garoto não ter ficado
assustado com o que presenciou.
— Não hoje, vamos para casa, não quero ficar mais um segundo nesse lugar. —
Ela disse.
— Vai ter que aguentar meu cheiro de macho até em casa. — Josh brincou e
Rita sorriu.
— Por você, querido, eu aguento qualquer coisa, mesmo que talvez eu queira
derrubar seu traseiro em uma banheira quente — disse amorosa.
Eles sorriram e começaram a caminhar para fora da quadra. Josh pegou sua
mochila em um canto e reparou o queixo roxo e as mãos feridas de Bruce.
— Mama?
— Sim.
— Deve ensinar Bruce aquela coisa sobre violência — brincou e Bruce sorriu.
— Alguns? — questionou.
— Sim.
Rita ficou tensa e Josh gargalhou achando que ele estava brincando.
— Nem pensar, garoto. — Rita falou e ele revirou os olhos para mãe antes de
entrar no carro.
Ela entrou no carro sem responder, sabia que era verdade o que ele disse, mas
não gostava de se render tão fácil assim.
— Mais cinco no andar de baixo e eu estava sozinho com a pessoa que tinha
que proteger — respondeu. — Foi bom socar algumas pessoas.
— Escute sua mãe sobre aquela coisa de violência — brincou e Josh sorriu.
Josh pareceu pensar um pouco no que iria dizer, até que soltou o que veio à
mente.
— Mama, confesse logo, já te disse que vejo mais do que imagina — disse
sorrindo.
— Ela é muito teimosa. – Bruce disse e deu de ombros fazendo Josh rir.
— Ela é! — Ele afirmou.
— Sempre.
— Não a magoe. — Josh disse sem esconder que tinha uma ameaça atrás de
suas palavras.
Mas ela não teve muita atenção, o celular de Bruce voltou a tocar e ele atendeu
rápido. Bruce não perdeu que todo bom humor de Josh se perdeu e que Rita
ficou tensa. Eles ainda tinham problemas com carro, mas não podia fazer nada,
precisava atender a chamada.
— O que mais?
— Vou ter as respostas essa noite e esperar Adônis para uma reunião, ele dita
os passos.
— Sim — afirmou. — Milena está grávida novamente, vai fazer alguns exames
de sangue e Rapha tem uma consulta de rotina hoje. Vamos aproveitar para não
ter que retornar depois.
— Estou bem.
Bruce não rendeu o assunto, desligou a chamada e jogou o celular no painel. Ele
estava tenso novamente, mas Rita e Josh respeitaram o seu silêncio até que
estacionou na porta da casa de Rita.
— Valeu, Bruce. — Josh disse e desceu do carro sem esperar por resposta.
Bruce segurou o volante com força, estava com raiva por Ettore estar
escorregando por seus dedos.
— Bruce?
A voz calma de Rita o fez respirar fundo, ele olhou para ela. Rita ficou em silêncio
ao detectar a fúria no olhar dele.
Bruce pegou o celular de novo e fez uma chamada rápida para Dânio.
Disse assim que o segurança atendeu sem lhe dar a oportunidade de falar algo
e desligou sem esperar por resposta.
— Você está com raiva. — Rita afirmou e ele manteve o silêncio. — Parece que
voltamos à estaca zero, pelo menos antes eu tinha respostas monossílabas,
agora eu só estou tendo o seu silêncio.
— Estou com raiva, mas não é de você — disse. — Só preciso resolver alguns
problemas.
— Ettore? — perguntou.
— Sim — afirmou.
— Sim.
— Ter respostas essa noite, quer dizer que vai torturar alguém até a morte para
lhe dizer onde Ettore estar. — Ela afirmou.
Bruce ficou em silêncio e aquela foi à resposta que precisava, era sua
confirmação.
— Bruce...
— Não diga mais nada, por favor, é melhor não falarmos sobre isto — disse
baixo. — Não quero que se afaste de mim sabendo do que sou capaz de fazer.
Bruce mordeu a língua, estava com ciúmes e com raiva em ver aquele homem
ali novamente.
— O que foi...
— Um amigo — respondeu.
— Amigo?
— Já disse que é um amigo, Bruce — revirou os olhos. — Ele era o melhor amigo
de Rodrigo e depois da morte dele, me ajudou muito.
Ele voltou sua atenção para Rita que continuava o olhando em confusão.
Rita não teve oportunidade de falar, Bruce a beijou firme e grosseiro impondo
sua possessividade sobre ela. Ele estava com ciúmes e queria mostrar para Rita
a quem ela pertencia.
Sua mão segurou a nuca dela com força, para que não se afastasse, enquanto
a beijava. Rita sentia-se sem fôlego, mas sabia que Bruce não estava disposto
a se afastar para que respirasse. Ele a sobrepujava com sua boca e sua língua
batalhada com a dela pelo domínio.
— Você é minha.
— Espero que você esteja certa, Rita, porque se ele encostar um dedo em você,
eu vou matá-lo.
A ameaça estava ali em seu tom frio e calmo, fazendo-a ficar rígida sabendo que
Bruce poderia matar Frank.
Ela abriu a porta do carro e foi rápida em sair para não dar a ele a oportunidade
de segurá-la. Antes de fechar a porta viu a frieza no rosto de Bruce e bateu a
porta sem lhe dar nenhum tchau.
Frank sorriu e lhe beijou o rosto. Josh a olhou atentamente percebendo que o
humor da mãe mudou e não comentou nada. Juntos entraram em casa e
deixaram Bruce do lado de fora ainda de vigia, enquanto aguardava Dânio
chegar.
CAPÍTULO VINTE E UM
Bruce tremia de raiva por ver Frank beijar o rosto de Rita e logo entrar para a
casa dela. Não conhecia o homem, mas isto não esfriava seu sangue assassino.
Mil e um modos de tortura e morte passavam em sua mente. Sentia-se afrontado
por ela e pelo homem, que segundo os pensamentos possessivos e ciumentos
de Bruce, queria sua mulher.
Sua atenção foi desviada quando Dânio estacionou do outro lado da rua. Ele
ligou o carro e saiu em direção ao depósito onde tinha dois prisioneiros
aguardando por ele.
Por todo o caminho ele ainda tremia de raiva por alguém ter tocado em Rita.
Bruce sabia que ela não saía por aí distribuindo beijos e como prova disto, ele
viu Frank beijar o rosto dela.
Ela nunca se aproximava primeiro e de certa forma seu orgulho masculino inflou
ao lembrar que ela nunca tinha beijado outro homem desde que perdeu o marido.
O único privilegiado foi ele e mesmo assim foi ele quem a atacou naquele
elevador. Esse pensamento o acalmou um pouco, mas não durou muito. Pois
ainda se lembrava de que ela tinha Frank dentro de sua casa. Sentiu-se bravo
por ver a ingenuidade dela em não perceber que o homem a queria.
Uma porta se fechou atrás dele garantindo que estavam sozinhos naquele porão.
Viu Roy sentado em um canto tomando uma cerveja e os dois prisioneiros
amarrados a um gancho no teto, seus pés mal tocavam o chão.
Ele acenou e o homem lhe entregou uma completamente gelada, torceu a tampa
e bebeu a metade em um gole.
— Wow!
— Calado.
O outro resmungou.
— Esse é um maldito papagaio, não cala a boca nunca. — Roy disse e entregou
outra garrafa para Bruce.
— Vou cortar a língua dele se não calar a boca. — Bruce disse calmo e tomou
um longo gole de sua cerveja.
— Você anda ficando muito perto de Pietro. — Bruce disse lembrando-se de que
queria matar o amigo pela manhã.
Sorriu mentalmente ao perceber que Roy era tão questionador quanto o amigo.
— Minha vida pessoal não interessa a ninguém, então, guarde sua curiosidade
para si.
Bruce disse baixo e colocou a garrafa vazia no chão, levantou e puxou a camisa
para cima. Não tinha mais peças de roupas no carro e não queria sujar às que
usava.
— Puta merda! — Roy exclamou e Bruce se virou para olhar para ele. — Então,
ela gosta de colocar as garras de fora. — Roy brincou.
Bruce se deu conta de que Rita havia realmente o arranhado. No momento em
que estava com ela nada o importou, além do prazer dela.
— Eu quero respostas.
O grito de dor ecoou por todo o lugar quando Bruce arrancou o primeiro dente.
Movido por ira, lembrando de todos os perigos que Rita já tinha passado por
causa de Ettore, nada era capaz de pará-lo.
Apesar da frieza de seu corpo por fora, por dentro ele queimava em uma raiva
descontrolada.
Quando enfim acabou e tinha algumas respostas, dois corpos e muito sangue
sobre si mesmo. Desviou a atenção para o canto onde Roy ainda estava e
encontrou nos olhos dele certo receio, o mesmo receio de quando observavam
Adônis e Apolo torturar alguém.
Caminhou até o canto do porão onde tinha uma mangueira, tirou a boxer que
usava jogando-a no lixo e lavou o sangue que manchava sua pele. A água gelada
não foi capaz de acalmá-lo, mas aliviou um pouco da tensão de seus ombros.
Roy jogou uma toalha assim que acabou. Bruce viu alguns homens entrando
para iniciar a limpeza do local. Em completo silêncio ele se vestiu, acenou para
Roy e saiu dali.
Dirigiu sentindo o cansaço pensar em seus ombros, mas não parou. Foi para
casa de Adônis, onde era mais perto. O portão se abriu para ele e Bruce levou o
carro para o chalé que tinha no terreno. Entrou, tomou outro banho, desta vez
mais demorado e quente. Arrastou-se nu para cama e, depois de colocar o
celular para despertar em um par de horas, adormeceu.
...
Bruce estacionou na porta da casa de Rita cinco minutos atrasado, mas sabia
que ela também estaria atrasada. Aguardou dentro do carro por quinze minutos
até que a viu sair de casa com Josh ao seu lado.
Ele ficou paralisado com a beleza natural que ela exibia. O vestido cor de vinho
e o blazer preto deixavam muito para sua imaginação. Os saltos altos alongavam
suas pernas, o que deixou Bruce duro em segundos ao se lembrar de como elas
o enlaçaram, com perfeição, no dia anterior. O cabelo solto e os lábios rosados,
trouxeram a vontade de agarrar os fios e beijar a boca que tanto o atraia.
— Buongiorno.
— Meu jogo é hoje à noite, você vai vim mesmo? — perguntou tentando não
parecer ansioso.
— Estarei aqui a tempo de te ver jogar. — Bruce garantiu gostando que Josh
quisesse sua presença.
Ele pulou para fora do carro depois de ouvir todas as recomendações da mãe.
Depois aguardaram até que Josh sumiu para dentro da escola. Bruce voltou a
colocar o carro em movimento.
Rita se virou para observá-lo sem perder nenhum detalhe. Os ombros rígidos,
as olheiras escuras e a barba de três dias. Era visível que ele estava cansado e
ela queria sair desse clima pesado que estava entre eles, mas não queria irritá-
lo, parecia cansado e merecia um pouco de paz.
— Algumas.
— Algumas quantas?
— Bruce...
— Eu não sei se você sabe, mas dormir é uma necessidade básica assim como
comer.
— Não me diga.
Rita se virou e olhou para a janela, agora seria ela que o ignoraria. Não queria
entrar em mais uma briga, sentia o pesar de que o clima de paz que eles
passaram ontem tinha acabado.
— Percebi.
— Seu amigo não durou muito tempo na sua casa ontem — disse baixo.
— Quer mesmo falar sobre isto a está hora da manhã? — ergueu uma
sobrancelha.
— Não... eu só...
Bruce ficou calado e estacionou na garagem. Ela também não esperou que ele
dissesse algo, saiu do carro e o aguardou no elevador.
Ele desceu do carro e o travou enquanto seguia até ela, colocou as mãos nos
bolsos e juntos entraram no elevador. Ficou um passo atrás dela e seus olhos
correram para o corpo de Rita sem nenhuma discrição.
Bruce não aguentava mais não tocá-la. Ele agarrou sua cintura e colou seu corpo
nas costas dela. Rita arfou surpresa e ficou tensa por alguns segundos, mas
relaxou ao sentir as mãos dele sobre ela. Bruce segurou firme suas coxas
prendendo-a forte, pressionando-a contra a ereção que ele tinha desde que a viu
sair de casa.
Rita se arrepiou e virou o rosto para poder beijá-lo pela primeira vez naquele dia.
Ele entendeu o pedido e beijou Rita, devagar e sensual. Os dois estavam
completamente excitados, mas o barulho do elevador parando e abrindo obrigou
que se afastassem.
Ela sorriu para Bruce e ele sentiu-se se derreter por dentro em saber que aquele
sorriso sincero era seu. Aquele sorriso o fez esquecer-se de todos os problemas
e só focar nela enquanto caminhavam para fora.
