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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A)

FEDERAL DA ___ a
VARA DA JUSTIÇA FEDERAL EM
SANTOS/SP

WLADEMIR BACELLAR DO CARMO FILHO,


brasileiro, divorciado, inscrito no CPF/MF sob. n. 048.715.428-23,
residente na Rua Frei Francisco Sampaio, 146, Santos/SP, CEP.
11040-220, por seus advogados que a presente subscrevem, vem,
respeitosamente, propor

AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL COM PEDIDO DE


TUTELA DE URGÊNCIA

em face da UNIÃO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL, pessoa


jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o n. 00.394.460/0216-
53, com endereço na Praça da República, 22/25, Centro, Santos/SP,
CEP: 11013-010, conforme os fatos e fundamentos que passa a
expor:

1. FATOS

Conforme Avisos de Cobrança (doc. n. 01), o Autor


foi notificado pela Receita Federal para efetuar o pagamento de
supostos débitos e multas referentes aos Impostos de Renda
declarados pelo mesmo, relativos aos anos de 2015, 2016 e 2017.

Acerca da origem dos débitos e multas, percebe-se


pelos Extratos do Processamento (doc. n. 02) que tais decorrem da
glosa de despesas com pensão alimentícia e assistência médica
declaradas pelo Autor, porém hipoteticamente não comprovadas.

Registra-se que pelo fato de alteração de residência,


o Autor foi notificado para ciência e eventual regularização mediante
edital (doc. n. 03), providência que não obteve êxito efetivo para dar
conhecimento ao mesmo.

Assim, na esfera administrativa, não foi possível ao


Autor, pelo desconhecimento efetivo da existência de dúvida por
parte do fisco, a devida comprovação da regularidade das despesas
lançadas naqueles exercícios.

Contudo, sendo inequívoco que o prévio


esgotamento da via administrativa não é pressuposto para o acesso
à jurisdição, nos termos do inciso XXXV do artigo 5º da Constituição
Federal, sendo suficiente o mero risco de lesão a direito para o
ajuizamento da ação, e que a mera ausência de impugnação
administrativa não é suficiente para a manutenção de qualquer
lançamento tributário, ainda mais indevido, passará o Autor a
comprovar a regularidade das despesas lançadas naqueles exercícios
e o desacerto das glosas efetuadas pela Receita Federal:

2. GLOSAS

2.1. DESPESAS RELATIVAS À PENSÃO ALIMENTÍCIA

Nos termos do acordo celebrado nos autos da


Separação Consensual que tramitou perante a 1a Vara da Família e
Sucessões da Comarca de Santos (processo 562.01.2005.010875-2,
ordem n. 661/2005) (doc. n. 04), o Autor anuiu com o pagamento de
pensão alimentícia em favor de sua ex-esposa (Sra. Silvia de Castro
Bacellar do Carmo – CPF/MF sob n. 046.080.448-00), na ordem de
12% (doze por cento) de todos os seus rendimento líquidos, e do
filho fruto dessa união (Daniel de Castro Bacellar do Carmo, na época
menor de idade), na ordem de 30% (trinta por cento) também de
todos os seus rendimentos líquidos.

Referido acordo foi entabulado em Juízo e


devidamente homologado (doc. n. 05).

Quanto ao pagamento efetivo das pensões, carreia o


Autor aos autos declarações de sua ex-esposa e de seu filho
(alimentados) (doc. n. 06), atestando os exatos valores pagos em
cada ano, demonstrando, assim, que as glosas são indevidas.

Denota-se que na Declaração de IR do ano de 2016,


houve glosa das despesas totais relativas à pensão alimentícia no
valor de R$ 120.215,60 (cento e vinte mil, duzentos e quinze reais e
sessenta centavos).

Na Declaração de IR do ano de 2017 houve glosa das


despesas totais relativas à pensão alimentícia no valor de R$
116.099,28 (cento e dezesseis mil, noventa e nove reais e vinte e oito
centavos).

E, por fim, na Declaração de IR do ano de 2018 houve


glosa das despesas totais relativas à pensão alimentícia no valor de
R$ 110.932,54 (cento e dez mil, novecentos e trinta e dois reais e
cinquenta e quatro centavos).

Reportando-se às declarações anexadas, tais valores


são exatamente aqueles pagos à título de pensão alimentícia,
devidamente homologada em Juízo.

