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Anais

VIII SEMINÁRIO DIÁLOGOS


FILOSÓFICOS E JURÍDICOS:
Ética e Compliance nos Negócios
Jurídicos

GT 1
Regulação econômica e a Constituição Federal
de 1988

Universidade Estadual de Londrina


VIII Seminário Diálogos Filosóficos e Jurídicos: Ética e Compliance nos Negócios Jurídicos - 24 e 25 de novembro de 2017
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COMISSÃO ORGANIZADORA:

Coordenadoria Geral:

Prof. Dr. Clodomiro José Bannwart Junior


Prof. Dr. Elve Miguel Cenci

Membros:

Ana Flávia Terra Alves Mortati


Alessandra Depieri Viegas
Caroline Melchiades Salvadego Guimarães de Souza Lima
Gabriela Stefania Batista Ferreira
Ísis Carolina Massi Vicente
Maiara Santana Zerbini

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Sumário
ARTIGOS ...................................................................................................................................................................... 4

A EXTRAFISCALIDADE DO IPTU E DO ITR COMO FORMA DE PUNIÇÃO PELO


DESCUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE .........................................................5

RESUMOS EXPANDIDOS................................................................................................................................... 19

APLICABILIDADE DA LEI ANTICORRUPÇÃO ÀS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL


EM PARCERIA COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA................................................................................ 20

LEI Nº 13.303/2016 E A GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS EMPRESAS ESTATAIS .......... 26

RESUMOS SIMPLES ............................................................................................................................................... 32

A ARBITRAGEM NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E A INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE


PÚBLICO ........................................................................................................................................................................ 33

DESAPROPRIAÇÃO DE TERRAS RURAIS PRODUTIVAS E O PRINCÍPIO DA FUNÇÃO


SOCIAL DA PROPRIEDADE PRIVADA ............................................................................................................ 35

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS DAS


AGÊNCIAS REGULADORAS ................................................................................................................................ 36

IMPLEMENTAÇÃO DOS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO


MEIO EMPRESARIAL ................................................................................................................................................ 38

RAZÃO PRÁTICA DO COMPLIANCE À LUZ DA MORAL PÓS CONVENCIONAL SOB O


ENFOQUE DA ATUAÇÃO EMPRESARIAL ................................................................................................... 40

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ARTIGOS

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A EXTRAFISCALIDADE DO IPTU E DO ITR COMO FORMA DE


PUNIÇÃO PELO DESCUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA
PROPRIEDADE

THE EXTRAFISCALITY OF THE IPTU AND ITR AS A PUNISHMENT FORM FOR THE
UNDERSTANDING OF THE SOCIAL FUNCTION OF THE PROPERTY

Clayton Rodrigues*
Sandra Cristina da Fonseca**

Resumo: Nos dias atuais, o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com sua
função social. Na propriedade rural a função social é cumprida quando são atendidos os
requisitos de aproveitamento racional adequado; utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições que regulam as
relações de trabalho e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores; na propriedade urbana a função social é cumprida quando atendidas as
exigências fundamentais de ordenação da cidade e de utilização adequada do solo urbano.
Pelo fato da função social ser um princípio fundamental objetiva-se demonstrar que, a
progressividade tanto do IPTU, como do ITR, seja ela fiscal, ou extrafiscal, é primordial para
que efetivar a função social da propriedade.

Palavras-chave: Função social. Relativização. Direito de propriedade.

Abstract: Nowadays, the right of ownership must be exercised in line with its social function.
In rural property, the social function is fulfilled when the requirements for adequate rational
use are met; appropriate use of available natural resources and preservation of the
environment; observance of the provisions governing labor and exploitation relations that
favor the well-being of owners and workers; in urban property, the social function is fulfilled
when the basic requirements of city planning and proper use of urban land are met. Because
the social function is a fundamental principle, it aims to demonstrate that the progressivity of
both the IPTU and the ITR is fiscal or extra-fiscal is essential for the effective functioning of
the social function of property.

Key-words: Social function. Relativization. Property rights.

*
Aluno Especial do Mestrado em Direito Negocial pela Universidade Estadual de Londrina - UEL. Pós-graduado
em Direito Constitucional pela PUC-PR. Advogado membro da Comissão de Direito Imobiliário de Urbanístico
da OAB Londrina. Conselheiro do CRECI Paraná. E-mail:claytonrp@sercomtel.com.br.
**
Pós-graduanda em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná – EMAP. Aluna Especial do
Mestrado em Direito Negocial pela Universidade Estadual de Londrina - UEL. Participante do projeto de
pesquisa Regulação econômica no Brasil e a Constituição Federal de 1988: controles do e sobre o Estado em
face da administração pública gerencial. E-mail: sandracristinafonseca@gmail.com.
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INTRODUÇÃO

O Estado ao garantir direitos fundamentais, bem como a sua obrigação em cumprir o


determinado pela Constituição Federal de 1988 – CF/88 e atribuir ao privado, características
de funcionalidade, deu início a uma fase de alcance e limitações ao direito de propriedade.
Tal fase mostrou indícios de desenvolvimento com as reivindicações por melhores
condições sociais e, posteriormente, as preocupações com o meio ambiente também
reforçaram a ideia de que as propriedades devem cumprir suas funções sociais, ainda que para
isso o Estado deva se utilizar de tributos com finalidade extrafiscal, ou seja, não arrecadatória.
A proposta deste artigo é analisar a função social da propriedade, rural ou urbana,
partindo da perspectiva da incidência tributária do Imposto Predial Territorial Urbano - IPTU
e do Imposto Territorial Rural - ITR.

1 DO DIREITO DE PROPRIEDADE

A discussão acerca do direito de propriedade está longe de ter um final, e ao longo da


História a sua natureza jurídica foi se modificando, passando do absoluto ao relativo e do
individual ao social.
Ao ser considerado um direito absoluto, na Roma Antiga, o direito de propriedade
conferia o poder de uso e gozo perpétuos, estendendo-se desde o subsolo até a altura que seu
proprietário alcançasse.
Com o advento do iluminismo no século XVIII, essa forma de tratar o direito à
propriedade passou a ser questionada e vista como um privilégio, concebido como uma
relação entre uma pessoa e uma coisa, como pode ser constatado no trecho da obra A origem
da desigualdade entre os homens, de Rousseau (2001, p. 140-141):
[...] a desigualdade, sendo quase nula no estado de natureza, tira a sua força e
o seu crescimento do desenvolvimento das nossas faculdades e dos
progressos do espírito humano, tornando-se enfim estável e legítima pelo
estabelecimento da propriedade e das leis. Resulta ainda que a desigualdade
moral, autorizada unicamente pelo direito positivo, é contrária ao direito
natural todas as vezes que não concorre na mesma proporção com a
desigualdade física. Essa distinção determina suficientemente o que se deve
pensar, nesse sentido, da espécie de desigualdade que reina entre todos os
povos policiados, pois é manifestamente contra a lei de natureza, de qualquer
maneira que a definamos, que uma criança mande num velho, que um
imbecil conduza um homem sábio, ou que um punhado de pessoas nade no
supérfluo, enquanto à multidão esfomeada falta o necessário.
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No decorrer da História, observa-se que o direito à propriedade sempre foi absoluto,


exclusivo e perpétuo, como bem explica José Afonso da Silva (2002, p. 278):
Absoluto, porque assegura ao proprietário a liberdade de dispor da coisa de
modo que melhor lhe aprouver; exclusivo, porque imputado ao proprietário,
e só a ele, em princípio, cabe; perpétuo, porque não desaparece com a vida
do proprietário, porquanto passa a seus sucessores, significando que tem
duração ilimitada (CC, art. 527) e não se perde pelo não uso simplesmente.
Contudo, essas características atribuídas ao direito à propriedade buscava atender aos
princípios individualistas da burguesia europeia, fiéis à tradição romana, a fim de
proporcionar segurança e estabilidade aos novos proprietários pós revolução Francesa, e
começa a perder força no século XIX, ao se constatar que o absolutismo e a perpetuidade do
direito de propriedade eram fatores causadores de desigualdade social e empobrecimento e
miserabilidade da população.
Um passo adiante, à vista desta constatação, passou-se a entender o direito à
propriedade como uma relação entre um indivíduo (sujeito ativo) e um sujeito passivo
universal, integrado por todas pessoas, o qual tem o dever de respeitá-lo, abstraindo-se de
violá-lo. (SILVA, 2002, p. 269).
Ademais, a ascensão de novas doutrinas socialistas que questionavam a propriedade
privada e defendiam a ideia de que o exercício do direito à propriedade deveria levar em
consideração a dignidade e vidas humanas, acabaram por exigir uma relativização desse
direito.
Historicamente a Constituição Alemã de Weimar, em 1919, foi uma das primeiras a
elevar a ideia de veiculação social da propriedade à categoria de princípio jurídico,
estabelecendo que o seu uso deve servir tanto ao seu proprietário quanto ao bem de toda
coletividade.
Assim, o direito à propriedade foi abandonando a então concepção romana da
propriedade para ser compatibilizado com as finalidades sociais inerentes a sociedade
contemporânea, adotando-se uma concepção finalista, sendo albergado por institutos de
direito público e com a noção ínsita de função social.

