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DEUS, CRISTO E CARIDADE

FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

DEUS, CRISTO E CARIDADE ANO 134 | N° 2.253 | DEZEMBRO 2016

FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

DEUS, CRISTO E CARIDADE

JESUS,
O GOVERNADOR
ESPIRITUAL DA TERRA
“Por ser um Espírito puro, Jesus
Cristo já percorreu todos os estágios
da evolução espiritual...”
9 771413 1740 08
ISSN 1413 - 1749

Ciclos dos mundos


FSC Nas pegadas do Apóstolo Paulo
R$ 10,00 Oração do Natal
CHEGA ÀS LIVRARIAS A EDIÇÃO ATUALIZADA DE

Espiritismo
passo a passo
com Kardec
Os estudiosos da Doutrina
Espírita encontrarão neste
livro de Christiano Torchi
uma visão panorâmica do
Espiritismo calcada na obra
kardequiana, contextualiza-
da de tal modo que o leitor
moderno tem a impressão
de que a Codificação
Espírita é da época atual.
Expediente Sumário

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4 Editorial
O maior presente

Fundada em 21 de janeiro de 1883 5 Capa


Fundador: Augusto Elias da Silva Viver o Natal – Mário Frigéri
8 Ciclos dos mundos – Christiano Torchi
12 Precisamos de Evangelho – Clara Lila Gonzalez de Araújo
Revista de Espiritismo Cristão 15 Entrevista
Ano 134 | N° 2.253 | Dezembro 2016 Fábio Souza de Carvalho – Seja solidário, adote uma criança
ISSN 1413-1749 18 Oração – André Luiz (Espírito)
Propriedade e orientação da Federação
Espírita Brasileira 19 Nas pegadas do Apóstolo Paulo – Divaldo Pereira Franco
Diretor: Jorge Godinho Barreto Nery
Editor: Evandro Noleto Bezerra 21 Petitinga e Miranda – Histórias entrelaçadas
Redação: Affonso Borges Gallego Soares, Geraldo pelo ideal espírita – André Luiz Peixinho
Campetti Sobrinho, Hélio Blume, José Carlos da Silva
Silveira e Marta Antunes de Oliveira de Moura 24 Um conto para o Natal – Patrícia Carvalho Saraiva Mendes
Jornalista Responsável: Carlos Roberto Campetti
- DRT DF 539/83 26 A quarta vela – Richard Simonetti
Coordenadora da Editora: Rosiane Dias Rodrigues
Projeto gráfico: Eward Siqueira Bonasser Jr. 29 Deus, o Cristo e nós – Luiz Julião Ribeiro
Diagramação: Rones Lima – www.bookebooks.com.br
Revisão: Mônica Santos 32 Esflorando o Evangelho
Brasil Espírita: Mayara Paz Costa
Capa: Arte Rones Lima Transitoriedade/Pasemeco – Emmanuel
Foto: Nasa Gallery | Earth
33 A questão das assinaturas de Espíritos – Wesley Caldeira
Registro de publicação n° 121.P.209/73 (DCDP do
Departamento de Polícia Federal do 38 Filhos e drogadição – Alessandro Viana Vieira de Paula
Ministério da Justiça)
CNPJ: 33.644.857/0002-84 41 Falando de livro
I.E.: 81.600.503 Jesus de Nazaré: Uma narrativa da vida e das parábolas
FEB Editora
Direção e Redação
SGAN 603 Conjunto F — L2 Norte 43 Oração do Natal – Humberto de Campos (Espírito)
CEP: 70830-106 — Brasília (DF)
redacao.reformador@febnet.org.br 46 Frederico Fígner
////////////////
150 anos de nascimento (1866–2016)
www.febnet.org.br Samuel Nunes Magalhães
feb@febnet.org.br
52 Em Dia com o Espiritismo
PARA O BRASIL Vamos convidar Jesus para visitar o nosso lar?
Assinatura anual: R$ 100,00 Marta Antunes Moura
Assinatura digital anual R$ 30,00
55 O átomo espiritual – Cleber M. Gonçalves
PARA O EXTERIOR
Assinatura anual: US$ 100,00 58 O envelhecimento, a doença de Alzheimer
Contatos para Assinatura:
e a espiritualidade – Carlos Eduardo Accioly Durgante
Tel.: (61) 2101.6153
www.feblivraria.com.br
www.souleitorespirita.com.br 61 Brasil Espírita
Editorial

O maior presente
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D
ezembro! Natal! Paz! ções, prometeu um consola- para as Verdades divinas que
Mês, comemoração, sen- dor e um reino que não é deste ­libertam.
timento. mundo. O maior presente de Natal
Dezembro é o período em De volta, pela segunda vez, é aplicar na vida de relação uns
que o nascimento de Jesus e a convoca todos à autoilumina- com os outros a exemplificação
paz entre os homens são recor- ção, a conhecer-se a si mesmo do amor e da caridade, confor-
dados. No entanto, a lembrança e a construir um mundo novo, me Ele ensinou.
mais evidenciada é a do Papai um mundo de paz. Cultivar a benevolência, a
Noel, do pinheiro, da neve e Se há o desejo de presentear indulgência, o perdão; destruir
dos presentes, apesar do ani- Jesus na data de seu aniversário, internamente o homem velho,
versariante ser o Mestre Jesus, o que as suas pegadas sejam se- enquanto se constrói os valores
meigo Rabi da Galileia, Guia e guidas e seus ensinos aplicados. morais ainda adormecidos; de-
modelo da Humanidade. Atualmente, a Doutrina Es- sejar ao próximo o que gostaria
A presença de Jesus na Ter- pírita vem restituir a pureza das para si; e construir a paz interior
ra, há dois mil anos, objetivou belas lições que Ele nos legou, é o maior presente a ser ofere-
lembrar à Humanidade as Ver- repetindo-as, esclarecendo-as, cido a si próprio e ao C ­ risto na
dades divinas das quais os ho- iluminando e consolando os instalação de um mundo melhor
mens se afastaram, esqueceram corações aflitos e sedentos de e na efetivação da paz na Terra.
e abandonaram. conforto como outrora fizera O mundo de paz só será
Esteve entre nós para expor na Palestina. construído com a aplicação das
e vivenciar o Amor em excel- Lembrar Papai Noel, pi- Verdades reveladas por Jesus
situde, a fim de que a Humani- nheiro, neve, presentes mate- que, desde o momento de sua
dade jamais esquecesse da sua riais é atender aos apelos do chegada na manjedoura, anun-
presença e dos seus inigualáveis mundo, no entanto, jamais es- ciou o destino da Terra: “Glória
exemplos. Revelou palavras de quecer o apelo do Mestre Jesus a Deus nas alturas, paz na Terra,
vida eterna, exemplificou-as, que aguarda, há dois mil anos, boa vontade entre os homens.”
iluminou as mentes e os cora- o despertar das consciências Feliz Natal!

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C a pa

Viver o Natal
“Jesus era alegre e, apesar da vida trágica que viveu, deixou uma
mensagem de alegria para todos aqueles que desejassem alimentar-se
de seu Evangelho e seguir seus luminosos passos.”

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Mário Frigéri
mariofrigeri@uol.com.br

É
costume entre os escritores recendo palitos de fósforo aos Cansada e um pouco desa-
do mundo inteiro estampar raros passantes que buscavam nimada, sentou-se num desvão
nos jornais um conto triste apressadamente seus lares. Seus da esquina, encostando-se à pa-
na véspera de Natal para sensibi- pés descalços tocavam e absor- rede áspera de uma velha casa.
lizar o coração de seus leitores. Eu viam a frieza do solo, porque ela Seus pezinhos estavam conge-
não tenho nenhum conto inédi- havia perdido seus chinelinhos lados e ela sentia cada vez mais
to e tocante para contar à meia na neve ao fugir pouco antes de frio, mas não tinha coragem de
dúzia de amigos que me leem uma carruagem desgovernada. voltar para casa, porque não ha-
por desfastio, por isso vou rees- Não havia vendido nada até via conseguido nem um tostão e
crever e condensar um de Hans aquele momento e ninguém, seu pai poderia surrá-la por isso.
­Christian Andersen (1805–1875) nem mesmo por caridade, lhe Além de tudo, sua casa também
sobre uma menininha pobre que oferecera qualquer moedinha era tão fria quanto aquela rua.
vendia fósforos, imprimindo-lhe de alguns vinténs. Trêmula e Com as mãozinhas trêmulas
meu colorido pessoal. faminta continuou caminhan- ela pegou um palito de fósforo e
Fazia muito frio naque- do pela rua quase deserta, sen- pensou em riscá-lo para aque-
la noite escura e a neve estava tindo o cheiro delicioso da ceia cer-se um pouco. Conseguiu
caindo mansamente. Era vés- de Natal que se evolava das ca- esfregá-lo contra a parede, e a
pera de Natal e as luzes festivas sas. “Ah, é véspera de Natal...” sua chama quente e colorida
brilhavam através da vidraça lembrou-se, tão perdida estava parecia uma vela! A garotinha
das janelas. Uma garotinha po- em seus pensamentos, recor- inocente sentiu-se como se es-
bre, vestida com uma roupinha dando-se dos familiares, que a tivesse sentada diante de uma
limpa, mas remendada, e sem aguardavam em casa, à espe- grande fogueira. Como era gos-
nenhuma proteção na cabeça, ra de alguns trocados que lhes toso sentir o calor que aquela
caminhava pelas vielas, ofe- ­diminuíssem a miséria. chama lhe transmitia! Logo que

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a luz se apagou, riscou outro, e amava tanto e que um dia lhe ha-
mais outro, e mais outro... via dito: “Quando uma estrelinha
Levantando-se um pouco até risca o céu é porque uma alma
a vidraça e voltando o rostinho está subindo para Deus”.
para dentro da casa, pôde ver no Riscou então o último fósforo
meio da sala uma mesa cober- que trazia e viu dentro de sua luz
ta com uma toalha alva como a a imagem da avozinha querida,
neve, e sobre a toalha finíssimas tão linda, tão meiga, tão doce!
porcelanas para o jantar. O ganso “Vovó”, murmurou, já quase sem
assado sobre a mesa, e rechea- forças, “me leve com você! Eu sei
do com ameixas e maçãs, enchia que quando o fósforo se apagar a
o ar com um cheiro delicioso e senhora vai desaparecer também”.
convidativo. Ela estava tão tres- A sua avozinha nunca lhe pareceu
passada que teve a impressão de tão bela e graciosa! Vovó então
que o ganso, vendo-a tão triste e pegou a menininha nos braços e
sozinha, saltara da travessa e viera foi voando para bem longe deste
correndo em sua direção... Nes- mundo, deixando atrás de si uma
se momento o fósforo se apagou esteira evanescente de luz. Ela es-
e ela, caindo na realidade, se viu tava levando a garotinha para um
olhando novamente apenas para lugar distante onde não havia frio,
aquela parede fria na qual se en- nem fome, nem medo, nem falta
costara. Coitadinha! Parece que já de amor... um lugar onde é a mo- certamente a acolheriam alegre-
estava delirando de fome e frio... rada de Deus. mente em seu lar, o que realmen-
Acendeu outro fósforo e em Na manhã seguinte os tran- te aconteceu. E logo em seguida,
sua luz maravilhosa imaginou- seuntes encontraram uma me- todos iriam visitar a família da
-se sentada sob uma linda árvore nininha deitada na neve, com o menininha para levar uma parte
de Natal. Centenas de lâmpadas rostinho encostado na parede, da ceia e confraternizar com ela
piscavam em seus ramos verde- trazendo um sorriso doce na pelo resto da noite. E assim tudo
jantes. A menininha estendeu os face – ela havia morrido de frio terminaria entre luzes e festas.
braços em direção a elas e seu fós- na véspera de Natal. E as pessoas, Seria ingênuo imaginar que
foro se apagou. As luzes pareciam vendo tantos palitos de fósforo no mundo inteiro, com peque-
estar cada vez mais distantes. queimados em seu derredor, di- nas variações, não aconteçam
Então percebeu que já não eram ziam umas para as outras: “Ela dramas como esse, mas isso é
mais as pequeninas lâmpadas da queria se aquecer, pobrezinha!” decorrente da frieza do coração
árvore que estava olhando, mas humano e não do Natal de Je-
as estrelas do céu que tremelu- O outro Natal sus. Jesus era alegre e, apesar da
ziam no infinito, entre nuvens Imagino outro final para esse vida trágica que viveu, deixou
escuras, sobre a sua cabeça. Nes- conto, um final feliz. A avozinha uma mensagem de alegria para
se momento viu uma estrela ca- diria à querida neta que batesse todos aqueles que desejassem
dente cortar o céu e lembrou-se à porta daquela casa, pois seus alimentar-se de seu Evangelho
de sua avozinha, já falecida, que a moradores eram bondosos e e seguir seus luminosos passos.

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xima. Segundo Jesus, o homem passa a entender a impermanên-
que descobre o Reino dos Céus cia das coisas, convertendo-se
vai e, “transbordante de alegria”, em senhor de sua vida e não em

Fonte: http://www.havemix.com/wp-content/uploads/2015/08/americas-nasa.jpg
vende tudo o que tem para ad- escravo de seus credores.
quirir aquele reino. “A vossa tris- É claro que, se Andersen,
teza se converterá em alegria”, como profundo conhecedor da
disse Ele a seus seguidores pre- psicologia humana e de sua vo-
sentes e futuros. “Outra vez vos cação para o trágico e o patéti-
verei, o vosso coração se alegrará co, tivesse encerrado seu conto
e a vossa alegria ninguém poderá com um final feliz, ele não teria
tirar. Até agora nada tendes pedi- feito tanto sucesso. Há em tudo
do em meu nome; pedi e recebe- isso certa inversão de valores, a
reis, para que a vossa alegria seja mesma inversão que ocorre nos
completa”. E no dia da ascensão, dias de hoje, principalmente no
abençoou seus discípulos e exor- que tange aos valores espiri-
tou-os a irem por todo o mundo tuais. Para dar um exemplo sim-
pregar a todas as criaturas a Boa- ples, basta lembrar que, graças
-Nova, a boa notícia, a notícia al- ao martelante comercialismo
vissareira da ressurreição. da mídia e à passiva indiferença
Contrariando a essência pa- dos pais, Papai Noel, na época
cífica e jubilosa da mensagem do Natal, faz mais sucesso no
O Natal de Jesus, cuja mensa- evangélica, estudos e estatísti- coração das crianças do que o
gem se estende radiosa por toda cas revelam que nessa época de próprio Jesus, que é a estrela do
a sua existência, traduz júbilo e festas muitas pessoas se sentem dia. O certo seria que o simpá-
felicidade, desde o anúncio de solitárias e tristes no recesso de tico e repolhudo velhinho fosse
seu nascimento feito pelos an- seus lares, enquanto outras se apenas um coadjuvante da ale-
jos, que traziam ao mundo “uma tornam consumistas por com- gria geral, e não o protagonista.
Boa-Nova de grande alegria pulsão, comprometendo seu Está nas mãos dos operários
para todo o povo”, até suas últi- orçamento por todo o ano se- da Nova Era o restabelecimen-
mas palavras de perdão na cruz, guinte. São transtornos psicoló- to desse equilíbrio no mundo
porque o perdão só pode nascer gicos de comportamento e sua e o resgate da manifestação do
de uma alma jubilosa e nunca de solução é muito simples, está no verdadeiro sentimento natali-
um coração amargurado. Evangelho, e só não a encontra no nos corações humanos. Eles
Muitas vezes o Evangelho diz quem não a procura. Quando o devem ensinar o ser humano a
que Jesus exultava em espírito e ser humano entroniza o Evange- vibrar de felicidade nessa época
agradecia a Deus pelas revelações lho no coração, o solitário triste e não só a festejar o Natal, mas a
que o Pai lhe permitia transmitir se torna solidário feliz, dando e vivê-lo nos seus corações.
aos pequeninos. Outras vezes, recebendo afeto em seu relacio- A viver e sentir o Natal, aci-
Ele exortava o povo a se alegrar e namento com a comunidade, e o ma de tudo, com Jesus, porque
erguer as suas cabeças, porque a esbanjador compulsivo se torna sem Jesus pode haver Papai
redenção de cada um estava pró- adquirente moderado, porque Noel, mas não há Natal.

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Ciclos dos mundos
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Christiano Torchi
christiano.torchi@gmail.com

E
m continuidade ao es- o mundo teve um começo e é presidida por “uma única lei,
tudo sobre a formação teria um fim, como todas as primordial e geral”, que “foi ou-
dos mundos (criação), coisas que conhecia. Esse era torgada ao Universo, para lhe
objeto do capítulo III de O um princípio claramente es- assegurar eternamente a es-
livro dos espíritos, os benfei- tabelecido na mitologia grega. tabilidade, e que essa lei geral
tores foram claros ao respon- [...] Algumas religiões estão nos é perceptível aos sentidos
der, nas questões 41 e 42, que impregnadas da noção de um por muitas ações particula-
“[...] Deus renova os mundos, ciclo, com princípio e fim, se- res”, designadas como “forças
como renova os seres vivos” guindo-se um recomeço, pela diretrizes da Natureza”, cuja
e que só o Criador conhece a ressurreição. [...] harmonia, “considerada sob o
duração da formação dos pri- Pois bem. A astrofísica admite duplo aspecto da eternidade e
meiros, aí incluída a Terra. hoje um movimento de pulsa- do espaço, é garantida por essa
Na época da Codifica- ção no universo. Para um bom lei suprema”. E arrematam mais
ção, ainda prevalecia a ideia número de cientistas, quando o adiante, ainda em A gênese:
­newtoniana ou clássica de um universo atingir seu ponto má-
Universo estático, que caiu
­ ximo de expansão ele começa- [...] nascimento, vida e morte;
definitivamente por terra no rá a se retrair [Big ­Crunch],1 até ou infância, virilidade, decre-
século XX, com o advento da o ponto de explodir de novo e pitude são as três fases por que
teoria da relatividade e desco- assim por diante.2 passa toda aglomeração de ma-
bertas posteriores: téria orgânica ou inorgânica.
No item 48, sob o título Indestrutível, só o Espírito, que
Luz e trevas. Há, porém, um “Eterna sucessão dos mundos”, não é matéria. (Galileu, Socie-
curioso parentesco entre as do capítulo VI, de A gênese, dade de Paris, 1868.)3
concepções mais modernas quinta obra básica codificada
da astrofísica e as crenças por Allan Kardec, lançada em A partir dessas lições, de-
mais antigas da humanidade. 1868, os Espíritos asseveram preende-se que há uma neces-
Desde o princípio, o homem que a destruição dos astros, sidade evolutiva, regida por
desenvolveu a ideia de que tanto quanto a sua formação, leis imarcescíveis, que abarca

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a existência dos mundos. Do dos Espíritos, os quais vieram chega até aqui, elas mesmas já
ponto de vista da matéria inor- a lume numa época de escassos não existem.7
gânica, essa evolução efetua-se recursos tecnológicos e foram
por meio de uma atividade cí- emitidos de forma genérica, sem Nessa equação dos ciclos,
clica ou rotativa, com início, os detalhes dos modelos que é impossível ignorar outro in-
meio e fim, tal como acontece compete aos cientistas formular. grediente básico – o tempo –,
com os corpos dos seres vivos Colhe-se da cátedra da Univer- o que levou Kardec a indagar,
(orgânicos), que tem como sidade as seguintes informações: na questão 42 de O livro dos
propósito central o Espírito espíritos, sobre a duração da
que, apesar de ser indestrutível, Uma estrela é uma imensa es- formação dos mundos, o que
também experimenta a ação fera de gás que gera energia em implica na medição da idade
dos ciclos da Natureza: seu centro através de reações de do planeta Terra. Esta é uma
fusão nuclear. Ela difere de um questão que há muito desafia
[Essas mesmas leis e forças] planeta exatamente pelo fato a inteligência dos cientistas. A
vão também presidir à desagre- de este não ter fonte interna idade da Terra e do Universo
gação de seus elementos cons- de energia nuclear. As estrelas, é de grande importância para
titutivos, a fim de os restituir sem exceção, nascem, vivem e... as teorias cosmológicas.8 No
ao laboratório onde a potência morrem! Embora o nascimen- decorrer do tempo, surgiram
criadora haure incessantemen- to de todas as estrelas ocorra várias maneiras de “contar” os
te as condições da estabilida- de forma semelhante, sua vida anos de vida dos sistemas:
de geral. Esses elementos vão e sua morte dependem de di-
retornar à massa comum do versos parâmetros, entre eles a Em 1654, o arcebispo Usher,
éter,4 para se assimilarem a ou- composição química e, princi- da Irlanda, fez uma árvore ge-
tros corpos, ou para regenera- palmente, a massa. [...]6 nealógica dos personagens da
rem outros sóis. E a morte não Bíblia e concluiu que a Terra
será um acontecimento inútil, [...] Até mesmo o Sol, que é foi criada às 9 horas da manhã
nem para a Terra que conside- uma estrela (e não das maio- de 26 de outubro do ano 4004
ramos, nem para suas irmãs. res), um dia também vai aca- a.C. Teria hoje, portanto, cerca
Noutras regiões, ela renovará bar. Um dia daqui a cinco de 6.000 anos.9
outras criações de natureza di- bilhões de anos... Com teles-
ferente e, lá onde os sistemas cópios poderosos e a ajuda Com o progresso tecnoló-
de mundos se desvaneceram, de observatórios espaciais, os gico, os cientistas passaram a
em breve renascerá outro jar- astrônomos conseguem ver as adotar métodos quantitativos
dim de flores mais brilhantes e transformações das estrelas. mais objetivos de contagem da
mais perfumadas.5 E descobriram, entre outras idade do planeta, a exemplo da
coisas, que quando olhamos observação da espessura das ca-
As descobertas da ciência para o céu, uma parte das es- madas de areia e perda de calor
humana, na atualidade, sobre trelas que vemos já morreu há da Terra, os quais foram, com o
o nascimento, a vida e a morte muito tempo. A sua distância passar do tempo, sendo subs-
das estrelas (ou sóis), guardam de nós era tão grande que, tituídos por outros de maior
semelhança com os ensinos quando a luz que emitiram precisão. Com isso, os pesqui-

