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Índice

Introdução ................................................................................................................................... 3

1. Filosofia e Ensino de Filosofia ............................................................................................... 4

2. O Ensinável da Filosofia (a dificuldade da questão) .............................................................. 4

3. Filosofia versus Filosofar: Kant e o Ensino de Filosofia........................................................ 6

4. Spinoza e o Ensino de Filosofia ............................................................................................. 6

5. Filosofia e Formação de Professores ...................................................................................... 7

Conclusão ................................................................................................................................. 10

Bibliografia ............................................................................................................................... 11
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Introdução

Actualmente, a Filosofia é concebida como ‘bicho-de-sete-cabeças’ quase por muita gente,


não porque não sabem o quê é Filosofia, mas sim, por ignorância pela disciplina. Como se
fosse tão difícil de estudá-la e muito mais de ensiná-la. O tema ‘Filosofia e Ensino de
Filosofia’ expõe o que é ensinável na filosofia e como transmitir o conhecimento desta
disciplina, uma vez que, a filosofia tem a importantíssima tarefa de informação e formação do
indivíduo.

O ensinável na filosofia são os conceitos com as regras de ‘como pensar’, pois a filosofia é
uma reflexão individual e como reflexão autónoma, não se pode ensinar ao individuo ‘o quê
pensar’, mas sim, ‘como pensar’, de modo que, o indivíduo goze sempre da sua autonomia e
liberdade de pensar individualmente.

Recordemos as grandes pilastras da filosofia Kantiana segundo as quais, ‘não se pode ensinar
a filosofia, mas sim, a filosofar’. Todavia, o próprio Kant se mostra contraditória ao afirmar
que podemos ensinar a filosofia quando enquadrada num sistema escolar, mas não como
doutrina acabada, mas sim, como um campo de saber que se faz através da liberdade de cada
um.

Spinoza foi um filósofo que também por mérito tinha sido solicitado em Heidelberg para
assumir o cargo de Cátedra para ensinar a filosofia naquela Universidade. Porém, Spinoza
recusara o cargo justificando-se de que não teria a liberdade de investigação como amante do
saber, visto que, ele estaria submisso as leis, as obrigações da instituição. Daí ele encontra a
incompatibilidade entre a filosofia e o seu ensino, pois ensinar a filosofia é obedecer as leis da
instituição, fechando assim, a liberdade de filosofar como uma actividade autónoma e
individual.

No entanto, o ensinável na filosofia bem como ‘o que se avalia’ são as competências


individuais dos alunos, e cada professor use o método adequado para o ensino segundo a
realidade circundante.
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1. Filosofia e Ensino de Filosofia (Sílvio Almirante1)

Ao longo dos tempos, o ensino de Filosofia passou por uma série de modificações, desde a
sua introdução. A problemática do ensino de filosofia torna-se tema de discussões, pois como
pensar em direccionar a aplicabilidade desta disciplina, cujas suas raízes mais profundas, ela
usa a reflexão e a análise crítica sobre os mais diversos problemas expostos pela História da
Filosofia.

O ensino de filosofia deve levar em consideração que ela é um produto do pensamento, deve
estar aberta ao diálogo e possibilitar uma postura crítica frente as discussões surgidas no
processo de conhecimento.

Cerletti (2004) distingue três questões problemáticas sobre o ‘ensinar filosofia’: a delimitação
de um campo teórico e contextual (a filosofia); o reconhecimento de uma actividade ou uma
prática singular (filosofar); e por último a possibilidade de levar o outrem neste campo teórico
e textual e de inicia-lo nesta prática (ensinar filosofia/a filosofar).

A filosofia como diálogo comunicativo torna-se difícil encontrar os caminhos da sua


comunicação, este é o problema central da Didáctica de Filosofia, isto é, ‘pensar como se
ensina a filosofia’. No entanto, nem todo o ensino de filosofia é filosófico, porque muitas
vezes este é deculpado, pois corre-se o risco de se transformar o ensino de filosofia num
conjunto de ideias que se transmite e que se recebe como herança, pelo uso excessivo da sua
didactização, ou seja, transformação do ensino de filosofia num conjunto de estratégias que
tornam em si mesmo num fim.