1.1 Da Propriedade nas Constituições Brasileiras e seu Tratamento Jurídico

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Até a promulgação da Constituição brasileira de 1934, o direito à propriedade era


praticamente absoluto no Brasil, sendo regulamentado apenas a desapropriação pelo Poder
Público, mesmo assim, mediante justa indenização.
É possível que antecedentes históricos como a Revolução de 1930 e a Revolta
Constitucionalista de 1932, bem como a já citada Constituição de Weimar, inspiraram a
Constituição de 1934 e a inclusão do condicionamento da propriedade privada ao
cumprimento de sua função social.
Inserido no capítulo que trata dos Direitos e Garantias Individuais, o artigo 113 dessa
Constituição assim prescreve:
Art. 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à
subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
17) É garantido o direito de propriedade, que não poderá ser exercido contra
o interesse social ou coletivo, na forma que a lei determinar. A
desapropriação por necessidade ou utilidade pública far-se-á nos termos da
lei, mediante prévia e justa indenização. Em caso de perigo iminente, como
guerra ou comoção intestina, poderão as autoridades competentes usar da
propriedade particular até onde o bem público o exija, ressalvado o direito à
indenização ulterior.

É importante ressaltar que a Constituição supracitada mesmo positivando a


possibilidade da limitação do direito à propriedade, remete para o legislador ordinário a
disciplina da regulamentação desse direito.
Como é notório, a Constituição de 1934 teve vida curta, e com a ascensão de Getúlio
Vargas ao poder e a implantação do Estado Novo foi promulgada a Constituição de 1937,
inspirada nos ideais poloneses, a qual, como esperado, não concedeu o mesmo tratamento ao
tema, cujo texto assim previu:
Art. 122 - A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes
no País o direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos
termos seguintes:
[...]
14) o direito de propriedade, salvo a desapropriação por necessidade ou
utilidade pública, mediante indenização prévia. O seu conteúdo e os seus
limites serão os definidos nas leis que lhe regularem o exercício.

Com o caminhar para a redemocratização e os anseios sociais do pós-guerra, a


necessidade de se cumprir a função social da propriedade foi premente e a redação da Carta

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de 1946 garantiu o Direito de propriedade condicionando o seu exercício ao bem-estar social,


incluído esse princípio no capítulo da ordem econômica e social, como segue:
Art. 141 – A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à
liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
§ 16 – É garantido o direito de propriedade, salvo o caso de desapropriação
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante prévia
e justa indenização em dinheiro. Em caso de perigo iminente, como guerra
ou comoção intestina, as autoridades competentes poderão usar da
propriedade particular, se assim o exigir o bem público, ficando, todavia,
assegurado o direito a indenização ulterior.
Art. 147 – O uso da propriedade será condicionado ao bem-estar social. A lei
poderá, com observância do disposto no art. 141, § 16, promover a justa
distribuição da propriedade, com igual oportunidade para todos.

A Lei nº 4.504/64, mais conhecida como o Estatuto da Terra, promulgada em 30 de


novembro de 1964, criou as regras para o para cumprimento da função social da propriedade
rural e estabeleceu metas para a reforma agrária e o desenvolvimento da agricultura.
Cumpre salientar que o Estatuto da Terra, foi criado no regime militar instalado em
1931 e a sua criação estava relacionada ao temor elitista por uma revolução dos agricultores
que começaram a se organizar desde a década de 1950 fortalecidos pelos espectros da
implantação de reformas agrárias em vários países da América Latina. O movimento em prol
de maior justiça social e reforma agrária ganhou dimensões consideráveis no país, sendo,
contudo, praticamente aniquilado pelo regime militar em 1964, que criou o estatuto para
apaziguar os ânimos e tranquilizar os proprietários de terras.
A Constituição de 1967, não sofreu alterações significativas no tocante ao direito de
propriedade, e o texto do artigo 153 praticamente reproduziu o prescrito na Constituição de
1946.
Entretanto a Emenda Constitucional nº 01 de 17 de outubro de 1969 incorporou o
Ato Institucional nº 05 ao texto de 1967, e praticamente impôs outra Constituição aos
brasileiros, no que se refere à função social da propriedade, fez um modesto avanço, como se
observa na redação dada ao artigo 160:
Art. 160. A ordem econômica e social tem por fim realizar o
desenvolvimento nacional e a justiça social, com base nos seguintes
princípios:
[...]
III - função social da propriedade;

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Por fim, a Constituição Federal de 1988 inovou substancialmente o tratamento dado


à matéria, inaugurando uma nova ordem política e jurídica na sociedade brasileira e incluiu a
função social da propriedade entre os direitos e garantias individuais e coletivos em seu artigo
5º, conferindo-lhe o status de cláusula pétrea e ainda coloca a propriedade privada como
princípio da ordem econômica:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e
na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
II - propriedade privada;
III – função social da propriedade;
No Capítulo II, relativo à política urbana, o artigo 182 assim estabelece:
Art. 182 – A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder
Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.
[...]
§2° - A propriedade urbana cumpre a sua função social quando às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
[...]
§4° - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para
área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I – parcelamento ou edificações compulsórios;
II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo;
III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de
até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização
e os juros legais.

No Capítulo III, relativo à política agrícola e fundiária e da reforma agrária, trata da


função social da propriedade rural:
Art. 184 – Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos,

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a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em


lei.

Art. 185 – São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:


I – a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que
seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único – A lei garantirá tratamento especial à propriedade
produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos à sua
função social.

Art. 186 – A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em
lei, aos seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

É possível afirmar pela leitura dos dispositivos supra, que se agregou ao direito de
propriedade, antes tratado sob a ótica patrimonialista, o dever jurídico de agir em prol do
interesse coletivo, ou seja, tal direito foi submetido ao interesse comum, impondo-lhe o
exercício de uma função social voltada ao interesse coletivo.
Hodiernamente o direito de propriedade não deve ser pensado sem estar associado à
sua função social, estando completamente superada a noção de que esse direito é
exclusivamente do direito privado, pois são inúmeros os institutos de direito público que
disciplinam seu exercício.
Assim, para esse novo ordenamento jurídico constitucional a propriedade está
condicionada às limitações impostas ao pleno exercício da propriedade, tornando, pois, a
função social uma parte integrante do conteúdo da propriedade privada.
No texto constitucional brasileiro não há garantia à propriedade, mas tão somente
garantia à propriedade que cumpre a sua função social e assim sendo, não há que se falar em
análise balanceada da função social e da propriedade privada, como dois princípios em
direções opostas. Como muito bem colocado por Gustavo Tepedino (2005, p. 106),
A função social compõe a propriedade. A propriedade é, ao menos neste
sentido, função social, como todo instituto é o complexo que resulta de sua
estrutura e de sua função. Não há, assim, que se falar em um espaço mínimo,
ao qual a propriedade de cada indivíduo se retrairia, para manter-se imune ao
avanço do interesse social. A função social é, antes, capaz de moldar o
estatuto proprietário em toda a sua essência, constituindo, como sustenta a
melhor doutrina, o título justificativo, a causa, o fundamento de atribuição
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dos poderes ao titular. Não há, assim, que se falar em um espaço mínimo, ao
qual a propriedade de cada indivíduo se retrairia, para manter-se imune ao
avanço do interesse social.

Infere-se daí que a função social é um pressuposto ao exercício pleno do direito de


propriedade. Em outras palavras, todas as garantias, prerrogativas e privilégios legais
outorgados à propriedade estão restritas àquelas que cumprirem a sua função social.

