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MPM5605 - Geometria: Um enfoque via

modelos
(Profª. Drª. Rosa Maria dos Santos Barreiro
Chaves)
Aula 24 - Função Assintótica (continuação)
& Soma de ângulos e defeito de um
triângulo

Cleber Ribeiro
Cruz
SUMÁRIO
● Retomada sobre função
assintótica, número crítico e
semirreta e triângulo
assintóticos;

● Soma de ângulos e defeito de


um triângulo;

● Teoremas e provas:

● Adição de defeitos;

● Congruência AAA.
Retomada
Definição da Função crítica
Função Crítica Em uma Geometria Neutra, a
função crítica é a função
Há dois tipos de 𝜋: 𝑡 𝑡 > 0} → 𝑟 0 < 𝑟 < 90
paralelas: as que têm denotado por 𝜋 𝑡 = 𝑟(𝑃, 𝑙).
perpendicular e as que não
Número Crítico
têm. A função crítica nos
ajuda a distinguir quando O número crítico
uma reta não é paralela à para P e l é:
outra, o que é equivalente r(P,l)=SupK(P,l)
a dizer que não têm
perpendicular em comum. Note: r(P,l) é o maior dos r.
Retomada
Exemplos

Semirretas assintóticas e triângulos


Sejam A, B, C, D quatro
pontos numa G.N. tais que
não sejam três a três Iremos utilizar o exemplo
colineares, com lado 𝐴𝐷 // d para representá-los.
𝐵𝐶. Então o conjunto:
∆𝐴𝐵𝐶𝐷 = 𝐴𝐷 ∪ 𝐴𝐵 ∪ 𝐵𝐶
É um triângulo aberto (ou um
biângulo).
01
Teorema 9
Numa Geometria Neutra (GN) com HPP,
se duas retas distintas l e l’ têm
uma perpendicular comum, então as
retas são paralelas, mas não são
assintóticas.
Prova
Suponha 𝐴𝐵 ⊥ à 𝑙 𝑒 𝑙′. Pelo Teorema dado em aula → 𝑙 // l’
Como supomos HPP → 𝑟 (𝐴, 𝑙) = 𝜋 (𝐴𝐵) < 90.
(pelo Corolário 7.3.4)

Seja l uma reta na GN e P um ponto não pertencente a l, então há mais do que


uma “line through” P paralela à l, se e somente se, r (P,l) < 90 )

Logo, l não pode conter uma semirreta que seja


assintótica a uma semirreta de l’. Então l não é
assintótica a l’.
Observações: Veremos que a recíproca do resultado anterior é válida. Na
Geometria Hiperbólica se 𝑙 // l’ mas 𝑙 ∤ l’ então l e l’ têm uma
perpendicular comum. Também veremos que se l | l’ então há pontos em l
e l’ arbitrariamente próximos. Por outro lado, se 𝑙 // l’ , mas não
assintóticas, então l e l’ se separam. Note como difere da situação em Ɛ,
onde duas retas são paralelas ⟺ são equidistantes.
02
Soma de ângulos e
defeito de um
triângulo
Definição 1:
Seja o ∆ABC um triângulo numa G.T. o defeito do ∆ABC é:

𝛿 ∆𝐴𝐵𝐶 = 180 − 𝑚(∠𝐴) + 𝑚(∠𝐵) + 𝑚(∠𝐶)


Observações:
Já sabemos que na Geometria Euclidiana 𝛿(∆𝐴𝐵𝐶) = 0 para todos os
triângulos. Vimos um exemplo, na Geometria Hiperbólica, em que
𝛿(∆𝐴𝐵𝐶) > 0. Vimos ainda que EPP era equivalente a 𝛿(∆𝐴𝐵𝐶) = 0, para
um triângulo. Vamos mostrar nesta seção que para ∀ ∆𝐴𝐵𝐶 numa Geometria
Hiperbólica (HPP), 𝛿(∆𝐴𝐵𝐶) > 0 . Na verdade, mostraremos que se
0 < t < 180, existe um ∆𝐴𝐵𝐶 / 𝛿(∆𝐴𝐵𝐶) = 𝑡. Utilizaremos a Função crítica.
Definição 2:
Seja ∆𝐴𝐵𝐶 um triângulo aberto e P e Q dois
pontos numa G.N. com P-A-D e Q-A-B. Então os
ângulos ∠𝑃𝐴𝐵 e ∠𝑄𝐴𝐷 são ângulos exteriores
do ∆𝐷𝐴𝐵𝐶, e tem como ângulo remoto o ∠𝐴𝐵𝐶.