2. O Ensinável da Filosofia (a dificuldade da questão)

Návia (2004) comenta sobre as dificuldades do ensino secundário da filosofia. Ressaltando as


precárias condições materiais do ensino médio público, onde encontra-se turmas com excesso
de alunos, falta de materiais didácticos, o baixo salário pago aos docentes, professores não
formados em filosofia ministrando aulas de filosofia, no que se refere a questão ideológica e
política as discussões sobre o assunto são muito superficiais ou quase não existem.

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Estudante do curso de Licenciatura em Ensino de Filosofia com Habilitações em História, na Universidade
Pedagógica, delegação de Nampula, 4º Ano, 2015.
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A questão, se a filosofia é ensinável torna-se um paradoxo, uma vez que, a filosofia é saber
instituído e legitimado curricularmente. A dificuldade de ‘como ensinar’ tende-se na própria
natureza da filosofia, daí que o ensino de filosofia com questão de necessidade de
esclarecimento do próprio conceito de filosofia.

Para afirmar-se que é possível ensinar a filosofia, deve-se definir o que vai ser ensinado. O
ensinável em filosofia é os ‘conceitos em função das regras de como pensar’. Se
considerarmos a filosofia como ‘um conjunto de doutrinas’ podemos afirmar que a filosofia é
ensinável. Porém, se considerarmos a filosofia como ‘reflexão autónoma’, não se pode
ensinar.

O ensino de filosofia difere de outras ciências através da sua exigência de demostração,


racionalização e exposição, uma vez que, o ensino de filosofia deve estimular a coragem de
pensar. O ensino de filosofia deve orientar o aluno ‘como deve pensar correctamente’ e não ‘o
que deve pensar, ou seja, uma aula de filosofia deve colocar-se como uma verdadeira
aprendizagem do exercício do pensar.

Segundo Danilo Marcondes “o grande desafio para o ensino da filosofia consiste em motivar
aquele ainda não possui qualquer conhecimento do pensamento filosófico, ou sequer sabe
para que serve a filosofia, a desenvolver o interesse por este pensamento, a compreender sua
relevância e a vir a elaborar suas próprias questões” (MARCONDES, 2004: 64).

Uma aprendizagem de filosofia deve garantir ou produzir transferência de competências, daí a


necessidade do aluno à aprender a pensar. Com o ensino de filosofia pretende-se que a partir
das suas abordagens problemáticas a aprendizagem se processa de modo simultâneo
‘informativo e formativo’, visando a familiarização do aluno com os temas, a sua introdução
no universo conceptual, domínio do vocabulário específico, enquadrando o aluno no jogo da
linguagem e desenvolvendo assim, a capacidade cognitiva.

Gallo e Kohan (2000) descrevem três formas dominantes para o ensino da filosofia: um
ensino baseado na história da filosofia (o ensino da filosofia é o ensino da história da
filosofia... ensinar filosofia significa ensinar o que a história da filosofia produziu até hoje. Há
duas formas: baseado nos filósofos (Heráclito, Platão, Descartes, Heidegger...) os conceitos os
conteúdos filosóficos (liberdade, verdade, justiça...); a outra um ensino baseado em problemas
filosóficos (em torno de problemas: relação corpo-mente, a existência de Deus o
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conhecimento); e a última um ensino baseado em habilidades cognitivas e o atitudes


filosóficas (propiciar aos alunos um conjunto de habilidades de pensamento).

Gallo afirma que ensinar filosofia é um exercício de apelo a diversidade, ao perspectivismo; é


um exercício de acesso a questões fundamentais para a existência humana; é um exercício de
abertura ao risco, de busca de criatividade, de um pensamento sempre fresco; é um exercício
da pergunta e da desconfiança da resposta fácil. Quem não estiver disposto a tais exercícios,
dificilmente encontrará prazer e êxito nesta aventura que é ensinar filosofia, aprender filosofia
(GALLO, 2002: 199).

3. Filosofia versus Filosofar: Kant e o Ensino de Filosofia

Ensinar a filosofia para Kant, pressupõe a existência de uma área em questão, mas se não
existe um problema eterno, então não se pode ensinar a filosofia, mas sim, a filosofar. Não se
pode ensinar a filosofia segundo Kant, porque estaríamos a ensinar doutrinas, ou seja,
assuntos acabados.

