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Resumo: Desde os primórdios da organização social, a música é utilizada nos rituais religi-
osos como ferramenta de interação com a divindade e promoção das emoções coletivas. No
contexto do Cristianismo Protestante, com a explosão do chamado “mercado fonográfico
gospel”, a música cristã se presta também às experiências de consumo, absorvendo elemen-
tos da cultura secularizada e midiatizada. Como apontado por BERGER (BERGER, 1985, p.
149), uma vez que a submissão religiosa não é mais imposta e que a religião compete com
outras formas de definição do mundo, esta passa a funcionar segundo as lógicas do merca-
do, sujeita à dinâmica de preferência do consumidor. O presente trabalho pretende, a partir
do conceito de “Cultura Gospel” criado por CUNHA (CUNHA, 2007), analisar como se dá
essa interação da música cristã nos processos de partilha e reconhecimento que conformam
a sociedade, bem como o lugar dessa nova música no contexto protestante.
Palavras-chave: Cultura Gospel, Música, Religião, Mercado
1. Introdução
Música e religião sempre estiveram intrinsecamente ligadas. Foi apenas a partir
da Renascença que as artes, aqui inclusa a música, puderam se instituir como esferas au-
tônomas através do processo de racionalização que separou o que era Sagrado do que era
Secular. Antes disso, a música primitiva era subordinada a fins práticos, como usos em
rituais apotropéicos (relativos ao culto) e de exorcismos, de acordo com finalidades espe-
cíficas, como mostra Weber (1995, p.86):
Assim como os instrumentos que contribuíram para a fixação dos intervalos eram dife-
renciados de acordo com o deus ou o demônio (...), também as tonalidades mais antigas
de uma música, sentidas realmente como diferenciadas, eram complexos regulares de
fórmulas sonoras típicas, empregadas a serviço de deuses determinados ou contra de-
mônios determinados, ou em ocasiões solenes.
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Um exemplo é o hino 581 da Harpa Cristã “Castelo Forte”, escrito pelo próprio Lutero em 1529, e que ainda é cantado em
muitas igrejas, independente de serem ou não pertencentes à corrente Luterana.
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nacionais. Para Cunha (2007), o processo iniciado pelo casal Hernandes pode ser conside-
rado a segunda revolução musical dentro do segmento protestante no Brasil.
Nesse período, também surgiram importantes nomes da música evangélica, como
Aline Barros, Oficina G3 e o Ministério de Louvor Diante do Trono, que logo ganharam a
mídia e passaram a integrar o repertório musical das igrejas.
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de movimentos ideológicos e outras formas de pensamentos, a religião não pode mais con-
tar com a submissão de suas populações, sendo essa adesão, agora, voluntária.
“Resulta daí que a tradição religiosa que antigamente podia ser imposta pela autorida-
de, agora tem que ser colocada no mercado. Ela tem que ser “vendida” para uma clientela
que não está mais obrigada a “comprar”. A situação pluralista é, acima de tudo, uma situ-
ação de mercado. Nela, as instituições religiosas tornam-se agências de mercado e as
tradições religiosas tornam-se comodidades de consumo. E, de qualquer forma, grande
parte da atividade religiosa nessa situação vem a ser dominada pela lógica da economia
de mercado” (BERGER, 1985, p. 149)
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fonográfico Gospel em ascensão, atua como unificadora de discursos no contexto das igrejas
evangélicas, seja como parte integrante do culto, seja como fator de reconhecimento so-
cial dos praticantes deste segmento religioso.
6. Referências
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