Ora, as importâncias pagas a título de pensão


alimentícia em face das normas do Direito de Família, quando em
cumprimento de decisão judicial ou de acordo homologado
judicialmente, são integralmente dedutíveis no Imposto de Renda de
Pessoa Física (ex vi do artigo 8, inciso II, alínea “f”, da Lei
9.250/1995).

2.2. DESPESAS MÉDICAS

Tem-se, ainda, que foram glosadas naqueles IRs dos


anos de 2015/2017 as despesas médicas suportadas pelo Autor em
face de sua ex-esposa e de seu filho. Ocorre que a obrigação na
manutenção do plano de saúde também decorre do acordo
judicial homologado, já anexado à presente.

Constou no item III da composição (Dos Alimentos),


que “(...) responderá o varão, ainda, pelas despesas médico, e
hospitalares do filho e da Suplicante, por intermédio de plano de
saúde”.

Nota-se que na Declaração de IR do ano de 2016


houve glosa total de despesas médicas na ordem de R$ 25.035,31
(vinte e cinco mil, trinta e cinco reais e trinta e um centavos).
Na Declaração de IR do ano de 2017 houve glosa
total de despesas médicas na ordem de R$ 31.095,33 (trinta e um
mil, noventa e cinco reais e trinta e três centavos).

Por fim, na Declaração de IR do ano de 2018 houve


glosa total de despesas médicas na ordem de R$ 35.226,94 (trinta e
cinco mil, duzentos e vinte e seis reais e noventa e quatro centavos).

Neste sentido, os comprovantes fornecidos pela


empresa de Plano de Saúde referentes aos anos de 2015/2017 (doc.
n. 07) atestam o efetivo dispêndio do Autor nesta rubrica, em seu
favor, da sua ex-esposa e de seu filho, conforme acordo homologado
em Juízo.

3. DÉBITOS FISCAIS INDEVIDOS

Demonstrado, nos tópicos anteriores, que o débito


imputado ao Autor pela União decorre unicamente das glosas
efetuadas nos Impostos de Renda declarados nos anos de 2016, 2017
e 2018, no que tange às despesas relativas à pensão alimentícia e
médica (vide Extratos do Processamento dos anos citados – doc. n.
02).

Infelizmente, e sem qualquer culpa atribuída às


partes, na fase administrativa o Autor não adotou qualquer medida
tendente à comprovar tais despesas. Porém, ainda que não exercido
seu direito na esfera administrativa, tal fato não atribui, por si só,
legitimidade aos débitos lançados.

Nos termos dos documentos anexados, comprovado


está que as despesas com pensão alimentícia e médica foram
expressamente previstas em acordo homologado em Juízo (vide docs.
ns. 04/05).

E mais. Pelos documentos juntados, comprovado


está documentalmente que tais despesas foram efetivamente
realizadas (vide docs. n. 06/07).

Sobre o tema, a jurisprudência é unânime ao indicar:

“APELAÇÃO CÍVEL Nº 0021505-75.2011.4.03.6100/SP


2011.61.00.021505- 2/SP

RELATOR : Desembargador Federal ANTONIO CEDENHO APELANTE :


União Federal (FAZENDA NACIONAL) ADVOGADO : SP000003 JULIO
CÉSAR CASARI E CLAUDIA AKEMI OWADA APELADO (A) : ARNALDO
BEGHELLI ADVOGADO : SP065988 MARIA DE LOURDES B M DE
SIQUEIRA e outro (a) No. ORIG. : 00215057520114036100 25 Vr SÃO
PAULO/SP

EMENTA PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA DE


DÉBITO. IRPF. GLOSA DE DEDUÇÃO COM PENSÃO ALIMENTÍCIA
OBJETO DE ACORDO HOMOLOGADO JUDICIALMENTE. COMPROVAÇÃO.
EXAURIMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE. DÉBITO
ANULADO. APELAÇÃO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. Narra o autor que foi autuado em relação à glosa de dedução indevida


de despesas com pensão alimentícia judicial, por falta de comprovação,
nos anoscalendário de 2004 a 2006. Afirma que, por ter mudado de
endereço, não foi notificado por carta da lavratura do auto de infração,
motivo pelo qual foi notificado por edital em 21/10/2009. Ao tomar
conhecimento da autuação, protocolou impugnação administrativa que
foi considerada intempestiva.

