O documento discute as razões pelas quais a amizade autêntica está em crise na sociedade moderna. O egoísmo, a falta de encontros pessoais devido à distância física e a substituição da amizade por relacionamentos superficiais são apontados como fatores que contribuem para esse problema. A amizade verdadeira requer uma conexão pessoal profunda, sacrifício pelo outro e sinceridade.
O documento discute as razões pelas quais a amizade autêntica está em crise na sociedade moderna. O egoísmo, a falta de encontros pessoais devido à distância física e a substituição da amizade por relacionamentos superficiais são apontados como fatores que contribuem para esse problema. A amizade verdadeira requer uma conexão pessoal profunda, sacrifício pelo outro e sinceridade.
O documento discute as razões pelas quais a amizade autêntica está em crise na sociedade moderna. O egoísmo, a falta de encontros pessoais devido à distância física e a substituição da amizade por relacionamentos superficiais são apontados como fatores que contribuem para esse problema. A amizade verdadeira requer uma conexão pessoal profunda, sacrifício pelo outro e sinceridade.
amizades. Jesus era amigo de Marta, Maria e Lázaro (provavelmente desde o tempo de infância). Era amigo de João Batista (além de ser seu parente), por isso fica abatido quando sabe que João foi degolado por Herodes. Jesus era amigo dos Apóstolos. Não eram apenas “discípulos”, “aprendizes” de um grau inferior. Ele fazia questão de chamá-los de “amigos”. A tal ponto que a última palavra que dirigiu a Judas foi essa “amigo”!
Será que essa amizade leal, verdadeira, autêntica,
sincera, continua em alta nos nossos dias? Um autor, num artigo intitulado “a amizade está em crise?” levantava a seguinte questão: “A amizade estará ainda em vigor na sociedade atual ou, pelo contrário, era mais característica de épocas passadas? A vida social de hoje baseia-se nas relações pessoais ou antes nas relações impessoais?” Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 2
É uma questão importante. Será que o nosso mundo
está virando um mundo massificado, onde as pessoas tendem a ser cada vez mais solitárias?
E a solidão é uma das coisas que mais esvazia e tira o
sentido da vida de alguém. A maior realização do mundo, se for para ser usufruída sozinha não vale nada. (Descobrir a cura do câncer sozinho numa ilha e não poder falar nada para ninguém). (São Tomás) “Se se trata de felicidade na vida presente, deve-se dizer com o filósofo [Aristóteles] que ‘o homem feliz necessita de amigos´. Não para a sua utilidade, uma vez que ele se basta a si mesmo... mas para o bem de sua ação, isto é, para ter a possibilidade de lhes fazer o bem, para encontrar sua alegria no bem que eles realizam e uma colaboração no bem que ele realiza. O homem tem necessidade da colaboração de seus amigos para agir virtuosamente” (STh., I-II, q.4, a.8) Para que uma pessoa possa ser feliz a amizade é uma necessidade. Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 3
Não porque precise para o seu próprio bem, mas para
poder fazer o bem aos outros..., para alegrar –se com o bem dos outros... E precisa da ajuda de amizades para atuar virtuosamente E no entanto há muitos que sofrem dessa “doença” da solidão, porque é bastante evidente que a amizade está em crise.
E por que a amizade está em crise?
Poderíamos analisar alguns motivos.
O 1º motivo da crise da amizade é que o arqui-
inimigo da amizade está em alta: o “egoísmo”. No mundo moderno das grandes cidades isso fica mais avivado. As pessoas tendem a isolar-se, a ficar “cada um na sua” (a minha música no meu fone de ouvido), a limitar-se a cuidar da própria vida (não quero me meter no problema do outro que quebrou o braço), a fugir de um relacionamento pessoal (muita foto postada nas redes sociais, mas um distanciamento dos problemas reais das pessoas)... Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 4
se fala muito de autoestima e nada de “alter-estima” (estima
pelo outro)
Com isso se tende a gerar uma atitude de fechamento
em si e de “falta de confiança” nos outros. A atitude inicial com as pessoas deixa de ser “em princípio confiar, e só desconfiar se houver algum motivo”; para “em princípio desconfiar, e só confiar depois que houver muita segurança”. Isso trava enormemente os primeiros momentos da amizade.
Também dificulta a amizade – sobretudo nas cidades grandes
– o “desencontro” (por chamar de algum modo). O ponto de encontro é apenas o facebook (que não é encontro porque não é pessoal, individual, em carne e osso), ou o corredor da escola, ou a sala de aula no inglês,... mas faltam outros momentos. Talvez porque as pessoas moram muito longe uma das outras, porque compram as coisas em supermercados diferentes, Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 5
porque vão tomar um café em lugares onde não se encontram.
