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Aprenda a cultivar

de tudo em vasos

Substrato e adubação

Autor: Diogo Gonçalves Neder

1 – O substrato ideal.

No ambiente natural, todo material que envolve as raízes das plantas é


chamado de terra, o que nada mais é que o solo onde as plantas crescem.
Composto pelo material proveniente da decomposição das rochas (processo que
leva milhares de anos), matéria orgânica (proveniente da decomposição de
plantas, animais e microrganismos), água, ar e organismos vivos (insetos,
minhocas, fungos, bactérias, etc).

Um solo fértil é aquele que apresenta todo os nutrientes exigidos para o


crescimento e desenvolvimento das plantas. Esses nutrientes são liberados pela
decomposição das rochas e principalmente pela matéria orgânica. Quanto mais
rico em matéria orgânica mais fértil é o solo. Além disso, ele deve ser capaz de
promover o bom desenvolvimento do sistema radicar, manter a umidade para
que as raízes absorvam e apresentar atividade biológica (o solo deve apresentar
vida).

No cultivo em vasos, a terra presente no solo é substituída por um


substrato preparado pelo cultivador. Entretanto, assim como na natureza este
substrato deverá apresentar todas as propriedades favoráveis presentes no
ambiente natural ou até mesmo, melhoradas.

Assim sendo, consideramos um substrato ideal aquele que seja:

- Suficientemente firme para segurar as estavas ou sementes durante o


enraizamento ou germinação;

- Mantenha um volume constante seja molhado ou seco e não compacte;

- Não apresente sal ou outras substâncias tóxicas para as plantas;


- Fácil de umedecer e retenha água suficiente;

- Suficientemente poroso para permitir a drenagem do excesso de água, ao


mesmo tempo que permita a penetração de oxigênio para germinação e
respiração das raízes;

- Não conter argila em excesso o que pode compactar e fraturar o substrato;

- Capaz de reter os nutrientes exigidos pela planta;

- Capaz de disponibilizar água e nutrientes de acordo com as necessidades de


crescimento e desenvolvimento das plantas.

- Isento de sementes ou propágulos de plantas daninhas;

- Isento de insetos, nematoides ou agentes patogênicos;

- Leve e de fácil transporte;

- De fácil aquisição e de preço aceitável;

As características físico-químicas dos substratos podem variar de acordo


com a mistura e da procedência dos materiais usados, assim como as exigências
mudam de acordo com as diferentes espécies de plantas e clima. Por estas
razões é impossível definir um substrato ótimo para todo tipo de plantas. O que
buscamos então é uma mistura que atenda a contento aquelas espécies que
estamos cultivando.

2 – Materiais usados na elaboração de substratos.

Na elaboração de substratos são utilizados diferentes materiais com


propriedades e objetivos distintos que podem ser classificados em substratos
básicos, condicionadores, corretivos, adubos e retentor de umidade.

2.1 – Substrato básico.

Consiste nos materiais usados em maior proporção na mistura e são


responsáveis pela estruturação física do substrato. Os mais utilizados são:

- Terra de jardim: terra comum coletada da camada superior do solo em jardins.


A grande vantagem está na facilidade de aquisição. As desvantagens são:
possibilidade de infestação do substrato com pragas e doenças, teor de
nutrientes desconhecido e propriedades físicas variáveis.

- Areia: fácil de encontrar, promove uma grande aeração e drenagem.


Especialmente recomendada para regiões com chuvas frequentes ou para
plantas intolerantes ao excesso de água. Cuidado com a salinidade da areia, o
ideal é usar areia lavada.

- Pó de carvão: fácil de obter, promove uma aeração e drenagem tão boa quanto
a areia. Baixo custo. Não apresenta pragas e doenças.

- Paú: terra retirada da camada superficial do solo de matas. Fácil de encontrar


e de baixo custo. Muito rico em matéria orgânica. Desvantagens igual da terra
de jardim.

- Terra vegetal: Comum nos supermercados e casas de jardinagem, a terra


vegetal nada mais é que a terra comum misturada a restos de folhas, caules e
gravetos já estabilizados. A matéria orgânica dos restos de vegetais faz com que
a terra fique mais escura, e com melhores características que a terra comum. É
fácil de encontrar e têm um custo razoável, não apresenta infestações com
pragas e doenças. Apesar de apresentar muita matéria orgânica está não se
encontra decomposta ao ponto de liberar nutrientes para as plantas.

