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RESUMO
Este artigo apresenta uma breve análise das representações do feminino nas histórias da
Mulher-Maravilha, embasada por teorias feministas, e como essa identificação é
simbólica para as mulheres, podendo ser utilizada para conscientizar quanto ao universo
feminino e suas lutas. Além disso, sugerir a inserção de histórias em quadrinhos nas salas
de aula de escolas e universidades do Brasil, de maneira educacional, a fim de que
crianças, jovens e adultos tenham um aprendizado dinâmico acerca da cultura de ódio e
violência às mulheres, para combatê-las.
ABSTRACT
This article presents a brief analysis of the representations of the feminine in Wonder
Woman stories, based on feminist theories, and how this identification is symbolic for
women, and can be used to raise awareness about the feminine universe and its struggles.
In addition, suggest ways to insert these comics in the classrooms of schools and
universities in Brazil, in an educational way, so that children, youth and adults have a
dynamic learning about the culture of hate and violence to women and ways to fight them.
INTRODUÇÃO
Inicialmente, visando um melhor entendimento deste artigo, cabe uma introdução
a respeito da personagem Mulher-Maravilha (Diana Prince), que será objeto de análise,
apresentando assim o seu surgimento, criação e contexto no qual a mesma está inserida,
de forma que possa fomentar a discussão que se dará em seguida.
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO
É intrigante como se deu o surgimento dessa heroína, uma vez que foi criada pelo
psicólogo norte-americano William Moulton Marston, que tinha ideias radicais e
libertárias sobre sexo e gênero e se baseou na sua esposa Elizabeth Marston, e sua amante
Olivia Byrne, com quem vivia uma relação poligâmica, para a criação da personagem.
William Marston era um dos psicólogos mais famosos dos EUA no ano de 1940 e, além
disso, inventor do famoso detector de mentiras - o polígrafo (referenciado na história da
própria Mulher-Maravilha como um dos seus instrumentos de combate, o "laço da
verdade"). Outro fato curioso é que, em 1940, Marston publicou uma entrevista na revista
Family Circle, intitulada "Não ria dos quadrinhos", na qual defendeu o potencial
educativo desse gênero literário e, por conta disso, foi oficialmente contratado pela DC
Comics.
Vale ressaltar que seria plenamente executável utilizar a personagem Mulher-
Maravilha e sua narrativa a partir de diversas abordagens, como do ponto de vista
histórico, político, mitológico, ideológico e até mesmo social. Neste artigo, entretanto,
tendo em vista um melhor entendimento e aprofundamento do assunto, a personagem será
analisada a partir da perspectiva feminista, sua principal e mais influente característica, e
junto a isso, a partir do pressuposto didático, expondo não apenas a importância e
possibilidade da aplicação dos quadrinhos nas salas de aula, tendo como foco aqui o
tópico de gênero, mas também interferindo na formação de leitores conscientes e
engajados a saber mais a respeito da luta feminista.
FEMINISMO
“O problema da questão de gênero é que ela prescreve como devemos ser em vez
de reconhecer como somos. Seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem
realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas de gênero” (ADICHIE, 2014,
p. 42). No final do século XIX, movimentos organizados de mulheres em busca de direitos
civis (principalmente ao voto) e igualdade política, começaram a surgir. O sufragismo,
que começou no Reino Unido e nos Estados Unidos, marcou o início do que seria o
movimento feminista. Esse período ficou conhecido como a primeira onda do movimento
e, suas representantes, as sufragistas, foram as mulheres da sociedade pós-Revolução
Industrial.
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO
Os objetivos estabelecidos pelas mulheres eram importantes pois trariam para elas
empoderamento, participação ativa na sociedade e opção de escolha. A partir daí, então,
foram estabelecidas cada vez mais mudanças na sociedade, visando o alcance da
liberdade, proteção, dignidade e emancipação dessas mulheres.
A segunda onda do feminismo, no entanto, iniciou-se após a publicação do livro
"O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir, servindo como base para as ideias das
feministas radicais que surgiram na década de 70. O livro contém a famosa e polêmica
frase, “Ninguém nasce mulher. Torna-se mulher.” (BEAUVOIR, 1949, p.9), que alega
que ser mulher é uma condição imposta pela sociedade e, o gênero, na verdade, é uma
construção cultural e não uma determinação biológica.
A terceira onda, que ocorre a partir da década de 90, tem como foco principal o
conceito de escolha, de forma que as mulheres têm direito de escolher literalmente tudo
o que diz respeito a si mesmas. Desse modo, elas passam a ser donas dos seus próprios
corpos e cabe a elas escolher como usá-los. É benéfico destacar que essa corrente surgiu
em um mundo globalizado, onde a informação viaja facilmente e as pessoas têm acesso
rápido ao conhecimento. Logo, o desenvolvimento de senso crítico abre espaço para que
garotas cada vez mais jovens se preocupem com seus direitos, liberdade e representações
na sociedade.
