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DIREITO DO TRABALHO
Prof. Marcílio Florêncio Mota
Para obter alimentos, inicialmente, dado o primitivismo de sua vida, depois, em face do imperativo de se
defender de animais ferozes e de outros homens, o homem iniciou a fabricação de armas e instrumentos de defesa.
Das lutas travadas entre as tribos decorria que os vencedores destruíam os vencidos para comê-los ou para
livrarem-se dos incômodos que poderiam representar. Concebeu-se a idéia de que os vencidos ao invés de serem
destruídos, poderiam ser utilizados nos trabalhos. Os mais valentes aprisionavam um maior numero de inimigos e
não apenas utilizava no trabalho, mas os vendia ou trocava. O vencido era patrimônio do vencedor.
A escravidão entre os egípcios, os gregos e os romanos atingiu grandes proporções. Aos escravos eram
dados os serviços manuais exaustivos não só por essa causa como, também, porque tal gênero de trabalho era
considerado impróprio e até desonroso para os homens válidos e livres. Aristóteles pregava que para ser culto, era
necessário ser rico e ocioso e que isso não seria possível sem a escravidão. A escravidão se estendeu pelos tempos
medievais até a idade moderna com o subjugo do índio e do negro e subsiste ate os nossos dias, inclusive sob a
forma de trabalho análogo ao de escravo.
A servidão, o segundo fenômeno destacável na evolução do trabalho do homem, foi um tipo muito
centralizado de trabalho em que o individuo, sem ter a condição jurídica do escravo, na realidade não dispunha de
sua liberdade. Sua base legal estava na posse da terra pelos senhores que se tornavam os possuidores de todos os
direitos, numa economia que se firmava na terra – agricultura ou pecuária. Aos servos era assegurado o direito de
herança de animais, objetos pessoais e, em alguns lugares, o uso de pastos, mas o imposto de herança absorvia os
bens dos herdeiros. Havia muitos pontos de contato entre a servidão e a escravidão. O senhor da terra podia
mobilizá-los obrigatoriamente para a guerra e também, sob contrato, cedia seus servos aos donos das pequenas
fabricas ou oficinas já existentes. A servidão começou a desaparecer no final da idade media.
Já as corporações de oficio surgiram na época da servidão em decorrência da concentração de massas de
população na cidade, fugidos dos campos, onde o poder dos nobres era quase absoluto. A identidade de profissões
obrigava a união dos nobres para que se assegurassem direitos e prerrogativas. O homem que, até então, trabalhava
em beneficio exclusivo do senhor da terra, tirando como proveito próprio a alimentação, o vestuário e a habitação,
passara a exercer sua atividade, sua profissão em forma organizada, se bem que ainda não gozando inteira
liberdade. É que, senhor da disciplina, não só profissional, mas também pessoal do trabalhador, surgia a figura do
mestre. Tinha o mestre, sob suas ordens, não apenas aprendizes, pois lhe estavam subordinados trabalhadores,
mediamente rigorosos contratos em que o motivo não era simplesmente a “locação do trabalho”, pois se submetiam
às suas determinações até mesmo quanto ao direito de mudança de domicilio.
Em troca, alem de salário, tinha a proteção de socorros em casos de doença e lhes ficava assegurado um
verdadeiro monopólio de profissão, já que só podiam exercê-la os que estivessem inscritos na corporação, e mais
ainda, poderia um dia vir a ser também mestres.
III) Esse período vai da primeira das encíclicas papais, a de “Rerum Novarum”(1891), de Leão
XIII, de suma importância para a doutrina social da igreja com larga repercussão histórica até
a 1ª. Guerra mundial. É marcado pela conferencia de Berlim (1891), com o gênio político de
Bismarck formulando a idéia de seguros sociais. Acontecimentos legislativos:
PONTOS CULMINANTES: constituições de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988; promulgação da CLT; criação da Justiça
do Trabalho; Instituição da seguridade social; leis de greves e proibindo lock-out; lei regulando o repouso
remunerado; disciplina do trabalho do doméstico, temporário, avulso e rural; instituição do PIS, FGTS, seguro
desemprego e salário mínimo. No momento existem projetos de código do trabalho e código de processo do trabalho.
2° AULA: PRINCIPIOS DE DIREITO DO TRABALHO
1. Definição
Princípios são linhas diretrizes que informam algumas normas e inspiram direta ou indiretamente uma serie
de soluções, pelo que, podem servir para promover e fundamentar a aprovação de novas normas, orientar a
interpretação das já existentes e resolver os casos não previstos.
