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Interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda, 2005, pp. 7-38.
Dias analisa que a vinda da Corte para o Brasil e a opção de fundar um novo
império nos trópicos já significaram uma ruptura interna nos setores políticos do Velho
Reino. A interiorização da metrópole no Brasil e o processo de emancipação política
brasileira, no que se refere à separação da antiga metrópole, se relaciona aos conflitos
internos de Portugal. A crise política interna, ocorrida após a Revolução Francesa pela
ascensão de novas ideias liberais, e a situação socioeconômica do reino complicada pela
guerra contra Napoleão geraram um cenário de instabilidade gigantesca e tensões entre
portugueses do reino e portugueses da nova corte formada. O Brasil se tornara peça
fundamental para a reconstrução de Portugal. No entanto, A Nova Corte no Brasil se
dedicava à consolidação do império absolutista no Brasil, relegando a um segundo plano as
reformas moderadas de liberalização e reconstrução propostas ao Reino, o que, por
consequência, eleva ainda mais as tensões no Velho Reino, culminando na Revolução do
Porto. (DIAS, 2005 pp.12-17)
No panorama interno brasileiro, Dias aponta que a transferência da metrópole para a
Nova Corte fez com que o Rio de Janeiro lançasse os fundamentos do novo império,
tomando para si o controle e a exploração econômica das outras regiões que, por sua vez, se
tornariam colônias da nova metrópole. O surto de reformas ocorrido no Rio de Janeiro
visou a reorganização da metrópole no Brasil e, no que diz respeito às outras províncias,
foram tomadas apenas medidas que levaram à intensificação do processo de colonização,
agravando, por consequência, o regionalismo no Brasil. (DIAS, 2005 p.22)
A semente da integração nacional seria lançada pela nova Corte como uma
continuidade da administração e estrutura coloniais, alicerçada pela colaboração de elites
nativas e forjada por pressões externas dos ingleses, interessados no comércio brasileiro,
mas sem querer administrá-lo. Essa colaboração mútua fez, segundo Dias, com que o
“Elitismo Burocrático” entre portugueses e classes dominantes nativas funcionasse como
uma válvula de escape da instabilidade socioeconômica e servisse para a manutenção
harmônica do corpo social brasileiro. (DIAS, 2005, p.32-33)
Ilmar Mattos contesta a ideia do provérbio imperial “nada tão parecido com um
saquarema como um luzia no poder”. Mattos mostra as diferenças e hierarquias entre os
partidos liberais e conservadores, denominados, respectivamente, como luzias e
saquaremas. (MATTOS, 1990, p.103)
Ao Mundo da Casa se opunha o Mundo da Rua. O mundo da Rua era composto por
homens e mulheres, livres ou libertos, não proprietários ou por escravos evadidos do
domínio do Mundo da Ordem. O mundo da Rua era visto como turbulento e desordenado e
seus habitantes não tinham ocupação no Mundo da Casa ou do Governo. (MATTOS, 1990,
p.121) Nesse aspecto, liberais e conservadores tinham uma percepção muito negativa em
relação aos pobres livres, tratando-os, de modo geral, como ameaça ao mundo da Casa e,
portanto, aos direitos e interesses da elite senhorial, assim como à ordem.
Por fim, cabe afirmar o interesse de Bonifácio pela europeização da sociedade e pela
mistura das raças existentes/ “amalgamação” da sociedade, para que, segundo ele, se forme
um “todo” homogêneo e compacto, que não se desfizesse em qualquer convulsão política.
Relatório 4 - WERNECK, Francisco Peixoto de Lacerda (Barão Pati do Alferes). Manual
sobre a Fundação de uma Fazenda na Província do Rio de Janeiro. Brasília: Senado
Federal/Casa Rui Barbosa, 1985, pp. 49-84.
O Barão Pati dos Alferes apresenta em sua obra uma série de instruções e
recomendações para a fundação de uma fazenda na província do Rio de Janeiro, incluindo
indicações da ordem das tarefas a serem realizadas. Werneck também apresenta uma série
de características necessárias ao Senhor de Escravos/fazendeiro. Entre as qualidades, se
destaca o conhecimento da natureza da região no que compreende ao tipo do solo para
melhor escolha da localização do plantio e aos recursos naturais disponíveis como madeiras
para corte e acesso à água (WERNECK, 1985, pp. 57-60). Outro aspecto ressaltado por
Werneck é a capacidade do senhor de escravos em gerir a escravatura de forma moderada.
O Barão do Pati afirma que o senhor, ao castigar o escravo, deve fazê-lo de maneira “justa”
e moderada, sem demasiada severidade ou frouxidão excessiva. O mesmo também não
deve deixar acumular os delitos dos escravos para puni-los de uma só vez. (WERNECK,
1985, p.64). Isso, segundo Werneck, evitaria revoltas dos escravos e manteria os cativos
sob controle, mantendo a estabilidade das relações sociais escravistas
Werneck também mostra que compete ao senhor dos escravos certa racionalidade
no trato com a escravatura, afirmando que escravos doentes ou feridos não devem trabalhar
enquanto estiverem debilitados, por exemplo. (WERNECK, 1985, pp. 64-65). O Barão do
Pati também aponta como deve ser a alimentação desses escravos, indica um modelo para a
localização da senzala, evitando danos à força de trabalho por condições muito insalubres
de habitação e delimita as ferramentas que os escravos devem possuir para a realização de
seus ofícios. (WERNECK, 1985, p. 58, p.64 e pp.65-66).