Para Kant o que se ensina é a filosofar. Todavia, nem tudo o que é da filosofia é ensinável,
podemos instituir um ensino de filosofia, poi existe um aspecto como os ‘conceitos’. Segundo
Kant, pretende-se que a partir dos ‘conceitos’ o aluno produza conhecimentos, isto como
tentativa de suscitar no aluno o espirito de pensar.

Kant encontra na filosofia duas funções: Arquitectónica (Edificante) e Crítica. Segundo Kant
quando estivermos na função Arquitectónica podemos ensinar a filosofia. A missão da função
arquitectónica é a de construir ou edificar um sistema de ensino, o que quer dizer podemos dar
um espaço para o ensino de filosofia. Quando estivermos na função Crítica diz Kant, não se
pode ensinar a filosofia, mas sim, a filosofar (MARNOTO, 1989).

Kant ao dar a possibilidade de ensinar a filosofia é num ‘sistema escolar’, onde é um espaço
que cria condições para o aluno reflectir. Nesta vertente, nota-se a aquisição de determinadas
habilidades e capacidades.

4. Spinoza e o Ensino de Filosofia

Na problemática sobre o ensino da filosofia à quando ao convite a uma Cátedra do ensino de


Filosofia em 19673 na Academia de Heidelberg, Spinoza entende que há ‘incompatibilidade
entre a actividade de investigação filosófica e a de ensino da filosofia em instituições
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escolares publicas universitárias’, admitindo assim, um conjunto de causas para esta


justificação (Idem, 13):

• A natureza dessas instituições: como qualquer instituição social, a universidade implica


obediência cega e coerção; as Escolas, as Universidades fundadas ao custo do Estado
não são tao vocacionadas para o ‘cultivo de espirito’, mas sim, para a coerção de modo
a não perturbar a religião ou doutrina estabelecida publicamente.
• As exigências da actividade de investigação filosófica: a filosofia sendo caracterizada
pela ‘liberdade do filosofar’, deve ser garantida por uma vida retirada e solitária. A
filosofia é uma actividade essencialmente solitária e o ensino é público, o filosofar
implica tranquilidade e o ensino suscita e desenvolve polémica.
• Ensino de filosofia e o Auditório Real: segundo Spinoza ensinar a filosofia ‘é desvirtuar
a actividade reflexiva’, comprometendo o seu caracter monológico; ensinar a filosofia é
‘abandonar a perseguição solitária da verdade’, atendendo assim, ‘a natureza do
auditório real’ a que o discurso filosófico se dirige, tendo em conta os seus
condicionamentos, limites e a forma mais grave é deixar-se modelar por eles.

Na escrita afirma Spinoza que o filósofo é livre de determinar o texto como quiser, impondo-
lhe o seu próprio ritmo, construindo-o a partir das exigências de desenvolvimento da verdade,
dirigindo-o a um ‘auditório não real’ (com alunos com maiores limitações), mas sim, ‘ideal’
de sujeitos especialistas ou não, mas dotados de uma racionalidade limpa. Porém, numa aula
de filosofia é dado o filósofo uma tarefa que o obriga a procurar adaptar o seu discurso aos
limites e as imperfeições do auditório concreto a que se dirige.

Partindo de uma caracterização das limitações do auditório real a que se dirige o ensino de
filosofia, segundo Spinoza ‘é possível’, pois ensinar a filosofia implica uma cedência, uma
contaminação do discurso filosófico pelas exigências didácticas de adaptação aos limites e as
imperfeições de um auditor particular que muitos professores de filosofia se debatem com o
seguinte problema/dilema: ou fazer-se entender pelo auditório sempre imperfeito dos seus
alunos e, então, necessariamente ter que distorcer, passar por cima, esquecer uma palavra,
enfim, trair a filosofia; ou então não trair a filosofia e aceitar poder não ser entendido.

5. Filosofia e Formação de Professores

A implementação da disciplina de filosofia nos currículos das escolas de ensino médio e a sua
manutenção onde ela já existe é fundamental para a permanência dos cursos de licenciatura
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em filosofia. No entanto, a presença da disciplina de filosofia no ensino médio se justiça pela


importância para a formação dos jovens que frequentam este nível de ensino.

Quanto a formação dos futuros professores de filosofia, dado da discussão e solução dessa
questão depende ‘dos próprios cursos de licenciatura em filosofia’ (GALLINA, s/ano: 455).
Daí que encontramos dois problemas equacionados, a saber, um externo (relacionado com a
valorização destes cursos) e outro interno, referente às concepções sobre as actividades
desenvolvidas na formação dos professores de filosofia para o ensino médio.

