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PORTO ALEGRE
JANEIRO DE 2021
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PORTO ALEGRE
JANEIRO DE 2021
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“É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos.”
Fernando Pessoa
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RESUMO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 05
2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 12
2.1 ORIENTADOR EDUCACIONAL: O QUE COMPETE A ESTE
PROFISSIONAL? ........................................................................................................... 12
2.2 O USO DAS TIC’S: A QUE 14
VIERAM ......................................................................
2.3 FORMAÇÃO INTEGRAL: QUEM ESTAMOS 16
FORMANDO ...............................
3 DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA 20
3.1 PERCEBENDO O DIÁLOGO: PERCEPÇÃO DA COORDENADORA
ENTREVISTADA .......................................................................................................... 21
3.1.1 O Orientador Educacional em diálogo com o 21
professor .....................................
3.1.2 A atuação presencial e a atuação 23
virtual .............................................................
3.1.3 O ambiente virtual e os paradigmas da 25
escola ....................................................
4 CONSIDERAÇÕES 29
FINAIS .....................................................................................
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 32
APÊNDICE A – Instrumento de entrevista com a Coordenadora do Serviço de
Orientação Educacional 35
5
1 INTRODUÇÃO
1
Trabalho que incide em uma das exigências do Curso de Especialização em Orientação Educacional da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para obtenção do título de Especialista em Orientação
Educacional.
2
Ao longo do ano de 2020 o mundo foi afetado pela pandemia em consequência do vírus COVID-19, o que
ocasionou a suspensão das aulas presenciais em escolas do mundo todo.
6
A partir do contexto dos alunos devemos refletir sobre a nossa prática. Pensar sobre o
nosso fazer. Cada educador faz a sua experiência no seu tempo, e é pensando nesse viés que
devemos sempre pensar no tempo de cada indivíduo que temos nas escolas em que atuamos.
A educação deve ser fomentada pelo desejo dos sujeitos em participarem ativamente do
ambiente escolar e da sua comunidade. Precisamos de pessoas criativas, questionadoras, que
sejam agentes do seu próprio conhecimento, que inovem a cultura e promovam,
solidariamente, as transformações no seu meio.
Neste cenário, a educação vive momentos difíceis, porém, ganha uma importante
missão: preparar os indivíduos para se adaptarem aos novos saberes, desenvolverem suas
habilidades, aceitarem desafios e tornarem-se atuantes e agentes de toda uma nova geração
que transforma o mundo e transforma-se a partir de um rico movimento, onde aprender e
ensinar são ações indissociáveis que modificam as condutas humanas e tornam os homens
sujeitos de sua própria educação. O Orientador Educacional atua como um facilitador deste
processo para e com o educando.
Faz-se necessário que a escola seja atuante e democrática, que reconheça os atuais
problemas da sociedade e atue sobre eles de forma reflexiva e consciente em prol de
mudanças. A tarefa de educação como a de preparar os indivíduos para que compreendam a si
mesmos e aos outros, através de um melhor conhecimento do mundo, pois a educação ajuda
os homens a refletirem sobre os acontecimentos e a compreendê-los de forma verdadeira,
estabelecendo relações com o seu meio. Tarefa delicada e abrangente, a educação tem que
assumir o compromisso com a conscientização e humanização dos sujeitos para suas
participações na construção de uma sociedade mais solidária.
O Orientador Educacional, assim como os demais educadores, deve entender o
estudante como protagonista, ele é o centro do processo educativo. Cabe a nós, educadores,
buscarmos um currículo que faça sentido e que seja saboreado pelos nossos educandos. No
que diz respeito à experiência, entendo que não devemos propor nada com que não tenhamos
nos envolvido. Devemos experimentar, saborear da maneira mais profunda, e à medida que
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experimentamos é que nos tornamos aptos a irmos adiante, prontos à reflexão. Só me torno
capaz de refletir se eu vivenciei, do contrário a reflexão é supérflua. Collares (2015/2016)
coloca que pensar a prática permite-nos tomar consciência daquilo que a move e a agirmos
com curiosidade. Torno-me apto a refletir porque eu experimentei, saboreei a minha
experiência, e é exatamente esse entendimento que me dá segurança a seguir adiante. Que
sejamos facilitadores deste processo enquanto Orientadores Educacionais.
