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OBSERVATÓRIO BATISTA
Geração COVID
(parte 2)
Lourenço Stelio Rega amigos, valorizar mais a convivência e para o resto de sua vida e poderão levar rá mais se sentir que está em segundo
isso é indicador de que a geração CO- anos até conseguir melhores condições plano ou em uma nota de rodapé na lista
Estamos vivendo em uma época VID estará mais interessada em dedicar de empregabilidade. de prioridades governamentais.
como nunca antes vista na história hu- seu tempo para amizades, lazer coletivo, Há, portanto, um redesenho do cená- Para enfrentar a maior agonia econô-
mana e no mundo inteiro praticamente troca de experiências. Mas ainda há te- rio profissional. Por um lado, com a redu- mica desde a grande depressão de 1929,
ao mesmo tempo. Um pequeno micro- mor das viagens aéreas, apontando para ção de oportunidades de trabalho e crise há países, como a Inglaterra, a Alemanha
-organismo alterou profundamente diver- passeios mais próximos. no desemprego, mas, por outro, com no- etc., que já se preocupam estrategica-
sos paradigmas, inclusive de como as Isso já está afetando as empresas vas oportunidades especialmente para o mente em prover políticas públicas para
pessoas se relacionam, principalmente ligadas ao setor de turismo, agências de campo da tecnologia, com o surgimento preparar melhor o cenário para atenuar
em áreas coletivas, tais como transpor- viagens, empresas aéreas. Mas não são de novas alternativas de trabalho digitali- os impactos provenientes dessa ampla
te, uso de espaços - trabalho, hotéis, somente estas atividades que precisam zado que vai exigir novas competências, crise pandêmica, tais como incentivo à
escritórios, praças, shoppings centers. ser reinventadas, como já mencionamos habilidades e capacitações. recapacitação profissional, nivelamen-
O que temos, agora, é mais espaço para no artigo anterior. Isto vai ampliar a segregação entre to de estudos e formação, ampliação
menos pessoas. Isso já está impactando A geração COVID tem descoberto profissionais de trabalho, em que os na valorização do conhecimento como
diretamente diversos setores, como a também que sem tecnologia digital e mais “conectados” terão melhores opor- patrimônio concreto e não mais algo
locomoção para o trabalho, para reu- redes sociais a vida se torna pratica- tunidades de emprego, mas também de abstrato, taxação de grandes riquezas
niões, mas também o setor imobiliário mente inviável e insuportável em certo salários, enquanto os “não-conectados” em busca de quantias suficientes para
que terá de descobrir novos caminhos sentido, pois a pandemia foi acelera- ficarão à margem exercendo atividades proteger a oportunidade de empregos
para a utilização dos espaços que es- dora da tecnologia fundeada, isto é, a de menor valorização salarial. Mas com para todos etc.
tão ficando ociosos. Há poucos dias tecnologia, que já estava à disposição o tempo também poderão ser substi- A geração COVID vai precisar buscar
tivemos a notícia nos meios de comu- de um público restrito e que, agora, se tuídos por aplicativos de inteligência mais a humanização em seus mais va-
nicação que na cidade do Rio de Janeiro popularizou e se tornou em tecnologia artificial e robotização que já caminha- riados aspectos e relações, que agora
houve desocupação de cerca de 40% de ancorada no porto da convivência do vam a passos largos com a instalação vai além da social e humana, para se
imóveis e salas dedicadas a escritórios. novo normal. Mas, novas tecnologias já da 4ª Revolução, que, antes mesmo da estender com as máquinas (Learning
Também a arquitetura, que vai precisar estão navegando em direção ao uso do pandemia, já dava espaço amplo para Machine) de modo a buscar nelas a fa-
reprogramar a distribuição de espaço cidadão comum, e, neste momento, ten- a transformação digital (Digital Trans- cilitação da vida, mas cuidando para que
nos lares com a previsão de escritórios. do ampliada a sua velocidade em busca formation ou DX), que agora caminha a a vida continue sendo humana e o digital
Já se notam transformações na de melhores condições de vida; claro, passos exponenciais. seja ferramenta e instrumento e não fim
noção de higiene e mudanças no ves- para quem tem condições financeiras. Vejam que ampliei aqui no artigo a em si mesmo, com o risco de tornarmos
tuário, uso compulsório de máscaras e Mesmo quando o vírus deixar de ser abrangência do que seja a geração CO- a “Matrix” algo real em um futuro não
protocolos de entrada e saída do lar, com ameaça, o mundo vai continuar com os VID, que normalmente a expressão tem tão distante.
higienização de pacotes, sapatos e a sintomas da crise, que não será mais sido aplicada apenas aos mais jovens. Passado este momento será neces-
ocupação com a assepsia já chega per- da saúde, mas da economia e a gera- Entendo que a gravidade da crise pro- sário que todos nos unamos para des-
to da neurose coletiva. Pessoas estão ção COVID vai necessitar replanejar a vocada pela pandemia é tal que está cobrir meios para lidarmos melhor com
com medo de se aproximarem umas das vida diante da dificuldade em conseguir modelando a vida de todas as faixas as adversidades, catástrofes e cenários
outras, os olhares são de inquietação e trabalho, falta de recursos para ampliar de idade. Por isso mesmo, sendo todos conflitantes, pois toda crise tem dois
insegurança produzindo afastamento no sua qualificação profissional, especial- afetados, todos são, portanto, de uma lados - o do risco e perigo, mas também
relacionamento e convivência. mente os jovens, que estão na fase da só geração. o da oportunidade - como bem diz no
E, então, quais os efeitos de tudo isso formação universitária para também in- A geração COVID está vivendo, na Kanji a palavra para crise (wei-ji), pois
no imaginário e na dinâmica emocional gressar no mercado de trabalho que os prática, uma situação que parecia existir as crises exigem mudanças e estas mu-
dessa geração COVID? O que se sabe têm levado a uma realidade assustadora apenas em filmes catastróficos ou de danças podem nos dar a oportunidade
é a esperança no surgimento de uma em relação ao seu futuro, que os torna ficção e, hoje, parece se sentir impotente para enxergar além de nossas possibi-
vacina e da cura desta doença. Em uma também em grupo de risco, não neces- não apenas contra um microrganismo, lidades, além de nos tornar melhores e
consulta que estamos realizando há sariamente no campo da saúde, mas da mas diante de um cenário de diversifica- mais inclusivos do próximo em busca
cerca de um mês e com perto de 2000 sobrevivência e de construção de um da complexidade e necessita de melho- da alter-ajuda (do latim “alter”, o outro),
respostas, um dos sentimentos que as futuro saudável em termos integrais de res condições de esperança para vencer pois o mundo nunca será mais muitas
pessoas têm revelado para o período em vida. Os jovens da geração COVID vão o sentimento de que está caminhando ilhas separadas por fronteiras, pois to-
que terminar a quarentena é o de visitar sentir as consequências desta pandemia em direção ao abismo, e que não pode- dos nós somos humanos. n
PONTO DE VISTA O JORNAL BATISTA Domingo, 23/08/20 15
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