O problema externo diz respeito ao modo como são tratadas as questões educacionais no
nosso país, não obstante das publicidades indicarem maior preocupação com a educação,
basta apenas verificar a forma como são tratados os professores dos diversos níveis de ensino
em nosso país, de modo a se ter uma ideia real do valor que é atribuído a educação
(GALLINA, s/ano: 456).

O Estado e os órgãos de fomento para com a educação estão numa situação de descanso à
pesquisa e à produção tecnológica, que direccionam os cursos de graduação para ‘a formação
científica e para o ingresso nos cursos de pós-graduação’. Devido a certas medidas definidas
por estes órgãos de fomento, os cursos de licenciatura têm tido grandes dificuldades em se
manterem como cursos de formação de professores, uma vez que, tais órgãos de fomento
estabelecem e fazem com que os projectos de pesquisas das licenciaturas, pouco têm a ver
com à pesquisa voltada ao ensino de filosofia e à formação de professores para o ensino da
filosofia no ensino médio.

O problema interno está relacionado à própria definição do que consiste um curso de


licenciatura em filosofia e consequentemente, a sua solução passa pela participação e
engajamento dos professores num debate sobre a natureza e o papel pedagógico destes cursos
e sobre em que consiste a formação dos futuros professores em filosofia.

Uma concepção muito comum nos cursos de licenciatura é a que enfatiza que a formação de
professores é uma actividade de transmissão de conhecimentos e de métodos de ensino,
centrada na competência do professor. Não obstante a importância da figura do professor na
actividade pedagógica, o que parece ser um ponto positivo, o problema com esta concepção é
que nela existe o sucesso da formação está directamente relacionado com a capacidade de
dominar e compreender os conteúdos a serem ministrados. Portanto, o fundamental para esta
concepção é a competência técnica do professor, especificamente a sua capacidade de reter e
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transmitir os elementos considerados por ele como necessários para o desempenho das
actividades em sala de aula.

É importante observar que as Universidades estão mais preocupados em ‘como formar


estudantes que estejam preparados para serem bons pesquisadores e para ingressarem bons
cursos de pós-graduação’ do que ‘formar bons professores para o ensino médio’ (Idem: 459).
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Conclusão

Os filósofos juntamente com os pedagogos recomendam que se pare de olhar a filosofia e


qualquer outra disciplina como difíceis de encarar ou estudar. Evitemos de levar
‘preconceitos’ para a sala de sobre qualquer disciplina fora dos benefícios da mesma para a
sociedade. A filosofia é saber instituído curricularmente, cuja sem uma pequena bagagem da
mesma você como humano devia sentir-se mal, buscando assim, a investigação desta
disciplina.

O ensino de filosofia actualmente parece deculpado, porque em algumas vezes, ensina-se ‘A


História de Filosofia’. Este facto contribui-se pela falta de professores formados em filosofia
pedagogicamente, de modo que, se produza na sala de aula novos conceitos e transforando
assim a turma de filosofia em um laboratório conceptual.

Em forma de sugestão, o Ministério da Educação deve introduzir nos ‘Centros de Formação


de Professores’ a disciplina de modo que haja mais professores desta área, facilitando a sua
introdução no nível básico (8ª, 9ª e 10ª classes), mas não introduzindo numa província apenas,
deve ser em todas províncias.
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Bibliografia

CERLETTI, A. Ensinar filosofia: da pergunta filosófica à proposta metodológica. Rio de


Janeiro: DP&A, 2004.

GALLINA, Simone Freitas da Silva. Formação de Professores: a filosofia e o ensino médio.


Centro Educação, Universidade Federal de Santa Maria, s/ano.

GALLO, Sílvio. A especificidade do ensino de filosofia em torno dos conceitos. Ijuí: Editora
Unijuí, 2002.

GALLO, Sílvio. & KOHAN, W. Crítica de alguns lugares-comuns ao se pensar a filosofia no


ensino médio. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.

MARCONDES, Danilo. É possível ensinar a filosofia? E se possível como? Filosofia:


caminhos param o seu ensino. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

NÁVIA, R. Ensino médio de filosofia nas presentes condições culturais e sociais de nossos
países. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

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