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sadores foram descobrindo, desse método [também conhe- embrionária do planeta não
gradualmente, que a idade do cido como “datação radioativa”] foram encontradas e provavel-
planeta era bem maior do que só foi possível depois da desco- mente não existem mais. Por-
inferiam, a princípio. berta da radioatividade (1896), tanto, a idade da Terra não pode
Departamentalizando suas no final do século XIX. [...] ser obtida diretamente de mate-
descobertas, os cientistas de- Cada grão mineral é um cro- rial terrestre. (Grifos nossos.)
nominaram “geocronologia” o nômetro do tempo geológico. Então como saber que a Terra
ramo da Geologia que estuda Assim que ele se forma, tem tem essa idade? Os cientistas
os métodos de determinação início o decaimento radioativo. presumem que todos os corpos
do tempo geológico registrado [...]10 (Grifos nossos.) do Sistema Solar se formaram
nas rochas. na mesma época [hipótese ne-
O Instituto de Geociências Segundo a referida institui- bular], inclusive os meteori-
da USP informa em seu site que ção de Geociências, apurando tos (provenientes do cinturão
existem, atualmente, dois mé- a quantidade de determinado de asteroides). Sendo assim,
todos de saber a idade de uma elemento presente em um mi- como os meteoritos são corpos
rocha – o método relativo e o neral (chamado “elemento- extraterrestres que caem na su-
método absoluto: -pai”) e a quantidade de outro perfície da Terra, eles podem
(identificado como “elemen- ser datados e sua idade é a mes-
O método relativo observa a re- to-filho”), é possível saber há ma da formação do planeta, ou
lação temporal entre camadas quanto tempo está acontecen- seja, 4,56 bilhões de anos. Esta
geológicas, baseando-se nos do o decaimento radioativo, e, idade foi determinada, pela
princípios estratigráficos de Ste- via de consequência, estimar primeira vez, por Claire Patter-
no (1669) e Hutton (1795). Por quando o mineral se formou. son em 1956, usando os isóto-
exemplo, a presença de fósseis; Conclui a mencionada página: pos de chumbo (Pb).
onde se conhece o período de Nos Estados Unidos existem
tempo da existência dos mes- A idade da Terra foi calculada correntes religiosas que ain-
mos, pode-se indicar a idade pelo método absoluto e indi- da defendem a idade de 6.000
da camada geológica em que ca que o nosso planeta tem anos para a Terra e lutam para
o fóssil foi encontrado e, por 4,56 bilhões de anos, portanto, que isso seja ensinado nas es-
relação, indicará que a camada bem mais velho do que os es- colas, juntamente com a teoria
que está abaixo dessa é mais tudiosos antigos imaginavam. criacionista (Deus é criador do
velha e a camada que está por Porém, o registro mais antigo Homem e do Planeta, como
cima é a mais nova. do planeta, determinado em está escrito na Bíblia), em de-
cristais contidos em rocha, tem trimento da teoria da evolução
O método absoluto utiliza os 4,4 bilhões (Austrália). A Terra de Darwin, que, com o méto-
princípios físicos da radioativi- está em constante mudança. do absoluto de datação e uma
dade e fornece a idade da rocha Sua crosta está continuamente Terra com bilhões de anos, se
com precisão. Esse método está sendo criada, modificada e des- torna incontestável.10
baseado nos princípios da de- truída (saiba mais sobre o ciclo
sintegração (ou decaimento) das rochas). Como resultado, Por estas considerações
radioativa. Desta maneira, o uso rochas que registram a história emanadas dos cientistas pare-

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ce-nos razoável deduzir que [...] REFERÊNCIAS:
os Espíritos foram humildes, Do hidrogênio às mais com- 1
Trata-se de uma situação na qual a
ao reconhecer que somente o plexas unidades atômicas, é densidade média de matéria no Uni-
verso é suficientemente grande para
Criador sabe o número de sécu- o poder do espírito eterno frear a expansão, fazendo com que a
los ou milênios que dura a for- a alavanca diretora de pró- mesma reverta o seu sentido, agora
mação dos mundos, sobretudo tons, nêutrons e elétrons, na num cenário de contração, mediante
a interação gravitacional mútua en-
se levarmos em consideração estrada infinita da vida. [...] tre os corpos celestes. Como após a
que o Fluido Cósmico Univer- Entretanto, nesse mesmo es- retração pode haver um novo colapso,
tem-se assim um evento cíclico.
sal, de onde se origina a matéria paço, alonga-se a matéria
densa, é imponderável aos apa- noutros estados, e, nesses ou-
2
REVISTA VEJA. Ciência. Ecos do Big
Bang. n. 1.232, 29 abr. 1992, p. 65-66,
relhos humanos, conforme en- tros estados, a mente desen- São Paulo, Ed. Abril.
sinam os Espíritos Superiores. carnada, em viagem para o 3
KARDEC, Allan. A gênese. Trad.
No ano de 1949, quando conhecimento e para a virtu- Guillon Ribeiro. 53. ed. 4. imp. (Edi-
veio a lume a obra Libertação, de, radica-se na esfera física, ção Histórica.) Brasília: FEB, 2016.
cap. 9, it.15.
psicografada pelo médium buscando dominá-la e absor-
4
O modelo de éter do século XIX foi
Francisco Cândido Xavier, o vê-la, estabelecendo gigantes-
abandonado, mas o avanço científico
Espírito André Luiz reproduziu ca luta de pensamento que ao exigiu a introdução de novos entes
palestra de um mentor espiri- homem comum não é dado semelhantes ao antigo. Sobre o éter,
confira-se o artigo do prof. Roberto
tual que, de algum modo, toca ­calcular.11 (Grifos nossos.)
de Andrade Martins, disponível em:
neste enigmático assunto: <http://www.ghtc.usp.br/server/
Estes ensinamentos, bem pdf/Sci-Am-eter-2.PDF>. Acesso em:
28 ago. 2016.
Cada espécie de seres, do cristal compreendidos, constituem gran-
de estímulo para nós outros, en-
5
KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guil-
até o homem, e do homem até
lon Ribeiro. 53. ed. 4. imp. (Edição
o anjo, abrange inumeráveis carcerados, temporariamente, no Histórica.) Brasília: FEB, 2016. cap.
famílias de criaturas, operan- escafandro do corpo físico, pois 6, it. 50.
do em determinada f­ requência eles nos dão a certeza de que nada 6
Disponível em: <goo.gl/UdhDSD>.
morre, mas tudo se transforma. Acesso em: 28 ago. 2016.
do Universo. E o amor divino
alcança-nos a todos, à maneira Eles são um convite per- 7
Disponível em: <goo.gl/wzI99d>.
Acesso em: 28 ago. 2016.
do Sol que abraça os sábios e manente de renovação e de
esperança, estimulando-nos
8
A compreensão da formação dos pri-
os vermes.
meiros elementos químicos, denomi-
Todavia, quem avança demo- sempre a meditar na sabedo- nada nucleossíntese primordial, tem
ra-se em ligação com quem se ria do Criador, cujos desígnios, oferecido importantes prospectos
nesse sentido. Para mais informações,
localiza na esfera próxima. profundamente sábios, foram consultar <goo.gl/wgudjY>. Acesso
O domínio vegetal vale-se do concebidos para a nossa ven- em: 28 ago. 2016.
império mineral para susten- tura, que repousa nas forças do 9
Disponível em: <goo.gl/eRo1YG>.
tar-se e evolutir. Os animais Amor indelével que nos irma- Acesso em: 28 ago. 2016.
aproveitam os vegetais na obra nará num mundo ditoso ou fe- 10
Disponível em: <goo.gl/WrQ4VB>.
do aprimoramento. Os homens liz, mundo esse que começa em Acesso em: 28 ago. 2016.

se socorrem de uns e outros nosso interior, em cada pensa- 11


XAVIER, Francisco C. Libertação.
Pelo Espírito André Luiz. 33. ed. 5.
para crescerem mentalmente e mento, em cada ato que prati- imp. Brasília: FEB, 2016. cap. Ouvindo
prosseguir adiante... camos diariamente. elucidações.

Dezembro de 2016 | Reformador 11 713


Precisamos de Evangelho
“Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados que eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando
e humilde de coração e achareis repouso para as vossas almas, pois é
suave o meu jugo e leve o meu fardo.” (Mateus, 11: 28 a 30.)

///////////////////////////////////////////

Clara Lila Gonzalez de Araújo


claralilazez@gmail.com

A
lguns tarefeiros, talvez, condições de melhor aplicar as e dignificantes demonstradas na
digam que quase não valiosas e abençoadas lições em aplicação do Evangelho.
dispõem de tempo para nosso dia a dia. O título do presente artigo foi
maior estudo do Evangelho. Co- Nas preces diárias recorre- escolhido para homenagear um
mentam que se dedicam às lei- mos a Ele sem, contudo, nos estimado irmão de nossas rela-
turas dos ensinamentos de Jesus, transformamos moralmente, ções, que possui problemas neu-
mas que infelizmente, não con- conforme suas orientações e rológicos, o que o faz ter grandes
seguem dedicação especial para conselhos nos belíssimos capí- limitações físicas, especialmente
um necessário aprofundamento. tulos e versículos registrados pe- na fala, e em sua capacidade de
De que forma ampliar o tempo los evangelistas Mateus, Lucas, agir racionalmente. Entretanto,
utilizado para obtenção de co- Marcos e João. Ao interpretar por várias vezes, notamos sua
nhecimentos mais sólidos das as passagens de sua trajetória na condição de Espírito nobre tendo
máximas cristãs? E, como saber Terra, a sensação que temos é de para conosco o maior carinho e
aproveitá-las devidamente? emoção e de alegria a ponto de distinção. Nosso amigo foi edu-
Em meio às vibrações nata- conseguirmos, nesses momen- cado por sua generosa e dedicada
linas que se aproximam, seria tos, vislumbrar as doçuras do mãe, viúva desde cedo, tendo a
interessante refletirmos sobre a Reino de Deus em nós, fazen- Doutrina Espírita como suporte
questão, pois sabemos que por do-nos sentir a verdadeira feli- maior e o Evangelho como guia,
mais que tenhamos disposição cidade de podermos nortear os sobretudo, para com as demais
de compreender as palavras de nossos destinos, à luz dos seus pessoas com quem se relaciona
vida eterna do Mestre Jesus, não maravilhosos preceitos de amor, fraternalmente, tornando-se um
conseguimos a melhoria espiri- que nos conclamam a amar a indivíduo simpático, alegre e
tual que tanto ansiamos conquis- Deus e a todas as criaturas. amistoso, nessa difícil encarna-
tar. Como tem sido difícil o nosso A história abaixo ilustra, re- ção. O que mais chama a atenção
entendimento! Ainda nos faltam sumidamente, maneiras diversas das criaturas que se aproximam

714 12 Reformador | Dezembro de 2016


dele é quando exclama com viva- afeição e consistente amizade, tos, como se não aceitássemos
cidade, apontando-lhes o dedo e que os faz solidários entre si. os infortúnios que nos atingem,
dizendo: “você precisa de Evan- A grande seareira, que Deus culpando a má sorte por não
gelho”! Elas sorriem e aceitam nos permitiu reencontrar nes- conseguirmos viver uma vida de
surpreendidas, a advertência. sa existência, e mãe desses dois ilusões e de glórias efêmeras.
Nesses momentos, ele parece es- seres, é a notável vencedora des- A Doutrina Espírita nos
tar absolutamente convicto do sa história do mundo material, ensina que só seremos verda-
que diz e aqueles que não o co- cumprindo com a sua missão deiramente livres quando nos
nhecem se sentem embaraçados maternal e exercendo os seus ­libertarmos dos preconceitos, do
ao ouvirem essa verdade incon- compromissos como espírita, du- egoísmo, da ambição desmedida,
dicional. Quando estamos ao seu rante mais de 70 anos, no traba- da mentira, do fanatismo. O es-
lado, também somos alvos do seu lho da Evangelização de crianças critor espírita Indalício Mendes
chamamento e, ao exclamarmos e jovens e como médium, modes- (1901–1988), deixou-nos muitas
amigavelmente, “você também ta e devotada, nas tarefas que tão contribuições nos seus artigos
precisa de Evangelho!”, ele res- bem executou por amor a Jesus em Reformador. Ao dissertar so-
ponde risonho: “Eu não. Eu já e ao Espiritismo. Nesse ano, essa bre a necessidade de evangeliza-
tenho Evangelho!” mãe retornou à Pátria Espiritual ção, enfatizou:
De uns tempos para cá, co- onde foi recebida, com efusivos
meçamos a achar que o nosso preitos de sincera gratidão, por Ora, a Doutrina Espírita é de
companheiro tem toda razão, seus mentores e amigos espiri- essência evangélica. Foi cal-
pois, sem dúvida, precisamos de tuais. Seus amados filhos ainda cada no pensamento de Jesus.
Evangelho, e ele parece conhecê- permanecem encarnados. [...] Quantos, porém, se lem-
-lo muito mais do que nós! Basta Será que teríamos Evangelho bram disso, quando divergem?
olharmos para a vida desse que- suficiente para praticarmos se- Perdem o sentido da solida-
rido ser. Quantos sacrifícios não melhante exemplo? riedade, porque não estão de
foram ultrapassados para supe- Ao acenar para nós que deve- acordo, direito que lhes assiste
ração da dor e da renúncia, tor- ríamos segui-lo se estivéssemos e que deve ser respeitado, mas
nando esse Espírito valoroso e fe- aflitos e sobrecarregados, pois enveredam facilmente pelo an-
liz – pois é assim que o vemos –, nos aliviaria de todo sofrimen- tro da intolerância, o que não
na abençoada luta que trava para to, fazendo-nos experimentar constitui direito, mas abuso do
agir no mundo como um seareiro o seu jugo suave e o seu fardo ­livre-arbítrio de que dispõem.
de Jesus, mesmo considerando as leve, Jesus queria dizer-nos que Acreditam na própria infalibi-
enormes restrições que encontra por maiores que sejam as nossas lidade e não perdoam aqueles
para viver! Além disso, sua irmã provas elas seriam amenizadas que, humanos e não deuses,
também é portadora de deter- pela sua infinita generosidade e possam também errar. Em vez
minados problemas de saúde por seu acréscimo de misericór- da divergência serena, fazem
que não lhe permitiram ter um dia. Segui-lo significa acatar suas críticas azedas, nem sempre
desenvolvimento saudável, oca- bem-aventuranças, demonstran- com razão; atacam, polemizam
sionando diminuições sérias em do que mais vale agir com hu- e, o que é curioso, depois dis-
sua capacidade cognitiva e emo- mildade do que nos tornarmos so tudo, ainda se consideram...
cional. Entre os dois há extrema prepotentes, rebeldes, insatisfei- cristãos ou espíritas-cristãos.

Dezembro de 2016 | Reformador 13 715


Há falta de Evangelho no mun- “Mas aquele Consolador, o Es- Mestre com impressões pura-
do. Como consequência disso, pírito Santo, a quem o Pai en- mente intelectuais, sob interes-
há falta de humildade e de to- viará em meu nome, esse vos ses da presunção humana, sem
lerância. Em suma, falta amor, ensinará todas as coisas, e vos a busca da transformação moral
porque só o amor pode contri- fará lembrar de tudo quanto eu que nos renove as condições es-
buir para a felicidade do mun- vos tenho dito.” (João, 14: 26.) pirituais nas experiências da vida
do. Mas, sem o cultivo das vir- imperecível. No entanto:
tudes que estão no Evangelho, a Os tempos atuais exigem mo-
Humanidade continuará jugu- dificações de conceitos religiosos [...] na intimidade dos aprendi-
lada pelo medo e a ser poluída peremptórios, ainda arraigados zes sinceros e fiéis, a pergunta
pela irreligiosidade, pregada no coração das criaturas. Isso se de Jesus reveste-se de singular
pelos que desejam vê-la sofren- dará ao longo de muitas gerações, importância.
do e escravizada, mais sob o tornando-se um trabalho de di- Cada um de nós deve possuir
domínio do instinto do que da fícil execução, até que, com ree- opiniões próprias, relativamente
razão esclarecida. ducação e estudo profundo das à sabedoria e à misericórdia com
Por tudo isso, temos muitíssima celestes claridades do Evangelho que temos sido agraciados.
necessidade de nos evangeli- e da Doutrina Espírita, possam Palestras vãs, acerca do Cristo,
zar, para que, um dia, humilde- refazer-se, compreendendo, fi- quadram bem apenas a espíri-
mente, possamos ser admitidos nalmente, que todos somos ba- tos desarvorados no caminho
como seguidores do Cristo.1 fejados pelas bênçãos do meigo da vida. A nós outros, porém,
Nazareno, convidando-nos a ser compete o testemunho da inti-
Apesar de mais de vinte sé- bons, fraternos e solidários, de midade com o Senhor, porque
culos decorridos, a figura excel- maneira permanente, e no uso de somos usufrutuários diretos de
sa de Jesus tem passado quase recursos inesgotáveis, que serão sua infinita bondade. Medite-
despercebida, não fossem os utilizados conforme as oportu- mos e renovemos aspirações em
registros dos evangelistas inspi- nidades conquistadas pela lei de seu Evangelho de amor, com-
rados nas suas divinas palavras, evolução e pelo progresso das leis preendendo a impropriedade
como verdades absolutas, fruto superiores que regem o destino de mútuas interpretações, com
de uma programação superior. das criaturas a cada reencarnação. respeito ao Mestre, porque a in-
Sua mensagem, infelizmente, foi O Espírito Emmanuel, ao terrogação sublime vem d’Ele a
distorcida, deixando-nos à mercê analisar o versículo de Lucas, cada um de nós e todos neces-
de dogmas sem sabermos a ver- 9:20, que narra a passagem em sitamos conhecê-lo, de modo a
dadeira razão de sua missão no que Jesus pergunta aos seus dis- assinalá-lo em nossas tarefas de
mundo. Eis por que, o Espiritis- cípulos: “E vós, quem dizeis que cada dia.2
mo é revelado como o Consola- eu sou?”, afirma que precisamos
dor Prometido, convidando-nos “manter contato com a alma” do
a restabelecer os ensinamentos Evangelho, avaliando nossos pro- REFERÊNCIAS:
do Mestre e sua correta com- pósitos, de acordo com as orien-
1
MENDES, Indalício. Rumos doutriná-
rios. 3. ed. Brasília: FEB, 2005. p. 220.
preensão evangélica, como fora tações que surgem das divinas
2
XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo Es-
enunciado por Ele, de forma páginas do Novo Testamento, pírito Emmanuel. 1. ed. 10. imp. Brasília:
­incomparável: sem a veleidade de examinar o FEB, 2016. cap. 161 – Vós, que dizeis?.

716 14 Reformador | Dezembro de 2016


E n t r e v i s ta

FÁBIO SOUZA DE
CARVALHO1
Seja ­solidário,
adote uma
­criança
/////////////////////////////////////////// O autor, sua esposa e os filhos adotivos

Reformador: Na sua área de ou por outro, mas nunca pe- -las conjuntamente. Após ouvir
atuação na Vara de Infância e los três juntos. No dia da au- atentamente a coordenadora
Juventude, você deve ter acom- diência concentrada, realizada daquela instituição, a psicólo-
panhado vários casos envol- nos termos do Provimento nº ga e a assistente social, pensei
vendo crianças em situação de 32, de 24 de junho de 2013, da comigo mesmo que aquelas
risco. O que lhe chamou a aten- Corregedoria Nacional de Jus- crianças cresceriam institucio-
ção neste caso dos três irmãos? tiça, a equipe multidisciplinar nalizadas e de lá provavelmente
Fábio Carvalho: No caso da instituição de acolhimen- só sairiam quando alcançassem
dos três irmãos, os relatórios to informou que, até então, a maioridade. Elas estavam aco-
psicossociais do programa de não existiam possibilidades de lhidas havia quase quatro anos.
atendimento apontavam para desligamento, seja porque nin- Os pais tinham sido destituídos
uma forte relação que exis- guém da família extensa havia do poder familiar. Aquele qua-
tia entre os infantes e eram demonstrado interesse ou con- dro sensibilizou-me e antes que
sempre inexoráveis quanto à dição de recebê-las, seja por- o juiz pudesse passar a palavra
­possibilidade de eles serem se- que nenhum dos inscritos no ao representante do Ministério
parados. Muitos foram aqueles cadastro nacional de adoção Público, eu lhe falei no ouvido:
que se interessaram por um havia se interessado em adotá- “eu ficarei com as três”. Foi um

Dezembro de 2016 | Reformador 15 717


impulso. Os Espíritos que me Sabemos que os núcleos inadiáveis do passado; talvez es-
assistiam durante as audiências familiares fazem parte do pla- tejamos nos encontrando pela
me disseram: “se você assumir nejamento reencarnatório, de primeira vez em razão da força
o compromisso de educá-las, alguma forma você sentia que portentosa do amor.
nós o ajudaremos”, e desde en- estas crianças deveriam ser
tão nunca faltaram as ajudas do acolhidas por você? Em O evangelho segundo o
Céu. Concluídas as audiências, Inicialmente, o móvel das mi- espiritismo, capítulo XIV, os
mandei uma mensagem via nhas ações foi o desejo de vê-las Espíritos esclarecem “que os
WhatsApp para a minha esposa crescer num ambiente familiar. laços de sangue não estabele-
que se encontrava, a trabalho, Depois que eles passaram a vi- cem necessariamente os laços
na capital do Estado e movido ver conosco, refleti muito sobre espirituais, o que realmente
pelo mesmo impulso, eu lhe uma das instruções dos Espíri- importa são as afinidades e co-
disse: “meu bem, nós vamos tos contida no item 18 do capí- munhão de pensamentos que
adotar”. Acredito que ela tenha tulo XIII de O evangelho segun- unem os Espíritos”. Este trecho
ficado atônita, porque me res- do o espiritismo [trad. Guillon reflete seu momento atual?
pondeu: “Precisamos pensar. É Ribeiro], intitulada “Os órfãos”. No dia em que as crianças
uma decisão muito séria”, e sem Nessa comunicação, um Espíri- chegaram à nossa casa, fizemos,
menoscabar a gravidade da de- to familiar que a assina pontua todos juntos, um culto do evan-
liberação que estávamos pres- a seguinte reflexão: “Deus per- gelho no lar. Abrimos, aleato-
tes a tomar, eu respondi: “Meu mite que haja órfãos, para exor- riamente, uma página da obra
bem, se, ao nos depararmos tar-nos a servir-lhes de pais”. E Alvorada cristã, psicografada por
com um náufrago em alto-mar mais adiante, alvitra: “Ponde- Francisco Cândido Xavier e pu-
afogando-se, pensarmos de- rai também que muitas vezes a blicada pela Federação Espírita
mais, provavelmente não nos criança que socorreis vos foi cara Brasileira, intitulada A galinha
jogaremos na água para salvá- noutra encarnação, caso em que, afetuosa. Neste conto, Neio L­ úcio
-lo”. De toda sorte, ela chegaria se pudésseis lembrar-vos, já não narra a história de uma galinha
a Imperatriz no dia seguinte, estaríeis ­praticando a caridade, cheia de instintos maternais que
mesma data em que eu tive mas cumprindo um dever”. Isso, havia chocado quatro ovos: o
que me deslocar até o muni- de todo modo, me trouxe certo primeiro de um pato arisco e fu-
cípio de Palmas (TO), para alívio consciencial. De fato, não jão; o segundo, de um corvo es-
participar de uma reunião da sabia se estava lhes alterando o perto; o terceiro, de uma coruja
Comissão de Direitos da Pes- roteiro reencarnatório ou mes- sedenta de aventuras; e o último,
soa Humana do CONDEGE. mo se nós possuíamos afinidade de um pavãozinho orgulhoso.
De lá, liguei novamente para com os Espíritos que se agrega- Nenhum dos ovos pertencia ao
minha esposa e disse: “vá à vam ao nosso núcleo familial. A gênero ­ gallus, mas a todas as
Casa da Criança ver os seus fi- piedade, entretanto, nos enchia avezinhas a nobre galinha dedi-
lhos”, e quando ela foi e os viu, de coragem nesse mar de dúvi- cou grande ternura e compaixão.
um sentimento indescritível a das. Portanto, o sentimento que Entretanto, os filhotes a abando-
tomou e ela me ligou dizendo: verdadeiramente nos tomou foi naram, porque a ela não se afei-
“meu bem, não tem volta. Se- o da piedade. Talvez estejamos çoaram. Quando o desespero lhe
remos os pais deles”. interligados por compromissos invadiu o íntimo, grande galinha

