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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB

CENTRO DE EDUCAÇÃO - CEDUC


COMPONENTE CURRICULAR: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
DOCENTE: SOCORRO MONTENEGRO
DISCENTES: ALANA SOUSA SILVA
JAQUELINE FARIAS DE OLIVEIRA
RENATA DOS SANTOS SOUZA

ALFABETIZADORES EM FORMAÇÃO: RELATOS E REFLEXÕES DE


GRADUANDOS DO CURSO DE PEDAGOGIA

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho, intitulado, ”Alfabetizadores em formação: relatos e reflexões de


Graduandos do curso de Pedagogia” é decorrente do componente curricular obrigatório
Alfabetização e Letramento do curso de Pedagogia da Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), campus I, e tem como docente a Professora Doutora Maria do Socorro Moura
Montenegro.
A pesquisa tem como objetivo geral: identificar se os graduandos do oitavo período
do curso de Pedagogia sentem-se em condições de alfabetizar. Tendo sido feita a coleta de
dados por meio da entrevista estruturada com quatro graduandos devidamente matriculados e
cursando o oitavo período do Curso de Licenciatura em Pedagogia de uma instituição pública
de ensino superior.
Para o embasamento da pesquisa, foram utilizados diversos autores, dentre eles:
Ferreiro (1999),Gatti (2016), Mortatti (2008), Pereira (2012), Soares (1998), dentre outros.
Presumindo que para se ter uma educação de qualidade é necessário uma boa
formação do professor, e que a alfabetização é a essência de todo o processo de ensino e
aprendizagem, como também que, o docente alfabetizador é imprescindível para o processo
de estruturação do conhecimento, é fundamental analisar a formação do professor
alfabetizador, com a finalidade de entender se ele obteve ou está obtendo a formação
essencial para evoluir em seu trabalho.

2. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR ALFABETIZADOR


O final do século XX foi marcado por diversas descobertas. Dentre elas, a
compreensão de que não é apenas alfabetizar, mas, na verdade, é possibilitar para as pessoas
a chance de se ter o contato com as práticas sociais de leitura e escrita. Com o século XXI,
aconteceu uma mudança. Nele o conhecimento passou a ser um requisito, o contexto do
letramento mudou-se para o ambiente escolar, favorecendo que a comunicação tivesse uma
evolução. Com isso os docentes passaram a procurar novas capacitações para poder lecionar.
A discussão sobre a formação dos professores alfabetizadores vem tomando um
espaço cada vez mais importante nas políticas educacionais. É preciso, para que os docentes
sejam reconhecidos como sujeitos principais no processo educativo, que os professores
tenham uma formação teórica que possa contribuir com sua prática. Com essa relação direta
entre a teoria e a prática, se têm a possibilidade que professor associe suas práticas com as
teorias estudadas nos seus cursos de formação.
Contudo, mesmo com grandes avanços por meio dos programas formulados
recentemente, o tema da formação dos professores tem sido uma grande dificuldade para as
políticas do governo, como também, um imenso problema nas práticas formativas das
entidades responsáveis pela formação. Segundo Gatti (2016),

Nas instituições formadoras, de modo geral, o cenário das condições de formação


dos professores não é animador pelos dados obtidos em inúmeros estudos e pelo
próprio desempenho dos sistemas e níveis de ensino, revelado por vários processos
de avaliação ampla ou de pesquisas regionais ou locais. Reverter um quadro de
formação inadequada não é processo para um dia ou alguns meses, mas para
décadas (GATTI, 2016, p.166).

Atualmente, a formação que o professor possui não abarca as carências da sociedade


atual, isto acontece, pois são inúmeros os desafios que os docentes enfrentam. Dentre eles
está,

[...] a luta contra um sistema capitalista que contribui para disseminação de valores
excessivamente competitivos e individualistas até a jornada exagerada de trabalho
como alternativa para uma melhor remuneração financeira, sem contar, os dados
reveladores da falta de qualidade da educação (PEREIRA, 2012, p.68).
Desse modo, o ensino é uma tarefa complicada, pois a realidade que o professor irá
atuar é diferente, com muitos problemas e conflitos. A formação inicial não consegue
sozinha, proporcionar os saberes indispensáveis para uma boa atuação dos docentes em
formação. Schön (2000, p. 19) apud Pereira (2012, p. 69) declara que “o que mais os
aspirantes a profissionais mais precisam aprender, as escolas profissionais parecem menos
capazes de ensinar.”
Muitos estudos abordam acerca da diferença entre o saber científico passado nas
universidades e saber prático elaborado nas escolas no qual os docentes perpassam seus
conhecimentos. Diante dessa distância entre o que foi aprendido nos cursos de formação e do
que se é feito na práticas nos campos de educação, faz-se imprescindível a reflexão acerca
das propostas de formação nas universidades, para que os processos de criação da
personalidade dos professores bem como suas experiências profissionais.

