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INTENSIVA DEFENSORIAS

DIREITO PENAL
MARCELO UZEDA

FURTO  Bens jurídicos:

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem,  Posse (objetividade jurídica imediata,
coisa alheia móvel: primária) - é a exteriorização dos
direitos de propriedade (situação de fato
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e estabelecida entre o sujeito e o direito
multa. de usar, gozar e dispor de seus bens),
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se abrangendo a detenção (para alguns
autores). É necessário que a posse seja
o crime é praticado durante o repouso noturno.
legítima; e
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de
pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode Propriedade (objetividade jurídica mediata,
substituir a pena de reclusão pela de detenção, secundária) - é o conjunto dos direitos
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar inerentes ao uso, gozo e disposição dos bens.
somente a pena de multa. 2. SUJEITOS DO DELITO

 O sujeito ativo é qualquer pessoa (salvo


§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia o proprietário). Trata-se de crime
comum.
elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.  O sujeito passivo é o proprietário ou
Furto qualificado possuidor legítimo. Pessoa física ou
pessoa jurídica.
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos,
e multa, se o crime é cometido: 3. TIPO OBJETIVO

I - com destruição ou rompimento de obstáculo A) CONDUTA


à subtração da coisa;  O núcleo do tipo é o verbo subtrair, que
II - com abuso de confiança, ou mediante significa tirar, retirar o objeto da pessoa,
fraude, escalada ou destreza; na clandestinidade ou na presença
dela, inclusive contra a sua própria
III - com emprego de chave falsa; vontade.

IV - mediante concurso de duas ou mais  A subtração admite a violência contra a


pessoas. coisa, mas nunca contra a pessoa
(crime de roubo).
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos,
se a subtração for de veículo automotor que  B) OBJETO MATERIAL
venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de  O objeto material do furto é a coisa
1996) alheia móvel.

1. CONCEITO E OBJETIVIDADE JURÍDICA • A qualidade de coisa alheia é elemento


normativo do tipo: Coisa que pertence a
 Furto é a subtração de coisa alheia outrem.
móvel com fim de assenhorear-se dela
em definitivo (art. 155, caput do CP). • Subtração de coisa própria não é furto
(art. 155 do CP).

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• Pode haver furto de coisa comum (art. mecânica, térmica, sonora, radiante, atômica,
156, CP). genética - não humana - ex.: touro reprodutor).

• Pode trata-se de exercício arbitrário das Exposição de motivos (item 56) é "toda energia
próprias razões (art. 346 do CP): "tirar" economicamente utilizável e suscetível de
"coisa própria que se acha em poder de incidir no poder de disposição material e
terceiro por convenção". exclusiva de um indivíduo".

• Se o sujeito já estava na posse ou na STJ: o sinal de TV a cabo pode ser equiparado


detenção da coisa, responde pelo delito à energia elétrica para fins de incidência do
de apropriação indébita (CP, art. 168). artigo 155, § 3º, do Código Penal. Doutrina.
Precedentes. (RHC 30.847/RJ, QUINTA
• Não podem ser objeto material de furto: TURMA, DJe 04/09/2013)
• 1) Coisa sem dono (res nullius) – nunca STJ: I. O sinal de televisão propaga-se através
teve dono. de ondas, o que na definição técnica se
• 2) Coisa abandonada (res derelictae) – enquadra como energia radiante, que é uma
se o dono abandona uma coisa, pois forma de energia associada à radiação
não quer mais. A coisa não pertence eletromagnética. II. Ampliação do rol do item 56
mais a ninguém. da Exposição de Motivos do Código Penal para
abranger formas de energia ali não dispostas,
• 3) Coisa perdida (res desperdita) não considerando a revolução tecnológica a que o
há subtração, já que a coisa havia saído mundo vem sendo submetido nas últimas
da esfera de vigilância do sujeito décadas. III. Tipicidade da conduta do furto de
passivo antes. sinal de TV a cabo. (REsp 1123747/RS,
QUINTA TURMA, DJe 01/02/2011)
• Coisa móvel é tudo aquilo que pode ser
transportado, movido. • 3. TIPO SUBJETIVO

• Obs.: Bens retirados (ex.: janelas) de • É o dolo, animus furandi, consistente na


um edifício temporariamente para vontade e consciência de "subtrair coisa
depois serem nele reempregados tem alheia móvel".
natureza de bem imóvel para o Direito
• Exige-se outro elemento subjetivo do
Civil, mas na esfera penal é coisa
móvel. tipo, contido na elementar "para si ou
para outrem", que indica o fim de
• É necessário, ainda, que a coisa móvel assenhoreamento definitivo.
tenha valor econômico. Não constitui
fato punível a subtração de objeto de • É o chamado animus rem sib habendi, a
tão ínfimo valor que não tenha vontade de se apoderar, de dispor da
coisa como se dono fosse.
relevância jurídica a sua subtração.
Aplica-se o Princípio da Insignificância “FURTO” DE USO é a subtração de coisa
ou bagatela. infungível para fim de uso momentâneo e
FURTO DE ENERGIA (§3º) - Equipara-se a pronta restituição nas mesmas condições
coisa móvel a energia elétrica ou qualquer originais. Trata-se de fato penalmente atípico,
outra que tenha valor econômico (solar, mas ilícito na esfera civil.

5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

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STJ: O tipo penal classificado como furto hostilidade) da coisa, ainda que por curto
consuma-se no momento, ainda que breve, no período de tempo, submetendo-a ao próprio
qual o agente se torna possuidor da res, não se poder autônomo de disposição.
mostrando necessária a posse tranquila.
 A tentativa é admissível.
Segundo lição do Ministro Moreira Alves, no
voto condutor do RE n. 102.490/SP, há quatro  Para a 1ª corrente: quando o sujeito
teorias que explicam a consumação dos tipos não consegue, por circunstâncias
do roubo e do furto. Pela teoria da contrectatio, alheias à sua vontade, retirar o objeto
a consumação se dá com o simples contato material da esfera de proteção e
entre o agente a coisa alheia. vigilância da vítima, submetendo-a à
sua própria disponibilidade.
Pela apprehensio ou amotio, a consumação se
dá quando a coisa passa para o poder do  Para a 2ª Corrente: quando o sujeito,
agente. após retirar a coisa da esfera de
disponibilidade, não consegue ter a
Na ablatio, a consumação se dá quando a posse tranquila.
coisa, além de apreendida, é transportada de
um lugar para outro e, Súmula 145 do STF: Flagrante provocado (ou
preparado) - se a consumação do crime é
finalmente, na illatio, a consumação se dá impossível pela preparação do flagrante, não
quando a coisa é transportada ao local há crime.
desejado pelo agente para tê-la a salvo.
A existência de monitoramento pela segurança
O art. 155 do Código Penal traz como verbo- através de circuito interno de tevê não torna o
núcleo do tipo penal do delito de furto a ação crime impossível - possibilidade de tentativa.
de "subtrair"; pode-se concluir que o direito
brasileiro adotou a TEORIA DA  C) CAUSA DE AUMENTO DE PENA
APPREHENSIO OU AMOTIO, em que os DE 1/3 RELATIVA AO REPOUSO
delitos de roubo ou de furto se consumam NOTURNO (§1º)
quando a coisa subtraída passa para o poder  é o período destinado ao descanso, de
do agente, mesmo que num curto espaço de recolhimento dedicado ao repouso, de
tempo, independentemente de a res acordo com os costumes do local .
permanecer sob sua posse tranquila.
 Deve ser à noite (período de ausência
(AgRg no REsp 1226382/RS,, SEXTA TURMA, de luz solar natural).
DJe 13/10/2011)
 Só se aplica para o furto simples
Divide-se a doutrina entre duas posições: (posição topográfica). Não pode incidir
1ª Corrente (majoritária nos tribunais no furto qualificado.
superiores): O furto se consuma quando a  Para o STJ, é irrelevante o fato de se
coisa sai da esfera de posse e disponibilidade tratar de estabelecimento comercial ou
do sujeito passivo, ingressando na do agente, de residência, habitada ou desabitada,
ainda que este não tenha tido a posse tranquila bem de a vítima estar ou não
da coisa. (REsp 668857/RS). efetivamente repousando.
2ª Corrente: A consumação do furto somente D) FURTO PRIVILEGIADO (§2º)
com a posse tranquila (sossegada, a salvo da

