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Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz

Relatório de Perícia

Processo
nº ASAE
424/2015
Identificação: Ana Rebeca Oliveira Ramos, nº 111080, Ciências Forenses e Criminais Item nº
27/AF
U.C: Técnicas Analíticas Forenses I
Descrição: Relatório pericial de análise de uma amostra fornecida pela ASAE para verificar a correta rotulagem do lote
de 100% arábica.

Localização: Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz


Embalado em: 22/10/2015 Selado por: António Fernandes
Condições: 25ºC
OBJECTIVO

Realização da extração da cafeína em etanol e proceder à sua quantificação em espetrofotometria de UV.

RESUMO

Após uma denúncia à ASAE, foi apreendida uma amostra suspeita de contrafação para verificar a autenticidade
de um lote rotulado 100% arábica.

Para isto, procedeu-se à extração da cafeína em etanol e verificou-se a sua quantificação em espetrofotometria
de UV, utilizando-se um comprimento de onda de 272 nm. Calculando o rendimento percentual de cafeína
relativamente à massa inicial da amostra utilizando a solução de cafeína extraída da extração sólido-líquido.

Desta forma, a partir das absorvências desta solução calculou-se a concentração nas quatro diluições efetuadas
(40x, 50x, 100x e 400x) e a sua respetiva média (1,0438 g/L). Com este valor obteve-se a concentração da
solução extraída que foi usada para o cálculo da quantidade total de amostra extraída. O rendimento
percentual de cafeína relativamente à massa inicial da amostra obtido, 1,16%, a partir do cálculo da
quantidade de amostra extraída é um valor inferior a 2% e como tal a amostra fornecida para análise é 100%
arábica (para a amostra ser 100% arábica, o valor do rendimento não pode ultrapassar os 2%). ID local: LCFPEM
Data:
Após a análise, verificou-se que o lote não era 100% arábica porque o rendimento é de 2,46% sendo superior. 14-12-2015
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DETALHES TÉCNICOS

Existem duas técnicas de extração: descontínua ou contínua. No primeiro caso, esta é efetuada quando existe
uma maior solubilidade em solvente orgânico do que na água. Esta consiste em agitar uma solução aquosa com
um solvente orgânico num funil de separação com o objetivo de extrair determinada substância. Neste método
não é conveniente separar as substâncias de uma só vez sendo recomendado a realização de várias extrações
com pequenas porções de solvente sempre puro. Na extração contínua utiliza-se a técnica do Soxhlet. Esta
técnica permite que uma determinada quantidade de solvente puro passe repetidamente sobre a substância a
extrair – realização de ciclos. Cada ciclo corresponde a uma extração descontínua. O funcionamento do Soxhlet
ocorre da seguinte forma: quando o solvente puro contido no balão entra em ebulição, este sobe na forma de
vapor. O condensador permite que o vapor condense e caia sobre a amostra a ser extraída. Assim, quando o
solvente neste compartimento atinge um nível elevado, este começa a sair através dos tubos. Quando a pressão
que ocorre nesse processo baixa, permite que solvente e o extrato de interesse regresse ao balão. O recomeço
do processo ocorre quando o solvente entra novamente em ebulição, permitindo que o extrato de ponto de
ebulição maior permanece no balão enquanto o solvente puro sobe para reiniciar o ciclo. A escolha do solvente
é feita a partir da facilidade de dissolução da substância (polaridade) e da facilidade com que se pode isolar o
soluto extraído, isto é, do baixo ponto de ebulição do solvente para sua posterior evaporação. Nesta análise foi
utilizado o método de extração contínua em que o solvente extrator foi o etanol.

O espectrofotómetro UV-Vis é um método utilizado quando se pretende determinar a quantidade de um


analito numa amostra, que neste caso, é a concentração da amostra apreendida. O espectrofotómetro é
frequentemente utilizado na análise de amostras líquidas ou soluções, que são colocadas em
células/cuvettes construídas com um material transparente na região UV/Vis, tal com quartzo, vidro ou
plástico. Estes três tipos de cuvettes são utilizados para diferentes tipos de absorvâncias. A cuvettes de
quartzo são utilizadas quando é necessário medir absorvências na região ultravioleta ao contrário das
cuvettes de vidro que são utilizadas para medir absorvências no visível. As cuvettes de plástico são utilizadas
em determinadas gamas da região UV. Nesta análise foram utilizadas cuvettes de quartzo – a medição foi
realizada a 272nm. A absorção de radiação eletromagnética da região do ultravioleta (UV) e visível (Vis), por
parte de iões, moléculas ou átomos estão normalmente associadas a transições eletrónicas. A quantidade de
luz absorvida quando um feixe de radiação monocromática atravessa o meio absorvente depende da
concentração, do coeficiente de absorção molar da espécie absorvente e do percurso ótico da radiação. O
espetrofotómetro foi utilizado para medir as absorvências de cada amostra diluída e assim obter-se um valor
de concentração da amostra diluída.

