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O desenvolvimento capitalista e os impactos socioambientais: Energia eólica no

Brasil.
Sessão Temática: Energia, indústria e meio ambiente

Autor(es): Ayêska Haisa Alexandre de Lima


Erika Roanna da Silva
Filiação Institucional: Universidade Federal do Ceará
E-mail: ayeska.lima@hotmail.com/ roannasilva18@gmail.com

Resumo
A produção de energia elétrica proveniente da força do vento tem crescido
exponencialmente no Brasil, principalmente na Zona Costeira da Região Nordeste. É uma
das fontes alternativas que substitui as fontes energéticas tradicionais, especialmente as
fósseis. Isso deve-se ao elevado potencial eólico, ao aumento da preocupação com o meio
ambiente e as políticas de incentivo que foram implementadas no Brasil nos últimos anos.
Embora a energia eólica provenha de uma fonte denominada limpa, ela pode gerar
externalidades negativas para as comunidades em que grandes complexos eólicos são
instalados. O presente artigo tem como objetivo evidenciar que o desenvolvimento de
usinas eólicas no Brasil segue a lógica do capital, portanto o único indicador para a
implantação desse setor é o lucro, sem considerar os impactos socioambientais nas
comunidades e nos ecossistemas, e mostrar quais são. Outro objetivo é salientar as
alternativas já estudadas que comprovam como essa atividade pode ser menos danosa,
tanto para a população quanto para o meio ambiente. Para atender a esses objetivos foram
realizadas pesquisas bibliográfica e documental. Observou-se que o fomento às fontes
alternativas não foi primeiramente uma preocupação com a qualidade do meio ambiente,
mas com o crescimento do capital proporcionado por esse novo setor.
Palavras-chave: Eólicas, zona costeira, fontes energéticas.

Uberlândia-MG, 19 a 22 de setembro de 2017


Sociedade Brasileira de Economia Ecológica
Abstract
Wind power generation has grown exponentially in Brazil, mainly in the Coastal
Zone of the Northeast Region. It is one of the alternative sources it replaces as traditional
energy sources, especially as fossils. This has developed with great wind potential, with
increased concern with the environment and as incentive policies that have been
implemented in Brazil in recent years. Although electricity comes from a so-called clean
source, it can generate negative externalities for communities where large wind farms are
installed. This article aims to show that the development of wind power plants in Brazil
follows a logic of capital, so the only indicator for an implementation of the sector is profit,
without considering the socio-environmental impacts on communities and ecosystems, and
show the banks are. Another objective is to emphasize as alternatives to study that prove
how this activity can be less harmful, both for a population and for the environment. To
fulfill these objectives, bibliographical and documentary researches were carried out. It
was observed that the promotion of alternative sources was not a concern with the quality
of the environment, but with the growth of capital provided by this new sector.

Key words: Wind, coastal zone, energy sources.

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1. Introdução

Segundo dados da World Wind Energy Association (2012), a capacidade


instalada da energia eólica mundial teve um aumento de mais de 3000% entre 1997
e 2011, passando de 7, 5 mil para 237 mil MW. Entretanto, apesar deste expressivo
crescimento, a energia eólica ainda tem uma pequena contribuição no suprimento mundial
de eletricidade: cerca de 3% da demanda mundial. (, 2013,p.06)
Esses dados mudaram, em outubro de 2016, em seu site a WWEA publicou que
no primeiro semestre de 2016 a capacidade de produção aumentou para 456 GW e que no
final deste ano esse número deveria crescer para 500GW, suprindo assim 5% da demanda
elétrica mundial. Em termo de produção de energia eólica o Brasil cresceu 106% em um
ano, sendo assim um dos principais responsáveis por este crescimento na produção de
eletricidade por meio dos ventos. (WEEA, 2016)
Segundo a ANEEL esse crescimento deve-se ao favorecimento do Brasil,

“em termos de ventos, que se caracterizam por uma presença duas vezes
superior à média mundial e pela volatilidade de 5% (oscilação da velocidade), o
que dá maior previsibilidade ao volume a ser produzido. Além disso, como a
velocidade costuma ser maior em períodos de estiagem, é possível operar as
usinas eólicas em sistema complementar com as usinas hidrelétricas, de forma a
preservar a água dos reservatórios em períodos de poucas chuvas.” (ANEEL,
2008, p.81)

• Potencialidade energética:

Podemos observar neste mapa, o potencial eólico do Brasil.

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Figura 1 – Potencial eólico brasileiro.
Fonte: ANEEL, 2002.