Do conceito se extrai as funções dos princípios de direito:
a) Informadora: inspiram o legislador, servindo de fundamento para o ordenamento jurídico;
b) Interpretadora: operam como um critério orientador do juiz ou do interprete; e
c) Normativa: atuam como fonte supletiva, no caso da ausência de lei. São meios de integração
do direito - art. 8º da CLT e 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – Decreto-lei
n. 4657/1942.
4.4. MULTINORMATIVIDADE
Pretende o reconhecimento de outros centros de positivação do direito além do estatal, ou seja, que se
reconheça que o Direito do Trabalho pode decorrer de ajustes entre os interessados, de regulamentos de empresa
ou de convenções ou acordos coletivos de trabalho. A Constituição Federal positiva este princípio no inciso XXVI do
art. 7º. Além das Convenções e Acordos Coletivos de Trabalho como expressões dessa multinormatividade que o
direito reconhece, esse princípio se expressa, como já sublinhamos, pela possibilidade de ajustes entre os próprios
integrantes da relação de trabalho, pelos quais se criem direitos e até pela imposição de regulamento pela empresa
aos seus empregados, desde que, nesse último caso, seja para a criação, regulamentação ou ampliação de direitos.
4.7. DA PROTEÇAO
O princípio é o resultado da constatação de que o trabalhador participa da relação de trabalho em estado de
hipossuficiência jurídica e/ou econômica, ou seja, que ele é a parte mais vulnerável na contratação e, por isso,
precisa ser protegido pelo sistema normativo. Na verdade, o trabalhador participa da relação de trabalho com a sua
força de trabalho, física e intelectual, não dispões dos instrumentos para a produção ou prestação de serviços, no
mais das vezes, e, nesse contexto, tem a sua liberdade de contratação diminuída pelo poder do empregador. Esse
princípio se subdivide em outros três:
DO INDUBIO PRO OPERARIO OU DO IN DUBIO PRO OPERARIO. Esse subprincípio aconselha o
interprete a escolher, entre duas ou mais interpretações viáveis de uma norma a que for mais favorável ao
trabalhador. Assim, se é possível interpretar razoavelmente uma regra de duas ou mais maneiras, o
intérprete deve escolher a interpretação que seja mais favorável ao trabalhador. Esse princípio não se aplica
aos casos de nítida manifestação do legislador pela norma que pode ser interpretada sem maiores
dificuldades e em matéria probatória. Nos processos não se aplica o princípio do in dubio pro operario. O juiz
decidirá com base na prova produzida e na dúvida quanto à prova deve recorrer a recursos de
complementação e interpretação da prova segundo o ônus probatório. O princípio da proteção que existe no
processo do trabalho não tem relação com o princípio do in dubio pro operario.
DA NORMA MAIS FAVORÁVEL. Por esse subprincípio, a aplicação de uma regra a uma relação de trabalho
não depende de sua posição na hierarquia das normas, mas da forma como ela trata o trabalhador. Quando
duas ou mais normas tratarem de determinada questão e se apresentarem ao mesmo tempo concedendo e
retirando direitos, adotamos a teoria do “conglobamento”, de inspiração do direito espanhol, que menciona
que as normas em sobreposição devem ser consideradas no conjunto para, então, se extrair qual a mais
benéfica e que deve incidir na relação específica.
DA CONDIÇÃO MAIS BENÉFICA. Esse subprincípio determina a prevalência das condições mais
vantajosas para o trabalhador, previstas no contrato ou regulamento, ainda quem vigore ou sobrevenha
norma jurídica imperativa prescrevendo menos nível de proteção e que com esta não sejam elas
incompatíveis. Aqui, a norma editada pelo Estado não prevalece sobre a norma ajustada pelos contratantes,
se o ajuste contratual ou o regulamento for mais vantajoso ao trabalhador.
4.10. DA RAZOABILIDADE
O princípio noticia que as pessoas atuam ou devem atuar razoavelmente, quer dizer, conforme à razão. Ele
serve para medir a veracidade de determinada explicação ou solução, como critério distintivo em situações limítrofes
nas quais se deva distinguir a realidade da simulação. Por exemplo, os cartões de ponto que revelam que o
trabalhador sempre, invariavelmente, iniciava e concluía a jornada no mesmo horário atenta contra o princípio da
razoabilidade. Fere também a razoabilidade que alguém diga que trabalhou cumprindo jornadas das 02h às 23h.
Vejamos o item III da Súmula 338 do TST, que tratam da razoabilidade.