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Quando o criminoso é primário (não Ex.: Desarmar o sistema de alarme; deslocar


reincidente) e a coisa subtraída é de pequeno porta com pé-de-cabra; desmontar cadeado.
valor, o juiz pode substituir a pena por
detenção, além de diminuí-la de 1 a 2/3 ou  Destruir o obstáculo é usar de violência
aplicar somente a multa. contra a coisa, eliminando ou fazendo
desaparecer aquilo que o impedia de
Coisa de pequeno valor caracteriza uma lesão levar a efeito a subtração.
de pouca repercussão ao bem jurídico.
STJ: Não obstante o posicionamento outrora
Pela jurisprudência, pequeno valor seria menos exarado acerca da irrazoabilidade de se
de um salário mínimo. considerar o furto "qualificado" quando há
rompimento do vidro do veículo para a
FURTO QUALIFICADO E PRIVILEGIADO subtração do som automotivo, e considerá-lo
STJ: É admissível a incidência da causa "simples" quando o rompimento se dá para a
especial de diminuição de pena prevista no art. subtração do próprio veículo, a Terceira Seção
155, § 2.º, do Código Penal ao furto desta Corte, no julgamento do EREsp n.º
1.079.847/SP, firmou a orientação de que a
qualificado, desde que as qualificadoras sejam
de índole objetiva. Para tanto há de se levar subtração de objeto localizado no interior de
em conta tão somente o valor da coisa furtada veículo automotor mediante o rompimento de
e a primariedade do Réu. obstáculo - quebra do vidro - qualifica o furto.
(HC 205.967/SP,SEXTA TURMA,DJe
(HC 231.277/RJ, QUINTA TURMA, DJe 13/12/2013)
10/10/2013)
STJ: Não é possível deixar de reconhecer a
STJ: Embora seja possível a aplicação do prática de furto qualificado apenas e
privilégio previsto no § 2.º do art. 155 do simplesmente por se ter avariado o próprio
Código Penal ao furto qualificado, melhor sorte bem subtraído, pois referida circunstância não
não assiste ao Recorrente, pois, a despeito de tem o condão de desconfigurar o efetivo
ser primário e do suposto reduzido valor da rompimento de obstáculo. Não há dúvidas de
coisa furtada, o abuso de confiança é que as portas, os vidros e o alarme do carro
qualificadora de caráter subjetivo, o que, nos visam exatamente impedir ou pelo menos
termos da jurisprudência desta Corte, dificultar sua subtração e dos bens que estão
inviabiliza a modalidade privilegiada. no seu interior, sendo ainda inquestionável a
necessidade de transposição desta barreira
(AgRg no REsp 1392678/MG, QUINTA para que se furte tanto o carro quanto os
TURMA, DJe 03/02/2014) objetos do seu interior.
E) FURTO QUALIFICADO (§4º) A conduta em ambos os casos é a mesma,
consiste em romper obstáculo como meio
1. Com destruição ou rompimento de obstáculo
necessário para subtrair coisa alheia móvel, o
à subtração da coisa:
que denota sua maior reprovabilidade, ante a
Obstáculo é tudo aquilo que tenha a finalidade utilização de meios excepcionais para superar
precípua de proteger a coisa e que não seja a os obstáculos defensivos da propriedade.
ela inerente; deve ser exterior à coisa.
Dessa forma, é indiferente para configurar
 Romper é eliminar o obstáculo sem referida qualificadora analisar qual o bem
destruí-lo. subtraído.

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(REsp 1395838/SP, QUINTA TURMA, julgado No estelionato, a fraude faz que a vítima incida
em 20/05/2014, DJe 28/05/2014) em erro e é empregada para obter o seu
consentimento.
2. Com abuso de confiança:
STJ: o furto mediante fraude não se confunde
O abuso se verifica quando há um especial com o estelionato. Segundo Damásio, "[n]o
vínculo subjetivo de confiança depositado pela furto, a fraude ilude a vigilância do ofendido,
vítima no agente. que, por isso, não tem conhecimento de que o
objeto material está saindo da esfera de seu
A mera relação de emprego não caracteriza
confiança, mas pode incidir a agravante patrimônio e ingressando na disponibilidade do
genérica das relações domésticas, de sujeito ativo. No estelionato, ao contrário, a
coabitação ou de hospitalidade (art. 61, II, “f”, fraude visa a permitir que a vítima incida em
CP). erro.

Por isso, voluntariamente se despoja de seus


bens, tendo consciência de que eles estão
STJ: Não se vislumbra, na espécie, a saindo de seu patrimônio e ingressando na
necessária correlação entre a denúncia, que esfera de disponibilidade do autor."
imputou à ora Paciente a prática do crime de
furto simples, e a sentença prolatada, que a Na hipótese em tela, a vítima entregou as
condenou por furto qualificado pelo abuso de chaves de seu carro para que o Paciente, na
confiança, uma vez que a peça acusatória tão- qualidade de segurança da rua, o
somente narrou que a ré trabalhava como estacionasse, não percebendo que o seu
doméstica na residência da vítima, sem veículo estava sendo furtado.
apontar, contudo, a existência de relação de Conforme ressaltado pelo Tribunal de origem, a
confiança entre empregada e empregador. (HC vítima "não tinha a intenção de se despojar
89.440/MG, QUINTA TURMA, DJe 25/08/2008) definitivamente de seu bem, não queria que o
veículo saísse da esfera de seu patrimônio",
STJ: Estando comprovada a relação de
confiança entre a empregada doméstica e a restando, portanto, configurado o furto
vítima que a contrata - seja pela entrega das mediante fraude.
chaves do imóvel ou pelas boas referências de (HC 217.545/RJ, QUINTA TURMA, DJe
que detinha a Acusada - cabível a incidência 19/12/2013)
da qualificadora "abuso de confiança" para o
crime de furto ora sob exame. Precedente. (HC 4. Escalada:
192.922/SP, QUINTA TURMA, DJe
07/03/2012) É o ingresso no lugar do furto, por uma via de
acesso que normalmente não é utilizada. Há
3. Mediante fraude: utilização de um meio artificial, incomum (não
violento ex.: escada, corda) ou a demanda de
Fraude é o ardil, a dissimulação, a insídia, um esforço extraordinário (saltar, rastejar).
utilizada pelo agente para distrair a atenção da
vítima a fim de facilitar a subtração. Pode ser por meio de túnel, subterrâneo ou
não, e não precisa ser necessariamente no
A fraude é empregada para iludir a vigilância sentido ascendente.
do ofendido, que não tem conhecimento de que
o objeto material está saindo da esfera de seu 5. Destreza:
patrimônio.

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o agente se vale de uma especial habilidade utilizado como dispositivo para abrir fechadura,
manual para retirar a coisa da vítima sem que incluindo gazuas, mixas, arames, etc. II. O uso
ela perceba (“mão-leve”). de "mixa", na tentativa de acionar o motor de
automóvel, caracteriza a qualificadora do inciso
Se a própria vítima perceber a subtração, não III do § 4º do art. 155 do Código Penal.
há que se falar em destreza. Não há tentativa (19/06/2007).
de furto qualificado por destreza se é
surpreendido pela própria vítima. (prova do CESPE)

Há tentativa de furto qualificado pela destreza, STJ - CONTRA:


quando um terceiro impede a consumação do
delito. REsp 284385/DF. “incide se a chave for
utilizada para a subtração no sentido de
6. Com emprego de chave falsa: alcançar a coisa, pois o fundamento dessa
causa refere-se ao acesso do agente ao objeto
É qualquer instrumento ou engenho que sirva material, não alcançando, portanto, o resultado
para abrir uma fechadura, sem danificá-la. final do crime”.
Não há furto qualificado se a chave verdadeira REsp 43047/SP. A utilização de chave falsa
que foi achada ou furtada ou se é encontrada diretamente na ignição do veiculo para fazer
na fechadura. acionar o motor não configura a qualificadora
Se o sujeito consegue ardilosamente apanhar a do emprego de chave falsa (CP, art. 155, par.
chave verdadeira ou faz uma cópia, trata-se de 4., III). (QUINTA TURMA, DJ 15/09/1997)
furto qualificado pelo emprego de fraude. 7. Mediante concurso de duas ou mais
A qualificadora só se verifica quando a chave pessoas:
falsa é utilizada externamente a "res furtiva", Deve haver o concurso efetivo no local.
vencendo o agente o obstáculo
propositadamente colocado para protegê-la. Exemplo: se alguém empresta o seu carro para
um ladrão carregar o objeto que vai subtrair, o
STJ: Esta Corte tem se manifestado no sentido furto não é qualificado pelo concurso de
de que "o conceito de chave falsa abrange todo agentes porque quem emprestou o carro é
o instrumento, com ou sem forma de chave, mero partícipe.
utilizado como dispositivo para abrir fechadura,
incluindo mixas" (HC nº 101.495/MG, Relator o F) FURTO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (§5º)
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
DJe de 25/8/2008), incidindo a qualificadora, O § 5o trata do furto de veículo automotor que
portanto, quando a denominada "chave mixa" é venha a ser transportado para outro estado ou
utilizada tanto para abrir o veículo, como para para outro país.
ligar o motor. De acordo com o entendimento dominante,
(REsp 658.288/RS, SEXTA TURMA, DJe para a aplicação da qualificadora, é
28/02/2011) indispensável que o veículo tenha efetivamente
cruzado a fronteira de outro Estado ou do
STJ. REsp 906685 / RS. exterior.

O conceito de chave falsa abrange todo o  9) PENA E AÇÃO PENAL


instrumento, com ou sem forma de chave,

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 Furto simples - reclusão, de um a  Trata-se de crime próprio. O sujeito


quatro anos, e multa (caput). ativo só pode ser o condômino, co-
herdeiro ou sócio.
 Durante o repouso noturno, aumento de
um terço (§ 1º).  A posição do STF e majoritária é que o
crime pode ser cometido contra a
 Furto privilegiado: pode substituir a sociedade de fato (irregular) ou contra
pena de reclusão pela de detenção, pessoa jurídica regular.
diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a sanção pecuniária (§  Sujeito passivo é quem detém
2º). legitimamente a coisa. Pode ser o
sócio, co-herdeiro, condômino ou um
 Furto qualificado: reclusão, de dois a terceiro qualquer.
oito anos, e multa (§ 4º).
 Se a detenção é ilegítima, não há delito
§5º: Furto de veículo transportado para outro de subtração de coisa comum por
estado ou para o exterior - reclusão, de 3 a 8 ausência de tipicidade, mas, conforme o
anos (sem multa). caso, pode caracterizar exercício
Escusa absolutória (imunidade absoluta): art. arbitrário das próprias razões (art. 346,
181,CP. CP).