Essas distâncias fazem com que seja necessário um “esforço” para todo encontro que não seja aquele do ponto de encontro natural; esforço para marcar um almoço, para sair para algo no fim de semana... E nem sempre se está disposto a fazer esse esforço. (Se você quiser fazer um teste, tente marcar uma ida ao cinema com 3 amigas/os. Mesmo que você use a internet, você vai ter que gastar tempo até conseguir que o plano saia, porque umas não vão responder, outras vão discordar, várias pessoas não vão dizer nada...)
Isso fomenta um fenômeno do nosso tempo que
poderíamos chamar “amizade à distância”. A internet é boa como um meio a mais na amizade; mas não como substitutivo do contato pessoal. Pessoas que poderiam ir à casa do/a amigo/a e acaba falando pela internet. Que sempre é um certo escudo. É uma certa máscara... Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 6
A amizade também está em crise porque são fáceis os
relacionamentos superficiais que não chegam a ser amizades: é o mero “coleguismo”. Não é infrequente o caso da pessoa que tem muitos colegas e poucas ou nenhuma amizade. (Lembro-me do caso de uma pessoa que passava o dia rodeada de colegas – no inglês, na academia, na escola – mas chegava à noite e chorava no travesseiro porque se sentia só).
Junto a isso, outro motivo de crise da amizade
verdadeira, é a substituição da amizade pela “turma”. Todo mundo junto no shopping, na pizzaria, para tirar xerox, no show de música,... Mas é tudo tão superficial. Tem casca de amizade, mas não tem miolo de amizade.
Alguns indícios dessa crise da amizade verdadeira se
notam em coisas aparentemente sem importância, mas que são significativas: Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 7
Não saber coisas importantes das pessoas: o nome
completo das pessoas (nome e sobrenome). (A Ti; o Zé; a Té...) Não saber quantos irmãos tem. Não conhecer a família (embora more na cidade). Não saber o dia de aniversário sem o auxílio das mídias sociais.
2. Amizade autêntica
Conhecendo todas essas dificuldades, devemos cada
um de nós pôr todos os meios para que as nossas amizades sejam verdadeiras. Não devemos nos limitar ao mero “coleguismo”.
(Diz um famoso escritor inglês) “Enquanto a amizade
foi a fonte principal da minha felicidade, o trato ou a companhia em geral sempre supuseram muito pouco para mim, e não posso compreender bem porque alguém pode desejar conhecer mais pessoas do que aquelas com as que pode fazer uma verdadeira amizade” (C.S. Lewis, Cautivado por la Alegria) Há gente que com os meios modernos quer multiplicar indefinidamente o número de contatos que tem (se quiser se candidatar para algum cargo político tudo bem,...) Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 8
Devemos poder ter toda a confiança nas nossas
amizades. Se não são assim é que ainda não são verdadeiras amizades. Haverá falha por parte delas, ou parte nossa, ou por ambas as partes.
São Josemaria Escrivá, num capítulo de um livro seu,
trata da amizade e num pensamento breve fala de 3 características que se devem dar na amizade verdadeira: pessoal, sacrificada, sincera (cfr. S 191).
a) A amizade deve ser “pessoal”.
Mesmo que haja um grupo de 4 amigas/os, tem que haver uma linha de ligação pessoal entre cada uma das 4 pessoas. Exige “conversas individuais”, ocasiões de trabalho juntos, de lazer juntos.
Amizade pessoal é aquela que é “profunda’. Entram
em jogo os ideais, o modo de encarar a vida, as dificuldades... Fala-se das dificuldades familiares, dos problemas econômicos, dos maus momentos e dos bons momentos. Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 9
(Sto Agostinho é quem fala de um amigo de juventude,
afirmando que os dois pareciam ter uma só alma, de tal forma estavam compenetrados e a tal ponto de profundidade havia chegado a amizade).
Isso exige criar oportunidades de “conversar”,
de papos tranquilos, de troca de ideias (é uma das coisas que mais falta nesse nosso mundo moderno de comunicação tão rápida... que ninguém consegue falar com ninguém...). Num churrasco, num almoço calmo, num trabalho da escola em que se tem que estar lado a lado durante longas horas.
b) A amizade, para ser autêntica, deve ser
“sacrificada”. Sacrificada porque sacrifica o egoísmo. A Bíblia fala do contraexemplo: “Há amigo que só o é para a mesa, e que não o será no dia da tribulação” (Eclo. 6,10). A amizade sacrificada busca o bem e a alegria da outra pessoa “antes de buscar o próprio”. Acompanhar para ir ao banco; ajudar a digitar o trabalho; ficar ouvindo uma história longa que a pessoa gosta de contar e que nós já conhecemos. Vencer a preguiça para dar uma passada na casa, Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 10
para dar um telefonema, para passar na outra classe e
perguntar alguma coisa...
c) A amizade tem que ser “sincera”.