Atualmente, em constante alteração, assistimos a uma mudança acelerada de toda
realidade. O ser humano se compromete como um ser em constante transformação. No
entanto, em algumas situações, é possível perceber que desse mesmo modo, não se
modificaram muitas coisas. Hoje, sofre-se muito de ausência, em um mundo que se diz de
muitas presenças. Sofrimento pela ausência de estrutura e de síntese, a procura de rumo e
sentido para o que está posto, não sendo possível atuar como agente de transformação, em
muitos casos.
Os desafios estão aí, batendo em nossas portas, e o que fazemos com eles? O amanhã
antecipa-se e vem em busca de educadores que ousem, que não tenham medo do novo, do
diferente, do nunca visto. Os modelos educacionais “esculpidos” devem abrir espaço para
“novos traçados”, não se prendendo a paradigmas.
Diante destas questões, meu desejo e minha inquietação me levaram à escolha do
objeto de estudo. A minha gratidão pela oportunidade e experiência que tive como aluna
foram atreladas ao contexto vivenciado ao longo do ano letivo de 2020, sendo assim, destaco
a questão que norteia o presente estudo: Como o Orientador Educacional se utiliza de TIC’s
tendo como horizonte a formação integral do sujeito? Esta pergunta orientou o objetivo e os
percursos investigativos da pesquisa ao buscar a importância do recurso das TIC’s com vistas
à formação integral. O objetivo desta pesquisa foi identificar os benefícios da utilização de
Tecnologias da Informação e Comunicação.
Este estudo foi realizado com uma Orientadora Educacional que atua, também, como
coordenadora do Serviço de Orientação Educacional de uma escola da rede privada de Porto
Alegre, por meio de entrevista semiestruturada. A entrevista foi realizada de forma remota,
utilizando uma das ferramentas de trabalho da Orientadora, a plataforma TEAMS3. A partir de
um roteiro utilizado como base, a entrevista foi gravada para posterior análise.
O presente estudo tem caráter qualitativo, ou seja, investiga um olhar a respeito dos
significados que um ou mais sujeitos têm em relação ao seu fazer, considerando a perspectiva
3
Recurso utilizado a partir de aplicativo da Microsoft 365.
9
dos sujeitos sobre o mundo; isto é, na pesquisa qualitativa tem-se o objetivo de realizar uma
interpretação da realidade, assim como abordam Ludke e André (1986):
A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados
e o pesquisador como seu principal instrumento. Segundo os dois autores, a
pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com
o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do
trabalho intensivo de campo (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 11).
informação. Eles têm outra forma de ser e estar no mundo, de conviver com as
Tecnologias Digitais (...). Vivendo nesse mesmo mundo, mas muitas vezes se
sentindo desconfortável com essa “invasão tecnológica”, estamos nós, pais e
professores, tardiamente apresentados, introduzidos, ou de certa forma, “obrigados”
a conviver com as Tecnologias Digitas. Isso explica o motivo pelo qual, muitos de
nós, ainda apresentam uma forma um tanto quanto enviesada de se relacionar com
esses meios, o que é facilmente evidenciado quando e-mails e textos são impressos
para serem lidos, ou, após serem encaminhados, liga-se para saber se o sujeito
recebeu. Isso faz com que pareçamos estrangeiros em nosso próprio mundo, como
alguém que tenta falar a “língua digital”, mas com um forte sotaque analógico
(SCHLEMMER, 2013, p. 4).
No que se refere as contribuições teóricas que permeiam este estudo, realizei uma
revisão teórica acerca da temática, tanto em livros quanto em materiais publicados de forma
virtual. Foi possível constatar que esta temática é atual e, ao mesmo tempo, de interesse de
muitos pesquisadores, destacando a relevância deste estudo. Ainda que esta abordagem na
prática seja pouco problematizada no ambiente escolar, (re)pensar a prática faz parte da
atuação dos educadores e deve ser vista como uma oportunidade de evolução no
desenvolvimento do que futuramente formos propor. O educador é um formador de opinião,
devendo agir de forma a transformar o presente, contribuindo para as mudanças do futuro
utilizando-se de todas as possibilidades.