3. REFLEXÕES SOBRE ALFABETIZAÇÃO

A alfabetização consiste no processo de aprendizagem onde se desenvolve a aquisição das


habilidades de ler e escrever do indivíduo. A incapacidade de adquirir a habilidade da leitura
e da escrita é chamada de analfabetismo ( iliteracia ), existe também o analfabetismo
funcinal ou semianalfabetismo. De acordo com Soares (1998) à palavra letramento é a
tradução de "literacy" , que significa o estado que assume aqueles que sabem ler e escrever.
No processo de alfabetização são adotados métodos e teorias que facilitam o processo de
letramento.

Na era do império do nosso país a alfabetização se dava através do método conhecido como
"marcha sintética" que se dividiam em , soletração : r+o = ro/ s+a = sa = rosa, silábico: a
imagem é relacionada com a letra "A" de avião "B" de bola, e o fônico: quando é apresentado
uma letra através do método silábico e após deve-se reconhecer mais palavras iniciadas com a
mesma letra. A partir do ano de 1930, a alfabetização passou a ser parte das políticas e ações
do governo, estes que visavam o desenvolvimento no país.

Muitas das vezes, a capacidade de saber ler e escrever não garante que o indivíduo consiga
ler e produzir textos , isso ocorre porque muitos saem da escola dominando a escrita , porém
não conseguem desenvolver as habilidades de ler e escrever em diversas situações que são
expostos. Ferreiro (1999, p.47 ) afirma que "a alfabetização não é um estado a qual se chega,
mas um processo cujo início é na maiorias dos casos anterior a escola é que não termina ao
finalizar a escola primária".
Autores como Magda Soares, Emília Ferreiro, Ana Teberosky, abordam em suas obras
concepções de alfabetização, uma autor bem conhecido e renomado é Paulo Freire, o
pedagogo acreditava que " A alfabetização é mais, muito mais, que ler e escrever. É a
habilidade de ler o mundo, é a habilidade de continuar aprendendo e é a chave da porta do
conhecimento” . Com esse pensamento , Freire nunca concordou com os métodos que
traziam o saber totalmente construído para o indivíduo.

Alguns métodos mais conhecidos e usados são :


método sintético, o método analítico, métodos mistos , construtivismo .
● No método sintético existe uma correspondência entre o som e grafia, oral e escrita, a
partir disso o processo de alfabetização se dá letra por letra , sílaba por sílaba.
● Já no método analítico é analisada toda a palavra , não se desenvolve através da
silabação , assim o alunos conseguem compreender o sentido do texto lido com
clareza.
● No método misto busca de mesclar os métodos anteriores para que o processo se torne
mais rápido e eficaz.
● O método construtivista, foi bastante difundido no Brasil por Emília Ferreiro,
defende que o organismo e o meio exercem uma ação recíproca , ou seja a construção
do conhecimento do indivíduo ocorre com a ação do mesmo sobre o mundo nesse
método é proposto que o aluno participe diretamente do seu desenvolvimento a partir
da experimentação , estímulos e raciocínio.

4. METODOLOGIA E ANÁLISE DAS VOZES DE GRADUANDOS DE


PEDAGOGIA

Esta pesquisa tem como objetivo geral, identificar se os graduandos do 8º Período do