A ação penal é pública Incondicionada.  Se a coisa comum já estava na posse


do sujeito, responde por apropriação
É condicionada à representação (imunidade indébita (CP, art. 168).
relativa) se o furto é praticado em prejuízo do
cônjuge divorciado, judicialmente separado, de  3. ELEMENTOS SUBJETIVOS DO
irmão ou de tio ou sobrinho, com quem o TIPO
sujeito coabita (CP, art. 182).  O crime só é punível a título de dolo.
FURTO DE COISA COMUM (art. 156, CP)  Exige-se outro elemento subjetivo do
tipo, contido na expressão "para si ou
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou
sócio, para si ou para outrem, a quem para outrem".
legitimamente a detém, a coisa comum:  4. QUALIFICAÇÃO DOUTRINARIA
Pena - detenção, de seis meses a dois  O furto de coisa comum é delito próprio,
anos, ou multa. simples, plurissubsistente, de forma
§ 1º - Somente se procede mediante livre, comissivo e instantâneo. É furto
representação. especial privilegiado, e depende de
representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa
comum fungível, cujo valor não excede a quota  5. MOMENTO CONSUMATIVO E
TENTATIVA
a que tem direito o agente.
 devem ser aplicados os mesmos
princípios atinentes ao crime de furto -
 2. SUJEITOS DO DELITO: art. 155 do CP.

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 6. CAUSA ESPECIAL DE EXCLUSÃO V - se o agente mantém a vítima em seu poder,


DA ANTIJURIDICIDADE (§ 2o) restringindo sua liberdade.

 Excludente de ilicitude: não é punível a § 3º Se da violência resulta lesão corporal


subtração de coisa comum fungível, grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze
cujo valor não excede a quota em que o anos, além da multa; se resulta morte, a
agente tem direito. reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo
da multa.
 7. PENA E AÇÃO PENAL
 1. CONCEITO E OBJETIVIDADE
 A pena é de detenção, de seis meses a JURÍDICA
dois anos, ou multa.
 Roubo é a subtração de coisa móvel
 ação penal pública condicionada à alheia mediante violência, grave
representação. ameaça ou qualquer meio capaz de
ROUBO anular a capacidade de resistência da
vítima (CP, art. 157, caput).
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para
si ou para outrem, mediante grave ameaça ou  Constitui também roubo o fato de o
sujeito, logo depois de retirada a coisa
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por
qualquer meio, reduzido à impossibilidade de móvel alheia, empregar violência contra
resistência: pessoa ou grave ameaça, com o
objetivo de conseguir a impunidade do
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e fato ou continuar na detenção do objeto
multa. material (§ 1º).

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo É crime pluriofensivo, ou seja, além do


depois de subtraída a coisa, emprega violência patrimônio, a lei procura tutelar outros bens
contra pessoa ou grave ameaça, a fim de jurídicos como a vida, a integridade física e a
assegurar a impunidade do crime ou a liberdade individual.
detenção da coisa para si ou para terceiro.
É crime complexo, pois no tipo penal estão
reunidos elementos que isoladamente já
constituem crimes autônomos. O roubo é
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até tipicamente um crime complexo, pois é a
metade: reunião da conduta de um furto (subtrair)
agregada às elementares da violência ou grave
I - se a violência ou ameaça é exercida com
ameaça.
emprego de arma;
 2. SUJEITOS DO DELITO
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
 Trata-se de crime comum. Qualquer
III - se a vítima está em serviço de transporte
pessoa pode ser sujeito ativo de roubo.
de valores e o agente conhece tal
A norma incriminadora não prevê
circunstância.
qualquer capacidade penal especial.
IV - se a subtração for de veículo automotor
 O sujeito passivo via de regra é a vítima
que venha a ser transportado para outro
da violência, ou da ameaça e que tem o
Estado ou para o exterior;
patrimônio lesado.

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 Nada impede que se constranja uma impossibilidade de resistência


pessoa e subtraia o patrimônio de outra. (embriaguez, narcotização, hipnotismo).

 3. TIPO OBJETIVO C) Objetos Materiais

 A) Condutas Por ser crime complexo, o roubo possui dois


objetos materiais:
 Há duas espécies de roubo:
a pessoa humana; e
 I. Roubo próprio(art. 157, caput)
a coisa móvel.
 Roubo próprio é a conduta de subtrair
coisa móvel alheia, para si ou para A violência, a grave ameaça ou o meio que
terceiro, mediante grave ameaça ou reduz a capacidade de resistência da vítima se
violência a pessoa, ou depois de havê- dirigem à pessoa.
la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência. A subtração recai sobre a coisa móvel.

 É a subtração antecedida de violência Controvérsia: E se o agente emprega violência


ou grave ameaça ou qualquer outro ou grave ameaça contra a vítima, mas não há
meio que impossibilite a capacidade de coisa móvel a ser subtraída?
resistência da vítima.  1ª Corrente: CRIME IMPOSSÍVEL.
II. Roubo Impróprio (§1º do art. 157) Parte da doutrina (Queiroz, Greco)
sustenta que, ausente o objeto material,
Logo depois de subtraída a coisa, emprega-se trata-se de roubo impossível (CP, art.
violência contra a pessoa ou grave ameaça, a 17), por ser crime patrimonial. O fato,
fim de assegurar a impunidade do crime ou a portanto, seria atípico por inexistência
detenção da coisa para ele ou para terceiro. da elementar "coisa móvel alheia",
podendo subsistir crime contra a
 Há uma progressão criminosa em pessoa (lesões corporais, ameaça ou
sentido estrito, pois, após subtrair a constrangimento ilegal).
coisa sem violência (furto), o agente
altera seu elemento subjetivo e  2ª Corrente (STF E STJ): TENTATIVA.
emprega ameaça ou violência (roubo) Em sentido contrário, por se tratar de
para ASSEGURAR a impunidade do crime complexo, há tentativa:
crime ou a detenção da coisa para si ou HC78700/SP (1ª TURMA/STF). REsp
para terceiro. 306739 / DF (6ª TURMA/STJ).

 A doutrina classifica a violência em:  4. TIPO SUBJETIVO

 Violência Física: emprego da vis  O roubo só é punível a título de dolo.


absoluta (força física); ou
 Exige-se outro elemento subjetivo,
 Violência Moral: emprego da vis contido na expressão "para si ou para
compulsiva (grave ameaça). outrem”, que demonstra a exigência de
intenção de posse definitiva.
 Violência Imprópria: emprego de
qualquer outro meio que, de forma  No § 1º, o roubo impróprio exige mais
ardilosa, reduz a vítima à um elemento subjetivo especial do tipo,

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previsto na expressão "a fim de  Ex.: Roubo em transporte coletivo com


assegurar a impunidade do crime ou diversas vítimas: a ação de ameaçar a
detenção da coisa para si ou para todos os passageiros em conjunto é
terceiro". uma só, mas cada ato de subtração
(resultado) é considerado de per si,
 6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA aplicando-se a regra do concurso formal
 O ROUBO PRÓPRIO atinge a próprio homogêneo (art. 70, CP).
consumação nos mesmos moldes do  8. CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO
crime de furto. DE PENA - ROUBO
o
 De acordo com o entendimento CIRCUNSTANCIADO (§ 2 )
majoritário (STF e STJ), consuma-se  O § 2o do art. 157 é causa especial de
quando o sujeito consegue retirar o aumento de pena, que, em razão da
objeto material da esfera de posição topográfica, só se aplica ao
disponibilidade da vítima, ainda que não caput e ao § 1o, não incidindo sobre o §
haja posse tranqüila. 3º (qualificado).
 Há tentativa quando o sujeito, iniciada a  STJ: se houver várias majorantes, o juiz
execução do crime mediante emprego pode aplicar todas aumentando a pena
de grave ameaça, violência própria ou no máximo (até a metade), não se
imprópria, não consegue efetivar a vinculando o número de circunstâncias
subtração da coisa móvel alheia. à fração de majoração, mas à sua
O ROUBO IMPRÓPRIO se consuma no gravidade.
instante em que o sujeito emprega violência ou  Súmula 443/STJ.
grave ameaça contra pessoa logo depois de
haver subtraído a coisa. A)Emprego de arma:

De acordo com a doutrina majoritária, não A arma pode ser própria ou imprópria.
admite a tentativa.
A arma própria é aquela cujo destino específico
Se o sujeito emprega violência contra a pessoa é o ataque ou a defesa (exemplos: a arma de
ou grave ameaça, e o delito está consumado. fogo, o punhal, o canivete).
Não se exige resultado naturalístico. Se não
emprega esses meios de execução logo depois A arma imprópria é qualquer artefato que sirva
da subtração, permanece o fato como furto para agredir (pedaço de madeira, caco de
tentado ou consumado. Nesse mesmo sentido, vidro).
o STJ e o STF. Não basta estar com a arma, deve-se
 7. CONCURSO DE CRIMES: empregá-la efetivamente (empunhá-la ou
simplesmente mostrá-la para caracterizar a
 Se houver o roubo com subtração de grave ameaça).
bens de várias pessoas num mesmo
contexto fático, mediante uma ameaça,  O fundamento da majoração do crime
a opinião majoritária é que isso de roubo com o uso de arma é pela
configura concurso formal de crimes. maior ofensividade/potencialidade
lesiva da arma.