718 16 Reformador | Dezembro de 2016


mais velha a consolou, dizendo- lhes esperar nada em troca. Será de seus sonhos, e que mais tarde
-lhe o seguinte: “[...] A obra do profundamente prazeroso se tais ilusões se desfizeram com o
mundo é de Deus, nosso Pai. Há dessa união grande afinidade de contato das primeiras imperfei-
ovos de gansos, perus, marre- sentimentos e ideais venha a sur- ções ostentadas pelos infantes
cos, andorinhas e até de sapos e gir, porém, ainda que tal afinida- elegidos. Em outras situações, são
serpentes, tanto quanto existem de de propósitos não seja uma as próprias crianças que rejeitam
nossos próprios ovos. Continue realidade para esta reencarnação, seus novos pais, não encontran-
chocando e ajudando em nome o amor, que é a força motriz que do qualquer afinidade que lhes
do Pai Criador; entretanto, não nos move, lançará as suas dúlci- nutra a vontade de conviver com
se prenda aos resultados do ser- das sementes para que o tempo aqueles que as escolheram. Por
viço que pertencem a Ele e não se encarregue de germiná-las. fim, este tempo também pode ser
a nós, mesmo porque a escada aproveitado para outra reflexão
para o Céu é infinita e os degraus Com que pensamento pais não menos importante: de que
são diferentes. Não podemos e crianças podem enfrentar a o amor que dedicarem não pode
obrigar os outros a serem iguais longa espera nas filas brasilei- ser subordinado a qualquer ato
a nós, mas é possível auxiliar a ras de adoção? futuro de gratidão. Ali pode estar
todos, de acordo com as nossas De que há tempo para tudo na um Espírito que nos estimou no
possibilidades. Entendeu?” E por Terra. Às vezes nos imaginamos passado e que há tempos busca-
fim, o autor conclui: “O caminho prontos para o desafio da paterni- mos em meio à multidão, como
humano estende-se, repleto de dade e da maternidade, entretan- pode estar o credor ou o devedor
dramas iguais a este. Temos fi- to, Deus, sempre misericordioso com quem nos comprometemos
lhos, irmãos e parentes diversos e bom, antes de nos permitir a perante as Leis justas e sábias do
que de modo algum se afinam experiência dadivosa de cuidar e Divino Criador. De qualquer ma-
com as nossas tendências e sen- educar, nos convida a reflexões neira, pretensos adotantes devem
timentos. Trazem consigo inibi- profundas que serão imprescin- estar sempre dispostos a fazer o
ções e particularidades de outras díveis para a ­consecução dos fins bem, acolhendo em suas casas
vidas que não podemos eliminar a que nos destinamos como pais e crianças e adolescentes sequiosos
de pronto. Estimaríamos que nos mães. Este tempo nos proporcio- de um lar, mas sem nunca olvi-
dessem compreensão e carinho, na maturidade. Da mesma forma darem que o tempo terá sempre
mas permanecem imantados a que pouco sabemos do Espírito como regente Deus, nosso Pai.
outras pessoas e situações, com que reencarna no seio de nossa
as quais assumiram inadiáveis família natural, os adotados são Diz André Luiz que “somos
compromissos. De outras vezes, de igual incógnita. Este tempo arquitetos de nossa própria es-
respiram noutros climas evolu- também atua como consectário trada e seremos conhecidos pela
tivos. Não nos aflijamos, porém. lógico de nossas expiações, tanto influência que projetamos na-
[...] Amemos sem o egoísmo da para os pais e mães sem filhos, queles que nos cercam”. Como
posse e sem qualquer propósito quanto para os filhos e filhas sem se preparar para esta influência
de recompensa, convencidos de pais nem mães. De toda sorte, positiva para nossos filhos?
que Deus fará o resto”. Portanto, muitos são os casais que já devol- Transformando-nos a nós
apenas pautamos essa relação no veram crianças cujas personali- mesmos. A maior influência que
amor que nutrimos por eles, sem dades foram desenhadas ao sabor projetamos naqueles que nos cer-

Dezembro de 2016 | Reformador 17 719


Oração
cam se reflete de nossos exem- André Luiz (Espírito)
plos. Quando os outros nos têm
à conta de luzeiros ou fanais, de- Senhor Jesus,
vemos passar a vigiar os nossos Dá-nos o poder de operar a própria conversão,
passos, para que eles não nau- Para que o teu Reino de Amor seja irradiado
fraguem por falta de luz. Somos Do centro de nós mesmos!...
chamados a pôr o cumprimento
de nossos deveres morais acima Contigo em nós,
da atração do interesse de nossas Converteremos
paixões materiais. A felicidade e A treva em claridade,
a tranquilidade de nossos filhos A dor em alegria,
e de nossas filhas poderão estar O ódio em amor,
ameaçadas caso as nossas paixões A descrença em fé viva,
galopem como um corcel indo- A dúvida em certeza,
mável e acabem nos escravizan- A maldade em bondade,
do a viciações reprocháveis ou a A ignorância em compreensão e sabedoria,
comportamentos inconfessáveis. A dureza em ternura,
Portanto, a luta do “Eu” contra A fraqueza em força,
o “eu” deve ser marcada por essa O egoísmo em cântico fraterno,
bravura da alma no combate às O orgulho em humildade,
suas más inclinações. Ah! se pu- O torvo mal em infinito bem!
déssemos ser inflexíveis às ten-
tações do mundo... como ganha- Sabemos, Senhor,
riam os nossos pequeninos com Que de nós mesmos
o nosso exemplo de resistência Somente possuímos a inferioridade
moral. Nada obstante, nos cabe De que nos devemos desvencilhar...
admoestá-los sempre que o me- Mas, unidos a Ti,
nor sinal de erro despontar em Somos galhos frutíferos
suas condutas, porém com muito Na árvore dos séculos
tato e muita sabedoria. Todavia, Que as tempestades da experiência jamais deceparão!...
se não houver coerência entre Assim, pois, Mestre amoroso,
nossas palavras e nossas ações, Digna-te amparar-nos
o papel de educar, que nos com- A fim de que nos elevemos
pete, restará prejudicado e cer- Ao encontro de tuas mãos sábias e compassivas,
tamente prestaremos contas do Que nos erguerão da inutilidade
bem que deixamos de fazer. Para o serviço da Cooperação divina,
Agora e para sempre. Assim seja!...

//////////////////
Fonte: XAVIER, Francisco C. Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 28. ed. 10. imp.
/ / / / / / / / / / //////// Brasília: FEB, 2016. cap. 20 – Retorno à tarefa, it. 20.3 – Assembleia da
1
N.R.: fabiosouzadecarvalho@gmail.com fraternidade. Transcrição parcial.

720 18 Reformador | Dezembro de 2016


Nas pegadas do
­Apóstolo Paulo
///////////////////////////////////////////

Divaldo Pereira Franco


leal@mansaodocaminho.com.br

N
o ano de 1980, acom- litarista e pessimista, pelos ve- que nos impressionaram por
panhado pelos amigos lhos atomistas, permitiram-se ocasião da primeira visita.
Nilson de Souza Pereira fortes gargalhadas de escárnio Estivemos em algumas das
e Juan Antônio Durante, dile- e abandonaram o local, dei- suas ilhas famosas e procura-
to confrade argentino, visitei a xando o intimorato divulgador mos encontrar na poeira do
Grécia pela primeira vez. do Evangelho profundamen- tempo as pegadas ao Apóstolo
Em Atenas, após o entusias- te abatido. Ali, quase dois mil das gentes.
mo natural, caminhando pelas anos após, psicografamos, ao Não faltam templos de di-
ruínas históricas que nos con- ar livre, separadamente Juan e ferentes credos cristãos, para
duziam às glórias do passado, nós, mensagens pertinentes ao celebrações mais profanas que
detivemo-nos sobre os escom- acontecimento. religiosas, nem as ondas turísti-
bros do Areópago, onde o Após- A verdade é que o glorio- cas, a invadir todos os recantos,
tolo Paulo pela primeira vez so pregador retornou a Atenas como aeroportos, hotéis e estra-
apresentou Jesus aos curiosos posteriormente e a conquistou das superlotados, não deixando
que acorreram ao nobre recinto. para Jesus, após haver passado perceber a presença de Jesus
Recordamo-nos das suas por algumas das suas ilhas, que nos comportamentos. Prazeres
primeiras palavras, que encan- ficariam imortalizadas em suas multiplicados, de qualidades
taram o público até o momento cartas memoráveis. variadas para todos os palada-
em que ele se referiu à imortali- Recentemente, no mês de res, que atraem os caçadores de
dade, fazendo um panegírico à julho passado, conduzido por divertimentos, especialmente
Ressurreição. amigos espíritas devotados e sexuais, transformaram-se num
As mentes aturdidas pelas gentis, voltamos à Grécia, man- dos mais valiosos recursos para
várias correntes da filosofia uti- tendo na memória as imagens atrair multidões esfaimadas.

Dezembro de 2016 | Reformador 19 721


Aguardávamos que o r­ etorno das suas jornadas sublimes. No sob as colunas arrebentadas do
a Atenas, a veneranda cidade entanto, os monumentos que as Areópago, do Parthenon e dos
multimilenar, pudesse ensejar- embelezavam, hoje em destro- bairros periféricos mais pobres
-nos visão diferente, o que, infe- ços e ameaçados pelo fanatismo onde ele conviveu com os desa-
lizmente, não aconteceu. religioso, são símbolos da gran- fortunados, aos quais ofereceu a
A volúpia do prazer em todo deza do herói da verdade. certeza da imortalidade.
lugar é uma constante. Não tivemos a oportunidade Examinando a situação do
Estes são dias bem parecidos de visitar essas cidades e regiões mundo atual, dos conflitos e
com aqueles em que o apóstolo, que foram privilegiadas pelo seu dores que tomam conta das
fascinado por Jesus, saiu cantan- verbo, com exceção de Éfeso, criaturas, da fragilidade das
do-lhe os poemas libertadores e que conhecemos em outra opor- religiões que, comprometidas
as canções de imortalidade. tunidade, mas que não guardam com o século, não têm muito a
A sua voz e as suas cartas per- a mensagem do mártir nas co- oferecer, recordo-me do após-
maneceram como clarins ressoan- munidades que as habitam. tolo dedicado, suplicando-lhe
do ao passar dos séculos, a fim de Existem templos de pedras, que a todos os cristãos nos
que não nos esquecêssemos da em ruínas uns, mais recentes inspire viver conforme as dire-
mensagem que o felicitava. outros; entretanto, e a despeito trizes austeras e amorosas do
Nenhum sofrimento dimi- da ganância, dos ódios multi- Evangelho, dando a existência,
nuiu-lhe o entusiasmo e o amor plicados e das lutas de classe, se necessário, para a construção
pelas criaturas humanas, às os “filhos do Calvário” avolu- da sociedade feliz do amanhã.
quais se oferecia como exemplo mam-se em toda parte, sem Neste momento de transi-
de plenitude. permitir-se a iluminação ou a ção planetária, quando as crises
As ilhas e terras queridas, transformação moral, ficando de toda ordem se abatem sobre
como Corinto, Galácia, Colosso, conscientes do Reino dos Céus. o ser humano, quase vencido
Tessalônica, Filipos e Éfeso o re- A poeira inexorável dos tem- pelas paixões tormentosas, que
ceberam e, embora algumas ini- pos asfixiou a mensagem do possamos, os espíritas, os cris-
cialmente o rejeitassem, foram apóstolo. tãos novos, restaurar o pensa-
honradas, todas, com as missi- Mesmo em Atenas, onde ele mento de Jesus conforme o fez
vas iluminativas que ainda hoje triunfou como mensageiro da es- Paulo de Tarso, orientando as
servem de roteiro e de segurança perança e da alegria de uma exis- vidas para a plenitude, única
para os seus discípulos, os quais, tência feliz, não encontramos maneira de preencher o vazio
acima de tudo amam Jesus, ain- as suas pegadas, agora cobertas existencial que a muitos infeli-
da guardam vestígios históricos pelo asfalto da modernidade ou cita neste mundo.
Deposiphotos.com/ Phototraveller

722 20 Reformador | Dezembro de 2016


Petitinga
e Miranda
Histórias entrelaçadas pelo ideal espírita

///////////////////////////////////////////

André Luiz Peixinho


andrepeixinho@bol.com.br

A
unificação do Movi- sendo portanto, a primeira brando alguns dos fatos e feitos
mento Espírita baiano instituição espírita legalmen- de suas vidas como expoentes
deve a José F­ lorentino te constituída na Bahia e no da união dos espíritas.
de Sena, o Petitinga, e a Brasil, somente com o sur- Petitinga nasceu em Amar-
Manoel Philomeno Baptista
­ gimento da União Espírita gosa, no Estado da Bahia, em
de Miranda, o Miranda, sua Baiana, em 1915, é que temos 2 de dezembro de 1866 e co-
gênese e florescência nos al- efetivamente um projeto de meçou a trabalhar na casa das
bores do século XX. Embo- integração das entidades espí- drogas e ferragens de Francisco
ra a ideia de um movimento ritas deste Estado. Nesta ins- Torquato Barreto, na cidade de
organizado estivesse presente tituição, hoje conhecida como Nazaré, aos 11 anos incomple-
nos esforços de Luís Olímpio Federação Espírita do Estado tos, escolhido pelo seu talento
Teles de Menezes, reconheci- da Bahia, nossos personagens para o serviço da escrita.
do como instituidor do Mo- entrelaçaram suas vidas em Miranda chegou ao mun-
vimento Espírita no Brasil ao torno do ideal espírita. do físico a 14 de novembro de
criar o “Grupo Familiar de No momento histórico em 1876, no lugar chamado Jan-
Espiritismo” e o periódico es- que vivemos, tão necessita- gada, município do Conde no
pírita O Echo d’Além-Túmulo, do de exemplos significativos, Estado da Bahia e viveu parte
e conseguir, depois de ingen- recordamos os nascimentos da sua infância em Canavieiras,
tes esforços, registrar em 28 de Miranda e Petitinga, que tendo começado sua laboriosa
de novembro de 1873, a “As- ­completam 140 e 150 anos, res- vida comercial, também aos 11
sociação Espirítica Brasileira”, pectivamente, em 2016, relem- anos, como auxiliar da casa de

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negócios do Sr. Alexandre Batis- seu temperamento. “Era José bril da Bahia”, sendo sempre
ta, rico comerciante da região. Petitinga, sempre apostolar, respaldado pelos seus méritos,
Petitinga travou conheci- manso e culto, a dirigir cro- a ponto de o comendador Ber-
mento com o Espiritismo pela nometricamente os trabalhos, nardo Catharino, presidente
leitura de O livro dos espíritos, dentro de uma tolerância ver- daquela Companhia, mandar
numa viagem marítima, quan- dadeiramente evangélica. Sua fechar todas as fábricas e sus-
do seu companheiro de negó- palavra fácil e uniforme, sem pender o expediente no dia do
cios, o Dr. Flávio Guedes de arroubos oratórios, descia ao seu sepultamento, a fim de fa-
Araújo, lhe mostrou o referido fundo dos corações e aclarava cilitar a participação de todos
livro, tendo sido jocosamen- inteligências”. (In: Página de naquela despedida.
te inquirido: este livro “não é saudade – Reformador.) Diplomado bacharel em
coisa para deixar ou tornar os Miranda seguiu-lhe o exem- Comércio e Fazenda, Miranda
seres malucos”? Recebeu como plo em termos de hábitos rela- trabalhou como guarda-livros
sentença à sua descrença a cionais, tornando-se o “Tomo nas firmas Silvino Marques &
obrigação de ler o livro durante II” de Petitinga, segundo as Alberto Magalhães, em ambas
a viagem. Emocionado, Peti- palavras do entusiasmado líder tornando-se sócio, tal era a
tinga devolveu-o, sussurrando: espírita Leopoldo Machado: confiança no seu desempenho.
“Era isto que me faltava para Petitinga constituiu família
entender Deus”. Onde ele estivesse, aí estaria e nela demonstrou sua capaci-
Miranda conheceu o Espi- a doutrina e sua propaganda dade e pensamento educativos
ritismo pelos dons mediúni- exercida com a proficiência nos cuidados com a orientação
cos de Saturnino Favila, que o de um douto, um abnegado – de seus sete filhos, todos do
curou de grave enfermidade na lhano, delicado no trato, mas primeiro matrimônio. Viúvo,
cidade de Alagoinhas, na Bahia. heróico na luta, polido e segu- consorciou-se com a jovem
Dizia ele que foi a obsessão que ro... Inteligente e meticuloso, Maria Luiza, que o acompa-
o trouxe ao Espiritismo, pois a Miranda era um conjunto de nhou nas peripécias da vida,
ciência materialista chamava dotes artísticos e perfeitos. Tão velando-o na sua desencar-
seu mal de loucura. Tornou-se, grande na modéstia e na moral, nação, já septuagenário. Seus
a seguir, aprendiz de Petitinga, que poucos o compreendiam. descendentes atestaram o de-
na União Espírita Baiana. Se- Ele fez-se pequeno entre todos, votamento com que cuidava
gundo Leopoldo Machado, no para tornar-se o maior. (In: da família, deixando singular
livro Ide e pregai, Miranda as- Biografia de Manoel Philomeno página de orientação para seu
similou até o jeito de pregar, as de Miranda, por Antônio Mel- filho, considerada uma tábua
atitudes e o aspecto fisionômi- quíades Cardoso e Silva.) de ensinamentos evangélicos.
co de Petitinga. Miranda solteiro assistiu a
Petitinga, ardoroso defensor Petitinga busca sua susten- família, em especial a sobrinha
dos ideais republicanos, ao co- tabilidade por meio dos tra- órfã, Nerina Miranda, até pró-
nhecer o Espiritismo afastou-se balhos como guarda-livros, na ximo da desencarnação, quan-
de sua prática política, marca- “Empresa Viação do São Fran- do a informa por carta que não
da pelas declarações de forte cisco” e como diretor da “Com- poderá mais assumir as deman-
cunho emocional, e modificou panhia Progresso e União Fa- das da família.

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Petitinga realizou a Caravana e conduta ilibada, permanecen- do Petitinga o que exemplifica e

.
da Unificação, visitando os múl- do no posto até a sua desencar- Miranda o repórter.
tiplos centros de Salvador para nação, em 14 de julho de 1942.
gerar a União Espírita Baiana, Juntos, atuam na aquisição
em 25 de dezembro de 1915. do imóvel no centro histórico
Miranda prosseguiu este para sede própria da União Es- Na árdua tarefa de pioneiros
trabalho viajando com Leopol- pírita Baiana, organizam suas da união dos espíritas, Petitinga e
do Machado por vários centros atividades espíritas com ênfase Miranda demonstraram excelen-
espíritas, de Salvador e do inte- no esclarecimento, na prática te competência em conviver com
rior do Estado, além de realizar mediúnica da desobsessão, na os mais diversos relacionamen-
o primeiro censo das casas espí- assistência aos necessitados, tos, tanto de adversários ferre-
ritas da Bahia. destacando-se o papel do líder nhos do aquém quanto do Além.
Petitinga, poeta premiado Miranda na condução das fes- Afoitos e entusiasmados defen-
nacionalmente, literato, maior tas natalinas dos assistidos. sores do Espiritismo, demons-
conhecedor da língua portu- Ambos atuaram até o limite traram equilíbrio nas atitudes
guesa em terras baianas, segun- de suas forças físicas. Petitinga e amoroso exemplo nas ações.
do seus pares, legou-nos poe- foi acometido de mal súbito em Suas atitudes servem até hoje de
mas espíritas e alguns escritos plena atividade doutrinária na paradigma para a definição de
de sua lavra que muito enrique- União Espírita Baiana e, trans- programas e ações da entidade
cem a cultura espírita. portado ao leito, desencarnou federativa baiana. Protagoniza-
Miranda, homem culto, após 13 dias. Miranda resistiu ram momentos de fé, de cari-
traduzindo facilmente textos aos conselhos dos Espíritos e dade, de amizade, de esperança,
da língua francesa, deixou-nos frequentou a instituição até de perdão das ofensas, episódios
como legado sua resposta ao dias antes do decesso, ao con- que se tornaram reveladores da
padre Huberto Rohden, intitu- cluir que não tinha mais forças elevada estatura espiritual de que
lada Por que sou espírita, além para subir os degraus do prédio. eram portadores. Lembrar-lhes
de Excertos que justificam o es- Mesmo no leito, deu as instru- os nomes é rememorar a saga do
piritismo, e Resenha do espiritis- ções finais a seu sucessor, Al- federativismo na Bahia e ter uma
mo na Bahia, sendo esta última fredo Mercês, com relação ao referência segura para as ativida-
produção um breve histórico andamento dos trabalhos da des contemporâneas.
dos primeiros 25 anos de exis- União Espírita Baiana.
tência da União Espírita Baiana. Após a desencarnação, Peti-
Petitinga comanda os des- tinga enviou-nos notícias pela
tinos da entidade federativa de psicografia de vários médiuns, //////////////////
Fonte:
1916 até a sua morte, ocorrida a começar por Chico Xavier. SANTO, Ildefonso do Espírito. (Org.)
em 1939. Miranda escreveu uma série de Testemunho da imprensa: coletânea
Miranda torna-se seu secre- livros sobre desobsessão, pela de boletins espíritas da USEB e Fe-
deração Espírita do Estado da Bahia.
tário, em 1920, e assume a pre- mediunidade de Divaldo Fran-
FILHO, Archibaldo Petitinga. José
sidência no lugar de Petitinga, co. Ambos prosseguem juntos Petitinga: apóstolo da Unificação.
escolhido entre seus pares em na faina espiritual de elevação Reformador.
reconhecimento de seu trabalho do psiquismo planetário, sen- Documentos originais CEDOC/FEEB.

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Um conto para o Natal
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Patrícia Carvalho Saraiva Mendes


patricia@adpeople.com.br

N
aquele cintilante entar- querido Rabi com um carinho A todos o Mestre acolheu,
decer, quando o céu se inesperado. sem se esquecer de ninguém.
mostrava entre o anil e o Os discípulos correram a acu- E contou-lhes, naquele lindo
rosado, graças ao pôr do sol ma- dir Jesus. entardecer, muitas e inesquecí-
jestoso da Palestina, Jesus come- No entanto, quando prontos veis histórias.
morava 33 anos na Terra! para afugentarem os pequenos Narrou-lhes o caso do sama-
Após as prédicas do dia, o curiosos, eis que o próprio Mestre ritano bom, que socorrera o aci-
Mestre achou de sentar-se numa impede que dessa forma proce- dentado, na metade do caminho
rocha rústica, ali, na caldeira da dam, pois que o Reino dos Céus para Jericó.
Natureza, às margens do inolvi- seria, assim, para quem se asseme- Ao ouvir essa parábola, a me-
dável mar de Tiberíades. lhasse àqueles pequeninos, ainda nininha de cabelos encaracola-
A brisa leve e morna da tar- puros e sem maldades no coração. dos abraçou a mãe, que também
de afagava-lhe os belos cabelos – Deixai-os! ali estava, e assentiu, com o olhar
tidos à moda galileia, e os pés Então, sob a autorização do concordante:
andarilhos, metidos em simples Mestre, eis que começaram a – Sim, o samaritano agira cor-
sandálias de couro cru, brinca- chegar mais crianças! retamente!
vam com a areia leve e corredia Cenário lindo, agora outras Narrou-lhes também Jesus a
da praia, quando as crianças co- crianças também intentaram se história do filho pródigo, que retor-
meçaram a se aproximar. aproximar, todas atraídas pelo nara arrependido à casa paterna.
A princípio um tanto tími- magnetismo daquele Amor Ao final dessa história, um me-
dos, os petizes desejavam mes- Divino, nunca antes conhecido nino, mais resistente aos ensinos,
mo chegar mais perto do Mes- na Terra: essas eram crianças do meio da multidão logo avisou:
tre que vinha ensinando tanto a mais crescidas, chamadas de – Eu, se fosse o pai, não aceita-
seus pais. pais, mães, avós. Crianças des- va esse filho de volta, não!...
Dessa forma começaram a se conhecidas também chegavam. Todo mundo riu daquela ex-
achegar, e, entre risinhos e mãos Todos esses meninos espiri- pressão ingênua de honestidade,
na boca até as grandes gargalha- tuais vinham ouvir Jesus falar, no mas Jesus, olhando amorosamen-
das, não se passou mais do que cenário da Natureza, ao íntimo te para o pequeno interlocutor, ex-
um momento. Em um segundo de seus corações. plicou que sempre deveríamos fa-
já se via aquele burburinho de A todos Jesus abraçou, sem zer aos outros como gostaríamos
gente pequena, inundando o deixar ninguém de fora. que procedessem para conosco.