Rita parou em sua mesa e Bruce bateu na porta de Adônis, que já o aguardava.
— Vejo que se acertou com Rita. — Apolo afirmou e Bruce ergueu uma
sobrancelha. — Você não fica bem de batom rosa.
Apolo gargalhou.
Bruce revirou os olhos impaciente antes de levar a mão aos lábios e limpar o
batom. Ele também queria sorrir, Rita o tirava do sério e depois do beijo no
elevador ele não teve capacidade de pensar em muitas coisas que não fosse
tomá-la.
— A intenção dele era pegar sua área de distribuição, por isto, começou esse
inferno na nossa cabeça — informou. — O ataque de ontem era uma tentativa
de matar Rita e se conseguisse me pegar, ele queria me torturar até a morte.
— Como já relatei antes, tive uma pequena conversa com ele uns dias atrás e
acredito que não ficou muito feliz em ser intimidado — respondeu com
tranquilidade. — Deveria ter atirado naquele idiota.
— Ele só está com o ego ferido, assim como foi com Belchior. — Adônis disse e
os homens acenaram concordando.
— Se ele te viu pode ter pensado que iríamos estragar os planos dele antes que
conseguisse algo. — Adônis disse e Bruce acenou concordando.
A inocência dela era irrevogável, mesmo sabendo disto somente agora, Bruce
nunca se perdoaria por não ter impedido de voltar para o carro. Principalmente,
por ter a torturado por cinco dias seguidos, mesmo que tenha pegado, nada o
faria se perdoar por ter imposto tamanha aspereza sobre a mulher que se
apaixonou.
No entanto, Bruce não se deixou levar somente pela raiva em Ettore. Sabia que
Adônis se aproveitou da situação para inserir Rita como colaboradora da
organização. Respirou devagar, tentando não demonstrar suas reações, mas
seu chefe sabia que ele não era nenhum idiota. Que descobriria logo suas
intenções. Se encararam por um segundo e um recado brilhou nos olhos de
Adônis. Foi melhor assim. Bruce não disse nada, era melhor se manter calado
do que prejudicar a aqueles quem agora tinha a obrigação de proteger.
— Estou cansado desses idiotas achando que podem me tocar, Bruce. — Adônis
falou. — Vamos fechar o circo para Ettore, pegar todos os seus homens e
também suas famílias. Ele foi longe demais achando que poderia pegar algo
meu.
— Morto. — Adônis afirmou com frieza. — Nada de traidores ao meu redor, mas
mandei resgatar a família dele — disse. — Fique de olho neles e tenha certeza
de que não sabem da máfia, caso contrário, sabe o que deve ser feito.
— Sim, chefe.
— E...
— Para casa dormir. — Adônis repetiu desta vez, mostrando que não aceitaria
desculpas. — Quantas noites sem dormir direito?
Bruce saiu sem olhar para trás, concordando que Apolo era um idiota.
Mas sorriu ao passar a língua no lábio inferior, não se importava em usar o batom
tirado diretamente da boca dela.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Rita sentou em sua cadeira depois que Bruce entrou para a sala de Adônis, ela
sabia que eles iriam demorar em reunião. Deixou a agenda pronta para atualizar
o chefe e viu que teriam uma visita da decoradora ainda àquela manhã. Caso
Bruce demorasse muito, o responsável pela decoração iria ter que esperar.
Pietro disse assim que assumiu seu posto ao lado da porta de Adônis.
— Ela vai tomar um chá de cadeira. — Pietro disse confirmando o que já sabia.
Voltou sua atenção ao seu notebook por alguns segundos até que o elevador
apitou suavemente avisando que pararia no andar. Rita prendeu a respiração ao
ver a figura que saiu de dentro. Caminhava com o nariz empinado ao lado de um
dos seguranças do prédio, como manda a regra.
Talita Agnelli.
Mau humor encheu Rita e suas feições endureceram. Não tinha a menor
paciência para lidar com Talita depois da noite anterior. Viu que ela ficou
surpresa ao vê-la sentada a aguardando, mas logo tinha se recuperado.
Continuou caminhando em sua direção com ar de superioridade.
Rita odiou a forma em que pronunciou seu nome, mas não se deixou ser
humilhada.
— Pode aguardar ali. — Rita apontou para a sala de espera com uma enorme
satisfação.
Talita lhe deu um olhar frio antes de se virar e caminhar com o mesmo ar de
superioridade que chegou.
— Perdi alguma coisa? — Pietro perguntou baixo. — O que foi essa troca de
farpas assassinas?
Pietro a lembrava de Josh com suas infinitas perguntas e besteiras que dizia.
Rita não o respondeu, era como colocar gasolina na fogueira, ele nunca pararia
com as perguntas.
— Quer que eu a chute pra fora? — perguntou. — Não gosto de pessoas que se
acham melhor do que os outros.
Quase uma hora depois Bruce saiu do escritório. Rita olhou em sua direção e se
surpreendeu ao encontrar um leve sorriso em seus lábios.
— Querida, eu...
Ele começou a dizer, mas se calou quando seu olhar varreu a sala de espera e
encontrou Talita. Suas feições endureceram, seus ombros rígidos e suas costas
restas. Parecia em alerta e ficou pior quando a mulher lhe deu um sorriso
superior.
Rita o encava com fascinação, ele parecia ter crescido uns dez centímetros em
sua posição de pronto para o ataque. Bruce voltou a encarar Rita, seus olhos
estavam frios.
Ela segurou para não estremecer, o cassino tinha virado uma zona de guerra e
precisaria de muitas reformas.
— Não precisa...
A cortou.
Rita acenou sabendo que não adiantava teimar com Bruce, principalmente, no
trabalho. Ele voltou para dentro do escritório e alguns minutos depois ela recebeu
uma ligação avisando que estavam na sala de reuniões. No escritório de Adônis
tinha uma porta de acesso para a sala de reunião.
Rita abriu a porta e deixou que ela passasse primeiro. Logo após entrou e fechou
a porta. Na mesa estavam Adônis e Apolo e atrás deles, como um cão raivoso,
Bruce.
Rita ficou surpresa pelo tratamento dele. Talita tinha ficado pálida, parecia não
saber encarar a frieza do olhar de seu chefe e lidar com sua voz grossa. Rita
segurou para não rir, apontou onde Talita deveria se sentar e depois se sentou
ao lado de Adônis.
A reunião começou tensa, porém, logo tornou profissional. Apolo ditava suas
ideias que logo era discutida com o irmão. Já que Adônis gostava de um estilo
mais discreto e Apolo não negava ao luxo e extravagâncias. Talita acompanhava
tudo atenta e dava suas ideias.
Entretanto, havia dois fatos que conseguia deixar Rita irritada. Primeiro, o fato
de que Talita sempre desviava seu olhar para Bruce e sorria de forma
provocativa, flertando com ele sem esconder suas intenções. Segundo, a cada
fala tinha uma provocação para Rita. Era como se fosse superior a ela, por Rita
ser uma secretária. O olhar de Talita mostrava que não acreditava que Rita
merecesse ser secretária executiva dos homens que estavam naquela sala.
O sorriso que apareceu nos lábios de Apolo fez Rita querer tremer. Descobriu
que aquele sorriso travesso, em algumas situações, significava que iria fazer
alguma maldade.
Talita ficou tensa, era fácil ver que ela não esperava por aquela pergunta. Talvez
tenha pensado que os Albertini seriam tão arrogantes como ela. Rita admirou
como ela recuperou o controle de suas emoções rapidamente. A encarou de
forma desafiadora, provocando a dizer.
— Pelo que entendi, vocês se conhecem da escola de Josh. — Apolo disse como
se fosse muito próximo do filho de Rita.
Talita o olhou confusa, como se não entendesse como ele poderia saber daquilo
já que não disse.
— Esse homem com cara de cão raivoso é o nosso chefe de segurança. — Apolo
brincou por um segundo explicando e depois fez seu rosto ficar frio. — Ainda
estou confuso, como ela pode ser de uma classe baixa se vocês frequentam o
mesmo lugar.
— Oh, por favor, não se confunda — disse desdenhosa. — Não gosto dela e da
forma como cria aquele pobre garoto. O menino é quase um selvagem, agrediu
um colega da turma com um soco no olho...
— Querida, só estou falando à verdade que não quer ouvir, um pai firme e duro
o iria ensinar bons modos — disse.
Suas mãos começarem a tremer com a fúria que se formava em seu peito. Talita
estava atravessando limites que não deveria. Rita nunca entendeu o motivo da
implicância dela, nunca deu motivos. Mas agora percebeu que não precisava de
motivos, Talita gostava de espalhar seu veneno por aí para se sentir melhor.
Rita respirou fundo antes de afastar sua cadeira, começou a dar a volta na mesa
determinada a acabar com aquela mulher ofensiva. Nunca deu liberdade a ela
para se meter em sua vida pessoal, era o momento de colocar um ponto final
naquela história.
Rita não parou, continuou andando devagar até a mulher. Seu corpo tremia de
raiva a cada passo que dava.
Não precisou de muito para Rita agir, as ofensas ainda repetiam em sua mente
como um mantra. Era a última vez que Talita iria humilhá-la. Em um piscar de
olhos, a mão de Rita se ergueu e acertou um forte tapa no rosto de sua rival.
Talita gritou quando o rosto flamejou. Antes que pudesse reagir outro tapa veio,
com a mesma força, e outro. Ela tropeçou para trás e Rita agarrou seu cabelo
pela nuca.
— Quando for ofender alguém, pelo menos saiba se defender antes! — disse
bradou.
— Você ainda não me viu louca — avisou. — Não fale nunca mais do meu filho,
não ouse dizer algo do meu marido — ordenou furiosa. — Não fale da minha
família.
A mulher tinha um olhar arregalado e ofegava quase que sem entender o que
estava acontecendo.
— Essa é a última vez que eu lhe dou um aviso, Talita, na próxima eu mesma
vou fazer questão de enterrar seu corpo morto — ameaçou. — Porque é isto que
vai acontecer se continuar a ofender a memória do meu Rodrigo ou por insultar
meu Josh — tremeu. — E nem se atreva a dizer algo do meu Bruce. Nem mesmo
olhe na mesma direção dele, ou que Deus te ajude, porque eu vou lhe bater até
a morte.
Rita deu um passo atrás e Pietro passou por ela, não tinha visto o homem entrar
na sala. De forma quase que rude, ele se abaixou, agarrou o braço de Talita
trazendo-a em seus pés.
O tom de voz de Pietro fez Rita estremecer, aquele tom calmo e frio nunca
significava boa coisa. As portas se fecharam e foi a última vez que ela olhou para
Talita.
O som de palmas a vez virar em seus pés, Apolo ria e aplaudia como se tivesse
visto um show de talentos emocionante.
Adônis tinha um sorriso malvado nos lábios, também parecia ter apreciado o
show.
E Bruce?
De repente, tudo aquilo estava sendo demais para Rita. A raiva incontrolada a
levou ao limite e sentia-se pronta para deixar uma enxurrada de lágrimas saírem.
Se enrolar em algum lugar e não sair até que tudo volte ao seu lugar.
Tudo se acumulava dentro dela a sufocando aos poucos. Olhar para aqueles
homens depois de ter ameaçado a vida de uma pessoa a levou ao pânico.
Percebeu que mesmo que fosse para defender sua família ela estava se
acostumando com as brutalidades da máfia.
...
Bruce estava orgulhoso de Rita, mas agora se sentia preocupado ao vê-la correr
para fora. A gargalhada de Apolo se calou e Adônis continuou quieto. As cadeiras
dos dois se viraram para Bruce no mesmo instante.
— O que ainda está fazendo aqui? — Apolo perguntou sem deixar de sorrir.
— Diga isto só por você. — Adônis completou interrompendo o irmão que revirou
os olhos.
— Ela está em pânico com a raiva que sentiu. — Apolo explicou e Bruce
começou a se mover para ir atrás de Rita. — Tire suas roupas e acalme ela, não
me decepcione Bruce — gritou.
— Rita — murmurou.
Ele caminhou para dentro e no armário pegou uma toalha branca. Segurou os
ombros de Rita e a virou para ele, a dor em seus olhos o fez se sentir mal. No
entanto, não se afastou. Desejava cuidar dela.
Outro soluço saiu de seus lábios e Bruce a abraçou, dando-lhe o conforto que
precisava. Pegou Rita em seus braços e caminhou com ela, chorando baixinho
em seus braços, até o elegante sofá que tinha no canto.
— Eu bati nela.
— E ameacei.
— Ameaçou — confirmou.
