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REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429 www.revistaliteris.com.

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Maio 2009

Vozes Carnavalescas:
construções identitárias através das escritas de si
Caroline P. Leal (Mestre em História/PUCRS/Brasil/Porto Alegre)1

Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar as “escritas de si” produzidas
pela Sociedade Carnavalescas Os Venezianos, através de seus programas para o
carnaval em Porto Alegre, a fim de identificar as construções identitárias que foram
elaboradas por meio destes documentos.
Palavras-chave: identidade; rivalidades; escritas de si; carnaval; sociedades
carnavalescas;
Abstract: This article aims to analyze the " itself written " produced by Os
Venezianos, through its programs for the carnival in Porto Alegre, in order to identify
the identity constructions that were developed through these documents.
Key-words:identity; rivalries; itself written; carnival, carnival societies;

Dia 3 de março de 1873, cidade de Porto Alegre: eis que nasce a Sociedade
Carnavalesca Os Venezianos. Junto com ela, dois dias antes, surgira a Sociedade
Esmeralda Porto-alegrense. Ambas almejavam adotar uma prática carnavalesca
diferente da que era feita até então: o desfile de jovens em carros abertos e bailes
fechados – aos moldes de Veneza e do Rio de Janeiro, ao invés do entrudo – brincadeira
ibérica que objetivava molhar e sujar o adversário.
Às vésperas do carnaval, as sociedades publicavam nos jornais de maior circulação
da capital seus programas de comemorações do festejo, anunciando à população o que,
em que datas e como eles seriam feitos. Antes dessas informações, eles faziam sempre
um pronunciamento, uma espécie de carta, com data, destinatário e remetente.
Entendemos, portanto, que - apesar de não ser uma escrita íntima - esses documentos
têm qualidades da escrita epistolar, e que assim, podem ser percebidos como uma
escrita de si. Segundo Gomes (2004, p.19),

1
Autor: Caroline P. Leal. Licenciada e bacharel em História pela UFRGS e mestre em História pela PUCRS.
Trabalho com o carnaval de Porto Alegre no século XIX, dando especial atenção à participação das mulheres neste
festejo. carolpleal@yahoo.com.br
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tal como outras práticas da escrita de si, a correspondência constitui,


simultaneamente, o sujeito e o seu texto. Mas, diferentemente das
demais, a correspondência tem um destinatário específico com quem vai
estabelecer relações. [...] Escrever cartas é assim ‘dar-se a ver’, é
mostrar-se ao destinatário, que está ao mesmo tempo sendo ‘visto’ pelo
remetente, o que permite um tête-á- tête, uma forma de presença (física,
inclusive) muito especial.
Ao fazerem esse pronunciamento, através de seus programas, esses carnavalescos
davam-se a ver à sociedade, fazendo uma escrita auto-referencial e, assim, construindo
suas identidades, pois “a escrita de si é, ao mesmo tempo, constitutiva da identidade de
seu autor e do texto, que se criam, simultaneamente, através dessa modalidade de
‘produção do eu’” (Ibid, p.16).
Michael Pollak (1992, p.205) define identidade como “a imagem que a pessoa
adquire ao longo da vida referente a ela própria, a imagem que ela constrói e apresenta
aos outros e a si própria, para acreditar na sua própria representação, mas também para
ser percebida da maneira como quer ser percebida pelos outros”. Neste sentido, há um
elemento de maior importância, o outro, pois a “construção de identidade é um
fenômeno que se produz em referência aos outros, em referência aos critérios de
aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio de negociação
direta com os outros” (Ibid, p.206). Neste mesmo sentido, salienta Mendes (2002, p.
504) que “o indivíduo forma sua identidade não da reprodução pelo idêntico oriunda da
socialização familiar, do grupo de amigos, etc., mas sim do ruído social, dos conflitos
entre diferentes agentes e lugares de socialização”. Assim, a construção identitária se dá
a partir do embate com a diferença, com o outro, estabelecendo distinções e atributos
que afastam e/ou aproximam. Para Pesavento (1999, p.109), “a diferença é um dado
posto pelo real”, sendo preciso levar em consideração todo o “processo de construção
dessa diferença, quando entendemos que os homens, ao longo da história sempre
inventaram a realidade, ou seja, atribuíram significados ao mundo, guiando o olhar, a
percepção, a avaliação e o julgamento, dando a ver diferenças subjetivas e sociais”
(Ibid, p.110).
Este artigo tem como objetivo verificar como a Sociedade Carnavalesca Os
Venezianos deu-se a ver, mostrando suas visões de mundo e maneiras de entendê-lo,
construindo sua identidade, sua imagem de si, para si e para o outro, mas também em
oposição ao outro, ou seja, à sua co-irmã – a sociedade Esmeralda. Apesar de serem
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ambas sociedades carnavalescas – e por isso terem objetivos em comum, tais como
eliminar o entrudo, instituir um carnaval (aos seus olhares) civilizado, levando Porto
Alegre rumo ao progresso – Os Venezianos e a Esmeralda tinham marcas que as
diferenciavam, características peculiares que assinalavam suas distinções enquanto
coletividades que brincavam o carnaval. Como essas marcas, essas diferenças e até
mesmo as similitudes, apareceram em suas falas, em suas escritas de si?
Em 1875, Os Venezianos e a Esmeralda, em seus passeios burlescos, distribuíram
versos (chamados de puffs) à população enquanto desfilavam. Através da análise desses
puffs podemos perceber algumas diferenças entre as duas sociedades, tanto no que se
refere à linguagem quanto no tocante à forma como se dirigiam às mulheres1. O
recitativo oferecido pelos venezianos, intitulado Profissão de Fé pedia às castas
donzelas da terra, às belas deidades, aos anjos na forma, às lindas estrelas que lhes
dessem flores, sorrisos e um olhar de amor, pois:
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Eles são todos galhofeiros entes,