Curso de Pedagogia se veem em condições de alfabetizar. A coleta de dados foi realizada por
meio de entrevista estruturada à 4 graduandos do 8º Período, do Curso de Licenciatura Plena
em Pedagogia em uma Instituição Pública de Ensino Superior. Visto que, o oitavo é o último
período do curso nessa instituição, compreendemos que os graduandos em questão,
receberam todo o embasamento teórico referente a alfabetização.
A entrevista, compreendida como um procedimento metodológico dialógico e
interativo, possibilita a obtenção de dados sociais e subjetivos (...) constitui
um importante recurso para a pesquisa qualitativa na educação, considerando
ter a educação uma dimensão social, histórica e cultural e ser um processo de
construção de identidade. (OLIVEIRA, FONSECA E SANTOS 2011 p.39)
A partir das respostas obtidas por meio das entrevistas, iremos realizar reflexões sobre
a formação do professor alfabetizador, realizando a ponte entre as vozes dos graduandos e as
teorias referentes ao processo de formação do professor alfabetizador. A entrevista foi
composta por duas questões:
1) Como concluinte do curso de Pedagogia você considera ter condições para
alfabetizar? Justifique.
2) Na sua opinião o curso traz embasamento para que o graduando se torne um
professor alfabetizador?
Iniciaremos a análise das entrevistas a partir das respostas para a pergunta 1:
• Aluna 1
Resposta: Não me considero preparada para alfabetizar. Acredito que só a prática vai me
trazer segurança.
• Aluna 2
Resposta: Não me considero com condições de alfabetizar, não existe uma prática deste
componente na Instituição de Ensino Superior, o que é de extrema importância. No estágio
podemos optar por ficar em uma sala do primeiro ano, mas devido ao estágio ser um dia na
semana, se torna inviável tentar alfabetizar uma criança.
• Aluna 3
Resposta: Não posso afirmar que tenho ou não condições, pois acredito que só quando
estiver inserida nessa prática poderei saber ao certo minhas condições enquanto
alfabetizadora.
• Aluna 4
Resposta: Em partes, pois o processo de alfabetização é muito complexo e desafiador. Visto
que para alfabetizar é necessário vários aspectos que culminem para tal. Acredito que
todos/as os/as professores/as tem medo de alfabetizar por ser uma das etapas fundamentais do
ensino. E a mais importante da vida escolar de um ser.
As alunas 1 e 2 afirmam não ter condições para alfabetizar, destacando a ausência da
prática na sua formação, seja por falta de programas de alfabetização promovidos pela
instituição de Ensino Superior, por considerar-se inexperiente, como aponta a aluna 3 ou por
ser o processo de alfabetização, uma prática desafiadora, trazendo insegurança ao professor
alfabetizador em formação, conforme a resposta da aluna 4. Infelizmente essa situação não é
característica apenas da instituição em questão, ao longo dos anos, a formação dos
professores alfabetizadores, em parte, encaminharam-se para modelos pré-estabelecidos,
focalizando em métodos para que os alunos aprendam a dominar os códigos da leitura e
escrita, conforme descreve Mortatti:
...Foi-se consolidando um modelo de formação de professores de acordo com
o qual o que essencialmente o alfabetizador precisa saber para ensinar a ler e
escrever é aplicar as novas (para cada momento histórico) propostas para o
ensino da leitura e escrita na fase inicial de escolarização de crianças,
constantemente repostas, de acordo com as urgências de cada momento;
MORTATTI, 2008 p.474)
A segunda pergunta foi voltada para a contribuição do curso da instituição de Ensino
Superior para a formação do futuro professor alfabetizador:
● Aluna 1
Resposta: O curso traz embasamento sim, porém poderia trazer mais teorias e práticas
voltadas para os métodos de alfabetização.
● Aluna 2
Resposta: O curso traz embasamento e falha na prática. Os estágios já são muito curtos o que
apenas nos possibilita realmente ter um choque da realidade. Mas nesses períodos de estágios
não são possíveis identificar falhas para que busquemos um aprimoramento. E o estágio com
supervisionado é mais restrito. Acredito que só se consiga aprender a alfabetizar na prática. É
preciso iniciar a dar aula a Universidade não nos preparará para a realidade nunca é preciso
estar imersa nela
● Aluna 3
Resposta: Para mim o curso apresenta algumas reflexões teóricas quanto a alfabetização.
● Aluna 4
Resposta: Sim de forma superficial, no curso são apresentadas as teorias e os métodos que
podem ser utilizados para "garantir" a alfabetização, mas não é o suficiente é necessário que
mais dedicação de nossa parte para nós aprofundar nesse processo.
A Aluna 1 considera que o curso traz embasamento teórico, no entanto, ausência de
prática das metodologias de alfabetização. Como também a aluna 2, afirmando que este traz
embasamento, mas falha na prática, o estágio de curta duração como citado anteriormente em
apenas um dia da semana, não permite reflexões profundas sobre a prática do educador em
formação, além disso, aponta a ausência de preparo para a realidade da sala de aula.
Percebemos que as alunas abordaram a temática do estágio em suas respostas, tanto
na primeira, quanto na segunda pergunta, como sendo parte essencial na formação, visto que,
o mesmo é o ponto de ligação entre as teorias abordadas e a vivência delas na prática escolar.
Apesar dessa importância, entendemos que esta etapa da formação não tem alcançado seus
objetivos, de acordo com Gatti:
Ponto crítico a considerar nessa formação são os estágios. Na maioria das
licenciaturas sua programação e seu controle são precários, sendo a simples
observação de aula a atividade mais sistemática, quando é feita. Há mesmo
aqui um chamamento ético. A participação dos licenciandos em atividades de
ensino depende das circunstâncias e da disponibilidade das escolas. A grande
maioria dos cursos não têm projetos institucionais de estágios em articulação
com as redes de ensino. Não há, de modo geral, um acompanhamento de
perto das atividades de estágio por um supervisor na maioria das
escolas.(GATTI 2016 p.167)
A aluna 3 apontou o preparo teórico que a Instituição de Ensino traz para os
graduandos. A aluna 4 aponta a superficialidade em que as teorias da alfabetização são
abordadas, embora traga as metodologias a serem utilizadas, ainda há a necessidade por parte
dos alunos de buscar outras fontes de aprendizagem. As alunas não teceram grandes críticas a
abordagem teórica a respeito da alfabetização em seus cursos, afirmam que essa base teórica
existe, traz reflexões a respeito do tema, no entanto, possui a falha de não interligá-los a
realidade, dessa forma, traz certa insegurança. Devemos compreender que essa questão é um
problema real que afeta não apenas os pedagogos, mas as diversas licenciaturas das
Instituições de Ensino Superior, de acordo com o que ressalta Gatti:
A estrutura e o desenvolvimento curricular das licenciaturas, entre nós, aí
incluídos os cursos de pedagogia, não têm mostrado inovações e avanços que
permitam ao licenciando enfrentar o início de uma carreira docente com uma
base consistente de conhecimentos, sejam os disciplinares, sejam os de
contextos sócio-educacionais, sejam os das práticas possíveis, em seus
fundamentos e técnicas. (GATTI 2016 p. 167-168)
Segundo os dados obtidos e analisados, os graduandos do 8º período não se veem em
condições de alfabetizar, embora tenham obtido embasamento teórico considerado bom,
houve uma falha na prática dessas teorias no dia-a-dia da unidade escolar básica, apesar da
oferta de estágio pela instituição, o mesmo não atinge seus objetivos. Esses fatores geram
insegurança por parte dos graduandos, levando-os a considerarem faltos em capacitação no
quesito alfabetizar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação de professores alfabetizadores tem sido tema de inúmeros estudos ao