— Não precisa se justificar, querida, se você não fizesse algo eu faria — garantiu.
— Você está certa em defender quem ama. Ninguém vai julgá-la por isto.
Ela chorou mais alto desta vez e se agarrou ao corpo de Bruce como se fosse
sua tábua de salvação. Ele ficou ali, com Rita em seus braços, segurando-a e
mostrando que não iria a lugar nenhum.
E quando enfim Rita se acalmou, Bruce ergueu seu rosto e limpou as marcas de
lágrimas.
— Não se sinta mal por defendê-los, querida, está tudo bem — garantiu. — Eu
vou ter a certeza de que nunca mais precise encontrar com aquela mulher —
prometeu. — Não vou permitir que ninguém te ofenda ou te faça chorar.
Entendeu?
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Ela entendia e acreditava que ele faria de tudo para protegê-la. A intensidade de
seu olhar mostrava o quanto era sincero em suas palavras, quando garantiu que
nunca iria permitir que alguém a ofendesse ou fizesse chorar novamente. Atrás
de suas promessas também havia uma ameaça de quem a ferisse, física ou
mentalmente, sofreria em suas mãos.
A primeira roupa a cair foi o tradicional terno preto que ele usava todos os dias.
Depois que passou por seus fortes braços, foi descartado no chão. Bruce desfez
o nó de sua gravata sem desgrudar os lábios exigentes dos de Rita. Puxou o
tecido pela gola que teve o mesmo destino que o terno.
Rita não o ajudou a se despir, suas mãos estavam grudadas nos cabelo da nuca
de Bruce. Aproveitando que ele estava deixando os fios crescerem para puxá-
los enquanto se exploravam em um beijo enlouquecedor.
Antes que percebesse, Bruce já tinha se livrado da camisa social preta e sua
pele levemente bronzeada estava exposta para suas mãos. Uma mão de Rita
largou o cabelo e apertou a massa de músculos do braço dele.
Um gemido alto foi ouvido e Rita custou a perceber que o barulho veio dela.
Bruce tinha rasgado a fina renda de sua calcinha e a arrancado de seu corpo.
Outro gemido de pura satisfação saiu de sua garganta. Os grossos dedos dele
a acariciaram espalhando a umidade que se fazia presente no meio de suas
pernas, devido ao tamanho de sua excitação.
Rita puxou sua boca para longe da dele e o olhou com os olhos nublados pelo
prazer em tê-lo massageando seu clitóris inchado. Quando um dedo deslizou
para dentro dela Rita gemeu alto.
— Bruce — choramingou.
— Sim, querida.
Ela não conseguiu concluir o que estava dizendo, Bruce tinha puxado seu dedo
para fora e deslizado dois de volta para dentro dela. Rita se segurou mais forte
a ele com medo de cair, por se perder no meio do mar de prazeres, quase que
insanos, que se sentia.
Sentiu a respiração dele em sua pele exposta e se arrepiou. Antes que tivesse
tempo de protestar ou falar algo, Bruce já estava com sua boca sobre ela. A
atacando com tamanha maestria que fez Rita jogar a cabeça para trás e morder
os lábios, impedindo a si mesma de gritar com o prazer.
Ele era implacável, enquanto a chupava duro e firme, e seus dedos trabalhavam
rápidos dentro dela.
O nome dele escapou de seus lábios inúmeras vezes como um mantra, tentando
memorizar cada toque de sua boca em sua pele. Mas chegou em um momento
que não podia mais se segurar, o prazer era tanto que chegou a ser doloroso.
Mais uma vez o nome dele saiu de sua boca enquanto explodia em um orgasmo
intenso, talvez o mais intenso que já teve. Estremeceu fortemente com as
sensações inundando seu corpo e um arrepio atravessou sua pele fazendo-a
perder o ar.
Antes que pudesse se recuperar, viu Bruce se levantar já puxando sua boxer
para baixo. Ele ergueu suas pernas, para abraçarem sua cintura, segurou suas
coxas e em um só golpe entrou nela. Rita segurou seus ombros e mordeu com
força os lábios para não gritar. Bruce puxou o quadril e o empurrou com força
novamente para dentro dela. Os dois gemeram. Ele não parou. Balançou cada
vez mais forte e mais rápido contra Rita. Estavam presos um no outro, nada mais
importava. Somente a conexão de tinham. O prazer. O leve suor. A respiração
falha. O corpo dele a invadindo. E o dela o recebendo. Não havia nada que
pudesse os separar ou diminuir os sentimentos que inflavam entre eles naquele
momento tão íntimo.
— Rita.
Quando Bruce rosnou seu nome, soube que ele estava por um fio. Agarrou o
cabelo da nunca dele e então o puxou para um beijo. O mesmo beijo duro em
que eles começaram iria terminar. Ele a engoliu com a boca e suas línguas
batalharam em uma dança sensual.
Rita foi à primeira em encontrar o prazer, mas desta vez foi mais suave. Duas
estocadas a mais e Bruce se derramou dentro dela com um gemido rouco, ele
estremeceu ao senti-la se apertar em sua volta.
— Amo quando sorri. — Rita sussurrou ainda com os olhos nublados de prazer.
Ele escorregou os dedos pelo rosto dela e agarrou os cabelos de Rita com
carinho.
Rita demorou um tempo para raciocinar sobre o que ele havia dito. Seus olhos
brilharam com a declaração que acabou de ouvir e com a sinceridade que via
nos verdes cinzentos de Bruce.
Era o que mais gostava nele, sempre que se falavam, ele a olhava nos olhos e
demonstrava ser sincero em cada palavra que a dizia.
— Eu também o amo.
Ela respondeu deixando que ele se sentisse aliviado por ouvir sua declaração
sincera. Bruce sorriu novamente e voltou a beijá-la. Rita correspondeu ao beijo
e o sentiu endurecer novamente dentro dela, porém, algo a fez congelar no lugar.
— Rita? O que foi, querida? — perguntou quando sentiu a tensão do corpo dela.
— Camisinha.
O sussurro dela quase não pôde ser ouvido, mas Bruce entendeu o porquê ter
paralisado. Sentiu-se endurecer ainda mais quando apreciou o calor molhado
dela sem o látex para atrapalhá-lo. Nunca tinha feito sexo sem camisinha, mas
Rita o levava à beira da insanidade tirando dele qualquer pensamento sensato e
responsável.
Não se arrependeu.
De repente, ela saiu de seu estado de choque e queria afastá-lo, mas Bruce não
se moveu.
— Eu a quero desde o primeiro dia em que a vi entrar neste prédio para uma
entrevista de emprego — confessou. — Mas você era casada e tinha um filho
pequeno. Eu a desejei desde sempre, mas nunca me aproximei, não queria
atrapalhar sua vida e muito menos a trazer para o meu mundo — disse. — Isto
foi anos atrás e hoje eu ainda te quero, a diferença é que eu te quero para mim
todos os dias. Você já conhece o mundo em que nasci e o homem que me tornei.
— Bruce...
— Vamos fazer o seguinte, prometo usar camisinha sempre, mas você não vai
tomar nenhuma pílula agora — propôs.
— Bruce...
— Bruce, eu vou fazer trinta anos, não tenho mais idade para ter outro filho —
protestou.
Bruce voltou a beijá-la fazendo com que esquecesse o motivo da discussão entre
eles. Rita gemeu quando ele balançou de leve contra ela.
— Bruce...
Não pode mais falar, Bruce estava incontrolável quando começou a estocar
rápido contra ela. Batendo em cima do ponto mais sensível de seu corpo.
Fazendo com que cedesse.
Como prometido, Bruce foi rápido em levá-los ao prazer e muito eficiente em ter
a certeza de que ela gozasse novamente. Quando se derramou dentro dela, mais
uma vez naquela manhã, desejou que fosse suficiente para engravidá-la. Já que
prometeu usar camisinha nas próximas vezes e ele nunca quebrava uma
promessa.
Mesmo com a impaciente vontade em tê-la de todas as formas, como sua mulher
e esposa, como mãe de seus filhos, como sua. Bruce sabia que tinha que
desacelerar, ela tinha sofrido muito quando ficou viúva e estava acostumada a
ser sozinha. Ele iria mostrá-la que as coisas mudaram, que não era mais
sozinha, que o pertencia.
Um sorriso que ela aprendeu a apreciar a cada vez que recebia um. Nunca era
um sorriso aberto demais, era sempre pequeno e discreto, mas que fazia seu
coração bater cada vez mais rápido e apaixonado ao notar que ele sorria
somente para ela.
— Vou, Adônis ordenou que eu fosse para casa dormir um pouco — resmungou.
Bruce fez um carinho em seu rosto e ela fechou os olhos apreciando o gesto.
Ele a beijou mais uma vez, mas desta vez foi delicado e cuidadoso. Caminharam
para fora de mãos dadas e Bruce parou na frente do elevador, levantou seu olhar
e encontrou Pietro sorrindo para ele.
— Fique longe de Pietro também, ou vou ser obrigado a dar uma surra nele —
disse sem esconder o ciúmes.
Rita estava organizando sua mesa no final do expediente e tentando não dar
ouvido para as besteiras que Pietro dizia.
— Cale a boca. — Ela pediu tentando não pensar nos acontecimentos daquela
manhã.
— Ela ainda deve estar tentando entender qual foi o caminhão que a atropelou
— brincou.
Desta vez, Rita não conseguiu resistir e riu alto concordando com as besteiras
de Pietro. Ainda se sentia surpresa por ter ficado com tanta raiva, mas não podia
negar a graça do fato.
— Espero que o rosto dela queime o dia inteiro, para aprender que ninguém
mexe com meu filho — disse.
Eles riram e desviaram o olhar para o elevador quando as portas se abriram. Rita
prendeu a respiração quando de lá saiu o homem que tem abalado seus dias.
Bruce.
— Pronta, querida?
— Sim.
— Ela tem razão, você é um idiota, mas um idiota que vai sair daqui carregando
os dentes se não parar de sorrir. — Bruce ameaçou.
— Uma pena que ela não tirou esse seu mau humor. — Pietro brincou.
A voz de Adônis encheu a sala deixando todos surpresos, menos Bruce que
tinha o visto se aproximar.
Ele olhou para Bruce e depois para Rita, reprimiu um sorriso gostando que os
dois, enfim, estavam se acertando.
— Rita?
Ela pensou em protestar, mas Adônis não aceitaria não como resposta. Se Giulia
queria que ela fosse almoçar no domingo com eles, então, ela iria, nem que fosse
amarrada.
— Ficar dando ordem para pessoas e sair sem ouvir o que elas têm a dizer. —
Rita disse e jogou as mãos para cima em um gesto irritado.
Poderia estar juntos a menos de dois dias, mas os sentimentos que tinham um
pelo outro eram sinceros e foram alimentados por muitos anos.
— Quero você.
— Quero você.
— Não aqui, não me olhe assim — ordenou. — Nem pensar, vamos logo antes
que me ataque.
Bruce gemeu frustrado, sentia-se duro e louco para ter o corpo nu de Rita sobre
ele. Mas ela estava certa.
— Vamos.
O tom duro dele mostrou a Rita que seu costumeiro mau humor estava de volta,
mas Rita não se importou, achava atraente sua cara fechada e somente sorriu
concordando. Desceu do carro e Bruce fez questão de pegar em sua mão,
entrelaçaram seus dedos e caminharam para dentro. Rita não protestou, mas
também não era como se fosse adiantar alguma coisa. Sabia que ele não era
homem de perder uma briga facilmente e ela não estava a fim de estragar o
momento de paz entre eles.
— Filha?
Rita sorriu e abraçou a pai fazendo o peito de Bruce inchar ao ver como era
carinhosa. Seu pai retribuiu o abraço do mesmo modo e sorriu para ela.
— Claro que iria vir, é o meu garoto que vai jogar. — Marzio disse e desviou o
olhar para Bruce.
Marzio o olhou por alguns instantes e Bruce não se intimidou com seu olhar de
pai avaliador. O deixou encarar por quanto tempo quisesse, nada faria Bruce
desistir de Rita. Quando o homem na sua frente sorriu, o alívio foi instantâneo.
— Muito prazer, Bruce. — Marzio disse. — Vejo que alguém restaurou o coração
da minha menina.
— Pai!
— Pai!
— Quê? Eu não sou cego e nem burro, Rita, você não traria alguém para ver
Josh se você não estivesse namorando com ele. E Josh também me disse
algumas coisas...
Bruce desviou o olhar para o homem calado atrás do pai de Rita e sorriu de forma
maldosa, hábito que pegou depois de sua convivência com Adônis e Apolo.
Pode desejá-la, mas ela é minha. Pensou enquanto o encarava e fechou sua
expressão para mostrá-lo que era melhor nem tentar tocar no que o pertencia.
