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Direção Geral
Sócrates oliveira de Souza
Coordenação Editorial
Solange Cardoso de abr eu d’almeida (RP/16897)
Produção Editorial
Oliverartelucas
Reg-Din A dinâmica da igreja autêntica segundo o novo testamento./ Lourenço Stelio Rega. – Rio de Janeiro: Convicção editora,
2019.
124 p. ; 23cm
ISBN: 978-85-61016-68-5
CDD 280.286
Convicção Editora
tel.: (21) 2157-5567
Rua José Higino, 416 – Prédio 16 – Sala 2 – 1º Andar
Tijuca – Rio de Janeiro, RJ
CEP 20510-412
E-mail: falecom@conviccaoeditora.com.br
www.conviccaoeditora.com.br
DEDICATÓRIA
Dedico também aos professores que me incentivaram em minha formação inicial, Dr.
Richard Julius Sturz, Karl e Marge Lachler, Thurmon Earl Bryant.
Também aos amigos que já estão com o Mestre, Ary Velloso da Silva e Raini Raimundo
Peterlevitz.
APRESENTAÇÃO
Meu neto Matheus foi convidado para entrar com a Bíblia no casamento da minha filha
Eloísa. todo compenetrado do alto dos seus 5 anos, camisa branca e gravata borboleta, ele entrou
caminhando pelo corredor com a Bíblia aberta e foi direto para onde estavam os noivos. Meu
genro, Filipe, abaixou-se para pegar a Bíblia e ouviu o Matheus dizer com muita clareza e
segurança: – isto é a Bíblia, tem que ler!
Ainda pequeno, ele já sabia da importância de ler a Bíblia, o livro dos livros. Devemos
aproveitar todas as oportunidades que tivermos para ler a Bíblia e também bons livros. “a
dinâmica da igreja autêntica segundo o novo testamento” é um destes livros, leitura que
enriquece a nossa vida cristã com conteúdo prático, bíblico e teologia sólida.
Deus tem abençoado um número significativo de igrejas com novos membros vindos de outras
práticas religiosas. Mais do que nunca é necessário refletir sobre qual é a verdadeira natureza da
igreja. no formato de um diálogo com o leitor, Lourenço promove reflexão teórico-prática sobre a
razão de ser membro de uma igreja local, como pode funcionar e crescer uma igreja e como viver
em comunidade. ele claramente destaca o papel do discipulado como a estratégia básica da vida
da igreja. o leitor será desafiado a viver denominacionalmente mas de forma saudável, vivendo a
igreja local autônoma e interdependente.
O bom amigo Lourenço foi muito feliz ao interpretar a eclesiologia, doutrina da igreja, unindo
sabiamente a teologia e a aplicação da mesma.
Boa leitura.
Este livro teve como ponto de partida no início de meu ministério pastoral e foi sendo
construído ao longo de mais de 40 anos de ministério tanto no pastorado quanto na vida de
pesquisa no novo testamento.
O texto é resultado de pesquisa pessoal e aplicação prática, inclusive, de alunos e colegas que
têm tido acesso ao seu conteúdo ao longo destes anos, seja em forma de artigos, seja em forma de
diálogos e aulas sobre o tema, portanto, não é um livro acadêmico com elaboração complexa e
terminologia para iniciados na teologia clássica. É um texto para ser lido por todos e utilizado em
estudos com pequenos grupos, em classes da escola Bíblica etc. ao final de cada capítulo temos
um roteiro de estudo para este fim.
O que temos no campo conhecido por missão da igreja foi elaborado também considerando as
descobertas realizadas pelo Congresso internacional de evangelização Mundial, na cidade de
Lausanne, Suíça, em 1974, com participação de cristãos procedentes de mais de 150 nações, que
produziu diversos documentos importantes para o mundo cristão, sintetizados no que foi
conhecido como Pacto de Lausanne (Lausanne I). neste sentido, levamos em conta o conceito
mais amplo de missão integral da igreja, cuja expressão infelizmente no Brasil ficou mais ligada a
aspectos sóciopolítico-econômicos.