2 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

A função da propriedade, historicamente, sempre foi associada ao sistema produtivo


e os meios de produção aos quais a propriedade estava localizada, mas, como já foi
mencionado, com a evolução constitucional e as garantias sociais nelas inseridas, conferiram
força e importância a esse princípio.
Tendo por norte que o princípio da função social da propriedade ultrapassa o
entendimento de simples restrição ao direito de uso, gozo e disposição do titular da
propriedade, o proprietário está sujeito a obrigações crescentes que abrangem os direitos da
coletividade, de tal forma que este princípio pode ser tido como associado a própria estrutura
da noção de propriedade.
Estando a propriedade inserida em um contexto social, sua função social obriga o
proprietário, pessoa física ou jurídica, a ter condutas negativas, como por exemplo, o de não
poluir, e também positivas, como o de recompor áreas degradadas ou em caso de propriedade
urbana, atendendo às exigências expressas no plano diretor, ou seja, a função social impõe ao
proprietário, obrigações de agir, na forma de comportamentos ativos na direção do proveito
social jamais sendo entendida como uma mera extensão do poder de polícia do Estado.
O artigo 2º da Lei nº 10.257/2001, o Estatuto das Cidades, estabelece que “a política urbana
tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana” e com isso se pretende que a propriedade sirva à destinação para qual é
vocacionada, proporcionando o proveito econômico ao seu proprietário em condições de
equilíbrio com os interesses da coletividade.
Também a Constituição Federal de 1988 estabelece como uma propriedade urbana cumpre
sua função social “quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor”, conforme previsto no parágrafo segundo do artigo 182. Contudo,

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nem todos os municípios estão obrigados a ter um plano diretor, apenas os que possuam mais
de vinte mil habitantes.
Já uma propriedade rural cumpre sua função social quando em consonância com o
disposto no artigo 186 da Constituição Federal de 1988:
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em
lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

O termo destacado no artigo supra, simultaneamente, indica que a propriedade rural


possui três dimensões que se integram: humana, ambiental e econômica. De forma que essas
dimensões devem ser atendidas de forma cumulativa para o efetivo cumprimento da função
social da propriedade rural.
Nesse ínterim, ao vestir a roupagem do novo ordenamento jurídico brasileiro, voltado
a garantir o acesso e conservação dos bens necessários ao desenvolvimento de uma vida
digna, a propriedade, seja no âmbito dos bens públicos como recursos naturais ou de bens
privados como residências, aos olhos do texto constitucional, está inteiramente a serviço do
seu objetivo fundamental, qual seja, o pleno desenvolvimento da pessoa humana.

3 A EXTRAFISCALIDADE DO IPTU E DO ITR E A FUNÇÃO SOCIAL DA


PROPRIEDADE

Os tributos têm a importante finalidade de arrecadar recursos financeiros para


atender às mais diversas necessidades coletivas e é tido como meio de intervenção estatal para
assegurar que as condutas sociais estejam sempre em estrita consonância com os valores
constitucionais. Ao utilizar os impostos como meio punitivo pelo descumprimento de alguma
norma ou por agir em dissonância com a conduta esperada o Estado está utilizando-se da
função extrafiscal dos impostos.
Dando respaldo a esse entendimento, Hely Lopes Meirelles defende a importância
desse instituto:
A extrafiscalidade é a utilização do tributo como meio de fomento ou de
desestímulo a atividades reputadas convenientes ou inconvenientes à
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comunidade. É ato de polícia fiscal, isto é, de ação de governo para o


atingimento de fins sociais através da maior ou menor imposição tributária.
[...]
Modernamente, os tributos são usados como instrumento auxiliar do poder
regulatório do Estado sobre a propriedade particular e as atividades privadas
que tenham implicações com o bem-estar social. Até mesmo o Direito norte
americano, tão cioso das liberdades individuais, admite essa função
extrafiscal dos tributos, para o incentivo ou repressão da conduta do
particular.
[..]
Com efeito, através da agravação do imposto podem-se afastar certas
atividades ou modificar-se a atitude dos particulares reputadas contrárias ao
interesse público, como pelo abrandamento da tributação pode-se incentivar
a conduta individual conveniente à comunidade. (MEIRELLES, 1993, p.
151).

A extrafiscalidade é um recurso normal do procedimento tributário, e a Constituição


Federal prevê a sua aplicação no que diz respeito à implementação de políticas públicas, ao
permitir a exacerbação do ônus fiscal ou de minimizá-lo, em função dos objetivos
pretendidos.
A Constituição Federal disciplinou de forma bastante analítica tanto a competência
para a instituição dos tributos quanto a distribuição das receitas tributárias. O princípio da
legalidade tributária, previsto no artigo 150 da Constituição Federal de 1988, veda a utilização
de tributos com efeito de confisco e estabelece limitações ao tributar, dentre os quais exigir ou
aumentar tributo sem que lei anterior o estabeleça.
Também os tributos cuja finalidade seja essencialmente extrafiscal devem obedecer
ao princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso, devendo atender às
necessidades na condução da economia ou correção de situações sociais indesejadas ou
mesmo possibilidade de fomento a certas atividades ou ramo de atividades de acordo com os
preceitos constitucionais.
Como o próprio vocábulo sugere, a progressividade de um imposto, permite que este
seja aplicado com alíquotas cada vez maiores em função do crescimento da base de cálculo ou
outro condão determinado pela norma, como no caso, coagir o proprietário a fazer-se cumprir
a função social de seu imóvel.
Tanto o Imposto Territorial Rural – ITR, de competência da União, quanto o Imposto
Predial e Territorial Urbano – IPTU têm autorização constitucional para serem aplicados de
forma progressiva com o fim de se fazer cumprir a função social
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
[...]
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VI - propriedade territorial rural;


[...]
§ 4º - O imposto previsto no inciso VI do caput:
I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a
manutenção de propriedades improdutivas;

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.
[...]
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para
área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
[...]
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo;

Ainda que de competências diferentes, ambos os impostos incidem sobre a


propriedade e podem incidir de forma progressiva em caso de não cumprimento da função
social, ou seja, é interesse do legislador constitucional que as propriedades urbanas ou rurais
não quedem improdutivas ou abandonadas.
A interpretação dada por Sacha Calmon Navarro Coêlho esclarece a intenção do
legislador ao estabelecer a progressividade do ITR em função da utilização da propriedade:
"O que se quer não são proprietários, mas proprietários assíduos e produtivos, em prol da
nação. O ITR progressivo, sem dúvida, é um poderoso instrumento de política fundiária, a ser
utilizado com transparência, boa-fé, firmeza e determinação" (2006, p. 411).
Neste diapasão, o Supremo Tribunal Federal - STF, em decisão proferida em
Recurso Extraordinário, afirma que:
[...] a cobrança do IPTU progressivo para fins extrafiscais, consoante
hipótese prevista no art. 182 § 4º, inciso II, da CB/88, somente se tornou
possível a partir da edição da Lei n. 10.257/01. Essa lei descreve os
requisitos que devem ser observados pelos municípios para a cobrança desse
imposto, que não se confunde com o IPTU progressivo para fins fiscais,
introduzido pela EC n. 29/00. (BRASIL, 2005).

Sendo assim, sua intenção basilar é estimular, ou desestimular, certos


comportamentos sociais, sendo aplicados também como uma punição ao proprietário que
descumpre os preceitos constitucionais, tendo um caráter de sanção e não somente de
arrecadação. Essa é uma das funções extrafiscais dos impostos e salienta-se que é proibido
conceder anistia ou isenção da tributação progressiva no tempo.

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No caso dos municípios, a propriedade deve estar prevista no Plano Diretor


Municipal, daí as vastas discussões acerca da obrigatoriedade apenas para municípios com
mais de vinte mil habitantes e, mais ainda, deve a legislação municipal observar os requisitos
elencados no Estatuto da Cidade para permitir a progressão do imposto, e ainda atentar-se da
possibilidade de punições para o administrador, as quais estão previstas na Lei de
Improbidade Administrativa.

CONCLUSÃO

Pelo que se denota da evolução histórica e constitucional do instituto da função


social da propriedade, não pairam dúvidas acerca da potencialidade da propriedade para o
alcance dos objetivos fundamentais da Constituição Federal, no tocante a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, com a promoção do bem-estar de todos.
A Constituição Federal de 1988 disciplinou o direito à propriedade condicionando-o
ao cumprimento da sua função social e ainda estabeleceu a progressividade no tempo do
IPTU e ITR, função extrafiscal, como forma de punição ao seu descumprimento.
Assim, o imóvel rural que não atenda sua função social pode estar sujeito à
tributação mais gravosa do ITR e, caso mantida essa situação à desapropriação para fins de
reforma agrária. Da mesma forma, o imóvel localizado em área urbana que esteja sendo
subutilizado ou não utilizado à luz do Plano Diretor, poderá ser compelido a fazê-lo mediante
parcelamento, edificação compulsória, IPTU progressivo e finalmente a desapropriação com
pagamento mediante títulos da dívida pública.
Fica claro que o princípio da função social da propriedade é uma norma de
aplicabilidade imediata como o é todo princípio constitucional, e que o ordenamento jurídico
brasileiro, por meio de vários instrumentos legais, dentre os quais a extrafiscalidade dos
impostos, opera visando atender aos ditames constitucionais para se atingir a função social da
propriedade urbana ou rural.
Atender aos interesses sociais positivados na Constituição Federal, em especial ao
atendimento da dignidade da pessoa humana, introduziu uma nova abordagem ao direito de
propriedade, que agora deve atender não apenas os interesses de seus proprietários, mas
também ao seu condicionamento a valores que transcendem os meros interesses patrimoniais
do titular do domínio.