castos, bondosos e gentis até... Mas eles crêem nos olhares puros
Se são devotos, santarrões e crentes, de vós, ó virgem de brilhante alvor,
é bem que ouçais... “Profissão de Fé”! nesses cabelos divinais, escuros,
onde se enreda apaixonado amor...
Eles não crêem no poder do papa,
nem nos padrecos – jesuítas vis Crêem no colo que alabastro imita,
nem nesses homens de cumprida capa nesses contornos palpitando assim...
que em tudo metem colossal nariz! Crêem nos laços da serosa fita
e nesses lábios de eternal rubim!...
Eles não crêem nas lamúrias tolas
dessas beatas que passando vão Crêem nas falas namoradas, meigas,
e que nos olhos a esfregar cebolas que se interrompem num tremor gentil...
fazem repuxos de alargar o chão! Não é mais doce os farfalhar das veigas
nem harpa eoleia na amplidão de anil...
Eles não crêem nas visões dantescas (A Reforma, 11 de fevereiro de 1875).
nem nas corujas de grasnar feroz;
nem nas imensas pastorais, tão frescas,
nem na mais negra excomunhão atroz!

Venezianos, ao confessarem publicamente em que acreditavam, conclamavam as filhas da


terra a darem para eles flores, sorrisos e um olhar de amor. Para convencê-las de que eram
merecedores desse pedido eles afirmavam serem todos brincalhões, inocentes e cavalheiros até.
Descriam, entretanto, de tudo que era relativo à igreja: padres, pastoral, excomunhão, declarando-
se anti-jesuítas, anti-religiosos e condenando o poder e a influência dessa instituição em demais
assuntos que não fossem os religiosos. Acreditavam, todavia, nos olhares, nos cabelos, nos colos,
nos laços, nos lábios e nas falas namoradas das boas filhas porto-alegrenses.
Com essas referências podemos acreditar que a Sociedade Carnavalesca Os Venezianos
estivesse vinculada ao Partido Liberal, pois este pregava que não deveria haver uma interferência
da igreja em assuntos laicos, gerando uma separação entre Estado e Igreja. Esse anticlericalismo2,
contudo, foi também defendido por muitos intelectuais rio-grandenses de diferentes posições
políticas e com forte presença nos jornais leigos da capital (PICCOLO,1974, p.81), não sendo
algo exclusivo dos liberais3. Ao traçarmos a trajetória de alguns membros das sociedades
pudemos observar que a política não era um fator decisivo para essas associações, existindo tanto
liberais, quanto conservadores e republicanos em ambas. Entretanto, algumas vezes, disputas
pessoais e políticas podiam mostrar suas faces através do carnaval e, naquele momento, criar uma
certa afinidade partidária entre as sociedades. Em 1883, por exemplo, houve uma forte querela
envolvendo Ramiro Barcelos e Miguel de Werna (presidente da Venezianos e da Esmeralda,
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respectivamente), que apresentaram carros alegóricos ridicularizando um ao outro. Ambos