726 24 Reformador | Dezembro de 2016


Com esse ensinamento, todos – É aniversário de Jesus, e Ele Mestre, decidindo-se a, em de-
silenciaram, aguardando mais é quem nos promete um presente? finitivo, seguir-lhe os passos e
histórias de Jesus. Indagou, bem baixinho, um caminhar em sua senda.
Então o Mestre contou-lhes a discípulo a outro, que ali tam- Então o mundo inteiro pôde
história do semeador, que saíra a bém estava. compreender que o Consolador
semear. – Será um presente de aniver- Prometido, nossa Doutrina Espí-
E ainda muitas histórias o sário! rita muito amada, seria o maior e
Mestre contou. Logo gritaram todas as crian- mais sublime presente que Jesus
Por fim, o dia encerrava-se, e ças – crianças sempre ouvem poderia enviar à Terra.
Jesus finalizou as narrativas. as coisas – tinham escutado os Presente para todos os Natais,

.
O Mestre tinha, no entanto, na- apóstolos conversando. em todos os séculos dos séculos.
quele lindo dia, algo para revelar. E Jesus sorriu.
Contou-lhes que, em breve, Seria mesmo.
não estaria mais entre eles. Maravilhoso presente o Mes-
Todos se entristeceram com tre prometia. Senhor Jesus!
essa notícia. Muitos séculos passaram- Com essas páginas que brotam
Para onde iria o Mestre?! -se, desde aquele entardecer da nossa imaginação singela, a re-
Mas Jesus, vendo os olhinhos inolvidável. memorar-te o sorriso consolador e
de desamparo daquela multidão Todas aquelas crianças segui- a presença mais que adorada, nes-
triste, estropiada, coxa e muda, ram suas jornadas pela Terra. ses dias de comemoração da glória
a todos acalmou, com o calor do Desde então, muito erramos, do teu nascimento, pedimos-te:
seu coração afetuoso e iluminado. enredados que fomos pelas ilu- “Desculpa o nada que te ofer-
Afirmou que, na verdade, ja- sões e enganos do mundo, es- tamos, em troca de tudo que nos
mais nos abandonaria! quecidos das lindas histórias que dás, e faze-nos mais simples!...” 1
E prometeu que, se nós o Jesus contara. Pois que é Natal, Senhor. Deixa
amássemos e guardássemos os Mas o Mestre havia-nos feito que as lágrimas de emoção que nos
seus mandamentos, Ele iria ro- uma promessa. arrebatam a alma possam declarar
gar ao Pai que nos enviasse outro E Jesus jamais se esquecera ao mundo inteiro, celebrando-te a
Consolador, para ficar eterna- das suas crianças, ao contrário. descida memorável ao orbe sofrido:
mente conosco. Então, eis que um dia, pelas “Glória a Deus nas alturas,
– Vai ser um presente, mãos de um apóstolo muito dedi- paz sobre a Terra”! (Lucas, 2:14.)2
­Senhor? cado, o Codificador, Jesus enfim Para todos nós, um Natal
Perguntou um jovem, que enviou o presente prometido. muito feliz.
ali ouvia, mas que não podia Apresentou-se à Humanida-
REFERÊNCIAS:
caminhar. de o Consolador Prometido por 1
XAVIER, Francisco C. Antologia me-
– Sim. E esse presente meu Jesus, para nos lembrar de todas diúnica do natal. Espíritos diversos. 6.
Pai enviará em meu nome. Ele as suas parábolas belas, em sua ed. Brasília: FEB, 2009. Prece do Na-
vos ensinará todas as coisas e vos essência e pureza original. tal, p. 22.

fará recordar tudo o que vos te- Foi quando as crianças da 2


DIAS, Haroldo Dutra. O novo tes-
tamento. Brasília: FEB, 2013. p. 258
nho dito. praia de Tiberíades, lentamen- (Louvor dos anjos e testemunho dos
Concluiu o Mestre. te, começaram a se voltar ao pastores).

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A quarta vela
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Richard Simonetti
richardsimonetti@uol.com.br

N
uma igreja, três velas – As pessoas ignoram-me. bem apropriado para o mês
bruxuleantes conversa- Só pensam nelas mesmas, nas de dezembro.
vam, diálogo de luzes. suas necessidades, nos seus Imaginemos o nosso mun-
Disse a primeira: desejos. Negam-me o oxigê- do interior como um templo
– As pessoas andam agi- nio da fraternidade. sagrado iluminado por três
tadas, tensas, nervosas, em E apagou também. velas. Destinam-se a susten-
interminável correria. Não
­ Tão logo as trevas tomaram tar nosso equilíbrio e pro-
param para pensar. Não me a igreja, entrou um m ­ enino porcionar condições para
dão o oxigênio da reflexão. de meigo olhar e doce sorriso. vivermos felizes, em aprovei-
A chama foi diminuindo e Portava uma vela acesa, cha- tamento integral das opor-
em breves momentos apagou. ma forte e firme. Com ela deu tunidades de edificação da
Reclamou a segunda: luz às três velas, que voltaram ­j ornada humana.
– As pessoas apegam-se a refulgir. E lhes disse: A primeira vela é a paz, o
aos interesses materiais – – Fiquem tranquilas. Ain- tempero da vida. Impossível
casa, automóvel, dinheiro, da que os homens não lhes viver bem se não há tranqui-
negócios, lazeres e prazeres, deem a devida sustentação, lidade em nós. Felicidade,

.
sem espaço para Deus. Ne- eu sempre virei reanimá-las. nem pensar!
gam-me o oxigênio da espi- Ainda que ganhemos so-
ritualidade. zinhos a megassena acumu-
Tão enfraquecida, leve lada; que tenhamos conforto
brisa a apagou. Esta singela história tem e poder; com a satisfação de
Lamentou a terceira: um precioso simbolismo, todos os nossos desejos, se

728 26 Reformador | Dezembro de 2016


Deposiphotos.com/ fffranzzz

não guardarmos a paz nada mente os países ricos e de- na Terra, para onde vamos.
disso terá sentido. senvolvidos, cuja população Quem se habitua a pensar a
Platão dizia que a paz no tem tudo para viver bem. vida, buscando entendimen-

.
coração é o paraíso dos ho- A grande motivação dos to, conserva-se em paz.
mens. Ricos ou pobres, sãos suicidas é a paz. Esperam
ou doentes, moços ou velhos, ­encontrá-la na quietude do
se guardarmos a paz estare- cemitério, com o aniquila-
mos no céu. mento da vida. Logo cons- A segunda vela é a fé, a ar-
É difícil sustentá-la. Temos tatam, atormentados, que madura da alma.
paz por alguns momentos ou apenas mataram o corpo. Impossível enfrentar com
por alguns dias, talvez por al- Permanecem vivos, numa equilíbrio e fortaleza de âni-
gumas semanas, mas a chama outra dimensão, em sofri- mo os embates da vida, sem
logo bruxuleia ante as atribu- mentos inenarráveis, sem si- a crença num poder supremo
lações da vida, as tensões, os milares na Terra. que nos criou, que nos sus-
desentendimentos, as enfer- Por que a chama da paz tenta, que nos conduz.
midades, as angústias, a de- enfraquece e apaga? Falta- Diz o Apóstolo Paulo (Ro-
pressão… Corremos demais, -nos o oxigênio da reflexão, manos, 8:31): “Se Deus é por
preocupamo-nos demais, per- o hábito de parar e pensar so- nós, quem será contra nós?”
turbamo-nos demais. bre a vida, sobre nós, sobre o Sentença poderosa. Com
Crescem no mundo os destino, buscando os valores Deus estaremos sempre bem.
índices de suicídio. Curio- da compreensão. Definir de Santo Agostinho dizia que
samente, atingem principal- onde viemos, por que estamos ter fé é assinar uma folha em

Dezembro de 2016 | Reformador 27 729


branco e deixar que Deus es- Quando orientados pelo Dá para perceber que a paz,
creva nela o que quiser, defi- egoísmo, desejamos, basi- tempero da felicidade, a fé,
nindo os rumos de nossa vida. camente, que o ser amado armadura da alma, e o amor,
Há um problema. A fé é ­corresponda às nossas expecta- sustento da vida, não estão
delicioso perfume para as tivas. Se não o faz, desgostamos. consolidados em nossa alma.
horas floridas, quando tudo Amamos a nós mesmos no São frágeis chamas que se
corre bem. Se surgem espi- ser amado. apagam facilmente, ao vento das
nhos no jardim da vida; se É como degustar um doce. paixões, dos vícios, dos interesses
chega a adversidade, ela logo Gostamos dele porque é saboroso. imediatistas, das atribulações…
arrefece e reclamamos que E logo cansamos de amar, porque Por isso é tão importante o
Deus esqueceu-se de nós. o doce azedou ou porque nos em- mês de dezembro, quando so-
Ledo engano! Deus ja- polgamos por novos sabores. mos visitados pelo Celeste Me-
mais no abandona! Sem Ele Falta um componente nino portando a Divina Chama.
não existiríamos. A todos es- ­fundamental em nosso rela- Com ela se acendem nova-
tende sua mão complacente, cionamento afetivo – a frater- mente as outras três velas, para
ajudando-nos a enfrentar os nidade, o oxigênio do amor. que a paz, a fé e o amor renas-
temporais da vida, as crises Exprime-se no empenho de çam em nós.
existenciais; mas será que servir, o amor em sua expres- O nome do menino to-
estamos estendendo as mãos são maior, sempre orientados dos sabemos: Jesus. A vela é a
ao Senhor? pelo altruísmo – o pensar no ­esperança.
Quantas vezes por dia outro; jamais pelo egoísmo – É por isso que em dezembro
conversamos com Deus? o pensar em nós mesmos. nos sentimos mais tranquilos,
Quantas vezes, nas escolhas Haverá tônico mais pode- mais inclinados à reflexão, à
de nossos caminhos, inquiri- roso, a sustentar-nos o bom atividade religiosa, mais sensí-
mos a nós mesmos: ânimo, do que as boas ações, veis aos apelos da solidarieda-
– É isso o que Deus espera quando nos vinculamos ao de, inspirados na esperança de
de mim? serviço do bem, empenhados um futuro melhor.
Nesse empenho de colo- em fazer algo pelo próximo? O grande desafio que o
car o Senhor no comando de Haverá alegria que se com- ­Natal nos propõe é o de luta
nossa vida, está o oxigênio da pare à que sentimos quando vi- ingente contra nossas imper-
espiritualidade para que se sitamos o enfermo, atendemos o feições, para que a paz, a fé e o

.
mantenha viva a chama da fé. necessitado, consolamos o afli- amor deixem de ser meras es-
to, participamos de um serviço peranças, a cada Natal, conver-
em favor dos carentes de todos tendo-se em chamas ardentes e
os matizes? Ou quando harmo- perenes, a iluminar e aquecer a
A terceira vela é o amor, o nizamos a família em exercício nós e àqueles que nos rodeiam.
sustento da vida. de renúncia e dedicação? Então os sinos de Belém
Em sua essência, amar é Isso tudo é amor, o oxigê- replicarão numa outra festa,

.
querer o bem de alguém. nio da vida. bem mais significativa:
Para o egoísta, amar é que- O nascimento de Jesus em
rer em alguém o próprio bem. nossos corações!

730 28 Reformador | Dezembro de 2016


Deus, o Cristo
e nós
///////////////////////////////////////////

Luiz Julião Ribeiro


luizjuliaoribeiro@gmail.com

M
uito embora ainda seja e revelador de tamanha sabedo- se apresenta como mero inter-
irrisório o conheci- ria, que não tenha sido criado mediário de uma verdade que
mento da Humanidade por uma inteligência de corres- não pertence a Ele, mas ao Pai
a respeito de Deus, é inevitá- pondente grandeza. que o enviou. (João, 14:24.)
vel o empenho no sentido de A inteligência humana rejei- Allan Kardec, não fugindo a
compreendê-lo, por ser Deus a ta a ideia de um Universo que esse mesmo princípio, inicia o
razão de ser não só do próprio se revela absolutamente causal seu trabalho de Codificação da
homem, como também de tudo e, contraditoriamente, tenha Doutrina Espírita na questão 1
quanto ele é capaz de perceber, surgido de um acontecimento de O livro dos espíritos: Que é
por meio dos seus sentidos, sa- aleatório, fortuito, acidental e Deus? A resposta é lapidar em
bendo que essa percepção esca- sem o governo de uma inteli- termos de simplicidade, pro-
pa à sua capacidade de criação, gência à altura daquilo que ele fundidade e, ao mesmo tempo,
compreensão e realização. próprio exprime. de concisão: “Deus é a inteli-
A busca de Deus pelo ser Não é por outra razão que gência suprema, causa primeira
humano é, por isso mesmo, os Dez Mandamentos recebi- de todas as coisas.”
natural, automática, instintiva dos por Moisés no Monte Sinai O desvendamento da ver-
e racional, por força de uma (Êxodo, 20:1 a 17) apresentam dade se baseia em três grandes
atração irresistível a essa ideia Deus como o ser único que go- pilares: o fato, a observação e
e de uma lógica absolutamente verna a existência e o destino o raciocínio. Ou seja, o que os
profunda que lhe faz rechaçar dos seres existentes na Terra. nossos sentidos são capazes
a concepção de um Universo Jesus Cristo ratifica plena- de observar e a nossa razão de
tão grandioso e cientificamente mente essa mesma ideia, embo- compreender. A observação
preciso, harmônico, majestoso ra por outras palavras, quando e a compreensão nos condu-

Dezembro de 2016 | Reformador 29 731


zem, então, à conclu- seada naquilo que o ser
são. Isso porque a bus- humano já observou,
ca da verdade obedece compreendeu e com-
a impulso natural, uma provou, o que o induz a
vez que o desconheci- tirar conclusões outras,
do nos incomoda e, em além de contar com o
certos casos, quando instinto, ou verdade
não compreendemos, embrionária, existente
gera indignação e até em seu ser, a partir de
mesmo revolta. sua criação, herdada do
Por isso, Allan Kar- Criador.
dec, na questão 4 da obra Quanto a Jesus Cris-
citada, formula a inte- to, não é um ser à parte.
ressante pergunta aos Se o fosse, afrontaria os
Espíritos da Terceira Re- princípios da unicida-
velação: Onde se pode encontrar compreensão da nossa Huma- de, da igualdade, da imparcia-
a prova da existência de Deus? E nidade quanto estaria a consti- lidade e da absoluta Justiça de
os Espíritos respondem: “Num tuição química e física da ener- Deus, em relação às suas outras
axioma que aplicais às vossas gia nuclear para um ser humano criaturas. Inadmissível para o
ciências: não há efeito sem cau- da Idade da Pedra Lascada. atual estágio de compreensão
sa. Procurai a causa de tudo o Mais adiante Allan Kardec da humanidade terrena, pois
que não é obra do homem e a retorna ao assunto e questio- constituiria um privilégio, uma
vossa razão vos responderá.” na os Espíritos na questão 244: preferência, uma discriminação
(Grifos nossos.) Os Espíritos veem a Deus? Eles e, portanto, uma injustiça pra-
Continuando o aprofunda- então respondem: “Só os Es- ticada por Aquele que possui a
mento do tema, Allan Kardec, píritos Superiores o veem e o sabedoria e o poder absolutos.
fiel à sua formação de homem compreendem. Os inferiores o Jesus Cristo é, portanto, um
de ciência, indaga na ques- sentem e o advinham.” filho de Deus como nós, mas
tão 10: Pode o homem com- Também não é novidade que já conquistou a perfeição e
preender a natureza íntima de para o ser humano do nosso por isso vê, compreende e con-
Deus? E a resposta é a seguin- tempo que uma das verten- vive com o Pai. E, por ser o úni-
te: “Não; falta-lhe, para tanto, tes das nossas percepções é a co Espírito puro que já viveu em
um sentido.” do sentimento. Muitas coisas nosso planeta e que convive na
Não é novidade para nin- apenas sentimos, não racioci- intimidade de Deus, é denomi-
guém que a humanidade ter- namos sobre elas. O amor, por nado: “o filho único de Deus”.
rena ainda busca desvendar a exemplo, quando é muito racio- (João, 1:14 e 18 e Lucas, 1:35.)
realidade que a cerca, e muito cinado, entre nós, costuma ser Por ser um Espírito puro, Je-
ainda tem de conquistar no ter- falso, calculado, interesseiro. sus Cristo já percorreu todos os
reno do conhecimento dessa Essa adivinhação a que se estágios da evolução espiritual e
realidade dentro da qual vive referem os Espíritos é a dedu- já tinha alcançado essa condi-
e atua. Deus está tão acima da tiva ou racional, ou seja, ba- ção antes mesmo da existência

732 30 Reformador | Dezembro de 2016


do planeta Terra, conforme se nhecidas as suas ordens, isto é, tunidades inesgotáveis e igual
pode deduzir de suas próprias as suas leis. destino, regidos pelas mesmas
palavras anotadas pelo Evange- Vale destacar que o ensi- leis sábias, justas, imutáveis e
lista João. (João, 17:5.) no de Jesus, que é o ensino do amorosas, que nos conduzirão,
Em absoluta coerência com próprio Deus, posto ser seu inexoravelmente, ao glorioso
essa linha de pensamento, ve- intérprete, é eminentemente destino, a perfeição, quando,
rificamos que Allan Kardec, ao espiritual, de natureza moral, então, nos tornaremos cristos,
promover o maior interroga- pois objetiva conduzir a Deus por termos desenvolvido em
tório ao Mundo Espiritual de o Espírito, e não o corpo. Por nosso ser, em sua plenitude, o
que já se teve notícia, formula isso, enquanto o ser humano amor e a sabedoria.
a magistral pergunta aos Espí- não se conscientizar dessa ver- A propósito, nunca é de-
ritos da Codificação, questão dade, encontrará dificuldade mais lembrar que o Cristo
625: Qual o tipo mais perfeito de visualizar o caminho que esteve na Terra para nos en-
que Deus já ofereceu ao homem nos conduz ao Pai, pelo conhe- sinar a compreender e pra-
para lhe servir de guia e mode- cimento da verdade. ticar a Lei de todas as leis, a
lo? E os Espíritos deram a res- No que concerne a nós ou- Constituição universal, o mais
posta taxativa, peremptória, tros, somos Espíritos ainda im- puro amor, porquanto, em que
irretocável: “Jesus.” perfeitos, cujas características pese o imensurável respeito e
Desse modo passamos a vamos encontrar descritas na reconhecimento da superla-
compreender melhor o porquê questão 101 de O livro dos espí- tiva importância da Ciência
de Jesus ter afirmado, quando ritos. O que temos em comum humana, que nos propicia o
respondeu a uma indagação com Jesus é o fato de sermos conhecimento intelectual e
do Apóstolo Tomé: “Eu sou o Espíritos, com a mesma ori- o conforto material, não será
caminho, a verdade e a vida; gem, a mesma essência, regidos por meio de microscópio ou
ninguém vem ao Pai senão por pelas mesmas leis e com o mes- telescópio que um dia vere-
mim.” (João, 14:6.) Em conse- míssimo destino. mos a Deus, nem mesmo por
quência disso podemos enten- As diferenças entre nós ou- meio de fórmula da Física, da
der melhor por que é Ele inti- tros são naturais e, ao contrário Química ou da Matemática
tulado o Mestre dos mestres, o do que muitos pensam, absolu- que iremos compreendê-lo,
Profeta dos profetas, o Médico tamente justas, porque decor- muito menos será numa so-
dos médicos... Não se trata de rem da nossa idade espiritual, fisticada nave espacial que
força de expressão, mas de in- do aproveitamento que tivemos chegaremos a Ele, mas, pura e
discutível realidade. das nossas experiências vividas, simplesmente, por nos amar-
Essa linha de raciocínio está das escolhas feitas, das virtudes mos uns aos outros como o
em perfeita consonância com ou dos vícios cultivados e dos Cristo nos amou.
a revelação feita por Moisés esforços que empregamos para
(Deuteronômio, 18:15 a 19), o nosso aperfeiçoamento.
quando afirma que Deus envia- Consola-nos, profunda-
ria um profeta, cujas palavras o mente, a conquista da certeza //////////////////
Fonte: KARDEC, Allan. O livro dos es-
Criador colocaria na boca desse de que somos seres perfectí- píritos. Trad. Evandro Noleto Bezer-
profeta, a fim de que fossem co- veis, com igual origem, opor- ra. 4. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.

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Esflorando o E va n g e l h o
Pelo Espírito Emmanuel

Transitoriedade Pasemeco
“Eles perecerão, mas tu permanecerás; “Ili pereos, sed Vi restos; kaj ĉiuj ili
e todos eles, como roupa, eluziĝos kiel vesto.” –
envelhecerão.” – Paulo. (Hebreus, 1:11.) Paŭlo (Hebreoj, 1:11.)

////////////////////////// //////////////////////////

F L
ala-nos o Eclesiastes das vaidades e da aflição a Predikanto parolas al ni pri la vantaĵoj kaj
dos homens, no torvelinho das ambições des- aflikto de la homoj en la kirlo de la frenezaj
vairadas da Terra. surteraj ambicioj.
Desde os primeiros tempos da família humana, Ekde la unuaj tempoj de la homa familio ekzis-
existem criaturas confundidas nos falsos valores do tas personoj konfuzitaj pri la falsaj mondaj valo-
mundo. Entretanto, bastaria meditar alguns minutos roj. Sufiĉus tamen kelkminuta medito pri la pase-
na transitoriedade de tudo o que palpita no campo das
meco de ĉio vibranta en la kampo de la formoj, por
formas para compreender-se a soberania do espírito.
kompreni la superregecon de la spirito.
Consultai a pompa dos museus e a ruína das
Konsultu la pompon de la muzeoj kaj la ruinon
civilizações mortas. Com que fim se levantaram
tantos monumentos e arcos de triunfo? Tudo fun- de la mortintaj civilizacioj. Por kiu celo stariĝis tiom
cionou como roupagem do pensamento. A ideia da monumentoj kaj triumfaj arkoj? Ĉio funkciis kiel
evoluiu, enriqueceu-se o espírito e os envoltórios vesto de la penso. La ideo evoluis, riciĝis la spirito
antigos permanecem a distância. kaj la malnovaj envolvaĵoj restas malproksime.
As mãos calejadas na edificação das colunas bri- La manoj, kaliĝintaj en la konstruado de la bri-
lhantes aprenderam com o trabalho os luminosos laj kolonoj, ekkonis per laboro la lumajn sekretojn
segredos da vida. Todavia, quantas amarguras expe- de la vivo. Sed kiom da amaraĵoj spertis la frene-
rimentaram os loucos que disputaram, até à morte, zuloj, kiuj ĝismorte disputadis por ilin posedi?
para possuí-las? Uzu ĉiajn okazojn de servado kiel sanktajn
Valei-vos de todas as ocasiões de serviço, como
oportunojn en la dia marŝo al Dio.
sagradas oportunidades na marcha divina para Deus.
Grandvalora estas malabundo, ĉar ĝi estigas
Valiosa é a escassez, porque traz a disciplina. Pre-
disciplinon. Altvalora estas abundo, ĉar ĝi multi-
ciosa é a abundância, porque multiplica as formas
do bem. Uma e outra, contudo, perecerão algum gas la formojn de bono. Tamen unu kaj alia iam
dia. Na esfera carnal, a glória e a miséria constituem pereos. En la karna sfero, gloro kaj mizero kons-
molduras de temporária apresentação. Ambas pas- tituas modlurojn de kelkatempa aspekto. Ambaŭ
sam. Somente Jesus e a Lei Divina perseveram para forpasas. Nur Jesuo kaj la Dia Leĝo restas por ni
nós outros, como portas de vida e redenção. kiel pordoj al vivo kaj elaĉeto.

/ / / / / / / / / / / / / /////
Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. 9. imp. Brasília: FEB, 2015.

