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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way

Bianca no. 65

Renée era linda, rica, tinha tudo para ser feliz, mas sua vida era
triste, porque a garota sofria com a falta de um amor verdadeiro.
Obrigada pela mãe, mulher ambiciosa e má, a se casar com um rapaz
fraco, oportunista e sem personalidade, Renée fugiu de casa e foi
morar na Austrália, junto com uma tia que se afastara da civilização
para se dedicar à pintura. E lá, numa região linda, junto à natureza, a
garota pensou ter encontrado paz e alegria... Mas o destino lhe
preparava uma nova armadilha. Renée se apaixonou por um
fazendeiro rude, belo e... insensível!

Ninguém Foge do Amor


Margaret Way
“The butterfly and the baron”

CAPITULO I

No momento em que Renée desceu do ônibus, todos se voltaram


para olhá-la. Eram olhares de curiosidade e não de hostilidade. Ela
achou que suas roupas chamavam a atenção. Sem dúvida ela era
muito atraente, mas aquele não era o lugar adequado para roupas
chiques. Não estava em Sídnei, Londres ou Paris. Estava em Garbutt,
uma cidade de criação de gado em North Queensland. As mulheres
usavam vestidos de algodão, leves e bem coloridos, e os homens,
bronzeados e robustos, vestiam camisetas e shorts.
Renée parecia um modelo da Vogue, mas não tinha a aparência de
quem trabalhava como manequim da revista. Ela era um produto do
luxo, uma loira esbelta e frágil. Ninguém que olhasse para ela
acreditaria que estava precisando de atenção, coisa que não tinha
tido durante toda a sua vida. Era uma pobre garotinha rica que tinha
o conforto material como um substitutivo para a atenção e o carinho.
Seu pai era o rico financista Harvey Dalton. Aos oito anos, Renée fora
para um colégio interno e, depois da universidade, havia sido
mandada à Europa, para adquirir, segundo as palavras de Alice, sua
mãe, "um polimento esmerado". Nada mais era exigido de Renée
além de parecer linda, agir impecavelmente e casar-se com o homem
que seus pais tinham escolhido: Simon Nichols.
Mesmo com o calor, Renée estremeceu com um frio, na espinha
diante dessas lembranças. Tudo que Simon sentia por ela era uma
forte atração física e a vontade de levá-la para a cama. A garota
tinha absoluta certeza de que nunca se casaria com ele. Seria apenas
mais um objeto a ser acrescentado à coleção de Simon.
O motorista do ônibus colocou a bagagem ao lado dela e sorriu.
— Há mais alguma coisa que eu possa fazer pela senhorita?

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— Não, obrigada. Nós chegamos cedo, não é? — perguntou Renée,


retribuindo o sorriso e sentando-se em um banco.
— Não, chegamos na hora. Vem alguém buscá-la?
— Minha tia. — Renée se sentiu melhor só em dizer isso. — Espero
que a senhorita tenha umas ótimas férias. — O
motorista cumprimentou-a e caminhou rapidamente, ainda
apreciando o encantador sorriso dela, embora esse sorriso tivesse um
toque de tristeza.
Renée deixou de olhar as pessoas e conferiu seu relógio. Ela esperava
que Katie chegasse logo. Katie, a bonita e modesta irmã de sua mãe,
era gentil, uma pessoa realmente adorável, cordial, generosa e
divertida, e com uma enorme alegria de viver. Kat-herine Anne
Ingram, uma das mais belas pintoras do país.
Fazia um ano que Katie estava vivendo e trabalhando em North
Queensland, pois achava as paisagens fascinantes, diferentes do
resto do país. E a última exposição de Katie, em Brisbane, a capital
estadual, tinha dado vida às maravilhas do local. Até mesmo o pai de
Renée, um colecionador bastante exigente, havia adquirido uma bela
pintura de nenúfares em uma lagoa verde-escura.
"Como meu pai deve estar furioso comigo agora!", pensou Renée. Ela
não era nada mais que uma miserável covarde, incapaz de enfrentar
a ameaça que cruzava seu caminho. Seu pai sempre a tinha deixado
nervosa e sua mãe determinara que a filha deveria se curvar às
decisões superiores deles. Havia coisas importantes a considerar
quando alguém estava planejando um bom casamento: a mesma
educação, os mesmos amigos, manter a fortuna em família. Seria um
arranjo comercial e, de qualquer forma, o amor viria depois. Simon
era atraente e bastante ambicioso. Juntos, eles alcançariam o
máximo do sucesso.
Alice estava sempre fazendo compras e o marido não fazia nenhuma
tentativa para impedi-la. Seus lindos vestidos, as jóias, a maneira
com que ela se entretinha, eram apenas um meio de valorizá-lo
socialmente. Renée não se interessava por nada do mundo dos pais.
Para ela, tudo isso não era nada mais do que uma gaiola dourada.
Os minutos passavam e Katie não aparecia. Renée olhou em direção
à cabine telefônica. Talvez ela devesse telefonar. Hesitando, passou a
mão pelos cabelos presos na nuca.
Já era fim de tarde, mas ainda estava muito quente. Enquanto olhava
as árvores, ela viu o motorista do ônibus indicando-a para um
homem alto e magro, vestido exatamente como um personagem de
um filme western: um lenço displicentemente amarrado no pescoço,
uma camisa de brim azul desbotada e calça jeans justa, botas de
montaria empoeiradas, um extravagante cinto de pele de cobra e um
colete de franjas. Ele voltou a cabeça rapidamente e Renée pôde ver
o brilho daqueles olhos estranhos, quase transparentes, em contraste
com a pele bronzeada. O que eles estariam conversando?

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Renée não teve que esperar muito para descobrir, pois o homem alto
foi em direção dela com toda a insinuante e coordenada graça de
uma pantera, seu olhar atraindo o dela.
— A senhorita parece perdida! — A voz dele era muito sedutora e ela
pareceu tão surpresa que ele quase deixou de sorrir. — Não está?
Havia qualquer coisa nele que Renée parecia reconhecer: o olhar
agudo, a aparência de poder, a autoridade masculina que a oprimia.
Ele a fazia lembrar-se de seu pai, um homem duro, frio e auto-
sufíciente.
— Há uma pessoa que vem me buscar — disse ela, sem muita
convicção.
— Tem certeza? — A voz dele era seca.
— Sim, obrigada. — respondeu, esperando que o rapaz fosse embora.
Homens como ele a perturbavam. Apesar da roupa extravagante, ela
sabia que ele não era um vaqueiro qualquer. Era seguro de si, muito
agradável e educado.
— Por acaso você é Renée? — perguntou o homem, franzindo a testa.
— Sim, sou... — Ela gostaria de saber como ele tinha descoberto.
— Então é você! — disse ele, olhando os olhos, o cabelo, o rosto e as
roupas caras dela. Até mesmo suas pernas longas e finas não
escaparam ao exame.
— Como você sabe? — Os olhos dela pareciam muito surpresos.
— Katie tem uma foto sua sobre o piano. Na época da foto, você
devia ter uns dez anos, mas não mudou muito. Ainda tem aquele
olhar de garotinha perdida. Permita que eu me apresente. Sou Nick
Garbutt, vizinho de sua tia. Não há necessidade de ficar tão
apavorada.
— Não estou! — Era incrível, mas ela estava tremendo e não
conseguia esconder isso. Não daqueles olhos.
— Você não está fugindo, está? — perguntou ele bruscamente. —
Katie me falou muitas vezes de sua linda sobrinha. O que a trouxe
aqui?
— Quero ver Katie.
— Então você deve estar em algum tipo de encrenca. — Ele a olhava
atentamente, notando a pulsação na garganta dela. — Ela sabia que
você viria?
— É lógico! — Havia um leve toque de irritação em sua voz macia e
gentil. — Estou esperando que minha tia chegue.
— Então é melhor verificarmos. Ou você trocou as datas ou Katie
está trabalhando e esqueceu a hora.
Renée não respondeu, embora já tivesse pensado nisso. Ela odiou
aquele olhar gozador nos olhos dele, um desconcertante brilho de
ironia.
— É melhor eu telefonar — disse ela, e fez menção de se levantar.
— Permita-me telefonar. Acho que talvez você esteja sob alguma
tensão emocional.
— Não. Eu estou muito bem.