Em todo o Brasil é possível a produção de eletricidade por eólicas, as regiões


com maior potencialidade são: Nordeste, Sudeste e Sul.

2. Breve histórico das instalações no brasil:

No Brasil a primeira turbina eólica foi instalada em 1992 no Arquipélogo de


Fernando de Noronha. No Ceará a primeira instalação foi em 1994 “a Central Eólica de
Prainha tem capacidade para 10 MW, a partir da instalação de 20 turbinas de 500 kW ”.
(ANEEL, 2008, p. 82). Também no Ceará as centrais de Taíba e Prainha no Ceará
representavam 80% do parque eólico nacional (ANEEL, 2002 ,p. 82).

“Somente no final dos anos 2000, iniciou-se um crescimento virtuoso da geração


de energia eólica e da incorporação dessa fonte à matriz brasileira. Em 2007
respondia por apenas 245 MW/h e no final de 2014 alcançou cerca de 6.000
MW/h, sendo a fonte que mais cresceu no país em participação nos leilões para
contratação de energia da Agência Nacional de Energia Elétrica, ANEEL” [...]
Com relação ao setor eólico, no início de 2015, o Brasil contava com 649
projetos de geração por esta fonte, dentre os quais 216 parques estão em

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operação, 122 em construção e outros 289 já contratados pela ANEEL, mas
com construção não iniciada” (ARAUJO, 2015,p. 18).

“De acordo com dados da ABEEÓLICA, ANEEL e ADECE, o Ceará possui 101
projetos cadastrados, sendo 44 em operação, 10 em construção e 47 projetos já contratados
nos leilões da ANEEL que devem ser instalados nos próximos anos” (ARAUJO,2015,p.
81).

Hoje o Brasil ocupa a 9° posição entre os países com maior capacidade instalada
no mundo (WEEA,2016).

3. Quais os motivos para o crescimento?

Segundo Araújo (2015), o crescimento das usinas eólicas no Brasil é devido à


um conjunto de fatores
“tais como políticas públicas de incentivo e financiamento, isenções fiscais,
legislação específica flexível, emergência da questão ambiental no espaço
público e conjuntura econômica favorável, que contribuíram para a consolidação
de um “ambiente seguro para os negócios”(ARAUJO, 2015, p.19)

Nesse artigo esses fatores foram divididos em: questões ambientais e em


políticas de incentivo. As quais serão discorridas e problematizadas.

3.1 Questão ambiental:

Segundo Araújo (2015), na década de 1960 as conexões entre inovação


tecnológica, desenvolvimento capitalista e consequências negativas ao meio ambiente
ganharam força. E para Viana et al (2015), nessa década também começaram a ser
debatidos e questionados os limites de desenvolvimento e crescimento econômico. Alguns
grandes estudos se destacaram como o “Relatório Limites do Crescimento de Meadows e
Meadows de 1972 e o Nosso Futuro Comum expresso pela Comissão Mundial Sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento” (VIANA, et.al,2015,p.67), mostravam que o modo em que
vivemos e o modelo de produção, baseado na exploração de bens naturais, principalmente

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baseada por fontes fósseis, poderia causar uma crise ambiental. Assim, a questão ambiental
passou a ter maior visibilidade. Surge então o termo desenvolvimento sustentável. Esse
termo recebe diversas críticas, Acserald (2010), argumenta “que a elite hegemônica
buscou mecanismos de ajustes às suas formas institucionais, aos comportamentos
produtivos e de consumo e às formas de regulação, para assegurar a continuidade do
modelo de desenvolvimento dominante”(ARAUJO, 2015. p. 27). Para Porto Gonçalves
(2012), “a concepção de desenvolvimento sustentável consiste em uma “nova forma
de colonização/exploração” no qual submete o desenvolvimento tecnológico à ideia de
dominação da natureza.”(VIANA, et.al, 2016,p.68). Assim o desenvolvimento sustentável
que deveria prezar pelos bens naturais é utilizado apenas como meio de reprodução e
sustentação do capital.
Com os avanços tecnológicos surgiram outros meios alternativos de fonte de
energia, dentre elas a energia eólica, que ao longo do tempo ganhou legitimidade, tornou-
se conhecida como uma fonte energética “limpa”, considerada assim por não emitir, na sua
produção, Gases de Efeito Estufa (GEE). Que poderia assim substituir as fontes energéticas
fósseis, do país. Entretanto, segundo Araújo (2015), essa noção de energia limpa tem sido
questionada, pois apesar de não acentuar as mudanças climáticas que ocorrem em escala
global, ela possui alterações sociais e ecossistêmicas em escala local. (ARAUJO, 2015.
p.328 )
Existem alguns argumentos frequentes sobre a implementação de novas fontes
de energias pelo governo que são: a necessidade da diversidade das fontes energética em
um país, para assim evitar a dependência de apenas uma fonte. E o comprometimento com
metas assumidas em eventos internacionais sobre questões ambientais. Porém, podemos
perceber que as intenções vão além da conservação em si do meio ambiente e partem para
o meio político e do capital.
Segundo Araujo(2015), a energia eólica no Brasil não surge como uma
substituição aos modelos de produção provenientes da queima de combustíveis fósseis.
Pelo contrário, o Plano Decenal de Expansão da Energia para 2022, “prevê um aumento
considerável na produção nacional de petróleo, passando dos atuais 2 milhões de barris por
dia (bpd) para cerca de 5 milhões bpd até 2022, para atender principalmente o setor de
transportes” (BRASIL,2003 apud ARAUJO, 2015.p. 73) Ainda nesse plano está previsto o
investimento de 200 bilhões para a geração de energia elétrica como um todo e 625 bilhões
para exploração e produção de petróleo e gás.

