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Serviço Público Federal

Universidade Federal de Goiás

Faculdade de Artes Visuais

Curso Superior de Design de Ambientes

ANÁLISE E COMENTÁRIO “BONECAS RITXÒKÒ”

REFERÊNCIA CULTURAL PARA O POVO KARAJÁ

Nathália Cristine de Castro Santos

Disciplina: Design, Cultura e Sociedade

Prof. Dr.: Samuel José Gilbert de Jesus

Goiânia

Abril/2021
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NATHÁLIA CRISTINE DE CASTRO SANTOS

ANÁLISE E COMENTÁRIO “BONECAS RITXÒKÒ”

REFERÊNCIA CULTURAL PARA O POVO KARAJÁ

Trabalho apresentado no curso de graduação


em Design de Ambientes da Universidade
Federal de Goiás.

Orientador: Prof. Dr. Samuel José Gilbert de


Jesus

Goiânia

Abril/2021
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RESUMO

Este trabalho analisa a importância, detalhes e histórico das bonecas Karajás,


denominadas Bonecas Ritxòkò, feitas pelos povos indígenas Karajás. É um artefato cerâmico
registrado como Patrimônio da Cultura Brasileira, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional).

É retratado, principalmente, a sua relevância na cultura brasileira, como também a forma


de produção artesanal, sua representatividade na identidade deste povo, sua função material,
como fonte de renda pelo vale do rio Araguaia, e imaterial, como transmissão de valores
socioculturais.

Logo, há mais de vinte aldeias Karajás registradas, e a de Santa Isabel do Morro,


localizada na Ilha do Bananal, em Tocantins, se concretizou como um centro simbólico da
Ritxòkò.

Palavras-Chave: Bonecas Ritxòkò; Indígenas; Karajás; Cultura.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 5

2. ARGUMENTAÇÃO ............................................................................................................ 5

2.1 CONTEXTO GERAL .......................................................................................................... 5

2.2 HISTÓRICO ESPECÍFICO DA OBRA .............................................................................. 6

3. DESCRIÇÃO DA OBRA..................................................................................................... 7

4. ANÁLISE .............................................................................................................................. 9

5. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 11

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 11

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1. INTRODUÇÃO
No Brasil, os índios por serem os primeiros habitantes deste território, passam de
geração para geração diversos valores culturais e sociais, através da observação e oralidade.
Isso faz, portanto, parte da arte tradicional e é rica para a história brasileira.

Um exemplo da importância dos indígenas para a nossa cultura, é a produção artesanal


dos povos do Tocantins, em especial os Karajás. Logo, Ehrenreich (1888), Krause (1908),
Taveira (1982), Toral (1992), Hartman (1998), entre outros estudiosos, citaram em seus estudos
que os Karajás ocupam regiões às margens do rio Araguaia, entre os estados de Goiás e Mato
Grosso, e possuem uma concentração de aldeamento na Ilha do Bananal-GO. Ademais, a aldeia
principal fica Santa Isabel do Morro, no Centro-Oeste.

Estas comunidades produzem artesanatos diversificados e neste trabalho será retratado


sobre as bonecas do povo Karajá chamadas de “Ritxòkò”, que significa: bonecas cerâmica. Elas
são produzidas pelas mulheres, que as modelam, queimam, pintam e comercializam. Além
disso, na sua cultura, estas bonecas cumprem uma função pedagógica, ao transferir para as
crianças os ensinamentos do mundo infantil e do mundo adulto, de forma divertida e
demonstrativa.

Em 2012, através da iniciativa do Museu Antropológico da Universidade Federal de


Goiás (UFG), as cerâmicas Karajá foram reconhecidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), como Patrimônio Imaterial Brasileiro.

Dessa maneira, será levantado o início dos estudos acerca dos povos indígenas, da sua
cultura, modos de viver, abrangendo um contexto geral, e também sobre o histórico das
cerâmicas feitas pelos indígenas Karajás, como também seus materiais de fabricação, as formas
de pintura e também a sua função material e imaterial, que contribui para o enriquecimento
artístico e educacional do país.

2. ARGUMENTAÇÃO

2.1 CONTEXTO GERAL

Desde o século XVI, os indígenas do Brasil são estudados, especialmente sua cultura e
forma de viver.

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Logo, houve várias expedições enviadas ao país, tendo muitos naturalistas, cronistas e
aventureiros, com a intenção de retratar este “novo mundo”.