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REFERÊNCIAS

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1934). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm
>. Acesso em 25 out. 2017.

______. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 10 de novembro de


1937). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm
>. Acesso em 25 out. 2017.

______. Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc01-
69.htm>. Acesso em 25 out. 2017.

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm>. Acesso em 25 out.
2017.

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 25 out.
2017.

______. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964 - Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá


outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4504.htm>.
Acesso em 26 out. 2017..

______. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 - Regulamenta os arts. 182 e 183 da


Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso
em 26 out. 2017.

______. Supremo Tribunal Federal. Processo: RE-AgR412689. Rel. Ministro Eros Grau.
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COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à Constituição de 1988 – Sistema


Tributário. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

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Ridendo Castigat Mores, 2001.

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RESUMOS EXPANDIDOS

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APLICABILIDADE DA LEI ANTICORRUPÇÃO ÀS ORGANIZAÇÕES


DA SOCIEDADE CIVIL EM PARCERIA COM A ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA

APPLICABILITY OF THE ANTICORRUPTION LAW TO CIVIL SOCIETY


ORGANIZATIONS IN PARTNERSHIP WITH THE PUBLIC ADMINISTRATION

Felipe José Olivari do Carmo*

Resumo: A presente pesquisa objetiva demonstrar a aplicação da Lei nº 12.846/2013,


chamada de Lei Anticorrupção, às organizações da sociedade civil que celebram instrumentos
de parceria com a Administração Pública. A despeito de não serem empresas, através da
revisão bibliográfica, busca-se conceituar as organizações da sociedade civil na forma
definida pela Lei 13.019/2014 e a extensão da aplicabilidade do parágrafo único do artigo 1º
da Lei 12.846/2013.

Palavras-chave: Organizações da Sociedade Civil. Lei Anticorrupção. Aplicabilidade.

Abstract: The present research aims at demonstrating the application of Law 12.846/2013,
called the Anti-Corruption Law, to civil society organizations that celebrate partnership
instruments with the Public Administration. Despite the fact that they are not companies,
through the bibliographic review, it is sought to conceptualize civil society organizations in
the form defined by Law 13,019/2014 and the extension of the applicability of the sole
paragraph of article 1 of Law 12.846/2013.

Key-words: Civil Society Organizations. Anti-Corruption Law. Applicability.

INTRODUÇÃO

A corrupção não é assunto novo e muito menos restrito a relação do mundo político
com os grandes grupos empresariais. Historicamente, o Brasil vem sofrendo desse problema
em diversos setores da economia e por essa razão, o poder intervencionista e regulatório
conferido pelo artigo 174 da Constituição Federal ao Estado, já trouxe certo avanço.
O poder de intervenção do Estado na ordem econômica pelo poder econômico como
contratante ou fomentador para a execução de serviços de relevância pública pela iniciativa
privada, faz com que condutas corruptivas ganhem terreno fértil para atuação.

*
Mestrando em Direito Negocial na Universidade Estadual de Londrina. Especialista em Direito Administrativo
pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar. Advogado. E-mail: felipe@marinsdesouza.com.br.
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Como um importante ator no desenvolvimento da ordem econômica e social, as


organizações do terceiro setor já foram protagonistas de grandes esquemas de corrupção com
o foco exclusivo de desvio de recursos públicos. Fato que a legislação vem avançando nesse
assunto e mesmo com o surgimento da famosa Lei Anticorrupção (Lei 12.846/2013), a
relação entre Administração Pública e organizações do terceiro setor, vem sendo regulada há
algum tempo com o objetivo de criar barreiras a possíveis atos lesivos contra o patrimônio
público.
Dentre a rasa regulação do setor, em 2014 surge o Marco Regulatório das
Organizações da Sociedade Civil (Lei 13.019/2014), com o objetivo específico de criar um
regime jurídico geral de parcerias com a Administração Pública.
Considerando a existência de um regime jurídico específico criado pela Lei
13.019/2014 para regular a relação entre as organizações da sociedade civil e a Administração
Pública, além das características específicas da Lei 12.846/2013, propõe-se analisar se esta
norma se aplica às organizações da sociedade civil quando celebram instrumentos de parceria
com a Administração Pública.

APLICABILIDADE DA LEI ANTICORRUPÇÃO ÀS ORGANIZAÇÕES DA


SOCIEDADE CIVIL EM PARCERIA COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Com a Reforma do Aparelho do Estado iniciada em 1995, deu-se início ao processo


de publicização como um instrumento de transferência para as organizações do terceiro setor
de atividades de grande relevância social, impondo mais eficiência e economicidade típicas do
regime privado.
Reflexo do momento de redemocratização e imposição pela Constituição Federal de
participação da sociedade civil como atores fundamentais para o desenvolvimento econômico
e social, o terceiro setor ganha relevância e importância para setores estratégicos na
construção de uma nova ordem econômica e social.
Marçal Justen Filho, de forma objetiva, define o terceiro setor como composto por
organizações e entidades privadas que exercem atividades de interesse público sem fins
lucrativos. Estas entidades se diferenciam do Estado (primeiro setor) pois sua natureza é de
direito privado, e não público. Já em relação à inciativa privada (segundo setor) se diferencia
por não objetivar o lucro (JUSTEN FILHO, 2014, p. 329).

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Ao tratar especificamente das organizações do terceiro setor, José Eduardo Sabo


Paes conceitua como “as entidades de interesse social sem fins lucrativos, como as
associações, e as fundações de direito privado, com autonomia e administração própria, cujo
objetivo é o atendimento de alguma necessidade social ou a defesa de direitos difusos ou
emergentes” (PAES, 2013, p. 88-89).
Corroborando com o conceito apresentado, em 2014 foi promulgada a Lei nº 13.019,
chamada de Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil. O importante e recente
diploma busca inaugurar um conceito e regime jurídico geral para a parcerias com a
Administração Pública, em complemento as qualificações específicas de Organizações
Sociais e Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Lei nº 9.637/1998 e Lei nº
9.790/1999).
Ao inaugurar oficialmente o conceito amplo de “organização da sociedade civil”,
definiu em seu artigo 2º, inciso I, serem aquelas entidades privadas sem fins lucrativos que
não distribuam sob qualquer argumento qualquer resultado, sobra, excedente, dividendos ou
parcela do seu patrimônio aos associados, diretores e pessoas com vínculo com a instituição,
bem como aplicam todo excedente em sua operação. Por ser um conceito amplo que se
encaixam muito bem as associações e fundações privadas, registrou também a inclusão das
cooperativas sociais e as organizações religiosas que se dediquem a atividades ou a projetos
de interesse público e de cunho social distintas das destinadas a fins exclusivamente
religiosos.
Referida norma apresenta como instrumentos de parceria com a Administração
Pública, o Termo de Colaboração, Termo de Fomento e Acordo de Cooperação. Os dois
primeiros existem a transferência de recursos públicos e o último, apenas a cooperação para a
consecução de finalidade de interesse público e recíproco.
Como as organizações são pessoas jurídicas de direito privado, titulares da autonomia
da vontade, a celebração dos instrumentos de parceria são uma faculdade. Mas ao optarem,
deverão cumprir com as exigências da lei, se submetendo ao regime jurídico específico.
Celebrada a parceria, instaura-se o regime jurídico determinado no artigo 5º, do qual
se destaca a transparência na aplicação dos recursos públicos e principalmente, a observância
dos princípios da legalidade, legitimidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
economicidade, eficiência, eficácia e transparência na aplicação dos recursos públicos
(LEONARDO, 2013, p. 267-268).