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— Bem, não importa! Eu telefonarei para Katie e a cumprimentarei


pela bonita sobrinha. Muito linda, se você não se importa que eu
diga.
Confusa e nervosa, Renée viu-o caminhar até a cabine telefônica.
Durante toda a sua vida, jamais tinha encontrado um homem tão
franco. Ele a havia impressionado; um rosto bem delineado, nariz
reto, maxilar alto e uma boca bem formada, mas seu queixo era de
pessoa forte e agressiva.
Ela gostaria de saber se Nick era casado. Se fosse, coitada da
mulher, pois ele parecia ser agressivo e do tipo que faz o que bem
entende. Passou muito tempo até que alguém atendesse o telefone,
então ela viu sua boca se mover, mostrando o brilho branco de seu
sorriso. Ele tinha étimos dentes e a mão que segurava o fone era
longa. Ao lado dele, o elegante Simon pareceria um boneco. Ambos
deveriam ter a mesma idade, quase trinta, mas esse homem já
estava onde queria estar. Só então é que Renée percebeu que a
cidade tinha o nome dele! Quando ela vira Katie pela última vez, na
exposição em Brisbane, sua tia não mencionara ninguém com aquele
nome, embora ele parecesse conhecer Katie muito bem.
A todo instante Nick acenava com a mão, pois era constante-mente
cumprimentado. Aparentemente, ele era bem conhecido.
— Você falou com minha tia? — A voz dela estava serena, mas na
realidade ele a deixava nervosa.
— Katie pensou que você chegaria na sexta-feira. Agora eu lhe dei
um susto.
— Mas... eu disse que viria no dia vinte e um. — Renée estava um
pouco desesperada.
— Você gagueja um pouco quando está nervosa. Na verdade, isso é
até charmoso. Katie pensou que você tinha dito dia vinte e três, mas
não tem importância. Ela pediu desculpas e eu vou levá-la até lá
agora. — Muito autoritário, Nick pegou as malas dela. — O carro não
está muito longe daqui. Tenho certeza de que você gostará mais dele
do que do ôníbus. Pelo menos tem ar condicionado,
Renée não tinha outra escolha senão ir com Nick. Ela era bastante
alta, mas ele a fazia sentir-se baixinha, olhando-a do alto com
aqueles olhos gozadores.
— Não se apresse — disse Nick suavemente. — Você gosta do calor?
— Sim, gosto muito.
— Você teve um dia cansativo. Ela concordou e olhou em volta.
— Notei que a cidade tem seu nome.
— Temos uma pequena participação nela — disse ele, sorrindo.
— Você tem uma propriedade?
— Sim, chama-se Emerald Downs. Espero que você vá vi-sitá-la. Nós
criamos gado e cavalos de raça. Alguns deles eu coloquei em
competições.
— É verdade? — Havia interesse no rosto de Renée. — A única
corrida que eu já vi foi em Flemington para a Taça Melbourne.

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— Onde, tenho certeza, foi fotografada inúmeras vezes. — O olhar


dele passou pela bonita roupa dela, que trazia etiqueta exclusiva.
— Eu não procuro isso — disse Renée calmamente.
— É lógico que não, mas os fotógrafos não dispensam um rosto
bonito.
Eles passaram por uma fileira de carros e Nick parou atrás de uma
grande caminhonete.
— Você vai ficar muito tempo? Katie está vibrando por você estar
aqui.
— Eu sei. Ela é a pessoa mais agradável e gentil do mundo.
— E você não podia ficar em casa. — Ele tocou-a levemente no
cotovelo e a conduziu para o lado do passageiro.
O comentário dele deixou-a atordoada e por um minuto Renée fechou
os olhos. Nick devia saber por que ela estava lá. Será que Katie lhe
tinha dito? E por quê? Isto ihe deu uma sensação de vulnerabilidade,
e, quando ele entrou no carro, ela evitou olhá-lo.
— Katie lhe disse por que eu estou aqui? — perguntou ela, com a
voz rouca.
— Minha cara, ela apenas me disse que você precisava de umas...
férias.
— Katie é minha tia favorita desde quando eu era criança. Ela tem
me ajudado muito em diferentes ocasiões.
— Você está em alguma dificuldade?
— Eu não acho que deva responder às suas perguntas, embora esteja
agradecida por sua ajuda...
— Mas é claro que você não tem que me dizer nada! Eu sou bastante
esperto para compreender. Você está infeliz por causa de um
homem.
— Ah, realmente!
Ela soltou uma pequena exclamação desesperada.
— Não se preocupe, você o esquecerá em um mês — disse ele,
rindo.
Nick saiu do estacionamento, ignorando-a até que estivessem quase
fora da cidade. Embora Renée fosse pouco vaidosa, ela não era
insensível ao fato de que os homens a achavam bonita e desejável,
mas agora tinha encontrado uma descon-certante exceção. Tinha
sido bastante educada com Nick, ainda que houvesse um pouco de
agressividade no brilho dos olhos cinzentos dele. Provavelmente,
Katie tinha lhe dito alguma coisa sobre a família dela, portanto ele
sabia que ela jamais tivera que lutar por alguma coisa na vida, exceto
por um relacionamento ardente e amoroso, mas Nick não estaria
interessado nisso. Ele era um homem frio, com um estilo desafiador,
e já tinha percebido que Renée desmoronaria sob pressão.
Quando Nick Garbutt falou repentinamente, Renée ergueu os olhos,
meio confusa.
— Desculpe. O que disse? — perguntou ela.
— Em que você estava pensando?

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— Em você. Estava pensando que você não simpatizou comigo.


— Não leve isso tão a sério!
— Então você não nega? — Ela sorriu e viu que os olhos dele fitavam
sua boca.
— É tão mau assim que você não consiga me fascinar?
— Eu não estou tentando. — Ela disse a verdade, mas ele a olhou,
cético.
— Então não fique sorrindo. Mesmo o meu coração de pedra palpita
de vez em quando, garota!
— Você não é casado? — perguntou Renée.
— Como você é esperta! Eu achei estranho que você não fosse
casada nem noiva.
— Por livre escolha — disse ela, ficando corada.
— Fale-me sobre isso. Para uma garota bonita, você parece cheia de
complexos e inibições. Isto é estranho em uma boneca da sociedade.
— Você tem certeza de que eu seja uma?
— Talvez uma bonequinha triste! Tenho certeza de que você é filha
única.
— Katie lhe disse.
— Não se preocupe tanto! Katie me disse várias coisas. Você sabe
como sua tia é. Apesar de tudo, você é fascinante.
— E você é um homem muito grosseiro!
— Deve ser um choque descobrir que você não pode conseguir todos
os homens que encontra.
— Para ser honesta, eu não gosto dos homens em geral.
— Por quê? — perguntou ele, como se a tivesse induzido a admitir
isso,
— Eu não gosto porque vocês se acham superiores.
— Mas nós somos superiores, minha pequena. Agora e sempre.
— É como eu disse, você não quer mesmo me levar a sério!
— Bem, eu tenho um pressentimento, Renée, que se o fizer, poderá
ser o meu fim.
— Falta muito ainda? Já faz tempo que saímos da cidade.
— Faltam apenas alguns quilómetros para chegarmos à casa de
Katie.
— É muito isolada, não é mesmo?
— Sua tia gosta assim, mas nós sempre estamos dando uma olhada
nela.
— E Emerald Downs?
— Começa no rio.
— Esta terra é muito bonita — disse ela, depois de um momento. —
Bonita, estranha e selvagem.
— Se você quiser saber mais sobre esta parte do mundo, desde os
mais remotos dias, eu tenho uma grande biblioteca â sua disposição.
Vários registros históricos foram escritos por membros da minha
própria família e nós guardamos como um tesouro os diários de
minha bisavó. O norte da Austrália era um local muito selvagem e um