- Fibra de coco: produzida a partir do processamento da casca de coco.


Apresenta uma estrutura favorável para o desenvolvimento das raízes e para
retenção de água. Não libera toxinas para a planta e nem apresenta pragas e
doenças. Também não libera nutrientes para a planta a curto prazo. Seu uso tem
sido bastante recomendado.

- Vermiculita expandida: é um mineral submetido a altas temperaturas para sofrer


a expansão que a torna apta para uso em diversas atividades. Apresenta grande
capacidade de absorver água e pH neutro. Têm sido considerado um excelente
substrato básico, a grande questão está no custo mais elevado para aquisição.

- Casca de arroz carbonizada: apresenta uma elevada retenção de água e


nutrientes e uma boa aeração. Sendo um excelente substrato para produção de
mudas. Não apresenta infestações com pragas e doenças. A desvantagens está
no custo de aquisição.

- Casca de pinus: proveniente da fermentação da casca de pinus. Não apresenta


infestações, bom pH e boa retenção de nutrientes. Adequado para plantas que
exigem uma aeração maior do substrato, como as orquídeas. Exige uma maior
frequência nas regas. Desvantagem está no custo de aquisição.

2.2 – Condicionadores.

São produtos que ao serem adicionados ao substrato básico melhoram


diversas de suas propriedades. Entre elas, aumentam a capacidade de retenção
de água e nutrientes, melhoram as propriedades físicas para o crescimento das
raízes, liberam água e nutrientes de forma equilibrada, mantém o substrato vivo
e adicionam nutrientes ao substrato. São eles:

- Esterco de gado curtido: é uma prática popular o uso de esterco de gado na


agricultura e jardinagem. Ele melhora substancialmente as propriedades físicas
do solo/substrato, retém umidade, nutre as plantas e aumenta a atividade
biológica. Entretanto, deve-se tomar cuidado com seu uso, a utilização de
esterco fresco pode causar danos às plantas e até matá-las. É importante
esperar o processo de curtição cessar, ou seja, devemos utilizá-lo após o
processo de fermentação natural do excremento de gado termine e ele perca
umidade até o ponto de esfarinhar. No geral, deixa-se o material exposto ao Sol
até que o processo termine.

- Esterco de frango curtido: as observações são as mesmas do esterco de gado,


porém com mais uma ressalva: o esterco de frango apresenta uma concentração
de nutrientes muito superior. Dessa forma, deve-se sempre colocá-lo numa
proporção três vezes menor que a recomendada para o esterco bovino.

- Composto orgânico: produto obtida da compostagem de restos vegetais com


estercos. Nesse caso, o material é submetido por até dois meses a um processo
de fermentação biológica até a obtenção de um material que possuí uma
liberação de nutrientes muito mais rápida que os estercos.
- Húmus de minhoca: produto originado do processo de vermicompostagem.
Minhocas são alimentadas com restos vegetais e estercos que ao passarem pelo
trato digestivo são decompostos em matéria orgânica de boa qualidade para as
plantas.

- Turfa: é um material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado


em camadas, geralmente em regiões pantanosas e também sob montanhas. É
um bom condicionador do solo, semelhante ao composto orgânico.

2.3 – Corretivos.

- Calcário: principal material utilizado na correção da acidez do solo. Para a


maioria das plantas crescerem de forma saudável e terem acesso aos nutrientes
do solo é necessário um pH em torno de 6,5. Entretanto, a maioria dos solos e
substratos tendem a apresentar um pH ácido. Para corrigir isso, adicionamos
calcário, que além de corrigir o pH do solo fornece cálcio e magnésio (dois
nutrientes essenciais para as plantas).

- Outros corretivos que podem ser utilizados são: cal virgem, cal hidratada,
escória de siderurgia e carbonato de cálcio.

2.4 – Adubos e fertilizantes.