haviam disputado recentemente uma vaga na Assembléia Provincial - um pelo partido
republicano, outro pelo conservador - e as contendas políticas acabaram sendo transpostas para o
universo carnavalesco (LAZZARI, 2001, p.124).
Sua mensagem era destinada ás belas deidades e aos anjos na forma, com um conteúdo
irônico e jocoso e num tom galanteador, eles faziam elogios às mulheres e criticavam aos
conservadores e à Igreja, mostrando que acreditavam nas filhas da terra que se entregassem a esse
novo festejo, mas não criam em nada que se referisse àquela instituição.
Já a Esmeralda, nesse mesmo ano, deu um Sermão (esse era o título do puff) às mulheres,
afirmando que elas não estavam se portando de modo adequado, deixando-se levar por
modismos, baboseiras e asneiras.Dirigindo sua fala às leitoras e aos pais de família, ela lembrava
que
Nos tempos antigos, de eterna lembrança, Gentis, preguiçosos, e...faz-me o favor!...
Passavam contentes os nossos avós,
Sem mil baboseiras que vêm-nos da Quase todos esses lábios
França, São vermelhos de carmim,
Pomadas, essências, anquinhas e pós... Essas faces delicadas,
Salpicadas de nanquim...
As donzelas eram lindas
Sem ter luxo e ostentação As moças de agora são todas disformes,
E nas faces não traziam Com trouxas enormes pendentes atrás.
Pó de arroz e vermelhão... Andando nos rua se julgam faceiras!
Parecem leiteiras trazendo jacás!...
Nos tempos passados, de capa e rabicho,
Ninguém nos cabelos usa punhais... Guerra aos “pufts” indecentes,
Sabiam vestir-se com todo o capricho, E às anquinhas que os são mais!
Sem esses aspectos, asneiras e que tais... Refleti neste conselho,
Que é de um velho, mães e pais!
Hoje tudo é diferente,
Tudo novo e nada bom: Já vês, ó leitora
Velhas, moças, lindas, feias, Foi breve o sermão.
Todas querem ser do tom... Palavras ao vento
Soltadas em vão.
As mocas de agora, de faces pintadas Pregar num deserto,
Risonhas, coradas, sorrindo de amor, Somente um João...
São meigos anjinhos, papudos, formosos, (A Reforma, 11 de fevereiro de 1875)
Com um conteúdo conservador e um tom moralizante, a Esmeralda refletia uma nostalgia
aos tempos antigos, através de críticas aos modismos femininos: excesso de maquiagem (lábios
vermelhos, faces coradas), uso de anquinhas (espécie de suporte, armação de arame ou almofadas
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usadas para realçar os quadris e dar mais roda às saias), que as deixariam a antonímia do belo,
grotescas e mais feias do que as donzelas de outrora que nenhum desses artifícios utilizavam.
Como salientamos, esse novo carnaval veio em combate ao entrudo. Entre os motivos dessa
“troca” é que essa brincadeira permitia um maior contato corporal entre seus participantes
propiciando oportunidades para liberações sexuais, especialmente entre o belo sexo. Segundo
relato de um cronista do início do século XIX, John Luccok, este era desde longa data o maior
entusiasta com a brincadeira das molhadelas (LUCCOK apud FERREIRA, 1970, p. 10). Por isso
era preciso atraí-las para essa nova modalidade de festejar o carnaval. Tanto Os Venezianos,
quanto a Esmeralda, nesse ano, chamam a atenção das mulheres, dirigindo seus discursos a elas.
Porém, enquanto um é cortejador, lisonjeiro e elogioso, o outro é conservador e de censura. Os
venezianos enchiam o belo sexo de galanteios e confetes ao contrário dos esmeraldinos que se
esmeravam em criticá-las.
A “era carnavalesca”, como era denominada essa nova prática de render louvores a Momo,
estava inserida na lógica da modernidade. O entrudo era percebido como o grande inimigo da
civilização, uma antiga e bárbara tradição, feia nódoa para cidade; enquanto o carnaval das
sociedades passou a representar o progresso e a civilização. A transformação deveria ser total,
substituindo aquele por este: a revolução deveria ser levada a cabo pelos filhos da Esmeralda e
da Veneza, permitindo a Porto Alegre, assim, ingressar no rol das cidades mais adiantadas e