As marcações sociais de toda a pesquisa acima levam ao que Adriana Piscitelli
(2002) chama de “feminismos globais”, que trazem à tona o debate da produção social
das diferenças (BRAH, 2006) através das articulações de gênero, sexualidade, raça, classe
(MCCLINTOCK, 2010), dentre outras. Existem diversas vertentes do feminismo, como
radical, liberal, interseccional, marxista, socialista, global (PISCITELLI, 2002), negro
(HOOKS, 1981; DAVIS, 1983; COLLINS,1990). Cada vertente do feminismo enxerga a
luta das mulheres por uma ótica diferente, uma vez que cada grupo tem suas necessidades
e prioridades.
Ainda nos dias atuais, as representações de mulheres na cultura popular são não
só escassas, mas também, baseadas em ideias preconceituosas, errôneas e estereotipadas.
O próprio criador da Mulher-Maravilha, William Marston, embasou-se em seus fetiches
lésbicos e sexuais para criar a personagem, fazendo assim com que, apesar da
representatividade em sua maioria, haja uma contradição na sua criação.
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Desse modo, toda simbologia referente à personagem está ligada tanto à forma,
quanto à intensidade com que as mulheres ao redor do mundo se encontram empoderadas
por suas ações. O empoderamento, portanto, está relacionado não só a fazer com que essas
mulheres se sintam tão capazes quanto os homens de exercer determinadas funções e
ocupar certos espaços, mas visam, sobretudo, fazer com que elas entendam que merecem
os mesmos direitos que eles.
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO
nas salas de aula, cabe a(o) professor(a) realizar um planejamento das atividades,
estabelecendo a estratégia mais didática para uma determinada faixa etária. No caso da
Mulher-Maravilha, por exemplo, uma vez que a classificação etária dessa história em
quadrinhos é de 14 anos, pode-se imaginar um plano de aulas pautado tanto em escolas,
quanto em universidades, já que o gênero é consumido tanto por adolescentes, quanto por
adultos.
Dado o atual contexto histórico, com a pandemia do coronavírus disseminada em
2020, as desigualdades sociais foram escancaradas. De acordo com dados do G1, em
parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, nos primeiros seis meses de 2020, 1.890 mulheres foram mortas de
forma violenta, boa durante a pandemia do novo coronavírus – um aumento de 2% em
relação ao mesmo período de 2019. Segundo o levantamento, 631 desses crimes foram
de ódio motivados pela condição de gênero, ou seja, feminicídio.
[...] implica ser o discurso um modo de ação, uma forma em que as
pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros,
como também um modo de representação. Trata-se de uma visão do uso
de linguagem que se tornou familiar [...] O discurso contribui para a
constituição de todas as dimensões da estrutura social que, direta ou
indiretamente, o moldam e o restringem: suas próprias normas e
convenções, como também relações, identidades e instituições que lhe
são subjacentes. O discurso é uma pratica, não apenas de representação
do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o
mundo em significado (FAIRCLOUGH, 2001, p. 91).
CONCLUSÃO
Por fim, pode-se concluir que a educação é o único e mais efetivo meio de
exterminar preconceitos e crenças limitantes, sejam elas quais forem. A proposta desse
artigo é sugerir um meio facilitador de um processo longo, que é acabar com a cultura de
ódio às mulheres. E, indo além, fazer com que todas se sintam lindas, capazes, fortes,
bem sucedidas, suficientes e independentes, como realmente são. Para isso, é importante
que tenhamos exemplos desde cedo, nas telas de cinema, da TV, nos livros, nas histórias.
E a Mulher-Maravilha é um desses exemplos.
Através das histórias em quadrinhos, sendo introduzidas e debatidas nas salas de
aula de escolas e universidades, é possível gerar uma cultura de identificação e sensação
de pertencimento para com essas mulheres. Mulher-Maravilha é muito mais do que uma
heroína. É o simbolismo do quão incríveis e heroicas são as mulheres, como um todo,
cada qual com suas particularidades.
No dia em que for possível à mulher o amor não em sua fraqueza, mas
em sua força, não para escapar de si mesma, mas para se encontrar, não
para se abater, mas para se afirmar. Naquele dia o amor se voltará para
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ela, assim como para o homem, a fonte de vida e não de perigo mortal.
[...]” (BEAUVOIR, 1967).
Que todas as meninas, garotas, crianças e mulheres possam escolher ser Mulher-
Maravilha ou Diana Prince. Maravilhosas em sua essência ou normalmente especiais. E
que as mulheres-maravilha ao redor do mundo sejam reconhecidas como super-heroínas,
ao enfrentar batalhas do dia-a-dia com tanta maestria, força e perspicácia, ainda que o
contexto seja contrário.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todos feministas. São Paulo, Companhia das
Letras, 2014.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo – volume único. Rio de Janeiro, Editora
Nova Fronteira, 2009.
BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo Vol 2: A Experiência Vivida, Difusão Européia do
Livro, 1967.
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https://www.diariodolitoral.com.br/colunistas/post/utilizacao-das-historias-em-
quadrinhos-em-sala-de-aula/649/. Último acesso em: 31 de outubro de 2020.
https://educador.brasilescola.uol.com.br/orientacoes/historia-quadrinhos-como-
incentivo-leitura.html. Último acesso em: 31 de outubro de 2020.
https://hqrock.com.br/2017/05/28/mulher-maravilha-saiba-tudo-sobre-a-maior-heroina-
dos-quadrinhos/. Último acesso em: 31 de outubro de 2020.