Adubos e fertilizantes são produtos de origem mineral ou orgânica


adicionados ao substrato para fornecer nutrientes para as plantas. O termo
adubo é atribuído a aqueles que fornecem mais de um nutriente e fertilizante aos
que fornecem apenas um nutriente essencial.

Os nutrientes essenciais exigidos pelas plantas podem ser divididos entre


macronutrientes (exigidos em maior quantidade) e micronutrientes (exigidos em
pequena quantidade).

Os macronutrientes essenciais são: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio


(K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). Enquanto os micronutrientes
essenciais são: boro (B), cloro (Cl), ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre
(Co), molibdênio (Mo) e níquel (Ni).
Para fornecermos todos os nutrientes que as plantas necessitam
podemos utilizar as seguintes fontes minerais ou orgânicas. Segue uma lista de
adubos minerais utilizados em horticultura e jardinagem:

- NPK: formulação contendo fertilizantes extraídos de minas e transformados


pela indústria química. São diretamente assimilados pelas plantas ou sofrem
apenas pequenas transformações no solo para serem absorvidos. São fontes de
nitrogênio, fósforo e potássio em proporções variadas. Os mais usados na
horticultura e jardinagem são as formulações 04 – 14 – 08 (contendo 4% de
nitrogênio, 14 % de fósforo e 8 % de potássio), 10-10-10 e 20-10-20.

- Osmocote: pode ser compreendido como um NPK modificado, apresentando


diversas formulações como o mesmo. O diferencial está numa película orgânica
que o recobre permitindo a liberação lenta de nutrientes. Desta forma, temos um
menor impacto sobre a química do solo/substrato e sua atividade biológica. Tem
sido apontado como o adubo do futuro.

- Uréia: fonte de nitrogênio (45 % de concentração).

- Superfosfato simples: fonte de fósforo (16% de fósforo).

- Cloreto de potássio: fonte de potássio (60% de concentração).

- Calcário: fonte de cálcio e magnésio, além de corretivo (28% de cálcio e 12%


de magnésio).

- Enxofre solúvel (> 90%).

- Sulfato de cobre: fonte de enxofre e cobre (11% de enxofre e 24% de cobre).

- Fertilizantes foliares: como mencionado anteriormente, os micronutrientes são


exigidos em menor quantidade pelas plantas. Eles podem ser supridos
facilmente através da pulverização foliar com produtos desenvolvidos para este
fim. Esses produtos podem ser de origem química ou orgânica (biofertilizantes).

E quanto aos adubos orgânicos, são aqueles recomendados para uso na


chamada agricultura orgânica. Segue uma relação dos mais utilizados:
- Torta de mamona: fornece principalmente nitrogênio para as plantas
(aproximadamente 5%).

- Farinha de ossos: fonte principal de fósforo (16%) e cálcio (16%).

- Cinzas de madeira: fonte de potássio (10 % em média).

Obs: no cultivo chamado convencional todos esses produtos podem ser


utilizados (minerais e orgânicos), já na agricultura orgânica a fonte principal de
nutrientes são os condicionadores e corretivos de solos enriquecidos com
adubos orgânicos.

2.5 – Retentor de umidade.

- Hidrogel: é um polímero com alta capacidade de retenção de água, podendo


reter centenas de vezes seu próprio peso. Age como uma reserva de água para
as plantas, tornando-a disponível de acordo com a necessidade, reduzindo o
stress hídrico, os efeitos da estiagem e a mortalidade de plantas.

3 – Função dos nutrientes nas plantas:

Nitrogênio: é essencial para a formação das proteínas, substâncias que fazem


parte dos tecidos vegetais. As proteínas são indispensáveis à vida das plantas
e dos animais. O nitrogênio faz parte, ainda, de compostos do metabolismo,
como a clorofila e os alcaloides, bem como de muitos hormônios, enzimas e
vitaminas.

Fósforo: age na respiração e na produção de energia. Atua na divisão das


células, intensificando-a; entra na composição de algumas substâncias de
reserva, como o amido; dá força e rigidez aos caules; facilita a floração;
aumenta a frutificação; apressa a maturação; intensifica a resistência das
plantas às doenças; contribui para o desenvolvimento do sistema radicular e
para a saúde geral da planta. O fósforo age na colheita, como fator de
qualidade e quantidade, isto é, contribui para uma produção maior e melhor.