Bruce acenou com a cabeça e aceitou sua mão, mas o que Frank não esperava
era que ele apertaria com força.
Rita ficou confusa ao ver os olhos de Frank arregalar e então desviou seu olhar
para Bruce, que tinha uma expressão fria no rosto. Ainda sem entender, ela
olhou para as mãos deles que se apertavam e entendeu o motivo. A grande mão
de Bruce espremia os dedos de Frank, um segundo depois ele a soltou e não
disse nada.
Ela respirou fundo antes de olhar novamente para o homem ao seu lado.
— Bruce! — repreendeu-o.
— Quê? Não tenho culpa se ele não aprecia um bom aperto de mãos.
A cara de paisagem que Bruce fez, foi o que mais irritou Rita. Ele tinha feito de
propósito e não precisava ser nenhum gênio para chegar a essa conclusão.
Puxando o ar com força tentou controlar a vontade de acertar o rosto dele
algumas vezes também para ver se aprendia a não ser tão ridículo, possessivo,
ciumento, idiota... e lindo.
— Se fizer isto, eu vou te arrastar para algum lugar nessa escola e vou te foder.
— Então, acho bom fazê-lo manter as mãos longe de você, Rita — avisou. – Ou
eu vou arrancá-las e vê-lo sangrar até a morte.
Bruce viu o medo nos olhos de Rita, tentou se arrepender, mas não sentia
nenhum pouco de arrependimento pela ameaça. Jamais permitiria que outro
homem a tocasse e vivesse. Ele faria muito mais do que arrancar as mãos do
homem, o faria sofrer muito.
— Você sabe quem eu sou e o mundo que vivo, Rita — disse. — Sempre vou
cuidar e proteger de você, mas não acredite que o que sinto por você me fará
mudar, mataria qualquer um que tente tocar no que é meu. E você é minha!
Sorriu de leve para Rita e segurou sua mão ao ver que o seu pai estava
retornando, acompanhado de Frank. Marzio se sentou ao lado da filha e entregou
a ela pipoca, ofereceu a Bruce, que recusou, conversaram enquanto esperavam
o início do jogo. Frank ficou em silêncio observando o gramado e Bruce interagiu
com o sogro em alguns momentos.
— Santo Cristo, vou ficar surdo assim. — Marzio protestou e Rita olhou para ele
sorrindo.
— Jamais — afirmou e assoviou alto olhando para o pai, que fez uma careta.
Rita voltou a olhar para o campo, assoviou e gritou pelo filho, que logo achou a
mãe. Balançou a cabeça e sorriu com seu jeito espontâneo.
O jogo ficou empatado no final, mas valeu a pena cada segundo. Assim que o
juiz apitou, Josh correu para abraçar a mãe. Rita abriu os braços e o recebeu
com um grande aperto quando ele se jogou sobre ela. Bruce manteve uma mão
nas costas dela para que não caísse e sorriu ao ver que Marzio tinha feito à
mesma coisa.
— Você é terrível, mama — disse e levantou a mão para Bruce. — E aí, Bruce?
Os dois bateram as palmas e Rita sorriu, gostando daquela interação entre eles.
Ele sorriu orgulhoso e foi abraçar o avô, que o recebeu da mesma forma que a
mãe, com um grande abraço de urso. Josh também bateu na mão de Frank e
depois se afastou dizendo que iria tomar um banho no vestiário e voltaria logo.
Bruce abraçou Rita pela cintura enquanto ela conversava com o pai. Frank se
afastou um momento depois dizendo que logo voltaria.
— Ótima ideia pai, principalmente, de que não vou precisar cozinhar. — Rita
respondeu animada.
— Bom, vou buscar uma garrafa de água — disse. — Estou quase morto de
sede depois de toda essa gritaria.
— Vamos te esperar aqui. — Rita falou ao pai e ele acenou concordando antes
de se afastar.
Bruce segurou a cintura de Rita e a puxou, ficando com o corpo colado ao dele.
Ele fez um carinho em seu rosto e colocou uma mecha de seu cabelo para trás.
Rita sorriu e abraçou seu pescoço, gostava de quando ele era doce e carinhoso.
O que mais a encantava era seu tom de voz e o olhar sincero. Ela sabia que
Bruce não era homem de muitas palavras, às vezes quase nenhuma palavra,
mas que se esforçava para se comunicar melhor com ela.
— Você é lindo — disse a ele que sorriu de leve, o mesmo sorriso discreto de
sempre que amava ver.
Acompanhou seu olhar descer para seus lábios e um segundo depois sentiu seu
beijo. Fechou os olhos e apreciou a delicadeza em que era beijada. Foi um beijo
curto, mas que valeu cada segundo.
Quando ele abriu os olhos o desejo de prolongar brilhava nos seus olhos verdes
cinzentos, porém, um segundo depois, o corpo de Bruce ficou tenso e seu olhar
frio quando encontrou algo atrás dela.
Rita se virou rápido sabendo que alguma coisa estava acontecendo, pela a
mudança rápida de Bruce. Encontrou o motivo correndo em sua direção. Josh.
Ele estava de banho tomado, carregava sua mochila e tinha um rosto tomado
pelo pânico.
Ele se jogou em seus braços e a abraçou com força. Rita quase caiu ao se
desequilibrar em seus saltos, mas Bruce a segurou.
— Ele tentou me pegar na saída do vestiário... já que fui o último a sair... quando
me agarrou... pisei no seu pé com força e depois... dei uma cotovelada no
estômago... ele me soltou e eu corri para cá.
Josh acenou com a cabeça e viu Bruce tirar o celular e correr na direção que
indicou. A saída. Rita voltou a puxar Josh pelos ombros e o abraçou forte. Sua
mente tinha travado assim que ouviu o nome do homem que a queria morta.
— Desculpe — murmurou.
Seu olhar varreu o corpo do filho para saber se ele estava bem.
— Bruce não deveria ter ido atrás dele. — Josh disse preocupado.
— Bruce?
— Tem certeza?
— Sim, eu tenho — afirmou. — Se ele fosse pra guerra, seria o próprio tanque
— brincou tentando aliviar a tensão.
Rita sorriu e tornou a abraçá-lo, desta vez sem tanta força. Somente queria senti-
lo em seus braços e voltar a ter a paz em saber que seu filho estava bem.
Alguns minutos depois viu Bruce se aproximar com o rosto tenso e o andar
perigoso, as pessoas saíam do caminho dele sem que pedisse.
Rita respirou aliviada em ver Bruce de volta, mesmo sabendo que ele poderia se
virar muito bem sozinho. Também se sentiu mais leve ao ver que o humor do
filho tinha voltado e a expressão de pânico havia sumido do seu rosto.
— Ele sumiu, tem muita gente aqui, fica fácil se misturar. — Bruce informou.
— Estarei pronto para pôr minhas mãos sobre ele. — Bruce garantiu fazendo o
garoto relaxar. — Fez bem em acertá-lo e correr para um lugar cheio.
Josh acenou e Bruce se abaixou para ficar no mesmo nível que ele.
— Mas...
Bruce pediu para que ele se calasse quando levantou uma mão.
— Está vendo os cincos homens de terno preto igual o meu atrás de mim?
— São meus homens, eles estarão por perto enquanto outros procuram por
Ettore. Ele não vai ficar muito tempo escondido, porque eu vou pegá-lo —
prometeu. — Não vamos preocupar mais ninguém com esse assunto, está bem?
— Enquanto isto, evite ficar sozinho e sempre tenha o celular contigo — instruiu.
— Ligue-me caso tenha qualquer coisa estranha por perto, vou chegar a você
ou a sua mãe o mais rápido que puder — prometeu.
— Vou fazer isto. — Josh afirmou.
— Bom. — Bruce se ergueu. — Vamos achar seu nonno e o idi... Frank para
irmos comer em algum lugar.
Josh deslizou seu olhar de Bruce para seu nonno e encontrou Frank, então,
prendeu o riso.
— E desde quando você não está com fome garoto? — Frank perguntou.
— Não sei, diria que quando durmo, mas eu sonho com comida também —
brincou fazendo todos rirem.
Sabia que não demoraria para Ettore se aproximar de novo. Seu foco ficou maior
em Rita, agora não se importava se ela contaria algo ou não.
Bruce só estaria aguardando o momento em que ele seria imprudente, para fazer
Ettore se arrepender do dia que nasceu.
Bruce sorriu.
— Sim.
— Meu pai se alistou e foi para guerra, mas eu me neguei a isto. — Marzio
contou. — Não queria ver mortes tão de perto. — Marzio disse.
Cada vez que ouvia a voz do homem, sua vontade de socá-lo aumentava.
— Franco.
— Nunca errei um alvo — disse calmo, mas outra ameaça estava em suas
palavras, quando desviou o olhar para Frank que o encarava sério.
Conversaram mais um pouco até que o celular de Bruce tocou, ele olhou o visor
um segundo e no outro já tinha colocado em seu ouvido.
— Chefe.
Todos olharam para Bruce, ele ouviu o que Adônis tinha para dizer sem modificar
suas feições e desligou sem dizer nada. Na verdade, Adônis desligou, ele
sempre fazia isto. Ligava, dava ordens e desligava sem esperar por respostas.
— Bruce...
Rita quase ofegou quando o carro cantou pneu e acelerou pelas ruas.
— Como o seu chefe sabia que ele estava aqui? — Josh perguntou curioso.
— O senhor Albertini sabe até quantas vezes Bruce respira por dia — respondeu
e revirou os olhos sabendo que Adônis tinha o controle de cada pessoa ao seu
redor.
— Esse cara se chama Bruce, e sim, estou com ele — afirmou. — Algum
problema com isto?
— Nenhum — garantiu.
— Bom.
Josh sorriu ao ver como sua mãe era uma fera para proteger quem gostava. E
só agora parou para observar as reações de Frank, acabou concordando com
Bruce. Ele estava sendo um idiota com suas perguntas e olhares.
Josh sabia que Frank estava interessado em sua mãe, mas ela nunca o deu
esperanças. Gostava de Frank, mas isto não significava que ele podia agir como
um babaca. Sua mãe estava feliz e isto tinha que ser somente motivos de
alegrias para eles.
...
Bruce pulou para fora do Jeep assim que foi freado bruscamente e entrou na
caminhonete que o aguardava. Victor dirigia e Roy estava no banco de trás com
as armas.
— Vamos fazer alguns furos. — Roy disse animado e lhe passou uma máscara.
Bruce colocou sobre o rosto e pegou a metralhadora que Roy ofereceu. Em
silêncio, conferiu a potente arma que tinhas nas mãos, mesmo sabendo que seus
homens já tinham feito aquilo.
“Mandei alguém te busca, tem vinte minutos para fazer o que mandei e poderá
voltar para sua mulher.”
Ele suspeitava de algo e foi confirmado assim que entrou no carro. Pedro o
informou que o detetive não era mais útil, sua fonte de informações vinha de
Ettore e naquele momento estava de guarda na frente de um dos galpões de
Adônis, fazendo tocaia.
O local era distante de casas e quase não tinha movimento, o homem tinha
colocado o carro debaixo de uma árvore fora da estrada e só estava aguardando.
Bruce apoiou um joelho no banco e abriu a janela dois segundos antes do carro
frear. Sabia que Roy também estava posicionado. Eles abriram fogo, juntos. Seu
corpo nem sequer balançou com a potência dos disparos. Firmou as mãos ainda
mais sobre a arma, enquanto acabavam com o carro e com a vida do detetive.
Ele e Roy garantiram que não sobrasse nenhum espaço sem furo na lataria do
sedan.
Victor acelerou para longe, fazendo a volta para encontrar com o Jeep que
levaria Bruce de volta para a pizzaria.
Bruce devolveu a arma para Roy e começou a tirar a roupa. Limpou as mãos
para apagar os resquícios de pólvora e vestiu um terno limpo, seus homens eram
eficientes e sabiam que ele voltaria para Rita.
Outros homens iriam limpar a cena do crime e jogar o corpo morto do homem
em algum lugar. Poderia ter matado o detetive de outra forma, mais discreta,
mas aquele era um jeito de informar aos seus inimigos quem manda na cidade.
— Valeu, cara.
Roy gritou assim que Bruce pulou para fora da caminhonete e entrou no Jeep
onde Pedro dirigia.
Bruce desviou o olhar para o garçom que trazia a pizza sobre uma pedra.
Ele tinha chegado a tempo de acompanhá-los para a refeição, pediu uma bebida
sem álcool e beijou Rita. Ela olhou em seus olhos tentando descobrir o que tinha
ido fazer, mas Bruce não demonstrou nada, como sempre. Ele somente piscou
para ela e voltou sua atenção ao garçom que lhe serviu uma fatia de pizza.