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 No que tange à arma de brinquedo, não enquanto que o roubo não se qualifica
há dúvida de que esta serve para pela posse da arma e sim pelo emprego
caracterizar a grave ameaça típica do desta.
roubo, mas a súmula nº 174 do STJ foi
cancelada, logo, o sujeito que usa arma  C) vítima em serviço de Transportes de
de brinquedo responde somente pelo Valores e o agente conhece essa
roubo simples, já que brinquedo não circunstância
tem qualquer potencialidade lesiva.  O agente tem que saber que a vítima
 De acordo com a jurisprudência dos transporta valores.
tribunais superiores, há a inversão do  os criminosos têm como alvo empresas
ônus da prova, cabendo ao acusado especializadas com carro próprio,
demonstrar que não havia através de malote. O assalto a carro-
potencialidade lesiva. forte é um exemplo típico.
 STJ e STF: prescindível a perícia da  Ex.: a vítima vende jóias e o sujeito
arma, se houver outros elementos
ativo conhece que o mesmo transporta
probatórios suficientes a atestar a diretamente as jóias.
potencialidade lesiva.
D) Roubo de veículo automotor
 A apreensão da arma utilizada no crime
é dispensável, se seu emprego é Se a subtração for de veiculo automotor que
confirmado por outras provas venha a ser transportado para outro estado ou
(HC 93946 / RS). para o exterior.

B) Concurso de duas ou mais pessoas: Aplica-se o mesmo raciocínio do furto de


veículo automotor.
STJ: Para a caracterização do concurso de
agentes é suficiente a concorrência de duas ou E) Se o agente mantém a vítima em seu poder,
mais pessoas na execução do crime, restringindo sua liberdade
circunstância evidenciada no caso, até porque
este writ foi impetrado em favor de dois O sujeito mantém a vítima em seu poder para
pacientes, cuja ação penal é a mesma. (HC poder roubá-la (meio de execução) ou para
232.102/SP, SEXTA TURMA, DJe 24/03/2014) conseguir fugir (para assegurar a impunidade).

Incide a majorante mesmo que um dos agentes Caracterizada a restrição de liberdade da


seja inimputável (menor, doente mental) ou fuja vítima pelo agente, que a manteve em seu
e não seja achado ou não seja identificado. poder por período juridicamente relevante,
incide a majorante do inciso V do § 2º do art.
Controvérsia: Concurso material de roubo 157 do CP. (REsp 742388 / RS).
majorado pelo emprego da arma e concurso de
pessoas com o crime de quadrilha armada? Mantida a vítima, mediante grave ameaça,
exercida com o emprego de arma de fogo, sob
 STF e doutrina majoritária, não há bis in o poder dos agentes, por cerca de oito horas,
idem, sendo possível o concurso na prática do roubo e em garantia da sua
material, pois os fundamentos dos impunidade, impõe-se afirmar que a execução
crimes são diferentes: a quadrilha se do delito protraiu-se por todo esse tempo. (STJ,
qualifica apenas pelo porte da arma, RHC 13529 / BA).

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9.ROUBO QUALIFICADO PELO RESULTADO Porém, se for possível identificar diversos


(§3º) patrimônios, o agente responderá em concurso
formal por tantos latrocínios quantos forem os
 A) Se da violência resultar lesão roubos com resultado morte.
corporal grave Artigo 157, § 3º, 1ª figura
OBS3: Se o sujeito ativo, durante o roubo, por
 Pena: reclusão, de 7 a 15 anos e erro na execução (art. 73, CP), mata o próprio
multa. comparsa, responde por latrocínio.
 O resultado agravador pode ocorrer a O resultado morte ou lesão grave pode ser em
título de dolo ou por culpa, não há terceiro que não foi vítima da lesão patrimonial.
diferença.
A morte pode-se dar antes ou depois da
B) Se da violência resulta morte (Latrocínio) subtração, mas deverá estar dentro do
 Artigo 157, § 3º, 2ª figura contexto fático do roubo.

 Pena: reclusão, de 20 a 30 anos + Quando o sujeito no crime de roubo


multa. desenvolve uma ação (dolosa ou culposa)
que é apta a matar, mas a vítima não morre,
 A lei pune o roubo com resultado morte. ele responde pelo latrocínio e não por roubo
qualificado por lesão corporal grave.
 O resultado morte do § 3o do art. 157 é
punível tanto na forma culposa quanto LATROCÍNIO CONSUMADO E TENTADO
na forma dolosa.
Há controvérsia doutrinária quanto à tentativa
 Súmula 603 do STF: a competência de latrocínio, na hipótese de subtração
para o julgamento do latrocínio é do juiz consumada e morte tentada.
singular, pois o latrocínio é crime contra
o patrimônio e não doloso contra a vida. A maioria doutrina entende que se trata de
latrocínio tentado, por não haver completo
OBS1: Idoso tem um ataque cardíaco pelo preenchimento da figura típica.
susto decorrente da grave ameaça do roubo,
Em sentido contrário, há precedentes do
não haverá latrocínio.
Supremo Tribunal Federal, reconhecendo o
A lei usou somente a expressão “se da concurso de crimes: roubo consumado (art.
violência resulta” morte. 157, CP) e homicídio qualificado tentado (art.
121, §2º, V. CP).
Trata-se de violência física (real).
EXTORSÃO
Se o resultado decorrer de grave ameaça, o
sujeito deverá responder pelo roubo em Art. 158 - Constranger alguém, mediante
concurso formal com o homicídio culposo ou violência ou grave ameaça, e com o intuito de
doloso, a depender do elemento subjetivo. obter para si ou para outrem indevida
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
OBS2: Pluralidade de Vítimas. Se no mesmo faça ou deixar fazer alguma coisa:
roubo houver morte de mais de uma pessoa,
sendo um único patrimônio subtraído haverá Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e
apenas um crime de latrocínio e o número de multa.
mortes irá influenciar na dosimetria da pena.

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§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou submetidos ao constrangimento


mais pessoas, ou com emprego de arma, fazendo recair o prejuízo sobre aquela.
aumenta-se a pena de um terço até metade.
• Pode haver dois sujeitos passivos: um
sobre o qual recai a violência e outro
que faz, deixa de fazer ou tolera que se
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante faça alguma coisa, mas haverá um só
violência o disposto no § 3º do artigo anterior. crime.
Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
• 3. Conduta:
§ 3o Se o crime é cometido mediante a
restrição da liberdade da vítima, e essa • O núcleo do tipo é o verbo constranger,
condição é necessária para a obtenção da que significa compelir, coagir. O sujeito
vantagem econômica, a pena é de reclusão, de coage a vítima mediante violência,
6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se pretendendo que ela faça, tolere que se
resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam- faça ou deixe de fazer alguma coisa.
se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, • Ex.: o sujeito, mediante ameaça de
de 2009) morte, faz com que ela deixe certa
importância em determinado local.
• 1. Conceito e Objetividade Jurídica:
• Ex.: permitir que o credor rasgue o título
• A objetividade jurídica principal é a de crédito.
inviolabilidade do patrimônio.
• Ex.: deixar de cobrar uma dívida.
• Tratando-se de crime complexo, fusão
de várias figuras típicas, também tem 4. Meios de Execução:
por objetos jurídicos a vida, a
• São a violência física e a moral (grave
integridade física e psíquica e a ameaça), já estudadas no delito de
liberdade pessoal. roubo.
• O objeto material é a pessoa sobre
• Ao contrário do que ocorre no roubo
quem recai o constrangimento. (CP, art. 157, caput), na extorsão, o
• É delito formal (de consumação legislador não previu a violência
antecipada), consuma-se quando a imprópria, consistente no emprego de
vítima se submete ao constrangimento, qualquer meio para vencer a resistência
independentemente da obtenção da da vitima (ex. sonífero).
vantagem econômica (súmula 96 do 5. Elementos Subjetivos do Tipo:
STJ).
• É o dolo agregado a outro elemento
• 2. Sujeitos do Delito: subjetivo do tipo distinto do dolo,
• Crime comum, qualquer pessoa pode consistente na finalidade de obtenção
ser sujeito ativo ou passivo. de vantagem econômica ("com o intuito
de") - especial fim de agir.
• Pessoa jurídica pode ser sujeito passivo
de extorsão, se seus sócios forem GOLPE DO FALSO SEQUESTRO

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STJ: No crime de extorsão, a entrega do bem de fazer ou tolera que se faça alguma
ocorre mediante o emprego de violência ou de coisa.
grave ameaça. A vítima não age iludida: faz ou
deixa de fazer alguma coisa motivada pelo • A tentativa é admissível. Se o sujeito
constrangimento a que é exposta. Ao revés, no passivo não realiza a conduta
estelionato o prejuízo resulta de artifício, ardil, pretendida pelo sujeito ativo.
ou qualquer outro meio fraudulento capaz de • O momento do recebimento da
induzir em erro a vítima. vantagem após o constrangimento é
O caso em apreço melhor se subsume, em fase de exaurimento da extorsão.
princípio, ao crime de extorsão, pois o 9. Causa de Aumento de Pena:
interlocutor teria, por meio de ligação
telefônica, simulado o sequestro da irmã da • art. 158, § 1º, do CP: se o crime é
vítima, exigindo o depósito de determinada cometido por duas ou mais pessoas, ou
quantia em dinheiro sob o pretexto de matá-la, com emprego de arma, aumenta-se a
tudo a revelar que o sujeito passivo do delito pena de um terço até metade.
em momento algum agiu iludido, mas sim em
razão da grave ameaça suportada. 10. Figuras Típicas Qualificadas:

CC 129.275/RJ, TERCEIRA SEÇÃO, DJe • art. 158, § 2º: aplica-se à extorsão


03/02/2014) praticada mediante violência o disposto
no § 3º do art. 157, CP.
• 6. Elemento Normativo do Tipo:
• Ocorrendo resultado morte, o crime é
• Indevida vantagem econômica é considerado hediondo, nos termos do
conceito mais amplo que coisa alheia art. 1º da Lei nº 8.072/90.
móvel.
“Sequestro relâmpago”
• O tipo exige um elemento normativo,
contido na expressão "indevida". § 3o Se o crime é cometido mediante a
restrição da liberdade da vítima, e essa
• Se a vantagem for devida, pode condição é necessária para a obtenção da
constituir exercício arbitrário das vantagem econômica, a pena é de reclusão, de
próprias razões (CP, art. 345). 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se
resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-
• A vantagem deve ser econômica. se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
Tratando-se de vantagem moral, há respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923,
constrangimento ilegal (CP, art. 146). de 2009)
• 8. Consumação e Tentativa: EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO
• A extorsão é delito formal, não se Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de
exigindo a obtenção da vantagem para obter, para si ou para outrem, qualquer
consumação. vantagem, como condição ou preço do resgate:
• Súmula 96/STJ. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90

• Consuma-se com o comportamento da Pena - reclusão, de oito a quinze anos.


vítima, no instante em que ela faz, deixa

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§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e pais. Há dois sujeitos passivos: a


quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 criança (titular da liberdade) e seu
(dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou representante legal (titular do
se o crime é cometido por bando ou quadrilha. patrimônio).