- (Diz um autor) “A diferença entre o relacionamento com um conhecido e aquele que estabelecemos com um amigo está em que, no primeiro caso, procuramos apresentar uma imagem agradável e atrativa; empregamos a linguagem como um disfarce e a conversa como uma camuflagem. No segundo caso, deixamos de lado as fórmulas de cortesia e os convencionalismos, e procuramos mostrar-nos tal como somos, abrindo o coração”. ((Amizade com Cristo))
Deve ser um relacionamento transparente.
Não é preciso fingir, nem fazer pose, nem ocultar nada. Não é preciso fingir porque se sabe a pessoa que é amiga compreenderá a nossa fraqueza, o nosso furo (e “soltará os cachorros” também) , a bagunça no quarto (e dirá que está uma bagunça), a nota baixa (e consolará). (S. Jerônimo) “A verdadeira amizade não deve dissimular o que sente” ( Epist., 81,1) Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 11
Dizer com paz da nossa chateação, da alegria, do que
se pensa. E quando há sinceridade na amizade, se toma a “defesa” das pessoas amigas. Não permitir que ninguém fale mal delas na sua ausência.
Se há sinceridade se “compartilham os ideais” de
fundo: os projetos de vida, a fé, as coisas em que se acredita... E se “corrige” aquilo que se vê que não está bem (um caminho que está levando para o lado errado; um comportamento incoerente...)
Em algum caso (raro) será “preciso cortar uma
amizade”. Porque ao invés de estar contribuindo para o bem, está levando uma das partes, ou as duas para baixo. Para a droga; Para o afastamento da fé, Para um comportamento totalmente irresponsável. Ao invés de levar para cima, leva para baixo. (Um dos personagens de D. Quixote conta uma longa história de dois amigos em que um aceita fazer uma coisa errada por amizade pelo outro: testar a esposa do outro para ver se ela Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 12
era realmente fiel. E a coisa acaba mal, porque os dois se
apaixonam e acabam traindo o marido burro por testar a esposa. E o Quixote comenta) “Os amigos verdadeiros hão de provar os seus amigos e valer-se deles, como disse o poeta, usque ad aras; isto é, que não se devem valer da sua amizade em coisas que sejam ofensa de Deus. (...) a amizade de Deus por nenhuma da terra se há de perder!” (Cervantes, Dom Quixote, I, 33) Por outro lado a amizade se sé é verdadeira tende a ser “duradoura”. Dizia Newman: “neste mundo de mudanças, é uma grande coisa ter amigos que não mudam” Mas também dizia com razão Machado de Assis):“Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos” (Ressurreição, cit in Migalhas de Machado de Assis, nº18) Tem que haver amizade verdadeira,
3. Vida cristã e amizade
A vida cristã “facilita muito” o caminho para a
amizade: aumenta a generosidade, o otimismo, a Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 13
cordialidade, a gratidão, o espírito de sacrifício, o
esquecimento próprio...
Tenho visto muitos exemplos interessantes de pessoas
que só tinham “turma”, ou que eram muito fechadas, ou que se utilizavam das amizades... e que ao terem uma vida cristã séria “criaram raízes” na amizade (para algumas pessoas a primeira amiga de verdade foi a do centro da Obra, embora a pessoa começasse a frequentar o ctr com mais de 18 anos...) A vida cristã faz com que uma alma tenda a “ampliar o círculo” de amizades e a aprofundar nas amizades que já tem. As amizades vão deixando de ser um mero meio de afastar a solidão, e passam a ser um meio de “melhoria pessoal” (porque se aprende das qualidades das outras pessoas), e de ajudar a que as outras pessoas melhorem também. Quantas vezes um bom exemplo de uma pessoa amiga ajuda a melhorar e a “mudar de vida’. (Raissa Maritain que conta no seu livro “As grandes amizades”, a influência tão positiva que tiveram as amizades na sua vida, para encontrar um sentido para a vida e a fé) Amizade em crise17 sr Aclim 2/17 14
Como seria bom que através das nossas amizades
ajudássemos outras pessoas a serem mais felizes, mais realizadas, mais coerentes...
Para nós a amizade não pode estar em crise.
Deve ser um valor cada vez mais cultivado.
Peçamos a Nossa senhora que interceda junto a Deus,
para que Ele nos dê um coração grande. Um coração em que caibam muitas boas amizades. Em que caibam muitas amizades profundas.