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Com o objetivo de efetivar tais princípios, a Lei nº 13.019/2014 prevê mecanismos


de seleção por meio de chamamento público, controle e monitoramento da execução
financeira e das metas pactuadas pelo órgão parceiro, controle externo pelos Tribunais de
Contas competente, previsão estatutária de destinação do patrimônio a outra pessoa jurídica
de igual natureza e que cumpra os requisitos da lei em caso de dissolução, utilização das
normas brasileira de contabilidade, publicidade por qualquer meio eficaz dos relatórios de
atividades e fiscal financeira, dentre outros.
Paulo Modesto, ao tratar do regime jurídico geral das organizações sem fins
lucrativos, antes da Lei nº 13.019/2014, sustentou que ao celebrar a parceria com o Estado, as
organizações do terceiro setor “regem-se por um regime jurídico hibrido, que exige a
incidência paralela de direito público e do direito privado para disciplinar aspectos distintos
da atuação e organização dessas pessoas jurídicas”. Complementa o autor que
O regime é hibrido nas parcerias, porque as entidades privadas parceiras
permanecem distintas do Poder Público, mas ao manejarem recursos
públicos e ao celebrarem contratos de colaboração, sujeitam-se a deveres
públicos de transparência, impessoalidade e fidelidade aos fins sociais da
parceria que atuarem, necessariamente a disciplina do direito administrativo
(MODESTO, 2011, p. 28).

O marco regulatório das organizações da sociedade civil ao regular o regime jurídico


geral de parceria, impõe regras específicas norteadoras do bom uso dos recursos públicos,
inibindo, em tese, atos de corrupção ou impondo seu controle pelos meios típicos da
Administração Pública.
Pouco tempo antes, surgiu a Lei 12.846/2013, então chamada de Lei Anticorrupção.
Com o objetivo de impor regulação efetiva as empresas no trato com a administração pública,
por serem regidas exclusivamente pelo regime jurídico de direito privado, propôs a
responsabilização objetiva por atos lesivos à Administração Pública.
Mesmo com foco empresarial por ser inequívoco o regime jurídico privado, o
parágrafo único do artigo 1º da Lei 12.846/2013, enumerou também como aplicável a
“quaisquer fundações, associações de entidades ou pessoas”.
Ao incluir no rol de aplicabilidade da norma, o fez de forma ampla e genérica,
inclusive pelo fato das associações e fundações não serem obrigadas a firmar qualquer
instrumento de parceria ou receber transferências de recursos públicos da Administração
Pública.

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O caráter empresarial da norma foi definido por Mauricio Zockun (2017, p. 16),
quando sustenta que “trata-se, em rigor, de uma Lei de Probidade Administrativa Empresarial
e não de uma Lei Anticorrupção, ainda que esse último rótulo já seja empregado de forma
corrente, e de modo equivocado”.
A tipificação das condutas trazidas pela Lei 12.846/2013 não inovam a relação entre
as organizações da sociedade civil parcerias da Administração Pública, em especial por se
fazer presente princípios do regime jurídico administrativo reguladores.

CONCLUSÃO

Não obstante a previsão no parágrafo único do artigo 1º da Lei 12.846/2013 a


aplicabilidade a “quaisquer fundações, associações de entidades ou pessoas”, sua natureza é
específica quando presente apenas a incidência do regime jurídico de direito privado.
Essa característica é evidente por não prever em qualquer momento a possibilidade de
relações de parceria entre a organização privada e a Administração Pública. A lei denominada
erroneamente como anticorrupção, regula a atividade empresarial impondo inclusive
penalidades financeiras de difícil aplicação as organizações da sociedade civil.
No mais, as organizações da sociedade civil que celebram instrumentos de parceria
sob a égide da Lei 13.019/2014, estão vinculadas a um regime jurídico hibrido mais rígido e
controlador que a Lei 12.846/2013.
O poder interventor do Estado na ordem econômica é manifestado de forma diferente
em cada norma, sendo na Lei 13.019/2014 a atividade de fomento impor a necessidade de
controle rígido por aplicar recursos públicos na busca do resultado e, na Lei 12.846/2013, a
intervenção é posta como limite na livre iniciativa quando a relação com o Estado levar a
prejuízos efetivos à manutenção da ordem econômica e social.
Conclui-se, portanto, que a lei 12.846/2013 é aplicável as organizações da sociedade
civil, porém quando estar estiverem sob o regime jurídico hibrido em razão da celebração de
instrumentos de parceria, suas normas deverão ser complementares, pois os princípios de
regime jurídico administrativo deverão se sobrepor como proteção dos recursos e interesses
públicos envolvidos na relação com a Administração Pública.

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REFERÊNCIAS

JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014.

LEONARDO, Rodrigo Xavier. Associações sem fins econômicos. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014.

MODESTO, Paulo. O direito administrativo do terceiro setor e aplicação do direito público às


entidades privadas sem fins lucrativos. In MODESTO, Paulo; CUNHA JÚNIOR, Luiz
Arnaldo Pereira da (coord.). Terceiro Setor e parceria na área de saúde. Belo Horizonte:
Fórum, 2011, pp. 21-40.

PAES, Eduardo Sabo. Fundações, associações e entidades de interesse social: aspectos


jurídicos, administrativos, contábeis, trabalhistas e tributários. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2013.

ZOCKUN, Mauricio. Comentários ao art. 1º. In: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella;
MARRARA, Thiago (coord.). Lei anticorrupção comentada. Belo Horizonte: Fórum, 2017.

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LEI Nº 13.303/2016 E A GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS


EMPRESAS ESTATAIS

LAW 13.303/2016 AND CORPORATE GOVERNANCE IN STATE COMPANIES

Katia Maria da Costa Simionato*


Marlene Kempfer**

Resumo: As empresas estatais atuam como instrumentos do Estado para o exercício de


atividades econômicas, conforme previsto no Art. 173 CF/88, quando for justificado relevante
interesse coletivo ou necessárias à segurança nacional. O regime jurídico destas empresas foi
trazido ao ordenamento jurídico por meio da Lei nº 13.303/2016, denominado Estatuto
Jurídico das Empresas Estatais. Dentre as inovações trazidas destacam-se as regras de
governança corporativa, com o estabelecimento de normas sobre transparência, gestão de
riscos e controle interno. Esta pesquisa tece reflexões sobre os impactos das boas práticas de
governança para construir um ambiente empresarial ético, transparente e socialmente
responsável.

Palavras-chaves: Empresas estatais. Lei nº 13.303/2016. Governança corporativa.

Abstract: State-owned enterprises act as State instruments to carry out economic activities, as
provided in Article 173 CF / 88, when relevant collective interest or necessary for national
security is justified. The legal regime of these companies was brought to the legal system
through Law 13303/2016, called the Legal Status of State Companies. Among the innovations
brought out are the corporate governance rules, with the establishment of norms on
transparency, risk management and internal control. This research reflects on the impacts of
good governance practices to build an ethical, transparent and socially responsible business.

Key-words: State enterprises. Law 13303/2016. Corporate governance.

INTRODUÇÃO

A intervenção do Estado no domínio econômico é opção de governo quando presentes


os requisitos do Art. 173 da CF/88. No Brasil há várias empresas estatais em que,

*
Mestranda do Programa de Mestrado em Direito Negocial da Universidade Estadual de Londrina - UEL.
Participante do projeto de pesquisa Regulação econômica no Brasil e a Constituição Federal de 1988: controles
do e sobre o Estado em face da administração pública gerencial. E-mail: katiamcs@hotmail.com
**
Doutora pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, professora do Curso de Direito
Negocial da Universidade Estadual de Londrina, mkempferb@gmail.com. Coordenadora do Projeto de pesquisa
Regulação econômica no Brasil e a Constituição Federal de 1988: controles do e sobre o Estado em face da
administração pública gerencial.
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contemporaneamente, denunciou-se inúmeras condutas de corrupção na sua gestão o que leva


a questionamentos sobre a eficiência destas organizações.
Em meio a este cenário de crise foi aprovada a Lei nº 13.303/2016, com a missão de
impor a governança corporativa e a utilização de mecanismos de controle e de gestão de
riscos para possibilitar o controle, a transparência e resgatar a confiabilidade do mercado e da
sociedade.
Este estudo tem por objetivo apresentar as principais regras introduzidas pela Lei nº
13.303/2016 em relação à governança corporativa nas empresas estatais e avaliar os seus
impactos para a construção de um modelo de empresa mais ética, transparente e socialmente
responsável. A pesquisa será realizada por meio do método dedutivo, a partir do levantamento
bibliográfico e da legislação sobre o tema.