civilizadas do mundo. Novamente com um linguajar irônico, em 1880, os Venezianos, vêem
conclamar o povo e os cidadãos à revolução. Iniciam dizendo:
Povo!!! Cidadãos!!!
A revolução é um direito conferido ao povo pelas leis da natureza! – A tirania, por
qualquer forma que seja exercida, deve ser derrocada, pois ela não tem razão de
ser!...
Nós, os Venezianos vimos incitar-vos à revolução! – O nosso sangue ardente, as
nossas tradições belicosas, não nos permitem que assistamos impassíveis ao
quadro aterrador de vossa humilhação
Povo! Reivindicai os vossos direitos e a pátria agradecida vos há de fazer justiça,
inscrevendo os vossos nomes em letras de ouro nas taboas imorredouras da
história.
Viva a Revolução! Abaixo a tirania! (Mercantil, 06 de fevereiro de 1880, p.2.).
Utilizando-se de chamamentos que se reportavam para um imaginário épico rio-grandense
(o nosso sangue ardente, as nossas tradições belicosas) os venezianos impeliam o povo a
aderirem à revolução. Touraine (1998, p.70) afirma que a modernidade ocidental passou a ser
vista como sendo uma revolução que todos os povos deviam seguir, pois dentro de uma visão
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teleológica da história, onde o tempo tem uma finalidade a ser atingida, a idéia de revolução está
muito presente: “o historicismo e sua expressão prática, a ação revolucionária, mobilizam as
massas, em nome da nação e da história, contra as minorias que bloqueiam a modernização para
defender seus interesses e privilégios”. Os revolucionários venezianos, portanto, dentro da
perspectiva da modernidade, desse ideário de civilização, vêem incitar o povo à revolução, contra
a tirania, que
é exercida sobre nós por maneiras muito variadas; não é o governo, que nos obriga
a pagar imposto do vintém, o nosso único tirano! – Não, mil vezes, não!
Perguntai aos rapazes da época o que os incomoda mais, se o mau estado de
nossas finanças ou o maldito credor, em sua múltipla forma, que o obriga, muitas
vezes, a deixar de passar por certa rua, onde o espera a namorada?
Perguntai à matrona respeitável, quem lhe perturba mais a tranqüilidade da alma,
do que o seu reumatismo ou a sua enxaqueca?
E vós, formosas deidades, que sois e tendes sido em todas as épocas a encarnação
da candura e da bondade, dizei-nos com sinceridade se durante o ano inteiro não
vos atrofiou o coração a idéia de que vosso primo, vosso escolhido do peito, vos
tinha atraiçoado?
Oh! É horrível o predomínio da tirania!!!
Nós, os Venezianos, tomamos a peito a vossa salvação.
(Mercantil, 06 de fevereiro de 1880, p.2.).
A idéia da construção de uma sociedade melhor no futuro estava presente no discurso dos
venezianos, fazendo com que tivessem a convicção de que eles deveriam lutar para realizar a
transformação de sua cidade. Vemos, assim, esses carnavalescos se intitulando os
revolucionários, os defensores da liberdade, que tomariam a peito a salvação do povo, o que
demonstra que esse espírito da modernidade permeava pelo menos uma parcela da sociedade,
fazendo com que os jovens que criaram as sociedades carnavalescas tivessem a pretensão de se
transformarem em sujeitos de sua história, ou seja, de pensarem que poderiam, através de sua
própria ação organizada, conquistar melhorias e transformar a sociedade em que viviam, pois “ser
moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, auto-
transformação e transformação das coisas ao redor...” (BERMAN, 1986, p.15). Essa revolução
deveria ser feita para atingir um único inimigo, a tirania – que era comparada aos males e
inconvenientes do cotidiano, como o cobrador, o reumatismo e a decepção. E não era uma
revolução como as outras e sim uma transformação de costumes que traria a solução de todos os
problemas enfrentados no dia-a-dia da cidade. Por isso eles pediam que:
Rapazes! Esquecei o credor desalmado que vos tem mandado á porta tantas vezes
o tipo do cobrador Teixeira.
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Matronas respeitáveis! Ponde de parte o vosso reumatismo, a vossa enxaqueca e