Então, o desejo de enriquecer, através da colonização, surgiu, com metais preciosos,


especiarias, escravos indígenas e terras. E, também foi registrado na literatura os artefatos.

Vale ressaltar que os índios eram generalizados como se pertencessem a uma mesma
etnia, porém os relatos enviados em meados de 1684 pelos primeiros exploradores da terra já
haviam citações sobre os Karajás, infelizmente a maioria demonstra as expedições de caça aos
índios.

Após isso, surgiram novos registros de produção de material, vocabulário linguístico,


mitos e cultura desse povo, o que contribuiu para a valorização da sua cultura.

2.2 HISTÓRICO ESPECÍFICO DA OBRA

A expedição comandada por Antônio Pires Campos, com a intenção de buscar as minas
auríferas no Brasil, perto do rio Araguaia, foi um dos primeiros registros oficiais que expõe o
grupo Karajá, por volta de 1684.

Havia em torno de 10.000 (dez mil) habitantes, muitos foram escravizados e enviados a
São Paulo. Contudo, após o ano de 1775, essa população foi reduzida para 1500 habitantes,
devido à colonização, tráfico e à escravização.

Em relação aos seus artefatos, o primeiro trabalho publicado foi por Paul Ehrenreich,
antropólogo alemão, que coletava os objetos para estudos, com o objetivo de classificar os
indígenas. Sendo assim, mencionou as bonecas cerâmicas produzidas e a sua expressividade.

Já a primeira monografia pública sobre este artefato foi em 1908, produzida por Fritz
Krause. Portanto, este povoado fabrica diversos objetos ricos e diversificados para a cultura
brasileira, não sendo apenas as bonecas, pois confeccionam arte plumária, artefatos de madeira
e cestaria, sementes, objetos de cerâmica, entre outros.

Então, por residirem em uma região de rota comercial, na região da Ilha do Bananal, no
centro-oeste do Brasil, possuem o contato com as populações, tanto do Brasil, como do exterior,
desde a antiguidade, e com isso tornaram estes artefatos uma forma de renda.

Os registros mais antigos das bonecas Ritxòkò é relatado por Castro Faria (1959), em
que os exemplares estão na coleção do Museu Nacional do Rio de Janeiro, adquirido pelo bispo
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de Goiás, em 1870. Ademais, de acordo com o acervo do Museu de Arqueologia e
Etnologia/USP, pode estimar que as coleções são uma das mais antigas e maiores, cerca de
4.000 (quatro mil) artefatos.

A genealogia das bonecas é transmitida para as gerações, especialmente por um mito.


Simões (1992) o descreve em suas literaturas:

Antigamente, Karajá era muito pobre, pobre mesmo. Não tinha brinquedo para meninas, não tinha nada.
Uma mulher chamada Wexiru, casada com Ixati, era muito sábia: não tinha brinquedo para menina,
então mulher fez boneca para menina, de cera de abelha. Boneca não servia, era muito mole. Então,
mulher fez de barro. Não serviu também, quebrava à-toa. Mulher pensou, pensou muito, para ver se
ficava bom. Tirava madeira para tirar cinza: não servia. Depois, tirou outra madeira chamada cega-
machado. Aí ficou bom, e durava mais, ficava bom mesmo!
Narração de Arutana, chefe ritual dos Karajá.

A interpretação deste mito é que as bonecas feitas de cerâmica não davam certo, pois
quebravam, sendo substituídas pelas de madeira. Contudo, ainda assim, as de cerâmicas são as
mais produzidas, e para solucionar o problema de serem quebradiças, em 1950 começaram a
fazer o cozimento, após sua fabricação, para terem mais resistência.

Em relação à sua classificação, dependem do aspecto funcional: há representações do


cotidiano; figura humana; locomoção por terra e água; cenas da vida familiar; elementos da
fauna e flora; e cenas da vida ritual.

3. DESCRIÇÃO DA OBRA
As Ritxòkò, ao adquirirem a maior resistência com o cozimento, a partir de 1950, houve
a inserção de modificações, como a aplicação de braços, pernas e mãos longas, aumento das
cenas do cotidiano, e do seu repertório.

Sobre a sua produção, esta é feita da seguinte maneira:

É coletado o barro pelo homem, e depois é manipulado pelas oleiras (ceramistas),


acrescentando as cinzas da madeira cega-machado, e assim queimada durante o preparo das
refeições.