É difícil imaginar o ponto de vista dos escravos sobre esses temas, é possível que,
especialmente em relação ao cultivo de roças, os escravos tivessem uma visão positiva,
principalmente pela possibilidade de alguma melhora das suas condições de vida. Em
relação à religião, os “bons costumes, moralidade e obediência”, citados por Werneck,
podem ser muito mais frutos do medo dos cativos em relação aos castigos aplicados do que
propriamente a aceitação de uma moralidade e costumes cristãos. Vale ressaltar, no entanto,
que o direito de “folgar” aos domingos e dias santos possa ter sido algo que os escravos
considerassem benéfico.
Por fim, é possível relacionar a gestão escravista proposta pelo barão com a
ideologia conservadora discutida por Ilmar Mattos. O Barão do Pati era um homem da
“Ordem”/mundo da Casa e em seu texto são apresentadas instruções claras , assim como
certas limitações à ação do senhor de escravos, especialmente no que se refere à aplicação
de castigos, para a manutenção do sistema escravista. Isso se relaciona com a ideologia
conservadora à medida em que o Barão visa orientar a ação de senhores de escravos para a
manutenção da ordem escravista. Werneck apresenta um modelo de construção,
organização e gestão de uma fazenda, o que contrapõe a noção de uma gestão de
propriedade escravista feita tendo em base as vontades individuais de cada senhor de
escravos. Em suma, a visão do Barão do Pati é diferente da noção do Senhor como déspota
de seu próprio domínio.
Relatório 5 - BARROS, Maria Paes. No Tempo de Dantes in: MOURA, Carlos Eugênio
Marcondes de (org.). Vida Cotidiana em São Paulo do século XIX. São Paulo: Ateliê
Editorial/ Imprensa Oficial/Unesp, 1999, pp. 115-133.
O pai/comendador era figura essencial na gestão do mundo da casa, visto que todas
as decisões deveriam passar por sua análise. O comendador também era o elo entre o
mundo da Casa e o mundo exterior e era o principal responsável pelas decisões
relacionadas à gestão da produção e da escravaria. No entanto, a Senhora/Mãe também
tinha importantes funções, principalmente voltadas à manutenção da força de trabalho em
estado saudável e à garantia da reprodução dos escravos e, por consequência, da mão de
obra, conforme episódio já citado da cobrança em relação ao falecimento do filho de uma
escrava.
Paes de Barros também analisa a experiência do trabalho livre em uma das fazendas
da família retratadas no texto. A autora apresenta as qualidades da adaptabilidade e bom
resultado do trabalho livre, além de elogiar o empenho e o quão econômicos eram os
trabalhadores alemães. Estereótipos e ideias de superioridade racial também se fazem
presentes, já que Paes de Barros afirma que a colônia ali fundada dava a satisfação ao pai
de poder trabalhar com pessoas brancas. No entanto, Paes de Barros também apresenta a
desvantagem de que o trabalho livre era dispendioso em relação ao uso de mão de obra
escrava. (BARROS, 1999, p. 123-124)
Frente à análise, conclui-se que as memórias de Paes de Barros são de grande valia
no estudo das relações sociais escravistas e correspondem a uma fonte importante na
avaliação do cotidiano de uma fazenda escravista.
Relatório 6 - DIAS, Maria Odila Leite da Silva Dias, “Senhoras e ganhadeiras: elos
na cadeia dos seres”, in Quotidiano e Poder em São Paulo no século XIX. São Paulo:
Brasiliense, 1984, pp. 83-128.
REIS, João José, “A Greve Negra de 1857 na Bahia”, Revista da USP, n. 18, 1993,
pp. 6-29 (http://www.usp.br/revistausp/18/01-joaojose.pdf).
Maria Odila Leite da Silva Dias e João José Reis vão tratar sobre a escravidão
urbana no Brasil do século XIX nas cidades de São Paulo e Salvador, respectivamente. A
escravatura urbana assume diferentes faces em ambas as regiões abordadas e os autores
também delimitam recortes temporais distintos. Enquanto Reis trabalha com a escravidão
urbana e a greve de escravos de 1857, Dias enfoca a escravidão urbana paulista da primeira
metade do século XIX.
No aspecto cultural, Dias apresenta o costume de pagar rendas sobre o comércio por
parte das africanas de Daomé, além da jornada de trabalho de 4 dias comum, segundo a
autora, entre as africanas comerciantes da costa ocidental da África. (DIAS, 1984, p.133 e
p.126)
Ao analisar a greve de 1857, Reis aponta que o movimento era contrário a uma
postura municipal que definia a obrigatoriedade de uma concessão estatal para que os
escravos de ganho pudessem exercer seus ofícios (os ganhadeiros, especificamente, já que a
lei não tornava a licença obrigatórias às mulheres). Além disso, os escravos deveriam pagar
por essa licença e custear uma placa de identificação que deveria ser utilizada sempre que o
cativo estivesse exercendo atividades no “ganho”. (REIS, 1993, p.8).
Frente ao exposto, conclui-se que São Paulo e Salvador apresentam cenários bem
distintos em relação à escravidão urbana e às condições socioeconômicas de escravos e
proprietários.
Relatório 7 - MACHADO, Maria Helena, “Teremos grandes desastres, se não houver
providências enérgicas e imediatas”: a rebeldia dos escravos e a abolição da escravidão” in:
SALLES, Ricardo e GRIMBERG, Keila. Brasil Império. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2009.