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Nos últimos anos tornou-se usual, em análises "O pressuposto de que o EBITDA seja, não dá para desprezar o montante dos investi-
e decisões, dar foco na geração bruta de caixa ou mentos quando comparados com o valor da depre-
EBITDA, tanto no mercado financeiro quanto para a é um bom indicador de geração ciação, uma vez que é muito relevante e expressivo o
gestão das empresas. Entretanto, observa-se o inex- valor investido em imobilizado. Da amostra, são pou-
de caixa se mostra muito frágil, cas as empresas que desinvestiram e/ou investiram
pressivo número de empresas que apresentam e
explicam em seus relatórios suas decisões sobre uma vez que sua consistência índices inferiores a 50%;
o CAPEX (investimentos em capital fixo e de giro), 2 - A relação entre a Depreciação e o
sobre o comportamento do valor do fluxo de caixa conceitual e aplicabilidade na gestão EBITDA: observamos que o índice médio foi de 40%
livre e sobre o nível de criação de valor ao acionista. no período 95/00 e de 26% no período 2000/2005,
de empresas não apresentam a
Devido à simplicidade e rapidez no cálculo desse ou seja, como ficou demonstrado na relação anterior.
indicador financeiro, as empresas de investimento de esperada convergência" Na realidade, as empresas investem em imobilizados
capital de risco, como as de venture capital e equity proporcionalmente mais do que consomem ou regis-
funds, usam o EBITDA como base de múltiplos para tram; portanto, novamente a evidência encontrada
comparação entre empresas e nas que investem, demonstra a fragilidade do uso do EBITDA como
podem exigir metas do EBITDA a ser alcançado. de 2000/2005, utilizando como instrumento de men- fluxo de caixa bruto do negócio ou como indicador de
Bancos de Investimento e Corretoras calculam o suração a metodologia com o foco no VEC. É impor- melhoria de resultados;
múltiplo EV/EBITDA (valor de mercado acrescido do tante mencionar que nestes dados foram incorpora- 3 - A relação média dos Investimentos em
endividamento líquido dividido pelo EBITDA), como das as informações de 2004 e 2005, uma vez que a Imobilizados comparados com o EBITDA: o com-
um importante indicador financeiro em decisões de primeira análise foi publicada em fevereiro de 2006 portamento do índice foi de 80% no período 95/00 e
compra, valor para abertura de capital e/ou aplica- na Revista Relações com Investidores - RI, n° 96. de 50% no período 2000/2005, ou seja, o saldo da
ções em ações. A amostra foi estratificada e consideramos so- geração bruta de caixa na realidade foi de somente
Da mesma maneira as instituições financeiras mente as 21 empresas privadas de capital aberto que 20% no primeiro período e de 50% no segundo. E
o utilizam para avaliar o risco financeiro de empres- obtiveram EBITDA médio, no período 2000/2005, se incluíssemos nesse cálculo o impacto do desem-
tar, verificar a capacidade da empresa para suportar superior a R$ 300 milhões. É importante salientar bolso do Imposto de Renda Operacional e a neces-
níveis estabelecidos de endividamento versus a ca- que utilizamos em nossas análises somente valores sidade de capital de giro, será que a geração seria
pacidade e o risco de receber. Baseadas nele, as em moeda de poder aquisitivo constante2, porque, ao positiva? Portanto, embora a empresa possa apre-
empresas demonstram para o mercado o comporta- contrário, se utilizássemos os valores nominais como sentar crescimento do EBITDA em termos absolutos
mento do seu valor, e sua proporção em relação a foram publicados, seria impossível comparar e ava- ou comparativamente à receita, as relações ficam
receitas. Outro pressuposto forte do uso do EBITDA liar tecnicamente valores de períodos diferentes, mas alteradas devido às necessidades de capital (fixo e
como indicador de geração de caixa é o de que as tratados como se iguais fossem. de giro), sugerindo reflexão e muita cautela com o
empresas poderiam cortar ou manter seus investi- Como resultado prático da análise dessa amos- uso do indicador EBITDA. Dessa amostra somente 10
mentos para cumprir com os covenants e/ou múl- tra, é possível destacar a constatação de vários indi- empresas investiram até a metade destas relações;
tiplos, mantendo assim as condições de liquidez, cadores intimamente interligados que, praticamente, A título de exemplo real, a tabela “A”, na pró-
pagar juros e amortizar o principal. podem modificar o significado e a aplicação genera- xima página, apresenta o comportamento médio
O conceito e estrutura de análise que adotamos lizada do EBITDA pelas empresas e pelo mercado, no período de 2000/2005 de sete empresas dessa
e propomos não tem a finalidade de avaliar qualquer principalmente quando for utilizado no enfoque de amostra. O objetivo é demonstrar as evidências do
desempenho de uma empresa em função do seu gestão e/ou para projeção de fluxo de caixa e de- comportamento dos valores e a variação dos indica-
EBITDA. Ao contrário, nossa análise sempre esteve monstrações financeiras. São eles: dores acima comentados.
focada no VEC 1 - Valor Econômico Criado. Assim, 1 - Variação da relação média entre Inves- Portanto, o pressuposto de que o EBITDA é um
diante deste contexto e considerando a demasiada timentos em Imobilizados e a Depreciação: bom indicador de geração de caixa se mostra muito
ênfase que as empresas e o mercado têm dado encontramos uma variação em torno de 100% nos frágil, uma vez que sua consistência conceitual e apli-
ao EBITDA, direcionamos algumas informações do dois períodos analisados. Essa relação demonstra cabilidade na gestão de empresas não apresentam
nosso banco de dados para apresentar a realidade a representatividade dos reinvestimentos feitos, ou a esperada convergência. Essas evidências demons-
subjacente aos indicadores que cercam o EBITDA.
A realidade e as evidências dessa base de 1 - A metodologia VEC é consistente com a moderna teoria de finanças corporativa. Usa os princípios de moeda constante e
enfatiza o uso integrado das demonstrações financeiras incluindo o fluxo de caixa e a capacidade em gerar valor do negócio.
dados foram obtidas da terceira atualização da nossa É esse conjunto de informações que deve avaliar a capacidade da empresa em gerar resultados operacionais após o I. R.,
tese de doutorado, analisando o comportamento das além da geração de caixa operacional e livre, dos investimentos em capital de giro e fixo e, para concluir, comparando o capital
empregado na atividade com o custo de capital, assim apurando a capacidade de geração de valor ao acionista.
41 empresas privadas não-financeiras de capital 2 - Ver artigo Decisão Econômico-financeira em Moeda de Valor Estável, publicado em dezembro/2005 nº 93 na Revista IBEF
aberto, comparando os períodos 1995/2000 com o News SP - www.ibef.com.br/in/ibefnews93.asp.