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Brasil.
Sessão Temática: Energia, indústria e meio ambiente
Resumo
A produção de energia elétrica proveniente da força do vento tem crescido
exponencialmente no Brasil, principalmente na Zona Costeira da Região Nordeste. É uma
das fontes alternativas que substitui as fontes energéticas tradicionais, especialmente as
fósseis. Isso deve-se ao elevado potencial eólico, ao aumento da preocupação com o meio
ambiente e as políticas de incentivo que foram implementadas no Brasil nos últimos anos.
Embora a energia eólica provenha de uma fonte denominada limpa, ela pode gerar
externalidades negativas para as comunidades em que grandes complexos eólicos são
instalados. O presente artigo tem como objetivo evidenciar que o desenvolvimento de
usinas eólicas no Brasil segue a lógica do capital, portanto o único indicador para a
implantação desse setor é o lucro, sem considerar os impactos socioambientais nas
comunidades e nos ecossistemas, e mostrar quais são. Outro objetivo é salientar as
alternativas já estudadas que comprovam como essa atividade pode ser menos danosa,
tanto para a população quanto para o meio ambiente. Para atender a esses objetivos foram
realizadas pesquisas bibliográfica e documental. Observou-se que o fomento às fontes
alternativas não foi primeiramente uma preocupação com a qualidade do meio ambiente,
mas com o crescimento do capital proporcionado por esse novo setor.
Palavras-chave: Eólicas, zona costeira, fontes energéticas.
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1. Introdução
“em termos de ventos, que se caracterizam por uma presença duas vezes
superior à média mundial e pela volatilidade de 5% (oscilação da velocidade), o
que dá maior previsibilidade ao volume a ser produzido. Além disso, como a
velocidade costuma ser maior em períodos de estiagem, é possível operar as
usinas eólicas em sistema complementar com as usinas hidrelétricas, de forma a
preservar a água dos reservatórios em períodos de poucas chuvas.” (ANEEL,
2008, p.81)
• Potencialidade energética:
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Figura 1 – Potencial eólico brasileiro.
Fonte: ANEEL, 2002.
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operação, 122 em construção e outros 289 já contratados pela ANEEL, mas
com construção não iniciada” (ARAUJO, 2015,p. 18).
“De acordo com dados da ABEEÓLICA, ANEEL e ADECE, o Ceará possui 101
projetos cadastrados, sendo 44 em operação, 10 em construção e 47 projetos já contratados
nos leilões da ANEEL que devem ser instalados nos próximos anos” (ARAUJO,2015,p.
81).
Hoje o Brasil ocupa a 9° posição entre os países com maior capacidade instalada
no mundo (WEEA,2016).
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baseada por fontes fósseis, poderia causar uma crise ambiental. Assim, a questão ambiental
passou a ter maior visibilidade. Surge então o termo desenvolvimento sustentável. Esse
termo recebe diversas críticas, Acserald (2010), argumenta “que a elite hegemônica
buscou mecanismos de ajustes às suas formas institucionais, aos comportamentos
produtivos e de consumo e às formas de regulação, para assegurar a continuidade do
modelo de desenvolvimento dominante”(ARAUJO, 2015. p. 27). Para Porto Gonçalves
(2012), “a concepção de desenvolvimento sustentável consiste em uma “nova forma
de colonização/exploração” no qual submete o desenvolvimento tecnológico à ideia de
dominação da natureza.”(VIANA, et.al, 2016,p.68). Assim o desenvolvimento sustentável
que deveria prezar pelos bens naturais é utilizado apenas como meio de reprodução e
sustentação do capital.
Com os avanços tecnológicos surgiram outros meios alternativos de fonte de
energia, dentre elas a energia eólica, que ao longo do tempo ganhou legitimidade, tornou-
se conhecida como uma fonte energética “limpa”, considerada assim por não emitir, na sua
produção, Gases de Efeito Estufa (GEE). Que poderia assim substituir as fontes energéticas
fósseis, do país. Entretanto, segundo Araújo (2015), essa noção de energia limpa tem sido
questionada, pois apesar de não acentuar as mudanças climáticas que ocorrem em escala
global, ela possui alterações sociais e ecossistêmicas em escala local. (ARAUJO, 2015.
p.328 )
Existem alguns argumentos frequentes sobre a implementação de novas fontes
de energias pelo governo que são: a necessidade da diversidade das fontes energética em
um país, para assim evitar a dependência de apenas uma fonte. E o comprometimento com
metas assumidas em eventos internacionais sobre questões ambientais. Porém, podemos
perceber que as intenções vão além da conservação em si do meio ambiente e partem para
o meio político e do capital.
Segundo Araujo(2015), a energia eólica no Brasil não surge como uma
substituição aos modelos de produção provenientes da queima de combustíveis fósseis.
Pelo contrário, o Plano Decenal de Expansão da Energia para 2022, “prevê um aumento
considerável na produção nacional de petróleo, passando dos atuais 2 milhões de barris por
dia (bpd) para cerca de 5 milhões bpd até 2022, para atender principalmente o setor de
transportes” (BRASIL,2003 apud ARAUJO, 2015.p. 73) Ainda nesse plano está previsto o
investimento de 200 bilhões para a geração de energia elétrica como um todo e 625 bilhões
para exploração e produção de petróleo e gás.
