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SONIDOS

PEDROGOIFMAN
ÔNIBUS

SSSSSS

SHHHHH

DÁ LICENÇA
DÁ LICENÇA
DÁ LICENÇA
DÁ LICENÇA
DÁ LISENSA

SSSSSS

SHHHHH

PFFFFF

Vídeo: https://youtu.be/R7bbSDvr0W4
ESCADA

PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO
PASSO

Vídeo: https://youtu.be/36JDRTzfNcA
ELEVADOR

NO
E L
E V
A D
O R

Vídeo: https://youtu.be/cq7p-wLRcWY
CORRIDÁ
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO
EUCORRIRÁPIDO

vídeo: https://youtu.be/ymN0I6xav1s
METRÔ ou Corpos Celestes

Numa manhã de quarta-feira, como sempre, eu


estava dentro de um vagão do metrô de São Paulo a
caminho do meu trabalho. Tinha acabado de entrar na
última porta do trem da linha 4 - amarela, que tenho que
pegar para chegar até a estação República.

Escolho sempre este vagão, porque tem uma


janelinha nos fundos do trem, na qual me apoio e passo
a observar os trilhos se afastando. Porém, naquele dia,
uma menina que deveria ter lá pelos 8 anos de idade,
chegou antes no meu lugar, interrompendo meu ritual.

Procurei não me deixar abalar e, ao invés de


olhar para os trilhos andantes, passei a observar a
pequena ladra de lugares. Tinha cabelos grandes e
cacheados, como algas escuras em uma praia deserta;
vestia um belo vestido azul, que provavelmente, a mãe,
que estava ao lado, havia escolhido; e seus olhos se
destacavam do resto: grandes luas negras que se
despediam de cada centímetro de trilho, que eram
abandonados a todo instante.
O olhar disposto da criança brilhava, encantado
com aquelas duas linhas infinitas que corriam, se
alongavam e dançavam aos cantos das conversas e
aos rugidos do trem.

Elis, como sua mãe a chamara, pensava na


imensidão da vida, no prazer oferecido pelas pequenas
coisas e em qual lugar da escola se abrigaria na hora
do esconde-esconde com os amigos. Refletia, também,
que quando se tornasse uma grande astronauta,
poderia então saber como é que a lua nos observa e
nos encanta lá de cima. Só assim ela teria noção da
imensidão e descobriria onde todos do mundo estão
escondidos.

Vídeo: https://youtu.be/T2rV_LlUHKg
INTRODUÇÃO ou Feche os olhos

A palavra “Introdução” vem do Latim introductio,


que significa “ato de guiar para”, formado por “intro”,
“para dentro”, mais “ducere”, “liderar, guiar”. É estranho
acabar um projeto com a introdução, afinal, qual é o
sentido de guiar alguém por um caminho pelo qual ele
já passou? Olhar com outros olhos!

Pierre Schaeffer foi um compositor e teórico,


conhecido por ter inventado a música concreta. Ele
observou que havia uma grande dificuldade ao
descrever um som. A maioria dos conceitos que eram
utilizados para realizar tal análise, eram analogias de
características de outros aspectos da realidade,
principalmente os que são observados a partir do tato e
da visão. Termos como: alto, baixo, com estrias, áspero,
metálico, aveludado… são analogias utilizadas para
descrever os sons, mas que não foram criadas
originalmente com essa finalidade.

Um aspecto que agrava esta dificuldade


identificada por Schaeffer, é o fato de que, na maior
parte das vezes, relacionamos diretamente o som com
sua fonte. Assim, deixamos de analisá-lo e passamos a
descrever o emissor do barulho. Quando ouvimos algo,
podemos caracterizá-lo como, por exemplo, um “som de
um copo caindo no chão”, mas como ele é de fato? A
fonte, por mais que seja algo objetivo, por si só é vaga e
subjetiva, já que não descreve realmente como é o
som. Sempre que um copo cai no chão a energia
dissipada de maneira sonora é igual e provoca o
mesmo ruído? É evidente que não, então quando
alguém caracteriza um sonido como “som de um copo
caindo no chão”, cada pessoa vai entender de uma
maneira diferente, com o conteúdo de seus imaginários.
Logo, se torna subjetivo.

Schaeffer então, passa a realizar estudos com o


objetivo de separar a fonte, para que se tornasse
possível analisar apenas o som, de maneira mais
objetiva, em sua essência.