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homem tinha que ter muita fibra para conquistar a selva. Há muitas
histórias que podem interessá-la. Histórias sobre pérolas, ouro e
pedras preciosas; açúcar e gado, caçadores de búfalos e crocodilos.
Há até mesmo lendas sobre as pragas que os negros jogavam sobre
seus amos brancos. Nos maus tempos de outrora, os polinésios eram
tirados das ilhas e obrigados a trabalhar nos canaviais. A vida era
selvagem, com violências e criminosos. Em certas áreas, o homem
selvagem sentia prazer em alimentar os crocodilos com os seus
inimigos.
— E a sua família? Eu não sei nada sobre você.
— Meu pai está morto. Ele era um cavaleiro extraordinário, ainda que
tivesse sido imprudente com um animal desgarrado da manada.
Minhas duas irmãs, Anne e Louise, estão casadas. Uma delas vive em
Kentucky e a outra em Adelaide. Minha mãe divide o tempo entre nós
três. Eu normalmente a vejo no inverno, quando o tempo é perfeito.
Ela não suporta o calor.
— Então, você cuida da propriedade sozinho? Nick olhou para ela com
um meio sorriso.
— Para dizer a verdade, eu tenho muitos empregados. Mas vamos
esquecer isso, por enquanto. Fale-me de você.
— Não há muito a dizer. Algumas vezes acho que realmente eu não
existo.
— Santo Deus! — exclamou ele secamente. — E você está preparada
para aceitar essa situação?
— Não. Você está certo, eu estou em estado de crise.
— Por causa de um homem.
— Eu não disse isso.
— Vamos, o que mais poderia ser? Obviamente, não é dinheiro,
portanto só pode ser amor. — Nick riu enquanto falava.
— Isso, ria mesmo. Eu mereço.
— Eu não quero torturá-la, mas parece que você está fugindo.
— Você me faz sentir tola e fraca.
— Não é isso. Eu estou tentando descobrir o que a está abalando.
— Posso saber por quê? — disse ela, um pouco amarga.
— Katie é minha amiga e eu gosto muito dela. E bastante natural
que eu me interesse por sua sobrinha. Já ouvi muita coisa sobre
você. Para começar, sei como você é amável e despretensiosa.
— Você está querendo dizer que Katie é exagerada, que ela não falou
a verdade?
— Não. Você é amável, mas também muito tímida. O que
aconteceu?
— Isso não interessa. Você pode gostar muito de Katie, mas não quer
dizer que tenha obrigatoriamente que gostar de mim.
— Não, não tenho. Por que você não faz valer seus direitos e me
manda para o inferno?
— Porque isso não me interessa.
— Muito bem! Vejo que você tem personalidade.

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Agora Renée estava envergonhada por ter sido tão ríspida, mas Nick
estava se divertindo. Por um momento ela teve uma irresistível
vontade de bater nele, um sentimento tão estranho à natureza dela,
que ficou horrorizada.
— Pense melhor nisso — disse ele.
— Em quê? — A idéia de que ele podia ler em sua mente era
insuportável.
— Você queria me bater. Seus olhos ficaram mais verdes.
— Odeio homens como você — disse ela, com a voz um pouco
trêmula. — Há anos que eu os conheço.
— Verdade? Essa é uma afirmação muito forte. Você nunca conheceu
um homem em sua vida...
— Onde está a casa de Katie? — reclamou ela, procurando mudar de
assunto.
— Está bem, pare de se preocupar. Talvez estas férias sejam
exatamente o que você quer. Você é uma garota fora do comum e
levará algum tempo para eu descobrir seus segredos escondidos.
— Definitivamente, eu não vou discuti-los com você.
— Você se trai toda vez que abre a boca. Uma coisa é certa, você
está com medo dos homens.
— Você está louco! Eu tenho muitos amigos.
— Você não sabia que tinha medo dos homens? — Ele a olhou com
pena. — O que é isso? Não chore, Renée!
— Você é cruel — murmurou ela.
— Sou realista. Você não gosta de se conhecer. É preciso coragem
para sair de uma prisão. — Enquanto falava, ele saiu da estrada,
entrando em um caminho de terra. — Katie alugou a fazenda em
frente. Como você disse, è bastante isolada, mas está sob minha
proteção. A terra me pertence e ninguém irá aborrecê-la. Em
consideração a todos nós, tente tirar essa expressão de mágoa do
rosto.
— É claro. — Renée abaixou o "quebra-sol", olhou no espelho que
havia atrás dele e recolocou-o no lugar. Seus olhos estavam enormes
e bem verdes, sua boca mais vulnerável do que o normal. Que
homem impossível! Nick tinha tudo que queria, e se quisesse mais,
pegaria da mesma maneira.
O pôr-do-sol deixava o céu maravilhoso. Ela nunca tinha visto nada
igual antes: o vermelho, o rosa, o amarelo e o violeta se misturavam
de maneira brilhante. Eles se aproximavam da casa da fazenda, um
bangalô branco com venezianas verdes e um telhado vermelho-
ferrugem. Para todos os lados que ela olhava havia árvores floridas,
as gloriosas poincianas e os jacarandás, o deslumbrante amarelo das
cáscaras-sagradas e das cássias, os jasmins e os oleandros que
pareciam crescer à vontade.
— Nunca vi árvores tão exóticas! O que realmente faz o norte tão
característico é toda essa florescência abundante — disse Renée,
apreciando a beleza.

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— Perto da época das chuvas é sempre assim. Parece que todas as


árvores e plantas sabem que a chuva está próxima — comentou Nick.
Eles passaram pela entrada, um magnífico arco de primaveras em
tons de rosa-escuro e por um portão coberto com as mesmas flores.
Era maravilhoso como uma pintura, o verde-escuro da paisagem
decorado com tantas cores. Mesmo a velha casa de madeira
encantou-a, com suas madressilvas. No momento em que Renée
olhou para a porta da frente, viu Katie sair correndo, de braços
abertos, quase tropeçando no cachorro, que passava por ela.
— Renée!
Ansiosa, Renée abriu a porta do carro, desejando aquela recepção
calorosa. Como uma criança feliz, ela correu para abraçar Katie,
ambas quase chorando de alegria.
— Ah, Katie!
— Que bom ver você, querida! — Katie abraçou-a com mais força. —
Você me perdoará por ter trocado as datas?
— Eu perdoarei! — respondeu Garbutt, sorrindo para elas. — Porque
assim tive a chance de trazer Renée para a fazenda.
— Nick, querido! Estou feliz por você ser meu amigo. Obrigada por
tudo. Você vai entrar para um drinque, não vai?
— Outra hora, Katie. Tenho certeza de que vocês têm muito que
conversar.
— Ah, temos, sim! Isto é tão maravilhoso que eu mal posso acreditar.
Renée tem uma vida tão agitada e eu pensei que ela nunca teria
tempo para me visitar.
— Ela me disse o quanto queria vir. — Nick Garbutt deu a Renée um
olhar de amizade fingida. — E ela é tão adorável quanto você me
disse.
— Sim, maravilhosa! Logo que puder venha jantar conos-co, Nick.
— Pensei que você gostaria de dar uma festa para recepcionar Renée
— disse ele suavemente. — Ficarei contente em oferecer a minha
casa. Ela é bastante grande para receber muita gente e as pessoas
podem se espalhar pelo jardim.
— Como você é gentil!
Katie estava olhando para ele com tanta admiração e gratidão que
Renée teve que modificar sua própria expressão.
— Você gostaria disso, querida? — Katie voltou-se para ela com os
olhos brilhando. — Nick tem uma casa encantadora!
— Ah, sim! — respondeu Renée, como se não pudesse ver o brilho de
gozação no olhar dele.
~ Você tem certeza?
Mesmo na frente de Katie, ele a estava provocando.
— Se não for muito incômodo.
— Simplesmente acho maravilhoso de sua parte, Nick! — comentou
Katie. — Eu insisto que você aceite o quadro que está em meu
cavalete agora.

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— Vou comprá-lo, Katie — respondeu ele. — Um investimento de


primeira classe. Como está indo?
— Bem! — disse Katie alegremente, e depois correu para segurar a
coleira do cachorro. — Terei que segurar Honey para que não vá
atrás de você.
— Primeiro levarei a bagagem para dentro de casa. Parece muito
pouco para uma princesa.
— Não ligue para ele, é muito gozador! — Katie sorriu. — Ele até
mesmo me aconselha sobre minhas pinturas.
— Extraordinário! — disse Renée, corando. Provavelmente ela teria
que aprender a esconder de Katie
sua própria opinião sobre Nick Garbutt. Geralmente, Katie era uma
excelente julgadora de caracteres, mas ela não tinha visto o pior lado
dele. Uma mulher brilhante e interessante que, embora tivesse
herdado muito dinheiro, ainda insistia no direito de trabalhar para
viver. Ele devia admirá-la por isso. Renée viu-o pegar as suas malas
e colocá-las na varanda. Então, ele voltou para junto delas.
— Vejo que Honey está feliz por receber outra pessoa na família —
disse ele.
— Nick o encontrou para mim — disse Katie, sorrindo. — Honey é
um ótimo companheiro e um excelente cão de guarda.
— Acho que você não teve um animal de estimação quando criança —
disse Nick, vendo que Renée acariciava o cachorro desajeitadamente.
— Não foi culpa dela! Algumas pessoas não gostam de animais de
estimação ou de famílias grandes. Eu me lembro de uma garotinha
de cinco anos, doente e febril, chorando por um gatinho, e, ao invés
disso, recebendo uma boneca cara com cachos dourados e vestido de
morangos vermelhos.
— Eu ainda a tenho, mas não me lembro de ter chorado — disse
Renée.
— Eu lembro. Eu estava lá. — Katie ajeitou o cabelo. Uma brisa
soprava trazendo o aroma das flores.
— O que vocês acham de sábado? — perguntou Nick.
— Parece ótimo! — concordou Katie. — Mas você deve deixar que eu
pague a comida e as bebidas.
— Não deixarei, não. Fale com Martha de manhã e diga-lhe o que
você quer. Ela tem muita experiência e, além disso, adora uma festa.
— Quem não adora! Obrigada, Nick, você sempre me ajuda e eu vou
encontrar um jeito de recompensá-lo.
— Até sábado, então. Eu vou embora. Prazer em conhecê-la, Renée.
— Eu quero lhe agradecer. Nunca pensei que alguém fosse tão gentil
a ponto de querer me oferecer uma festa.
— É um prazer!
Renée não podia deixar de pensar que ele era um homem estranho.
Intrometendo-se na privacidade dela, criticando-a abertamente e lhe
dando uma festa! Katie estava acenando feliz para ele e quase no

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último minuto ela também levantou a mão. Não que isso parecesse
necessário. Ela estava simplesmente sendo gentil com Katie.
— Vamos entrar — disse Katie, com um sorriso. — Você pode me
contar tudo que a preocupa enquanto eu preparo alguma coisa para
comermos.