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Além disso, Araújo (2015), também descreve dois casos de empreendimentos
que estão se especializando para que sua produção seja baseada integralmente no uso de
fontes eólicas para a obtenção de energia elétrica. O primeiro caso é a empresa Honda, que
fabrica carros que são alimentados de combustíveis fósseis, ou seja, sua produção é
“limpa”, entretanto o produto é considerado um dos que mais contribui para o agravamento
do efeito estufa e assim agravar as mudanças climáticas. O Outro caso, é o Projeto do
Complexo Eólico Mangue Seco, da Petrobras, formado por quatro parques no Rio Grande
do Norte, porém apesar do grande investimento na especialização e produção de uma fonte
limpa, o lucro obtido com este empreendimento será reinvestido na exploração de petróleo
e seus derivados. Nos dois casos apresentados, pode-se observar que há contradição nessas
empresas ao utilizar fontes alternativas para a produção, no entanto, o objetivo final estará
poluindo o meio ambiente.
Para Meireles (2011), os locais para a implantação e operação dessas usinas
estão relacionados apenas a indicadores econômicos, os impactos ambientais são
praticamente desconsiderados. Muitos empreendimentos não possuem o Estudo e Relatório
de impacto Ambiental (EIA/RIMA), que é um estudo mais amplo, tendo assim apenas o
Relatório Ambiental Simplificado (RAS). Segundo Araújo(2015), essas avaliações se
mostram “incapazes de assegurar a proteção das comunidades tradicionais costeiras, como
preconiza o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro do Estado do
Ceará”(ARAUJO,2015, p.108). Ele propõe outra alternativa como a Avaliação de
Equidade Ambiental (AEA), que é um instrumento “de promoção da justiça ambiental,
pois parte do reconhecimento de que as causas das injustiças sociais são as mesmas da
degradação ambiental, não sendo possível separar os problemas ambientais das questões
sociais.”(ARAUJO, 2015, p.109) Ou seja, essa avaliação contemplaria os impactos
socioambientais causados por esses empreendimentos.
Observa-se que o aumento de investimento em fontes alternativas não é uma
preocupação com a qualidade do meio ambiente em si, mas com o crescimento do capital
proporcionado por esse novo setor. Os impactos socioambientais não são as preocupações
primárias e sim o lucro.

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3.2. Políticas públicas de incentivo

Outro motivo para o aumento das usinas foram as políticas de incentivo. O


Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA) foi o
primeiro marco na produção de eletricidade por usinas elétricas, “foram implantados 54
parques eólicos no país, com capacidade instalada de aproximadamente 1.400 MW, sendo
34 projetos concentrados na região nordeste e destes 14 localizados no estado do Ceará.” O
segundo marco foram os leilões “realizadas pela Câmara de Comercialização de Energia
Elétrica (CCEE), sob delegação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)”
(ARAUJO,2015,p.88) que impulsionou o crescimento do setor eólico. A partir daí foram
promulgadas leis que proporcionam isenções ao pagamento de impostos por esses
empreendimentos, como a lei Nº 11.488/2007, promulgada pelo governo federal “que
instituiu o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infra-Estrutura
(REIDI), que desonera o PIS/COFINS tanto para importação de partes que integram a
fabricação de aerogeradores como para a operação nacional”(ARAUJO, 2015,p. 90). No
Estado do Ceará, Decreto Nº 27.951, Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva
Geradora de Energia Eólica – PROEÓLICA. O programa assegura, através do Fundo de
Desenvolvimento Industrial (FDI), incentivos destinados à implantação de sociedades
empresariais que pretendem atuar no setor, com o diferimento equivalente a 75% do valor
do ICMS recolhido mensalmente. (ARAUJO, 2015, p.103)
“Com relação às políticas de financiamento e crédito, parte da expansão do setor
é assegurada pela Eletrobrás, Banco do Nordeste (BNB) e Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Entretanto, a maior parcela dos
empréstimos é realizada junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES)” (ARAUJO, 2015,p.94).