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A questão das
assinaturas
de Espíritos
///////////////////////////////////////////

Wesley Caldeira
weslleyscaldeira@gmail.com

A
llan Kardec mostrou-se Antecedentes nai os espíritos para ver se são
preocupado com a ques- O assunto não é novo na de Deus.”4
tão da identidade dos História. Shakespeare anotou em
Espíritos desde o início da orga- Eurípedes, em 413 a.C., fez o Tragédias na cena em que após
nização doutrinária, pois consta- personagem Orestes questionar os generais Banquo e Macbeth
tou a diversidade cultural e moral um oráculo vindo supostamen- são abordados, por três bruxas,
dos indivíduos desencarnados te do deus Apolo, recebido em e recebem profecias de ascen-
e entreviu os riscos inerentes ao Delfos, que lhe impunha vin- são política, que os instrumen-
relacionamento com eles. gar a morte do pai à custa da tos sombrios, como ardil para
Em Instrução prática sobre as vida da mãe adúltera: “Não te- nos conduzir até a destruição,
manifestações espíritas (1858) ria sido algum espírito infernal “contam-nos verdade, cati-
tratou do tema no capítulo Das quem disso me persuadiu sob a vam-nos com insignificâncias
relações com os Espíritos. Em forma de uma divindade?” Sua claramente honestas, só para
O que é o espiritismo (1859) irmã Electra discordou: “Um trair-nos em consequências as
discorreu sobre ele e afirmou: espírito infernal... sobre os al- mais profundas”.5
“[...] Devemos, pois, abster-nos tares sagrados? Ah! não creio!”
de crer de um modo absoluto Mas Orestes não se convenceu: Advertência
na autenticidade de todas as “No entanto, eu não admitirei A questão da identidade dos
assinaturas de Espíritos”.1 Foi, nunca que semelhante oráculo Espíritos “é uma das mais con-
porém, no capítulo XXIV de tenha sido legítimo...”.3 trovertidas”, afirmou o Codifi-
O livro dos médiuns (1861) que Recomendou 1João, 4:1: cador no item 255 do capítulo
conferiu à questão abordagem “Amados, não acrediteis em XXIV de O livro dos médiuns
extensa, minuciosa e completa.2 qualquer espírito, mas exami- (LM). É, na verdade, “depois da

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obsessão, uma das maiores difi- 256), em que há “solidarieda- isso, é melhor esperar que as
culdades que apresenta” a práti- de e analogia de pensamentos” provas surjam naturalmente,
ca mediúnica. (LM, it. 268, subit. 4). e não provocá-las, pedindo-as
Certos Espíritos se passam Já o mesmo empréstimo aos Espíritos (LM, it. 258).
por personalidades respeitáveis. não desonera da condição de
Falseiam o caráter, ocultam usurpadores os Espíritos que Identificação pela caligra-
suas disposições intelectuais, querem esconder sua ordem fia e assinatura
emocionais e morais, imitando evolutiva inferior, atribuindo- A semelhança de caligrafia
as personalidades que lhes inte- -se um nome respeitável, com o e de assinatura nas comuni-
ressam, seja para transmitirem objetivo de receber mais crédito cações psicográficas gera uma
ensinos falsos, seja para enredar às suas palavras. presunção favorável à identida-
o médium na obsessão por fas- A identificação dos Espíritos de, mas não uma garantia. “Há
cinação, lisonjeando-lhe a vai- é, sobretudo, relevante nos ca- falsários no Mundo dos Espíri-
dade pela grandeza dos nomes sos de comunicações íntimas, tos” (LM, it. 260).
que por ele se comunicam. isto é, de familiares e amigos, Carlos Augusto Perandréa,
“porque aí é o indivíduo, a sua professor da disciplina “Identi-
Orientações gerais pessoa mesma que nos interes- ficação Datiloscópica e Grafo-
A identificação absoluta, in- sa” (LM, it. 256). técnica” na Universidade Esta-
duvidosa, de um Espírito é di- dual de Londrina, apresentou
fícil de obter. Há casos em que Provas possíveis a comprovação pericial da au-
ela é importante, em outros, é Na Revista Espírita de mar- tenticidade gráfica da escrita e
“questão secundária e sem im- ço de 1862, analisando o caso da assinatura de Espíritos em
portância real” (LM, it. 255). ­Carrère, Allan Kardec declarou mensagens psicografadas por
Nas comunicações instru- que “as melhores provas são as Francisco Cândido Xavier,7
tivas o que importa é a apre- que se originam da espontanei- médium dotado de uma apti-
ciação moral dos Espíritos e a dade das comunicações”.6 dão especial para esse efeito que
qualidade de seus ensinos. Os O estilo de linguagem, o nem todos os psicógrafos pos-
nomes ajudam a fixar as ideias, emprego de palavras do gos- suem, por mais mecânicos que
associando-as a seus autores. to pessoal, as citações de fatos sejam (LM, it. 219).
Os Espíritos bons podem usar particulares de suas vidas, des-
emprestado o nome de uma conhecidos dos praticantes, Identificação pela
personalidade respeitada, de circunstâncias especiais e im- ­linguagem
semelhante grau de elevação previsíveis que se apresentam “Julgam-se os Espíritos,
espiritual, sem que isso tra- ao longo e na sucessão dos diá- como os homens, pela sua lin-
duza fraude, somente a indi- logos produzem um mosaico de guagem” (LM, it. 255).
cação de sua ordem evolutiva. elementos demonstrativos da Há relação entre a lingua-
Os “melhores Espíritos podem identidade dos comunicantes. gem e o grau de elevação espi-
substituir-se mutuamente, A “melhor de todas as pro- ritual. Ela revela o indivíduo:
sem maiores consequências”; vas de identidade está na lin- formação, moral, ideias, gos-
eles formam, por assim dizer, guagem e nas circunstâncias tos, ideais, manias. Emmanuel
“um todo coletivo” (LM, it. fortuitas” (LM, it. 260). Por afirmou que “a fala, de modo

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i­nvariável, reflete o grupo mo- teatro imitam a Natureza” (LM, dado habilitará o Movimento
ral a que pertencemos”,8 é o it. 268, subit. 24). Espírita a garantir a unidade
“índice de nossa posição evolu- doutrinária, orientando-se pela
tiva”.9 E Jesus ensinou10 que “da A lógica e o bom senso nas concordância dos ensinos dos
abundância do coração fala a comunicações Espíritos, reservando aos ensi-
boca” (Mateus, 12:34). Kardec enfatizou que uma nos sem a validação da univer-
A linguagem pode ser imi- comunicação deve ser exami- salidade o status de tese de es-
tada. No começo dos anos de nada perscrutando e analisan- clarecimento, a exigir, por isso
1980, um falsificador alemão do suas ideias e expressões, “re- mesmo, “maior prudência em
aprendeu a imitar a caligrafia jeitando, sem hesitação, tudo o dar-lhes publicidade”.12
de Hitler; assimilou seu estilo que for contrário à lógica e ao
literário; leu várias biografias bom senso, tudo o que desmin- Distinção entre os Espíritos
eruditas do Führer; escreveu ta o caráter do Espírito que su- bons e maus
minuciosos relatos à feição pomos esteja se manifestando” É imprescindível verificar
de diários, que formaram 60 (LM, it. 266). em que grau da escala espí-
cadernos. O resultado foi tão Anna Blackwell, tradutora rita se encontram os Espíri-
espetacular que enganou o de algumas obras de Kardec tos que fazem comunicações
historiador britânico Hugh para o inglês, conhecendo-o instrutivas ou que se apresen-
Trevor-Roper, professor de Ox- bem, teve razão em dizer que tam como guias espirituais,
ford, um dos principais espe- ele era “precavido e realista e assim saber que medida de
cialistas no líder do Nazismo, e até quase à frieza, cético por confiança merecem. “A in-
a impostura foi vendida por 4,8 natureza e por educação, ar- dividualidade deles pode até
milhões de dólares para a revis- gumentador lógico e preciso, nos ser indiferente; nunca,
ta alemã Stern. e eminentemente prático em porém, suas qualidades mo-
Allan Kardec percebeu os suas ideias e ações, distancia- rais” (LM, it. 262).
riscos das imitações. Seu con- do assim do misticismo que A linguagem dos Espíritos
selho: estudar “o ditado em seu do entusiasmo”.11 Superiores é elevada, modes-
conjunto, de mente aberta, pers- O Codificador completou ta, concisa, pois “têm a arte de
crutando o fundo das ideias, o sua recomendação: “este é o dizer muitas coisas em poucas
alcance das expressões”, pois único meio, porém, o meio palavras” (LM, it. 267, subit.
“certos aspectos formais de lin- infalível, porque não há co- 9); pode até conter gracejos,
guagem podem ser imitados, municação má que resista a mas “finos e sutis, nunca tri-
mas não o pensamento”. Como uma crítica rigorosa” (LM, it. viais” (LM, it. 267, subit. 24).
ele acrescentou, jamais “a ig- 266); “Tudo o que se afaste da O que mais interessa numa
norância imitará o verdadeiro lógica, da razão e da prudên- comunicação é “sondar-lhe o
saber e jamais o vício imitará cia não pode deixar dúvida íntimo, analisar suas palavras,
a verdadeira virtude” (LM, it. quanto à sua origem” (LM, it. pesá-las friamente, madura-
261); quando os Espíritos in- 267, subit. 5). mente e sem prevenção” (LM,
feriores tentam imitar o pen- Quando publicou O evan- it. 267, subit. 5).
samento dos Espíritos nobres gelho segundo o espiritismo Comentando o versículo
fazem-no “como os cenários do (1864), ele disse que esse cui- da carta atribuída a Tiago, 3:7,

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Emmanuel disse13 que “Toda ele acompanhou os lances do com Espíritos mistificadores
página escrita tem alma e o nosso encontro. provocou o embotamento da
crente precisa auscultar-lhe a sensibilidade fluídica:
natureza. [...]”. O versículo dis- Alguns médiuns não são
cerniu, maravilhosamente: “a propriamente videntes, mas Vejo-o, não poucas vezes, as-
sabedoria que vem do alto é, podem captar clichês mentais sessorado por seres malfaze-
antes de tudo, pura, depois pa- produzidos por participantes jos que já se utilizam de você
cífica, indulgente [moderada, encarnados ou desencarnados fingindo tratar-se de mim...
em algumas traduções], conci- de uma reunião mediúnica, Porque a sua sensibilidade está
liadora, cheia de misericórdia e através do diencéfalo,17 a parte ficando embotada, não se dá
de bons frutos, isenta de parcia- do cérebro que está apta a deco- conta da diferença das energias
lidade e de hipocrisia”,14 jamais dificar um quadro fluídico em deles e das minhas. [...]
é portadora dos “venenos sutis processo visual, o que constitui
da parcialidade humana”.15 outra porta para o engodo. O exemplo de Allan Kardec
Tudo isso deve ser analisado Por volta de 1863, Kardec
dentro de uma “uniformidade Identificação pelo estado estava recebendo comunicações
constante das boas comunica- vibratório mediúnicas “de perto de mil cen-
ções” (LM, it. 268, subit. 11). Os Espíritos bons transmi- tros espíritas sérios, dissemina-
tem impressão agradável, sua- dos pelos mais diversos pontos
Identificação pela aparência ve, tranquila. A aproximação da Terra”.19 Na Revista Espírita de
Kardec perguntou aos Espí- dos Espíritos maus produz mal- maio desse ano,20 ele apresentou
ritos se entre eles haveria aque- -estar, pode até causar agitação um balanço de seus trabalhos re-
les capazes, “[...] aos olhos de física, pelo modo com que afeta lativos a essas comunicações:
um médium vidente, de tomar a sensibilidade nervosa do mé- a) cerca de 3.600 comunica-
uma falsa aparência?” (LM, it. dium (LM, it. 267, subit. 19). ções foram examinadas e classi-
268, subit. 14) Sim, responde- Kardec, entretanto, chamou ficadas; b) mais de 3.000 tinham
ram; é possível enganar “por a atenção para um detalhe: moralidade irrepreensível, “ex-
meio das falsas aparências”. celentes como fundo”, as outras
Manoel Philomeno de Mi- [...] O caráter penoso e desa- eram más, no fundo e na forma,
randa relata16 a tentativa de Es- gradável da impressão é um vindas, quase todas, de médiuns
píritos maus de iludirem, por efeito de contraste, pois se o que trabalhavam isolados –“o
esse estratagema, os próprios Espírito do médium simpati- isolamento favorece a fascina-
Espíritos nobres: za com o Espírito mau que se ção”; c) mais ou menos 300 eram
manifesta, será pouco ou nada suscetíveis de publicação; d)
[...] em realidade, não tivemos afetado pela proximidade des- apenas 100 eram de “mérito fora
aqui, o antigo sacerdote Elia- te” (LM, it. 268, subit. 28 – Co- do comum” – no “Mundo Invi-
chim bem Sadoch, mas um mentário de Kardec). sível, como na Terra, não faltam
clone dele, um Espírito que escritores, mas os bons são ra-
lhe assimilou as característi- Philomeno de Miranda ros”; e) 30 manuscritos extensos
cas com o objetivo de enga- apresentou o exemplo do mé- foram estudados, mas apenas
nar-nos, já que, no seu reduto, dium Davi,18 cujo intercâmbio cinco ou seis tinham real valor.

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Observações finais “[...] Toda precaução é pou- 7. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 27 –
Palavra.
Para “julgar os Espíritos, ca para evitar as publicações
lamentáveis. [...] mais vale pe-
9
____. Vinha de luz. Pelo Espírito
como para julgar os homens,
Emmanuel. 8. imp. Brasília: FEB, 2015.
é preciso, primeiro, que cada car por excesso de prudência, cap. 73 – Falatórios.
um saiba julgar-se a si mesmo” no interesse da causa”; é ne- DIAS, Haroldo Dutra. O novo testa-
10

(LM, it. 267, subit. 26). cessário “não publicar incon- mento. Brasília: FEB, 2013.
A educação da mediunida- sideradamente tudo quanto 11
WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco.
de passa por fases diversas num vem dos Espíritos, se quiser- Allan Kardec: pesquisa biobibliográ-
fica e ensaios de interpretação. 4. ed.
percurso quase sempre longo. mos atingir os objetivos a que Brasília: FEB. v. 3, 1982. p. 130.
A paciência é a prova mais co- nos propomos”; “o que deve 12
KARDEC, Allan. O evangelho segun-
mum, nos períodos iniciais, e o ser entregue ao público exige do o espiritismo. Trad. Guillon Ribei-
discernimento é a vitória pro- condições especiais” – assim ro. 131. ed. 6. imp. (Edição Histórica.)
Brasília: FEB, 2016. Introdução, it. II.
gressiva da maturidade, resul- orientou Allan Kardec.21
tante do estudo e da experiência.
13
XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo
Espírito Emmanuel. 1. ed. 10. imp. Bra-
Não é desprestígio equivocar- sília: FEB, 2016. cap. 14 – Páginas.
-se na identificação dos Espíritos, 14
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Trad. Gil-
ou sofrer mistificações, nem isso berto da Silva Gorgulho et al. [8. imp.]
significa ausência de boa assis- São Paulo: Paulus Editora, 2012.
REFERÊNCIAS:
tência espiritual. Mesmo os bons 1
KARDEC, Allan. O que é o espiritismo.
15
XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo
Espírito Emmanuel. 1. ed. 10. imp. Bra-
médiuns podem ser enganados; Tradução da redação de Reformador
sília: FEB, 2016. cap. 14 – Páginas.
embora “com menos frequência” em 1884. 56. ed. 1. imp. Brasília: FEB,
2013. cap. II, it. 93 a 96. 16
FRANCO, Divaldo Pereira. Transição
(LM, it. 226, subit. 9). planetária. Pelo Espírito Manoel Phi-
2
____. O livro dos médiuns. Trad.
O erro tem valor educacio- Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp.
lomeno de Miranda. 2. ed. Salvador:
LEAL, 2010. p. 217.
nal como caminho no processo. Brasília: FEB, 2013.
17
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Wal-
3
EURÍPIDES. Alceste, Electra, Hipó-
do. Evolução em dois mundos. Pelo
De tudo se colhe um ensina- lito. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo:
Espírito André Luiz. 27. ed. 5. imp. Bra-
Martin Claret, 2004. p. 110 e 111.
mento, mesmo das piores coi- sília: FEB, 2016. cap. 9, it. Microcosmo
sas. Cabe a vós saber colhê-lo. É
4
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Trad. Gilber- prodigioso, p. 73 e cap. 16, it. Sincronia
to da Silva Gorgulho et al. [8. imp.] de estímulos, p. 127.
preciso que haja comunicações São Paulo: Paulus Editora, 2012. 18
FRANCO, Divaldo Pereira. Trilhas
de toda espécie, para que apren- 5
SHAKESPEARE, William. Tragédias. da libertação. Pelo Espírito Manoel
dais a distinguir os Espíritos Trad. Beatriz Viégas-Faria. São Paulo: Philomeno de Miranda. 10. ed. 3. imp.
bons dos maus e para que vos Editora Nova Cultural, 2003. 1º Ato, Brasília: FEB, 2014. cap. Advertências
Cena III, p. 151 e 154. salvadoras, p. 126.
sirvam de espelho a vós mes-
6
KARDEC, Allan. Revista Espírita: jor- 19
KARDEC, Allan. O evangelho se-
mos” (LM, it. 268, subit. 16). gundo o espiritismo. Trad. Guillon
nal de estudos psicológicos. ano 5,
n. 3, p. 117, mar. 1862. Trad. Evandro Ribeiro. 131. ed. 6. imp. (Edição His-
A modéstia é o mais nobre Noleto Bezerra. 4. ed. 1. imp. Brasília: tórica.) Brasília: FEB, 2016. Intro-
FEB, 2014. dução, it. II.
dos adornos: “aquele que não
7
PERANDRÉA, Carlos Augusto. A psico- 20
____. Revista Espírita: jornal de es-
sabe distinguir a pedra legíti- tudos psicológicos. ano 6, n. 5, p. 212,
grafia à luz da grafoscopia. São Paulo:
ma da falsa se dirige ao lapidá- Editora Fé, 1991. mai. 1863. Trad. Evandro Noleto Bezer-
rio” (LM, it. 268, subit. 25); ou ra. 4. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2014.
8
XAVIER, Francisco C. Seara dos mé-
seja, pede ajuda. diuns. Pelo Espírito Emmanuel. 20. ed. 21
____.____. p. 212 e 213.

Dezembro de 2016 | Reformador 37 739


Filhos e
drogadição
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Alessandro Viana Vieira de Paula


vianapaula@uol.com.br

O
benfeitor Camilo, na obra preenchidas, mas o livro não está na droga, normalmente na fase
Minha família, o mundo e finalizado, cabendo aos pais o da adolescência ou no início da
eu (Editora Fráter, 1. ed., compromisso de nortear os fi- vida adulta.
cap. 7, p. 67), psicografado pelo lhos para o bem, ajudando-os a Muitos desses filhos nasce-
médium José Raul Teixeira, as- preencher algumas das páginas ram em lares ajustados, equili-
severa que “é próprio de todo em branco. brados, receberam orientação
o casal vinculado ao bem e que Essas experiências e apren- moral e religiosa, e, às vezes,
tem sonho de um mundo me- dizados trazidos do pretérito, frequentaram a evangelização
lhor, fazer votos para que seus de outras vidas, geram as boas e infantil e a mocidade da Casa
filhos nasçam com saúde físi- as más inclinações que os filhos Espírita, e, mesmo tendo con-
ca, mas, do mesmo modo, que demonstram desde a primeira tato com as informações do
sejam criaturas voltadas para o infância, mas, conforme eluci- Espiritismo, optam, por várias
bem, para as ações da luz, para da o benfeitor Camilo na referi- causas, em fazer uso de drogas
Deus, enfim”. da obra (p. 68), “ninguém pode psicoativas.
À luz da veneranda Dou- identificar, de pronto, as baga- Alguns pais se perguntam:
trina Espírita, sabemos que a gens morais de que é portadora Onde falhamos? fomos exigentes
alma não é criada na concepção [a alma], de que realidades espi- demais? ou complacentes?
ou no nascimento, portanto, os rituais advém nem, após a exis- Sem dúvida, há casos em
nossos filhos, do ponto de vista tência terrena, para que níveis que os pais falharam na educa-
espiritual, já possuem experiên- evolutivos regressará”. ção, pois foram excessivamen-
cias acumuladas, algumas boas, Em minhas viagens divul- te rígidos, ou omissos, ou não
outras más, em virtude da lei gando o Espiritismo e no aten- enxergaram os conflitos psico-
abençoada da reencarnação, de dimento fraterno da Casa Espí- lógicos de que seus filhos eram
forma que eles não são um livro rita não são poucas as narrativas portadores, ou não identifica-
em branco quando nascem, vis- doloridas de pais que vivenciam ram os sinais de que algo não
to já possuírem algumas páginas a experiência de ter um filho estava bem.