CAPITULO II

— Esta é toda a história! Já se haviam passado duas horas e elas


estavam tomando café na varanda.
— Então, tenho certeza de que ouviremos falar de Alice — disse
Katie, rindo. — Fiquei contente por você ter vindo, querida. Era a
melhor coisa que você poderia ter feito. Ninguém pode obrigá-la a se
casar. E desumano!
— Mamãe acha que eu vou me apaixonar por Simon depois do
casamento!
— Talvez isso acontecesse, mas pelo que pude perceber, você nem
mesmo gosta dele — disse Katie, pensativa.
— Eu gostava dele — respondeu Renée, com voz baixa. — Mas isto
foi antes de perceber que ele só pensa no dinheiro e em ser um
membro da sociedade. Eu seria só uma boneca para ele desfilar na
frente dos outros. Não há amor, nem ternura, nem comunicação. Eu
apenas estaria trocando uma gaiola dourada por outra.
— Eu não sabia! De certa forma você foi explorada desde criança e
nem por isso é agressiva. Certamente há vários homens atraentes
em seu círculo de amigos. Por que Simon?
— Porque mamãe gosta dele e os Nichols são amigos íntimos de
meus pais. Uma vez ou duas eu vi papai olhando severamente para
ele, como se tivesse pequenas restrições, mas Simon sabe como
conquistar mamãe. Eu acho que ela vê nele o filho que não teve.
— Sua mãe nunca quis ter mais um filho. Lembro-me muito bem de
ouvi-la dizendo: "um é suficiente", quando você ainda era um bebê.
Acho que seu pai queria um filho, mas Alice ficou firme e ele se
resignou a ganhar dinheiro. Eles nunca lhe deram muita atenção.
— Eu nunca senti falta de nada — disse Renée.
— Mas agora teve que fugir de casa.
— E verdade! — Renée passou os braços em volta dos joelhos e ficou
olhando o céu estrelado. — Você me chamaria de covarde, Katie?
— Eu diria que você é uma garota meiga e sensível, que foi criada
com muita severidade. Alice e Harvey têm personalidades
dominantes, mas eles não a subjugaram inteiramente. Você se
libertou.
— É que eu penso que deveria ter ficado lá. Não sou uma tagarela
volúvel como mamãe, mas eu deveria ter feito valer os meus direitos.
Tenho certeza de que o seu amigo Nick Gar-butt me menospreza.

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— Nick? Sobre o que vocês conversaram?


— Acho que ele lê pensamentos. Parece que percebeu imediatamente
que eu estava fugindo.
— A percepção de Nick é mais aguçada do que a da maioria das
pessoas e ele a usa para lidar com elas. O que você achou dele?
— Ele parece ter aversão às bonecas da sociedade. Foi como me
chamou.
— Eu lhe disse que ele era um gozador. Você sempre viveu em
círculos fechados. Será bom conhecer pessoas diferentes. Eu até diria
que Nick é mais poderoso que seu pai, mas ele se dedica à terra e ao
seu povo. Os interesses de Garbutt são bem diversificados e ele dá
bons empregos a muitas pessoas, sem falar no que faz para o Estado.
Os Garbutt têm uma história maravilhosa nesta parte do mundo e
Nick é muito considerado. Eu o acho um homem extraordinário. Ele
pode desempenhar muito bem, tanto o papel de um barão do gado
como o de um homem sofisticado. Quando você o conhecer melhor,
tenho certeza que o achará uma companhia muito estimulante. Ele
pode até mexer com os seus sentimentos.
— E por que esse homem maravilhoso não é casado? — perguntou
Renée.
— Bem, não é por falta de admiradoras. Acho que você vai conhecer
Sharon Russelt no sábado à noite. O pai dela é um administrador das
terras dos Garbutt. Ela é uma morena muito esperta e você tem que
ser cega para não perceber o que ela sente por Nick. Poderia haver
um namoro entre eles, pois são muito parecidos. Cy Russell, o pai
dela, está sempre na casa de Nick. A mãe dela morreu cedo, antes de
eu vir para cá. Sharon tem também um irmão, um homem triste,
mas as garotas o acham interessante. Ele tem uma certa posição na
companhia, mas parece não dar muita importância a isso. E Sharon
está definitivamente atrás de Nick:
— Ela deve ser muito segura para assumir isso! — exclamou Renée.
— Ah, sim. Ela é muito segura e tenho certeza de que Nick pode
satisfazê-la totalmente. Isso se ele quiser, e parece que ele tem o
controle total da situação.
— Não consigo imaginá-lo deixando escapar alguma coisa. — Renée
afastou-se um pouco, apreciando a beleza da noite. — Ele não é
deste tipo.
— Quem pode dizer? Apenas fique de olho, no sábado à noite. Renée
riu, mostrando-se alegre e calma, e nesse momento
o telefone tocou.
— Eu atendo — disse Katie, levantando-se, e Honey foi atrás dela. —
Tenho o pressentimento de que é sua mãe.
— Eu não disse a ela que vinha, apenas que precisava de um
descanso.
— Alice vai saber que você está comigo — gritou Katie, entrando no
hall — Deixe isso comigo.

Livros Florzinha - 12 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Renée levantou-se e seguiu sua tia para dentro da casa, com o


coração na mão. Katie parecia um cão de caça, e ela tão covarde, tão
medrosa.
Era sua mãe. Ela descobriu isso em poucos segundos.
— Sim, Alice. Ela está aqui! — exclamou Katie, sorrindo. — Fale mais
alto, a ligação está horrível. — Katie ficou em silêncio e Renée fechou
os olhos.
— Por que você não deixa que ela tome suas próprias decisões,
querida? Você não pode dirigir sua filha como se estivesse dirigindo
seus negócios... Ao contrário, eu gosto muito dela...
Renée podia imaginar as palavras de sua mãe e Katie continuava
respondendo. Com certeza ela estava sendo acusada de ser a
cúmplice, ou até mesma a incentivadora da fuga de Renée.
— Não, eu não quero falar com Harvey, querida. Ah, está bem... —
Então Katie sorriu com mais segurança. — Boa noite,
Harvey. Muito bem, e você? Não, desculpe, Harvey, eu não posso
permitir que você faça isso. Para começar, já mandei a menina ir
dormir, porque ela estava muito deprimida. Não, eu não conheço os
Nichols e também não quero saber do filho deles e da sua herança...
Eu não acho isso importante... lembre-se de que eu também tenho
muito dinheiro e ficará tudo para minha sobrinha. Espere um pouco,
Harvey... — Katie respirou fundo e ficou ouvindo. — Você está
falando sobre a sua filha, Harvey, e não de um empregado. Sim...
está ótimo. Um mês será suficiente para ela se decidir.
Renée correu em direção ao telefone para apanhá-lo, mas Katie
continuou a falar.
— Não, Harvey, o que você quer é uma boneca mecânica! Você não
quer alguém especial para sua filha? Nao, mas o caso, Harvey, é que
ela não o ama. Que eu me lembre, você estava apaixonado por
Alice... A verdade, Harvey, é que você não me conhece bem. Está
bem, não precisa se desculpar, eu me sinto feliz de ser solteira.
Renée quer ser ela mesma. Sim, ela sempre tentou agradar a você...
Isto é muito compreensível de sua parte, Harvey. Sim, eu sou grata.
Não tem importância que Alice não fale mais comigo... Não, Harvey,
seria melhor que você não viesse... Ela está muito bem aqui. Harvey,
eu preciso desligar porque estão batendo na porta. Sim, está bem. Eu
darei notícias. — Katie sorriu, disse boa noite e desligou.
— Tudo certo? . '
— Foi difícil convencê-los!
— Foi? — perguntou Renée. — Por quê?
— Seus pais acham que você ainda é uma criança.
— Eles logo imaginaram que eu estava aqui?
— Acho que sua mãe procurou em outros lugares. Alice é terrível,
quer que todos façam o que ela quer. Eu tenho pena dela, por causa
disso.
— E papai? O que você acha dele?