O papel do Orientador Educacional é orientar, sem jamais oferecer a solução pronta,
questionando e desacomodando o sujeito para que construa novos esquemas. Proporcionar um
ambiente em que o sujeito possa construir sua autonomia, ou seja, que tenha garantido o
direito de participar e ser ativo, onde atentem à suas necessidades e desejos. É o mediador da
relação entre o sujeito que aprende e o objeto de conhecimento, numa dinâmica favorecedora
do “aprender a aprender”. O conceito de mediação deve ser entendido como sendo a
intervenção planejada intencional que favorece a ação do aprendente sobre o objeto.
Apresento nos próximos capítulos uma análise sobre os principais conceitos que
fazem parte deste estudo, que são: o fazer do Orientador Educacional – buscando
compreender o que compete a ele, o uso das TIC’s – quais suas contribuições e a formação
integral – problematizando quem estamos formando.
O trabalho está organizado em três capítulos principais, sendo o primeiro
“Referencial Teórico”, abordando as referências que ancoraram este estudo. Este capítulo
compreende os títulos: “Orientador Educacional: o que compete a este profissional?”, em
que apresento acerca da atuação do Orientador Educacional. “O uso das TIC’s: a que
vieram”, em que apresento sobre as novas possibilidades a partir da utilização de TIC’s e
11
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo trato de abordar minhas posições conceituais no que se refere ao fazer
do Orientador Educacional, o uso das TIC’s e formação integral. Além disso, busquei
estabelecer as afinidades entre as temáticas com a finalidade de firmar a ideia dos benefícios
do uso das TIC’s para a atuação do Orientador Educacional com vistas à formação integral do
sujeito.
Neste título tive por intenção abordar acerca do fazer do Orientador Educacional e o
que compete a este profissional. De maneira abrangente, o Orientador Educacional, atua
juntamente com a assessoria pedagógica, tendo uma função que atua nos diferentes segmentos
da escola e, consequentemente, desenvolvendo suas propostas e atuando com toda
comunidade escolar. Em outras palavras, o Orientador Educacional é um agente chave na
equipe gestora, desenvolvendo experiências que signifiquem a aprendizagem e que colaborem
para a reflexão tanto do corpo docente, como dos alunos e familiares.
O Orientador Educacional foi conquistando seu espaço, buscando reconhecimento e
firmando a importância do seu fazer. Fica evidente, ao buscarmos acerca da função do
Orientador Educacional, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) o quanto este
profissional foi conquistando seu espaço através de evidências do seu fazer dentro dos
espaços em que atua. No passado, este profissional era visto como alguém que tinha um papel
que aglutinava diferentes funções, mas tendo como base e desafio manter a unidade escolar da
melhor forma possível. Na LDB de 1996 (BRASIL, 1996, p.12):
[...] a orientação educacional não aparece explicitamente, mas em seu artigo nº. 64
vemos que a formação de profissionais de educação para orientação educacional na
educação básica será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de
pós-graduação, garantindo desta forma a base comum nacional.
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Portanto, é possível afirmar que pouco a pouco o profissional que atua na orientação
educacional foi assumindo importante destaque aos colaboradores da escola, desenhando seu
papel com respaldo nas leis que regem a escola, o que gera reconhecimento à atuação do
Orientador Educacional e esclarece o que o compete tanto para quem atua como para quem
necessita buscar pelo seu apoio.
E afinal, o que compete ao Orientador Educacional? Segundo Vernes (2011, p.13) o
Orientador Educacional é um “agente importante da equipe gestora e democrática, e o seu
papel frente ao desenvolvimento de uma aprendizagem significativa para a formação de um
cidadão crítico e reflexivo”. Isto é, o Orientador Educacional tem como objetivo auxiliar os
alunos em um âmbito geral, englobando o comportamento e o rendimento escolar. Destaco
ainda o papel mediador do Orientador Educacional, seja na relação professor-aluno, seja na
relação escola-família, podendo assim contribuir e melhorar as relações dentro e fora de sala
de aula.