III - Os cartões de ponto que demonstram horários de entrada e saída uniformes são
inválidos como meio de prova, invertendo-se o ônus da prova, relativo às horas
extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele não
se desincumbir. (ex-OJ nº 306 da SBDI-1- DJ 11.08.2003).
1. Aspecto introdutório
A expressão “relação de trabalho” corresponde a qualquer vinculo jurídico por meio do qual uma pessoa
natural executa obra ou serviços para outrem, mediante pagamento de uma contraprestação.
Podemos afirmar que a relação de trabalho é gênero da qual a relação de emprego é uma espécie.
Em outras palavras, podemos afirmar que toda a relação de emprego corresponde a uma relação de
trabalho, mas nem toda relação de trabalho corresponde a uma relação de emprego.
Diversas são as formas de estabelecimento de relação de trabalho, cumprindo destacar as espécies a seguir.
6. Estágio
O estágio está regulado atualmente pela Lei n. 11.788/2008, permitindo o diploma legal mencionado o
estágio de alunos matriculados em cursos de ensino superior, público ou privado, de ensino médio, de educação
profissional de nível médio ou superior, ou escolas de educação especial, objetivando proporcionar experiência
profissional prática na linha de formação do estagiário.
O estágio deve também propiciar a complementação do ensino e da aprendizagem e ser planejado,
executado, acompanhado e avaliado em conformidade com os currículos, programas e calendários escolares.
O estagiário realizado nos termos e condições fixadas na Lei 11.788/2008 não gera vinculo de emprego do
estagiário com o tomador de serviços, conforme prevê o art. 3º da regra jurídica citada. A CLT não se aplica a esses
trabalhadores.
7. Trabalho Voluntário
Regulado pela lei 9.608/1998, que definiu, em seu art. 1º o serviço voluntário como sendo:
... a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade publica de
qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos
cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social,
inclusive mutualidade.
Considerando que o serviço voluntário é prestado a titulo gratuito, sem o recebimento de qualquer
remuneração, não será possível reconhecer-se o vinculo empregatício do trabalhador voluntário com o tomador de
serviços (Lei 9.608/1998, art. 1º parágrafo único).
Vale destacar que o prestador do serviço voluntário pode ser ressarcido pelas despesas que
comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias (art. 3º da Lei 9.608/1998). A CLT não se
aplica a esses trabalhadores.
7. Relação de Emprego
É a relação típica de trabalho subordinado, a denominada relação de emprego, em que se encontram
presentes os requisitos caracterizadores do pacto laboral, sendo, nos dias atuais, a mais comum e importante relação
de trabalho existente. O art. 7º da CF e a CLT tratam fundamentalmente dessa relação.
Nessa relação temos as figuras do empregado e do empregador. O empregador, conforme o art. 3º da CLT, é
a pessoa natural que presta serviços não eventuais a tomador de serviços mediante remuneração e em estado de
dependência.
O empregado, assim, tem de ser, necessariamente, uma pessoa natural. Ademais, o empregado é alguém
que se vincula ao empreendimento pela necessidade do empregador e o seu trabalhador não é eventual, mas
necessário a que o empresário desenvolva a sua atividade de produção ou de prestação de serviços. Por outro lado,
o empregado é alguém que trabalha em razão de uma remuneração, o salário. Por fim, o empregado se sujeita ao
controle, fiscalização, direção e disciplina do empregador, nos termos da lei.
O empregado pode ser urbano ou rural. O empregado urbano pode ser comum ou doméstico. Cada uma
dessas espécies é tratada conforme a especificidade de sua situação.
O empregador, por seu turno, é a pessoa natural ou jurídica, que “assumindo os riscos da atividade
econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço”, conforme o art. 2º da CLT. A posição jurídica
de empregador, ademais, pode ser assumida por entidades filantrópicas, sem fins lucrativos, profissionais liberais etc.
que contratem trabalhadores como empregados, de acordo com o § 1º do art. 2º da CLT.
Assim, a posição de empregador pode ser assumida por pessoa natural ou jurídica, o que diverge da posição
do empregado, que só pode ser assumida por pessoa natural.