vinde rejuvenescer ao clarão dos grandes princípios que se abrigam nos corações
dos Venezianos.
Deidades formosas! Mitigai as dores que vos aniquilam, enxugai as lágrimas que
vos banham as faces e vinde pressurosas tomar parte nas manifestações ruidosas
que vos oferecemos.
Políticos! Abandonai por momentos a vossa inglória tarefa de censurar o governo
quando não satisfaz as vossas ambições e beijar-lhe as plantas quando vos
contempla na fatia do orçamento.
Médicos, advogados, artistas, enfim vós todos que sentis dentro do peito palpitar a
fibra patriótica, e que tendes vivido durante o ano que findou a atormentar a
humanidade! Vinde, acudi ao apelo, que em nome dos princípios gigantescos do
século XIX, vos fazem os Venezianos!!!
Á revolução!! Á revolução!!!
Mas não é a revolução armada, que precisa cevar-se no sangue dos nossos irmãos.
Não, a nossa revolução é outra. – Nosso inimigo são o pesar e a tristeza, estejam
aonde estiverem. Nossa revolução dura só três dias, mas os resultados são muito
mais benéficos do que os das outras que duram anos.
Cidadãos! – Possui-vos de entusiasmo e acompanhai os Venezianos em sua
propaganda. - -Viva a Revolução! Viva a Folia! Viva o Carnaval!.
(Mercantil, 06 de fevereiro de 1880, p.2.).
É interessante notar que esse programa da Venezianos foi assinado com o pseudônimo de
Dr. Ox e que eles faziam um chamamento às “matronas respeitáveis” para que fossem
“rejuvenescer ao clarão dos grandes princípios que se abrigam nos corações dos Venezianos”. Dr.
Ox é um personagem do livro de mesmo nome, de Júlio Verne, publicado na França em 1872. No
livro, o personagem provoca deliberadamente uma grande perturbação na cidade ao lançar uma
quantidade maior de oxigênio na atmosfera através das lâmpadas de gás, acarretando o
rejuvenescimento da população. Ao assinar o programa com tal pseudônimo, o autor procurava,
justamente, enfatizar o poder rejuvenescedor do carnaval, sua capacidade de devolver a
jovialidade às pessoas através de seus festejos e comemorações.
Assim como os venezianos incitavam a uma revolução em nome do progresso, os
esmeraldinos, igualmente, em nome do progresso e da civilização, se apresentam perante o Povo
porto-alegrense para
testemunhar os seus sentimentos de gratidão pela maneira condigna com que tem
sido sempre recebida na folias do deus – Momo.
Sequiosa pelas demonstrações de apreço com que pretende alegrar os entusiastas
pelas festanças carnavalescas, mas modesta e esquiva aos ruidosos aplausos da
multidão, a Esmeralda aparece no rumor e vai-vem d’essas ilusões do mundo,
como a dama formosa e garrida a deslizar como uma sombra na chusma de seus
galanteadores e admiradores.
A espanhola insinuante, a francesa coquete, a fascinante filha do Oriente, a
circassiana célebre, podem deslumbrar os míseros mortais com os atrativos e
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encantos de que dispõem; mas os Esmeraldinos estão certos que nenhum poder
humano é capaz de arrancar-lhes as simpatias que têm angariado entre o belo sexo
d’esta cidade.
Falando em damas, é a voz, gentis porto-alegrenses, a quem particularmente nos
dirigimos, enviando as nossas mais respeitosas saudações, os nossos mais
afetuosos cumprimentos.
Belas e donosas filhas do Guaíba, rainhas dominadoras desta opulenta capital, que
simboliza a sentinela do Império do Brasil, deidades em par deste torrão
abençoado, que surge como fada encantada do seio das águas; é a vós a quem
devemos todas as prosperidades que temos colhido em nossa peregrinação
carnavalesca, pois que de vossa animação e entusiasmo por esses folguedos que o
século e a democracia acalentam na vertiginosa carreira do progresso e da
civilização, havemos criado alento para não soçobrar no meio da carreira.
(Mercantil, 07 de fevereiro de 1880, p.2.).
Os esmeraldinos dirigiam sua fala às damas e gentis porto-alegrenses, enviando as suas
“mais respeitosas saudações” e os “mais afetuosos cumprimentos”. Agora as mulheres, ao invés
de criticadas, eram elogiadas e congratuladas por lhes darem a animação para não desistirem da
trilha do progresso e da civilização, representada nas festas carnavalescas. E continuavam
pedindo sua colaboração...
Ninfas Porto-Alegrenses, auxiliai-nos ainda com vosso poderoso arrimo para
avançarmos mais um passo na estrada do futuro, para que não fique incompleta a
obra grandiosa que levamos por diante.
Façamos guerra e guerra de morte ás antipáticas bisnagas, que são um sarcasmo
pungente á nossa civilização, um insulto atroz lançado aos gozos e delicias das
folias do deus – Momo.
As bisnagas fazem reviver o entrudo são filhas espúrias desse entretenimento
estúpido e brutal, que o século das luzes não pode suportar ante o progresso que
fez medar por toda parte.
Abaixo, pois, as bisnagas.
Os Esmeraldinos convictos de que, resplandecente ou não, aparatoso ou simples o
seu festim será recebido com a mesma satisfação dos anos anteriores, tem a honra
de apresentar o seguinte. (Mercantil, 07 de fevereiro de 1880, p.2.).
As ninfas de Porto Alegre eram chamadas a cooperar no avanço ao futuro, ao progresso,
através da morte do entrudo, pois o século das luzes não o podia mais suportar. Vemos, que a
tradição – que segundo Santos (1998, p.22) era identificada com os modos de ser do passado,
enraizados nos hábitos e costumes – refletida no entrudo, passara a ser considerada algo
inconveniente, grosseira, selvagem, sem civilização. Por conseguinte, deveria ser trocada pela
nova forma de se brincar o carnaval – o desfile de ilustres em carros decorados – que
representaria o avanço tecnológico e fundamentalmente, comportamental dos habitantes da
cidade de Porto Alegre rumo ao progresso.
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Em 1882 os Venezianos, anunciavam aos Festeiros e ridentes habitantes desta heróica