2. O prévio esgotamento da via administrativa não é pressuposto para o


acesso à jurisdição, nos termos do inciso XXXV do artigo 5º da
Constituição Federal, sendo suficiente o mero risco de lesão a direito para
o ajuizamento da ação. Desta forma, a mera ausência de impugnação
administrativa não é suficiente para a manutenção do lançamento
tributário.

3. São dedutíveis do imposto de renda os valores pagos a título de pensão


alimentícia e devidos em razão de decisão judicial ou acordo homologado
judicialmente, nos termos do artigo 8º, II, alínea f, da Lei 9.250/1995.

4. No caso concreto, o autor juntou cópia da ação revisional de alimentos


e da ação de execução de pensão alimentícia, no bojo das quais foi
realizado acordo homologado judicialmente para pagamento de pensão
alimentícia aos dois filhos menores do casal. Há, também, declaração
subscrita pela genitora de que os valores depositados em sua conta
bancária no período de janeiro a abril de 2004 são oriundos de pensão
alimentícia para os filhos, bem como escrituras públicas de declaração
dos filhos Frederico Guilherme de Souza Beghelli e Mariana de Souza
Beghelli Narciso, à época já maiores de idade, de que receberam os
valores que especificam a título de pensão alimentícia mediante depósito
na conta bancária de titularidade de sua genitora de janeiro a abril de
2004 e, nos demais meses de 2004 e nos anos de 2005 e 2006, mediante
depósito em conta bancária de titularidade própria.
5. Desta forma, devidamente comprovadas as despesas que foram objeto
de dedução da base de cálculo do imposto de renda nos respectivos
anoscalendário, é de rigor a manutenção da r. sentença que reconheceu
a nulidade do auto de infração.

6. Apelação a que se nega provimento. ACÓRDÃO Vistos e relatados


estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia
Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por
unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do relatório e
voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado”.

Desta forma, tendo em vista que a legislação de


regência do Imposto de Renda de Pessoa Física permite que o
contribuinte deduza da base de cálculo do imposto os valores relativos
à pensão alimentícia e médicas, desde que comprovadas e amparadas
em acordo homologado em Juízo, a glosa realizada pela Receita
Federal é manifestamente indevida.

E sendo indevidas as glosas, por consequência, são


indevidos os valores lançados em face do Autor a título de ajuste do
IR e de multa.

4. TUTELA DE URGÊNCIA

Evidente, pelo quanto exposto, que o débito lançado


pela Receita Federal do Brasil é indevido.
Com arrimo no artigo 330 do Código de Processo
Civil, conceder-se-á a tutela de urgência quando presentes a
“probabilidade do direito” e o “perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo”.

Quanto ao direito, inequívoco, mediante as provas


anexadas à presente, que o débito fiscal apontado decorre
unicamente da indevida glosa realizada pela Receita Federal quanto
às Declarações de Imposto de Renda relativas aos anos de 2015,
2016 e 2017, nas despesas referentes à pensão alimentícia e médicas.

Comprovou-se, ainda, que as pensões alimentícias e


despesas médicas foram expressamente previstas em acordo
entabulado e homologado em Juízo.

Por fim, comprovou-se que os valores lançados foram


efetivamente suportados pelo Autor.

Quanto ao perigo na demora, tem-se como


incontestável os reflexos negativos advindos de registro negativo de
qualquer débito fiscal, prejudicando os atos civis do Autor, razão pela
qual há extrema urgência em sua correção.

5. REQUERIMENTOS
Ante ao exposto, requer o Autor:

- a concessão de tutela de urgência, para o fim de sustar os efeitos


dos débitos fiscais objeto da presente demanda, initio lites e inaudita
altera pars, ou caso V. Exa. assim não entenda, após a apresentação
de justificativa prévia;

- a citação da Ré para, querendo, contestar o presente feito;

- ao final, a PROCEDÊNCIA da ação, com a anulação dos débitos


fiscais objeto da presente demanda, condenando a Ré nas verbas de
estilo;

- a produção de todos os meios de prova em direito admitidos.

Atribui à causa o valor de R$ 200.295,81 (duzentos


mil, duzentos e noventa e cinco reais e oitenta e um centavos), para
efeito de custas e alçada.

Neste Termos,

Pede Deferimento.
Santos, 15 de dezembro de 2021

Eduardo de Almeida Ferreira Frederico Spagnuolo de Freitas


OAB/SP 184.325 OAB/SP 186.248

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