Trago ainda o papel do Orientador Educacional que age na busca pela ampliação de
recursos para resolução de problemas, visto que é seu papel auxiliar em um âmbito geral a
comunidade escolar, contribuindo para um bom rendimento tanto do aluno como dos
profissionais. Além disso, auxilia na “saúde” do ambiente, trazendo possibilidades para uma
boa relação com colegas e professores, bem como a união da família com a escola como
forma de auxiliar no desenvolvimento dos alunos, na dinâmica de trabalho e na parceria
família-escola.
Estreitar os laços entre as famílias e a escola é essencial e auxilia o entendimento de
possíveis situações. Acionar as famílias pode significar pontuar algumas questões que estão
aparecendo no ambiente escolar e que, de alguma maneira, podem ou não estar repercutindo
em casa. O Orientador Educacional, muitas vezes, realiza o papel de elo para que as famílias
compreendam a importância de um trabalho que é sempre em prol da criança através da
parceira família-escola. Em algumas situações, se faz necessária uma conversa com
determinada família mesmo que o possível desafio a ser contornado não seja em casa, até
porque os profissionais não conseguem descobrir a origem sem que haja um encontro para
discutirem sobre o tema.
Acredito que as trocas de informações com os familiares e/ou responsáveis acabam
sendo essenciais para que o Orientador entenda o contexto e possa discernir algumas
intervenções a serem realizadas na escola e que, possivelmente, possam ser realizadas em casa
também, para que todos "falem a mesma língua" tornando eficaz tal intervenção. Devemos
olhar prospectivamente, visando o futuro da educação:
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Neste título tive como desígnio abordar a utilização das TIC’s e suas possibilidades,
principalmente a partir do contexto atual em que se encontra o mundo todo. Diante disso, a
intenção foi de atrelar sua utilização ao fazer do Orientador Educacional, utilizando como
recurso para a garantia do seu papel dentro da jornada escolar. Se sabe que a utilização de
TIC’s no contexto educacional não chegou em 2020 por implicação da pandemia, mas diante
da conjuntura, os profissionais que já tinham domínio de sua utilização foram essenciais para
o desenrolar das demandas que iam surgindo, dando suporte aos que estavam se
familiarizando com as novas ferramentas.
O que foi possível notar é que o processo de adequação do ensino presencial para o
ensino remoto foi tornando-se menos pesado à medida que os educadores iam apropriando-se
das tecnologias utilizadas nas instituições em que atuam. Isso não significa que todos os
desafios foram contornados, ainda há muito o que percorrer, mas se todos estiverem unidos,
de mãos dadas, o caminho será construído em rede, com maiores possibilidades de trocas.
Como mencionado, o mundo todo está passando por um período delicado, o
enfrentamento de uma pandemia em consequência do vírus COVID-19. Além disso, não
sabemos, ainda, o desenrolar de nossa situação frente esse vírus. A pandemia não encerrou, os
desafios seguem sendo grandes, mesmo assim, as escolas seguiram conectadas com a
comunidade, de qual forma? Aliadas ao uso de tecnologias, garantindo a continuidade do
processo de aprendizagem dos estudantes através de outros recursos.
A partir do contexto dos alunos devemos refletir sobre a nossa prática, e isso cabe
para todos os envolvidos no projeto educativo. É primordial pensarmos sobre o nosso fazer
pedagógico, a reflexão faz parte do processo. Cada educador faz a sua experiência no seu
tempo, e é pensando nesse viés que devemos sempre pensar no tempo de cada indivíduo que
15
temos em nossas escolas. A educação deve ser fomentada pelo desejo dos sujeitos em
participarem ativamente do ambiente escolar e da sua comunidade. Precisamos de pessoas
criativas, questionadoras, que sejam agentes do seu próprio conhecimento, que inovem a
cultura e promovam, solidariamente, as transformações no seu meio.