Pena - reclusão, de doze a vinte anos. • 3. Conduta:

• sequestrar pessoa: privá-la de sua


liberdade, arrebatá-la, detê-la,
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de impedindo sua locomoção.
natureza grave:
• O legislador empregou a expressão
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro "sequestro" em sentido amplo,
anos. abrangendo o cárcere privado.
§ 3º - Se resulta a morte: • “Sequestro” de cadáver ou de animal de
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. estimação, com exigência de proveito
para o resgate: art. 211, CP (subtração
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o de cadáver), em concurso com art. 158,
concorrente que o denunciar à autoridade, CP (extorsão) . Não há extorsão
facilitando a libertação do sequestrado, terá mediante sequestro, pois que ausente a
sua pena reduzida de um a dois terços. elementar “pessoa”.
(Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996)
• 5.Tipo Subjetivo :
• 1. Conceito e Objetividade Jurídica:
• É o dolo de sequestrar a vítima
• A objetividade jurídica é o patrimônio e associado ao especial fim de agir: "com
a liberdade individual (pluriofensivo). o fim de obter para si ou para outrem...”,
sem o qual, há desclassificação para o
• É um crime complexo: o delito-fim é a art. 148 do CP.
ofensa ao bem patrimonial e o
sequestro o crime-meio. • 6. Resultado:

• Art. 1º, inc. IV, da Lei n. 8.072/90 (Lei • Segundo a maioria da doutrina,
dos Crimes Hediondos): todas as “qualquer vantagem” deve ser
formas de extorsão mediante sequestro, entendida como vantagem econômica
da simples às qualificadas, são (crime contra o patrimônio).
consideradas crimes hediondos.
• “Condição" é algo que se exige a fim de
• 2. Sujeitos do Delito: que liberte o sujeito passivo.

• O sujeito ativo pode ser qualquer • “Preço” é o valor exigido a fim de que
pessoa - crime comum. se libere o sequestrado.

• O sujeito passivo é a pessoa • 7. Consumação e Tentativa:


sequestrada e a que sofre a lesão
patrimonial. • É crime formal, se consuma com o
sequestro, independentemente da
• Ex: Sujeito sequestra uma criança, obtenção da vantagem.
pretendendo obter resgate de seus

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• Crime permanente - a consumação se questionado pela autoridade, prestar


alonga no tempo, enquanto a vítima informações que efetivamente facilitem
estiver submetida à privação de sua a localização e libertação da vítima.
liberdade.
• Se as informações em nada
• Admite-se tentativa. colaborarem ou se a vítima for libertada
após a obtenção da vantagem, não há
• A obtenção da vantagem constitui mero diminuição de pena).
exaurimento do crime, que deverá ser
analisado como circunstância judicial no EXTORSÃO INDIRETA
momento da fixação da pena (art. 59,
Código Penal). Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de
dívida, abusando da situação de alguém,
8. Tipos Qualificados (art. 159, § 1º, do CP) : documento que pode dar causa a
procedimento criminal contra a vítima ou contra
• 1ª Qualificadora - Se o sequestro durar terceiro:
mais de 24 horas.
Pena - reclusão, de um a três anos, e
• 2ª Qualificadora - Idade do multa.
sequestrado: menor de 18 anos ou
maior de 60 anos. É preciso que o • 1. Objetividade Jurídica:
sujeito tenha consciência da idade da
vítima. • A objetividade jurídica é o patrimônio e
a livre determinação da vontade.
• 3ª Qualificadora – crime cometido por
bando ou quadrilha (CP, art. 288). Exposição de Motivos do CP: a incriminação
Haverá concurso material. visa "a coibir os torpes e opressivos
expedientes a que recorrem, por vezes, os
Os §§ 2o e 3o: formas qualificadas pelo agentes da usura, para garantir-se contra o
resultado - as lesões graves (reclusão de 16 a risco do dinheiro mutuado.
24 anos) e a morte (reclusão de 24 a 30 anos)
são puníveis a título de dolo ou de culpa. Exemplo: induzir o cliente a assinar um
contrato simulado de depósito ou a forjar no
O resultado deve derivar "do fato“ (sequestro). título de dívida a assinatura de um parente
abastado, de modo que, não resgatada a
É necessário o nexo causal: a morte ou a lesão dívida no vencimento, ficará o mutuário sob a
corporal de natureza grave deve ser produzida pressão da ameaça de um processo por
"no sequestrado" como resultado da privação apropriação indébita ou falsidade.
da liberdade.
• 2. Sujeitos do Delito:
9. Delação premiada (§ 4º)
• Sujeito ativo é quem exige ou recebe,
• Causa obrigatória de redução de pena. como garantia de dívida, documento
que pode dar causa a procedimento
• A delação diz respeito ao crime e não
aos concorrentes (a expressão criminal contra a vítima ou contra
"denunciá-lo" está ligada ao "crime"). terceiro. Crime comum: qualquer
pessoa pode ser autor do fato.
• Para a obtenção do benefício, o agente
deve, por iniciativa própria ou quando

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• Sujeito passivo é quem entrega o qualquer resultado ulterior (recebimento


documento ao sujeito ativo. do documento).

• Pode ocorrer, entretanto, que haja dois • Se a exigência é verbal, não há


sujeitos passivos: um que entrega o tentativa. Se é por escrito ou qualquer
documento e outro contra quem pode outro meio, é possível a tentativa. ex.:
ser iniciado o procedimento criminal. carta extraviada em que consta uma
exigência.
• 3. Elementos Objetivos do Tipo:
• Na conduta de "receber", o delito é
• O tipo penal possui dois núcleos: os material e atinge a consumação com a
verbos "exigir" e "receber". efetiva entrega do documento ao sujeito
• Exigir significa reclamar, obrigar. O ativo. A tentativa é admissível.
sujeito impõe à vitima, como condição • 6. Elementos Subjetivos do Tipo:
da entrega da prestação em dinheiro ou
qualquer valor, o documento que pode • É o dolo: vontade de exigir ou receber,
dar causa a procedimento criminal como garantia de dívida, determinado
contra ela ou contra terceiro. documento.

No segundo caso, é a própria vítima que • Exige-se outro elemento subjetivo,


entrega ao sujeito o documento como garantia contido na expressão "abusando da
da dívida. A iniciativa cabe ao ofendido, que situação aflitiva de alguém".
procura o sujeito ativo, a ele entregando o
documento incriminador. • 7. Pena e Ação Penal:

A lei se refere à situação aflitiva de "alguém“, • A pena é de reclusão, de um a três


que pode ser a vítima ou terceiro. anos, e multa.

É necessário que o documento, público ou • A ação penal é pública incondicionada.


particular, possa dar causa à instauração de DO DANO (Art. 163, CP)
um procedimento criminal (inquérito policial ou
ação penal) contra alguém, não sendo Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa
necessário que tenha efetivo início. alheia:

Exs.: cheque sem fundos, documento falso, Pena - detenção, de um a seis meses, ou
confissão da prática de delito etc. multa.

Quanto ao cheque sem fundos, subsiste a Dano qualificado


extorsão indireta ainda quando emitido como
garantia de dívida, pós-datado ou assinado em Parágrafo único - Se o crime é cometido:
branco. Ver Súmula 246, STF.
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
• 5. Consumação e Tentativa:
II - com emprego de substância inflamável ou
• No núcleo "exigir", o crime é formal e explosiva, se o fato não constitui crime mais
atinge a consumação com a simples grave;
exigência, independentemente de

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III - contra o patrimônio da União, Estado, • Na inutilização, a coisa perde a


Município, empresa concessionária de serviços finalidade a que se destinava. Ex.: furar
públicos ou sociedade de economia mista; os olhos de um cão de guarda.

IV - por motivo egoístico ou com prejuízo • Na deterioração, o objeto material perde


considerável para a vítima: parte de sua utilidade específica. Ex.:
lançar tinta num quadro artístico.
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e
multa, além da pena correspondente à • O crime pode ser cometido por ação ou
violência. omissão.

