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Obras Subterrâneas

Aula 01
• Introdução
• Desenho de túneis (seções)
• Pressão atuante

Eloi Angelo Palma Filho, M. Eng.


palmafilho@yahoo.it
Versão 2014/01
Especialização em Fundações e Obras de Terra
Disciplina: Obras Subterrâneas

Introdução
Especialização em Fundações e Obras de Terra
Disciplina: Obras Subterrâneas

Plano de Aula

Discussão do Plano de Aula.

O Plano de Aula é o elemento que dará o ‘norte’


durante a aplicação da disciplina, e deve ser
obedecido e acompanhado, tanto pelo Professor
quanto pelo alunos.
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Objetivos da disciplina

Apresentar os elementos mínimos relativos à


obras subterrâneas, a fim de que o(a)
Engenheiro(a) tenha as habilidades mínimas para
engajamento em serviço correlato: Projeto,
Fiscalização, Execução.

Foco na “prática”.
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Termos comuns

Túnel – escavação subterrânea, ‘horizontal’, com


acesso duplo;

Galeria – escavação subterrânea, ‘horizontal’, com


acesso único;

Poço – escavação vertical (shaft).

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Termos associados

Concreto projetado (sprayed concrete, shotcrete);


TBM – Tunnel Boring Machine; Jumbo; Robô;
Tuneleiro; Rockburts; Enfilagem; Pregagem;
Tirantes; Instrumentação; Bate-choco; Reflexão de
concreto projetado; Overbreak e Underbreak;
Invert ou arco invertido; Pata de elefante; Jet-
grouting.
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Difusão do conhecimento
Visando difundir o conhecimento e promover
avanços na ocupação do espaço subterrâneo,
surgiu em 1974 a ITA – International Tunnelling
and Underground Space Association. Já possui 71
países membros e 310 membros afiliados.

No Brasil, há o CBT – Comitê Brasileiro de Túneis,


junto à ABMS. Prof. André Assis, da UnB, único
Latinoamericano que presidiu a ITA.
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A ITA realizada anualmente o Congresso Mundial


de Túneis, com dois dias de treinamento para
jovens engenheiros. Em 2014, foi sediado em Foz
do Iguaçú-PR.

No Brasil, o Congresso Brasileiro tem se repetido


de três em três anos.

Acessos:
www.ita-aites.org;
www.tuneis.com.br;
http://140.194.76.129/publications/eng-manuals/em1110-2-2901/toc.htm;
http://www.scribd.com/doc/19258513/Tunnelling-Tunnel-Mechanics
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www.wtc2014.com.br
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História dos túneis

Túnel, no sentido literal da palavra, significa


caminho ou passagem sob algo (terra, água), que
serve geralmente como via de comunicação.

A origem da construção dos túneis ainda é


disputada.

Os Egípcios construíram túneis para ter acesso a


túmulos.

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Os Babilônicos construíram (2.180 A.C.) um túnel


sob o Eufrates usando o que é chamado agora de
método de Valas a Céu Aberto: o rio foi desviado,
uma trincheira foi aberta pelo seu leito, e um tubo
de tijolos foi construído e depois coberto.

Os antigos Gregos e Romanos construíam túneis


para conduzir água e para fins mineiros; alguns
desses túneis em Roma estão ainda hoje em
operação.
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O primeiro grande túnel da Inglaterra era parte do


Grand Trunk Canal, e seu comprimento foi de 3,2
km, tendo sido concluído em 1777.
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Thames Tunnel – um marco importante.


Concluído em 1845, em Londres, o túnel sob o Rio
Tamisa, com cerca de 400 m de extensão.

Sua construção e conclusão foi possível devido ao


Shield de Brunel, do famoso Engenheiro Marc
Brunel, francês de nascimento com estudo na
Inglaterra.

Inicialmente, uso de pedestres. Posteriormente,


para o Metrô de Londres.
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http://en.wikipedia.org/wiki/Thames_Tunnel
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Capadocia, Turquia 15
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Usos modernos

Demandas da “Era Ambiental”;

Controle de enchentes em centros urbanos;

Reordenação do uso do espaço urbano.