Observações:
De agora em diante, quando falarmos Geometria Hiperbólica, consideraremos
que é uma geometria com HPP. Não nos referimos especificamente ao modelo
do plano de Poincaré.
03
Teorema 1
Numa geometria Hiperbólica, um ângulo exterior
de um triângulo assintótico é maior que seu ângulo
exterior remoto.
Prova
Seja o ∆𝐷𝐴𝐵𝐶 um triângulo assintótico
e escolha P tal que P-A-D. Vamos
mostrar que: ∠𝑃𝐴𝐵 > ∠𝐴𝐵𝐶 .

Escolha E do mesmo lado de 𝐴𝐵 que contém C, com ∠𝐴𝐵𝐸 ≅ ∠𝑃𝐴𝐵.

Pelo Teorema 7, como 𝐵𝐸 e 𝐴𝐷 tem uma transversal com um par de


ângulos alternos internos congruentes, então ∃ uma ⊥ comum a 𝐴𝐷 e 𝐵𝐸.

Pelo Teorema 9, 𝐵𝐸 // 𝐴𝐷 e 𝐵𝐸 ∤ 𝐴𝐷 . Então 𝐵𝐸 ∩ 𝐴𝐷 = ∅, logo E ∉


int (∠𝐴𝐵𝐶).
Prova
Como 𝑩𝑪 | 𝑨𝑫, E ∉ int (𝐵𝐶).

Como C e E estão do mesmo lado de


𝑨𝑩, C ∈ int (∠𝐴𝐵𝐸), logo ∠𝐴𝐵𝐶 <
∠𝐴𝐵𝐸 ≅ ∠𝑃𝐴𝐵.
04
Teorema 2
Numa Geometria Hiperbólica a função crítica 𝜋 é
estritamente decrescente.
Prova
Vamos mostrar que se 0 < a < b então
𝝅(𝒂) > 𝝅(𝒃).
Seja B – A – C com AC = a e BC = b. Escolha
P, Q, R do mesmo lado de BC, com
𝑚(∠𝐶𝐵𝑃) = 𝜋(𝑏) , 𝑚(∠𝐶𝐴𝑄) = 𝜋(𝑎) e
𝑚(∠𝐴𝐶𝑅) = 90.
Então 𝐵𝑃 | 𝐶𝑅 e 𝐴𝑄 | 𝐶𝑅.
Pelo Teorema 7 ⟹𝐵𝑃 | 𝐴𝑄. Logo o ∆𝑄𝐴𝐵𝑃 é um triângulo assintótico.
Pelo Teorema 1 ⟹ ∠𝐶𝐴𝑄 > ∠𝐶𝐵𝑃.
Logo 𝜋 𝑎 = 𝑚(∠𝐶𝐴𝑄) > m(∠𝐶𝐵𝑃) = 𝜋 𝑏 .
05
Teorema 3
Numa Geometria Hiperbólica os ângulos da base
superior de qualquer quadrilátero de Saccheri são
agudos.
Prova
Seja ⧠𝑺 𝑨𝑩𝑪𝑫 , escolha E e F com A-D-E e
B-C-F.
Escolha P do mesmo lado de 𝐴𝐵 que E, e Q do
mesmo lado de 𝐶𝐷 que E com 𝐵𝑃 | 𝐴𝐸 e 𝐶𝑄 |
𝐴𝐸.
Note que 𝑩𝑷 | 𝑪𝑸, logo ∆𝑃𝐵𝐶𝑄 é um
triângulo assintótico.
Além disso, Q ∈ int(∠𝐷𝐶𝐹). Como 𝐴𝐵 ≅ 𝐷𝐶, temos:
𝑚 ∠𝐴𝐵𝑃 = 𝜋 𝐴𝐵 = 𝜋 𝐷𝐶 = 𝑚 ∠𝐷𝐶𝑄 .

