Você está na página 1de 8

MONITORIA DE DIREITO CONTRATUAL CIVIL

MONITOR: JOSÉ DANIEL CRISCOLO FIGUEIREDO


FADISA 2017/2

NOÇOES INTRODUTÓRIAS AO DIREITO CONTRATUAL

I) BREVE HISTÓRICO

 É sabido que tão antigo como o ser humano é o conceito de contrato,


que nasceu a partir do momento em que as pessoas passaram a se
relacionar e viver em sociedade. O contrato não surgiu do direito
Romano, embora tenha sido no direito romano que os contratos tomam
corpo e expandem a ideia de contrato como garantia para cumprimento
de obrigações.
 Evolução do capitalismo e expansão do mercantilismo, o contrato toma
contornos extremamente relevantes  Período de intensas trocas e
negócios = COMÉRCIO.
 A Revolução Francesa, positivismo jurídico e o codicismo advindo dessa
época sedimentaram a ideia de que o contrato era baseado na
autonomia da vontade das partes, momento em que O ‘PACTA SUNT
SERVANDA’ se sobrepunha aos demais princípios contratuais
(AUSÊNCIA DE EQUILÍBRIO CONTRATUAL, ESTADO LIBERAL, NÃO
INTERVENCIONISTA).
 Passado esse período, a Revolução industrial, a especialização da mão
de obra e a maior complexidade do processo industrial e das relações
econômicas, acentuaram ainda mais as desigualdades sociais, os
abusos e o desequilíbrio entre os contratantes. DAÍ A NECESSIDADE
DE UM ESTADO INTERVENTOR, UM ESTADO SOCIAL, COM
PREPONDERÂNCIA DO INTERESSE COLETIVO SOBRE O
INDIVIDUAL (função social dos contratos), bem como uma maior
flexibilização dos contratos. Não que isso represente a supressão da
autonomia da vontade das partes, de forma alguma. Este ainda continua
sendo uma das essências da principiologia contratual. Entretanto,
houve e há a necessidade de um Estado que se preocupa com as
relações jurídicas, não com o objetivo de controlá-las e sim, de
supervisionar e equilibrar em caso de existência de algum fator que
possa prejudicar injustamente uma das partes.
 Dessa forma, falamos em DIRIGISMO CONTRATUAL, ou seja, um
movimento jurídico que reflete a intervenção do estado nas relações
privadas a partir de preceitos protetivos com viés fundamentalmente
protecionista, na busca de conter abusos e desequilíbrios exacerbados
nas relações contratuais.  VERIFICAÇÃO DO FENÔMENO
PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO, ESTUDADO NOS PERÍODOS
INICIAIS, QUE É A INTERPENETRAÇÃO DE NORMAS DO DIREITO
PÚBLICO NO DIREITO PRIVADO. É uma das características do Estado
democrático de Direito, um Estado protetor, com vista a garantir e
proteger a eficácia dos direitos fundamentais concernentes aos
indivíduos.

II) CONCEITO
Na esteira da melhor doutrina, Carlos Roberto Gonçalves (2015)
aduz que contrato é um negócio jurídico bi ou plurilateral que se aperfeiçoa
com a composição de interesses, mutuamente consentidos.

 EM SUMA, CONTRATO É UM ACORDO DE VONTADES PARA O FIM


DE ADQUIRIR, RESGUARDAR, MODIFICAR OU EXTINGUIR
DIREITOS DE CONTEÚDO PATRIMONIAL.

CONCEITO PÓS-MODERNO/CONTEMPORÂNEO (Pablo Estolze


e Rodolfo Pamplona): Contrato é a relação jurídica subjetiva, nucleada na
solidariedade constitucional, destinada à produção de efeitos jurídicos
existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares subjetivos da
relação, como também perante terceiros.
III) ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CONTRATO
 EXISTÊNCIA: Manifestação de vontade + sujeitos contratuais e sua
declaração de vontade + objeto/prestação consistente em uma
obrigação de dar, fazer ou não fazer + forma (oral, escrita, mímica).
 VALIDADE: Vontade manifestada de forma livre e de boa-fé (ausência
de vícios de consentimento) + agente capaz e legitimado (vínculo entre
sujeito e objeto = vender o que é meu – ou capacidade especial, como
por exemplo no caso de uma compra e venda que necessite da outorga
uxória ou marital) +objeto lícito, possível, determinado ou determinável +
forma prevista ou não defesa em lei ( prevalece a liberdade das formas,
sem formalidades específicas.)
 EFICÁCIA: de fato, existente e válido o NJ, não há óbices para que este
seja eficaz. Entretanto, há possibilidade de sua eficácia estar
condicionada a evento futuro e certo ou futuro e incerto.