Frente a isso, não podemos negar o que possibilitou a garantia da aprendizagem de
diversos alunos ao longo do ano de 2020, o ensino remoto. A comunidade educativa foi
desafiada a estreitar seus laços e firmar a parceria criada entre família e escola. O uso de
plataformas que antes não eram utilizadas com frequência, ou ainda nunca utilizadas, foi a
ponte entre a escola e a casa de alunos e educadores. As TIC’s são compreendidas como o
conjunto de recursos tecnológicos utilizados de forma integrada e têm propiciado inúmeras
mudanças no cenário mundial e nacional, seja no comportamento dos indivíduos como na
forma com que estes se comunicam e se relacionam (COSCARELLI, 2007). Diante deste
cenário, não se pode deixar de notar como as TICs têm propiciado o desenvolvimento das
relações entre docentes e discentes ao estreitar as fronteiras do conhecimento, garantindo que
a manutenção de vínculos e o trabalho a ser desenvolvido fossem possíveis.
A educação vive momentos difíceis, porém, ganha uma importante missão: preparar
os indivíduos para se adaptarem aos novos saberes, desenvolverem suas habilidades,
aceitarem desafios e tornarem-se atuantes e agentes de toda uma nova geração que transforma
o mundo e transforma-se a partir de um rico movimento, onde aprender e ensinar são ações
indissociáveis que modificam as condutas humanas e tornam os homens sujeitos de sua
própria educação. Como aborda LOPES (2013):
Não há dúvida de que a agregação do uso das novas tecnologias no ensino pode
proporcionar a efetivação de aulas mais criativas e melhor recebidas pelos alunos, mas a
presença das tecnologias digitais nas práticas tem levado à pseudo-inovações, uma vez que
realizam a inserção desses artefatos apenas para suportar ou modernizar práticas pedagógicas
tradicionais, o que neste ano ocorreu a fórceps. O uso de tecnologias pode ser mediador de
16
Para que as novas tecnologias façam parte da vida escolar ativamente daqui por
diante, é preciso que alunos e professores a usem de forma correta. E o que quero dizer com
isso? Logo, um componente fundamental é a formação inicial e continuada de professores e,
consequentemente, dos alunos e/ou seus responsáveis. A partir disso, estes podem
desenvolver práticas de ensino inovadoras, se utilizando de todo potencial das tecnologias
disponíveis. O acesso às tecnologias deve ajudar gestores, professores, alunos, pais e
funcionários a transformar a escola em um lugar democrático, promovendo ações educativas
que ultrapassem os limites da sala de aula, instigando o educando a ver o mundo muito além
dos muros da escola, respeitando os pensamentos e princípios do outro.
Sendo assim, os educadores devem ser capazes de reconhecer as diversas formas de
pensar e as curiosidades do aluno a partir da exploração dessas tecnologias. A utilização dos
espaços virtuais para as práticas docentes apresenta-se como uma das possibilidades que o
ensino híbrido traz, permitindo inovações para a aprendizagem dos alunos, pois a sala de aula
se amplia, tornando possível que o mundo seja uma sala de aula.
Creio que a experiência humana é mais rica do que qualquer uma de suas
interpretações, pois nenhuma delas, por mais genial e “compreensiva” que seja,
poderia exauri-la. Aqueles que embarcam numa vida de conversação com a
experiência humana deveriam abandonar todos os sonhos de um fim tranquilo de
viagem. Essa viagem não tem um final feliz – toda a felicidade se encontra na
própria jornada (BAUMAN, 2003, p. 9).
permite errar e que compreende que isso faz parte do processo, mas mais ainda, um educador
que entende dessa forma. A formação integral requer um olhar atento ao sujeito, assim como
aborda Luiz Fernando Klein (2017):
Todas as crianças têm direito de criticar, pesquisar, ser cidadão com potencialidades,
praticar habilidades, atuar no meio social, econômico, político e cultural, pois a escola deve
querer a formação de um homem sensível, solidário, aberto às críticas, fraterno e responsável.
