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RPG!

Conheça o método que enxerga o corpo como um todo, corrige a postura


e ainda descobre a origem daquela dorzinha que andava incomodando.

Já que iremos falar de postura, que é do que trata a Reeducação Postural Global
(RPG), em primeiro lugar, sente-se direito. Apóie os dois ossos mais pontudos dos
glúteos (ísquios) na cadeira, mantenha os pés no chão, os ombros levemente para trás
e a coluna reta. Segure a revista à sua frente mantendo os cotovelos dobrados em um
ângulo de 120 graus. A posição da cabeça deve permitir que o olhar seja o mais
horizontal possível. Observe sua respiração: tente inspirar e expirar na mesma
medida. Pronto. Fique assim.
Talvez você esteja se sentindo um pouco “desalinhado” nessa posição. Acontece. A
maioria de nós não está acostumada a se portar como deveria com o corpo, e não so
por displicência. Existem fatores fora do nosso alcance que, literalmente, nos
entortam. A gravidade é um deles. Sua força nos comprime achatando músculos e
articulações, quadro piorado com as tenções do dia-a-dia, que enrijecem ainda mais
nossa maquina. Além disso, a RPG leva em conta um probleminha que todo mundo
tem mas que ninguém percebe: costumamos inspirar o ar, mas não o expiramos com
o mesmo vigor. A expiração acaba acontecendo pelo simples relaxamento dos
músculos inspiratórios. O resultado é uma descompensação muscular: os músculos
inspiratórios, de tanta musculação, ficam fortes e rígidos, enquanto os expiratórios só
são solicitados para gritar ou tossir (sabe aqueles músculos que ficam doloridos depois
de um dia tossindo muito? É deles que estamos falando).
Tudo isso provoca um desequilíbrio do corpo. E, já que precisamos de equilíbrio para
nos manter de pé, damos inicio a uma serie de compensações: colocamos a cabeça
para frente, elevamos os ombros, arrebitamos o bumbum, pisamos para dentro ou
para fora ou entortamos as cosas e por ai vai. Cada um reage de uma forma e assim
se criam as patologias.
Mas não é só culpa da natureza ou dos outros. Cada um tem sua cota de
responsabilidade de ler revista em uma posição desconfortável como essa que você
está agora? (Não vá me dizer que você relaxou.) A gente gosta é de se sentir no sofá
com os pés para fora, ou assistir à TV largado na almofada de qualquer jeito, certo? É
a famosa lei do menor esforço. “Quando nos acostumamos com uma maneira, ela se
torna a mais confortável e a que menos dispende energia. Se você, por exemplo,
começar a descer escada dez vezes por dia, vai precisar se alimentar um pouco mais,
ou seu corpo vai começar a dizer: estou com preguiça, não vá”, diz o presidente da
Sociedade Brasileira de RPG, Oldack Borges de Barros.

COMO NASCEU
Foi prestando atenção nesses detalhes que o fisioterapeuta francês Philippe Souchard
criou a RPG, no livro O Campo Fechado, de 1981. A obra é resultado de 15 anos de
pesquisa em anotomia, fisiologia e biomecânica, além de diversas terapias como
acupuntura, reflexologia e homeopatia. Uma das grandes mestras de Souchard foi
François Mézières (precursora da antiginástica), de quem foi aluno por 15 anos. Foi ela
quem criou a idéia das cadeias musculares, um dos princípios da RPG.
Quando varias pessoas dão as mãos e formam uma roda, o primeiro que se
desequilibra e cai sai puxando os outros. É assim com nossos músculos: eles estão
agrupados em cadeias musculares, que interferem umas nas outras. Se você torcer o
tornozelo direito e começar a mancar (é so um exemplo), vai enrijecer os músculos
posteriores da perna, dobrar o joelho, entortar a bacia, endurecer a coluna e elevar o
ombro esquerdo. Dias depois, o incomodo do tornozelo acaba e você não manca mais,
mas passa um tempo e você sente dor no ombro esquerdo. E ai? Tratar o ombro não
vai adiantar nada, se o problema está espalhando pelo corpo. Na RPG se começa da
dor para chegar à causa: quando você alinha o ombro, descobre a deformidade na
coluna, que colocada em seu devido lugar traz a tona o problema na bacia e assim vai,
até chegar ao tornozelo.
Essa é a principal diferença do método em relação à fisioterapia tradicional, que trata
apenas o local lesionado. E há estudos indicando que esse pequeno detalhe faz
diferença. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
diz que 70% das pessoas que tinham dores lombares e foram tratadas com RPG
relataram diminuição do sintoma a partir da décima sessão. Das submetidas à
fisioterapia tradicional, 40% responderam o mesmo.