Em nosso texto, a percepção da missão integral da igreja tem abrangência mais ampla do que
essa e, para evitar que qualquer confusão, utilizamos a expressão “missão holísitca da igreja” no
que chamamos também de “visão tridimensional da missão da igreja”.
O leitor notará que alguns pontos essenciais serão reproduzidos em diversas partes do livro,
mas sempre conectados com novos conceitos que se deseja explicar. além disso, utilizamos o
recurso didático da repetição para provocar reforço de ideias.
Essa percepção é aliada e fruto de outra mais profunda que vem de uma análise da mensagem
central da Bíblia que é o próprio Deus e seu plano da criação, em que o plano da redenção é meio
para levar o ser humano de volta ao próprio plano da criação, portanto, a salvação é meio e não
fim. isso implica diretamente a ampliação da percepção dos motivos pelos quais a igreja existe,
que vão muito além de ser agência de salvação. assim, a missão da igreja de monodimensional
(salvadora e mesmo na percepção profética – sóciopolítica-econômica, ou mesmo na educativa)
vai mais além com a visão tridimensional. isso traz para a igreja, seus líderes e membros, maior
desafio e reposicionamento da igreja e dos cristãos diante do mundo em que vivemos.
A igreja passa a ter seu papel diante de Deus, diante do mundo e diante de si mesma muito
mais profundamente compreendido, de modo que o discipulado – o centro da grande Comissão
– não é mais uma estratégia, mas a estratégia de vida e ação da igreja.
Ao ler o texto, você perceberá quantos desafios temos diante de nós, como cristãos e igreja, o
quanto poderemos ser instrumentos de Deus não apenas para a salvação escatológica do mundo,
mas para a sua recuperação e restauração por meio do evangelho de modo a sermos dele agentes
como sal e luz num ambiente caótico e corrompido em que vivemos (Fp 2.15).
O texto foi construído de forma simples para ser uma leitura agradável, mas também
provocadora a novas percepções sobre nosso papel como cristãos e como igreja. o desejo é que, ao
terminar de ler, você fique positivamente incomodado para novos caminhos diante da Palavra de
Deus.
Dedicatória
Apresentação
Um ponto de partida ..
Na linha do tempo fomos construindo igrejas orientadas por estruturas, eventos e programas,
que acabam se tornando fim em si mesmas. “Ser igreja” foi sendo substituído por “ir à igreja”
que, em muitos casos, se tornou “ponto de encontro” de fim de semana com muita agitação, mas
que nem sempre representa real celebração aos pés do Mestre. Muito movimento, mas nem
sempre deslocamento em influência diante deste mundo caótico em que vivemos. não há dúvida
de que temos realizado boa mobilização missionária e evangelística, e isso é altamente positivo,
mas é necessário muito mais do que isso. Que influência efetiva temos concretizado no mundo?
temos cumprido a missão profética como luz e sal denunciando as mazelas sociais, políticas, éticas
e influenciando com valores éticos saudáveis?
Onde estão os “modelos de igreja” tão em voga entre meados da década de 1990 e a década
seguinte? Quantas igrejas foram divididas por causa da tentativa da implantação daquelas
estratégias? Quantos pastores e líderes acabaram sentindo-se desanimados por causa daquelas
tentativas infrutíferas, em diversos casos? Sempre imaginamos que, para alguns líderes, os
modelos de igreja pareciam mais “tábuas de salvação” para mobilizar uma igreja acomodada e
fazê-la “decolar”.
Mas, afinal, o novo testamento fala sobre alguma estratégia específica que a igreja deva adotar?
esta estratégia é o discipulado.
Em primeiro lugar, o discipulado não é mais uma opção de trabalho na igreja. É a estratégia
que Jesus ordenou que adotemos. Podemos aprender isso em Mateus 28.19, o texto magno da
grande Comissão, cuja tradução em nossas Bíblias precisa ser explicada, pois nem sempre o
tradutor tem condições de transpor para o nosso idioma toda profundidade do texto grego
original do novo testamento.