O que foi um alívio ver que ele manteve seu controle, mas isto não significava
que Bruce não estaria pronto para ir atrás de Frank mais tarde.
— Mama?
— Sim.
— Ele me contou hoje, estava triste porque a mãe dele o deixou, mas disse que
ela não o tratava bem — explicou.
— Acho que ele vai ficar bem com a nonna, sua mãe o tratava mal e ele é um
cara legal. — Josh disse.
— Talvez seja o melhor para ele. — Rita disse sem desviar os olhos de Bruce.
Ela sabia que ele tinha algo a ver com aquele assunto.
— Eu?
— Bruce. — repreendeu-o.
— Maldade é ela maltratar aquele garoto — afirmou. — Ele vai ficar bem sem
ela, e não, eu não fiz nada com ela — deu de ombros. — Talvez algumas
ameaças, ordens diretas de Adônis — defendeu-se. — Ele a expulsou da cidade
depois de descobrir algumas coisas erradas que fez por aí.
— E por acaso ele pode expulsar alguém da cidade? — perguntou ainda brava.
Bruce somente ergueu uma sobrancelha como se aquela fosse à pergunta mais
idiota que já ouviu.
— Sim.
— Todo mundo tem esqueletos no armário e o dela não era nada bonito — disse.
— Sonegação de impostos, traía o marido e outras coisas que foi possível
chantageá-la para sair da cidade e não voltar mais.
Rita encostou a cabeça no descanso do banco, cansada.
— Que dia! – murmurou. — Ou melhor, que semana! Parece que não vai acabar
nunca.
Ela o olhou e permitiu que a beijasse. Começou devagar e lento, para se tornar
quente e necessitado. Mesmo não querendo admitir, Rita sabia que nunca mais
seria a mesma depois de deixá-lo tocá-la.
— Tem certeza?
Pareceu surpreso.
— Vai mesmo me dar tempo para pensar se eu o quero ou não você na minha
cama a noite toda comigo?
— Vamos — afirmou.
— Tem certeza que quer que eu fique? — perguntou não querendo causar
nenhum mal-estar entre eles.
— Tudo bem, vou no carro pegar uma roupa e fazer algumas ligações.
Ele beijou-a devagar e lento antes de voltar a sair da casa em direção ao carro.
— Filho?
— Mas...
Ela se moveu na cama, levantando de leve para encarar o filho nos olhos.
— Eu sempre vou amar seu pai — disse baixo. — Rodrigo foi meu primeiro amor
e era totalmente diferente de Bruce. O que tive com seu pai foi um amor leve e
suave que fazia bem para minha alma — explicou amorosa. — Mas isto não quer
dizer que eu não possa amar mais ninguém — disse emocionada. — Meu
coração sempre vai ter espaço para mais um amor.
— Intenso — respondeu e sorriu. — Seu pai sorria e falava fácil, era divertido e
bem-humorado. Totalmente contrário da personalidade de Bruce. — Seu sorriso
aumentou. — Nunca vi um homem tão mal-humorado na minha vida.
— Ele sempre chamou minha atenção por causa disto, sempre calado e fechado
— contou. — Era praticamente a sombra de Adônis e aquilo me intrigava. Eu
poderia fazer mil e uma perguntas que ele não me responderia — sorriu. — Se
respondesse seria com uma irritante resposta monossílaba.
— Você sempre vai ser meu bebê — afirmou e apertou as bochechas dele.
— Sim, o deixe ficar e o coloque para dormir — disse. – Acho que ele nunca
dorme, daqui uns dias vai virar um zumbi — brincou.
— E vai fazer parte da família zumbi sugadora de sangue que estamos nos
tornando.
— Como eles são chatos — riu e se levantou. — Você está bem? Precisa de
algum remédio para dor muscular?
— Estou bem.
— Bom — beijou a testa dele. — Boa noite, querido.
Rita saiu do quarto do filho aliviada por ter tanta liberdade em conversar com ele.
Entendia os seus receios e medos, chegou até mesmo a cogitar a ideia de pedir
para Bruce ir embora. Achando que tinha se precipitado.
Ela já tinha superado o luto há muito tempo e agora estava pronta para outro
relacionamento. Mesmo achando que poderia ser loucura, já que Bruce não
conhecia o significado da palavra devagar. Dois dias juntos e eles já haviam feito
sexo loucamente, ele afirmou que queria compromisso sério com ela, e também
existia a possibilidade de uma gravidez. Já que não tinha usado camisinha
quando estiveram juntos naquela manhã.
Rita acreditava estar enlouquecendo pelo simples fato de que ainda não tinha
pirado e aceitado tudo com tanta facilidade.
— Sim — afirmou.
— Posso ir...
— Ele está bem, só estava com receio de que seu pai fosse esquecido — contou.
— Expliquei que isto nunca seria possível — sorriu. — Então, meu filho de doze
anos que parece um adulto me mandou te colocar para dormir, porque acha que
você nunca fez isto, e que a qualquer momento vai virar um zumbi também —
brincou.
Rita riu e eles ficaram em silêncio, até que a curiosidade despertou Bruce.
— Sim.
Rita ficou tensa e sentiu Bruce afagar suas costas, respirou fundo e decidiu
responder. Afinal, Bruce sempre contava tudo sobre sua vida e merecia o
mesmo.
— O que aconteceu?
— Eu me perdi no meio da dor que senti, meu luto foi forte, quase morri de tanta
tristeza. Cuidava do Josh no automático com a ajuda do meu pai, que também
estava sofrendo — murmurou. — Um dia meu corpo não aguentou, fui internada
e fiquei alguns dias lá para me recuperar. Então, minha ex-sogra aproveitou para
ficar um pouco com Josh. No momento eu não me importei, já que não esperava
que ela fosse fazer o que fez.
— Ela juntou todas as coisas dele e o levou embora para Nova York, onde mora
até hoje — disse e raiva brilhou em seus olhos. — Quando descobri o que
aconteceu movi céus e terras para buscá-lo, mesmo ainda imersa no luto. Meu
pai usou seus contados e um advogado foi comigo buscá-lo. No início se negou
a devolvê-lo, a polícia considerou sequestro de menor. Não sei como ela
conseguiu levá-lo sem a autorização devida, mas isto não importa — disse firme.
— Fui e peguei meu menino, mas antes de sair de lá eu lhe dei uns bons tapas.
— Sim, aquela vaca — xingou. — Meu advogado lhe deu uma ordem de
restrição, ela nunca mais pôde se aproximar do meu filho até que ele tenha
dezoito anos e decida o que quer — afirmou. — Mas ela deu uma ferrada na
mente de Josh — suspirou. — Disse a ele que eu não o queria mais. Que meu
amor pelo pai dele era maior do que o que sentia por ele. Ele era só um bebê
que não entendia muito as coisas, mas que passou pelo acidente... o carro que
explodiu na frente de nossos olhos... e vem aquela mulher roubar meu filho.
— Ela nunca mais voltou?
— Tentou no início, mas quando viu que eu não iria ceder, ela desistiu.
— Bom.
Levantou a cabeça ao ver uma luz fraca pela fresta da porta e então ouviu alguns
passos leves. Sentiu-se tenso por um momento e até mesmo pensou em pegar
sua arma, mas não o fez. Se fosse alguém tentando matá-los, seria mais
cuidadoso com passos e não acenderia a luz. A porta se abriu devagar e lá
estava a pessoa que fez o barulho que o acordou.
Josh.
Bruce se lembrou de que Rita ordenou que ele usasse pelo menos a boxer, já
que tinha a certeza que Josh apareceria no quarto em algum momento. De início
não entendeu, então, ela explicou que o medo que ele sentiu ao quase ser pego
por Ettore o traria a sua cama quando acordasse. Ela vestiu uma camisola de
ceda rosa claro e se aconchegou a ele, logo caiu no sono por causa da exaustão,
depois de três rodadas de sexo intenso. Eles tinham sido cuidados em trancar a
porta e não fazer muito barulho enquanto namoravam, mas depois de se
vestirem ela destrancou a porta.
O movimento na cama chamou sua atenção, Josh deitou ao lado da mãe. Como
se soubesse, ela o aconchegou ainda dormindo.
O silêncio ficou entre eles por alguns segundos até que Josh voltou a falar.
— Bruce?
— Sim?
— Por quê?
— Ele não foi um bom pai — murmurou.
— Eu sinto falta do meu pai, mas quase não me lembro dele — divagou. —
Estranho isto, sentir falta de algo que não se tem memórias.
— Não é estranho, ele foi um bom pai para você e querer que ele não tenha ido
é normal. — Bruce o confortou.
— Minha mãe sempre diz que ele me amou muito quando era vivo.
— Sim.
— Sério?
— Tudo bem, posso viver com isto — disse. — Sabe por que eu não me importo
de que namore minha mãe?
Bruce ficou em silêncio surpreso com o rumo que aquela conversa no meio da
madrugada, com o filho da mulher que ele ama e que passou horas fazendo
sexo, estava tendo.
— Sentir?
— Sim, nem que seja raiva — brincou e Bruce sorriu. — Ela não tinha brilho e
há alguns meses isso mudou, você a mudou.
Eles ficaram quietos até que Bruce sentiu a respiração de Josh mudar,
comprovando que ele estava dormindo. A cama ficou um pouco sem espaço com
o novo corpo sobre ela, mas Bruce nunca se sentiu tão bem quanto naquele
momento. Jamais negaria a ele a oportunidade de deitar na cama da mãe,
também não ocuparia o lugar de seu pai.
Sabia que eles nunca deixariam de amar Rodrigo, mas havia espaço para um
novo amor ali.
Um novo relacionamento.
Bruce estava disposto a dar o seu melhor para que desse certo.
...
Bruce acordou assustado por não lembrar direito onde estava ainda inerte de
sono. Deparou-se com uma cama vazia e lembranças vieram em sua mente.
Suspirou sabendo que sobreviveu a uma noite com Rita, e Josh grudado nela.
Rolou para fora ainda surpreso pelo sono pesado que teve, coisa que não
acontecia há muitos anos.
— Buongiorno.
— Oh, merda. — Bruce xingou percebendo que ainda tinha um trabalho a zelar.
— Nunca dormi tanto na minha vida, não ouvi as mensagens do chefe — disse
e fez uma careta fazendo o garoto ao seu lado se divertir com a situação.
— Sim.
— Claro.
Tomaram o desjejum juntos e tranquilo. Bruce fez algumas ligações e depois foi
jogar com Josh, depois de muita insistência sua mãe permitiu.
Adônis tinha dado a ele o dia de folga e Bruce apreciou isto. Não sabia quando
foi a última vez que tirou uma folga e esperou que Pietro tivesse bastante
trabalho para compensar as horas que ele o perturbava.
Bruce passou o dia na companhia de Rita e Josh, jogou algumas partidas com o
garoto e beijou Rita várias vezes escondido. Os levou ao mercado e depois
pararam para tomar um gelato próximo à casa dela.
Quando anoiteceu, Bruce esperou Josh ir dormir para então ter o que tanto
esperou por todo o dia.
Levou-a para cama e fez amor com ela por incontáveis horas até que seu celular
tocou e precisou sair para o trabalho. Rita não gostou muito de ser deixada
depois do que fizeram em sua cama, mas entendeu que não tinha como lutar
contra aquilo. Deu uma chave reserva para ele, assim quando terminasse, o que
foi fazer, poderia voltar para sua cama.
Rita sorriu sabendo que estava o provocando. Ficou quieta por um minuto e
depois se remexeu contra ele.
— Rita.
Agora ele não parecia tão sonolento, sua voz veio com um tom de aviso e ela
gostou da sensação de perigo que soou. Esfregou-se mais contra ele e sentiu a
mão de Bruce segurar sua coxa, a puxou contra seu corpo duro. Contudo, não
durou muito, ele a soltou logo e se inclinou sobre ela.
— Eu vou te foder.
Rita sorriu animada e deixou que ele fizesse o que queria com ela. Estava a sua
mercê. Apesar do rosto marcado pelo sono, Bruce tinha um olhar quente.
Mais tarde ela saiu do quarto deixando um Bruce completamente morto em sua
cama. Ele parecia cansado e Rita se sentiu um pouco culpada por ter o
provocado, aquele sentimento não durou muito.
Rita estava mais do que satisfeita sabendo que valeu cada segundo em que ele
a beijou, cada canto do seu corpo, a levou a beira da loucura tomando-a de forma
selvagem.
O cheiro dele a fez sorrir, gostava do perfume masculino e o frescor que tinha.
Bruce a beijou de leve e bagunçou os cabelos de Josh.
— Preciso sair, volto em uma hora para buscar vocês — avisou.
