Você está na página 1de 1

A cultura popular representa um conjunto de saberes determinados pela interação dos

indivíduos. Ela reúne elementos e tradições culturais que estão associados à linguagem
popular e oral. O folclore, utilizado como sinônimo da cultura popular, é composto por um
conjunto de lendas e mitos transmitidos entre gerações e representam a herança cultural e
social de um povo. Portanto uma expressão de música popular se encaixaria nessas definições
e o funk como gênero musical é um conjunto desses signos sociais sendo um gênero muito
presente em várias formas, classes e ambientes na nossa sociedade.

Nos anos 80 o funk falava muito sobre a realidade das comunidades, o que mostrava
uma relação bem forte do gênero musical com a periferia. O funk após o seu surgimento e
popularidade tornou-se, para muitos jovens, uma oportunidade de ascensão social e dentro
dessa nova perspectiva, muitos MCs passaram a cantar sobre seus estilos de vida e condição
financeira pós-sucesso. O funk foi e é muitas vezes uma porta para as pessoas que não
puderam ter oportunidades na vida.

As expressões e produções culturais na periferia sempre existiram, apesar de apenas


hoje estarem mais visíveis. Ao fazer uma análise a fundo dos gêneros musicais que se
desenvolveram nas regiões periféricas, como o rap, o samba e o próprio funk, é possível
observar um aumento na produção de cultura nas periferias. Algumas razões para esse
aumento é a ideia de que a produção de cultura é uma forma de pacificar um contexto
violento; a possibilidade de promover uma sobrevivência econômica; uma eventual
participação política; e também a emancipação humana.

O gênero musical do funk ultrapassou barreiras, levando a voz das periferias para
outras classes sociais. Mesmo que grande parte do conteúdo musical seja referente à vida nas
periferias, comunidades e favelas, é um gênero musical que está sempre em renovação. A
popularização do funk no Brasil deveria colocar o gênero dentro do que se define a música
popular brasileira. Porém, apesar do crescimento do ritmo no Brasil e mundo afora, o funk
ainda enfrenta o obstáculo da sua criminalização. Na mídia foi construído um imaginário na
população brasileira que associa o funk a episódios e lugares violentos, o que causa o
preconceito disfarçado de “preocupação” de que a música pudesse incitar ou fosse propícia à
prática de atos violentos. O que é problemático já que é um gênero musical popular
principalmente entre as classes mais baixas e jovens negros das favelas. A criminalização do
funk e o preconceito gerado que faz com que o gênero musical seja identificado como
marginal e não uma categoria de cultura propriamente dita é um fator de repressão às classes
mais baixas e as pessoas negras. Que veem no funk uma identificação e uma oportunidade de
mudança de vida. É possível observar o mesmo padrão de repressão quando observamos que
na história houveram outras manifestações culturais associadas à negros que também foram
criminalizadas, como o samba, a capoeira e as religiões de matriz africana.

A visão dos diversos setores da sociedade que são contrários a manifestação musical e
cultural do funk, são diretamente influenciados pelas concepções geradas partindo dos
conceitos formados de visões eurocêntricas. A visão eurocêntrica leva a olhar para expressões
culturais advindas das periferias como uma cultura “atrasada”. Os estereótipos advindos do
racismo e do preconceito de classe permeiam a visão da sociedade sobre o funk e colocam o
gênero em uma posição de marginalidade ao invés de uma expressão legítima da nossa cultura
popular.

Você também pode gostar