O maior investidor no setor eólico no Brasil tem sido o BNDES, que já


investiu 2,2 bilhões de reais, financiando assim cerca de 36 projetos eólicos.
“Até o início de 2015, haviam 44 parques eólicos em operação, mas os mesmos
são controlados por apenas nove grupos empresariais diferentes”(ARAUJO, 2015,p.98).

“A maior parte (seis) está relacionada direta ou indiretamente com o capital


internacional e são subsidiárias ou controladas por grupos empresariais
estrangeiros. Apenas três grupos empresariais do setor são genuinamente
brasileiros[...] e nenhum deles é do Ceará” (ARAUJO, 2015,p.117)

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Ou seja, a energia produzida aqui não pertence nem na sua maioria à
brasileiros, e os empreendimentos que são brasileiros não estão no Ceará, sendo assim a
produção de energia prejudica pessoas que nem mesmo serão beneficiadas, e trazem
consigo apenas a injustiça ambiental.

4. Impactos socioambientais

Com a expansão do setor eólico no Brasil ficaram mais evidentes os impactos


dessa atividade, que vão além dos impactos mais citados como: a morte de pássaros, a
poluição sonora e a erosão do solo. A energia eólica então distancia-se da noção de energia
limpa, e se mostra um empreendimento com grandes interferências “nas formas de
produção, na cultura, nas relações territoriais e perspectivas de vida nessas
comunidades”(VIANA; NASCIMENTO; MEIRELES, 2016, p.67). Os impactos estão
presentes desde a implantação, por ocupar extensos territórios com a implantação de torres,
depois na operação e na manutenção. Nessa parte do trabalho discorrerei sobre os
principais impactos socioambientais ocasionados pela atividade desse setor.

4.1. Impactos sociais

Em uma carta, para a população e para o poder público, escrita em um


seminário entre os moradores das comunidades tradicionais que vivem nesse espaço no
qual hoje são ocupados pelos parques eólicos fica evidente que,

“A apropriação privada dos espaços de uso comum provoca conflitos ambientais


e fundiários; o fechamento de passagens das comunidades prejudica o direito de
ir e vir e sacrifica gravemente os espaços de interação comunitária e de
realização do trabalho na pesca e na agricultura.” (CARTA, 2012, p. 01)

Ou seja até mesmo os direitos humanos não são respeitados, o espaço passa
pelo processo de privatização, pois os moradores não podem mais realizar o uso comum,
seja para o seu trabalho ou até mesmo para o lazer. Algumas áreas possuem placas com

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aviso de perigo, fios expostos. Citado em ARAÚJO (2015) como “território do medo”
denominado assim pelos próprios moradores. Muitas pessoas também ficam restringidas a
ir até o mar e pescar, impossibilitando uma das atividades de subsistência dessas
comunidades.
Além disso, algumas comunidades que realizavam o ecoturismo ou turismo
comunitários ficam impossibilitados de realizarem também essa atividade.
Outro problema vinculados a instalações das eólicas é a elevação do
contingente nessas cidades,
“ Fez aumentar a demanda por bens de consumos, por
equipamentos públicos e infraestrutura. Investimentos em postos de saúde,
educação, moradia e saneamento são colocados em segundo plano ou
desconsiderados no planejamento público. Há expressivo aumento da geração de
resíduos sólidos, da demanda por vias de acesso e o aumento do trânsito de
carros e caminhões pesados comprometendo as estradas da região. ” (VIANA;
NASCIMENTO; MEIRELES, 2016, p.76)

Uma série de impactos nas infraestruturas são desenvolvidos com o aumento


da população, mas também são percebidos graves problemas sociais,

“como o uso abusivo de drogas entre jovens, aumento da exploração sexual, da


violência contra a mulher e gravidez indesejada na adolescência [...] As crianças
que nascem das relações de jovens das comunidades com trabalhadores das
empresas têm sido denominadas pelos próprios moradores de “filhos do vento”,
em alusão aos casos onde os trabalhadores temporários não assumem a
paternidade e voltam para as suas cidades de origem.” (ARAUJO, 2015, p. 143)