terra, que
está chegando o dia de nosso reinado!
Chega o Carnaval! A velhice volta à mocidade e esta à loucura; mas à loucura
pelo prazer, pela alegria e a festa!...
Com o nosso poder tudo temos conquistado na senda do progresso.
Tudo!
Tratados de paz com diversas nações estrangeiras, abolição de diversas
instituições nocivas a moralidade pública, criação de diversos estabelecimentos de
utilidade publica, mandamos lavar o sol para brilhar mais nas nossas festas, e
regular o serviço da linha de bondes para a lua, a fim de poder qualquer cidadão
transportar para lá a sua jovem raptada, sem susto de que o facão matrimoniar-se,
como sucede cá por baixo!...
E quem fez tudo isto, não tem podido abolir a perniciosa bisnaga, fonte de quanta
constipação, pneumonia e tifo, há, que flagela e dissipa a humanidade!...
E o que mais horroriza, é ver que esta plêiade de epidemias dimana de delicadas e
alvas mãozinhas que parecem fadadas para derramarem consolações sobre a
humanidade sofredora!!!...
Apesar da indiferença, do publico e a falta dos seus favores, os Venezianos
existem, como a Fênix; porém menos tardos que ela, revivem de ano em ano, e ei-
los ainda esta ano a apresentar-vos o programa das suas festas: (Jornal do
Commercio, 18 de fevereiro de 1882, p.2).
Como filhos do progresso e tal qual a Fênix4, os rebentos da Veneza, de forma jocosa,
listavamm suas conquistas na senda do progresso, mas confessavam que, apesar de terem
conquistado melhorias para o desenvolvimento da cidade, não tinham conseguido extirpar a
terrível bisnaga, e acima de tudo, que esta se encontrava sempre na ativa por causa das delicadas
e alvas (brancas) mãozinhas das boas moças da terra. Dessa forma, eles criticavam as mulheres
por insistirem no jogo do entrudo, as responsabilizando e já apontando para a crise dessa
sociedade. Mostravam também a faceta elitista desse carnaval, sendo os apelos dirigidos para as
“filhas das boas famílias”, de brancas mãozinhas. e já. Mais uma vez, referem-se ao poder de
liberação e rejuvenescimento do carnaval, que permite às pessoas entrarem no utópico reino dos
prazeres e possibilita que os velhos voltem a ser moços e aproveitem apaixonadamente a festa.
Já a Esmeralda, por sua vez, em uma linguagem requintada, criticava sua congênere por
culpar o entrudo como causa de sua crise:
Cidadãos!
Do alto pináculo desta tribuna joco-séria e em nome do parlamento Esmeraldino,
eu venho, qual moderno Mirabeau, refocilar-me nas incongruências da palavra
convincente e retumbante.
Ouvi-me, cidadãos: não quero com frases hiperbólicas pregar-vos uma moral
chata, que anda por aí a tirar-nos o chapéu a cada instante.
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Tão pouco não desejo cacetar-vos os castos ouvidos com idéias do tempo dos
balandráos, nem relembrar aqui as carcomidas tradições de nossos avoengos, não.
Meu intuito é outro. Sou do presente e realista ás deveras, tendo ojeriza á
pindaíba, que entisica as algibeiras dos caiporas com absolutismo indomável [..].
(Jornal do Commercio, 19 de fevereiro de 1882, p.1).
Esmeraldinos pareciam estar exprobrando a proclamação de sua companheira e rival
veneziana. Afirmavam que do mais alto lugar, mais até que das colunas venezianas, vêm
divertir-se com as incoerências das palavras que andam por aí ressoando, usando de frases de
efeito para pregarem uma moral chata. Não queriam incomodar com idéias de antigamente, nem
com tradições de nossos antepassados. Seu objetivo era outro: gostavam era do presente e tinham
repulsa pela quebradeira que se abatia sobre o bolso de infelizes com uma tirania sem controle.
Dessa forma, esmeraldinos repreendiam o comportamento dos venezianos de quererem colocar a
culpa de sua falência no gosto de antigas tradições, como por exemplo o entrudo, não admitindo
que a bancarrota de sua sociedade se deu pela falta de dinheiro e não pelo gosto feminino às
bisnagas, como insinuavam em seu programa.