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Boston, USA – Projeto Big Dig. http://en.wikipedia.org/wiki/Big_Dig


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Projeto SMART, Kuala Lumpur - Malásia. http://www.smarttunnel.com.my/

Figura 1 – Período Seco


Figura 2 – Período Intermediário
Figura 3 – Período de Chuvas Excessivas
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Projeto Alaskan Way, Seattle. http://http://www.wsdot.wa.gov/projects/viaduct/

~ 3,2 km

Bertha
Hitachi Zosen Co.
US$ 80 milhões

~ 17,25m
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“Era Ambiental”
Autoestrada na Hungria, 2008

Mesmo com baixa cobertura de solo, o que poderia


gerar uma estrada convencional, se optou por fazer
túneis, em função, entre outros, do passivo ambiental
Foto: Eloi da disposição de material (bota-fora). 20
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Diferença de escavar em solo


ou rocha

Talvez seja, esta, a principal premissa a ser levada


deste cursos: as principais diferenças entre se
escavar um túnel em solo (material sem auto-
sustentação), ou em rocha (material com condição
de auto-suporte);

As seções, a produção, o suporte, os custos,


equipamentos, tudo se diferencia.
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Vista, em corte, de um Túnel.

Em solo, ou material sem competência: PRÉ-SUPORTE


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Em solo, ou material sem competência: PRÉ-SUPORTE


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Instalando “enfilagens”
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Em material sem “competência”, problemas de ruptura a serem evitados

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Em material competente, redistribuição de tensões é facilitada


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a) Argila b) Areia

Formas do colapso – solo (Mair and Taylor, 1997)


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Túnel escavado em solo, com instalação de invert


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Túnel escavado em rocha, com instalação de tirantes


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Desenho de túneis
(seções)

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Seção de Túneis
Abóboda - Crown

Lateral – Side -
Shoulder
Revestimento -
Lining

Intradorso -
Intrados

Extradorso -
Extrados Arco invertido - Invert
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Seções típicas de túneis escavados pelo método convencional


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Seção de um túnel rodoviário, escavado com TBM – Tunnel Boring


Machine
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Com a evolução dos


métodos construtivos, as
seções de escavação
puderam ser otimizadas,
uma vez que o maciço
circundante começou a
contar e ser utilizado como
material da construção.
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Partes de um Túnel - Obra

DER-SP 35
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Superfície

cobertura
inicial do
Passo de Sem Suporte terreno
avanço suporte temporário
Suporte
definitivo

Face

Viga
Núcleo
portal
Portal

Invert

SENTIDO DE ESCAVAÇÃO
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Gabaritos
Quando for para túneis rodoviário e ferroviários,
deve ser levado em conta o Gabarito Dinâmico
(superelevações).

Para rodovias, altura livre ≥ 5,5 m, e para ferrovias


≥ 6,7 m acima do boleto (NBR 12.915/2009), ou
conforme especificação da Operadora.

A largura livre depende do número de vias.


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A PIARC, Associação Internacional de Rodovias,


possui duas publicações sobre projeto de seção
de túneis rodoviários:

1) 2001 – Cross Section Design for Undirecional


Road Tunnels;
2) 2004 – Cross Section Design for Bi-Directional
Road Tunnels.

Material disponível em: www.piarc.org


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Túneis monodirecionais

PISTA

ACOSTAMENTO ACOSTAMENTO

PISTA
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1,00 m

0,60 m 0,15 m 1,00 m


3,60 m 3,60 m

A largura da faixa de rolagem atende aos padrões do DNIT


para rodovia de pista dupla;
Não há especificação para os demais elementos de um
túnel, no DNIT (sugestão particular)
Para acostamento, levar em conta Norma NBR de
acessibilidade;
Estimativa de fluxo: 2.200 veículos/faixa/hora
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Fonte:
DNIT
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Túneis bi-direcionais

3,50 m 3,50 m

Fonte:
PIARC
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A largura da faixa de rolagem atende aos padrões


do DNIT para rodovia de pista simples. Não há
especificação para os demais elementos de um
túnel, no DNIT.