740 38 Reformador | Dezembro de 2016


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Há situações em que os pais tadores, insistem nesse caminho Dessa forma, para muitos jo-
agiram de forma exemplar, o espinhoso. vens, a maconha perdeu o status
que não impediu os filhos de Gostaria de pontuar a ques- de droga, sendo utilizada apenas
enveredarem para o caminho tão da maconha por conta do para relaxar e diminuir a ansie-
triste das drogadição. Camilo, alto índice de jovens que a utili- dade, de modo que, segundo
com sua orientação lógica, nos zam, a pretexto de que não é tão esses usuários, não faz qualquer
ensina que esses filhos possuem ofensiva à saúde, de que não são mal à saúde.
bagagens morais ainda deficitá- viciados e, tão logo o desejarem, Preocupo-me como ficará
rias, estão em patamares evo- abandonarão seu uso. a juventude, a sociedade e as
lutivos que lhes dificultam en- Muitos deles estão num está- famílias se a maconha for des-
frentar os desafios existenciais, gio de fascinação, sofrendo, inclu- criminalizada pelo Supremo
particularmente os relaciona- sive, influência espiritual perni- ­Tribunal Federal.
dos à vida juvenil, em clima ciosa, de tal sorte que vemos pais Não são poucos os pais, al-
de equilíbrio, optando, mui- que usam desde os diálogos reli- guns espíritas, se afligindo em
tas vezes, pela fuga das drogas giosos até os científicos, mas em seus lares com essa realidade.
­estupefacientes. vão, porque, na atual fase os filhos Que dizem os Espíritos Superio-
Vemos, infelizmente, muitos não conseguem identificar os pre- res acerca dessa situação? Como
jovens fazendo uso de bebidas juízos físicos e morais, que estão devemos agir?
alcoólicas, tabaco, maconha, co- amontoando para si mesmos. No livro Vereda familiar, de
caína, crack, LSD etc. Em relação ainda à maco- autoria espiritual da benfeitora
Lamentavelmente, alguns de- nha, na minha área de trabalho, Thereza de Brito, psicografado
les são portadores do conheci- deparo-me com muitos jovens por José Raul Teixeira, consta
mento espírita, sobretudo da Lei nessa situação, e ao serem in- que: “Os filhos que [você] guarda
de Causa e Efeito e dos processos dagados se estão usando droga, no lar, marcados por desequilí-
obsessivos, porém, devido à fra- respondem que não, pois usam brios de comportamento, fazen-
gilidade moral de que são por- apenas maconha. do-se doidivanas, irresponsáveis

Dezembro de 2016 | Reformador 39 741


ou cruéis, são aqueles que neces- O fato é que um dia ajusta- F­ ranco, na obra Diretrizes para
sitam da sua compreensão e as- rão suas vidas às diretrizes do uma vida feliz:
sistência”. (Editora Fráter, 5. ed., ­Cristo, cabendo aos genitores
cap. 17, p. 107.) dar a sua quota de contribui- Se você surpreendeu o seu filho,
Assim sendo, os pais neces- ção, amando e orientando sem masculino ou feminino, usando
sitam compreender a situação, o cessar, jamais desistindo, a fim qualquer tipo de droga, tenha
que não significa conivência ou de que a culpa não os aflija no muito cuidado com a maneira
passividade, mas, à luz da reen- futuro, mesmo por que, an- de agir. Passado o choque inicial,
carnação, entender que os filhos, tes de renascerem, assumiram procure conversar calmamente,
que são usuários de droga, estão esse compromisso. em tom de amizade e carinho,
a demonstrar o nível de evolução O livro dos espíritos, na ques- buscando saber as causas que o
em que se acham, encontrando- tão 208, menciona que a missão levaram a essa fuga infeliz. Uma
-se momentaneamente enfermos dos pais é de educar os filhos. atitude de bondade vale mais
sob a óptica moral. Quem sabe se Se falharem nessa tarefa, serão do que todos os argumentos
não serão as mesmas almas que considerados culpados, razão produzidos pela cólera ou pela
desviamos do caminho do bem pela qual devem os pais, em agressividade... Faça-o perceber
em outras vidas e que hoje, por quaisquer situações, insistir na que você está aberto ao diálogo...
Misericórdia Divina, retornam educação moral, para que não Dê-lhe uma assistência de vigi-
ao nosso lar como filhos, a fim de se sintam corresponsáveis pela lância, sem tornar-se um guarda
que tenhamos a oportunidade de falha dos filhos. severo ou algoz... Sempre, que
lhes apontar novos rumos, agora É uma benção ter o co- possível, converse sobre temas
na direção das virtudes? nhecimento espírita, porque edificantes, cuidando de não se
Precisamos dar-lhes assistên- os pais sabem que os esforços tornar cansativo em relação ao
cia, amando-os sem desanimar, renderão resultados, logo mais problema... proponha-lhe a aju-
porque nenhum investimento de ou nas vidas porvindouras, e da especializada de um psico-
amor é perdido, ficando registra- ainda sabem do apoio espiri- terapeuta... Todas as pessoas se
do na intimidade da alma e, por tual que lhes chega diariamen- equivocam, tendo direito à recu-
certo, frutificando um dia, pela te, bem como sabem que a ora- peração... Demonstre que você
lei inexorável do progresso. ção será o sustentáculo para os também tem problemas e busca
Há diversos profissionais da manter sintonizados com os resolvê-los de maneira saudável.
Psicologia e da Psiquiatria que guias espirituais e renovar as Faça-o perceber que a droga so-
podem orientar os pais, qualifi- forças morais, de modo a pros- mente leva à destruição... Ame,
cando-os para a tarefa em ques- seguirem amando os filhos em qualquer circunstância, o seu
tão, porque, em algumas ocasiões que, a despeito da educação e filho, masculino ou feminino,
os pais, por ignorância, podem do exemplo na prática do bem, demonstrando-lhe que nada no
cometer erros em nome do amor. insistem em viver no mundo mundo o afastará da sua ternu-
Os pais hão de agir como ­lamentável das drogas. ra... Aplique sempre a terapêuti-
semeadores, tendo fé na vida Por fim, trago à baila uma ca do amor e não tenha pressa. O
futura, porque não sabem se bela lição do Espírito Marco resultado virá no momento pró-
os filhos desejarão nesta reen- Prisco, por meio da mediu- prio (Editora LEAL, 1. ed., cap.
carnação refazer seus passos. nidade de Divaldo Pereira 10, p. 43 a 46).

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Falando de livro

Jesus de Nazaré
Uma narrativa da vida e das parábolas

///////////////////////////////////////////

FEB Editora
editorial@febnet.org.br

A
o longo do tempo, o Cristo registrados pelos evan- Destaques do Prefácio
Evangelho de Jesus gelistas e enriquecida por per- da obra
tem sido interpretado tinentes comentários que nos
sob diversos pontos de vista: levam a refletir sobre a per- Um antigo conto judaico relata
de forma literal, alegórica ou sonalidade única que é Jesus que a Verdade decidiu visitar os
simbólica e espiritual. Sem de Nazaré, Guia e Modelo da homens, sem roupas e adornos.
desmerecer a importância ­Humanidade. Todos que a viam viravam-lhe
das abordagens intelectuais, as costas de vergonha e medo,
o grande objetivo do homem e ninguém lhe dava as boas-
deve ser interpretar a Boa- -vindas. Um dia, desconsolada
-Nova, buscando vivenciar e triste, encontrou a Parábola,
suas lições. O Divino Mestre que passeava alegremente tra-
utilizou-se das parábolas para jando elegante vestimenta.
ilustrar seus preceitos, legan- – Verdade, por que você está tão
do à Humanidade, por meio abatida? – perguntou a Parábola.
de poéticas comparações, um – Porque devo ser muito fria e
rico acervo de ensinamentos. antipática – respondeu a amar-
Jesus de Nazaré: uma nar- gurada Verdade.
rativa da vida e das parábolas – Que disparate! – sorriu a Pa-
apresenta ao leitor uma abor- rábola. – Não é por isso que os
dagem espírita das parábolas, homens evitam você. Vista al-
relatando os principais acon- guma das minhas roupas e veja
tecimentos da trajetória do o que acontece.

Dezembro de 2016 | Reformador 41 743


Então, a Verdade colocou lindas Na tentativa modesta de con- Na seara do Consolador Pro-
vestes e passou a ser bem-vinda. tribuir com algo novo, pro- metido, tem atuado na divulgação
Expressando a milenar sabe- curamos inserir as parábolas por meio de palestras e cursos,
doria popular, o conto ensina dentro da narrativa unificada sendo articulista do Boletim Sei.
que o homem, na sua ima- dos quatro Evangelhos. Participa da diretoria do Abrigo
turidade espiritual, não gos- Empreenderemos uma viagem Teresa de Jesus desde 1979, orga-
ta de encarar a verdade sem espiritual fascinante e enrique- nização veneranda fundada em
adornos. Jesus, como pro- cedora, acompanhando o mi- 1919, que educa crianças em si-
fundo conhecedor das nossas nistério público de Jesus por tuação de risco social, sendo o seu
fraquezas, falou por parábo- meio das parábolas. [...] atual presidente. Tem contribuído
las para que as verdades que como conselheiro do Lar Fabiano
elas encerram fossem desco- O autor de Cristo e da Rádio Rio de Janei-
bertas na medida da evolução ro e atuado como colaborador no
humana. [...] Frederico Guilherme ­Kremer Centro Espírita Maria Angélica
Assim, apresentamos ao leitor nasceu no Rio de Janeiro, numa (CEMA), na Barra da Tijuca, e no
amigo uma abordagem espírita família espírita. Cursou o Colé- Núcleo Central da Cruzada dos

.
das parábolas de Jesus, conside- gio Militar do Rio de Janeiro, Militares Espíritas (CME).
rando os principais pensamen- onde frequentou o Núcleo da
tos religiosos nelas presentes, Cruzada dos Militares Espíri-
tanto do Velho quanto do Novo tas, fundado por Carlos ­Torres
Testamento, conectando as três Pastorino. Lá, desenvolveu Recomendamos a leitura
grandes revelações: Judaísmo, grande afeição pelo estudo do desse valioso lançamento da
Cristianismo e Espiritismo. Evangelho, influenciado por FEB Editora em seu formato im-
Destacamos que o Judaísmo Pastorino e por seu pai, Ruy presso ou eletrônico. Outras in-
profetizou o advento do Cristo, Kremer. Formou-se em Enge- formações estão disponíveis no
e este prometeu enviar o Con- nharia e trabalha desde então portal www.febnet.org.br ou no
solador, que é o Espiritismo. na Petrobras. site www.febeditora.com.br.

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Oração do
Natal
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Humberto de Campos (Espírito)

S
enhor Jesus. Há quase cebem os aromas agrestes da sobre as crianças abandonadas,
dois milênios, estabe- Natureza. estampando nos diários um
lecias o Natal com tua Um presepe do século XX conto triste, onde se exalte a cé-
doce humildade na manjedou- seria certamente arranjado lebre virtude cristã da caridade;
ra, onde te festejaram todas as com eletricidade, sobre uma mas, daí a momentos, fecharão
harmonias da Natureza. Reis e base de bombas e metralhado- a porta dos seus palacetes ao
pastores vieram de longe, tra- ras, onde aquela legenda suave primeiro pobrezinho.
zendo-te ao berço pobre o tes- do Gloria in excelsis Deo seria Contudo, Senhor, entre os
temunho de sua alegria e de seu substituída por um apelo re- superficialismos desta época
reconhecimento. As estrelas volucionário dos extremismos de profundas transições, al-
brilharam com luz mais intensa políticos da atualidade. mas existem que te esperam e
nos fulgores do céu e uma delas As comemorações já não te amam. Tua palavra sincera e
se destacou no azul do firma- são as mesmas. branda, doce e enérgica, mag-
mento, para iluminar o suave Os locutores de rádio falarão netiza-lhes os corações, na ca-
momento de tua glória. Desde da tua humildade, do cume dos prichosa e interminável esteira
então, Senhor, o mundo inteiro, arranha-céus, e, depois de um do tempo. Elas andam ocultas
pelos séculos afora, cultivou a programa armamentista, estra- nas planícies da indiferença e
lembrança da tua grande noite, nharão, para os seus ouvintes, que nas montanhas de iniquida-
extraordinária de luz e de bele- a tua voz pudesse abençoar os pa- de deste mundo. Conservam,
zas diversas. cíficos, prometendo-lhes um lugar porém, consigo a mesma es-
Agora, porém, as recordações de bem-aventurados, embora haja perança na tua inesgotável
do Natal são muito diferentes. isso ocorrido há dois mil anos. ­misericórdia.
Não se ouvem mais os cân- Numerosos escritores fala- É com elas e por elas que,
ticos dos pastores, nem se per- rão, em suas crônicas elegantes, sob as tuas vistas amoráveis,

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trabalham os que já partiram semelhantes. Os Espíritos das Tu, que és a essência de
para o mundo das suaves re- trevas fazem chover o fogo de nossos pensamentos de ver-
velações da morte. É com a suas forças apocalípticas so- dade e de luz, sabes que todas
fé admirável de seus corações bre as organizações terrestres, as dores são irmãs umas das
que semeamos, de novo, as ateando o sinistro incêndio outras. Assim, as esperanças
tuas promessas imortais, en- das ambições na alma de mul- desabrochem nos corações
tre os escombros de uma civi- tidões alucinadas e desvalidas. dos teus frágeis tutelados, para
lização que está agonizando, à Por toda parte, assomam os vibrar nos mesmos ideais,
míngua de amor. falsos ídolos da impenitência aquém ou além das linhas ar-
É por essa razão que, sem do mundo, e místicas políticas, bitrárias que os homens intitu-
nos esquecermos dos peque- saturadas do vírus das mais ne- laram de fronteiras!
ninos que agrupavas em der- fastas paixões, entornam sobre Todas as expressões da Fi-
redor da tua bondade, nos os Espíritos o vinho ignomi- losofia e da Ciência dos sécu-
recordamos hoje, em nossa nioso da morte. los terrenos passaram sobre o
oração, das crianças grandes, Mas nós sabemos, Senhor, mundo, enchendo as almas de
que são os povos deste século como são falazes e enganadoras amargosas desilusões. Nume-
de pomposas ruínas. as doutrinas que se afastam da rosos políticos te ridiculizaram,
Tu, que és o Príncipe de to- seiva sagrada e eterna dos teus desdenhando as tuas lições
das as nações e a base sagrada ensinos, porque dissipas mi- inesquecíveis; mas, nós sabe-
de todos os surtos evolutivos sericordiosamente a confusão mos que existe uma verdade
da vida planetária; que és a de todas as almas, ainda que os que dissimulaste aos inteligen-
Misericórdia infinita, rasgan- seus arrebatamentos se apoiem tes para a revelares às crianci-
do todas as fronteiras edifica- nas paixões mais generosas. nhas, encontrada, aliás, por to-
das no mundo pelas misérias Tu, que andavas descal- dos os homens, filhos de todas
humanas, reúne a tua família ço pelos caminhos agrestes as raças, sem distinção de cren-
espiritual, sob as algemas da da Galileia, faze florescer, de ças ou de pátrias, de tradições
fraternidade e do bem que nos novo, sobre a Terra, o encanto ou de família, que pratiquem a
ensinaste!... suave da simplicidade no tra- caridade em teu nome...
Em todos os recantos do balho, trazendo ao mundo a Pastor do rebanho de ove-
orbe, há bocas que maldizem e luz cariciosa de tua oficina de lhas tresmalhadas, desde o pri-
mãos que exterminam os seus Nazaré!... meiro dia em que o sopro divi-

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Deposiphotos.com/iostephy
no da vontade do Nosso Pai fez Ensina aos sacerdotes de des!... Queremos o teu amparo,
brotar a erva tenra, no imenso todas as crenças do Globo, que Senhor, porque agora o lago de
campo da existência terrestre, falam em teu nome, o despren- Genesaré é a corrente represa-
pairas acima do movimento dimento e a renúncia dos bens da de nossas próprias lágrimas.
vertiginoso dos séculos, aci- efêmeros da vida material, a fim Pensamos ainda ver-te, quan-
ma de todos os povos e de suas de que entendam as virtudes do do vinhas de Cesareia de Filipe
transmigrações incessantes no teu Reino, que ainda não reside para abençoar o sorriso doce
curso do tempo, ensinando as nas suntuosas organizações dos das criancinhas... De teus olhos
criaturas humanas a considerar Estados deste mundo! misericordiosos e compassivos,
o nada de suas inquietações, Tu, que ressuscitaste Lázaro corria uma fonte perene de es-
em face do dia glorioso e infi- das sombras do sepulcro, revi- peranças divinas para todos os
nito da Eternidade!... gora o homem moderno, do tú- corações; de tua túnica humilde
Agora, Senhor, que as lín- mulo das vaidades apodrecidas! e clara, vinha o símbolo da paz
guas da impiedade conclamam Tu, que fizeste que os cegos para todos os homens do porvir
as nações para um novo exter- vissem, que os mudos falassem, e, de tuas palavras sacrossantas,
mínio, manifesta a tua bonda- abre de novo os olhos rebeldes vinha a luz do Céu, que confun-
de, ainda uma vez, aos homens de tuas ovelhas ingratas e de- de as mentiras da Terra!...
infelizes, para que compreen- senrola as línguas da verdade e Senhor, estamos reunidos
dam, a tempo, a extensão do do direito, que o medo parali- em teu Natal e suplicamos a tua
seu ódio e de sua perversidade. sou, nesta hora torva, de peno- bênção!... Somos as tuas crian-
Afasta o dragão da guerra de sos testemunhos! ças, dentro da nossa ignorância
sobre o coração dilacerado das Senhor, desencarnados e e da nossa indigência!... Apia-
mães e das crianças de todos os encarnados, trabalhamos no da-te de nós e dize-nos ainda:
países, curando as chagas dos esforço abençoado de nossa – Meus filhinhos...
que sangram de dor selvagem à própria regeneração, para o teu
beira dos caminhos. serviço divino!
Revela aos homens que não Nestas lembranças do Natal,
há outra força além da tua e que recordamos a tua figura sim-
nenhuma proteção pode existir, ples e suave, quando ias pelas //////////////////
além daquela que se constitui aldeias que bordavam o espe- Fonte: XAVIER, Francisco C. Novas
da segurança de tua guarda! lho claro das águas do Tibería- mensagens. 14. ed. 1. imp. Brasília:
FEB, 2014.

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Frederico Fígner
150 anos de nascimento (1866–2016)
“O Espiritismo fora para mim não só simples crença religiosa. Tornara-se
o clima constante em que minha alma respirava, constituía elemento
integrante de meu próprio ser.” – Irmão Jacob (Fígner)1

///////////////////////////////////////////

Samuel Nunes Magalhães


snmagalhaes@yahoo.com.br

S
omos herdeiros daqueles haveres, apostolando a Tercei- atividades empresariais, tor-
que nos ­antecederam nas ra Revelação. nando-se o grande pioneiro da
lutas do caminho. Rele- Emigrado da antiga Boê- indústria fonográfica no Brasil.
gá-los a injustificável degredo, mia, onde nasceu a 2 de dezem- Com o advento dos cilin-
longe das nossas m ­ emórias, bro de 1866,2 Fígner chegou a dros à base de cera, em 1897,
seria pura indelicadeza, não Belém do Pará, em agosto de iniciou as gravações com fins
fosse grave ilicitude. Furtando- 1891, depois de haver percor- comerciais, oferecendo-as ao
-nos a semelhantes incorreções rido os Estados Unidos, Méxi- público, em 1898. Em 1900,
– indelicadeza, ilicitude – ce- co e América Central. De Be- transferido o seu endereço co-
lebramos nestas linhas o ses- lém, onde primeiro apresentou mercial para a rua do Ouvidor,
quicentenário de nascimento o fonógrafo,3 dirigiu-se a vá- 107, instalou a Casa Edison.
de um dos maiores vultos es- rias cidades brasileiras, apor- Dois anos depois, 1902, produ-
píritas do Brasil. tando no Rio de Janeiro, em ziu o primeiro disco de música
Frederico Fígner, idealista 1892. Desde então, realizou popular brasileira: o lundu Isto
de rara feição, inscreveu seu sucessivas viagens entre Brasil, é Bom, cantado por Bahiano,4 e
nome nos anais do Espiritis- Uruguai, Argentina, Itália e Es- autoria de Xisto Bahia.5
mo. Durante mais de quatro tados Unidos, fixando-se, em Devido ao grande sucesso
decênios, ininterruptos, em- 1896, na capital fluminense. desses discos, muitos outros
pregou seu tempo, suas ener- Findo esse lustro, artistas gravaram, fazendo
gias, sua inteligência e seus 1891/1896, intensifica suas crescer esse mercado. Tempos

748 46 Reformador | Dezembro de 2016


depois, 1912, numa parceria
com a International Talking
Machine – Odeon, Frederi-
co Fígner fundaria a Casa
Odeon, primeira fábrica de
discos do Brasil.6
As conquistas materiais
abriram-se copiosas a Frede-
rico Fígner. Dotado de sutil
criatividade e forte determina-
ção, valendo-se de vendedores
pracistas, anúncios em jornais,
envio de folhetos e catálogos
pelos correios, além de algu-
mas filiais, inaugurou o con-
ceito de rede varejista do país,
amealhando vasto patrimônio.
Nada obstante a justeza e a
dignidade dessas conquistas,
realizações mais altas lhe esta-
vam assinaladas. Tangido do
solo natal pelas necessidades
financeiras, não imaginava, é
certo, quanto lhe fora reserva-
do de coisas espirituais.
A filosofia clássica grega,
numa fascinante alegoria, o espírita, desvestindo o mito rior planejamento – delinea-
mito de Er7 retrata o processo platônico de suas alegorias, do ainda na Vida Espiritual
das escolhas do Espírito antes aclara-nos o entendimento, – cabendo-nos executá-lo de
de reencarnar, apresentando- dele extraindo as mais límpi- acordo com o nosso querer,
-nos as moiras do Fuso da Ne- das verdades, expressões da ­limitados à Vontade Divina.
cessidade, como as Senhoras Codificação Kardequiana. Acompanhando Frederico
do Destino. Láquesis, Cloto O benfeitor Emmanuel, Fígner, vivendo a sua peregri-
e Átropo – personificando o refletindo a questão, diz-nos nação, quase podemos apalpar
passado, o presente e o futu- que: “Cada homem tem o os fios invisíveis do destino,
ro – diz o mito, agem de acor- mapa da ordem divina em sua entrelaçados na tessitura do
do com as predileções dessas existência, a ser executado seu roteiro programático, pre-
almas e o disposto na Lei, com a colaboração do livre- cipitando a tola teoria do aca-
conduzindo-as e reconduzin- -arbítrio, no grande plano da so nas profundezas abismais.
do-as, até que hajam cumpri- vida eterna”.8 Isto equivale a Desconhecendo o perfei-
do toda a Evolução. O saber dizer que obedecemos a supe- to trajeto que lhe fora dado

Dezembro de 2016 | Reformador 47 749


executar, traço comum a qua- de que o professasse de modo regressa, com um feliz sorriso,
se todas as almas terrestres, convencional, certamente ti- e diz: “Já estou trabalhando e
­Fígner, dele guardando algu- nha dificuldades em admitir brevemente virei restituir seu
ma intuição, saiu-lhe à cata, o que lhe estava sendo apre- dinheiro, Sr. Fígner. Fui procu-
guiado por misteriosos impul- sentado. Porém, como tudo rado por uma pessoa que me
sos, de par com o seu desejo obedece ao Divino, aconteci- convidou para um emprego in-
de progresso material. mentos singulares modifica- teiramente inesperado.”
E foi sob o império desses riam suas disposições íntimas, Episódios como esses se
misteriosos impulsos, depois acerca dessas filosofias. tornaram habituais na vida de
de ouvir de um vendedor de Visitando uma de suas lo- Frederico Fígner. Entusiasma-
vernizes que ficaria rico se jas em São Paulo, soube que a do com os milagres observados,
viesse ao Brasil, que se diri- esposa de um de seus funcio- mergulhou nos estudos espiritis-
giu à Terra do Cruzeiro. Dizia nários se achava gravemente tas, apurando seus conhecimen-
ele que após aquele instante – enferma, necessitada de me- tos acerca da augusta mensagem
encontro com o vendedor de lindrosa intervenção cirúrgi- do Cristo e da alvissareira Dou-
vernizes – “só sabia que que- ca. Tornando ao Rio de Janei- trina Espírita. Como sói aconte-
ria ir ao Brasil”.9 ro recebeu a visita de Pedro cer aos que se debruçam sobre o
Apagava-se ainda o sécu- Sayão, como de costume, e, conhecimento superior, medi-
lo XIX ou apenas alvorecera o decerto, sem muita crença, pe- tando o conhecimento superior,
século XX quando Frederico diu-lhe que obtivesse uma re- alcançou a fé que transporta
Fígner, é o que dizem seus bio- ceita mediúnica para a enfer- montanhas, entregando-se com
grafistas, travou conhecimento ma. Com a receita, veio a cura; alegria às lides do Senhor.
com o Espiritismo. Decorrera e, com a cura, sua inclinação à Diversas foram as ativida-
então uma vintena de anos, Doutrina de Allan Kardec. des espíritas desenvolvidas
pouco mais ou pouco menos, Dias depois, agora algo im- por Frederico Fígner.
desde o dia em que deixara a pressionado pelos resultados da Com o raciocínio ilumi-
Boêmia e finalmente encon- receita de Sayão, Fígner recebeu nado pelas claridades do Es-
trasse a clara luz da Verdade. em sua loja um homem desem- piritismo, manejou a pena na
Pedro Sayão, de quem se pregado, dizendo-se em penosa tarefa difusora dos seus pos-
fizera amigo, visitava-o em situação econômica. Ouvido tulados, alteando com sua es-
seu estabelecimento comer- o relato de suas aflições, ofere- crita a bandeira da Verdade.
cial, com regular frequência. ceu-lhe algum dinheiro, orien- Dentro do Correio da Ma-
Filho de Antônio Luís Sayão,10 tando-o a que voltasse, passa- nhã, jornal carioca de circu-
Pedro, durante cerca de dois do uma semana. Em seguida, lação nacional, manteve por
anos, conversou com ele so- como nunca o fizera, dirigiu-se longos anos a coluna “Crônica
bre Espiritismo e Cristianis- mentalmente a Jesus Nazareno: Espírita”, esclarecendo o públi-
mo. De princípio, anota Zêus “Se é como dizem os cristãos co acerca de vários pontos do
Wantuil, não houve maior in- que tens poder, ajuda a esse Espiritismo. Pelo jornal Folha
teresse da parte de Fred Fíg- pobre pai de família; arranja- do Norte, diário paraense de
ner. Com raízes no Judaísmo, -lhe trabalho e meios de vida!” grande penetração, sustentou
embora não se tenha notícia Oito dias mais tarde o homem ardentes debates com o sacer-