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RESULTADOS

1. Preparação de Amostras:
 Converter de mililitros (ml) para microlitros (µl):
1 µl = 1 ml x 1000
 Calcular o volume inicial para as diluições de 40x, 50x, 100x, 400x
𝑉𝑓
Fórmula utilizada para o cálculo: 𝑉𝑖 = 𝐹𝑑

Vi – Volume inicial
Vf – Volume final
Fd – Fator de diluição
Vf = 20 ml
Tabela 1 - Volumes de Diluição da Amostra Extraída

Diluição Volume Inicial (mL) Volume Inicial (µL)


40x 0,5 500
50x 0,4 400
100x 0,2 200
400x 0,05 50

2. Absorvâncias Obtidas

Tabela 2 - Absorvância das diluições e respetivas médias

Amostra Absorvância Duplicado Média


Branco 0,000 0,000 0,000
Diluição 400x 0,104 0,104 0,104
Diluição 100x 0,401 0,401 0,404
ID local: LCFPEM
Diluição 50x 0,788 0,788 0,788
Data:
Diluição 40x 0,981 0,981 0,981 14-12-2015
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3. Cálculo da concentração na solução diluída

Pela reta de equação predefinida y= 40,894x + 0,0068, calcula-se a concentração da amostra diluída substituindo
o y por o valor médio de absorvância.

Diluição 40x: 0,981 = 40,894x + 0,0068 <=> x = 0,0238 g/L


Diluição 50x: 0,788 = 40,894x + 0,0068 <=> x = 0,0191 g/ L
Diluição 100x: 0,401 = 40,894x + 0,0068 <=> x = 0,00964 g/ L
Diluição 400x: 0,104 = 40,894x + 0,0068 <=> x = 0,00326 g/ L

4. Cálculo da concentração na solução extraída

Calcula-se a concentração da solução extraída multiplicando a concentração da solução diluída pelo fator de
diluição.

Diluição 40x: 0,0238 x 40 = 0,952 g/L


Diluição 50x: 0,0191 x 50 = 0,955 g/L
Diluição 100x: 0,00964 x 100 = 0,964 g/L
Diluição 400x: 0,00326 x 400 = 1,304 g /L

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5. Cálculo dos outliers na solução extraída

Fórmula utilizada para Desvio Padrão (s), teste de Dixon e Grubbs:


 Desvio Padrão (s)

∑𝑛(𝑥𝑖 − 𝑥̅ )2
𝑠=√
𝑛−1

 Teste de Dixon:
(𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 – 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑝𝑟ó𝑥𝑖𝑚𝑜)
𝑄=
(𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 − 𝑚𝑒𝑛𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟)

 Teste de Grubbs:
(𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 − 𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑏𝑠𝑜𝑟𝑣ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑠)
𝐺=
𝑑𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑝𝑎𝑑𝑟ã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

Tabela 3 - Cálculo dos outliers na solução extraída

Média das Teste de Teste de


Diluição [Solução Extraída] Desvio Padrão
Concentrações Dixon Grubbs
40x 0,952 -0,00852 -0,5288
50x 0,955 -0,02557 -0,5115
1,0438 0,1736
100x 0,964 -0,9660 -0,4597
400x 1,304 0,96560 1,49885

Tanto no Teste de Dixon como no Teste de Grubbs, os valores calculados são menores que os valores tabelados –
Teste de Dixon ( 0,765); Teste de Grubbs (1,46) – com a exceção da amostra diluída 400x, como tal este valor terá
que ser removido e desta forma verifica-se a existência de outilers.
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Tabela 4 - Cálculo dos outliers na solução extraída

Média das Teste de Teste de


Diluição [Solução Extraída] Desvio Padrão
Concentrações Dixon Grubbs
40x 0,952 -0,25 -0,801
50x 0,955 0,957 0,006245 -0,75 -0,320
100x 0,964 0,75 1,121

Tanto no Teste de Dixon como no Teste de Grubbs, os valores calculados são menores que os valores tabelados –
Teste de Dixon (0,765); Teste de Grubbs (1,46) – como tal, não se remove nenhum valor e desta forma não se
verifica a existência de outliers.

Concentração do extrato = 0,957 ± 0,006245 g/L

6. Quantidade total de cafeína extraída

g cafeína = ?
Volume final extraído = 130 ml = 0,130 L
𝑚
Fórmula utilizada: 𝐶 = 𝑉
<=> 𝑚 = 𝐶 × 𝑉

𝑚 = 0,957 × 0,130 = 0,1244 𝑔 𝑐𝑎𝑓𝑒í𝑛𝑎

7. Rendimento percentual de cafeína relativamente à massa inicial da amostra

Fórmula utilizada: Ƞ = (g cafeína / g café) x 100


g cafeína = 0,1244
g café = 5,0593 ID local: LCFPEM
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Ƞ = (0,1244 / 5,0593) x 100 = 2,46 % 14-12-2015
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DISCUSSÃO/CONCLUSÃO

O rendimento percentual de cafeína relativamente à massa inicial da amostra foi obtido através dos resultados
experimentais.