LEI Nº 13.303/2016 E A GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS EMPRESAS


ESTATAIS

Nos últimos anos, as medidas de governança tem ganhado força, consolidando a


noção de que as empresas não têm apenas obrigação de gerar lucros, mas, também, obrigações
mais amplas para com a sociedade. Na sociedade contemporânea, faz parte da estratégia de
posicionamento das empresas demonstrar que são socialmente responsáveis, o que inclui, o
compromisso em evitar a ocorrência de fraude e corrupção (CGU, 2015, pp. 9-10).
No caso específico das empresas estatais, este compromisso em atuar de forma
socialmente responsável não está vinculado apenas a uma estratégia de posicionamento
empresarial, mas também à sua responsabilidade como entidade gestora de recursos públicos,
comprometida com os princípios da administração pública (CGU, 2015, p. 10).
A governança assume um papel essencial, na medida em que atua como um sistema
pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os
relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e
controle e demais partes interessadas (IBGC, 2015, p.20).
A governança está pautada nos seguintes pilares: transparência, equidade, prestação
de contas e responsabilidade corporativa. A transparência envolve a disponibilização para as
partes interessadas de todas informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas
informações exigidas por lei ou regulamentos. A equidade diz respeito ao tratamento justo e

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isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas. Já a prestação de contas se traduz


no dever dos agentes de governança (pessoas e órgãos envolvidos no sistema de governança,
tais como: sócios, administradores, conselheiros, auditores, etc.) de prestar contas de sua
atuação de forma clara e objetiva. A responsabilidade corporativa está relacionada ao dever
dos agentes de governança em zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações,
reduzindo as externalidades negativas e aumentado as externalidades positivas de seus
negócios (IBGC, 2015, pp. 20-21).
“A governança corporativa foi desenvolvida, portanto, para que se pulverize o poder,
de modo que a empresa atue de forma ética, transparente e em consonância com um sistema
interno de supervisão e controle” (AMARAL, 2016, p.66).
Nos últimos anos as práticas de governança têm sido incorporadas ao ordenamento
jurídico brasileiro. Em 22 de janeiro de 2007, foi promulgado o Decreto nº 6.021 instituindo a
Comissão Interministerial de Governança Corporativa e de Administração de Participações
Societárias da União (CGPAR), cabendo-lhe aprovar diretrizes e estratégias relacionadas à
participação acionária da União nas empresas estatais federais, estabelecer critérios para
avaliação dessas empresas e para indicação de diretores e representantes da União nos
conselhos de administração e fiscal, estabelecendo diretrizes e padrões de conduta ética para
sua atuação (BRASIL, 2007).
Desde então, a CGPAR editou uma série de resoluções, dentre elas destacam-se: a
Resolução nº 3/2010 (BRASIL, 2010) que trata da adoção das diretrizes, objetivando o
aprimoramento das práticas de governança corporativa, relativas ao Conselho de
Administração. A Resolução nº 5/2015 (BRASIL, 2015) que estabelece a obrigatoriedade
para as empresas estatais federais de divulgar em seus respectivos sítios eletrônicos as
informações que menciona e de manter canal de atendimento e recebimento de denúncias. A
Resolução nº 18/2016 (BRASIL, 2016) que trata da implementação das políticas de
Conformidade e Gerenciamento de Riscos.
Assim, pode-se dizer que já estava sendo construído no Brasil um ambiente para a
implementação de normas gerais sobre governança nas empresas estatais. A Lei nº 13.303, de
30 de junho de 2016 (BRASIL, 2016), veio consolidar, em um único diploma legal, esta série
de diretrizes, regulamentando questões referentes à transparência, à gestão de riscos e ao
controle interno, à responsabilidade dos administradores e à prestação de contas.

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As regras estipuladas na lei são dirigidas a todas as empresas estatais – empresas


púbicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias, da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios que explorem atividade econômica de produção ou comercialização
de bens ou de prestação de serviços, ainda que a atividade econômica esteja sujeita ao regime
de monopólio da União ou seja de prestação de serviços públicos1.
Dentre as regras de transparência destacam-se a necessidade de elaboração de carta
anual, com a explicitação dos compromissos de consecução de objetivos de políticas públicas,
com definição clara dos recursos a serem empregados para esse fim, bem como dos impactos
econômico-financeiros da consecução desses objetivos.
Além disso, as empresas estatais deverão: a) divulgar informações relativas às
atividades desenvolvidas, estrutura de controle, fatores de risco, dados econômico-financeiros,
comentários dos administradores sobre o desempenho, políticas e práticas de governança
corporativa e descrição da composição e da remuneração da administração; b) elaborar
política de divulgação de informações; c) elaborar política de distribuição de dividendos; d)
divulgar as demonstrações financeiras, os dados operacionais e financeiros das atividades
relacionadas à consecução dos fins de interesse coletivo ou de segurança nacional; e) elaborar
e divulgar a política de transações com partes relacionadas; f) dar ampla divulgação da carta
anual de governança corporativa; g) divulgar anualmente o relatório integrado ou de
sustentabilidade.
Deverão, ainda, adotar regras de estruturas e práticas de gestão de riscos e controle
interno que englobem: a) a implementação de práticas de controle interno, bem como área
responsável pela verificação de cumprimento de obrigações e de gestão de riscos; b) a criação
de canais de denúncia interna e externa; c) a elaboração de Código de Conduta e Integridade.
A lei também estabelece uma série de medidas em relação aos administradores das
empresas estatais, como a exigência de experiência profissional e formação acadêmica
compatível com o cargo ocupado e a vedação de indicação de determinadas pessoas, em
virtude do cargo político, das relações comerciais ou de parentesco.

CONCLUSÃO

1
A abrangência da Lei nº 13.303/2016 está sendo questionada no Supremo Tribunal Federal, por meio da ADI nº
5624, vez que confere o mesmo tratamento a empresas com regimes jurídicos do art. 173 e do art. 175, da CF/88.
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A Lei nº 13.303/2016 trouxe normas gerais sobre o regime jurídico das empresas
estatais, sua função social, a forma de constituição e funcionamento de seus conselhos de
administração e fiscal, práticas de governança corporativa e licitações e contratações.
Dentre as principais inovações trazidas pelo diploma legal destacam-se as regras
sobre governança corporativa, baseadas nas práticas de gestão de riscos e resultados típicas da
iniciativa privada, que tem como princípios basilares a transparência, a equidade, a
responsabilização dos gestores e a prestação de contas.
Este Estatuto traz avanços e está afinado com os princípios da administração pública
gerencial, entre eles, a eficiência, tal qual a gestão mais técnica e profissional dos
administradores e a redução da ingerência política do Estado sobre as decisões das empresas
estatais; controles internos para avaliar resultados, através da implementação de programas de
auditoria e integridade e; controle social, com a divulgação obrigatória de informações
relevantes relativas ao desempenho das empresas estatais e a disponibilização de canais de
denúncia à sociedade.
Defende-se que tal gestão poderá aumentar a confiabilidade do mercado, a redução
de práticas corruptivas e a consecução da função social das empresas estatais, orientadas para
o alcance do bem-estar econômico e para a alocação socialmente eficiente de seus recursos.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Paulo Osternack. Lei das estatais: espectro de incidência e regras de governança.
In: JUSTEN FILHO, Marçal (org.). Estatuto jurídico das empresas estatais: Lei
13.303/2016. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.

BRASIL. Lei n. 13.303 de 30 de junho de 2016. Disponível em


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13303.htm>. Acesso em 22
out. 2017.

________. Decreto 6.021 de 22 de janeiro de 2007. Disponível em


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6021.htm>. Acesso em
22 out. 2017.

________. Resolução CGPAR nº 18, de 10 de maio de 2016. Disponível em


<http://www.planejamento.gov.br/assuntos/empresas-estatais/legislacao/resolucao>. Acesso
em 22 out. 2017.

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________. Resolução CGPAR nº 5, de 29 de setembro de 2015. Disponível em


<http://www.planejamento.gov.br/assuntos/empresas-estatais/legislacao/resolucao>. Acesso
em 22 out. 2017.

________. Resolução CGPAR nº 3, de 31 de dezembro de 2010. Disponível em


<http://www.planejamento.gov.br/assuntos/empresas-estatais/legislacao/resolucao>. Acesso
em 22 out. 2017.

CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO. Guia de implantação de programa de


integridade nas empresas estatais: orientações para a gestão da integridade nas empresas
estatais federais. Brasília, 2015. Disponível em <http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-
integridade/arquivos/guia_estatais_final.pdf> Acesso em 22 out. 2017.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Código das melhores


práticas de governança corporativa. 5.ed. São Paulo, SP: IBGC, 2015. Disponível em
<http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/2014/files/CMPGPT.pdf>. Acesso em 22 out. 2017.