OBJETIVIDADE JURÍDICA • Ex: deixar de regar a plantação,


causando a destruição de uma horta.
• A objetividade jurídica é o patrimônio.
Tutela-se a propriedade de bens móveis TIPO SUBJETIVO
e imóveis.
É o dolo, direto ou eventual.
• O dano também pode ser previsto como
elementar ou qualificadora de vários Hungria: exige-se a finalidade especial de
crimes, como, por exemplo, os dos art. causar um prejuízo à vítima - animus nocendi.
155, § 4º, I; 161; 202, in fine; 210; 305; Não há forma culposa no CP, apesar de haver
314; 345 (com violência à coisa), todos o dano culposo na lei dos crimes ambientais
do CP. (art. 38, p. único e 62, p. único da lei 9605/98).
• O ânimo de lucro não é essencial, • CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
embora possa aparecer de modo
indireto. • O crime se consuma com o efetivo
resultado de dano ao objeto material,
• SUJEITOS DO DELITO total ou parcial, de acordo com o dolo
• É crime comum. Qualquer pessoa pode do agente.
ser sujeito ativo de dano, salvo o • Admite-se a figura da tentativa, pois é
proprietário.
possível fracionar o iter criminis.
• A destruição da própria coisa pode ter • Ex.: o sujeito erra o alvo na conduta de
relevância penal no caso de estelionato, abater a tiros um animal de propriedade
incêndio, explosão, que são crimes de alheia.
perigo, ou no exercício arbitrário das
próprias razões (art. 346). • FIGURAS TÍPICAS QUALIFICADAS

• Sujeito passivo é o titular do direito de • Pena: detenção, de seis meses a três


propriedade da coisa móvel ou imóvel. anos, e multa, além da pena
Pode ser o proprietário ou o possuidor correspondente à violência.
legítimo.
• I. Com emprego de violência a pessoa
TIPO OBJETIVO ou grave ameaça (pelo modo de
execução);
• Destruir é desfazer, subverter a coisa.
O objeto material cessa de existir em • Pode ser contra o titular da propriedade
sua individualidade. ou terceira pessoa a ele ligada. Se há

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resultado da violência física, responde AÇÃO PENAL


por dois crimes em cúmulo material.
• Art. 167, CP: o dano simples (art. 163,
• II. Com emprego de substância caput) e o qualificado do n° IV do
inflamável ou explosiva, se o fato não parágrafo único, são de crimes de ação
constitui crime mais grave (pelo modo penal de iniciativa privada.
de execução);
• Nos demais casos, a ação penal é
• Crime mais grave: delito contra a pública incondicionada.
incolumidade pública - de perigo
comum (CP, art. 250 e 251). APROPRIAÇÃO INDÉBITA

III. Contra o patrimônio da União, Estado, Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel,
Município, empresa concessionária de serviços de que tem a posse ou a detenção:
públicos ou sociedade de economia mista (pela Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
qualidade da coisa);
§ 1º - A pena é aumentada de um terço,
Controvérsia: preso que danifica cela a fim de quando o agente recebeu a coisa:
fugir.
I - em depósito necessário;
1ª Corrente – Responde por dano qualificado
(Damásio). O dano não exige o chamado dolo II - na qualidade de tutor, curador, síndico,
específico, que se manifesta no animus liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
nocendi. depositário judicial;

2ª Corrente - Não responde por delito de dano III - em razão de ofício, emprego ou
qualificado, pois considera-se que o crime de profissão.
dano exige o dolo específico, ausente na
conduta do preso que danifica a cela a fim de • 1. CONCEITO E OBJETIVIDADE
alcançar a liberdade. JURÍDICA

• IV. Por motivo egoístico (pelo motivo) • A característica fundamental desse


ou com prejuízo considerável para a crime é o abuso de confiança.
vítima (pela gravidade objetiva do
• O sujeito ativo, tendo a posse ou a
prejuízo da vítima).
detenção da coisa alheia móvel, a ele
• O MOTIVO EGOÍSTICO: É necessário confiada pelo ofendido, em determinado
que o sujeito aja com a finalidade de instante passa a comportar-se como se
alcançar um interesse posterior de fosse dono, negando-se a devolvê-la ou
ordem moral ou econômica. realizando ato de disposição.

• Ex.: destruição do trabalho de um • A objetividade jurídica é o patrimônio.


concorrente para evitar a competição ou
• Requisitos:
dar mais valor ao próprio.
• a) apropriação de coisa alheia móvel;
• PREJUÍZO CONSIDERÁVEL PARA A
VÍTIMA: É necessário que tenha • b) que esteja na posse ou detenção do
causado maior prejuízo à vítima. agente;

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• c) que haja dolo. Tendo o sujeito a posse ou a detenção do


objeto material, em dado momento, inverte o
APROPRIAÇÃO INDÉBITA X FURTO título da posse ou da detenção, comportando-
O agente tem a posse ou a detenção do bem se como se fosse dono.
da vítima de forma lícita (a vítima lhe entrega o A doutrina classifica a apropriação em duas
bem de forma livre, espontânea e consciente). espécies:
No furto, o agente entra na posse do bem
alheio de forma ilícita (subtrai). Propriamente Dita - comissão (conduta
positiva: venda, doação, consumo, penhor,
APROPRIAÇÃO X ESTELIONATO ocultação etc).
O dolo de apropriar-se deve ser posterior à Negativa de Restituição - o sujeito afirma
posse. Exige-se que o agente, ao receber o claramente ao ofendido que não irá devolver o
bem da vítima esteja de boa-fé (tenha a objeto material (nega-se a devolver a coisa).
intenção de devolvê-lo), surgindo depois o
animus rem sibi habendi – a intenção de tê-la B) ELEMENTOS NORMATIVOS
para si em caráter definitivo.
A posse a que a lei se refere é direta, lícita e
Se no ato do recebimento, já tencionava desvigiada, por força de obrigação ou direito,
apoderar-se da coisa, haverá estelionato. como nos casos do usufrutuário, do credor
pignoratício, do locatário etc.
• 2. SUJEITOS DO DELITO
É necessário que a posse ou a detenção seja
• Sujeito ativo é qualquer pessoa, desde de origem lícita (não tenha sido obtida com
que tenha a posse ou a detenção lícita violência, erro, clandestinidade etc).
do bem.
Se a posse é “vigiada” o crime será de furto. A
• Se o agente é funcionário público, e se posse vigiada não precisa ser 24 horas por dia.
apropria de bem público ou particular,
que está sob a guarda da A posse direta, que é sempre desvigiada, pode
administração, o delito cometido é de ser:
peculato (CP, art. 312).
interessada - existe interesse do próprio sujeito
• Sujeito passivo é a pessoa que, não ativo, como é a hipótese da locação;
cumprida a relação obrigacional com a
restituição da coisa, sofre prejuízo. não interessada - existe beneficio só de
terceiro, como no mandato.
• Em todas as hipóteses de apropriação
indébita existe relação obrigacional DETENÇÃO significa poder de fato, em que a
entre duas pessoas. pessoa a exerce em cumprimento de ordens ou
instruções, por mera permissão ou tolerância.
3. TIPO OBJETIVO
Ex.: empregado doméstico detém o dinheiro
A) NÚCLEO que o patrão lhe entrega para compras na feira,
ou daquele que recebe o automóvel de outrem
“Apropriar-se” significa fazer sua a coisa alheia, para um simples passeio.
tomar como propriedade, apoderar-se
indevidamente.

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Só há apropriação indébita na detenção • 4. TIPO SUBJETIVO


desvigiada. Se é vigiada, o fato passa a
constituir furto. • É o dolo, a vontade livre e consciente
de se apropriar definitivamente de coisa
Ex.: Biblioteca pública: coloca o livro sob o alheia móvel, de que tem a posse ou a
paletó e se retira. Se o livro foi emprestado detenção.
para consulta em casa e o sujeito vende a
terceiro: apropriação indébita. • O dolo deve ser contemporâneo com a
conduta da apropriação.
C) OBJETO MATERIAL
• Se o sujeito já recebe a coisa a título de
É a coisa alheia móvel (tudo que pode ser posse ou detenção com finalidade de
movido, deslocado). apropriar-se dela, responde por
estelionato (dolo ab initio).
Para existir apropriação indébita é necessário
que a coisa móvel seja "alheia". O fato, • É exigível, também, a demonstração do
entretanto, pode ser cometido pelo sócio, co- animus rem sibi habendi por parte do
herdeiro ou co-proprietário. agente, ou seja, a intenção de ter a
coisa para si (ou para outrem) com
É relevante a distinção entre coisas fungíveis e ânimo de assenhoreamento definitivo.
infungíveis para efeito da existência do delito
de apropriação indébita. Não constitui infração penal a denominada
apropriação indébita de uso, que ocorre
Nos termos do art. 85 do CC, são fungíveis os quando o agente que detém o bem da vítima
móveis que podem substituir-se por outros da tem a intenção de restituí-lo.
mesma espécie, qualidade e quantidade.
Não constitui apropriação indébita a simples
As coisas fungíveis dadas em depósito ou em mora em restituir, ou a simples desídia no
empréstimo, com obrigação de restituição da omitir (meras inadimplências contratuais).
mesma espécie, qualidade e quantidade, não
podem ser objeto material de apropriação 5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
indébita, pois nesses casos, há transferência
de domínio (propriedade). • Crime material e instantâneo, consuma-
se com a efetiva apropriação, quando o
Mútuo - art. 586, CC: "o mútuo é o empréstimo sujeito inverte o título da posse.
de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a
restituir ao mutuante o que dele recebeu em • O agente ostentava a posse em caráter
coisas do mesmo gênero, qualidade e provisório e agora passa a ostentá-la
quantidade". com animus domini, comportando-se
como dono, praticando atos
• Em princípio, os bens fungíveis não inequívocos de proprietário do objeto.
podem ser objeto de apropriação, salvo
se foram recebidos para serem • Na APROPRIAÇÃO INDÉBITA
entregues a terceiros. 6. PROPRIAMENTE DITA, o delito se
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA consuma com o ato de disposição
(consumo, alheação, ocultação, desvio).
• Crime material e instantâneo, consuma-
se com a efetiva apropriação, quando o
sujeito inverte o título da posse.