Pelo Teorema 1 ⟹ ∠𝑄𝐶𝐹 > ∠𝑃𝐵𝐶.


Prova
Logo, 𝑚 ∠𝐴𝐵𝐶 = 𝑚 ∠𝐵𝐶𝐷 = 180 − 𝑚 ∠𝐷𝐶𝐹 = 180 − (𝑚 ∠𝐷𝐶𝑄 + 𝑚 ∠𝑄𝐶𝐹

𝟏𝟖𝟎 − 𝝅 𝑪𝑫 + 𝒎 ∠𝑸𝑪𝑭
= 𝟏𝟖𝟎 − 𝝅 𝑪𝑫 + 𝒎 ∠𝑸𝑪𝑭 < 180 − 𝜋 𝐴𝐵 + 𝑚 ∠𝑃𝐵𝐶 =

𝟏𝟖𝟎 − 𝒎 ∠𝑨𝑩𝑷 + 𝒎 ∠𝑷𝑩𝑪


= 𝟏𝟖𝟎 − 𝒎 ∠𝑨𝑩𝑷 + 𝒎 ∠𝑷𝑩𝑪 = 180 − 𝑚(∠𝐴𝐵𝐶)

Logo, 2𝑚 ∠𝐴𝐵𝐶 < 180 ⟹ 𝑚 ∠𝐴𝐵𝐶 < 90.


06
Teorema 4
Numa Geometria Hiperbólica a soma das medidas
dos ângulos internos de qualquer triângulo é menor
do que 180.
Prova: Exercício

Sugestão: Recorde a prova do Teorema de Saccheri.


Note: Numa geometria hiperbólica 𝛿 ∆𝐴𝐵𝐶 > 0.
07
Teorema 5 (Adição de
defeitos)
Numa Geometria com Transferidor (G.T.), se
A-D-C então 𝛿 ∆𝐴𝐵𝐶 = 𝛿 ∆𝐴𝐵𝐷 + 𝛿(∆𝐷𝐵𝐶)
Prova:
A prova desse teorema segue diretamente do fato
de os ângulos em D serem suplementares e de
𝑚 ∠𝐵 = 𝑚 ∠𝐴𝐵𝐷 + 𝑚 ∠𝐷𝐵𝐶

Portanto:
𝜹 ∆𝑨𝑩𝑪 = 𝛿 ∆𝐴𝐵𝐷 + 𝛿 ∆𝐷𝐵𝐶

Observação: Além disso, deve-se observar que o defeito de um dado


triângulo é exatamente igual ao defeito de outro triângulo congruente a ele.
Essas duas propriedades do defeito, a aditividade e sua invariância sob
congruência, serão importantes ao tratar-se, mais adiante, do conceito de
área na Geometria Hiperbólica.
O próximo resultado é
surpreendente! 08
Teorema 6
Spoiler: Numa Geometria (Congruência AAA)
Hiperbólica as medidas dos três
Numa Geometria Hiperbólica dados os
ângulos determinam completamente ∆𝐴𝐵𝐶 e ∆𝐷𝐸𝐹 , se ∠𝐴 ≅ ∠𝐷 ,
∠𝐵 ≅ ∠𝐸 e ∠𝐶 ≅ ∠𝐹 então
o triângulo, a menos de congruência.
∆𝐴𝐵𝐶 ≅ ∆𝐷𝐸𝐹.
Prova
Se os triângulos não são congruentes, um lado de um triângulo é menor do
que o seu correspondente no outro.
Vamos supor: 𝐷𝐸 < 𝐴𝐵. Escolha G ∈ 𝐴𝐵 tal que 𝐺𝐵 ≅ 𝐷𝐸