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RESUMOS SIMPLES

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A ARBITRAGEM NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E A


INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO

ARBITRATION IN PUBLIC ADMINISTRATION AND THE UNAVAILABILITY OF


PUBLIC INTEREST

Sueli Rosa Nakamura*


Luciane Delalibera Bim**

A arbitragem é um método de solução de conflitos relativo a direitos disponíveis que há


muitas décadas tem sido utilizada em muitos países, tanto na esfera pública quanto na privada,
dado que é um mecanismo célere, econômico e eficaz. Este instituto se faz presente no
ordenamento pátrio desde a Constituição Imperial de 1824, que permitia sua utilização nas
relações contratuais pactuadas entre o Poder Público e as empresas estrangeiras. Com o passar
dos anos, no entanto, devido a diversas legislações, a utilização da via arbitral perdeu força e
sofreu mitigação por parte da Administração Pública. Todavia, com o advento da Lei nº
9.307/1996, a arbitragem ganhou uma nova roupagem, compatibilizando-se com as
legislações internacionais e as políticas globalizadas que consideram que as causas complexas
têm melhores condições de serem avaliadas se feitas mediante um julgamento técnico. A
supracitada lei, contudo, não trouxe previsão expressa contemplando a possibilidade de
utilização da via arbitral pela administração pública, e isso deu azo a interpretações jurídicas
que entendiam que o uso da arbitragem poderia ferir princípios norteadores da Administração,
como a indisponibilidade do interesse público. Após o transcurso de quase duas décadas, a
alteração feita pela Lei nº 13.129/2015, ampliou substancialmente o alcance da Lei nº
9.307/1996 na Administração Pública, inserindo o § 1º ao artigo 1º, cuja autorização concede
às pessoas jurídicas integrantes da Administração Pública direta e indireta a utilização da via

*
Pós-graduada em Direito Civil e Processo Civil pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e em Direito do
Trabalho e Previdenciário pelo Instituto de Direito Constitucional e Cidadania (IDCC). Participante do Projeto
de Pesquisa “Os meios consensuais de resolução de conflitos e o novo Código de Processo Civil” coordenado
pela Profª. Rozane da Rosa Cachapuz, desenvolvido pelo Departamento de Direito Privado – CESA-PRI da
Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: suelirosanakamura@hotmail.com.
**
Pós graduada em Direito Empresarial pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Participante do Projeto
de Pesquisa “Os meios consensuais de resolução de conflitos e o novo Código de Processo Civil” coordenado
pela Profª. Rozane da Rosa Cachapuz, desenvolvido pelo Departamento de Direito Privado – CESA-PRI da
Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: lu_bim@hotmail.com. Trabalho vinculado ao projeto de
pesquisa “Os Meios Consensuais de Resolução de Conflitos e o Novo Código de Processo Civil”, cadastrado sob
o nº 10183.
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arbitral para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Com a


regulamentação expressa, a arbitragem se consolidou como um dos instrumentos legais de
solução de conflitos que também pode ser escolhido quando divergências surgirem entre a
Administração Pública e a iniciativa privada. Não obstante tal avanço legislativo, o
posicionamento crítico que por ora passa a se aflorar, está no fato de que a Administração
Pública está voltada à consecução do interesse público, representado pela indisponibilidade,
impossibilitando, assim, sob pena de ofensa ao interesse público, que entes estatais utilizem
da arbitragem para dirimir eventuais controvérsias contratuais. Diante deste dissenso
doutrinário, torna-se fundamental esclarecer que as discussões que permanecem quanto à
impossibilidade de livre disposição do interesse público por parte do agente público em
contratos firmados entre a Administração e o particular não merecem subsistir. Isto porque a
indisponibilidade do interesse público se refere ao respeito à democracia e aos direitos
fundamentais constitucionalmente garantidos a todos, sem discriminação, não cabendo, pois,
ao Poder Público, deles dispor, mas apenas administrá-los e protegê-los, assegurando sua
efetividade. Os direitos disponíveis, por sua vez, são direitos passíveis de disposição pela
Administração Pública mediante contratação, razão pela qual podem ser objeto de atuação da
arbitragem, visto que, todo bem passível de ser submetido à contratação pela Administração
Pública, tem nesta disponibilidade a possibilidade de ser submetido à apreciação do juízo
arbitral. Desta forma, a utilização da arbitragem pela Administração Pública, desde que
realizada em estreita observância aos princípios e regras constitucionais, não configura
desrespeito ao interesse público, uma vez que em última razão, este interesse pode vir a ser
protegido. Infere-se a partir deste raciocínio que a indisponibilidade desse interesse não se
revela, a priori, incompatível com a via arbitral. Na verdade, para atender a supremacia do
interesse público, pressuposto que alicerça todas as matérias do direito público, visando à
defesa dos interesses púbicos em relação aos interesses particulares, a utilização da arbitragem
pela Administração Pública, com efeito, se apresenta como meio legítimo para a efetivação
dos objetivos da Administração Pública em prol dos interesses da coletividade.

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DESAPROPRIAÇÃO DE TERRAS RURAIS PRODUTIVAS E O


PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE PRIVADA

EXPROPRIATION OF PRODUCTIVE RURAL LAND AND THE PRINCIPLE OF DE


SOCIAL ROLE OF THE PRIVATE PROPERTY

Raul Durizzo de Oliveira*

É dever da União, por força constitucional, promover a desapropriação de imóveis rurais, para
fim de reforma agrária, que não estejam cumprindo a sua função social. Função social, de
acordo com o Art. 186 e incisos da CF, seria a observância de determinadas condições
estabelecidas em lei referentes à produtividade, ao aproveitamento do solo e recursos e às
relações de trabalho. Tal disposição inibe, entre outras coisas, que grandes latifúndios
improdutivos e entregues à especulação imobiliária tomem conta do cenário rural brasileiro.
As exceções impostas são os casos de ser a propriedade pequena ou média, de acordo com os
parâmetros legais, desde que seja a única propriedade de seu titular, e quando o imóvel é
produtivo. Assim, além da garantia à consolidação da justiça social e proteção ao pequeno e
médio produtor, há o fomento à produtividade. Ocorre, entretanto, que nem sempre produzir
algo é sinal de que o imóvel rural esteja cumprindo com a sua função social. Há critérios
estabelecidos expressamente pelo texto constitucional que devem ser atendidos de forma
simultânea: o aproveitamento da propriedade deve ser racional e adequado; a exploração dos
recursos naturais disponíveis deve ocorrer de forma responsável, preservando-se o meio
ambiente; as normas que regulam a exploração do trabalho devem ser estritamente
respeitadas; a exploração deve se dar de tal maneira que favoreça o bem-estar de todos. Dessa
forma, a exceção à desapropriação que versa sobre produtividade não deve ser interpretada de
forma absoluta ou, até mesmo, isolada. Ao contrário, deve ser norteada pelos princípios
constitucionais que envolvem a tutela da propriedade rural. Ademais, quando a Constituição
se refere à produtividade, não abrange apenas o seu sentido econômico, mas também no que
tange à efetivação da função social. Entende-se, portanto, que ainda que as grandes
propriedades rurais sejam produtivas e gerem riquezas, devem sofrer desapropriação quando a
sua utilização estiver em desarranjo com a função social da propriedade.