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• A tentativa é admissível. Ex.: é • Há maior reprovação por causa da


surpreendido antes de vender a coisa quebra da especial relação de
de que tinha a posse ou a detenção. confiança (fidelidade).

Na NEGATIVA DE RESTITUIÇÃO (retenção), • A figura do depositário judicial não se


o crime se consuma quando o sujeito se refere ao sujeito que desempenha
recusa a devolver o objeto material. função pública (este responde por
peculato).
É impossível a tentativa, pois quando o sujeito
se nega a devolver o objeto material o delito já • c) Em razão de ofício, emprego ou
está consumado. profissão

Segundo a jurisprudência, há consumação • Há maior reprovação por causa da


quando, notificado para devolver a coisa, o quebra da especial relação de
agente desatende a essa notificação. confiança (fidelidade).

A notificação não é exigida, mas na prática é • Ex. o administrador de imóveis ou


necessária, porque permite que se identifique o advogado.
animus rem sibi habendi.
7. FIGURA TÍPICA PRIVILEGIADA
• 6. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
• Art. 170 do CP, à apropriação indébita é
• De acordo com o art. 168, §1º, do CP, a aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
pena é aumentada de um terço, quando
o agente recebeu a coisa: • Se o acusado é primário e é de
pequeno valor a coisa apropriada o juiz
• a) Em depósito necessário: deve substituir a pena de reclusão pela
de detenção, diminuí-la de um a dois
• Entende-se que o art. 168, parágrafo terços ou aplicar somente a pena de
único, I, do CP, quando fala em multa.
depósito necessário, abrange
exclusivamente o depósito necessário • 8. PENA E AÇÃO PENAL
miserável (art. 647 do Código Civil, II. -
O que se efetua por ocasião de alguma • Nos termos do art. 168, caput, do CP, a
calamidade, como o incêndio, a pena é de reclusão, de um a quatro
inundação, o naufrágio, ou o saque). anos, e multa.

• b) Na qualidade de tutor (ar. 1741, CC), • Nas hipóteses do parágrafo único, a


curador (art. 1767, CC), síndico pena é aumentada de um terço.
(revogado pela nova lei de falências), • A ação penal é pública incondicionada.
inventariante (art. 1991, CC),
testamenteiro ou depositário judicial (ar. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
148, CC).
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência
• Enumeração taxativa (não pode ser social as contribuições recolhidas dos
interpretada extensivamente). contribuintes, no prazo e forma legal ou
convencional:

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Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e Trata-se de crime instantâneo, que se consuma
multa. no momento em que decorre o prazo e o
responsável deixa de repassar a contribuição.
1. CONCEITO - Não levar a efeito o repasse
das contribuições previamente recolhidas dos Por ser crime omissivo próprio, não admite a
contribuintes aos cofres da Previdência Social. tentativa. Para Bitencourt, cabe tentativa se o
sujeito inverte o título da posse (dispõe do
2. BEM JURÍDICO TUTELADO valor).
Tutela-se o patrimônio da seguridade 7. PENA E AÇÃO PENAL
social.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
multa.
3. SUJEITOS DO CRIME A ação penal e pública incondicionada.
A) SUJEITO ATIVO - É o substituto tributário, FORMAS EQUIPARADAS
aquele que tem a obrigação legal de repassar à
Previdência as contribuições recolhidas. § 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar
de: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Trata-se de crime próprio praticado pelo sócio
administrador ou gerente ou diretor de agentes I – recolher, no prazo legal, contribuição ou
ligados à rede bancária ou qualquer outro outra importância destinada à previdência
estabelecimento autorizado a receber social que tenha sido descontada de
contribuições. pagamento efetuado a segurados, a terceiros
ou arrecadada do público;
B) SUJEITO PASSIVO É Estado (INSS -
Instituto Nacional do Seguro Social). O sujeito ativo é o empresário que omite o
recolhimento de contribuição ou importância
4. TIPO OBJETIVO descontada de pagamentos feitos a segurados,
A) NÚCLEO: “deixar de repassar” (conduta a terceiros (empresas ou cooperativas) ou ao
omissiva) B) OBJETO MATERIAL: público (de concursos prognósticos.
contribuições sociais recolhidas dos II – recolher contribuições devidas à
contribuintes. C) ELEMENTO NORMATIVO: previdência social que tenham integrado
“no prazo e na forma legal ou convencional” despesas contábeis ou custos relativos à
(norma penal em branco). venda de produtos ou à prestação de serviços;
5. TIPO SUBJETIVO III - pagar benefício devido a segurado, quando
É o dolo de abster-se de repassar à Receita as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
Previdenciária as contribuições recolhidas dos reembolsados à empresa pela previdência
contribuintes. Não há necessidade de animus social.
rem sibi habendi. Não há previsão de • A única hipótese aplicável ao inciso III é
modalidade culposa. o salário-família (art. 68, da Lei 8213/91
6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA e Lei 9876/99).

EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE

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§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, O bem jurídico tutelado é o patrimônio em geral


espontaneamente, declara, confessa e efetua o (bens móveis, imóveis, direitos etc), bem como
pagamento das contribuições, importâncias ou as relações sociais, que exigem confiança
valores e presta as informações devidas à indispensável entre os membros da
previdência social, na forma definida em lei ou comunidade.
regulamento, antes do início da ação
fiscal. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) 2. SUJEITOS DO DELITO (CRIME COMUM)

É hipótese de arrependimento posterior com SUJEITO ATIVO – pode ser qualquer pessoa.
efeito de causa extintiva de punibilidade, desde SUJEITO PASSIVO – é qualquer pessoa
que praticada a conduta antes do início da determinada (proprietário, possuidor ou
fiscalização. qualquer prejudicado).
PERDÃO JUDICIAL Se for um numero indeterminado de pessoas,
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena pode caracterizar crime contra a economia
ou aplicar somente a de multa se o agente for popular ou contra as relações de consumo.
primário e de bons antecedentes, desde que: 3. TIPO OBJETIVO
I – tenha promovido, após o início da ação
A) NÚCLEO
fiscal e antes de oferecida a denúncia, o
pagamento da contribuição social Obter significa alcançar, adquirir.
previdenciária, inclusive acessórios; ou
B) OBJETO MATERIAL
II – o valor das contribuições devidas, inclusive
acessórios, seja igual ou inferior àquele Vantagem indevida (Bens móveis, imóveis,
estabelecido pela previdência social, direitos etc) em prejuízo alheio.
administrativamente, como sendo o mínimo
C) MEIOS DE EXECUÇÃO
para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
Induzir - fazer nascer o erro (conduta
ESTELIONATO
comissivo) ou Manter – sabe que a vítima está
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, em erro e a mantém nessa situação,
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo aproveitando-se para obter a vantagem.
ou mantendo alguém em erro, mediante
Em erro (falsa representação da realidade)
artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento: Artifício – produto de arte (aspecto material) –
palavras, gestos, atos. Pode ser ostensivo ou
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e
tácito, explícito ou implícito.
multa.
Ardil – manha, sutileza, reticência maliciosa
1. CONCEITO e BEM JURÍDICO TUTELADO
(aspecto intelectual) – dirige-se a psiqué, ao
“Stellio” significa camaleão. Estelionato é a intelecto, ao sentimento ou à lógica.
conduta dirigida a obtenção de vantagem
4. TIPO SUBJETIVO
indevida (para si ou para terceiro)em prejuízo
alheio, sendo que a vítima é induzida ou É o dolo (animus fraus), vontade livre e
mantida em erro pelo sujeito ativo, que, para consciente de obter a vantagem ilícita em
tanto, se utiliza de fraude (artifício ou ardil).

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prejuízo de terceiro, que deve ser anterior à I - vende, permuta, dá em pagamento, em


eventual posse da coisa. locação ou em garantia coisa alheia como
própria;
Exige-se o especial fim agir de obter ilícita
vantagem para si ou para outrem.

Não há modalidade culposa.

5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Alienação/oneração fraudulenta de coisa


própria
Crime material e instantâneo, consuma-se o
estelionato com a obtenção da vantagem em II - vende, permuta, dá em pagamento ou em
prejuízo alheio (binômio). garantia coisa própria inalienável, gravada de
ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu
Admite-se a tentativa, por se tratar de crime vender a terceiro, mediante pagamento em
plurissubsistente. O crime exige cooperação da prestações, silenciando sobre qualquer dessas
vítima. Se iniciada a execução da prática da circunstâncias;
fraude, o agente consegue enganar a vítima,
mas não chega a obter a vantagem indevida, Defraudação de penhor
há tentativa.
III - defrauda, mediante alienação não
Se não chega sequer a enganar, há meros atos consentida pelo credor ou por outro modo, a
preparatórios. garantia pignoratícia, quando tem a posse do
objeto empenhado;
6. PENA E AÇÃO PENAL
Fraude na entrega de coisa
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
IV - defrauda substância, qualidade ou
A ação e pública incondicionada, com a quantidade de coisa que deve entregar a
ressalva do artigo 182, CP. alguém;
ESTELIONATO PRIVILEGIADO Fraude para recebimento de indenização ou
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de valor de seguro
pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta
pena conforme o disposto no art. 155, § 2º. coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a
O pequeno prejuízo deve ser aferido de acordo saúde, ou agrava as conseqüências da lesão
com a condição pessoal da vítima, conceito ou doença, com o intuito de haver indenização
diverso de coisa de pequeno valor. ou valor de seguro;

MODALIDADES ESPECIAIS Fraude no pagamento por meio de cheque

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: VI - emite cheque, sem suficiente provisão de
fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o
pagamento.