750 48 Reformador | Dezembro de 2016


dote católico Florêncio Dubois,
na defesa dos fenômenos espí-
ritas e da médium Anna Prado.
E, ainda na esfera da pro-
paganda espírita, ofereceu ou-
tras valiosas contribuições.
Com seus recursos finan-
ceiros, sabedor da importância
do livro na divulgação doutri-
nária, custeou várias edições.
Das tribunas, inspirado pelas
vozes superiores, discursou
sobre as realidades espirituais,
despertando consciências para
os objetivos da Vida Maior.
Espírito de incomum capaci-
dade para o trabalho, conquanto
fossem extensas as suas ocupa-
ções profissionais e já destinasse
razoável cota de tempo à difusão
espírita, com o ideal de amor
fortalecido pelo amor do Cristo,
Frederico Fígner fez da caridade
o seu grande apostolado.
Contemporâneos seus,
testemunhas oculares do seu
caminhar, renderam-lhe me- deram a bela impressão que no morro do Pinto. Não tinha
recidas homenagens, ressal- me deixou Frederico Fígner. horas certas para ninguém.
tando-lhe as virtudes cristãs. [...] [...]
Viriato Correia,11 seu amigo Corria para servir os outros, Frederico Fígner era um ho-
de muitos anos, teceu-lhe elo- corria para ir ao encontro dos mem interessante. E, mais, e
giosos comentários pelo diário necessitados. mais, um coração formosíssimo.
carioca A Noite, de 27 de feverei- De manhã à noite não tinha
ro de 1947. Dele, disse Viriato: sossego. Ora, ia levar remédios Grandes espíritas do Bra-
a um doente de Jacarepaguá; sil,12 guardando-lhe algo da
Dos homens que, comigo, ora, ia levar dinheiro a uma ve- história, revela outros feitos da
têm convivido durante os lhinha, em Catumbi; ora, ia le- sua bonomia, outros contribu-
muitos anos que já carrego var uma garrafa de leite a uma tos à Causa do Consolador.
nos costados, incluindo os pobre mãe necessitada, em Procurado pelo médico de
literatos, os artistas, os gran- Madureira; ora, ia ver como mísera senhora, acamada com
des vultos enfim, poucos me estava passando um velhinho, insidiosa moléstia, aplicou-

Dezembro de 2016 | Reformador 49 751


-lhe passes diários, por três do Pará. Acompanhado da família serviram-lhe ao ideal abraçado e
meses, provendo-a de remé- – esposa e filhas – ali chegou nos à prática da caridade.
dios e gêneros, até que estives- últimos dias de abril de 1921. Para Em 19 de janeiro de 1947,
se inteiramente restabelecida. refrigério de seus corações, pude- vitorioso, retornou ao Mundo
Quando da gripe espanhola, ram conversar com o ente queri- ­Espiritual.
1918, abrigou em sua pró- do desencarnado, materializado Comum é concluir os excer-
pria casa vários infectados, graças à extraordinária mediuni- tos biográficos, quando dos que
assistindo-os como o faria dade da Sra. Anna Prado, cujos partiram, citando datas e cir-
aos próprios consanguíneos. pormenores se acham nos livros O cunstâncias do decesso. Frederi-
Chegado aos últimos anos de trabalho dos mortos, de Raymundo co Fígner, fazendo-nos contrariar
existência terrena, distribuía Nogueira de Faria, e, Anna Prado, essa praxe, manda-nos notícias
donativos a instituições e pes- a mulher que falava com os mor- do Mais Além.
soas pobres, guiando-se sem- tos, de Samuel Nunes Magalhães,15 Em 19 de janeiro de 1948, exa-
pre pelo coração, quase nunca ambos publicados pela FEB. tamente um ano após o seu de-
pelo cérebro; o que lhe impor- Vigilante e incansável, Fígner, senlace, grafa a mensagem A luta
tava, era fazer o Bem. nessa viagem, não se restringiria continua, pelas mãos abençoadas
Ainda nos primórdios do sé- às sessões de materialização da de Chico Xavier, introduzindo o
culo passado, Frederico Fígner médium Anna Prado. Informa- livro Voltei, em que assina com o
vinculou-se à Federação Espírita do de que os espíritas belenenses pseudônimo Irmão Jacob.
Brasileira (FEB),13 frequentando- planejavam adquirir uma sede Diz, ainda, nessa mensagem,
-a todas as manhãs, para a coleta para a União Espírita Paraense, que é “sem a presunção de con-
de receitas mediúnicas, e, à tarde, de pronto, aliou-se ao impor- vencer” que escreve à grande
sempre às quatro horas, para orar tante movimento. Encabeçan- família espírita, enfatizando “a
e auxiliar nos serviços de assis- do a lista de doadores, ofereceu necessidade de nos espiritualizar-
tência espiritual. Colaborador em 5.000$000, arrecadando, ainda, mos para as esferas superiores”
várias atividades doutrinárias da outros 18.010$000, de um to- (Op. cit. p. 10).
Federação presidiu alguns grupos tal de 23.010$000, necessários No curso da obra, sincero e
internos e serviu como médium à compra do edifício. Em 20 de humilde, detalha as sensações
passista. Chamado a cooperar na maio de 1923, presente um públi- experimentadas nas horas do seu
área administrativa, desempe- co superior a 1.500 espectadores, desligamento do corpo somático,
nhou as funções de Tesoureiro, dirigiu a cerimônia de sua inau- revelando suas impressões e sur-
Vice-presidente e Membro do guração, representando a Federa- presas ao atravessar os pórticos
Conselho Fiscal. ção Espírita Brasileira.16 sepulcrais. Em relatos marcan-
Frederico Fígner casou-se De fecunda existência, cujos tes, de certa minúcia, retrata as
com Esther de Freitas Reys, em feitos avultam, nosso homena- ocorrências vividas no período
1897. Do enlace nasceram Ra- geado legou-nos notável exemplo de adaptação à nova realidade,
chel, Aluízio, Gabriel, Leontina, de trabalho e altruísmo, havendo expondo suas decepções, fraque-
Helena e Lélia.14 passado com louvor pela delica- zas e esperanças, lamentando os
A prematura desencarnação da prova da riqueza. Os recursos equívocos da vida material. A se-
de Rachel, 30 de março de 1920, amoedados de que dispunha, vera avaliação que faz de si mes-
motivaria o seu retorno a Belém tratados como dádivas celestes, mo denota que havia alcançado

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dilatada consciência espiritual, do seareiro da coluna “Crônicas fonógrafo no Brasil, na então capital
decorrente de quanto houvera Espíritas”, achava-se inteiramente do império, cidade do Rio de Janeiro.
avançado na senda evolutiva, di- refeito e perfeitamente ambienta- 4
Manuel Pedro dos Santos (1870–1944).
visando a extensão dos seus com- do à Vida Maior. 5
Xisto de Paula Bahia (1841–1894).
promissos com a Lei Divina. Assistido pela filha amorosa, 6
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário
Nosso olhar, ainda habitua- Rachel, amparado pelo abnegado Houaiss ilustrado: música popular
brasileira. Rio de Janeiro: Instituto
do às imagens negativas, aliado a Bezerra de Menezes, estimula- Antônio Houaiss, Instituto Cultural
uma leitura do livro, que, nesses do com a presença e convivência Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
casos, reputamos epidérmica, de Sayão, Guillon, Cirne, Batuíra, 7
PLATÃO. A república. Trad. Edson
tende a nos induzir a julgamen- Schutel, Petitinga, Emmanuel, An- Bini. 1. ed. Bauru, SP: EDIPRO, 2006.
Livro X, 614b a 621b.
tos apressados acerca da condição dré Luiz, e outros mais companhei-
espiritual de Frederico Fígner. ros, cedo se entregaria ao recomeço 8
XAVIER, Francisco C. Vinha de luz.
Pelo Espírito Emmanuel. 8. imp. Bra-
Antes disso – de um julgamento do abençoado trabalho que enceta- sília: FEB, 2015. cap. 94 – Escritura
apressado, distanciado da verdade ra entre os homens, prosseguindo Individual.
– lembremos o capítulo III, parte em sua jornada para o Alto. 9
FRANCESCHI, Humberto Moraes. A
segunda, de O livro dos espíritos. Nestas páginas singelas, páli- casa Edison e seu tempo. Rio de Janei-
ro: Sarapui, 2002. Manuscrito autobio-
Em cartas endereçadas a do esboço da sua profícua exis- gráfico de Frederico Fígner.
Wantuil de Freitas, então presi- tência, reconhecidos pelo bem 10
Diretor do Grupo Ismael, desencarna-
dente da FEB, Chico Xavier fala que nos fez, e pelo que fez ao do em 1903. Convidado a viver em Mun-
com carinho de Frederico Fíg- ideal que nos acolhe, deixamos dos Superiores, renunciou a favor dos
necessitados do orbe terrestre, como
ner, chamando-o de inesquecível nosso preito de amor e gratidão fizera o abnegado Bezerra de Menezes.
amigo e companheiro admirável, ao inesquecível amigo e admirável 11
Manuel Viriato Correia Baima do
revelando que antes da concreti- companheiro Frederico Fígner. Lago Filho (1884–1967). Jornalista,
zação do Voltei, costumava estar escritor, dramaturgo e político brasi-
leiro, membro da Academia Brasileira
com ele em Espírito, palestrando REFERÊNCIAS: de Letras.
demoradamente. A propósito 1
XAVIER, Francisco C. Voltei. Pelo 12
WANTUIL, Zêus. Grandes espíritas
dessa revelação, copiamos o se- Espírito Irmão Jacob. 28. ed. 10. imp.
do Brasil. 4. ed. Brasília: FEB, 2002.
Brasília: FEB, 2016. cap. 1 – De volta.
guinte texto, publicado na obra 13
Os primeiros vestígios de suas ativi-
Testemunhos de Chico Xavier:17
2
Frederico Fígner nasceu na cidade
dades federativas datam de 1903.
de Milevsko, Boêmia, então parte do
império Austro-Húngaro. Em 1918, 14
Aluízio e Gabriel desencarnaram
Tenho estado com o nosso es- a Boêmia, a Morávia, a Silésia e a ainda crianças.
Eslováquia formaram a Tchecoslo-
timado Sr. Fígner em Espírito. 15
MAGALHÃES, Samuel Nunes. Anna
váquia, que, mais tarde, 1993, seria
Está contente e tranquilo, não Prado, a mulher que falava com os
desmembrada em República Tcheca
mortos. 1. ed. Brasília: FEB, 2012.
obstante mais pensativo. Vejo-o e Eslováquia. Esse evento, dado sem
conflito armado, passou à história 16
BARBOSA, Jonas da Costa; PONTES,
remoçado e forte e tem conver- como Separação de Veludo ou Divór- Demóstenes Jesus de Lima; SANTANA,
sado longamente comigo, o que cio de Veludo. Verônica Neuma Ferreira. História do
me tem trazido grande emoção. espiritismo no Pará: 100 anos de União
3
Invento de Thomas Alvo Edison. Em
Espírita Paraense. 1. ed. Belém, PA:
julho de 1878, numa das famosas
UEP, 2007.
Conferências da Glória, geralmente
Chico, neste trecho de carta, assistidas por membros da família 17
SCHUBERT, Suely Caldas. Testemu-
dez meses após a desencarnação imperial, inclusive, D. Pedro II, acon- nhos de Chico Xavier. 3. ed. Brasília:
de Fígner, mostra que o denoda- teceu a primeira aparição pública do FEB, 1998.

Dezembro de 2016 | Reformador 51 753


Em Dia com o Espiritismo

Vamos convidar
Jesus para visitar
o nosso lar?
///////////////////////////////////////////

Marta Antunes Moura


martaantunes@febnet.org.br

A
tribui-se ao genial escri- ordem para receber o hóspede Levou-o para a choupana, pôs
tor russo Léon Nikoláie- tão esperado. sua roupa a secar ao calor da
vitch Tolstói (1828–1910) Uma violenta tempestade de lareira e repartiu com ele a
a seguinte história de Natal que, granizo e neve ocorria lá fora sopa de repolho. Só o deixou ir
ao longo dos tempos, tem emo- e o aldeão continuava com os embora depois de ver que ele
cionado as sucessivas gerações, afazeres domésticos, cuidan- já tinha forças para continuar
não só pela simplicidade do re- do também da sopa de repo- a jornada.
lato, mas, principalmente, pela lho, que era o seu prato pre- Olhando de novo através da
lição moral que encerra. dileto. De vez em quando ele vidraça, avistou uma mulher
observava a estrada, sempre na estrada, coberta de neve.
Um aldeão russo, muito devo- à espera. Foi buscá-la e a abrigou na
to, pedia constantemente nas Decorrido algum tempo, viu choupana. Fez com que sen-
suas orações que Jesus vies- o aldeão que alguém se apro- tasse próxima à lareira, deu-
se visitá-lo na sua humilde ximava, caminhando com difi- -lhe de comer, embrulhou-a
choupana. culdade em meio à borrasca de em sua própria capa. Não a
Na véspera de Natal sonhou neve. Era um pobre vendedor deixou partir enquanto não
que o Senhor iria aparecer-lhe, ambulante, que conduzia às readquiriu forças suficientes
e, teve tanta certeza da visita costas um fardo bastante pesa- para a caminhada.
que, mal acordou, se levantou do. Compadecido, saiu de casa A noite começava a cair... E
e começou a pôr a casa em e foi ao encontro do vendedor. nada de Jesus!

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Já quase sem esperanças, o Prece ção/desenvolvimento de vir-
aldeão foi novamente à jane- Ensina a Doutrina Espírita tudes. Neste sentido, pode-se
la e examinou mais uma vez a que a prece é uma invocação compreender como será posta
estrada coberta de neve. Dis- e que “por intermédio dela o em prática a conhecida sen-
tinguiu uma criança e per- homem entra em comunica- tença de Jesus: “Por isto vos
cebeu que ela se encontrava ção, pelo pensamento, com digo: tudo quanto suplicar-
perdida e quase congelada o ser a quem se dirige. Pode des e pedirdes, crede que já o
pelo frio. Saiu mais uma vez, ter por objeto um pedido, um receberdes, e assim será para
pegou a criança, levou-a para agradecimento, ou uma glori- vós.”(Marcos, 11:24 – Bíblia
a cabana, deu-lhe de comer e ficação”.2 Ensina também que de Jerusalém.)
não demorou muito para que “atendendo ao pedido que lhe
a visse adormecida ao calor é feito, Deus muitas vezes tem Fé
da lareira. em vista recompensar a inten- Entende-se fé como “a con-
Cansado e desolado, o aldeão ção, o devotamento e a fé da- fiança que se tem na realiza-
sentou-se e acabou por ador- quele que ora. É por isso que ção de uma coisa, a certeza de
mecer também junto ao fogo. a prece do homem de bem atender a determinado fim. Ela
Mas, de repente, uma luz ra- tem mais merecimento aos dá uma espécie de lucidez que
diosa iluminou tudo! Diante olhos de Deus e sempre mais permite se veja, em pensamen-
do pobre aldeão, surgiu riso- eficácia, considerando-se que to, a meta que se quer alcan-
nho o Senhor, envolto em uma o homem vicioso e mau não çar e os meios de lá chegar, de
túnica branca. pode orar com o fervor e a sorte que aquele que a possui
–Ah! Senhor! Esperei-vos confiança que só o sentimen- caminha, por assim dizer, com
durante o dia inteiro e não to da verdadeira piedade pode absoluta segurança”.4 A aquisi-
aparecestes – lamentou-se o dar”.3 Compreende-se, então, ção da fé representa persisten-
aldeão!... por que o pedido do devoto te tarefa cotidiana, sobretudo
E o Senhor lhe respondeu: sincero, indicado na história quando o que se deseja obter
– Já por três vezes, hoje, vi- de Tolstoi, foi prontamente é a fé raciocinada, que não se
sitei a tua choupana: o vende- atendido. assenta em equívocos ou inter-
dor ambulante que socorreste, Importa considerar tam- pretações literais de textos re-
aqueceste e deste de comer, bém que na relação Cria- ligiosos ou de fatos e aconteci-
era eu. A pobre mulher a dor-criatura não é suficiente mentos existenciais, mas a que
quem deste a capa, era eu. E enviarmos pedidos, agradeci- estimula a busca pela verdade
essa criança que salvaste da mentos ou louvações a Deus e pelo esclarecimento, aprimo-
tempestade também sou eu. O ou a Jesus e aos Espíritos rando o indivíduo a sua capa-
bem que a cada um deles fizes- bons. Para garantir a sintonia cidade de fazer leituras corre-
te, a mim mesmo o fizeste!”1 com a fonte do Bem Maior, tas da realidade.
precisamos nos manter fir- O aldeão russo da história
Esta bela história nos dá a mes no esforço de ascensão demonstra irrestrita confiança
oportunidade de refletir a res- espiritual, transformando-o no Mestre Nazareno, manifes-
peito do valor da prece, da fé e em propósito de vida. Daí ser tada nos mínimos detalhes: os
da caridade. necessário priorizar a aquisi- de ordem externa (­limpeza e

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arrumação da moradia, pre- Sendo assim, vemos que Ainda que distribuísse todos
paro de alimento favorito, o aldeão da história auxiliou os meus bens aos famintos,
acender lareira etc.) e os de o próximo na forma como é ainda que entregasse meu
foro íntimo (compaixão e au- ensinada por Jesus. Pelo exer- corpo às chamas, se não ti-
xílio espontâneos a quem se cício da compaixão e da soli- vesse caridade, isso nada me
encontrava em dificuldades: dariedade, exemplificou qual adiantaria. A caridade é pa-
vendedor ambulante, mulher deve ser o comportamento ciente, a caridade é prestati-
desabrigada e criança perdida). do verdadeiro cristão. Em ne- va, a caridade não é invejosa,
Ele exemplifica, desta forma, nhum momento o aldeão es- não se ostenta, não se incha
alguns dos monumentos vivos peculou como e por que aque- de orgulho. Nada faz de in-
da fé ensinados por Emmanuel: las pessoas chegaram à sua conveniente, não procura o
habitação, de onde vieram e seu próprio interesse, não se
Amar sem exigir compreen- para onde iriam. Simplesmen- irrita, não guarda rancor. Não
são. Colaborar para o bem nos te se dispôs a servi-los, ofere- se alegra com a injustiça, mas
lugares onde [o mal] se nos cendo-lhes o que de melhor se regozija com a verdade.
afigure solidamente instalado. possuía, ainda que o seu cora- Tudo desculpa, tudo crê, tudo
Aguardar sempre o melhor, ção e a sua mente guardassem espera, tudo suporta. [...]
ainda mesmo nas piores situa- a expectativa da visita do Se- Agora, portanto, permanecem
ções. [...] Não nos queixarmos nhor no seu lar. fé, esperança, caridade, essas
de ninguém. [...] Repetir, in- A dimensão da caridade se três coisas. A maior delas, po-
definidamente, esta ou aquela resume, portanto, nesta frase: rém, é a caridade. (­1Coríntios,
prestação de serviço com in- amor ao próximo. Conceito 13:1 a 7; 13 – Bíblia de
teiro esquecimento de nossos que é brilhantemente explora- ­Jerusalém.)
próprios interesses. [...]5 do por Léon Tolstói, utilizado
como recurso de fechamen- Feliz Natal! Que Jesus nos
Caridade to da história, cuja essência visite o lar!
A prática da caridade está, moral é assim sintetizada por
usualmente, associada à prece e ­Paulo de Tarso:
à fé. A caridade é mandamento REFERÊNCIAS:
divino, ensinado por Jesus, que Ainda que eu falasse línguas, 1
BARROS, José Lino Souza. Um conto
jamais deve ser negligenciado: as dos homens e a dos anjos, de natal: adaptação de texto de Léon
Tolstói. In: Rádio Itatiaia. www.ita-
se eu não tivesse a caridade, tiaia.com.br. Acesso em: 11 set. 2016.
Amarás o senhor teu Deus de seria como o bronze que soa 2
KARDEC, Allan. O evangelho segundo
todo o teu coração, de toda a ou como o címbalo que tine. o espiritismo. Trad. Evandro Noleto
tua alma e de todo o teu espí- Ainda que tivesse o dom da Bezerra. 2. ed. 3. imp. Brasília: FEB,
2015. cap. 27, it. 9.
rito. Este é o maior e o primei- profecia, o conhecimento de
3
____.____. it. 13.
ro mandamento. O segundo é todos os mistérios e de toda
semelhante a esse: Amarás o a ciência, ainda que tivesse
4
____.____. cap. 19, it. 3.

teu próximo como a ti mesmo. toda a fé, a ponto de trans- 5


XAVIER, Francisco C. Confia e segue.
Pelo Espírito Emmanuel. 12. ed. São
(Mateus, 22:37 a 39 – Bíblia de portar montanhas, se não Bernardo do Campo: GEEM, 2010. cap.
Jerusalém.) tivesse caridade, nada seria. Monumentos vivos da fé.

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O átomo
espiritual
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Cleber M. Gonçalves
cleberlenise@gmail.com

C
erta ocasião presenciei – Acredito que não. Você já Na questão 115 de O livro
interessante diálogo en- pensou sobre a complexidade dos espíritos (LE)1 somos in-
tre dois confrades es- das células? Elas são verdadei- formados de que “Deus criou
tudiosos do Espiritismo. Um ros mundos à parte! todos os Espíritos simples e ig-
­deles interrogou: – Seria então o átomo, o simples norantes [...]”.
– O que considera você como e ignorante que você questiona? Na questão 121: “[...] Deus
simples e ignorante, na resposta – Acho que também não. O não os criou maus; criou-os
dada pelos Espíritos a Kardec, átomo é muito diversificado, simples e ignorantes [...]”.
sobre a criação deles próprios? constitui-se de muitas subpartí- Na questão 133: “Todos são
– Ora, deve ser o homem culas e forças de interação mui- criados simples e ignorantes
primitivo que precedeu às civi- to coerentes! [...]” e na questão 634: “Já te dis-
lizações” – disse o segundo. – Ora, então não sei em que semos: os Espíritos foram cria-
– Mas o homem primitivo se situam tais condições! – dis- dos simples e ignorantes [...]”.
está muito longe de ser simples se o outro –, um tanto agastado Ora, o que é simples? A filo-
e ignorante. Ele luta por sua so- com tanto questionamento. sofia nos ensina:
brevivência com bastante inteli- Encerrando o assunto, o pri- “É aquilo que é destituído de
gência e criatividade! meiro disse bem-humorado: partes”, que não pode ser dividi-
– Então seria em relação aos – Então estamos no mesmo do.2 E, de fato, aprendemos que
animais e vegetais? barco, pois eu também não sei o o Espírito é indivisível, portan-
– Estes, porém, possuem que seria este simples e ignorante! to simples. (LE, q. 92.)
funções adaptativas complexas De fato, observa-se que esta E ignorante, o que significa?
e grande diversidade. dúvida é frequente no meio Voltando à questão 115 (LE), os
– Quem sabe, então, os seres espírita e seria oportuno apre- Espíritos acrescentam ao “simples
unicelulares representariam o sentar alguns esclarecimentos e ignorantes” a expressão: “isto é,
início? sobre o tema. sem saber”. (Grifo nosso.)