* * *

Ao longo deste artigo, observamos que venezianos e esmeraldinos, a despeito de


constituírem-se ambas em sociedades carnavalescas com fins semelhantes, possuíam identidades
que as diferenciavam e distinguiam entre si, com características peculiares, semelhanças e
diferenças, proximidades e rivalidades. Entre as semelhanças encontradas em meio a ambas,
pode-se destacar neste curto espaço que tanto Venezianos quanto a Esmeralda inseriam a
implantação do novo tipo de carnaval por elas proposto como mais um passo na senda do
progresso e da modernidade, capaz de levar a capital mais próxima das grandes metrópoles.
Assim, os venezianos propunham a realização de uma revolução no carnaval, uma vez que “com
o nosso poder tudo temos conquistado na senda do progresso. Tudo!”. Do mesmo modo, os
esmeraldinos afirmavam que “em nossa peregrinação carnavalesca, pois que de vossa animação e
entusiasmo por esses folguedos que o século e a democracia acalentam na vertiginosa carreira do
progresso e da civilização”.
Outro ponto de aproximação entre as duas tradicionais sociedades carnavalescas porto-
alegrenses era o combate ao entrudo. Em seus programas, ambas conclamavam a população a
auxilia-los a extirpar tal costume de nossa cidade. Venezianos, que afirmavam muito terem
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colaborado para o progresso dos festejos carnavalescos, queixavam-se de não terem “podido
abolir a perniciosa bisnaga, fonte de quanta constipação, pneumonia e tifo, há, que flagela e
dissipa a humanidade!”. E afirmavam, ainda, que “o que mais horroriza, é ver que esta plêiade de
epidemias dimana de delicadas e alvas mãozinhas que parecem fadadas para derramarem
consolações sobre a humanidade sofredora!!” atribuindo a continuidade do entrudo ao sexo
feminino. Esmeraldinos e venezianos, no que concerne ao combate ao entrudo, transformavam-se
em aliados uma vez que os primeiros conclamavam seus simpatizantes para que “façamos guerra
e guerra de morte ás antipáticas bisnagas, que são um sarcasmo pungente à nossa civilização, um
insulto atroz lançado aos gozos e delícias das folias do deus-Momo” e, para justificar tal
perseguição, apelavam ao progresso, argumentando que as bisnagas “fazem reviver o entrudo,
são filhas espúrias desse entretenimento estúpido e brutal, que o século das luzes não pode
suportar ante o progresso que fez medar por toda parte. Abaixo, pois, as bisnagas”.
Contudo, como observado anteriormente, essas sociedades possuíam características
próprias, marcas distintivas que lhe conferiam uma identidade particular em relação à sua
congênere e que levava a que os foliões escolhessem uma e não a outra – assim como, hoje em
dia, existem colorados e gremistas, por exemplo. Deste modo, os venezianos mostravam-se,
sempre, de modo mais ousado, com uma linguagem irônica e sarcástica, buscando atrair as
simpatias do belo sexo. Assim, eles afirmavam ser “galhofeiros entes, castos, bondosos e gentis
até”, capazes de, até mesmo, “regular o serviço da linha de bondes para a lua, a fim de poder
qualquer cidadão transportar para lá a sua jovem raptada, sem susto de que o facão matrimoniar-
se, como sucede cá por baixo!”. Ao dirigirem-se às mulheres, o faziam de modo galanteador, a
fim de conquistar olhares enamorados. Acreditavam, pois, nas “falas namoradas, meigas, que se
interrompem num tremor gentil”.
Sem falsa modéstia, afirmavam que “nós, os Venezianos, tomamos a peito a vossa
salvação”. Eram eles revolucionários que fariam uma revolução nos costumes da capital, mas
ressalvavam que “nossa revolução dura só três dias, mas os resultados são muito mais benéficos
do que os das outras que duram anos”.
Os Esmeraldinos, ao contrário, ao dirigirem-se ao sexo feminino o faziam de modo mais
respeitoso e solene e, muitas vezes, em tom de crítica moralizadora a seus usos. Condenavam,
pois, o fato de que “Hoje tudo é diferente, Tudo novo e nada bom: Velhas, moças, lindas, feias,
Todas querem ser do tom” e, em tom nostálgico e conservador, louvavam o tempo de seus “avós,
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sem mil baboseiras que vêm-nos da França: pomadas, essências, anquinhas e pós”. O
conservadorismo dos esmeraldinos contrastava com a fala ousada e até mesmo licenciosa dos
venezianos. Esmeraldinos eram mais comedidos em seus excertos e demonstravam uma postura
mais “modesta e esquiva aos ruidosos aplausos da multidão”, se apresentando “como a dama
formosa e garrida a deslizar como uma sombra na chusma de seus galanteadores e admiradores”.
Ao dirigirem-se às damas, gentis porto-alegrenses, o faziam “enviando as nossas mais respeitosas
saudações, os nossos mais afetuosos cumprimentos”. Tais programas exaltavam a participação
feminina com respeito e gratidão, com uma linguagem que – como pudemos perceber ao longo
do trabalho – era bastante rebuscada. Dirigiam-se, portanto, às “belas e donosas filhas do Guaíba,
rainhas dominadoras desta opulenta capital, que simboliza a sentinela do Império do Brasil,
deidades em par deste torrão abençoado, que surge como fada encantada do seio das águas”
destacando, ainda, que “é a vós a quem devemos todas as prosperidades que temos colhido em
nossa peregrinação carnavalesca”.
Desta forma, percebe-se que as sociedades carnavalescas, apesar de terem objetivos em
comum, não podem ser entendidas como um todo homogêneo. Enquanto agremiações que
brincavam o carnaval partilhavam características similares; contudo havia as diferenças.
Venezianos e Esmeralda: duas sociedades, um novo tipo de carnaval. Ambas buscavam, cada
uma a seu modo, atrair a simpatia dos foliões para seus préstitos e festejos carnavalescos. Rumo
ao progresso e contra as bisnagas, estabeleciam representações e construções identitárias que,
através de suas escritas de si, possibilitavam aos seus sócios e à população em geral reconhecê-
las e reconhecerem-se como membros/simpatizantes de uma delas. Identidades e rivalidades
presentes no carnaval de Porto Alegre ao cair do Império.