Diferencia-se do túnel unidirecional pela largura


da faixa e pela equivalência das áreas de
segurança (faixa de evacuação/pedestres).

Para ‘passeio’, levar em conta Norma NBR de


acessibilidade.
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Acostamentos
Nota-se que não está previsto, pela PIARC,
acostamento equivalente ao da rodovia.
Motivo: segurança, e também redução de custo
pela redução da seção de escavação.
Para parar, então, com segurança, dimensiona-se
“baias”, a cada 500 metros, com extensão de
cerca de 45 m.

≥ 45m
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Pista 01

Pista 02

Baia de
estacionamento
Calçada

Foto: Eloi
China, 2010 45
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Kolymbas, 2010 50
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Esta galeria
pode ser pré-
fabricada

Grande discussão: um túnel de maior diâmetro, com duas linhas, ou


dois túneis paralelos, de diâmetro menor, e interligados???
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Ao desenhar a seção, considerar a espessura


necessária para revestimento. Para início, arbitrar
50cm.

Deixar uma folga entre o gabarito e o início do


suporte/revestimento, com duas finalidades:
i) O maciço irá deformar. Talvez, deforme mais
que o imaginado;
ii) No futuro, pode ser necessário fazer algum
tratamento no revestimento, o que aumentaria
a espessura do mesmo.
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Ter em mente que túnel em solo ou em rocha


costumam ter espessura de revestimento
diferentes. Em solo, o sistema de suporte é mais
robusto (espesso).

Lembrar de considerar sistemas auxiliares


(iluminação, ventilação, cabeamentos, rota de
fuga).

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Pressão atuante no
Revestimento
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O cálculo da pressão vertical, a qual realmente


atua sobre o suporte, é feito a partir de teorias,
que levam em conta a altura do recobrimento
(overburden);

Entre as teorias, as quais se aplicam para maciços


de rocha, principalmente, temos:
Bierbäumer; Maillart; Eszto; Terzaghi; Suquet;
Balla.

A mais aplicada é a de Terzaghi.


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Em maciços de solo, ou em rocha muito alterada


ou fraturada, para coberturas de até 3 ou 5 Ø,
assume-se como tensão total a altura da cobertura
multiplicada pela densidade do maciço.

 v   .H
Em termos de pressão sobre o suporte:
• Baixa cobertura, maciço de solo/rocha alterada: pv   v
• Média a alta cobertura, material competente: pv   v

• Para carga horizontal, p h  k 0 . pv


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Teoria de Terzaghi - Solos


Considera que uma porção do maciço circundante
converge para o suporte da escavação.

onde:

H1 = 5. B1
Terzaghi, 1951
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Exercício de fixação 01
Calcular, pela teoria de Terzaghi, a pressão
vertical pv sobre dois túneis, de seção dupla,
conforme dados abaixo:
Túnel 01: Túnel 02:
Ø= 35 ° Ø= 15 °
ɣ= 1,8 t/m³ ɣ= 1,8 t/m³
c= 0,5 t/m² c= 0,5 t/m²
b= 10 m b= 10 m
h= 8m h= 8m
H= 50 m H= 20 m

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Teoria de Terzaghi - Rocha

Terzaghi, 1946
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Pressão no Piso
Embora muitas vezes negligenciada, a pressão
que atua no piso pode, muitas vezes, ser a causa
da ruptura da obra subterrânea.

A principal “contra-medida” é a execução do


chamado arco invertido (invert), por vezes em
estrutura armada.
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b/2 b
c
Ht

b
m
q

b
2
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Kolymbas, 2005 65
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Conforme Terzaghi, a relação n deve ficar, pelo


menos, entre 1,3 a 1,5, a fim de mostrar equilíbrio
contra escorregamento no interior do túnel.

Q 2c ( 2   )
n 
Q0   2c  2 
  H1  3    m  f
  b  3 

Já no livro de Kolymbas, seção 16.3, mostra-se


que não é necessário suporte de piso, se a
coesão do solo atender à verificação a seguir:
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Exercício de fixação 02

Verificar a necessidade de Arco Invertido, pela Teoria de


Terzaghi, com as seguintes hipóteses:
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