Para alguns professores é impossível dar aula, por “conta dos paredões de som,
das festas e da prostituição” (ARAUJO,2015, p.143) A comunidade também se queixa do
barulho dos parques que estão em funcionamento que parece um “avião que nunca pousa”
(CARTA, 2012,p. 02). Quanto a isso Araújo (2015), afirma que de acordo com a
SEMACE muitos dos parques desobedecem a distância mínima permitida entre as
comunidades e os parques.

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4.2. Impactos ambientais

Além dos impactos sociais, é perceptível grandes impactos ecológicos


provindos desse setor de produção. A maioria dos parques estão instalados em áreas de
dunas que são definidas como Áreas de Proteção Permanente (APP) pela resolução do
CONAMA 303/2002.

Segundo Meireles (2011),

“As intervenções foram realizadas em área de preservação permanente,


abrangendo campo de dunas fixas e móveis, lagoas interdunares (sazonais),
planície de aspersão eólica, manguezais e faixa de praia. Foram impactados
ecossistemas associados às matas de duna e tabuleiro e possivelmente a dinâmica
do lençol freático.”(MEIRELES, 2011, p.02-03)
Isso alterou significativamente as características ecológicas e morfológicas
desses ecossistemas. Meireles (2011), cita os principais impactos nas dunas:
Desmatamento das dunas fixas; Soterramento das dunas; Soterramento de lagoas
interdunares; Cortes e aterros nas dunas fixas e móveis; Introdução de material
sedimentar para impermeabilização e compactação do solo; Fixação das dunas
móveis, fixação artificial das dunas . Esse conjunto de impactos nas dunas pode interferir
diretamente no solo, com a sua compactação e erosão, e também interfere na dinâmica
hidrostática, ocasionar a extinção de lagoas, extinção da fauna e flora local, e interferir na
disponibilidade de água, além da alteração da paisagem e área de lazer.
A vegetação local é retirada para que os processos de instalação possam
acontecer, tanto a vegetação de dunas quanto a de tabuleiros, os mangues são impactados.
Com o desmatamento de algumas áreas ocorre “a interrupção dos fluxos de
matéria e energia com a construção das vias de acesso às turbinas, provocando a destruição
de habitats naturais”, assim a fauna desse local é afetada. (LOUREIRO; GORAYEB;
BRANNSTROM, 2015.p. 34). Na natureza tudo é interligado, quando um ecossistema é
alterado outro provavelmente também será, e como o homem faz parte da natureza também
está sujeito à essas alterações.
Xavier (2013) afirma em seu relatório que no Aracati o patrimônio
arqueológico no qual estão instalados os aerogeradores foram comprometidos, o parque

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eólico só apresenta o RAS, sem nenhum estudo sobre patrimônios arqueológicos, assim
comprometendo o patrimônio histórico e cultural daquele espaço.

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5. Conclusão

O crescimento de usinas eólicas no Brasil em primeiro momento não veio a


partir da preocupação com a agenda ambiental global, mas para o lucro de muito poucos.
Segundo Oliveira (1994), o capital é como um rolo compressor, tudo esmaga na rota da
acumulação e da sua reprodução ampliada. Em nome do desenvolvimento capitalista,
muitas pessoas e ecossistemas são “sacrificados”. A população está sujeita a perder até
mesmo os seus direitos fundamentais como o de ir e vir, direito à sua cultura, à sua história
e o direito do meio ambiente saudável, que é assegurado na constituição brasileira.
Até mesmo o Estado deixa de governar para a maioria e passa a governar para
a minoria. Mesmo que tenha que passar por cima do direito dos seres humanos e
descumprir suas próprias leis ambientais com pedaladas. A ideia da energia eólica como
uma fonte de energia limpa passa a ser questionados.
É necessário investimento em energias alternativas no Brasil e no mundo.
Porém o fato de não liberar alto teor de CO² na atmosfera não significa que essa energia é
de fato limpa. Como pudemos observar a energia eólica traz consigo grandes problemas
sociais, ambientais e políticos nas comunidades em que os grandes complexos estão
instalados. Deveria ser feito um estudo mais aprofundado nessas áreas que são visadas para
a implantação dos parques, estudos que façam o levantamento dos problemas que viriam
dessa atividade nos locais, para verificar a viabilidade no projeto.

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