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À velocidade do Pensamento:
Olá! eu sou a Cláudia
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Gosto de basquete. Mas por vezes esqueço-me para onde devo correr. Olho para o
treinador, a bola bate no chão, várias vezes, olho para o cesto. Isso faz-me lembrar
aquela vez em que corri no meio das papoilas, era primavera. O sol batia-me na cara. O
cheiro das flores inunda-me sempre e depois a nossa maneira de olhar a natureza.
Ouço o meu nome, estão a chamar-me.
Para que lado é que eu tinha de correr?
O treinador faz-me sinal, por isso passo a bola por baixo das minhas pernas, rodopio,
passo por duas jogadoras, corro para o cesto. Sabe bem saber para onde vamos.
Aplaudem da bancada, observo como a luz atravessa o pavilhão, vê-se tão bem o pó,
pergunto-me se não o limpam, que nós, ao correr de boca aberta, andamos a engolir
aquilo tudo, devemos ficar muito mais pesadas no final do jogo. Agora que penso nisso,
em comer, apetecia-me gelado, uma jogadora faz-me sinal, está calor, estava-se bem
era na praia, apesar de a areia nos impedir de correr muito depressa, é mais difícil
chegar ao cesto. Para que lado é que tenho de correr? Um apito, o árbitro apitou, o que
é aquilo na bancada? Parece um animal, não, é um barrete que parece um cão, só lhe
falta ladrar. Os cães têm um grande olfato e isso fascina-me, apesar de eu, passam-me
a bola, sentir que, perco a bola, é aborrecido levá-los à rua, mesmo sabendo que são
animais espetaculares, corro atrás de uma jogadora, e que são capazes de cheirar
coisas que nós nem imaginamos, recupero a bola e passo-a, mas paro à entrada do
garrafão, está um rapaz a sorrir para mim, tem aparelho nos dentes que reflete a luz que
entra no pavilhão por uma das janelas do teto. É verdadeiramente um sorriso luminoso.
Ouço gritos. Não percebo o que dizem, é como se fosse outra língua. Lembro-me de
umas férias em Paris, gosto do estrangeiro, de falar francês, oui madame, s’il vous plait,
merci beaucoup, e de tirar fotografias. As fotografias são tão precisas, gravam
exatamente o que lá está, ao passo que nós, passados momentos, já nos esquecemos
de tudo. Correm na minha direção e eu abro os braços. Há jogadoras da minha equipa a
reclamar, criticam-me, como é que eu posso ser assim, perguntam. Gosto de basquete,
mas tenho pena delas, que ficam durante o jogo inteiro a correr dentro de um pavilhão,
enquanto, nesse mesmo período de tempo, eu já fui ao campo, cheirei as flores, levei
cão à rua, fui à praia, comi um gelado, um copo com três bolas, chocolate, baunilha,
praliné, ouço chamarem-me, dei um salto a Paris, tirei fotografias e falei francês,
iluminei-me com um sorriso da bancada, ouço chamarem--me outra vez, recebo a bola e
encesto. Três pontos.