— Acho que não, mas estou indo chutar o traseiro de um idiota — respondeu.
Rita olhou para o filho que ainda ria e tentou não rir.
— Ah, mama.
— Não pense em chamá-lo para bater em alguém ou vai ficar de castigo até
completar vinte anos.
Ele riu e os dois seguiram naquela conversa por mais um tempo, antes de irem
se arrumar para o almoço na casa de Adônis e Giulia.
Bruce retornou no tempo estipulado e teve que esperar Rita se arrumar, algo que
ele já deveria ir se acostumando se quisesse continuar com o relacionamento.
Ela demorava muito para se aprontar e Josh não ficava atrás, o garoto demorava
em sair do chuveiro e era muito vaidoso.
Esperar era uma coisa que ele não estava acostumado. Sempre foi pontual e
nunca se atreveu em deixar Adônis esperando. Quando, enfim, Rita desceu ele
esqueceu tudo e somente se importou na bela mulher que tinha ao seu lado.
O almoço na casa do chefe da máfia foi tranquilo e animado. Coisas que Rita
nunca imaginou que seria. Ver Adônis e Apolo em um ambiente tão familiar como
aquele, a surpreendeu. Claro que ela já tinha presenciado situações deles com
suas esposas e filhos, até mesmo frequentado suas casas quando eles não
estavam, tinha se tornado amiga de Giulia e Milena, mas vê-los completamente
relaxados era algo que nunca imaginou.
Foi muito bem recebida por Giulia e sua sogra, dona Jianna. Depois de tantos
anos de trabalho na construtora, Rita já conhecia todos e se sentiu muito à
vontade entre eles. Menos no momento em que Apolo contou a todos como foi
que ela chutou Talita para fora do prédio na sexta-feira. Josh ficou um pouco
surpreso, mas depois sorriu pedindo mais detalhes do que havia acontecido.
Claro que Apolo não negou, narrou tudo e até acrescentou coisas a história.
O momento em que Apolo não riu muito foi quando Marion e Frontin começaram
a perturbá-lo por ser pai de uma menina agora. Sim, Milena está grávida de
quase quatro meses e gerava uma linda menininha. Claro que Apolo estava
animado com a notícia, mas também paranoico. Não escondeu o fato de que sua
filha seria colocada em um internato de freiras e cada vez que um garoto
respirasse ao lado dela ele iria matá-lo por tamanha ousadia. Adônis concordou
com o irmão e garantiu que a mesma coisa ia ser feita com Lilian, mas ele não
deixou de provocá-lo dizendo que Apolo pagaria todos seus pecados com juros
e correção monetária nas mãos de sua pequena princesa.
Quando a tarde chegou, ela voltou para casa se sentindo cansada, mas era um
cansaço bom. Há muitos anos não se divertia tanto, uma leveza encheu seu
coração e ela pode dormir tranquila sabendo que teria uma longa semana de
paz.
— Josh!
Bruce quase estremeceu quando Rita gritou pelo filho. Ele respirou devagar e
levou a xicara nos lábios, o sabor do cappuccino o ajudou a relaxar. Havia se
passado pouco mais de um mês que estava namorando Rita, e desde então,
nunca mais teve uma manhã silenciosa.
A primeira e mais difícil coisa que teve que se adaptar era a falta do silêncio. Os
dois sempre estavam animados demais para uma manhã. Não importava qual
dia fosse, sempre teria conversas e risos. No entanto, Bruce não reclamava.
Tudo aquilo preenchia um vazio que ele nem sabia que tinha dentro de si.
A segunda coisa que teve que se acostumar era com os atrasos pelas manhãs.
Algo inevitável. Rita enrolava na cama até o último minuto possível e Josh se
esquecia do mundo quando estava tomando banho. Não havia nada que
pudesse ser feito para mudar aqueles hábitos e pelo jeito também não adiantaria
muito.
Um pequeno sorriso se formou nos lábios dele quando percebeu que não trocaria
aquela nova rotina nem por um milhão de dólares. Estar perto de Rita fazia
qualquer outra coisa perder a importância.
Durante esse tempo que se passou, ele dormiu quase todas as noites na cama
dela e não houve outro episódio com Josh invadindo o quarto de madrugada.
Acreditava que o garoto tinha realmente se assustado naquele dia, por isto,
precisou se sentir mais seguro durante a noite, no que seria na cama da mãe.
— Joshua! – gritou. — Se não descer em um minuto, não vou mais permitir que
viaje com a escola — ameaçou.
Encontrava-se tão distraído em seus pensamentos que não percebeu que Rita
estava pronta para arrancar as duas orelhas do filho, que ainda não tinha
descido.
— Ele vai descer, querida — disse baixo e descansou sua xícara na bancada.
— Estamos atrasados, ou melhor, você está — disse. — Tinha que chegar mais
cedo hoje e não vamos conseguir.
— Mas...
Ele a interrompeu.
— Nada de “mas” hoje, ele vai viajar com a escola e vai se divertir — disse firme.
— Conversamos sobre isto.
— Sei que está preocupada, mas não tem o porquê. — Bruce afirmou.
— Eu quero que se divirta, mas que seja inteligente — disse firme. — Nunca
fique sem seu celular ou esqueça-se de verificar a bateria. Não fique sozinho em
nenhum lugar, esteja sempre acompanhado de seus amigos e professores —
instruiu. — Se ver algo estranho, corra para perto de seus amigos e vá para um
lugar seguro.
— Josh — disse calmo. — Se ele aparecer você vai me ligar e correr para os
seguranças que estarão te olhando.
Bruce pegou o celular e mostrou as fotos dos homens que seguiriam Josh.
— Esses são Pedro e Victor — apontou. — Eles vão estar por perto garantindo
que esteja seguro. Se a merda vier a baixo, você corre para eles — ordenou. —
E se ainda assim eles estiverem feridos você entra no carro e se tranca lá. Todos
os meus carros são blindados e vai estar seguro até que eu o alcance —
prometeu.
— Não, eu não acho — afirmou. — Você já sabe o que fazer, no mais somente
se divirta.
— Ok — murmurou.
Rita voltou sua atenção para outra coisa. Queria acreditar que Josh ficaria bem,
mas não conseguia. Saber que ele passaria três dias longe dela não lhe trazia
nenhum conforto. Além de que, seu lado mãe protetora estava ligado no máximo.
Não queria aceitar que seu filho estava crescendo tão rápido e já não dependia
mais tanto dela.
Foram para o carro e deixaram Josh na escola depois de Rita repetir tudo o que
Bruce tinha dito a ele na cozinha. Quando voltou a entrar no carro a sessão de
choro começou e Bruce foi obrigado a parar em algum lugar para acalmá-la.
Rita acabou confessando que estava mais chateada por se separar dele. Depois
de doze anos sempre cuidado do filho e a forma em que superaram a morte de
Rodrigo juntos, os deixou ainda mais unidos, era difícil se separar. Mesmo que
fosse somente por três dias. Ela não queria que ele crescesse, mas entendia
que não podia prendê-lo a ela para sempre. Josh precisava crescer longe de
suas asas. Rita entendia, porém, como toda mãe coruja, não queria aceitar
aquele fato tão facilmente.
Depois de meia hora sendo consolada e ouvida por Bruce, eles enfim puderam
ir para a construtora. O dia de trabalho foi longo e passou devagar, a cada duas
horas ela recebia uma mensagem de Bruce afirmando que estava tudo bem com
Josh. Rita apreciou seu gesto, saber que ele estava bem acalmava seu coração.
No fim do expediente, Rita foi para casa com Dânio. Bruce tinha ligado e avisado
que não poderia acompanhá-la. Estava ocupado com algo, que ele não disse o
que era, mas afirmou que voltaria para dormir com ela em seus braços.
Rita não escondeu que ficou aliviada, não queria enfrentar a casa sozinha sem
a presença do filho. Seria bom tê-lo para distraí-la, seus nervos de ansiedade
estavam acabando com ela.
Tomou um longo banho quente e vestiu uma camisola de seda branca que ia até
seus pés. Escovou os cabelos com calma, tentado ignorar a aflição de estar
sozinha. Quando não tinha mais nada para fazer no quarto, desceu e foi para
cozinha preparar algo para comer.
Logo após ficou um pouco na sala assistindo qualquer coisa que lhe prendia um
pouco de interesse. Quando isto não funcionou, se arrastou de volta para seu
quarto e tentou dormir.
Acabou adormecendo somente por meia hora e abriu os olhos de novo sentindo-
se impaciente. Levantou e no escuro da casa desceu de volta para cozinha.
Pegou um copo e abriu a geladeira. Pegou a garrafa de leite e derramou o
conteúdo no copo. Guardou e fechou a geladeira. No escuro da cozinha, se
encostou na ilha e tomou a bebida devagar.
Precisava subir e pegar seu celular para ligar para Bruce, no entanto, o barulho
do clique na porta informou que não tinha mais tempo.
Rita caminhou devagar para um canto e aguardou. Um segundo depois sua porta
fez o costumeiro barulho irritante de quando é aberta, mostrando que precisava
ser lubrificada em alguns pontos.
A luz de fora iluminou um pouco e ela viu um homem entrando com uma arma
na mão. Segurou para não tremer ao detectar o rosto coberto para não ser
identificado.
O homem deu três passos para dentro, passando sem perceber que ela
espreitava. Rita, pulou em suas costas e afundou suas facas no corpo dele. O
homem gritou em agonia deixando sua arma cair no chão. Rita em completo
desespero puxava e afundava as facas afiadas nas costas dele.
Não sabia dizer quantas vezes o esfaqueou, mas quando o homem caiu para
frente e se esparramou no chão na cozinha, ela estava completamente trêmula
e ofegante.
Antes que pudesse piscar novamente algo a puxou e a empurrou para baixo.
Uma de suas facas caiu de sua mão e a outra enfiou no braço do seu agressor.
Ele gritou de dor e ela se debateu quando teve as mãos imobilizadas.
— Sua vadia.
Arrepios passaram por sua pele e ela respirou com dificuldade, por causa do
peso em cima dela.
Ettore.
Rita o olhou, teve dificuldades para vê-lo direito por causa da falta de luz, mas o
brilho fraco que vinha do lado de fora dava para reconhecê-lo. Uma barba cheia
cobria seu rosto e seu cabelo loiro foi pintado para uma cor escura.
Entretanto os olhos, os olhos eram os mesmos frios e sem muita emoção que
ela conhecia.
— Vejo que não tem medo de mim — disse. — Quero ver até quando.
— Eu não vou a lugar nenhum, sem antes garantir que você não respire mais —
afirmou.
— O.o..o que você quer de mim? — gaguejou. — Nunca lhe fiz mal, nem mesmo
te conhecia. Porque...
Ele gargalhou e inclinou mais seu corpo sobre o dela tirando o ar de seus
pulmões com o peso.
— Queria que fosse minha informante quando me aproximei, mas você nunca
me deu muita brecha — disse. — Tentei isto por três fodidos meses e você não
me deu nenhuma informação. Tanta perca de tempo para nada! — exclamou
furioso.
Rita arfou em busca de ar quando Ettore segurou seus punhos com uma mão e
a outra se fechou em seu pescoço.
— Percebi isto, poderia ter deixado para lá — rosnou. — Mas um dia vi aquele
cão de guarda da máfia te seguindo.
Rita estava em pânico, completo pânico para ser mais exato. Percebendo as
intenções dele de machucá-la primeiro, ela voltou a lutar pela sua vida. Mesmo
quase não conseguindo respirar gritou alto e se debateu tentando salvar a si
mesma de um fim cruel.
Bruce! Gritou em sua mente esperando inutilmente que ele a ouvisse e viesse
logo em seu socorro.
...
Bruce não desviou o olhar da tela tentando entender o que estava acontecendo.
Sabendo que era uma emergência grave, Malone chamou por Adônis.
Bruce não escutou mais o que foi dito, discou o número de Dânio e levou o celular
em seu ouvido. Chamou até cair à ligação, aquilo fez um arrepio passar por sua
coluna. Ligou novamente e de novo não obteve respostas.
Encontrou seu olhar e não se afetou com a violência que via em suas
expressões.
— Vamos para o norte e nos dividir, quero os homens vivos para ter algumas
respostas. — Adônis ordenou.
Bruce respirou devagar quando viu Adônis dar um passo ameaçador em sua
direção.
— Tem algo errado — disse sério e isto fez Adônis parar. — Dânio não atende
o celular e agora esse ataque.
— Apolo vá para o galpão com uma equipe, estou indo com Bruce até a casa de
Rita com outra — ordenou.