Uma tentativa de tradução poderia ser assim: “tendo ido (particípio aoristo no grego e não
imperativo), façam discípulos (imperativo no grego) de todos os povos”. Vemos o imperativo não
está no verbo ir, mas em fazer discípulos.
Isso significa dizer que, como cristãos, ao vivermos no cotidiano, sendo modelos de vida como
novas criaturas (2Co 5.15-17), temos o desafio de testemunhar do evangelho em nosso ambiente
(At 1.8), levando pessoas a Cristo e delas fazer discípulos. a grande Comissão é exatamente isso –
fazer discípulos – pois o ir já representa a vida que estamos vivendo.
O interessante é que para participar em estruturas, programas, eventos etc., não nos é
requerido necessariamente que sejamos modelo de vida, basta ir e fazer o trabalho com excelência,
cumprir calendário, envolver pessoas etc. Para discipular, é fundamental ser exemplo de vida, ter
maturidade emocional, espiritual, saber lidar com as dificuldades da vida, ter equilíbrio no falar,
no relacionamento. então, parece-nos que substituímos a transformação de vidas pela ação e pelo
ativismo de fim de semana.
Desta forma, podemos perceber que discipulado não envolve apenas a evangelização e a
ministração do ensino aos crentes após a sua conversão, mas também a transformação de vidas
que serão transformadoras de outras vidas.
Vemos, assim, que discipulado não é somente a transmissão de dados ou informações sobre a
fé cristã, mas, sobretudo, transmissão de vida. Podemos chamar isso de transfusão vivencial, que
envolve compartilhamento de conhecimento, de experiência, oração intercessória, amizade e
demonstração de vida equilibrada nos seus mais diversos sentidos. em resumo, o mestre
(discipulador) será exemplo a ser seguido. Dois textos de Paulo já são suficientes para mostrar
isso. “e o que de minha parte ouviste (. .) transmite a pessoas fiéis e capazes para também instruir
a outras” (2tm 2.2). neste texto vemos a sequência:
Outro texto é: “Sede meus imitadores, como eu também sou de Cristo”.
Aqui a sequência é:
Ser imitador aqui envolve a ideia de alguém que duplica ou reproduz sua vida, suas crenças e
seu padrão de conduta.
Jesus tinha os seus discípulos, embora a ideia do discipulado não tenha surgido com ele.
Possivelmente, tomou como modelo o relacionamento mestre discípulo existente entre os
rabinos. a instrução dada pelos rabinos a seus discípulos não se limitava apenas ao campo teórico,
pelo contrário, o método preferido estava ligado com a prática da lei. Havia contínuo contato
com o rabi (mestre), pois os discípulos chegavam até morar com ele e, assim, reproduziam em sua
vida a vida do seu mestre. os diversos casos concretos da vida sugeriam-lhes perguntas, às quais o
rabi podia então responder tomando como ponto de partida aquela situação específica.
Além de levar o discípulo a viver o mesmo estilo de vida do seu mestre de acordo com a Lei, o
discipulado tinha também como alvo levar o discípulo a ser MeStre. isso é perceptível no
discipulado cristão (2tm 2.2; Hb 5.12).
Como vimos, no discipulado está implícita a ideia de seguir um mestre e é, por isso, que Jesus
afirma: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, dia a dia tome a sua cruz e siga-me
(Lc 9.23). Desse trecho podemos extrair, pelo menos, quatro verdades-chave.
3. Tomar a sua cruz – a morte por crucificação foi introduzida pelos romanos e reservada aos
escravos, tendo sido também utilizada na Palestina nos tempos de Jesus. em tais ocasiões,
costumava-se obrigar o condenado a transportar o patibulum, isto é, a parte transversal da cruz,
até o local da execução.
Não há dúvida que nos últimos decênios antes da destruição de Jerusalém, qualquer tentativa
de rejeição ao império e ao imperador devia considerar a possibilidade de uma repressão severa
por parte dos romanos. adeptos de um movimento assim deveriam estar prontos para enfrentar a
morte e pagar com a crucificação a sua participação no mesmo. Quem, então, viesse a seguir Jesus
Cristo deveria estar pronto para morrer (Lc 17.33).