Disposição de coisa alheia como própria Causa de aumento de pena

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o


crime é cometido em detrimento de entidade de

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direito público ou de instituto de economia 3. BEM JURÍDICO TUTELADO – patrimônio.


popular, assistência social ou beneficência.
4. SUJEITO ATIVO e SUJEITO PASSIVO
RECEPTAÇÃO
Qualquer pessoa (crime comum).

Não pode ser sujeito ativo aquele que praticou


Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, do crime anterior e posteriormente adquiriu a
conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou coisa dos outros agentes.
alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, 5. TIPO SUBJETIVO
receba ou oculte: É o dolo direto: “sabe ser produto de crime”.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
1. CONCEITO Receptação própria é Crime material –
a) RECEPTAÇÃO PRÓPRIA consuma-se com prática das condutas
descritas recaindo sobre a coisa que se sabe
Adquirir – Obter a propriedade da coisa, de ser produto de crime.
forma onerosa ou gratuita. Ex.: compra,
doação, sucessão causa mortis, compensação Para a maioria da doutrina, a receptação
de dívidas, apoderamento. imprópria é crime formal, não se exigindo que o
terceiro de boa-fé adote o comportamento
Receber – ter a posse ou detenção da coisa, a desejado pelo sujeito ativo. Consuma-se com a
fim de utilizá-la. simples influência deste.

Transportar – remover, deslocar a coisa de um 7. PENA E AÇÃO PENAL


lugar para outro.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Conduzir - guiar, dirigir (aplica-se a veículo)
8. OBSERVAÇÕES
Ocultar – esconder a coisa, subtraí-la das
vistas de outrem, apresentá-la de forma a) Receptação em cadeia – é cabível a
irreconhecível. Pressupõe aquisição ou receptação da receptação, uma vez que o
recebimento. receptador sabe que a coisa é produto de
crime anterior.
b) RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA
b) Prova do crime anterior – a receptação é
Influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, crime acessório, que depende de um crime
receba ou oculte a coisa que é produto de anterior, portanto, na dúvida acerca da
crime. existência deste, absolve-se o agente da
imputação de receptação.
2. OBJETO MATERIAL
RECEPTAÇÃO QUALIFICADA
Coisa móvel que o agente sabe que produto de
crime. Exige-se a pratica de crime anterior. § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir,
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
Exclui-se a coisa oriunda de contravenção remontar, vender, expor à venda, ou de
penal. qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou

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industrial, coisa que deve saber ser produto de 4. SUJEITO ATIVO - É o comerciante ou
crime: industrial (crime próprio) “no exercício de
atividade comercial ou industrial”.
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
5. SUJEITO PASSIVO – qualquer pessoa física
1. CONCEITO - Além das cinco condutas ou jurídica.
descritas no caput, pune-se o comerciante ou
industrial que praticar as condutas de: 6. TIPO SUBJETIVO – dolo eventual “deve
saber que é produto de crime” .
Ter em depósito – armazenar, guardar, manter,
conservar (crime permanente). 7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Desmontar – separar as peças existentes, Crime material – consuma-se com prática das
desencaixar. condutas descritas recaindo sobre a coisa que
deve saber ser produto de crime.
Montar – juntar as peças que se encontravam
separadas do todo, de modo a permitir o 8. PENA E AÇÃO PENAL
funcionamento da coisa.
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
Expor à venda – exibir, mostrar com a
finalidade de transferi-la a terceiro. RECEPTAÇÃO CULPOSA

Utilizar, de qualquer forma, em proveito próprio § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua
ou alheio – usar, empregar, fazer uso, valer-se. natureza ou pela desproporção entre o valor e
o preço, ou pela condição de quem a oferece,
Remontar – montar novamente, consertando-o, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
reparando-o.
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou
Vender – transferir o domínio a outrem multa, ou ambas as penas.
mediante pagamento.
1. CONCEITO - Exceção aos tipos
2. OBJETO MATERIAL culposos, que em regra são abertos, o
§3º do artigo 180, é um tipo fechado,
Coisa móvel que o agente DEVE SABER que é descrevendo de forma pormenorizada a
produto de crime. Exige-se a pratica de crime conduta do agente.
anterior.
2. OBJETO MATERIAL
Exclui-se a coisa oriunda de contravenção
penal. É a coisa móvel que deve presumir-se obtida
por meio criminoso:
Cláusula de equiparação (§2º)
por sua natureza – características peculiares
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para (ex.: peças, acessórios de carro etc)
efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o pela desproporção entre o valor e o preço – há
exercício em residência. (Redação dada pela indício da origem criminosa.
Lei nº 9.426, de 1996)
pela condição de quem a oferece – condição,
3. BEM JURÍDICO TUTELADO – patrimônio. aparência, idade, conduta social.

3. TIPO SUBJETIVO

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DIREITO PENAL
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Culpa: “Deve presumir-se obtida por meio CAPÍTULO VIII


criminoso” – imprudência do receptador – DISPOSIÇÕES GERAIS
inobservância do dever de cuidado.
Art. 181 - É isento de pena quem comete
4. SUJEITO ATIVO e SUJEITO PASSIVO – qualquer dos crimes previstos neste título, em
qualquer pessoa prejuízo:

5. CONSUMAÇÃO I - do cônjuge, na constância da sociedade


conjugal;
Consuma-se com a aquisição ou o recebimento
da coisa que presumidamente seja produto de II - de ascendente ou descendente, seja o
crime. parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.
Não se admite TENTATIVA.
As ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS são
6. PENA E AÇÃO PENAL IMUNIDADES PENAIS ABSOLUTAS previstas
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou na lei penal (também chamadas de condições
multa, ou ambas as penas. negativas de punibilidade ou causas pessoais
de exclusão da pena), obstando a aplicação da
PERDÃO JUDICIAL (§ 5º primeira parte) sanção penal.

Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, Não há exclusão do crime, mas por razão de
pode o juiz, tendo em consideração as política criminal, levando-se em conta motivos
circunstâncias, deixar de aplicar a pena. de ordem utilitária e baseando-se na
circunstância de existirem laços familiares ou
PRIVILÉGIO (§ 5º, segunda parte) afetivos entre os envolvidos, não se pune o fato
típico, antijurídico e culpável.
Na receptação dolosa aplica-se o disposto no §
2º do art. 155. As escusas absolutórias têm caráter pessoal,
ou seja, são incomunicáveis a terceiros
AUTONOMIA DA RECEPTAÇÃO
estranhos aos laços de família ou afetivos.
4º - A receptação é punível, ainda que
Impedem, inclusive, a instauração de inquérito
desconhecido ou isento de pena o autor do
policial, salvo se houver crime conexo que
crime de que proveio a coisa.
atinja outro bem jurídico (ex.: falso - não
AUMENTO DE PENA ou FORMA incidirá sobre este a escusa absolutória).
QUALIFICADA
HIPÓTESES LEGAIS:
§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do
I - do cônjuge, na constância da sociedade
patrimônio da União, Estado, Município,
conjugal;
empresa concessionária de serviços públicos
ou sociedade de economia mista, a pena Marco inicial: declaração formal de casamento
prevista no caput deste artigo aplica-se em (art.1514, CC).
dobro.
Marco Final: dissolução do casamento (art.
• Só se aplica à figura do caput, não 1571):
alcançando a figura qualificada.
Morte de um dos cônjuges;

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Nulidade ou anulação do casamento; É necessário comprovar a relação de


parentesco colateral e a coabitação ao tempo
Separação judicial; do crime, mesmo que este não ocorra nas
Divórcio. dependências da residência comum.

Não há necessidade de coabitação no RESSALVAS ÀS IMUNIDADES


momento do crime (o casal poderia estar Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois
separado de fato, mas a sociedade conjugal artigos anteriores:
ainda não estava dissolvida).
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou,
A doutrina admite analogia in bonam partem em geral, quando haja emprego de grave
para alcançar a união estável, uma vez que a ameaça ou violência à pessoa;
CR/1988 a reconhece como entidade familiar,
assim como o faz o Código Civil (art. 1723). II - ao estranho que participa do crime.

II - de ascendente ou descendente, seja o • Trata-se de condição de caráter


parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou pessoal, que não pode alcançar o
natural. estranho, que não faz parte da relação
familiar albergada.
Não há mais tratamento discriminatório quanto
à filiação, de acordo com a CR/1988 (art. 227, A imunidade não impede que o estranho
§6º). responda pela circunstância do concurso de
pessoas. Ex.: furto qualificado pelo concurso.
IMUNIDADES RELATIVAS (Art. 182, CP)
III – se o crime é praticado contra pessoa com
Não afasta a punibilidade, mas condiciona a idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
instauração do inquérito e a ação penal à (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
representação do ofendido, no prazo
decadencial de 6 meses, se o crime patrimonial Se a vítima tiver 60 anos ou mais, em razão de
é cometido em prejuízo: sua maior vulnerabilidade, afastam-se todas as
imunidades, absolutas e relativas.
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente
separado;

Por “desquitado” entenda-se separado


judicialmente. Essa separação tem por
finalidade a dissolução da sociedade conjugal
(não é mera separação de corpos – art. 1562,
CC).

• Marco Inicial – trânsito em julgado da


sentença que decretar a separação
judicial.

II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;

III - de tio ou sobrinho, com quem o agente


coabita.

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