O empregador, por outro lado, é quem assume os riscos da atividade econômica, o que significa que ele
provê os meios para o trabalho, os recursos materiais para a sua execução e fica com os lucros ou assume os
prejuízos do empreendimento. O empregado não é um sócio do empregador, na medida em que o empregador não
divide os lucros e responsabilidades com o empregado. A utilização da expressão “associado” por algumas empresas
para denominar os seus empregados e a participação deles nos lucros não retira deles a situação de sujeitos à
direção, controle, fiscalização e disciplina, o que caracteriza um empregado. Os direitos previstos no art. 7º da CF e
na CLT são previstos, principalmente e quase que exclusivamente a esses trabalhadores, ou seja, aos trabalhadores
que estão numa relação de emprego.
• Jurisprudência: a doutrina diverge sobre o enquadramento da jurisprudência como fonte formal de direito,
ainda que a CLT a preveja nessa condição - art. 8º. A jurisprudência é a reiteração de julgados que interpretam o
ordenamento em algum aspecto controvertido. Dessa reiteração surgem as súmulas e as OJ (orientações
jurisprudenciais das seções de dissídios coletivos e de dissídios individuais do TST). As súmulas e OJ,s não obrigam,
exceto quanto às primeiras, se forem vinculantes, e essas só podem ser editadas pelo STF.
• Portaria, aviso, instrução, circular: não são fontes formais, obrigam apenas os empregados a que se dirigem
e nos limites da obediência hierárquica. Podem ser utilizadas, contudo, para a demonstração de insubordinação do
empregado. Esses instrumentos não podem violar o conteúdo mínimo estabelecido nas demais fontes de direito,
inclusive o que for pactuado pelos contratantes.
• Princípios jurídicos: a corrente doutrinaria mais moderna inclui os Princípios Gerais de Direito e os Princípios
Específicos do Direito do Trabalho como fonte formal do direito, devido a sua natureza normativa. O art. 8º da CLT
arrola os princípios gerias do direito como fonte supletiva ou subsidiaria do Direito do Trabalho.
• Doutrina: não restam dúvidas de que o entendimento dos doutos sobre determinado tema jurídico auxilia o
operador do Direito no processo de aplicação concreta da norma. Todavia, a doutrina, embora possua inegável
importância no universo e prática jurídicos, não pode ser considerada fonte do Direito, uma vez que não vincula os
magistrados e demais operadores do Direito. Frise-se que nenhuma das normas referentes às fontes normativas
subsidiárias (CLT, art. 8º; LICC, art.4º e CPC, art.126) inclui a doutrina como fonte supletiva.
• Equidade: não é fonte formal do Direito. Surge como método de interpretação e apelação da norma jurídica.
A equidade pode ter dois significados. A equidade pode significar criação de regra jurídica para o caso em concreto,
possibilitando a decisão sem vinculação às disposições legais, mas de acordo com os critérios de justiça, surgindo
como fonte material do direito.
Estabelece o Parágrafo único do art. 140 do Código de Processo Civil que a decisão por equidade depende de
expressa autorização no ordenamento jurídico. Exemplificativamente, no âmbito laboral o art. 766 da CLT estabelece
que nos dissídios coletivos sobre estipulação de salários serão estabelecidas condições que, assegurando justos
salários aos trabalhadores, permitam também justa retribuição às empresas interessadas.
Outro exemplo revela-se no julgamento pelos tribunais dos dissídios coletivos, onde a equidade é utilizada como
forma de motivar a aplicação de clausulas benéficas ao trabalhador.
Todavia, em ambos os casos a sentença surge como fonte formal, sendo a equidade mera fonte material, fonte
inspiradora do aplicador de Direito, apesar de também ser citada pelo art. 8º consolidado como fonte supletiva do
Direito do Trabalho.
A equidade também pode ser utilizada como forma de amenizar o rigor da norma jurídica, concedendo nas situações
em concreto uma interpretação mais branda, suave, equitativa, retificando distorções ou injustiças cometidas pela
norma abstrata.
No âmbito laboral, ilustrativamente, o art. 852-I, 1º, da CLT, que atine ao procedimento sumaríssimo, estabelece que
o juiz adote em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às
exigências do bem comum.
• Analogia: não tem caráter de fonte do Direto, apesar de citada em textos legais que fazem referência às
fontes supletivas do Direito. É um método de integração jurídica por meio do qual se pesquisem outras fontes
normativas para aplicação ao caso concreto em destaque.
• Cláusulas contratuais: as cláusulas contratuais são fontes de Direito do Trabalho e a elas se refere o 8º da
CLT. Delas emanam direitos e obrigações para aqueles que as ajustarem. Considere-se, entretanto, que as cláusulas
ajustadas em um contrato de trabalho não podem disciplinar a relação violando as regras editadas pelo poder público
ou por outras fontes formais de direito.