Potássio: com este nutriente, as plantas elaboram os açúcares e o amido. Ele é


indispensável para a formação e o amadurecimento dos frutos; aumenta a
rigidez dos tecidos e a resistência das plantas às pragas e doenças; favorece o
desenvolvimento do sistema radicular; deve ser fornecido em uma relação
adequada com o nitrogênio para garantir um perfeito equilíbrio entre
crescimento, produção e qualidade.

Cálcio: em baixas concentrações, estimula a absorção de outros nutrientes. Ele


é indispensável para manter a estrutura e o funcionamento normal das plantas.
Influi, de modo predominante, no equilíbrio entre a acidez e a alcalinidade do
meio e da seiva.

Magnésio: entra na composição da clorofila.

Enxofre: apresenta-se associado ao nitrogênio na composição das proteínas.

Micronutrientes

Boro: Suas funções estão relacionadas com as de cálcio. É encontrado,


sobretudo, nos brotos novos em franco desenvolvimento, nas flores e no
floema. É particularmente necessário onde as células estão se multiplicando. É
de extraordinária importância na germinação do grão de pólen, na formação
das flores, frutos e raízes, no movimento da seiva e na absorção dos cátions.

Cloro: função relacionada com a fotossíntese.

Cobre: é ativador de várias enzimas dentro da planta. É essencial para as


plantas, em processos de oxidação e redução.

Ferro: é essencial para a formação da clorofila (embora não faça parte dela),
absorção de nitrogênio e processos enzimáticos.

Manganês: assim como o ferro, também é necessário para a formação da


clorofila, para a redução de nitratos e para a respiração. Em alguns processos
metabólicos, ele age como catalisador. Participa da formação do ácido
ascórbico (Vitamina C).

Molibdênio: participa da bioquímica da absorção e do transporte e fixação de


nitrogênio.

Zinco: atua no crescimento das plantas pela sua participação na formação do


ácido indolacético (AIA), um hormônio de crescimento das plantas.

4 – Sintomas de deficiência em nutrientes.

Quando uma planta não recebe todos os nutrientes exigidos na


quantidade necessária em um primeiro momento seu crescimento e
desenvolvimento são prejudicados. Entretanto, caso a situação persista a planta
começa a manifestar alterações visíveis (sintomas) os quais são muito úteis para
se realizar uma correção nutricional. Os sintomas mais comuns são os da
imagem abaixo:
5 – Recomendações gerais.

Não existe um caminho único para a formulação de um substrato.


Diversas combinações dos materiais citados podem ser utilizadas e sua
eficiência irá depender da espécie cultivada, do clima e manejo. Então, é sempre
bom pesquisar qual o substrato mais utilizado para uma espécie, testá-lo e
modificá-lo até obter algo que lhe satisfaça. Mesmo assim, irei apresentar
algumas combinações muito interessantes que tenho utilizado e recomendado
para diferentes culturas:

- Hortaliças folhosas: 25% de substrato base + 75% de condicionar de substrato


+ 10 gramas de corretivo (calcário) por litro de substrato + adubo (5 gramas de
04-14-08 + 5 gramas de osmocote por litro de substrato).

- Hortaliças fruto: 20% de substrato base + 80% de condicionar de substrato +


20 gramas de corretivo (calcário) por litro de substrato + adubo (10 gramas de
04-14-08 + 10 gramas de osmocote por litro de substrato).

- Hortaliças tuberosas: 50% de substrato base + 50% de condicionar de substrato


+ 10 gramas de corretivo (calcário) por litro de substrato + adubo (5 gramas de
04-14-08 + 15 gramas de osmocote por litro de substrato).

- Fruteiras herbáceas: 33,3% de substrato base + 66,6% de condicionar de


substrato + 15 gramas de corretivo (calcário) por litro de substrato + adubo (10
gramas de NPK 04-14-08 + 10 gramas de Osmocote 14-14-14).

- Fruteiras arbustivas e árvores: 50% de substrato base + 50% de condicionar


de substrato + 10 gramas de corretivo (calcário) por litro de substrato + adubo (5
gramas de NPK 04-14-08 + 5 gramas de Osmocote 14-14-14).

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