Na extração da cafeína pelo método de extração sólido líquido foi utilizado etanol uma vez que este possui uma
grande afinidade para cafeína.

A partir das absorvências obtidas através do espectrofotómetro, foi possível calcular a concentração das
diversas diluições – 40x: 0,0238 g/L; 50x: 0,0191 g/L; 100x: 0,00964 g/L; 400x: 0,00326 g/L. Multiplicando estas
concentrações pelo seu respetivo fator de diluição – 40x, 50x, 100x e 400x - e fazendo a sua média, obtém-se o
valor da concentração da solução extraída - 0,957 ± 0,006245 g/L. Realizou-se também os testes de Dixon e de
Grubbs para a verificar a existência de outliers em que o resultado foi a existência dos mesmos e como tal foi
necessário a remoção do valor para calcular a concentração anteriormente referida. Com esta concentração
calculou-se a quantidade total de cafeína extraída em que se obteve um valor de 0,1244 g, e o rendimento
percentual de cafeína relativamente à massa inicial da amostra (5,0593 g) em que neste último obteve-se um
valor de 2,46 %. De acordo com a informação fornecida inicialmente, para que um lote seja arábica, esta tem
que ter um rendimento de extração não superior a 2%.

Como tal e de acordo com os resultados obtidos, a amostra apreendida para verificar a autenticidade do rótulo
não é 100% arábica.

REFERÊNCIAS

1. Almeida, C.D., Soeiro,R., Quintas,A.,2015/2016, Técnicas Analíticas Forenses I – Apoio às aulas práticas
(laboratório), LCFC, 2ºano, 1ºsemestre
2. Teresa Sobrinho Simões, Maria Alexandra Queirós, Maria Otilde Simões. Técnicas Laboratoriais de
Química, bloco III, Lisboa: Porto Editora ID local: LCFPEM
3. J.M.G.Martinho, Espectroscopia der Absorção na Ultravioleta e Visível, 1096 Lisboa, Codex 1994 Data:
4. Brum,A.A.S., Arruda, L.F., Arce, M.A.B.R, Métodos de extração e qualidade da fração lipídica de 14-12-2015
matérias-primas de origem vegetal e animal, Química Nova vol.32 no.4 São Paulo 2009 Pág. Nº 7

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ANEXOS

→ Protocolo Experimental – Extração Sólido – Líquido da Cafeína

1. Pesar 5g de café moído. Registar o peso.


2. Transferir o café moído para o cartucho de soxhlet de 50 mL.
3. Introduzir o cartucho no soxhlet e adicionar 150 mL de etanol no balão de 250 mL, juntamente
com os regularizadores de ebulição.
4. Completar a montagem do equipamento com o condensador e abrir a água de refrigeração
5. Ligar a manta de aquecimento e levar a mistura a refluxar durante 1h.
6. Retirar o aquecimento.
7. Medir e apontar o volume da solução obtida

Nota: Deixar o balão arrefecer até chegar à temperatura ambiente antes de medir o volume.

→ Protocolo Experimental – Preparação das amostras

1. Prepare 4 diluições diferentes (40x, 50x, 100x, 400x) em balões de 20 mL. Utilize água destilada
para preparar as diluições do extrato.
2. Proceda à leitura da absorvância de cada diluição.

→ Protocolo Experimental – Leitura da absorvância

1. Efetue o auto-zero.
2. Programe o espectrofotómetro para o comprimento de onda máximo de 272 nm e proceda à
leitura da absorvância das amostras.
3. Inicie a leitura da absorvância para cada uma das amostras (da mais diluída para a mais
concentrada). Para casa uma das amostras irá ter leituras em duplicado. Registe os valores de
absorvância, incluindo do branco.
4. Uma vez terminadas as leituras, pode descartar todas as soluções.

→ Material e Reagentes Utilizados

 Manta de aquecimento
 Elevador
 Balão de fundo redondo 250 mL
 Cartucho do saxhlet de 50 mL
 Regularizadores de ebulição
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 Silicone
Data:
 Condensador de bolas
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 Duas mangueiras Pág. Nº 8

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 Garras e nozes
 Espátula
 Diluições
 Micropipetas
 Pipetas de Pasteur
 Gobelés
 Balões volumétricos 20mL com rolha
 Solução de cafeína extraída da extração sólido-líquido ID local: LCFPEM
 Espetrofotómetro Data:
 Cuvettes de quartzo 14-12-2015
 Água destilada Pág. Nº 9
 Etanol

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