2a Etapa Atividades de Estágio Literatura Brasileira

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Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Disciplina: Atividades de estágio: português e literaturas em língua portuguesa

Grupo 4 - Manhã: Mariana do Nascimento Ananias ( n. USP 7610768); Mariana Zacarias


Pilatti (n. USP 9881330); Pedro Gabriel Miranda (n. USP 9881494); Rauanne Furtado de
Mendonça (n. USP 9436718) e Regiane Matos (n. USP 5927361)

Prof. Dr. Ricardo Souza de Carvalho

Segunda Etapa de Avaliação da Disciplina:


Avaliação do Projeto do Grupo 1

O projeto do Grupo 1, intitulado "A vivência feminina na literatura brasileira"


evidencia a importância da inserção constante da literatura feminina - e feminina negra - nos
debates dentro das escolas. A escolha da escrita de si para dar conta desse recorte foi uma boa
estratégia para alcançar o interesse dos alunos. O Grupo 1 dividiu o seu projeto em três ciclos
- diário, autobiografia e crônica - e escolheu autoras brasileiras dos séculos XIX e XX.
A opção em dividir a oficina em ciclos, de acordo com os gêneros literários
produzidos pelas autoras contempladas na proposta, dialoga com as concepções
contemporâneas do ensino de Língua Portuguesa e encontra respaldo na Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), possibilitando que a oficina seja tanto um trabalho inserido no
currículo escolar como no contexto extra-curricular.
No primeiro dia da oficina, a proposta é aproximar os alunos do tema, estimulando-os
a expressar suas vivências, experiências e leituras de literatura de autoria feminina. A
dinâmica em roda, sugerida pelo Grupo 1, favorece a ambientação da oficina.
Para o primeiro ciclo da oficina (diário) há um dia de encontro, voltado à obra de Ana
Cristina César (1952-1983). A breve apresentação da biografia da autora e a seleção de
trechos do diário nos parece ideal para estimular os alunos para a atividade final desse
encontro, que propõe aos alunos o exercício da escrita autobiográfica, dando-lhes liberdade
para expressar-se através dos diferentes registros de linguagem.
Ana C. figurou entre os chamados poetas marginais e era responsável pela confecção e
distribuição de suas obras, dados biográficos que podem aguçar a curiosidade dos alunos, seja
na busca de mais informações no arquivo da autora - sob a guarda do Instituto Moreira Salles,
seja na leitura de alguns trechos de seu diário.
Para o segundo ciclo (autobiografia) o Grupo 1 selecionou duas autoras: Carolina
Maria de Jesus (dia 3) e Patrícia Galvão, a Pagu (dia 4). Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
tem ganhado espaço no cânone brasileiro. Sua obra agora enfrenta um momento de destaque:
atualmente é publicada pela editora Companhia das Letras e, além disso, o Instituto Moreira
Salles de São Paulo (IMS-SP), localizado na Avenida Paulista, dá lugar à exposição Carolina
Maria de Jesus - um Brasil para os brasileiros, que teve início no dia 25 de setembro de 2021
e irá até o dia 30 de janeiro de 2022 e que tem entrada gratuita. Acreditamos que seria muito
importante organizar uma excursão dentro da proposta, de maneira a conduzir os alunos ao
IMS e fornecer a eles uma experiência mais material e lúdica em relação à obra e à
importância de Carolina (Cf. Carolina Maria de Jesus - Um Brasil para os brasileiros
[Exposição, entrada gratuita, 25/9/2021 a 30/1/2022. Disponível em:
https://ims.com.br/exposicao/carolina-maria-de-jesus-ims-paulista/#sobre-visitacao. Acesso
em: 15 nov. 2021).
Patrícia Galvão (1910-1962), conhecida por Pagu, foi uma mulher multifacetada que
com sua escrita contribui muito para a compreensão de perspectivas sociais, políticas e
culturais do período em que estava inserida. Nesse sentido, é certeira a escolha do grupo de
utilizar a autora para trabalhar a fluidez entre autobiografia, carta e diário, a condição
feminina do século XX, bem como o impacto do modernismo, afinal Pagu tinha uma escrita
engajada, contundente com sua participação ativa no Partido Comunista Brasileiro e sua
existência como mulher numa época convencional, de valores pré-estabelecidos.
Para o terceiro ciclo (crônica) o Grupo 1 selecionou três autoras: Júlia Lopes de
Almeida (dia 5), Clarice Lispector (dia 6) e Hilda Hilst (dia 7). Júlia Lopes de Almeida