Referências Bibliográficas
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FERREIRA, Athos Damasceno. O Carnaval pôrto-alegrense no século XIX. Porto Alegre:
Livraria do Globo, 1970,
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(org.).Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.
LAZZARI, Alexandre. Coisas para o povo não fazer: carnaval em Porto Alegre (1870-1915).
Campinas: Editora da Unicamp/Cecult, 2001.
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LIMA, Joaquim Pacheco de. Modernidade e Razão:continuidade e ruptura. Terra e Cultura,


Londrina, ano XIX, Nº 37, julho a dezembro de 2003.
MENDES, José Manuel de Oliveira. O Desafio das Identidades. In: Santos, Boaventura de Souza
(org.). A Globalização e as Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2002.
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TOURAINE, Alain. Crítica a Modernidade. Petrópolis: Vozes, 1998.

Fontes
Puff da Sociedade Os Venezianos – Profissão de Fé e da Sociedade Esmeralda – Sermão,
publicados no jornal A Reforma, 11 de fevereiro de 1875.
Programa Carnavalesco da Sociedade Os Venezianos do ano de 1880 e 1882, publicado no jornal
Mercantil, 06 de fevereiro de 1880, p.2 e Jornal do Commercio, 18 de fevereiro de 1882, p.2,
respectivamente.
Programa Carnavalesco da Sociedade Esmeralda do ano de 1880 e 1882, publicado no jornal
Mercantil, 07 de fevereiro de 1880, p.2 e Jornal do Commercio, 19 de fevereiro de 1882, p.1.

1
Este documento é uma exceção em nosso corpo documental. Não foi um programa de carnaval, mas versos
distribuídos para a população durante a exibição das sociedades. Incluiu-se aqui, pois acreditamos ser ele de grande
valia nessa busca pelas escritas de si dos venezianos.
2
O anticlericalismo é um traço característico no pensamento iluminista. “Em nome da razão e da liberdade de
pensamento, durante o período iluminista, desenvolveram-se ferrenhas críticas às crenças e práticas religiosas,
afirmando que a razão deve ser o único critério válido, de acordo com a própria vontade divina”. (LIMA, 2003,
p.10).
3
Note-se que alguns membros da sociedade eram intelectuais, participavam da Sociedade Partenon Literário e
escreviam em jornais, como por exemplo: Hilário Ribeiro, Aquiles Porto Alegre, Cristiano Kramer, João Damasceno
Vieira Fernandes.
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4
Fênix, ave que, segundo a mitologia egípcia, durava séculos e, queimada, renascia das próprias cinzas. Essa
afirmação já aponta para a crise e falência que passarão as sociedades carnavalescas, tendo os venezianos feito seu
último préstito e baile no ano de 1884, haja vista que os venezianos necessitam reviver de ano em ano, tal qual a
Fênix. . Grande Enciclopédia Larousse Cultural, Nova Cultural Ltda, 1999, p.4417.

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