NA PRÁTICA
A RPG tem oito posturas que trabalham o corpo todo simultaneamente, dando ênfase,
cada uma delas, a uma cadeia muscular. As posturas nada mais são que movimentos
lentos, graduais e progressivos que duram, em média, 20 minutos cada. A sessão de
RPG dura ma hora e os tratamentos variam de uma a dezenas de sessões, mas a
média é de 12 sessões. O objetivo é alongar e descomprimir o corpo, permitindo que
os músculos se automatizem a ficar nas posições fisiologicamente corretas. Dessa
forma podemos nos manter em posturas adequadas sem o esforço que você deve
estar fazendo agora, tentando manter a postura correta (você ainda está lá, né?).
Mas, antes que você jogue a revista na cadeira e comece a praticar RPG sozinho em
casa, é bom avisar: o tratamento é personalizado, pois parte do principio de que cada
pessoa é única. Ou seja, cada um se entorta de seu jeitinho especial. Por isso, sim, é
preciso ir a um especialista, nem que seja para descobrir que posturas são mais
adequadas a você e, principalmente, como faze-las corretamente. Quem tem algum
tipo de lesão não pode, de forma alguma, realizar o método sem o acompanhamento
de um fisioterapeuta com especialização em RPG.
Para os demais, se a grana estiver curta – no Brasil as sessões variam de 50 reais a
200 reais – até dá para fazer autoposturas seguindo passo a passo as instruções de
algum livro sobre o assunto – como é indicado para as pessoas que realizam o
tratamento e desejam manter os benefícios. Mas antes é essencial fazer uma avaliação
com um profissional.
Eu mesma fiz. Funciona assim: a partir da análise de sete zonas do corpo – cervical,
ombros, dorsal, lombar, bacias, joelhos e pés – e dos sintomas relatados pelo
paciente, o profissional indica os exercícios de respiração e as posturas a serem
seguidas. “Se não houver dor, procuro o que mais sai da fisiologia DO CORPO”, DIZ
Ana Cristina Igai.
Eu, por exemplo, me queixei de dor cervical e me indicaram algumas posturas. Antes,
porém, me ensinaram exercícios de respiração e, quando comecei a fazê-los, a
fisioterapeuta me disse: você precisa aprender a respirar. Achei curioso. Nunca pensei
que eu não soubesse respirar porque, bem ou mal, estou viva. Mas lembra da historia,
lá em cima, da defasagem das trocas? Pois é, sou mais uma vitima.
Ela me explicou que eu deveria soltar mais o ar, “enchendo o barrigão”. Mas eu não
conseguia. Por um momento desisti do exercício, mas logo engrenei de novo e tive a
ingenuidade de dizer: “Vou tentar outra vez”. “Outra vez? Por acaso em algum
momento você parou de respirar?”, disse ela. Entendi. Era para tentar o tempo todo, a
cada respiração, como você, que está ai, mantendo a postura o tempo todo, sem
esmorecer.
E assim foi a sessão, cheia de micos. Eu sempre querendo me movimentar mais rápido
e com mais força do que era preciso. Mas aprendi que, na RPG, devemos usar a força
natural dos gestos. E que, quanto maior o tempo em cada movimento, maior o
alongamento. É preciso paciência, porque os músculos precisam se acostumar às
novas posturas. Por isso propus aquele desafio a você no inicio da matéria. E aí, como
se saiu? Se não conseguiu se manter na posição até agora, pense bem: você pode
estar precisando de RPG.
AO ANDAR, SENTAR E NOS MOVIMENTAR, USAMOS A LEI DO MENOR ESFORÇO. O
RESULTADO É QUE AS POSTRAS MAIS CONFORTÁVEIS NEM SEMPRE SÃO AS MAIS
CORRETAS. RPG NELAS!

OS MÚSCULOS ESTÃO INTERLIGADOS. NÃO ADIANTA TRATÁ-LOS ISOLADAMENTE

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