Dezembro de 2016 | Reformador 55 757


Os dicionários confir-
mam: “Que ou quem não
Submetido à Lei pensamento aproxima-se,
de forma a­dmirável, de
tem saber, conhecimento,
instrução.”3
do Progresso tudo quanto a Doutrina
Espírita expõe sobre o Es-
Em relação à gênese es-
piritual, este sem saber de-
desde sua ori- pírito e o princípio espiri-
tual universal.
veria ser entendido como a
falta completa do conheci-
gem, o Espírito Vejamos alguns aspec-
tos da doutrina do gran-
mento, por não ter havido
ainda qualquer interação do
evolui do átomo de filósofo, expostos no
­Dicionário de filosofia de
princípio inteligente com o
meio em que se encontra.
primitivo (mô- Abbagnano,4 publicada
posteriormente sob o títu-
Seria, então, o ser no qual
há ausência de qualquer co-
nada) ao arcanjo lo de Monadologia,5 a pe-
dido do príncipe Eugenio
nhecimento ou experiência.
Aquele em que há falta da
(Espírito puro) di Savoia, em 1714.6
“Mônada é um átomo
vida de relação com o meio. espiritual, uma substância
Assim, podemos dizer desprovida de partes e de
que os Espíritos são criados extensão, portanto indivi-
com a característica da indivi- Este átomo espiritual, por sível.”
sibilidade e destituídos de qual- assim dizer, difere tanto do áto- “Substância espiritual en-
quer conhecimento ou experiên- mo grego, que é filosófico e diz quanto componente simples do
cia. E quando é que o Espírito respeito à constituição da maté- Universo.”
se encontra nestas condições? ria, quanto do átomo científico “Como tal, não se pode de-
Vamos recorrer à questão que não é a-tomo, na acepção sagregar e é eterna [...]”
540 (LE): “[...] É assim que tudo original da palavra, por ser ele “Toda mônada é diferente
serve, que tudo se encadeia na próprio divisível! da outra, pois não existem na
Natureza, desde o átomo primi- Onde poderíamos, pois, en- natureza dois seres perfeita-
tivo até o arcanjo, que também contrar mais informações sobre mente iguais.”
começou por ser átomo [primi- o átomo primitivo, de forma a Temos, até agora, que a mô-
tivo].” (Grifo nosso.) ampliar um pouco mais a nossa nada é indivisível, imortal e se
A síntese de toda a evolu- compreensão? diferencia das outras individua-
ção espiritual encontra-se nesta O grande filósofo alemão lidades.
questão! Leibniz (1646–1716), abor- “Toda mônada constitui um
Então, o Espírito em sua ori- dou o tema em seus estudos de ponto de vista sobre o mundo e é,
gem é o átomo primitivo, que metafísica, utilizando o termo portanto, todo o mundo sob um
vai progredir até chegar à con- mônada (que já fora anterior- determinado ponto de vista.”
dição de Espírito puro. mente usado por Giordano “As atividades fundamentais
Portanto, é forçoso concluir Bruno, em 1591), para desig- da mônada são a percepção e o
que o átomo primitivo é, pois, nar a substância espiritual do desejo. Este, também chama-
simples e ignorante! Universo, a partir de 1696. Seu do apetição, significa a vontade

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de mudar de percepção. [...] as características dos Espíritos em sobre o entrosamento da Vida
mônadas têm infinitos graus de sua formação e evolução. Tal- no Universo ao afirmar: “Da
clareza e distinção” e “[...] a sua vez tenha sido o filósofo espiri- Glória Divina às balizas suba-
totalidade é o Universo”. tualista que mais se aproximou tômicas, o Universo pode ser
Finalizando esta admirá- das revelações espirituais con- definido como uma cadeia de
vel síntese, selecionamos uma tidas no Espiritismo. vidas que se entrosam na Gran-
afirmativa profundamente ins- Considerando que Deus de Vida.”9 (Grifo nosso.)
pirada de Leibniz, sobre a ação criou os Espíritos simples e ig-
da Divindade na criação das norantes, na condição de áto-
mônadas: mos primitivos que, pela Lei
de Progresso, evoluirão para a
Deus é a unidade primitiva, ou condição de Espíritos puros,
a substância simples originária temos aí a síntese magistral da
REFERÊNCIAS:
da qual todas as mônadas cria- criação e evolução dos Espíri- 1
KARDEC, Allan. O livro dos espíri-
das ou derivadas são produções tos no Universo, seres imortais tos. Trad. Guillon Ribeiro. 93. ed. 2.
e nascem, por assim dizer, por destinados a colaborar na obra imp. (Edição Histórica.) Brasília:
fulguração contínua da Divin- da Criação! FEB, 2016.

dade, de momento a momento. Devemos acrescentar que 2


ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de
filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2. ed. São
Deus cria incessantemente, des- Paulo: Ed. Mestre Jou, 1982.
Há, sem dúvida, uma pro- de toda a eternidade e não po- 3
DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO ILUS-
funda beleza neste pensamento, deria ser de outra forma8 e o faz, TRADO VEJA LAROUSSE. 1. ed. São Pau-
sobre a ação do Criador, que se segundo Leibniz, por “fulgura- lo: Ed. Abril, 2006. v. 12.
casa perfeitamente com a res- ção contínua da Divindade, de 4
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de
posta dos Espíritos, na ques- momento a momento”! filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2. ed. São
Paulo: Ed. Mestre Jou, 1982.
tão 80 (LE), que afirmam: “[...] Submetido, pois, à Lei do
5
COLEÇÃO OS PENSADORES. Princípios
Quer dizer: Deus jamais deixou Progresso desde sua origem, o da monadologia. Trad. de Marilena
de criar.”! (Grifo nosso.) Espírito evolui do átomo primi- Berlinck. São Paulo: Ed. Abril, 1974. v.
Apoiando a doutrina de tivo (mônada) ao arcanjo (Es- 19, p. 61.
­Leibniz, André Luiz7 usa o ter- pírito puro) que também come- 6
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de
filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2. ed. São
mo por oito vezes na obra Evo- çou por ser átomo primitivo! Paulo: Ed. Mestre Jou, 1982.
lução em dois mundos, donde Jamais conseguiremos ser 7
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA,
destacamos “[...] as mônadas suficientemente gratos a Deus ­Waldo. Evolução em dois mundos.
celestes encontrarão adequado por nos ter criado para a gló- Pelo Espírito André Luiz. 27. ed. 5.
imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 1 –
berço ao desenvolvimento” no ria da imortalidade e por nos
Fluido cósmico, it. Forças atômicas.
seio dos planetas em formação. dar a oportunidade de progre- 8
KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guil-
Analisando os aspectos dir sempre até entrarmos em lon Ribeiro. 53. ed. 4. imp. (Edição His-
principais da doutrina das comunhão com o Pensamento tórica.) Brasília: FEB, 2016. cap. 6, it.
­mônadas, verificamos uma evi- Divino, integrando-nos na obra 14 e 19.

dente correlação com as infor- do Universo infinito e eterno! 9


XAVIER, Francisco C. Pensamento e
vida. Pelo Espírito Emmanuel. 8. ed.
mações da Doutrina Espírita Vamos concluir com Brasília: FEB, 1987. cap. 3 – Coope-
sobre a gênese espiritual e as Emmanuel, que nos ensina ração.

Dezembro de 2016 | Reformador 57 759


O envelhecimento, a
doença de Alzheimer
e a espiritualidade
///////////////////////////////////////////

Carlos Eduardo Accioly Durgante


durgantecarlos@gmail.com

A
Doutrina Espírita expande causar essa enfermidade, como • A rigidez de caráter e de
e clareia ainda mais o pro- também os aspectos psicológi- decisões: observado nas pessoas
cesso saúde-doença, escla- cos e espirituais possuem gran- que apresentam um elevado
recendo-nos que as enfermidades de impacto no surgimento e grau de culpa, de autocobrança
têm suas matrizes no Espírito, que ­desenvolvimento da doença. exagerada e doentia em relação
se torna doente devido a desequi- Causas espirituais da de- aos eventos da vida, bem como
líbrios praticados por ele mesmo. mência de Alzheimer (DA): um marcante traço de autorita-
Nessa visão profunda, a gênese da rismo em sua personalidade;
doença está centrada no ser espiri- • Os pensamentos destru- • A ausência de preparo para
tual, que é a nossa essência. tivos e sentimentos doentios e o envelhecimento: especialmen-
As imperfeições da alma pa- desequilibrados praticados ao te naqueles indivíduos que não
recem originar os desequilíbrios longo de uma vida: observados aceitam as modificações e trans-
energéticos e o adoecimento na principalmente naqueles indi- formações físicas, emocionais e
maioria das doenças orgânicas. víduos que cultivam emoções sociais próprias do processo na-
Com a demência não poderia negativas ao longo da vida, bem tural do envelhecimento huma-
ser diferente. Inúmeras evidên- como aos que optam por uma no, tornando-se hostis à vivência
cias levam-nos a crer que não postura de hostilidade e negati- dessa fase do ciclo biológico;
somente os fatores de risco mais vismo em relação a si mesmos e • A negação ao enfrentamen-
estudados e conhecidos podem ao meio que os cercam; to das feridas da alma: toda vez

760 58 Reformador | Dezembro de 2016


que o indivíduo, ao longo de Espírito vislumbrar mais clara- Espírito, estiver a do ato de cui-
sua vida, desistir de enfrentar mente como seus familiares e/ou dar, especialmente de um fami-
as problemáticas e vicissitudes cuidadores estão lidando com a liar portador dessa enfermidade,
da existência humana, nutrindo enfermidade em família, como possivelmente é porque a Vida
mágoas, ódios, revoltas, e vindo estão os laços de afeto, amor, está nos dando mais uma opor-
a desenvolver quadros de de- compreensão e aceitação, ou se tunidade de reparações, reajus-
pressão e/ou ansiedade, poderá há revolta, abandono ou rejeição. tes e, acima de tudo, de reeduca-
manifestar a DA algumas déca- Como a família está lidando com ção dos nossos sentimentos.
das mais tarde, na velhice; outras questões muito delicadas, As doenças podem ser rece-
• A necessidade de aprendi- por exemplo, a decisão da trans- bidas com revolta, raiva ou in-
zado dos familiares e cuidado- ferência do cuidado do enfermo dignação, mas podem ser aco-
res: representada aqui pela im- a um profissional, seja no pró- lhidas com amor, compreensão
portância da reorganização dos prio lar ou fora dele, em uma ins- e aceitação. Certamente, se as
vínculos afetivos e energéticos tituição de longa permanência, acolhermos com sentimentos
de outrora. Esse aprendizado esse Espírito, ao se deparar com nobres e elevados, as dificul-
disponibiliza a valiosa oportu- algumas dessas situações, agra- dades e os obstáculos próprios
nidade para que ocorra a reno- dáveis ou ruins a ele, será colo- do ato de cuidar e amar serão
vação dos sentimentos doentios cado à prova, para o aprendizado enfrentados com mais naturali-
e do sublime aspecto da renún- necessário ao enfrentamento de dade e leveza.
cia e do cuidado ao próximo. O sua natureza de provas. Façamos a nossa parte com
Espiritismo entende que, possi- Se hoje estamos inseridos amor, carinho, aconchego, aco-
velmente, essa necessidade do num contexto familiar em que, lhimento, respeito, preservando
cuidado no processo reeduca- entre as mais variadas deman- a dignidade a que todo ser hu-
tivo do Espírito imortal possa das e necessidades evolutivas do mano tem direito.
perfeitamente manifestar-se na
família por meio dessa moléstia.

Kardec, em O livro dos espíri-


tos, deixa claro que, nas doenças
orgânicas graves, a alma se des-
prende do corpo pouco a pouco,
o que também ocorre nos esta-
dos avançados das demências
em geral, levando a alma a ficar
quase totalmente liberta do cor-
po. O Espírito nada mais tem a
fazer, estando o cérebro sem ne-
nhum controle seu.
Por isso, acreditamos que
nas fases avançadas e finais da
doença, possa ser permitido ao

Dezembro de 2016 | Reformador 59 761


B ra sil Es p í r i ta
Federação Espírita Brasileira | Conselho Federativo Nacional | Brasília

ENCONTRO ESTADUAL bro aconteceu também a apresentação de resul-


tados do Laboratório de Práticas em Evangeliza-

DE ESPIRITISMO ção, do mesmo programa, voltado para espíritas


educadores que trabalham com juventude e pre-
tendem apresentar as técnicas e os treinamentos
para aplicação de atividades na evangelização.
­Informações: www.feeb.org.br

A FELICIDADE É POSSÍVEL

A Federação Espírita do Estado da Bahia rea-


lizou nos dias 4, 5 e 6 de novembro, o Encon-
No próximo dia 8 de janeiro de 2017, das
tro Estadual de Espiritismo sobre “Uma comu-
8h às 12h, Divaldo Pereira Franco realizará o
nidade espírita dos filhos de Deus”, recebendo
estudiosos da doutrina, trabalhadores e coor- seminário “A felicidade é possível”, promovi-
denadores das casas espíritas. O encontro faz do pela Federação Espírita Paraibana, em João
parte do programa de Formação para Espíritas Pessoa. Informações: www.fepb.org.br ou (83)
Evangelizadores de Jovens. No dia 4 de dezem- 3221-3590.

Dezembro 2016 | Brasil Espírita 61 763


17o CONGRESSO ESTADUAL MACAMPA-ME
DE ESPIRITISMO

Nos dias 23, 24 e 25 de junho de 2017, ocorrerá


em Atibaia (SP) o 17o Congresso Estadual de Espiri-
tismo com o tema central “Prossigo para o alvo. Pas-
sado, presente e futuro em nossas mãos”. A progra-
mação conta com palestras, oficinas e debates com
Divaldo Pereira Franco, Haroldo Dutra Dias e An-
dré Luiz Peixinho. Informações: www.usesp.org.br

CONJEMAT 2017 Nos dias 12 e 13 de novembro Maranhão


recebeu o evento Macampa-me, um acampa-
mento para jovens espíritas com atividades
baseadas na leitura do livro O mundo que eu
encontrei, obra psicografada por Alayde de As-
sunção, pelo Espírito Luís Sérgio. Informações:
www.femar.org.br

A Federação Espírita do Estado de Mato


11o Congresso Nacional
Grosso realizará a Confraternização dos Jovens
Espíritas do Estado, para jovens de 13 a 21 anos,
Médico-Espírita do Brasil
De 14 a 17 de junho de 2017 acontecerá o 11º
nos dias 25 e 28 de fevereiro de 2017. O evento Congresso Nacional Médico-Espírita do Brasil,
será realizado na cidade de Araputanga (MT) MEDNESP, promovido pela Associação Médi-
e tem como tema central “Estação despertar”. co-Espírita do Brasil, com apoio da Associação
Inscrições podem ser feitas até 13 de dezembro. Médico-Espírita do Rio de Janeiro. O objetivo é
Informações: www.feemt.org.br exibir estudos e trabalhos médicos que usam a fé,

764 62 B r as i l E s p í r i ta | Dezembro 20 1 6
a oração e a espiritualidade em tratamentos e pro-
cessos de cura. Haverá apresentações de palestras 2o CONGRESSO ESPÍRITA
de mais de cem expositores do Brasil e do Exte-
rior, além do 2º Seminário Científico Internacio-
DE UBERLÂNDIA
Nos dias 27, 28 e 29 de janeiro de 2017 ocorrerá
nal de Medicina e Espiritualidade. Informações:
o 2 Congresso Espírita de Uberlândia sobre “Jesus,
o

www.mednesp2017.org.br evangelho e família: a construção de um mundo


melhor começa em casa”. Os oradores Alberto

CONFRATERNIZAÇÃO Almeida, Haroldo Dutra Dias, Rossandro Klinjey,


Sandra Maria Borba Pereira, Simão Pedro de Lima

DA JUVENTUDE e José Carlos de Lucca apresentarão as palestras


em torno do assunto central. Informações: http://
www.radiofraternidade.com.br/

EVANGELIZAÇÃO DE CRIANÇAS

A Federação Espírita do Paraná realizou nos


dias 19 e 20 de novembro o 6o Encontro Estadual
de Evangelizadores de Infância. Sandra Maria
Borba Pereira foi a coordenadora responsável
pelo encontro que reuniu profissionais da evan-
gelização de crianças. Informações: www.fepara-
na.org.br

No período de 25 de fevereiro a 1º de março


6o Encontro Espírita da
de 2017 a Federação Espírita do Rio Grande do
Norte promove a Confraternização dos Espíritas
Academia da Força Aérea
Será realizado nos dias 27 e 28 de maio de
do Rio Grande do Norte (CONFERN), com o 2017, o 6º Encontro Espírita da Academia da
tema “40 anos confraternizando e estudando o Força Aérea, com o tema central “Viver em
Espiritismo”. O evento será na Escola Agrícola paz: pressuposto para a felicidade”. O evento
de Jundiaí com a presença do facilitador Cosme reúne simpatizantes da Doutrina Espírita, di-
Massi. Informações: www.fern.org.br rigentes e trabalhadores de centros espíritas,

Dezembro 2016 | Brasil Espírita 63 765


representantes de entidades ligadas ao Mo-
vimento Espírita do Brasil, como a Cruzada CAMINHOS PARA A PLENITUDE
dos Militares Espíritas e comitivas da Escola A Federação Espírita Brasileira realizou no dia 5 de
de Sargento de Armas, do Exército Brasilei- novembro a palestra com o tema “Bem-aventuranças:
ro e da Escola Naval, da Marinha do Brasil. Caminhos para a plenitude”. O evento ocorreu na
­Informações: www.fab.mil.br Sede Histórica da FEB, no Rio de Janeiro, com a
participação do vice-presidente da FEB, Geraldo
Campetti. Informações: www.febnet.org.br
CONFERÊNCIA ESTADUAL
DO PARANÁ 9o CONGRESSO ESPÍRITA

Em comemoração dos 160 anos de Espiritis-


mo na Terra, a Federação Espírita do Paraná rea-
lizará a 19ª Conferência Estadual Espírita de 17
a 19 de março de 2017. Divaldo Pereira Franco,
Alberto Almeida, Sandra Della Póla e Haroldo
Dutra Dias serão os palestrantes da Conferência.
Informações: www.feparana.org.br

XIX EMECE

Em 2017, nos dias 3 a 5 de novembro,


acontecerá o 9º Congresso Espírita do Rio Grande
do Sul. “Espiritualidade nas relações: Para viver
O Encontro de Mocidades Espíritas do Ceará, e conviver em paz” será o tema principal a ser
que completa 19 anos de realização desse evento, conduzido por Divaldo Pereira Franco, Alberto
é promovido pela Federação Espírita do Estado Almeida, Sérgio Lopes, Sandra Borba Pereira,
do Ceará e será realizado de 25 a 28 de fevereiro André Trigueiro, Haroldo Dutra Dias e Roosevelt
de 2017, com o tema “Estar no mundo sem ser do Tiago. Com promoção da Federação Espírita
mundo”. Informações: www.feec.org.br do Rio Grande do Sul, será realizado em Porto

766 64 B r as i l E s p í r i ta | Dezembro 20 1 6
Alegre, na Pontifícia Universidade Católica do Espírita de Candelária, no Rio Grande do Norte.
Estado. Informações: www.espiritismors.org.br Os palestrantes Assis Pereira, César Rocha, Fábio
Fidélis e Oscar de Lira debateram o tema central

MOSTRA ABRARTE “Momentos da revista espírita”. Informações:


www.fern.org.br

2o Congresso da Juventude
Espírita da Bahia

João Pessoa (PB) recebeu nos dias 18, 19 e 20


de novembro a 5ª Mostra Abrarte Nordeste de
Arte Espírita, realizado pela Federação Espírita
Paraibana. A programação contou com oficinas,
apresentações musicais e danças, poesias, peças
teatrais e literatura. Informações: https://mostra-
nordeste.wordpress.com/ “O Saber Espírita e a Juventude” é o tema do 2o
Congresso da Juventude Espírita da Bahia e do 1o En-
contro de Jovens Espíritas da Microrregião Alagoas-
SEMANA ESPÍRITA -Bahia-Sergipe que acontecerá nos dias 21, 22 e 23
de abril do próximo ano. O evento é uma promoção
DE CANDELÁRIA da Federação Espírita do Estado da Bahia em parce-
A Associação Espírita de Candelária com ria com as federações estaduais. As inscrições para o
apoio da Federação Espírita do Rio Grande do Congresso vão até 31 de janeiro. Informações: www.
Norte realizou de 15 a 18 de novembro a Semana feeb.org.br, www.fees.org.br ou www.feeal.org.br.

Dezembro 2016 | Brasil Espírita 65 767


Es p a ço Ab erto
Neste espaço são abordadas questões diversas relacionadas Vice-presidência de Administração da FEC
às atividades desenvolvidas nas instituições espíritas. www.fec.org.br

COMISSÕES REGIONAIS E
ENCONTROS MACRORREGIONAIS
E
ntre os meses de agosto ­ eunião do CITAF, Evangeliza-
R soluções são alcançadas, e a
e outubro acontecem em ção Infantil e Juvenil. cooperação recíproca faz do
Santa Catarina seis gran- Concomitantemente acon- encontro um marco anual para
des encontros federativos. tecem, no mesmo espaço, as o desenvolvimento do Espiri-
São as Comissões Regionais e Comissões Regionais, onde os tismo no Estado.
os Encontros Macrorregionais, presidentes das casas espíritas Especialmente em 2016,
que reúnem a grande falange da região, a diretoria das Uniões estes encontros têm alcança-
dos trabalhadores do Movi- Regionais que compõem a ma- do quantidade expressiva de
mento Espírita Estadual. crorregião, bem como a direto- participantes, superando todas
Nas regiões Leste, Sul, Nor- ria executiva da FEC reúnem-se as expectativas estabelecidas
te, Centro, Nordeste e Oeste do para conversar sobre as necessi- inicialmente. O sucesso alcan-
Estado, centenas de trabalha- dades da região, havendo troca çado já é o reflexo do trabalho
dores são convidados a partici- de impressões, considerações e continuado que vem sendo de-
par das Oficinas de Capacitação avaliação das metas estabeleci- senvolvido ao longo dos anos,
oferecidas na Macrorregional, das pelas próprias casas no ano mas é particularmente atribuí-
que são coordenadas pelos di- anterior, podendo a FEC parti- do ao aprimoramento e uso das
retores e trabalhadores da Fe- cipar coordenando e cooperan- ferramentas de comunicação,
deração Espírita Catarinense. do no estabelecimento de novas principalmente nas mídias so-
Em 2016, estão sendo ofe- diretrizes, também colaborando ciais que vêm popularizando
recidas dez oficinas: Comuni- para a integração da macrorre- a informação, possibilitando a
cação Social, Livraria e Biblio- gião no contexto estadual. mensuração de resultados e o
teca, Atendimento Espiritual, Com necessidades variadas, estabelecimento de metas.
Estudo e Monitoria, Mediuni- as casas têm a possibilidade Mais informações podem ser
dade Estudo e Prática nas casas de trocar experiências, êxi- encontradas no site da Federação
espíritas, Reunião dos Setores tos e dificuldades em todos os Espírita Catarinense em www.
da Juventude Espírita, Assistên- momentos do encontro. Pelas fec.org.br e www.fb.com/fec.
cia Social, Evangelho – NEPE, trocas de experiências várias federacaoespiritacatarinense.

768 66 B r as i l E s p í r i ta | Dezembro 20 1 6
“Sou o farol guiando os mastros,
O azeite que alimenta a luz dos astros,
A centelha da vida — a Caridade”.
Auta de Souza

Como médium, Porto Carreiro Neto trouxe a lume, nas páginas


de Reformador, cerca de 300 poemas, dos quais, grande parte,
apresentamos neste livro, que esperamos se constitua em farol
a iluminar nossos caminhos, a fortalecer nossa fé, a levantar
nossa fronte para buscar as sendas superiores.

Desfrute das facilidades


do formato e-book
Neste Natal,
venha conhecer um pouco mais
sobre os belos e significativos
ensinos de Jesus.

Pelas páginas deste livro,


Wesley Caldeira nos convida
a reviver os passos do Cristo,
oferecendo importante
contribuição ao Movimento
Espírita e ao estudo dos
evangelhos com um texto
rico e bem estruturado, em
que o debate sobre
as ideias é feito com base no
bom senso e no equilíbrio.

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