OBS: não se admite o autocontrato ou contrato consigo mesmo, salvo se a lei


ou o representado autorizarem sua realização, pois, caso contrário, o negócio é
nulo.

IV) PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS CONTRATOS (fase pré-


contratual)
OBS: por ser o contrato, essencialmente, calcado em um acordo de
vontades com objetivo de criar, modificar, ou extinguir direitos, a
manifestação da vontade livre e desembaraçada expressa ou tácita é o
primeiro e o mais importante requisito para a formação dos contratos.
1º fase - NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES - FASE DE PUNTUAÇÃO OU
TRATATIVAS: refere-se ao momento em que os sujeitos refletem acerca
da conveniência do contrato desejado. Constitui-se em conversas,
sondagens, estudos e debates.
IMPORTANTE: nessa fase, em regra, ainda não há nenhuma vinculação ao
negócio. Perguntar preço, receber minuta ou até mesmo verificar um
projeto, ainda assim não há nenhuma vinculação jurídica entre as partes.
Entretanto, tal responsabilidade somente ocorrerá se ficar demonstrada a
deliberada intenção, com a falsa manifestação de interesse, de causar
dano: p.ex: x deixa de realizar um negócio com z pois c demonstra
deliberadamente interesse em fechar o negócio. // ou, ainda, quando um
dos contraentes realizam despesas em virtude da quase certeza do outro
em realizar o negócio.
OBS: PORTANTO, em casos excepcionais, a ruptura arbitrária e
injustificada das tratativas resultará em responsabilização do sujeito
( gera perdas e danos).Certo é que o princípio da boa-fé (artigo 422
CC/02) alcança, inclusive, a fase pré-contratual, devendo as partes
manterem assegurados os deveres de lealdade, informação, cuidado,
sigilo, dentre outros..
2ª fase – PROPOSTA – OFERTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO:
Consiste na manifestação de vontade dirigida a alguém com o propósito de
realização de um contrato. Pode ser, verbal, escrita ou tácita
(comportamental, atos inequívocos, não duvidosos).
A proposta cria no aceitante a convicção do contrato em perspectiva,
levando-o à realização de projetos e, às vezes, de despesas, bem como à
cessação de alguma atividade. Por isso, vincula o policitante, que
responde por todas essas consequências se injustificadamente
retirar-se do negócio.

Todos os Deve ser séria e Deve ser clara,


elementos consciente pois completa e
essenciais do NJ vincula o inequívoca,
proposto: preço, proponente, no formulada em
A OFERTA quantidade, teor do artigo linguagem
DEVE CONTER tempo de 427 do cc/02 simples,
entrega, forma compreensível,
de pagamento, mencionando
etc. todos os
elementos e
dados no NJ
necessário ao
esclarecimento
do destinatário.

OBS IMPORTANTES:
 Trata-se de uma manifestação de vontade de natureza unilateral;
 A eficácia jurídica da proposta necessita da adesão de seu
destinatário (aceitação).
 Quando séria e concreta, a oferta vincula o proponente aos
seus termos. (por questões de segurança jurídica, a proposta
é, em regra, irretratável).ENTRETANTO, excepcionalmente, o
proponente será exonerado de sua responsabilidade nas
hipóteses de – CLÁUSULA EXPRESSA SE RESERVANDO NO
DIREITO DE SE RETRATAR DA PROPOSTA . ou EM CASOS
DE OFERTA ABERTA AO PÚBLICO, UMA VEZ QUE EM
FUNÇÃO DA SUA NATUREZA, SÃO CAPAZES DE LIBERAR
O PROPONENTE DA OFERTA: o melhor exemplo é a
limitação de estoque.
 Em caso de morte ou interdição do policitante, respondem os
herdeiros e o curador do incapaz pelas consequências jurídicas
do ato. A proposta se transmite aos herdeiros como qualquer
outra obrigação. SALVO SE A PROPOSTA FOR
PERSONALÍSSIMA.

# ESPÉCIES DE PROPOSTAS

I) PROPOSTA ENTRE PRESENTES: é aquela oferta realizada diante


de uma relação em que o contato entre os sujeitos ocorre DIRETA E
SIMULTANEAMENTE. Ex: contato pessoal, telefônico, wpp..

II) PROPOSTA ENTRE AUSENTES: é aquela que decorre de um


contato indireto, não simultâneo. Ex: via carta, correios, e-mail ..