É o que se deseja para o mundo em que se vive atualmente, mesmo diante de todos os
desafios que sabemos que são necessários ultrapassar, bem como que sejam capazes de
solucionar seus problemas através do diálogo e da troca de experiências no intuito de
crescerem e se desenvolverem cada vez mais.
20
3 DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA
Para expor como o Orientador Educacional se utiliza de TIC’s tendo como horizonte
a formação integral do sujeito, realizei um diálogo semiestruturado, com a intenção de
possibilitar uma conversa com a Coordenadora do Serviço de Orientação Educacional de uma
escola da rede privada de Porto Alegre. A partir da conversa foi possível compartilhar e
provocar novas reflexões sobre o tema. O diálogo realizado não estará apresentado na íntegra
nesse trabalho, trago recortes no decorrer da escrita para conhecimento do tema abordado com
a entrevistada. É importante salientar que para a rede educacional em que a entrevistada atua,
é necessário considerar as diferentes áreas do conhecimento, as características do perfil dos
educandos, as particularidades das faixas etárias e do que dispõe a instituição como mediação
para os processos educativos (REDE JESUÍTA DE EDUCAÇÃO, 2016). Sendo assim, já é
possível notar algumas pistas no que se refere ao olhar dos educadores para com os alunos.
A pesquisa não é para nos dar certezas, mas para possibilitar o questionamento de
“verdades” já instaladas e abrir novas alternativas de busca. A pesquisa, que
problematizando o mundo e a minha existência no mundo, me possibilita assumir a
minha presença como educador e educadora, também me faz reverenciar as
perguntas que meus alunos e minhas alunas fazem e compartilhar com eles esta bela
e fascinante aventura que é conhecer (ALBUQUERQUE, 2001, p. 231).
pesquisa qualitativa caracteriza-se pela intenção de realizar uma interpretação dos fatos.
Ludke e André (1986) asseguram que:
A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento. Segundo os dois autores, a pesquisa
qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a
situação que está sendo investigada, via de regra através do trabalho intensivo de
campo (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 11).
Hoje a educação não deve ser mais entendida como transmissão de conhecimentos e
saberes prontos. A educação, aliás, nunca foi boa quando foi apenas instrução,
transmissão de saberes. Educar significa criar experiências de aprendizagem e não
transmitir coisas já prontas, saberes já supostamente definidos. Ninguém aprende se
não cria junto com aquele que ensina o conhecimento. Aprender significa construir
experiências de aprendizagem. O fruto da escola deve ser o aprender a aprender,
aprender a acessar formas de aprender. Aprender a fazer experiências de
aprendizagem (ASSMANN, 2000, p. 293).
Quando fazemos coisas com as palavras, do que se trata é de como damos sentido ao
que somos e ao que nos acontece, de como correlacionamos as palavras e as coisas,
de como nomeamos o que vemos ou o que sentimos e de como vemos ou sentimos o
que nomeamos. Nomear o que fazemos, em educação ou em qualquer outro lugar,
23
atentar a afetividade que é colocada tanto no fazer presencial quanto no virtual, é pensar nas
pessoas envolvidas neste percurso.
Engana-se quem pensa que o ambiente virtual não pode transmitir afetividade. É claro
que as interações virtuais e presenciais são distintas, mas as possibilidades de um ensino
remoto depende, também, do querer dos envolvidos, ou seja, dos estudantes e educadores.
Ao pensar sobre o que o mundo viveu e vem vivendo a partir dos desafios impostos
pela pandemia já mencionada, devemos lembrar, também, dos avanços obtidos a partir deste
cenário. Os modelos atuais educacionais, de modo geral, não são alterados da noite para o dia,
estes modificam-se a partir de muito discernimento, mas o que foi realizado ao longo do ano
de 2020 trouxe algumas possibilidades que, acredito eu, vieram para ficar. A reinvenção foi a
chave do processo.
Pode-se dizer que a mudança em nosso papel (...) está relacionada à mudança de
paradigma que vivemos a partir do final do século XX. Fenômenos de impacto
mundial, como a globalização, o maior acesso à informação e, mais recentemente, os
espaços digitais e virtuais construídos a partir da tecnologia e do surgimento da
internet, transformaram muitas profissões (BORBA, 2019, p. 68).
a temática, compreendendo-a, será possível se preparar para as mudanças que ainda estão por
vir caso seja construído um caminho coletivo, hoje.