Livros Florzinha - 13 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Ele foi um pouco estúpido comigo, mas depois concordou que você
precisa de um pouco de sossego. Talvez esta tenha sido a única
vitória que ele teve sobre sua mãe. Ela vai telefonar de vez em
quando e me fazer prometer que tomarei conta de você, mas você
está livre para se divertir durante um mês. Depois disso, creio que
eles querem conversar sobre o casamento seriamente. Seus pais
acham que você simplesmente não pode desprezar a boa vida ali!
Simon manda lembranças e diz que compreende a razão de você ter
fugido...
— Que gentileza! Aposto que, no fundo, ele está com raiva.
— Faz anos que não perco a calma, mas minha irmã faz com que eu
a perca com muita facilidade.
— Obrigada, Katie! — exclamou Renée, beijando-a. — Eu não sei por
que comecei a tremer quando vi você falando com eles.
— Não é uma sensação muito agradável ser descoberta. Vinte e dois
anos ainda é uma idade vulnerável e você atingiu seu limite. Você
precisa de algum tempo para amadurecer. Sabe, querida, há uma
tristeza e uma tensão em você que ficaram evidentes para Nick.
— Eu sei, mas como é bom estar aqui! — Renée sentia-se muito bem
com Katie, melhor do que com qualquer outra pessoa, porque ela era
segura e sincera. E agora estava segura em sua companhia, pelo
menos por um mês.
Na manhã seguinte, Renée acordou com o canto dos pássaros, que
era tão forte que a fez levantar-se imediatamente e ir até a janela.
Retirou a tela da janela e ficou olhando as árvores repletas de
pássaros e suspirou, aliviada.
Uma estranha sensação de paz e tranquilidade tomou conta dela e,
levantando os braços, espreguiçou-se vagarosamente. A natureza era
tão maravilhosa, tão abundante, e todos eram absolutamente livres
para apreciá-la. Agora ela entendia por que Katie gostava de pintar
aquelas paisagens. Era algo irresistível.
Enormes árvores floridas circundavam e protegiam a fazenda dos
fortes ventos e viçosas parreiras estavam espalhadas pelos campos.
Algumas das plantas Renée já conhecia, como os jasmins da
Tailândia e as trepadeiras, mas muitas também eram desconhecidas.
Havia uma grande variedade de folhas coloridas, arbustos cheios de
flores e orquídeas no jardim.
Renée havia dormido tão profunda e calmamente que tinha certeza
de que estava em outro mundo. Virando-se, apanhou o penhoar,
escovou o cabelo e foi procurar Katie. A casa da fazenda não tinha
sido habitada antes de Katie chegar, e agora ela estava repleta de sol
e cores, com a despretensiosa e confortável magia da decoração
artística de Katie. Havia sempre algo que encantava os olhos, uma
chaleira cheia de flores, os quadros de Katie cobrindo as paredes,
esculturas, cerâmicas e um arranjo de objetos antigos. Alguns amigos
de seus pais consideravam Katie um pouco excêntrica, mas se ela o
era, Renée adorava isso.

Livros Florzinha - 14 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Katie estava nos fundos da casa, em um quarto bem iluminado que


ela chamava de estúdio. Era como Katie, vivo e colorido.
— Bom dia, querida! — disse Katie, antes que Renée entrasse,
— Trabalhando logo cedo? — Renée entrou calma no estúdio, beijou a
tia no rosto, e então parou para observar o quadro de Katie. —
Gostei!
— Nick também. — Katie olhou para seu trabalho. — É o rio Track. Eu
me inspirei em Emerald.
— Deve ser maravilhoso ser criativa como você, Katie.
— Tudo é maravilhoso, querida, mas houve uma época em que eu
teria dado qualquer coisa para ser tão bonita e requisitada quanto
sua mãe. Ninguém prestava atenção em mim, por mais que eu
tentasse atrair. Desde criança Alice era adulada, e eu ficava triste
esperando um afago na cabeça.
— Pobre Katie! — Renée abraçou a tia com força. — Eu acho que
seus olhos são muito expressivos. Eles impressionariam muitas
pessoas.
— Meus olhos não me ajudaram muito quando eu tinha a sua idade.
Não com uma irmã maravilhosa por perto. No fim acabei aprendendo
uma coisa. Foi a vovó Ingram quem me incentivou a pintar. Ela
suspeitava que eu poderia me tornar uma velha solteirona.
— E o que há de errado nisso? Isso torna uma mulher menos
importante?
— Bem, querida, isso limita as experiências. Pelo menos para as
pessoas da minha idade. Atualmente isso não importa, mas eu não
gostaria de ser mãe solteira, apesar de que teria adorado ter filhos.
— Oh, Katie! — disse Renée. Ela nunca tinha questionado a posição
de sua tia na vida; havia pensado apenas na dedicação dela à
pintura. Agora parecia que Katie havia se resignado a pintar apenas
para não se desiludir com a vida.
— Mas isso não importa, você compensa tudo — disse Katie,
sorrindo. — Eu a amo desde que nasceu. Você herdou toda a
aparência de sua mãe, mas não se aproveita disso. Alice, mesmo
quando criança, era supersegura e consciente da sua beleza,
enquanto que você é tímida. E esta timidez é responsável por grande
parte do seu charme.
— Eu creio que não sou segura. Nunca achei que realmente podia
agradar a papai ou mamãe. Eu não sei lidar com as pessoas do jeito
que eles fazem e não sei por que eles usam as pessoas dessa forma.
Mamãe diz que eu sou simpática e encantadora, mas acho que ela
quer dizer sem graça e bobona.
— Não se preocupe, querida, sua mãe tem o dom de fazer as pessoas
se sentirem inseguras. Fique firme e olhe ao seu redor. Será divertido
sair um pouco do seu pequeno mundo. Agora vamos tomar café. Hoje
cedo apanhei um lindo mamão para comermos.
Enquanto tomavam café com frutas, ovos, bacon, chá e torrada, elas
conversaram. Normalmente Renée não gostava de comer muito pela

Livros Florzinha - 15 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

manhã, mas agora ela estava comendo como nunca, ouvindo Katie
dizer que para ela o café da manhã era a refeição mais importante do
dia.
— Em casa não é assim — disse Renée, colocando mel na torrada. —
Mamãe costuma tomar apenas uma xícara de café. Ela faz isso para
manter a forma.
— Bem, mas você é jovem e precisa se alimentar bem. Você está
muito magra.
Renée riu muito, parecia mais jovem e descontraída.
— Eu vou engordar! Ei! Onde você conseguiu esta cerâmica? É tão
linda!
— Você gosta? Estas são de louça, mas eu tenho algumas peças de
enfeite muito bonitas. São de Harry Caswell. Provavelmente você já
ouviu falar nele. É um dos mais finos artesãos do país.
— Claro, H.C.! — Renée pegou uma das peças e ficou examinando. —
Ele também é escultor, não é?
— Ele é um homem extraordinário. Inicialmente foi treinado como
escultor, depois começou a se interessar pela argila. Ele sabe fazer de
tudo: arrumar um carro ou uma peça de uma máquina, construir uma
casa, até mesmo pintar.
— Onde ele mora? — perguntou Renée.
— Nick vendeu-lhe um terreno a alguns quilómetros daqui. Ele é
muito gentil com os artistas. Temos mais um companheiro artista por
aqui: Ken Thomas. Ele pinta paisagens e animais e acredito que
vende bem.
— Então vamos voltar para Harry. Você o acha atraente? —
perguntou Renée.
— Não comece a imaginar coisas, minha querida! Harry se mantém
afastado das mulheres, mesmo de solteironas inofensivas como eu.
Ele já foi casado há alguns anos, mas sua esposa morreu de câncer.
— Ele deve simpatizar com você, Katie. Eu notei todos esses vasos
ontem à noite.
— Ah, sim. Harry gosta de mim. Apesar de brigarmos de vez em
quando, nós conversamos muito sobre nossos trabalhos. Ambos
estamos felizes por terminarmos nossos dias aqui no norte da
Austrália. Se pelo menos ele me ouvisse quando lhe digo para fazer
uma exposição. Ultimamente ele está fazendo coisas maravilhosas.
— Estou curiosa para conhecê-lo. Principalmente porque ele deixa
você corada — comentou Renée. — Não importa o que você diga,
Katie, você é uma mulher muito atraente, daquelas que arrebatam
corações.
— Não espere que Harry goste de mim como você. Agora, antes de
levá-la para conhecer o pomar, eu preciso telefonar para Martha. Já
faz anos que ela é a governanta dos Garbutt. Vou me oferecer para
ajudá-la, mas ela não vai querer. Martha é ótima cozinheira e adora
festas. Nick se diverte muito e ela treinou os empregados muito bem.
Eles sabem fazer festas!