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Além disso, Araújo (2015), também descreve dois casos de empreendimentos
que estão se especializando para que sua produção seja baseada integralmente no uso de
fontes eólicas para a obtenção de energia elétrica. O primeiro caso é a empresa Honda, que
fabrica carros que são alimentados de combustíveis fósseis, ou seja, sua produção é
“limpa”, entretanto o produto é considerado um dos que mais contribui para o agravamento
do efeito estufa e assim agravar as mudanças climáticas. O Outro caso, é o Projeto do
Complexo Eólico Mangue Seco, da Petrobras, formado por quatro parques no Rio Grande
do Norte, porém apesar do grande investimento na especialização e produção de uma fonte
limpa, o lucro obtido com este empreendimento será reinvestido na exploração de petróleo
e seus derivados. Nos dois casos apresentados, pode-se observar que há contradição nessas
empresas ao utilizar fontes alternativas para a produção, no entanto, o objetivo final estará
poluindo o meio ambiente.
Para Meireles (2011), os locais para a implantação e operação dessas usinas
estão relacionados apenas a indicadores econômicos, os impactos ambientais são
praticamente desconsiderados. Muitos empreendimentos não possuem o Estudo e Relatório
de impacto Ambiental (EIA/RIMA), que é um estudo mais amplo, tendo assim apenas o
Relatório Ambiental Simplificado (RAS). Segundo Araújo(2015), essas avaliações se
mostram “incapazes de assegurar a proteção das comunidades tradicionais costeiras, como
preconiza o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro do Estado do
Ceará”(ARAUJO,2015, p.108). Ele propõe outra alternativa como a Avaliação de
Equidade Ambiental (AEA), que é um instrumento “de promoção da justiça ambiental,
pois parte do reconhecimento de que as causas das injustiças sociais são as mesmas da
degradação ambiental, não sendo possível separar os problemas ambientais das questões
sociais.”(ARAUJO, 2015, p.109) Ou seja, essa avaliação contemplaria os impactos
socioambientais causados por esses empreendimentos.
Observa-se que o aumento de investimento em fontes alternativas não é uma
preocupação com a qualidade do meio ambiente em si, mas com o crescimento do capital
proporcionado por esse novo setor. Os impactos socioambientais não são as preocupações
primárias e sim o lucro.
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3.2. Políticas públicas de incentivo
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Ou seja, a energia produzida aqui não pertence nem na sua maioria à
brasileiros, e os empreendimentos que são brasileiros não estão no Ceará, sendo assim a
produção de energia prejudica pessoas que nem mesmo serão beneficiadas, e trazem
consigo apenas a injustiça ambiental.
4. Impactos socioambientais
Ou seja até mesmo os direitos humanos não são respeitados, o espaço passa
pelo processo de privatização, pois os moradores não podem mais realizar o uso comum,
seja para o seu trabalho ou até mesmo para o lazer. Algumas áreas possuem placas com
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aviso de perigo, fios expostos. Citado em ARAÚJO (2015) como “território do medo”
denominado assim pelos próprios moradores. Muitas pessoas também ficam restringidas a
ir até o mar e pescar, impossibilitando uma das atividades de subsistência dessas
comunidades.
Além disso, algumas comunidades que realizavam o ecoturismo ou turismo
comunitários ficam impossibilitados de realizarem também essa atividade.
Outro problema vinculados a instalações das eólicas é a elevação do
contingente nessas cidades,
“ Fez aumentar a demanda por bens de consumos, por
equipamentos públicos e infraestrutura. Investimentos em postos de saúde,
educação, moradia e saneamento são colocados em segundo plano ou
desconsiderados no planejamento público. Há expressivo aumento da geração de
resíduos sólidos, da demanda por vias de acesso e o aumento do trânsito de
carros e caminhões pesados comprometendo as estradas da região. ” (VIANA;
NASCIMENTO; MEIRELES, 2016, p.76)
Para alguns professores é impossível dar aula, por “conta dos paredões de som,
das festas e da prostituição” (ARAUJO,2015, p.143) A comunidade também se queixa do
barulho dos parques que estão em funcionamento que parece um “avião que nunca pousa”
(CARTA, 2012,p. 02). Quanto a isso Araújo (2015), afirma que de acordo com a
SEMACE muitos dos parques desobedecem a distância mínima permitida entre as
comunidades e os parques.
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4.2. Impactos ambientais
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eólico só apresenta o RAS, sem nenhum estudo sobre patrimônios arqueológicos, assim
comprometendo o patrimônio histórico e cultural daquele espaço.
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5. Conclusão
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Referências bibliográficas
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A geografia das lutas no campo. São Paulo:
Contexto, 1994.p. 18.
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PORTO, Marcelo Firpo De Souza; FERREIRA, Renan Finamore E Hugo. Injustiças da
sustentabilidade: Conflitos ambientais relacionados à produção de energia “limpa” no
Brasil. Revista Crítica de Ciências Sociais,2013.
VIANA, Lígia Alves; NASCIMENTO, João Luís Joventino do; MEIRELES, Antônio
Jeovah de Andrade. Complexos Eólicos E Injustiças Ambientais: Mapeamento
Participativo E Visibilização Dos Conflitos Provocados Pela Implantação De Parques
Eólicos No Ceará. Curitiba: Revista Geografar, 2016. V.11.
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