Este caminho deve colocar a formação integral como ponto principal no desenrolar da
escola do futuro. Só será possível transformar a educação se forem desenvolvidas inovações
ao formar diferentes métodos de ensinar, aprender e interagir. Essas inovações nascem de
transformações significativas e de inovação. Se faz necessário propor o novo, do contrário
nada se transformará. Desse modo, para além da reestruturação física da escola, se deve
refletir acerca da chegada de novas tecnologias, tendo como horizonte a contemplação de
discussões sobre o tema e a utilização de seus recursos de forma fluente, possibilitando a
transposição dos limites físicos e temporais da sala de aula.
29
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
mas todos precisam “coloca a mão na massa”. Bem, diante disso, a pergunta é: como motivar
o Orientador Educacional para a utilização de TIC’s? A resposta é simples, mas de não tão
simples execução: abrindo espaços para o diálogo, para a ação, formação e informação.
Um grande líder não é aquele que “dá o peixe”, mas aquele que “ensina a pescar”. O
Orientador Educacional, em seu papel na escola, muitas vezes atua como uma liderança.
Como um dos principais agentes dentro desse lindo processo, precisa manter vínculos
saudáveis com toda a comunidade educativa, escutando, avaliando as requisições com
transparência e dando devolutivas para os respectivos requerentes, explicando os motivos de
estar executando ou não o que lhe foi requerido. Isso só é possível com um processo de gestão
e auto avaliação constante, elencando indicadores para que torne o processo tangível e
palpável.
Na construção da presente pesquisa, não estive em busca de certezas, verdades ou
respostas fechadas, estive à procura de possibilitar espaço para questionamentos, pensamentos
e em busca de novas rotas. Com as contribuições da entrevistada se fez possível abrir espaço
para o diálogo e para reflexões acerca do tema em desenvolvimento. Possibilitar reflexões
sobre a temática dão a conhecer acerca do importante papel do Orientador Educacional, além
de trazer novas possibilidades.
A escola, seja ela pública ou privada, presta um serviço à comunidade. Esse serviço é
diferente dos demais. Ele não é apenas e unicamente realizado pela escola, mas, a escola, os
educadores e principalmente o orientador educacional, são os responsáveis mediadores para o
sucesso dessa linda e desafiadora caminhada que é a formação integral do sujeito.
Ao dar a conhecer sobre a utilização de TIC’s, não se pode negar o quanto a
pandemia, mesmo que com seus desafios, trouxe oportunidades para mudanças em muitas
frentes da escola. O que, possivelmente, não aconteceria tão rapidamente se não tivesse sido
colocado em prática por não se ter outra opção.
Almejar um espaço para novas possibilidades, para inovação e para firmar o trabalho
em rede é um diferencial no fazer do Orientador Educacional e para os demais membros da
escola. Toda investigação resulta em mudança, inicia-se a pesquisa de uma forma, mas com
certeza não se sai o mesmo dela. Possivelmente novos questionamentos surjam, inquietem,
instigam e, por essa razão, ela, provavelmente, leve a novas investigações. A própria
introdução da presente pesquisa aborda sobre isso, visto que este tema, sem eu ter percebido
antes, me rodeia e não é de hoje.
Diante de tantas incertezas e mudanças, a educação está sendo desafiada a se
reinventar e, diante da pandemia, de forma acelerada. Refletir acerca do fazer dos membros da
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REFERÊNCIAS
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2001.
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Estudos em Linguagem e Tecnologia. Ano V – n° 1 – maio 2013.
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onlife. Revista UFG, 2020, V.20, 63438.
REDE JESUÍTA DE EDUCAÇÃO. PEC: Projeto Educativo Comum. São Paulo: Loyola,
2016.
2. Haveria, no teu ponto de vista, outra forma de oferecer uma base diferenciada que
contemplasse a atuação do orientador educacional diante do período que estamos
vivendo?