A casa de Rita parecia mais longe do que se lembrava. Bruce nunca tinha rezado
em sua vida, ou se alguma vez já o fez, não lembrava. Contudo, agora ele
implorava aos céus para que não fosse tarde demais. Não poderia viver se
precisasse enterrá-la. Já havia dito isto a Rita algumas vezes e era a mais pura
verdade. Não poderia. Medo o agarrava da forma mais desesperadora possível.
Como uma tentativa de se agarrar a uma falsa esperança, ele ligou para o celular
dela diversas vezes por todo o caminho, ansioso para que o atendesse e que
tudo não passasse de paranoia sua. Ele iria respirar aliviado e depois daria uma
surra em Dânio, por fazê-lo quase ter um ataque cardíaco com o medo de
encontrá-la morta. Sem contar que apanharia de Adônis por afrontá-lo, mas
valeria a pena se encontrasse Rita bem e viva.
Seu coração batia tão violento em seu peito que não duvidou da hipótese de
sofrer algo quando ele parasse de bater por exaustão.
Ele estava tão envolvido com o que planejava fazer com Rita que não percebeu
a presença dos homens em suas costas. Bruce caminhou para frente e deu uma
coronhada forte na nuca de Ettore. A frieza dentro dele não permitiu que
apertasse o gatilho. Precisava se vingar lhe dando uma morte lenta e muito
dolorida. Puxou o homem pelo cabelo e o jogou do outro lado da cozinha.
Bruce a viu hiperventilar em pânico. Acompanhou seu olhar para um corpo morto
que ainda sangrava no impecável chão branco de sua cozinha. Ele não sabia o
que sentir, estava entre o alívio e o medo. Alívio de ter chegado a tempo para
encontrá-la com vida e medo por ela ter matado um homem, talvez nunca seja
capaz de se recuperar.
O medo e pânico em seus olhos deixou Bruce aflito, ele se agachou devagar
perto dela para não assustá-la mais, já que parecia perdida em seu próprio
medo.
CAPÍTULO VINTE E OITO
Porém, lidar com o fato de que matou um homem e quase foi morta por outro é
ainda pior. Era como se vivesse em um pesadelo do qual nunca fosse capaz de
acordar.
Quando fechava os olhos podia ver cada vez que suas mãos empurraram
aquelas facas nas costas do bandido que invadiu sua casa. Ainda sentia o calor
morno do sangue em suas roupas e do pânico sentido ao percebeu que Bruce
não chegaria a tempo para ajudá-la.
Era como se já tivesse com um pé do lado do mundo dos mortos, não haveria
mais volta. Não existiria outra chance. Todas suas esperanças tinham
escorregado por entre seus dedos.
A voz suave de Bruce ao falar com ela ainda marcava sua memória.
Estava mesmo tudo bem? Era uma pergunta que não se calava enquanto
hiperventilava em pânico.
Ele foi sábio em não tocá-la sem sua permissão, naquele instante não sabia se
podia entender que não era seu inimigo.
Mas como acreditar naquilo depois dos longos minutos de completo desespero
que passou?
Ela fez o que ele pediu. Respirou devagar e diminuiu o ritmo até normalizar sua
respiração, sem desviar seus olhos dos dele em nenhum momento.
Ele a colocou debaixo do chuveiro e ela não se lembrava de quando e nem como,
Bruce retirou sua camisola e as roupas dele. Rita foi completamente obediente
em não desviar os olhos. O encarou o tempo todo, tinha a certeza de que a água
que escorria de seu corpo tinha uma tonalidade vermelha intensa.
Sabia que ele lavou sua pele e teve a certeza de que não tivesse nenhuma gota
de sangue sobre ela. Assim como também garantiu que não tivesse nenhum
machucado grave que precisasse de assistência médica. Sem mesmo perceber,
Bruce tinha a vestido com moletom e camiseta.
Depois, Rita se lembra de estar dentro de um carro no colo dele seguindo para
algum lugar longe da sua casa. Somente percebeu que estavam no apartamento,
que ele a levou depois do cativeiro, algum tempo depois. Lá, ele a carregou para
cama e ficou ao seu lado até que Milena entrou carregando sua maleta médica.
Ela tinha feito questão de atender a Rita, para ter a certeza de que ficaria bem.
Em todo o tempo, Milena falava e pergunta coisas a ela, mas Rita somente
conseguia balançar a cabeça em resposta. Nem se quer se lembra do que foi
perguntado.
...
Bruce não esqueceu nenhum momento do pesadelo que Rita estava vivendo.
Observou Milena fechar a maleta e se levantar.
— Ela está em choque, não deixe que fique sozinha por muito tempo — disse
preocupada.
— Não sei, Bruce, ela não tem machucados físicos, mas ainda está em um
grande estado de choque — suspirou. — Aconselharia levá-la a um psicólogo ou
algo do tipo quando a barreira emocional dela se romper.
— Sim, infelizmente, eu acho — afirmou. — Por isto precisa ficar ao lado dela.
Ele acenou e observou Milena sair do quarto. Adônis apareceu na porta e lhe
deu um breve aceno de cabeça antes de sair do apartamento.
Bruce ficou ali com Rita em seus braços a noite toda. Ela não fechou os olhos
em nenhum momento e aquilo o angustiava cada vez mais. Quando amanheceu,
ele cochilou por alguns minutos e quando acordou, ficou assustado por ela não
estar na cama ao seu lado.
Correu para o banheiro, onde encontrou Rita encolhida dentro da banheira seca.
Parecia que ela somente se deitou lá e se deixou quebrar. Sentindo os olhos
úmidos, Bruce se aproximou devagar e sentou dentro da banheira. Puxou o
corpo magro e frio de Rita para seu colo permitindo que ela chorasse em seus
braços.
Aquele foi o momento mais íntimo e perturbador que ele já teve em sua vida.
Ouvindo o choro dolorido dela e as confissões dos seus medos e pânico do que
aconteceu em sua casa. Mesmo sabendo que tudo que fez era para sobreviver,
Rita não podia se conformar com a brutalidade em que atacou o homem pelas
costas.
Bruce não tinha o que dizer para confortá-la, somente ficou ao seu lado e lhe
deu todo o apoio que precisava.
Ela não respondeu, estava mais uma vez perdida em seus pensamentos.
Não queria voltar para sua casa, lá existiam lembranças demais para aguentar.
— Tudo bem, no caminho vamos pegar Josh na casa do seu pai — informou. —
Sabe que vai precisar conversar com ele, não é mesmo?
No sábado de manhã, Marzio tinha ido falar com Rita e vê-la, já que também foi
informado do que tinha “acontecido”. Ele estava realmente preocupado com a
filha e ficou ainda mais em ver seu estado de espírito.
Bruce os levou dali direto para a casa que ganhou de Adônis. Era ao lado da
dele e dividiam o mesmo muro. A casa era usada somente como saída de
emergência caso fosse preciso e estava desocupada há muitos anos. Giulia,
Milena, Sonia e Jianna tinham trabalhado o fim de semana inteiro para mobiliar
a mansão inteira, para que ficasse confortável e familiar para receber Rita e Josh.
Ele já tinha mandado recolher todas as coisas dela e de Josh na sexta mesmo,
antes de levá-la de lá para o apartamento. Se Rita tivesse dito que queria voltar
para casa dela, daria um jeito de persuadi-la a dizer o contrário. Aquele tinha
sido o último dia em que viveriam separados e não existia ninguém no mundo
que pudesse separá-los.
Ao entrar na casa não repararam muito nas coisas ao redor, somente foram para
o quarto principal. Rita se deitou com o filho na cama apreciando a presença
dele. Bruce não se importou, parecia estar se juntando para Josh e aquilo fazia
bem a ela. Ele os deixou sozinhos e foi fazer algumas ligações.
Quando voltou para o quarto, Rita tinha adormecido. O que foi de grande alívio
para Bruce, já que ela mal tinha dormido nos últimos três dias. Josh a abraçava
carinhosamente e Bruce sorriu de leve ao ver o tamanho do amor entre eles.
Sentiu-se um pouco nostálgico e se lembrou de sua mãe. Ela não foi a melhor
mãe do ano, mas ele não tinha dúvidas que ela o amava. Ainda se lembrava dos
seus carinhos e do sabor dos biscoitos que fazia para o chá da tarde. Foi uma
boa mãe, mas sempre escolhia o padrasto em vez do filho, e isto o machucou
muito.
— Sim.
Bruce ficou em silêncio por um tempo pensando no que responder ao garoto, até
que decidiu que ele merecia uma explicação mais clara. Josh era um bom filho
e sempre queria o melhor para a mãe, merecia seu respeito e sinceridade.
Josh acenou e com cuidado desceu da cama. Seguiu Bruce para fora do quarto
e pararam na sala do segundo andar. Sentaram-se um na frente do outro. Bruce
pensava em como explicar a ele de uma forma suave o que tinha acontecido.
— Tudo bem — disse. — Os meus chefes, Adônis e Apolo, são homens muito
ricos e importantes na cidade. — Bruce começou hesitando um pouco,
procurando pelas palavras certas. — E isto atrai muitos inimigos.
— Sim, ele viu em sua mãe uma possibilidade de ter informações confidenciais
da construtora — explicou.
— Então foi por isto que ele se aproximou, pensou que minha mãe divulgaria
informações a ele — afirmou pensativo.
Josh sorriu.
— Ettore se aproximou com essa intenção e tentou por um tempo, até que eu
percebi a presença dele — segurou um suspiro. — Como chefe de segurança
sei cada passo que os funcionários dão, para evitar que coisas deste tipo
aconteçam — explicou. — Ele me viu o seguindo e decidiu que teria que... hum...
matar sua mãe para que ela não contasse de sua aproximação.
Josh ficou tenso, mas continuou calado.
— Ele tentou algumas vezes, mas eu não permiti que tivesse êxito em suas
tentativas — contou.
— Por isto Dânio sempre estava por perto e você também. — Josh afirmou.
— Não, ela me disse que percebeu que tinha alguém invadindo a casa, então,
pegou duas facas e esperou o invasor passar. Viu que ele tinha uma arma e
tampava o rosto. Ela agiu na adrenalina e atacou o homem o esfaqueado —
contou. — Ettore apareceu depois e quase a machucou se eu não tivesse
chegado a tempo.
Bruce rosnou com raiva, Ettore ainda não estava morto, mas estaria em alguns
dias, assim que se vingasse. Não iria parar tão rápido de fazê-lo sofrer. Adônis
tinha lhe dado a liberdade para torturar o homem e ele faria com um enorme
prazer.
— Ela está assim por que... matou... alguém? — Josh perguntou com a voz falha.
— Sim — afirmou.
Josh suspirou.
— Lidar com a morte nunca é fácil, Josh — disse. — Quando matei meu primeiro
homem, ainda no exército, fiquei mal por longos dias, eu sabia que a guerra
sempre era movida por interesses políticos. Motivos idiotas — contou
calmamente. — Eles se desentendem e se acham no direito de iniciar uma
guerra para imporem suas vontades. Matam qualquer um que não concorde com
seus termos, ou até mesmo quem não tem sua nacionalidade, crença, opção
sexual ou outras coisas. A primeira e segunda guerra mundial acabaram há
muito tempo, mas ainda existe muita guerra em países que não tem tanta
importância para o resto do mundo. — Bruce explicou.
— Acho que se os grandes presidentes quisessem poderiam acabar com esses
conflitos. — Josh disse pensativo.
— Claro que eles poderiam, tem força e dinheiro, mas não faria bem para a
política e economia. Muitas vezes eles não intervêm porque é de puro interesse,
o comércio de armas e munições é milionário — esclareceu.
— Claro que passei, por mais de três dias e às vezes quando fecho meus olhos
ainda lembro-me de como nosso acampamento ficou. Parecia uma cena vinda
direto do inferno. — Bruce se calou e suspirou. — Isto vai acontecer com sua
mãe, ela não vai esquecer o que aconteceu. A lembrança sempre vai estar em
sua mente, pesadelos, medos. — De repente Bruce parecia cansado. — Ela vai
precisar de nós dois nesse período, ela vai superar, mas talvez demore um
pouco para isto.
Bruce entrou em casa depois de resolver alguns problemas e não encontrou com
nenhum dos dois pelo caminho. Foi até seu quarto e não os encontrou na cama
também, mas ouviu a voz baixa de Rita vindo do closet.
Caminhou devagar para dentro e parou na porta. Josh e Rita estavam sentados
no chão de costas para ele e não perceberam sua aproximação.
— Esse dia foi incrível. — Ela disse e levantou uma foto. — Passamos o dia
inteiro em um parque e no final passamos mal de tanta besteira que comemos.
— Também, depois de cinco voltas na montanha russa não tem estômago que
aguente — disse ainda rindo.