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Com isso, é feito algumas bolas pequenas, para a modelagem das bonecas. Juntamente
com isso, as crianças ajudam e se divertem no manuseio do barro e na elaboração de figuras e
miniaturas de panelas – Figura 01. Assim, é feito o seu aprendizado.

A pintura destas é feita da mesma forma que a pintura corporal, e é utilizado o grafismo,
com um pincel constituído de uma fina haste de palha de buriti com ponta; e também é retratado
alguns desenhos do cotidiano como as formas da natureza (asas do morcego, costas do tracajá,
etc.) – Figura 02. Os padrões geométricos (linhas, gregas, faixas, listras) são feitos com a cor
preta, e finalizados com a cor vermelha.

Figura 01: Pintura e colocação de adereços. Foto M. F. Simões.

Figura 02: Grafismos feitos nas bonecas. Ilustração Luiz Pereira Kurikalá Karajá.

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Figura 03: Cena do cotidiano. Acervo MAE. Foto Freddy Cantoni.

4. ANÁLISE

É notório a importância das Bonecas Ritxòkò para a cultura, como exemplo disto: a
marca cultural, chamada de omarury, que são dois círculos feitos a fogo no rosto das bonecas,
embaixo dos olhos. Estes representam o Sol e a Lua, e significa um mito da figura que os
ensinou a pescar, caçar, fabricar, dentre outros. Desse modo, é fundamental para a história
brasileira, tanto os artefatos, as relações sociais e os valores sociais.

Ademais, a função de ensinamento para as crianças, através das cerâmicas demonstra o


cuidado em transpassar a educação aos seus.

Em 2012, as Ritxòkò foram declaradas patrimônio imaterial do Brasil pelo Iphan


(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), com a iniciativa da pesquisa "Bonecas
Karajá: arte memória e identidade indígena no Araguaia", no ano de 2008, feita pelo Museu
Antropológico e com a Faculdade de Ciências Sociais (PPGAS) da Universidade Federal de
Goiás (UFG). Este projeto descreveu e documentou o ofício da ceramista Karajá e os modos de
fazer as bonecas com vista a subsidiar o pedido de registro como patrimônio nacional. Esta
pesquisa demonstrou os significados complexos dos referenciais culturais e da identidade
Karajá.

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Figura 04: Mais que objetos lúdicos, representam a cultura. Fonte: IPHAN.

Figura 05: As mulheres do povo Karajá modelam, queimam, pintam e comercializam as bonecas-cerâmica
karajá; elas são um modo de sustentação moral e cultural. Foto: Acervo Iphan/ Marcel Gautherot.

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Figura 06: A lenda do parto da onça contada por bonecas Ritxoko (Foto: Bernardo Gravito/G1)

5. CONCLUSÃO
O artesanato brasileiro é conhecido em todo o mundo, em decorrer da sua criatividade,
com isso é fundamental estimular a identidade cultural de cada região.

Dessa maneira, o texto relata desde os primeiros estudos sobre os indígenas, seus modos
de artesanatos e saberes, como também o entendimento das bonecas Ritxòkò por terem essa
função de transpassar a identidade do povoado, e constroem parte da cultura Karajá, além de
auxiliar na percepção das ideias da narrativa incorporada das ceramistas, com um conhecimento
tradicional.

Logo, são muito mais que apenas bonecas, permitem a ampliação de todo o
conhecimento da população acerca da cultura indígena brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRA FILHO, Prof. Manuel. Bonecas Karajá: patrimônio cultural imaterial do brasil.
Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Disponível em: https://www.fcs.ufg.br/n/19655-
bonecas-karaja-patrimonio-cultural-imaterial-do-brasil. Acesso em: 21 abr. 2021.

G1, TO. Bonecas da cultura karajá estão em exposição em Palmas: processo de confecção
é reconhecido como patrimônio imaterial pelo iphan. Processo de confecção é reconhecido
como patrimônio imaterial pelo Iphan. 2013. Disponível em:

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http://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2013/08/bonecas-da-cultura-karaja-estao-em-
exposicao-em-palmas.html. Acesso em: 21 abr. 2021.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN. O


registro do Patrimônio Imaterial: Dossiê final das atividades da Comissão e do Grupo de
Trabalho Patrimônio Imaterial. Brasília, 2000.

SILVA, Telma Camargo da. Bonecas Karajá: arte, memória e identidade indígena no
Araguaia. 2011. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/DossieRtixoko_comp.pdf. Acesso em: 21
abr. 2021.

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