Livros Florzinha - 16 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Quantas pessoas você vai convidar? — Renée parecia novamente


nervosa.
— Trinta ou quarenta. Não fique nervosa. As pessoas daqui são muito
amáveis e compreensivas, e também adoram festas. Além disso, eu
quero apresentá-la a todos.
Renée aceitou isso, conformada, mas sabia que não era o tipo de
pessoa que causava muita impressão, como sua mãe. Apesar de
Katie ter dito que Renée tinha herdado a beleza da mãe, era evidente
que ela não havia herdado sua personalidade e seus poderes. Ela era
apenas uma mulher jovem e insignificante. Nem mesmo tinha o
talento de Katie.
Enquanto sua tia foi telefonar, Renée tirou a mesa, lavou e secou a
louça, guardando-a nos armários. Em uma prateleira havia muitas
peças de Harry: jogos de chá e café, pratos, lindas vasilhas que
podiam ser usadas para qualquer coisa, jarras e potes para biscoitos.
Não havia uma peça que ela não gostasse.
Por algum motivo parecia importante para ela, agora, encontrar algo
criativo, alguma base para expressar sua personalidade. Renée teria
adorado aprender a cozinhar. Cozinhar era uma arte, até mesmo uma
ciência, mas sua mãe tinha proibido as aulas de culinária. Apesar de
ser uma ótima anfitriã, as atividades de Alice começavam depois da
porta da cozinha. Eles tinham um cozinheiro profissional que, por seu
lado, mantinha todo mundo fora da cozinha, por isso Renée nunca
teve a oportunidade de aprender nada. Mas pelo menos sabia
arrumar a cozinha.
Depois de um banho rápido, maquilou-se levemente e ficou pensando
no que vestir. Percebeu que não tinha sido muito inteligente ao
escolher suas roupas. Não havia nada de simples, nem mesmo as
roupas esportivas. Finalmente, Renée pegou um vestido sem mangas
e o vestiu. Era fresco e não tinha muitos enfeites. Talvez, mais tarde,
ela pudesse dar uma volta pelas lojas da cidade, para comprar
algumas roupas mais simples. Não queria parecer sofisticada naquele
ambiente natural e simples. O sol estava brilhando, mas não fazia
muito calor, e Renée se lembrou de que não tinha trazido um chapéu.
Como Katie ainda estava no telefone, ela desceu as escadas e foi
para o jardim. Era um lugar antigo, mas muito pitoresco, que exalava
vários perfumes. Havia uma enorme quantidade de árvores frutíferas:
bananeiras, mangueiras, mamoeiros e goiabeiras e havia frutas
cítricas. Antes de Katie, a propriedade tinha sido preparada para ser
uma fazenda, até que o proprietário morreu e a filha, que saiu da
cidade quando se casou, vendeu-a para Nick Garbutt.
Ao pensar nele, Renée teve uma sensação estranha. Imaginou aquele
rosto bronzeado voltando-se para ela. Nick tinha os olhos mais claros
e mais vivos que ela já tinha visto, ou talvez eles lhe dessem essa
impressão por causa da pele bronzeada. Ele era um homem bastante
perturbador e tinha até lhe perturbado o sono, dando um toque
desconhecido em seus sonhos.

Livros Florzinha - 17 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Renée aproximou-se de uma bananeira e apanhou uma banana. Era


tão gostosa que ela achou que nunca tinha experimentado uma
antes. Precisou voltar à casa para apanhar os óculos escuros, porque
o sol estava muito forte. Já tinha quase chegado ao galpão quando
ouviu o barulho de um carro que se aproximava. Ela ficou lá, parada,
hesitando por um minuto, e então uma caminhonete amarela
atravessou o arco florido e parou à sombra de uma poinciana. Uma
garota usando um vaporoso vestido vermelho desceu do carro e
caminhou na di-reção de Renée, esticando a mão para cumprimentá-
la.
— Olá! Você deve ser Renée. Eu sou Sharon Russell.
— Já ouvi falar de você, Sharon.
Ela não era exatamente uma garota. Olhando mais de perto, Renée
podia ver a maturidade no rosto dela. Devia ter uns vinte e sete ou
vinte e oito anos, mas tinha também as feições jovens e vivas e um
corpo ótimo e ligeiramente rechonchudo. Somente os olhos escuros a
embaraçaram.
Sharon examinou Renée dos pés à cabeça.
— Eu vim especialmente para conhecê-la — explicou Sharon, com
vivacidade. — Nick me contou tudo sobre o apuro que você passou
ontem, pobrezinha.
— Não foi nada. — Renée tentou sorrir. — Foi um simples erro de
datas. Você não quer entrar? Katie está ocupada, dando uns
telefonemas.
— Sim, eu sei. — Sharon deu a entender que sabia de tudo. — Não é
a primeira vez que Nick dá uma festa para uma visita.
— É muito gentil da parte dele.
Renée teve o pressentimento de que Sharon não tinha gostado dela,
embora estivesse sorrindo.
— E por que não? Nick é sempre generoso. Eu fiquei apenas um
pouco surpresa. Katie não mencionou a sua visita, na última vez em
que eu estive aqui.
— Ela ficou sabendo há pouco tempo. Eu queria lhe fazer uma
surpresa.
— Você surpreendeu a todos nós! — Mais uma vez os olhos escuros
de Sharon olharam criticamente a magra e esbelta figura de Renée.
— Você não se parece nem um pouco com Katie.
— Infelizmente não. — Renée deu um passo involuntário para frente,
quando uma maravilhosa borboleta voou das folhagens verdes. —
Não é esplêndida?
— Você verá muitas borboletas por aqui. Essa que você viu é
bastante comum, é uma Ulysses — disse Sharon.
— Eu nunca vi uma borboleta desse tamanho! Este é realmente um
mundo maravilhoso.
— Quanto tempo você está planejando ficar? — perguntou Sharon,
sorrindo.

Livros Florzinha - 18 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Não tenho certeza. Prometeram-me mais ou menos um mês de


férias.
— Quem prometeu? — Sharon olhou, ansiosa. — Com sua aparência,
deve ter deixado para trás algum admirador fiel.
— Nenhum que eu considere importante.
— Mas tenho certeza de que você deve ter um amigo especial. —
Sharon sorriu com falsidade.
— Talvez você possa me dizer se há alguma boa loja de roupas na
cidade — perguntou Renée, mudando rápido de assunto.
— Muito boa, mas não para o seu padrão. Suponho que você vá
deslumbrar os nossos olhos, no sábado à noite.
— Eu nem pensei nisso. — Renée voltou-se e subiu a escada. Sharon
a seguiu, esperando até que estivessem na varanda antes de
acrescentar uma pergunta fria:
— O que você achou da nossa cidadezinha?
— Acredito que seja muito próspera.
— E é! — Sharon foi até o hall, viu Katie e acenou para ela. —
Quantas pessoas você está planejando convidar?
— Trinta, quarenta... Você prefere entrar na casa ou ficar sentada
aqui?
— Aqui está ótimo! Você poderia me arrumar algo gelado para
beber?
— É claro. Limonada ou laranjada?
— Laranjada, obrigada. — Ela olhou por sobre o ombro, quando
Renée entrou na casa.
Katie estava terminando a conversa; então desligou o telefone e foi
cumprimentar Sharon.
— Que surpresa! Como vai, Sharon?
Renée notou que Katie tinha dito aquilo com certa falsidade. Na
cozinha, ela encheu os copos com o suco e então colocou algumas
fatias de torta de avelã em um dos pratos decorados de Harry
Caswell.
Sharon sorriu quando Renée passou por ela para colocar a bandeja
sobre a mesa de vidro com quatro cadeiras acolchoadas ao seu redor.
— Acho que você deve ter muito orgulho de sua sobrinha, Katie. Ele é
encantadora.
— Tenho mesmo! Você gostaria de um pedaço de torta, Sharon? —
Obrigada. Provavelmente vou ganhar alguns gramas.
— Vai ser muito bom — disse Renée diplomaticamente. Sharon
concordou e ficou corada.
— Nick parece achar charmosa uma aparência mais cheinha
— disse ela,
— Nick é um enigma! — Katie sentou-se confortavelmente, sorrindo
para Renée quando ela lhe serviu o suco. — Obrigada, querida. Bem,
acho que já comecei bem. Fiz uns dez telefonemas e todo mando
está feliz em vir.
— Nick oferece festas incríveis — disse Sharon casualmente.