Josh riu junto com ela e vasculhou a caixa com as lembranças que estavam
guardadas há tantos anos.
— Essa foi de quando eu nasci. — Ele disse lhe mostrando outra foto.
— Oras, por ele ter me engravidado — respondeu e riu alto. — Foi extremamente
doloroso e no final eu não aguentei, mandei fazerem uma cesariana logo e me
livrasse daquele sofrimento.
— Mas, mãe...
— Eu vive muitos anos com seu pai, ele foi meu primeiro amor desde a
adolescência. Não preciso destas fotos para me lembrar dele, filho — disse
emocionada. — Fique com elas e guarde o seu pai para sempre contigo.
— Obrigado, mama.
— Sim, vamos fazer novas lembranças com Bruce. — Rita afirmou e beijou a
testa de Josh.
Ela acabou percebendo a presença de Bruce e sorriu para ele. Bruce não se
moveu, ele estava paralisado em ver seu sorriso. Não tinha percebido o quanto
sentia falta de quando ela sorria.
— Acho que estou com essa mesma cara de bobo. — Rita disse rindo.
— Acho que deveríamos tirar aquela foto agora. — Josh disse e estendeu o
celular.
Os três se juntaram e tiraram uma selfie. Todos sorrindo, até mesmo Bruce que
quase nunca sorria, tinha um aberto sorriso para aquela foto. Era o momento em
que tudo estava ficando para trás, eles estariam trilhando um novo caminho
juntos.
Se seria fácil?
Bruce continuaria sendo um homem da máfia, duro e cruel, mas também protetor
e mal-humorado. Rita sempre seria destrambelhada, faladeira e uma fera
quando preciso, mas com um coração enorme.
E Josh? Continuaria a demorar no banho até que um dia sua pele caísse, mas
manteria o costumeiro bom humor e a perspicaz de sempre.
Fim!
EPÍLOGO
Parece uma pedra de gelo. Pensou e sorriu de leve quando ela agarrou suas
costas.
Murmurou algo em seu sono, que ele não entendeu. Logo, Bruce, sentiu um leve
empurrão nas costas. Seu filho. Rita estava grávida de sete meses e o garoto já
era bagunceiro em seu ventre. Seu lado protetor inflou um pouco mais, eles
agora eram sua família. Sua prioridade. Seus para proteger e amar.
— Joshua!
— Não me mande ficar calma! — gritou. — É a terceira vez essa semana que
encontro seu quarto parecendo uma zona de GUERRA.
Bruce tinha parado atrás de Josh tentando entender o motivo de tanto estresse.
— Esse pirralho! — exclamou furiosa. — Ele acha que sou empregada dele! Está
precisando de umas palmadas e ficar de castigo pelo resto da vida. — Seu rosto
estava vermelho de raiva. — Se ele continuar rindo Bruce, vai ter que levá-lo ao
dentista! Porque vou fazer um estrago nele — ameaçou.
— Já disse que vou arrumar. — Josh protestou ainda sorrindo.
— Se me mandar ficar calma de novo, vai levar as chineladas que nunca tomou...
Rita não conseguiu concluir, colocou uma mão na boca e saiu correndo para o
banheiro mais próximo. Vomitou tudo o que tinha no estômago e para o
desespero de Bruce e Josh, desmaiou.
Josh riu dele por dias em lembrar-se da cara de pânico que fez.
Depois daquela notícia, sua vida virou uma loucura enquanto Rita provava que
grávidas poderiam ser loucas por comida, sexo e com suas mudanças de humor.
Precisou trazer uma senhora para trabalhar em casa e ajudar sua mulher com
as tarefas domésticas. Josh não fazia mais tantas bagunças e os dois se
revezavam em cuidar dela.
Quando descobriu que esperavam um menino, ela logo o quis chamar de Dânio.
Era uma pequena homenagem ao segurança que tanto zelou por ela e Josh,
mas que acabou morto pela covardia de Ettore.
Rita tinha chorado muito quando soube que ele tinha sido morto. Quando
descobriu que ele não tinha família e nem filhos, quis que seu bebê se chamasse
Dânio. Bruce não se opôs, também ficou triste com a morte do rapaz, além de
que ele nunca seria capaz de negar algo a Rita.
De homem da máfia a pau mandado. Pensou ele ainda deitado em sua cama.
Esse era seu destino e não tinha como voltar atrás, nem mesmo queria. Casou-
se com Rita quando ela completou cinco meses de gestação. Claro que depois
de muito persuadi-la. O fato de colocar uma aliança no dedo dela e lhe dar seu
sobrenome, enfim, afastou Frank. Ele não aceitou muito bem o fato de Rita não
o querer e foi preciso Bruce lhe fazer algumas ameaças. Coisa que ele não
contou a sua mulher ou ela teria o decapitado. Rita ainda se sentia um pouco
triste por Frank ter se afastado, gostava dele e o considerava seu amigo, mas o
homem não foi capaz de superar seus sentimentos frustrados.
Depois de ser chutado mais uma vez nas costas por seu filho, que ainda estava
no ventre da mãe, Bruce acabou cedendo e levantando. Tomou um banho rápido
e foi treinar um pouco antes que sua esposa acordasse.
...
Rita soube o exato momento em que Bruce se levantou, mas estava com muito
sono para acompanhá-lo. Seu bebê se mexia muito e ela tentava ignorar para
que conseguisse mais algumas horas de sono.
Depois de meia hora virando de um lado para o outro, ela também acabou se
levantando.
Tomou um banho e depois foi ao quarto de Josh. Viu o filho dormindo e lhe deu
um beijo na testa antes de sair. Pegou um café que Maria lhe ofereceu e seguiu
para sala de treinamentos onde sabia que iria encontrar o marido.
Parou na porta assim que o avistou, somente com uma calça de moletom,
fazendo abdominal pendurado no grande saco de pancadas.
Suas pernas fortes estavam presas ao redor das correntes que seguravam o
saco de pancadas e ele estava de cabeça para baixo. Suas mãos atrás da nuca
enquanto forçava o corpo para cima em seu exercício abdominal. Uma leve
camada de suor cobria sua pele, seus músculos estavam mais rígidos e
evidentes, seu maxilar trincado e o rosto vermelho.
Bruce largou o corpo para baixo e olhou para ela do ponto em que estava
pendurado.
Sentia-se feliz.
Depois de tudo o que passou, ela conseguiu dar a volta por cima. Josh e Bruce
foram os grandes responsáveis por não ter se perdido em desespero e pânico.
Ainda não tinha esquecido que tirou a vida de uma pessoa, mas a cada dia que
se passava superava mais um pouco. E foi assim todos os seus dias, vivendo
um de cada vez e com calma.
Gerar outro filho também lhe trouxe mais forças, mais determinação e muito mais
amor. Não precisava de mais nada na vida, ela tinha tudo o que queria.
Filhos incríveis.
Por Bruce.
Abri a porta da minha casa as duas da manhã, estava tudo quieto e silencioso.
Algo realmente raro, mas de madrugada era o momento de todos estarem em
suas camas. Subi as escadas e antes de entrar no meu quarto, para encontrar
minha esposa, vi que uma fraca luz brilhava pela fresta do quarto de Josh.
Caminhei até lá e bati de leve. Abri a porta e o encontrei jogando vídeo game.
— Sua mãe vai arrancar suas orelhas por ainda estar jogando — digo baixo.
Ele sorriu sabendo que era verdade, tinha uma expressão muito mais madura e
parecia ter mais do que seus dezesseis anos. Seu corpo se desenvolveu
bastante depois das longas sessões de luta que eu o obriguei a fazer. Queria
que sempre estive pronto para se defender, assim como nossa família. O
considerava meu filho e não queria que nada de mal o acontecesse.
Fechei a porta atrás de mim e me sentei na beirada de sua cama. O encarei nos
olhos me perguntando o que estava acontecendo.
— Bruce? — disse.
— Hm.
Nunca foi uma novidade para mim que o garoto fosse observador, mas eu estava
curioso para saber em como ele chegou a àquela verdadeira conclusão.
— Sabe que não — disse. — Não minta para mim, Bruce, eu quero saber a
verdade.
— E por que a verdade se tornou tão importante para você agora? — perguntei.
— Mas, como pode ter tanta certeza de que um dia não vai poder? — perguntou.
— Você é o homem mais grande que conheço, claro que depois de Adônis.
Sorri de leve.
— Sim.
— Nada.
— Porque um dia ela acabou na mira de um inimigo e soube da pior forma que
traição se paga com a morte — digo. — Não existe nada para se dizer, somente
precisa ser leal.
— Não.
— Quero a verdade, Bruce — disse. — Não vou te julgar por fazer parte de uma
organização criminosa, porque sei de tudo o que fez por mim e por minha mãe.
Sei que ama a família que criou e eu nunca seria capaz de ir contra aquilo que
você fez a vida inteira — suspirou. — Mas acredito que mereço sua sinceridade.
Acenei concordando.
— Você não tem nenhuma obrigação com a máfia desde que eu não sou seu
pai, caso queira entrar, vou te assumir como filho e será meu sucessor — explico.
— Mas eu não tenho te treinado por isto. Você precisa saber se defender, precisa
estar pronto para proteger nossa família. Não sou imortal, Josh, um dia algo
muito ruim pode acontecer e minha vida ser tirada, quem vai proteger sua mãe?
Quem irá proteger nossa família? — perguntou sério. — Terá que ser você,
porque Dânio ainda é uma criança.
— E isto foi o que sempre quis? — perguntou. — Que seus filhos sejam
criminosos?
— Eu entendo um pouco, mas depois vai ter que me contar direito toda sua
história.
— Tudo bem — aceno. — Não se esqueça, tudo o que disse neste quarto não
deve ser compartilhado. Lembre-se que a punição é sempre a morte, isto afeta
toda a família.
Acenei concordando, não iria morrer tão cedo. Tinha muito o porquê viver e lutar.
Saí do seu quarto e esperei um minuto do lado de fora, ouvi que ele desligou seu
vídeo game e suspirou. Sabia que ele não dormiria bem essa noite, mas a
conversa foi boa e esclarecedora. Esperava que ele não decidisse se juntar a
máfia, no entanto, algo me dizia que ele estaria lá ao meu lado. Josh era protetor
e saber que seus irmãos seriam parte de algo tão perigoso o atrairia.
Ele se mexeu e abriu os olhos devagar. Olhos verdes cinzentos como os meus.
Percebeu minha presença e sorriu sonolento.
— Papai.
Meu coração inchava em uma emoção que nunca seria capaz de me acostumar.
Seu sorriso se abriu novamente, tão bonito quanto o da sua mãe. Seus pequenos
braços se ergueram e rodearam meu pescoço, um abraço gostoso e inocente
que eu tanto amava. Me soltou e voltou para o travesseiro. Beijei sua testa e
fiquei ali velando seu sono. Queria que ele soubesse que sempre estaria zelando
por sua vida.
Saí do quarto quinze minutos depois, Dânio estava em sono profundo e agora
era a vez de ver outra pessoa. Entrei no meu quarto e as encontrei na minha
cama. Minha esposa dormia tranquilamente e ao seu lado nossa pequena Isa de
dois meses. Encarei minha filha e encontrei seus olhos abertos brincando com o
cabelo da mãe.
Depois de toda a brutalidade que fiz essa noite, sentia-me recompensado com a
paz que minha família me trazia. Peguei minha bebê da cama e a embalei em
meus braços.
Não existia nada melhor do que a paternidade. Era incrível saber que somos
capazes de criar seres tão incríveis como minha pequena encrenqueira. Para o
completo terror de Rita, Isa tinha herdado todo o meu mau humor. Era impaciente
e fazia a casa tremer cada vez que chorava de fome ou birra, já estava manhosa
e só queria ficar no colo.
Balancei ela devagar e caminhei para o seu quarto cor de rosa. Não sabia como,
mas a cada dia aparecia mais brinquedos cor de rosa dentro daquele quarto.
Daqui alguns meses terei que reservar um quarto somente para as tralhas, que
são chamadas de brinquedos, ou não teríamos mais como andar dentro de casa.
Parei na frente do seu berço e percebi que ela dormia. A coloquei lá bem devagar
e cobri seu pequeno corpo. Fiz o mesmo que fiz com Dânio, fiquei com ela por
alguns minutos e depois fui para o meu quarto. Tirei minhas roupas e deitei ao
lado da minha esposa.
— Sim — digo.
Rita abriu os olhos e me encarou com a mesma intensidade de quatro anos atrás.
— Eu te amo, Bruce.
Família que pensei nunca ser capaz de ter, mas que por sorte do destino ou
alguma benção divina, eu tinha.
Eu conhecia a morte de perto e faria de tudo para que minha vida ao lado deles
não fosse desperdiçada.