*
Aluno do 4º ano de Direito da Universidade Estadual de Londrina. Projeto de pesquisa n. 11040 A PROTEÇÃO
AO MEIO AMBIENTE E O DIREITO PRIVADO – NOVOS PARADIGMAS – Coordenação da Profa. Dra.
Daniela Braga Paiano. E-mail: rauldurizzo@gmail.com.
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A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS AUDIÊNCIAS


PÚBLICAS DAS AGÊNCIAS REGULADORAS

THE IMPORTANCE OF SOCIAL PARTICIPATION IN THE PUBLIC HEARINGS OF


THE REGULATORY AGENCIES

Daniela Dos Santos Pereira*

Com o entendimento de Bresser Pereira, onde delimita a possibilidades da Administração


Pública Gerencial, devido à aplicação da reforma da gestão pública, tendo uma de suas bases
na participação social junto à administração pública, aproximando e dividindo a
responsabilidade das decisões tomadas com a descentralização e a desburacratização da
administração, garantindo assim os quatro pontos bacilares dessa administração sendo elas:
torna os gerentes dos serviços responsáveis por resultados, ao invés de obrigados a seguir
regulamentos rígidos; premia os servidores por bons resultados e os pune pelos maus; realiza
serviços que envolvem poder de Estado por meio de agências executivas e reguladoras; e - o
que é mais importante - mantém gratuitos os grandes serviços de consumo coletivo, mas
transfere sua oferta para organizações sociais. Dessa monta, se torna indispensável à
participação popular nos conselhos das Agências Reguladoras, onde a sua participação nas
audiências públicas implicará na tomada de decisão do colegiado, e a garantia da inserção da
sociedade nas tomadas de decisões, voltando assim suas ações para o atendimento das
necessidades de sociedade, que é diretamente afetada com as suas deliberações. Passando
assim, a aproximar a sociedade civil das ações e deliberações que as Agências Reguladoras
exercem na sociedade em atendimento ao delimitado na Emenda Constitucional 19/98, que
trouxe o princípio da eficiência a administração pública. O foco da pesquisa está em
considerar tais fundamentos em face da inserção da participação social como base da
aplicabilidade do princípio da eficiência com a participação nas audiências públicas das
agências reguladoras, demonstrando que a sua participação incide nas tomadas de decisão e
torna eficaz a sua participação. Realizando a comparação das normas internas que regulam
essa participação nas dez Agências Reguladoras, separando as que atuam nas concessões das

*
Advogada, especialista em Direito Ambiental e Economia do Meio Ambiente. E-mail:
daniela@kyotoassessoriaambiental.com.br.
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que autorizam as atividades econômicas, buscando assim a eficiência nessa participação e sua
aplicabilidade.

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IMPLEMENTAÇÃO DOS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO


DE CONFLITOS NO MEIO EMPRESARIAL

IMPLEMENTATION OF ALTERNATIVE MEANS OF RESOLVING CONFLICTS IN


THE BUSINESS ENVIRONMENT

Aguida Caetano da Silva*


José Ricardo Suter**

Os meios alternativos de resolução de conflitos no meio empresarial torna-se cada vez mais
eficaz e necessário a sua implementação, sabe se que hodiernamente não são impostos, ou
seja obrigatórios pelo judiciário brasileiro a utilização destes meios por meio de instalação de
salas dos meios autocompositivos em ambientes de trabalho, sendo optativo e pouco usual a
implantação das salas de mediação, e as cláusulas escalonadas, quando a necessidade da
arbitragem, sabe se que com a utilização elas podem até ter uma participação do judiciário
para o entendimento do funcionamento de tais meios, mediadores capacitados, assim como
árbitros formados no assunto a ser discutido pelas partes, como um engenheiro, um médico,
ou um arbitro com graduação em direito. Esses meios possuem várias vantagens e celeridade
processual, tendo como um dos benefícios a decisão final, com um tratamento exclusivo,
célere, autentico, e com uma satisfação maior quando se opta pela utilização desses meios,
uma instauração de uma sala de mediação no local de trabalho, de fácil acesso em que será
sanado o litigio, onde o transito em julgado não será dado por um magistrado como
usualmente, em uma audiência de conciliação após a propositura de uma demanda judicial,
por exemplo, mas trazida pelas partes. Obtenção de um acordo que seja benéfico aos dois
lados, a mediação é um tanto semelhante à conciliação, porém o terceiro imparcial neste caso
não interfere em uma possível saída, apenas ajuda as partes a restabelecerem a comunicação
entre elas, deverá ter um conhecimento considerável e significativo em relação ao assunto a
ser tratado, um profissional apto para a utilização da satisfação da utilização da mediação pois
as partes, que deverão encontrar sozinhas uma solução plausível. A Conciliação e a Mediação
foram trazida pelo CPC/2015 que visa estimular a autocomposição em fase processual em
que as pessoas não estejam necessariamente obrigados a sanarem o conflito pela via

*
Graduanda em Direito pela Universidade Estadual de Londrina-UEL. E-mail:aguidacaetano@outlook.com
**
Mestre em Direito Negocial pala Universidade Estadual de Londrina- Uel. E-mail: ricardosuter@gmail.com.
Trabalho relacionado ao projeto de pesquisa “Os meios consensuais de resolução de conflitos e o novo código de
processo civil”, da UEL.
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processual pois ainda não apresentada a contestação pelo réu , que ocorre não perante o
juiz, mas, sim, perante conciliador ou o mediador, em ambiente menos formal e
intimidador e mais propício ao desarme de litígios. Busca se por meio da aplicabilidade
satisfatória, a utilização destes meios de resolução de conflitos em ambientes empresariais
na prática do trabalho, por meio de avaliação feita na empesa, para que se evite o
descontentamento judiciário, caso se trate de conflitos menos gravoso, ou caso necessite de
maior acuidade se optar primeiramente pela arbitragem. Cuida-se de inovação a favorecer o
chamado sistema multiportas, bem presente a ideia de que, sendo várias as veredas
possíveis rumo à solução do conflito, deve o Judiciário, sim, ser o meio alternativo,
subsidiário para dirimir controvérsias. Grande importância se instaurou a realização da
audiência como regra a encontrar apenas duas exceções: se os direitos envolvidos não
admitirem composição ou se, tendo o autor já manifestado desinteresse na inicial, o réu , até
dez dias antes da audiência, igualmente expressar que não pretende conciliar. É o que
dispõem os incisos I e II do § 4º do artigo 334, CPC/2015.

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RAZÃO PRÁTICA DO COMPLIANCE À LUZ DA MORAL PÓS


CONVENCIONAL SOB O ENFOQUE DA ATUAÇÃO EMPRESARIAL

RAZÓN PRÁCTICA DEL COMPLIANCE A LA LUZ DE LA MORAL POS


CONVENCIONAL BAJO EL ENFOQUE DE LA ACTUACIÓN EMPRESARIAL

Marcia Hiromi Cavalcanti*


Flávio Bento**

O programa de compliance, ou programa de integridade, previsto na Lei Anticorrupção será


analisado sob a perspectiva da ética do discurso ou moral pós-convencional. O agir
estratégico das empresas, impõe as decisões de forma egocêntrica, segundo seus interesses
que agem conforme a racionalidade por fins, questionando seus juízos morais. Resta saber,
portanto, se estas assumem suas responsabilidades de ações éticas e morais, e vão além da
produção material e percebem a necessidade da produção dos valores relevantes socialmente.
A organização empresarial engajada em uma cultura de interação e responsabilidade social
faz-se valer de tal como uma vantagem estratégica em seu segmento. Com a expansão de
mercados globais acirrando a competitividade, empresas resgatam o compliance,
determinando que a empresa esteja em conformidade com a legislação e o código de conduta
interno visando o mercado internacional. O compliance na organização empresarial é
utilizado nos processos de captação de recursos, sucessão, fusões e aquisições, estabelecendo
parâmetros de qualidade dentro do agir estratégico, na busca conjunta de soluções benéficas
para a coletividade. Os programas de compliance representam um avanço na busca do
equilíbrio entre os objetivos econômicos e a necessidade de adoção de padrões éticos de
conduta nas atividades empresariais. Durante o pós-capitalismo da terceira revolução
industrial, as organizações empresariais são revistas diante da crise do Estado e do bem estar
social. Surge neste contexto a sociedade da informação e Habermas faz uso da razão prática
nos discursos pragmáticos, éticos e morais, para tentar encontrar uma solução para contornar
os problemas práticos de uma formação racional da vontade coletiva, nesse caso, vertendo
para um compromisso normativo. Em conclusão, podemos observar que a empresa adota o

*
Universidade Estadual de Londrina. Especialista em Filosofia Política e Jurídica. Aluna especial do Mestrado
em Direito Negocial da UEL. E-mail: marciacavalcantibento@gmail.com.
**
Universidade Estadual do Norte do Paraná, campus de Cornélio Procópio. Doutor em Educação. E-mail:
prof.flaviobento@gmail.com.
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compliance como agir estratégico empresarial na busca pragmática de vantagens e lucros, mas
a natureza do agir estratégico aqui vai além do interesse egocêntrico, ao assumir o caráter
social do agir comunicativo. A empresa escolhe submeter-se ao controle do programa de
compliance, também na intenção de exigir de todos os seus colaboradores o respeito às
mesmas normas e regulamentos para garantir um discurso ético, entre os seus, a sociedade e o
Estado que a representa. A empresa demonstra que não faz isso só pelo marketing ético, ou
para estar em conformidade com o mercado global, mas para estar de acordo com os
princípios morais do agir comunicativo e do discurso ético, para o uso público da sua
liberdade comunicativa, validado pelo direito.

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