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28/06/2018
A Portela vai apresentar no carnaval de 2019 uma homenagem à cantora Clara Nunes,
ressaltando a diversidade e a atualidade de sua trajetória biográfica e seu vasto e
plural repertório musical, constituído de sambas-canção, sambas-enredo, partidos-
altos, marchas-rancho, forrós, xotes, afoxés, repentes e canções de influência dos
pontos de umbanda e do candomblé. Para isso, pretende sair do lugar-comum das
narrativas sobre sua vida ou de uma colagem de títulos de sua discografia. Nossa
escola exalta a importância cultural de Madureira, das festas, terreiros e do
contagiante carnaval popular, enfatizando a contribuição do bairro para a formação da
identidade que caracterizou Clara Nunes: a brasilidade.
O meu lugar,
tem seus mitos e seres de luz.
É bem perto de Oswaldo Cruz*
Clara nasceu no interior mineiro, num lugar que hoje se chama Caetanópolis. Ainda
menina, trabalhou numa fábrica de tecidos para conseguir sobreviver, mas seu destino
já estava traçado. Tinha como missão cantar o Brasil! Ao longo da infância, conheceu
de perto as tradições culturais e as festas folclóricas interioranas, certamente
recebendo influência de seu pai, Mané Serrador, mestre de canto de Folia de Reis e
violeiro dos sertões das Gerais.
Sua brasilidade, como herança de sua origem, sempre valorizou a diversidade regional
de nosso país. A voz de Clara fez ecoar os ritmos do povo, na saborosa confusão dos
mercados populares, seja do nordeste ou de qualquer outro recanto desta nação.
Alçando voos mais ousados, Clara mudou-se para Belo Horizonte, onde participou de
concursos, realizou os primeiros trabalhos artísticos e conquistou espaço nos meios de
comunicação. Chegando ao Rio de Janeiro, seguiu fazendo sucesso e conheceu o
misticismo que aflorava em Madureira, incorporando-o à sua identidade.
Desde que foi fundada, a Portela tem uma presença significativa de elementos típicos
do mundo rural, trazidos pelo povo simples do interior, sobretudo do interior de Minas
Gerais, mesclados à negritude que vibrava em Madureira. Talvez tenha sido por isso
que a identificação de Clara com a Portela foi imediata. Ela sempre ocupou posição de
destaque nos desfiles, é madrinha da Velha Guarda e até puxou sambas-enredos na
avenida. Ela e os portelenses, famosos e anônimos, sempre caminharam de mãos
entrelaçadas, voando nas asas da Águia.
Um dia, inesperadamente ela partiu. Trinta e cinco anos se passaram desde então. A
dor da saudade sempre reverberou no coração de todos, tornando-a uma estrela ainda
mais cintilante.
Agora está na hora de a Guerreira reencontrar seu povo mestiço, para mais uma vez
brilhar na avenida. Vestida com o manto azul e branco e a Águia a lhe guiar, voa minha
Sabiá.
Até um dia!
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