O projeto audiovisual-textual “Sonidos”, pode ser


interpretado como uma releitura destes estudos,
incorporando a linguagem da internet e de novas
tecnologias. A partir do momento em que os sons
exibidos nos vídeos são intitulados com o nome da
fonte, o espectador-ouvinte, deixa de questionar o que
está assistindo e passa a acreditar que o som
realmente foi produzido a partir do objeto sonoro
apresentado no título. Mas o que de fato garante isso?
Nada.

Cada som foi analisado, tratado e modificado


digitalmente, recurso que Pierre Schaeffer, com suas
músicas concretas, não podia utilizar, pois não viveu na
era digital. Porém, cada modificação foi feita com o
objetivo de que fosse imperceptível. Aliás, o que
garante que os sonidos apresentados foram realmente
alterados? O que garante que eles foram captados e
não produzidos apenas digitalmente? Nada garante,
mas isso não importa. A fonte não importa. A partir do
momento em que é dito que um som é produzido por
uma pessoa descendo uma escada, por exemplo, não
importa se ele realmente foi captado desta maneira, já
que quando é anunciado isso, ele passa a ser um som
de escada.

Assim, a única maneira de realmente entender


cada um dos sons é analisando-os em suas essências,
separando-os da fonte. Entretanto, o projeto “Sonidos”
não se propõe a fazer isso, muito pelo contrário, ele
brinca com os sons, mas não os analisa.

A brincadeira realizada aqui, está organizada em


uma ordem lógica. Os textos vão se tornando cada vez
mais ilustrativos, mas não necessariamente mais
complexos.

O primeiro deles, intitulado “ÔNIBUS”, é um


poema concreto formado por onomatopéias que
sugerem a representação dos sons em uma viagem de
ônibus: o chiado, produzido tanto pela máquina quanto
pelas pessoas. Nenhuma cena objetiva é apresentada,
mas sim um conjunto de letras, palavras e frases que se
desmontam para formar um ambiente. A forma
estética-visual do poema é muito importante, mas não
essencial como em outros.

O segundo texto, “ESCADA”, é também um


poema concreto que não possui uma cena específica,
mas uma ação é determinada: o “PASSO”. Esta palavra
é montada e desmontada, criando a sensação de
locomoção em uma escada. O formato gráfico que as
letras formam se torna mais essencial

Já no terceiro poema, “ELEVADOR”, frase e


cena começam a aparecer mais claramente. As letras
dispersas formam o texto “NO ELEVADOR”. Aqui já
temos uma cena clara: algo está em um elevador. A
estética gráfica é essencial, já que o formato de seta
vertical lembra o meio de locomoção que está sendo
objeto de brincadeira no poema.

A partir do quarto texto, um padrão é quebrado:


o título do poema não é apenas o objeto sonoro: um
acento é incorporado para que a palavra se adeque à
própria sonoplastia da obra e da ação: “CORRIDÁ”.
Além disso, a brincadeira é feita com uma frase de três
palavras: “EU CORRI RÁPIDO”, em que a cena está
posta: o personagem “EU”, correu em algum lugar com
uma velocidade elevada. Para trazer o som da ação no
poema, não é feito apenas o jogo com a desconstrução
das letras na frase, mas também é criada, novamente, a
figura de uma seta, porém desta vez é horizontal.
Por fim, no “METRÔ ou Corpos Celestes”, o
título foge ainda mais do padrão, já que carrega outros
elementos além da fonte sonora. A forma estética-visual
já não importa tanto, já que é constituída por linhas e
parágrafos, como qualquer texto comum. Sendo assim,
a ênfase vai para o conteúdo, que se desenvolve de
outra maneira: não se trata de um poema, mas sim de
uma crônica. Se no “CORRIDÁ”, uma cena estava
apresentada, neste texto uma narrativa inteira é
contada, com personagens que possuem
peculiaridades e uma história completa. Mesmo assim,
os sons nunca deixam de existir, mas passam a não
ocupar o protagonismo (o que já vinha acontecendo
cada vez mais) e se tornam o pano de fundo para o
desenrolar da trama.

Sugiro que volte a olhar para os textos e vídeos,


agora considerando estes pontos levantados, mas sem
esquecer o que você, espectador-ouvinte, interpretou e
criou. Além disso, é importante refletirmos se realmente
prestamos atenção aos sons com os quais nos
deparamos no cotidiano. Na maior parte das vezes, as
pessoas estão de fones de ouvido, presas em seus
próprios mundos. Você escuta?

vídeo: https://youtu.be/KKc-SQM2ddc

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