longo da história da educação, acreditamos que ainda há muito que ser analisado e discutido a
respeito dessa temática. A partir desse estudo, buscamos compreender se de fato a formação
recebida na Instituição de Ensino Superior tem alcançado seus objetivos de formar os futuros
profissionais da educação que atuarão na área da alfabetização.
Diante das descobertas podemos apontar dois problemas principais no quesito
formação de professores alfabetizadores: O primeiro a ausência de métodos eficientes para
aplicar as teorias estudadas em sala de aula no dia-a-dia das unidades escolares, visto que, o
foco atual tem sido o aprendizado de teorias e métodos sem a relação direta com a vivência
escolar.
O segundo ponto, está relacionado a falha nos estágios supervisionados oferecidos
pela Instituição de Ensino Superior, os quais se limitam a observação e execução de aulas
isoladas, em apenas um dia por semana, não permitindo que os graduandos adentrem de fato
no cotidiano escolar, além de, nesse curto espaço de tempo, tornar inviável praticar as teorias
de alfabetização aprendidas nas salas de aula.
É nosso papel reconhecer que em relação ao embasamento teórico e reflexões a
respeito das metodologias de alfabetização houveram muitos avanços, saímos do
tradicionalismo, da visão de um único método eficiente e passamos a discutir e compreender
a função de cada um deles, bem como sua história dentro da educação. Percebemos que não
há uma única forma de alfabetizar, mas que o professor deve sempre adequar-se à realidade e
necessidade de seus alunos para alcançar seus objetivos. Ainda são necessárias diversas
mudanças, mas não podemos negar os avanços.

6. REFERÊNCIAS

GATTI, Bernadete A. Formação de Professores: Condições e Problemas Atuais. Revista


Internacional de Formação de Professores (RIFP), Itapetininga, v. 1, n.2. 2016.
MORTATTI. Maria do Rosário Longo. Notas para uma história da Formação do
Alfabetizador no Brasil. R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 89, n. 223, p. 467-476, set./dez.
2008.

PEREIRA, Cláudia Justus Tôrres. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR ALFABETIZADOR:


desafios e possibilidades na construção da prática docente. Porto Velho, Rondônia, 2012.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2° ed. Belo Horizonte.


Autêntica. 1998.

FERREIRO , Emília. Com todas as letras . São Paulo : Cortez , 1999.

ARDITO, Isabella Biagioni, Métodos de Alfabetização e Letramento / Isabella Biagioni


Ardito … [ et al. ]. Americanas, 2016.

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