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30928/2527-2039e-20192215
_______________________________________________________________________________________Relato de caso
Lívia Mirelle Barbosa1; Eugênia Leal de Figueiredo1; João Luiz Gomes Carneiro1; Lívia Maria Lopes de
Oliveira2; Mariana Cruz Gouveia Perrelli1; Belmiro Cavalcanti Egito Vasconcelos1.
RESUMO
A frequência de fratura pediátrica do complexo zigomático orbitário (CZO) é extremamente baixa, o que
pode explicar as divergências na literatura com relação à seleção da técnica cirúrgica para o seu tra-
tamento. A cirurgia para redução e fixação interna das fraturas mostrou-se bem indicada para o caso,
apresentando resultado satisfatório no reestabelecimento do contorno orbitário e projeção do terço
médio da face. O objetivo deste trabalho é descrever a conduta clínica e cirúrgica diante de fraturas
cominutivas na região zigomático orbitária de um paciente de três anos de idade, vítima de um trauma
de alto impacto, resultando em deslocamento significativo do complexo zigomático, com perda de pro-
jeção importante do terço médio de face.
Descritores: Fraturas Zigomáticas/cirurgia. Fraturas Orbitárias. Fixação de Fratura. Criança.
ABSTRACT
The aim of this study is to describe the clinical and surgical management of comminuted fractures of
the zygomatic-orbital complex (ZOC) of a 3-year-old patient who was a victim of high-impact trauma
resulting in significant displacement of the zygomatic complex, with significant loss of projection of the
middle third of the face. The frequency of pediatric fractures of the ZOC is extremely low, which may
explain the divergences in the literature regarding the selection of the surgical technique for its treat-
ment. The surgery for reduction and internal fixation of the fractures was well indicated for the case,
resulting in a satisfactory result in the reestablishment of the orbital contour and projection of the
middle third of the face.
Keywords: Zygomatic Fractures/surgery. Orbital fractures. Fracture Fixation. Child.
paciente em pós-operatório de dois meses. C - neste caso, requerem redução e fixação ós-
Aspecto clínico do paciente em pós-operatório sea interna. As fraturas zigomáticas sem
de um ano. grandes deslocamentos podem ser acessa-
das através de uma abordagem intraoral,
DISCUSSÃO enquanto as mais complexas necessitam de
O caso descrito reportou a conduta acessos extraorais para a realização da re-
clínico-cirúrgica, para o tratamento de uma dução anatômica e da fixação óssea inter-
fratura complexa em terço médio de face na12,15.
num menino de três anos de idade. Este Diante da complexidade do desloca-
tipo de fratura, pouco frequente9,10 está as- mento da fratura, provocando perda de pro-
sociada a traumas provocados por quedas, jeção anteroposterior do terço médio da
acidentes automobilísticos e violência11. hemiface direita e irregularidades na mar-
Fraturas faciais em crianças causadas por gem infraorbitária e pilar zigomático-
acidentes com animais, assim como o pre- maxilar, optou-se pelo tratamento cirúrgi-
sente caso, são pouco descritas na literatu- co. A fratura foi abordada através de aces-
ra9. sos extraorais envolvendo a região supraor-
Os métodos empregados para o di- bitária direita e pelo ferimento pré-existente
agnóstico de fraturas envolvendo o CZO em na região infraorbitária. Não foi necessária
crianças são similares aos do adulto, inici- a realização de acesso intraoral, pois o
ando com a história e exame físico. Este acesso através do ferimento provocado pelo
último pode ser dificultado em razão da trauma permitiu a realização da redução
presença edema e/ou equimose, nesse ca- anatômica da margem infraorbitária e do
so, exames de imagem adquirem funda- pilar zigomático-maxilar.
mental importância, como observado no Em fraturas simples do complexo zi-
caso, sendo a tomografia computadorizada gomático a fixação do pilar zigomático-
considerada padrão ouro13,14. maxilar, como único ponto de fixação, for-
Um abrangente exame da órbita é nece grande vantagem mecânica para a
indicado, tendo em vista a relação anatômi- estabilização da fratura, pois impede a ro-
ca, que aumenta o risco para injúrias ocu- tação medial do complexo zigomático no
lares concomitantes15. O exame deve incluir seio maxilar. Marinho e Freire-Maia15 tam-
a reatividade e tamanho da pupila, acuida- bém observaram que a fixação do pilar zi-
de visual, se possível, avaliação de diplopia gomático-maxilar, como único ponto de fi-
e avaliação da função muscular, que ganha xação, pode proporcionar estabilidade acei-
importância na criança, em razão da cha- tável do complexo zigomático, mas em fra-
mada "síndrome do olho branco", na qual turas mais instável dois ou três pontos de
há limitação do movimento extraocular15. A fixação são importantes para alcançar mai-
projeção lateral do complexo zigomático, a or estabilidade do complexo zigomático15.
margem inferior da órbita e o zigoma devem Optou-se, no presente caso, pela fixação em
ser palpados, em busca de defeitos13. Essas dois pontos, a margem orbitária e a sutura
avaliações não puderam ser conduzidas de fronto-zigomática. Evitou-se a utilização de
imediato, neste caso, em razão da presença material de osteossíntese no pilar zigomáti-
de edema. Um fator a ser considerado du- co-maxilar, para não correr risco de perfu-
rante o atendimento à crianças muito jo- rar o germe do dente permanente.
vens, vítimas de trauma em face, diz respei- Sabe-se que as placas e parafusos
to a abordagem inicial do paciente que deve em liga de titânio representam o padrão
ser executada de maneira gentil e minima- ouro na fixação do esqueleto craniofacial,
mente traumática13. pois apresentam um baixo índice de com-
O tratamento das fraturas pediátri- plicações e excelente biocompatibilidade.
cas do CZO é semelhante ao tratamento No presente caso, utilizou-se o material de
dos adultos. Os objetivos do tratamento fixação não reabsorvível de titânio, mesmo
incluem a restauração da altura e projeção diante do risco de interferência no cresci-
facial, do contorno orbitário, e de qualquer mento e desenvolvimento craniofacial, dian-
déficit visual. As fraturas minimamente te da falta de materiais reabsorvíveis do
deslocadas que não geram comprometimen- serviço hospitalar.
to estético/funcional devem ser tratadas de Até o momento não foi programada
forma conservadora. Fraturas, significati- cirurgia para remoção do material de os-
vamente deslocadas ou cominuídas, como teossíntese da criança, pois o mesmo não