Livros Florzinha - 19 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Você vai convidar seu amigo escultor?


— Ah, claro. — Katie voltou os olhos azuis para a alegre figura de
Sharon. — Provavelmente ele não irá, mas será convidado da mesma
maneira.
— Ele é quase um ermitão, não é?
— Na realidade, ele é uma pessoa bem sociável, mas, quando está
trabalhando, simplesmente não se interessa pelas pessoas.
— Ele deveria procurar uma esposa rica — disse Sharon.
— Não pode ficar sempre fazendo aqueles potes.
— É melhor deixá-lo fazer o que ele quer. Harry já é bastante famoso
e não está interessado em ficar rico — disse Katie calmamente.
— Que estranho! Pensei que houvesse um traço de ambição
em todos nós. — Sharon deu um leve sorriso. — Vocês têm certeza
de que eu não posso ajudar de alguma forma?
— É muito gentil da sua parte se oferecer, mas acho que nós
podemos dar conta de tudo. A primeira coisa que eu fiz foi falar com
Martha. Ela não quer que ninguém interfira nos preparativos da festa
— disse Katie.
— Ela tem muita gente para ajudá-la. Você vai convidar Ken
Thomas?
— Claro — disse Katie. — Naturalmente, você, Cy e Philip também
estão convidados.
— Estou esperando ansiosa por sábado! Vocês já sabem o que vão
usar?
— Faz muito tempo que eu já desisti de ser charmosa — disse Katie,
rindo. — Renée pode olhar minhas roupas e decidir.
— E você, Renée? Por favor, você precisar me dizer.
— Eu, realmente, não sei — respondeu Renée, com sinceridade. —
Tenho algumas roupas que podem servir para uma festa.
— Tudo bem, mantenha segredo. Mas, por favor, peço que não seja
vermelho.
— Então, eu lhe prometo que não será vermelho — disse Renée
amavelmente. — Katie me disse que seu pai é administrador da
fazenda. Você também trabalha?
— Eu cuido da casa para papai e Philip, e normalmente estou à
disposição de Nick. Ele é o homem mais dinâmico que já encontrei, e
eu geralmente sou intermediária nos negócios dele. Honestamente,
às vezes é exaustivo. E você, o que faz?
— acrescentou ela rapidamente.
— Nada tão útil quanto você! Depois da universidade, passei um ano
no exterior. Minha mãe gosta que eu a acompanhe em todos os seus
negócios e com isso não me sobra tempo para mais nada.
— Preciso ir até a casa de Nick — disse Sharon —, portanto não
posso ficar mais. Eu estava esperando uma morena de olhos azuis,
como Katie, não uma loira alta.
— Nick não lhe falou como ela era encantadora? — perguntou Katie
secamente. — Ou você ainda não falou com ele?

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— Ele não deu sua opinião — disse Sharon, ficando corada.


— Ah! Ele nos disse coisas extraordinariamente agradáveis. Sharon
não se demorou mais. Levantou-se e alisou o vestido.
— Tem certeza de que eu não posso ajudar em nada?
— Apenas apareça e se divirta — disse Katie, colocando o copo sobre
a mesa.
— Foi muito gentil em ter vindo, Sharon — disse Renée, com um
bonito sorriso sem qualquer malícia.
— Gostei de vir também. Naturalmente, nós nos veremos mais vezes.
Você e Katie podem jantar conosco na próxima semana.
— Gostaria de ir, obrigada. — Renée tinha que se lembrar das boas
maneiras, mas, na verdade, achou a companhia de Sharon bastante
irritante.
— Até sábado, então!
— Vou acompanhá-la até o carro — ofereceu-se Katie.
— Não se preocupe. É melhor acabar de fazer os convites, Katie.
— Eu concordo. Quero que essa festa fique na lembrança de todos —
disse Katie, sorrindo de modo simpático.

CAPÍTULO III

Já era sexta-feira à tarde quando Renée viu Nick Garbutt novamente.


Katie tinha ido até a cidade apanhar um material de pintura que tinha
encomendado e sem ela a casa ficava muito quieta. Renée ficou
pensando se conseguiria suportar a solidão, como sua tia, embora
Katie lhe tivesse assegurado que não ficava nervosa nem mesmo
quando a escuridão cobria tudo e se ouvia o bater de asas dos
morcegos que atacavam as mangueiras, à procura da fruta dourada.
Havia muitas histórias ligadas à velha casa da fazenda e, sem a
presença alegre de Katie, Renée se viu andando, um pouco
apreensiva, no jardim. Havia um balanço junto a uma árvore e ela
sentou-se nele, balançando-se suavemente. Estava um pouco
cansada após o longo passeio da manhã pela maravilhosa região,
quando nadara no lago cristalino, portanto não demoraria muito para
sentir as pálpebras pesadas.
Era uma grande sensação de alívio estar a salvo com Katie. Nem
brigas, nem discussões intermináveis. Não que Renée discutisse; ela
normalmente ficava em silêncio. Teimosia era como sua mãe
chamava isso. Durante toda a vida, seu papel tinha sido o de fazer
exatamente o que lhe era dito. Renée era grata a seus pais por
muitas coisas, mas ela não poderia se casar com Simon só para
satisfazer a vontade deles. Sua mãe achava-o charmoso e muito
atraente, mas não sabia que Simon havia perdido o controle, naquela
noite, na tentativa de forçá-la a uma reação apaixonada. Renée ainda

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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estava assombrada com a repugnância que sentira por ele e com a


sua violenta rejeição aos beijos dele.
Simon a tinha xingado muito, quando ela saíra do carro dele, furioso
por não ter conseguido o que queria. A coisa mais gentil que ele
dissera, foi que ela era frígida. Renée tinha se perguntado inclusive
por que não conseguia corresponder. Simon era considerado um bom
partido e certa vez até o havia achado atraente.
Quando ele lhe telefonara pela manhã, certo de que ela estaria
pronta para aceitar suas desculpas, Renée recusara-se a atender o
telefone. Isso tinha deixado sua mãe enfurecida, como se fosse o
assunto mais importante do mundo. Bárbara Nichols era sua melhor
amiga. Todos tinham as maiores esperanças com relação a ela e
Simon. O que estava errado? A pergunta tinha sido feita quase como
um insulto. Alice parecia dizer, com a frieza do olhar, que na verdade
havia alguma coisa errada com sua filha.
Será que ela não tinha emoções, ou seria apenas uma virgen-zinha
histórica quando se confronta com a mais leve demonstração de
paixão? Renée não fazia amigos facilmente e talvez não pudesse
permitir que Simon Nichols se fosse. Ele tinha sido tão paciente e,
afinal, era um jovem ardente, não um monstro. Se ela estava
excessivamente temerosa do lado físico do casamento, provavel-
mente precisava de alguns conselhos.
Renée começou a se questionar, com desespero. Mesmo quando seu
pai entrava na discussão, esforçando-se para ser compreensivo,
Renée achava difícil explicar sua completa mudança de sentimentos
em relação a Simon. As palavras dele ainda soavam em seus
ouvidos: "Talvez você seja ingênua, fria e desumana". Ele
acrescentou que nunca tinha apavorado ninguém, bem ao contrário...
Havia dito isso com uma risada.
Tudo o que Renée sabia é que tinha se sentido péssima com aquela
boca faminta sobre a dela, as mãos dele em seu rosto e em seu
corpo. Provavelmente, ela não podia se casar com ninguém,
sentindo-se daquela maneira. Ela até mesmo tinha tentado enfrentar
a inevitável tormenta com bravura, mas no final tivera que fugir.
Sentia-se covarde e por dentro estava sofrendo muito. Era como se
seus pais tivessem ficado do lado de Simon, ao invés de terem ficado
do lado dela. Simon era o adulto compreensivo, ela a criança trémula.
As lágrimas correram por seus olhos fechados quando Renée virou a
cabeça e se sentiu sonolenta. O mundo parecia repleto de pessoas
que queriam atacá-la. Só confiava em Katie.
Abriu novamente os olhos, sentindo pétalas caindo em seu rosto. Nick
Garbutt estava de pé, perto dela, estudando-a pensativamente.
— Você normalmente chora quando dorme?
Ela moveu o balanço tão precipitadamente que teria caído se ele.não
a segurasse e a mantivesse em seus braços por um momento.
— Ninguém vai magoá-la, Renée. Nós queremos fazê-la feliz. — E eu
sou muito... grata.