Poderemos incluir aqui também a ideia de seguir Cristo até o Calvário e ali mortificar o nosso
eu (rm 6.3-9). É a renúncia cotidiana aos direitos do eu humano rebelado contra a plano da
criação. Mas, não somente isso, seguir Cristo é seguir toda trajetória que ele fez: morreu, foi
sepultado e ressuscitou.
Assim, tomar a cruz e seguir Jesus envolve não apenas a morte para si mesmo e para os padrões
de vida adotados pela cultura contemporânea que contradizem os princípios do evangelho, mas,
também, viver uma nova vida como ressuscitado (rm 6).
4. Seguir jesus – Significa pôr-se, com ele, a serviço do reinado de Deus; significa ser seu
imitador. Por serem seus imitadores, os seus discípulos deveriam ser exemplos dele no mundo. a
chave para a interpretação exata desta afirmação aparece em um dos artigos da lei rabínica: “o
enviado de um homem é como se fosse aquele mesmo homem” (Anselmo Schulz, “Discípulos do
Senhor”, São Paulo: Paulinas, 1969, p. 35ss. Veja também João 13.20).
Com tudo isso em mente, já podemos imaginar que, para ser mestre, além de conhecimento
das verdades do evangelho, é preciso ter vida real, autêntica e compatível com os ideais do
próprio evangelho para transmitir ao discípulo. Como podemos ensinar alguém a vencer a ira,
por exemplo, se ainda não temos tido a vitória sobre esse comportamento? Por isso, é mais fácil
adotar outras estratégias de trabalho na igreja. o que o mundo mais espera de nós é ver a
concretização do evangelho em nossa vida e não apenas uma pregação abstrata e idealista de um
tal de Cristo que nem pode, na prática, estar sendo seguido como exemplo de vida.
Muitos acreditam que seriam necessárias muitas alterações na estrutura eclesiástica para
introduzir o discipulado no ministério da igreja. o que precisamos é acrescentar e priorizar o que
está faltando. afinal, o discipulado não é estrutura, é estilo de vida, e não mais uma opção de
programa e estratégia, mas a opção de Jesus para a igreja.
O que mais necessita uma pessoa sem Cristo é do evangelho, mas, uma vez convertida, deve
crescer e levar outros ao mesmo caminho (Fp 2.12). infelizmente, de modo generalizado, nossa
atual estratégia é cimentada no “salvacionismo” que visa desenvolver toda a sua atenção apenas na
evangelização do mundo pecador. o evangelho é mais do que isso; a salvação é como um conserto
de uma vida rebelde, depois desse conserto, a vida necessita ser vivida seguindo-se os ideais do
evangelho que conduzem a pessoa de volta ao plano original da criação.
Para o cristão não deve haver diferença entre a vida secular e a vida religiosa. Vivemos uma só
vida (Tg 1.8; 4.8 – ânimo dobre; dupla personalidade, duas vidas). não podemos negar que,
embora difícil, é possível viver o cristianismo no mundo moderno. e ser discípulo hoje também
requer reavaliação de nossa vida. os discípulos de Jesus adaptaram suas vidas ao reino de Deus e
não o inverso. Precisamos assumir o cristianismo em todas as suas implicações. Cristianismo,
mais que um conjunto de crenças e atividades, é também estilo de vida. Como cristãos, temos o
desafio de ser uma sociedade de impacto perante a sociedade mundana governada por Satanás, o
príncipe deste mundo, e a nossa maior arma é o amor de uns para com outros expresso por meio
de vida transformada e transformadora.
O discipulado aponta para a busca da aceitação de valores cristãos a serem adotados como
modelos éticos para nossas escolhas diárias, mantendo nossa individualidade de modo a promover
renovação de nossa estrutura mental (rm 12.2), proporcinando atitudes saudáveis.
ROTEIRO DE ESTUDO
2) Por que o discipulado é a estratégia de ação e vida da igreja segundo o ensino de Jesus?
3) o que é discipulado?
6) Quais as consequências práticas para igreja e para a vida dos crentes deixar de considerar
o discipulado como o núcleo central da grande Comissão?