Escolha H do mesmo lado de 𝐴𝐵 que C / ∠𝐵𝐺𝐻 ≅ ∠𝐸𝐷𝐹. Então 𝐺𝐻 // 𝐴𝐶


Pelo Teorema de Pasch,
𝐺𝐻 ∩ 𝐵𝐶 = 𝐾
(pois 𝐺𝐻 // 𝐴𝐶 ).
Então os ∆𝐺𝐵𝐾 ≅ ∆𝐷𝐸𝐹 (por
ALA).
Então 𝛿 ∆𝐴𝐵𝐶 = 𝛿 ∆𝐷𝐸𝐹 .
Prova
Pelo Teorema 5 ⟹ 𝛿 ∆𝐴𝐵𝐶 = 𝜹 ∆𝑨𝑩𝑲 + 𝛿 ∆𝐴𝐾𝐶 =
= 𝜹 ∆𝑨𝑮𝑲 + 𝜹 ∆𝑮𝑩𝑲 + 𝛿 ∆𝐴𝐾𝐶 =
= 𝛿 ∆𝐴𝐺𝐾 + 𝛿 ∆𝐷𝐸𝐹 + 𝛿 ∆𝐴𝐾𝐺 > 𝛿 ∆𝐷𝐸𝐹

Teorema 4: 𝛿 ∆𝐴𝐺𝐾 > 0 e 𝛿 ∆𝐴𝐾𝐺 > 0

Mas isto é um absurdo,


pois δ ∆ABC = δ ∆DEF ,
devido às congruências de
ângulos da hipótese.
Logo, ∆𝐴𝐵𝐶 ≅ ∆𝐷𝐸𝐹.
09
Teorema 7
Numa Geometria Hiperbólica, lim 𝜋 𝑥 = 0
𝑥→∞
Síntese da Prova
Seja l uma reta, escolha n > 0 inteiro que seja associado ao ponto 𝐴𝑛 em l, de
modo que 𝐴𝑛 - 𝐴𝑛+1 - 𝐴𝑛+2 e 𝑑(𝐴𝑛 , 𝐴𝑛+1 ) = 1.
Seja l’=𝐴0 𝐵 a única perpendicular à l que passa por 𝐴0 .

Para cada n > 0 associe a um ponto


𝑪𝒏𝐵𝑛 do
mesmo lado de l que B com
m ∠𝐴0 𝐴𝑛 𝐵𝑛 = 𝑟
Se 𝜋 𝑛 > 𝑟 para todo n, 𝐴𝑛 𝐵𝑛 intescta
𝐴0 𝐵 no ponto 𝐶𝑛 .
Então para cada n>0 existe um 𝐷𝑛 que é o
pé da perpendicular de 𝐴𝑛−1 com 𝐴𝑛 𝐶𝑛 .
Síntese da Prova
A prova segue somando os defeitos de todos os
triângulos formados por 𝛿 ∆𝐴0 𝐴𝑛+1 𝐶𝑛+1 .

Verifique os cálculos realizados no livro.

Conclusão: 𝜋: (0, ∞) → (0,90) é bijetiva na


Geometria Hiperbólica.
10
Teorema 8
Numa Geometria Hiperbólica, se 0 < 𝑟 < 90, então
existe um único número real t / 𝜋 𝑡 = 𝑟
Síntese da Prova
Verificar detalhes da prova no livro.

Neste seminário iremos discutir apenas algumas ideias


que o autor utilizou para chegar no resultado final.
10
Corolário 1
Numa Geometria Hiperbólica, lim+ 𝜋 𝑥 = 90.
𝑥→0
O resultado do corolário 1 é consequência da prova do
Teorema anterior.

A medida que o B se aproxima de l, o ângulo ∠DBA


vai aumentando até atingir o limite 90.
Como resultado mostraremos que se 0 < r < 180, então
há um triângulo cujo defeito é exatamente r. Não é
surpresa que esta prova será baseada no argumento do
“Princípio da Continuidade”.
11
Teorema 10
Numa Geometria Hiperbólica, se 0 < r < 180,
então existe um triângulo cujo defeito é
exatamente r
Prova
Livro
Referências
Bibliográficas

MILLMAN, R.S.;
PARKER, G. D. Muito obrigado pela
Geometry: A metric presença!
aprroach with models,
v.2, 2000. p. 205 – 2.

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