(1862-1934) foi uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, além de representar
os primórdios da literatura feminina no Brasil. O grupo selecionou a escritora para introduzir
o gênero crônica. Júlia Lopes de Almeida escreveu suas primeiras obras visando o público
infantil. Um ano após a publicação de suas primeiras crônicas, a autora escreveu seu primeiro
romance. Sua obra abrange outros gêneros literários como o teatro.
O grupo aponta que a autora é pouco discutida na sala de aula, embora uma de suas
obras seja listada nos vestibulares. Os colegas escolhem a autora com a justificativa de
apresentar o gênero crônica, ampliar os conhecimentos em relação a Júlia Lopes de Almeida e
sua obra, além de introduzir o contexto histórico de sua produção e sua relação com a
literatura feminina no Brasil. Acreditamos que a opção é bem fundamentada, já que apresenta
um nome importante para o eixo temático do projeto e que, via de regra, é pouco abordado em
contexto escolar.
Clarice Lispector (1920-1977) é a autora tratada no sexto dia da oficina. Observamos
que o grupo a escolheu tanto pela sua grande importância na literatura brasileira, quanto pela
relação da sua obra com o gênero tratado neste terceiro ciclo da oficina: a crônica. A
abordagem pareceu-nos bastante interessante para se pensar a escrita feminina dentro desse
gênero, tendo em vista que a própria autora se interroga sobre o tema em seu texto “Ser
Cronista”, como o grupo destacou. Neste sentido, a escolha foi muito bem justificada pela sua
pertinência e pelo potencial que possui para promover os debates em torno do assunto,
inclusive a partir da metalinguagem.
Na apresentação do contexto histórico, foram apresentados dois eixos temáticos: “a
condição feminina nas décadas de 1950 e 1960” e “a escrita clariciana nas crônicas e a
identidade feminina”. Cada um dos eixos está fundamentado em trabalhos científicos sobre
Clarice Lispector no campo da Teoria Literária. Observamos que o grupo pesquisou e
selecionou leituras muito pertinentes para dar suporte a essa contextualização junto aos
alunos. Com isso, foram criadas as condições para que os elementos principais pudessem ser
colocados, de modo a preparar os alunos para as leituras que virão a seguir.
A segunda etapa do encontro, por sua vez, foi programada para tratar sobre a obra de
Clarice. O grupo trabalhou bem a seleção dos textos, que variam entre crônicas e contos,
possibilitando um diálogo entre diferentes gêneros textuais presentes nas produções da autora.
Além disso, o enredo e as personagens que aparecem nas narrativas se inserem
adequadamente na proposta da oficina, na medida em que permitem pensar a condição
feminina na sociedade sob o olhar da escritora. As indicações ao final do encontro, por fim,
também vão nessa mesma direção, tematizando a condição feminina e apresentando a autora e
sua obra através de outras artes (cinema, produções audiovisuais diversas, entrevista e
exposição prevista para 2022).
Hilda Hilst (1930-2004) considerava as suas crônicas uma interessante porta de
entrada para a sua obra. Partindo desse pressuposto, o Grupo 1 escolhe esse gênero para
apresentar aos alunos três crônicas da autora: uma delas fala sobre a escrita e seus desafios, a
segunda tem temática política e a terceira e última delas fala do dilema entre escrever para ser
compreendida e escrever a fim de expressar-se livremente. Essas três abordagens lidam
diretamente, na nossa opinião, com o universo escolar e o desafio dos jovens diante do
processo de escrita de si e também na elaboração de redações escolares.
A proposta de produção de sarau como encerramento da oficina é plausível, porque os
gêneros testemunhais tendem a estimular mais os alunos no sentido de compartilharem suas
próprias experiências. Além disso, depois dos encontros anteriores eles terão consolidado
aspectos teóricos desses gêneros textuais que podem muito bem auxiliá-los nessas produções
no caso escrito.
Além disso, a abertura de opções, para que os alunos não obrigatoriamente se sintam
pressionados a falar de si mesmos, mas com a possibilidade de selecionar outras formas de
produções. Em linhas gerais, o projeto do Grupo 1 é excelente, bem redigido e bem
fundamentado, motivos pelos quais acreditamos que deve ter nota máxima na avaliação.

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