# OBSERVAÇÕES IMPORTANTES ACERCA DO ARTIGO 428 E A


NÃO VINCULAÇÃO DA PROPOSTA.

a) Oferta feita SEM PRAZO a pessoa PRESENTE, se não for


imediatamente aceita, há a liberação do proponente, a proposta
não o vincula mais.
b) Oferta feita SEM PRAZO a pessoa AUSENTE, se tiver decorrido
tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do
proponente (prazo moral dependente da natureza e
circunstâncias do NJ) não vincula o proponente.
c) Oferta feita COM PRAZO a pessoa AUSENTE, se não tiver sido
expedida a resposta dentro do prazo dado, não vincula o
proponente.
d) Se antes da proposta ou simultaneamente a esta, chegar ao
conhecimento do aceitante a retratação do proponente, não
vincula o proponente.

3ª Fase – ACEITAÇÃO: Consiste na concordância com os termos da proposta.


É a manifestação de vontade imprescindível para que se repute concluído o
contrato, pois, somente quando o oblato se converte em aceitante e faz aderir a
sua vontade à ddo proponente, a oferta se transforma em contrato. A aceitação
consiste, portanto, na formulação da vontade concordante do oblato, feita
dentro do prazo e envolvendo adesão integral à proposta recebida.
OBS: a manifestação de vontade realizada dentro do prazo, integralmente
adesiva e oportuna resultará em obrigação ao aceitante. Entretanto, quando
INOPORTUNA ou MODIFICATIVA dos termos da proposta a aceitação será
convertida em CONTRAPROPOSTA. (ARTIGO 431 do CC/02)
 O Artigo 432 do CC/02 menciona duas hipóteses de aceitação
tácita, em que se reputa concluído o contrato:
a) Quando o negócio for daqueles em que não seja costume a
aceitação expressa: p.ex. fornecedor que costuma remeter os
produtos a determinado comerciante e este, sem confirmar os
pedidos, efetua os pagamentos = praxe comercial.
b) Quando o proponente tiver dispensado a necessidade de
resposta: p.ex. turista que remete um fax ao hotel reservando
acomodações e informando que a chegada se dará em tal
data, se não receber aviso em contrário.
 Hipóteses em que a aceitação não possui força vinculante
a) Se a aceitação, embora expedida a tempo, por motivos
imprevistos, chegar tarde ao conhecimento do proponente, o
policitante já liberado da proposta deve imediatamente
comunicar o aceitante, pois caso contrário, este terá razões
para supor que o contrato esteja concluído e pode realizar as
despesas que repute necessárias para o seu cumprimento.
b) Se antes da aceitação ou com ela chegar ao proponente a
retratação do aceitante.

4ª Fase – CONCLUSÃO DO CONTRATO.


I) CONTRATO ENTRE PRESENTES: se o contrato for celebrado entre
presentes, a PROPOSTA poderá estipular ou não prazo para a
aceitação. Caso não seja estabelecido prazo algum, esta deverá ser
manifestada IMEDIATAMENTE. Se for estipulado prazo, deverá a
aceitação operar-se dentro dele.
II) CONTRATO ENTRE AUSENTES: a dificuldade de se precisar em
que momento se deve considerar formado o contrato aparece na
avença entre ausentes. Há diversas correntes doutrinárias que
divergem entre si acerca deste momento.
a) Teoria da informação ou da cognição: para essa teoria, o
momento da celebração do contrato é o momento da CHEGADA
DA RESPOSTA AO CONHECIMENTO DO POLICITANTE E
ESTE TOMAR CONHECIMENTO DO SEU TEOR.
b) Teoria da declaração ou da agnição: esta desconsidera o
conhecimento da aceitação para a formação do contrato.
Subdivide-se em três:
b.1) Teoria da declaração propriamente dita: o momento da
formação é quando da elaboração da resposta pelo aceitante
( redação da resposta).
b.2) Teoria da expedição: aponta como formado o contrato no
momento em que o aceitante envia a sua resposta.
b.3) Teoria da recepção: forma-se o contrato apenas quando a
resposta do aceitante for recebida pelo proponente.
OBSERVAÇÃO: por força do Artigo 434, é possível afirmar que o
Brasil adotou a teoria da expedição, exceto no caso do artigo 433
em que o proponente diga que espera a resposta chegar.
CONTUDO, interpretando o dispositivo de forma sistemática com
o Artigo 433, conclui-se, doutrinariamente, pela adoção, no Brasil,
pela Teoria da recepção.

V) LUGAR DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO.


Conforme disposição expressa do Artigo 435 do CC/02, o contrato
reputar-se-á celebrado no lugar em que foi PROPOSTO.
Logo, o local em que a PROPOSTA foi realizada.
Obs: Conforme dicção legal do Artigo 9º, parágrafo segundo da
LINDB, a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em
que residir o PROPONENTE. Ou seja, o local onde o impulso inicial teve
origem. Mas não se esqueça, dentro da autonomia da vontade, podem as
partes eleger o foro competente e a lei aplicável à espécie.

Você também pode gostar