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Não gagueje. — Ele a soltou, tirando cuidadosamente as pétalas de


seu cabelo. — Onde está Katie?
— Foi buscar uma encomenda na cidade. Eu teria ido com ela, mas
estava muita cansada.
— Então você pegou no sono e teve um pesadelo? — Os olhos
brilhantes dele a olhavam atentamente.
— Acho que sim. — Envergonhada, ela passou a mão pelos olhos
verdes e enternecedores. — Não esperava vê-lo antes da festa.
— Há algumas coisas que precisam ser feitas por aqui. — Ele deu
uma olhada em volta. — Diga a Katie que eu vou mandar alguns
homens pela manhã. Eles não vão perturbá-la, mas podem limpar um
pouco o jardim.
— Ah, não! — Renée deu um grito involuntário. — Por favor, não
toque em nada. Tudo está florindo tão maravilhosamente!
Ele lhe deu um sorriso.
— Não se preocupe, não queremos estragar o seu pequeno paraíso,
quero apenas limpar um pouco por aqui. Acho que você não gostaria
de ter uma cobra em sua cama.
— Eu nunca pensei em cobras. — Ela olhou-o, assustada. — Eu
nunca vi uma.
— Eu vi duas desde que atravessei o portão. Inofensivas, admito,
mas poderiam lhe dar um grande susto.
— Você deve achar que tudo me apavora. — Ela não pôde evitar de
ficar corada.
— Você me faz lembrar um coelho assustado. Um movimento em
falso e você já sai correndo.
— Você gostaria de entrar? Katie deve voltar logo.
— Dez minutos, não mais do que isso.
Nick olhou para o relógio e novamente ela notou as mãos dele. Eram
bem formadas, magras, morenas e fortes. Renée gostaria de saber o
que sentiria se elas estivessem em seu rosto. Ele nunca teria que
lutar para dominar uma mulher. Havia autoridade no toque de suas
mãos. Ela tinha percebido pela maneira fácil como ele a tinha
segurado nos braços, como se Renée não pesasse mais do que uma
porção de penas.
— Vamos? — Nick olhou-a zombeteiro.
— Sim, é claro. Acho que ainda não estou bem acordada.
— Então vou lhe fazer uma xícara de café.
— Seria ótimo. — Ela se movia com graça ao lado dele, seu cabelo
brilhando à luz do sol, a seda verde de sua túnica combinando com a
calça de algodão. — Recebemos a visita de sua amiga Sharon — disse
Renée, tentando conversar.
— Minha amiga Sharon? — perguntou ele.
— Sim, ela veio nos visitar. — Era extraordinária a maneira como ele
a confundia.
— Eu gostaria de saber o que ela esperava encontrar.
— Ela pensava que eu fosse parecida com Katie.

Livros Florzinha - 23 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Mas ela se enganou — disse Nick gentilmente, e se afastou para


que Renée entrasse primeiro. — De quem você herdou essa
aparência extraordinária?
— Não há nada que você tenha notado em mim além da aparência?
— Havia um leve brilho de raiva em seus olhos verdes.
— Muitas coisas — respondeu ele friamente. — Apenas não
permitiram que você as desenvolvesse como deveria. — Nick seguiu-
a até a cozinha, aparentemente inconsciente do olhar agressivo dela.
— Normalmente Katie guarda o café aqui. — Ele foi até o armário
para ver o que achava. Nick fazia a cozinha parecer tão pequena que
Renée se sentou. — Você costuma ser servida, não é?
— Você disse que iria fazer o café.
— E você logo aceitou. E claro que eu o farei. Seus nervos estão
precisando de um tônico.
— Vou pegar o bolo, se você quiser. — Ela se levantou, ansiosa para
agradar, aproximando-se do corpo magro e alto de Nick. Ele estava
usando uma camisa caqui e jeans com um cinto de couro com uma
fivela de prata. — Desculpe-me — disse ela.
— Sempre se desculpando. Do que você está se desculpando? — Ele
colocou a mão sobre o ombro de Renée e a manteve quieta. — Você
me dá a impressão de que alguém a amedrontou terrivelmente. Um
homem.
— Eu não quero pensar nisso. Não é nada. Isso é um absurdo!
— Nada me faria magoá-la. Vamos deixar isso bem claro.
— Eu sei. — O rosto dela estava queimando e sua voz era tão baixa
que parecia pouco mais que um sussurro! — Talvez seja alguma coisa
comigo mesma. Eu fico nervosa com o contato físico.
— Uma aparência como a sua derreteria um homem de pedra.
— Eu não tenho capacidade para isso.
Nick ouviu-a em silêncio e, quando ela o olhou, ele não parecia
descrente ou com pena, mas divertido.
— Você é jovem, Renée, muito jovem. Quando chegar a hora certa,
gostará de ser amada pelo homem certo.
— Obrigada. — Ela tentou sorrir e passou por ele, indo em direção à
copa. — Katie fez uma torta de frutas, você quer?
— Eu concordarei com tudo se você voltar e ficar comigo. Ela pegou a
torta e voltou para a cozinha.
— Não há nada que Katie não possa fazer — disse ela, ainda
segurando o prato do bolo na mão.
— Então, enquanto você está aqui, deve pedir que ela lhe dê
algumas aulas.
— Eu não sou boa em nada.
— Quem lhe disse isso? — perguntou Nick, tirando o prato da mão
dela.
— Eu não quero. — Renée viu-o cortar a torta habilmente.
— Você não respondeu à minha pergunta.

Livros Florzinha - 24 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Eu costumava me imaginar fazendo várias coisas. — Ela sentou-se


novamente, tirando o vaso de cima da mesa para que ele colocasse
os pratos.
— Fale-me sobre isso.
— Ah, por exemplo, coisas criativas. Eu tenho tanto orgulho de Katie,
mas não sei pintar. Então eu quis aprender a cozinhar, mas mamãe
achou que era desnecessário. Ela mesma não cozinha.
— Então, por que você não fez isso sozinha? — Nick levantou o
coador e serviu o café, parando para lançar-lhe um olhar curioso.
— Eu não sei.
— Quantos anos você tem?
— Vinte e dois, quase vinte e três.
— E quantos anos tem o homem de quem você está fugindo?
— Eu acho que já lhe disse que não estou fugindo. — Renée jogou o
cabelo para trás.
— Como eu posso ajudá-la, se você insiste em contar essas mentiras
desnecessárias?
— Você é impossível, Nick Garbutt! Simon tem aproximadamente a
sua idade.
— E sua família quer que você se case com ele? — Ele se sentou na
frente dela e ofereceu-lhe açúcar.
— Eu não quero me casar.
— Por que não?
— Porque não.
— De que você tem medo? Da responsabilidade? Das obrigações?
— Claustrofobia. Eu não suporto ficar presa.
— Tenho a impressão de que você não gosta de Simon. O que ele faz
na vida?
— Ele é procurador — disse Renée, começando a tomar o café. — O
pai dele é sócio de um grande escritório de advocacia. Ele cuida de
todos os negócios de meu pai. Nossas famílias são muito amigas.
— Então, você estava se deixando levar para um casamento
arranjado? — perguntou Nick.
— Pelo menos eu não aceitei a situação.
— Não, você fugiu.
— Como você imaginou — respondeu ela.
— E o que aconteceu depois disso? Presumo que você tenha deixado
um bilhete.
— Acho que nós já conversamos muito sobre isso — disse ela
asperamente.
— Continue — insistiu ele.
Pensando por que ela deveria fazê-lo, Renée continuou.
— Então mamãe telefonou e Katie atendeu.
— E você ficou sem voz?
— Desculpe, eu não contei que sou uma covarde? — Ela olhou para
Nick. Renée queria que ele a aprovasse, mas o rapaz devia estar
achando-a uma tola.

Livros Florzinha - 25 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Termine seu café. É óbvio que muitas pessoas têm conspirado


contra você. Vamos ver, agora, como nós podemos ajudá-la.
— Por que tanto interesse? — perguntou ela.
— Ficarei feliz em ajudá-la. Afinal, Katie e eu somos muito amigos. —
Nick sorriu para ela. — Você já decidiu definitivamente não se casar
com Simon?
— Eu não quero vê-lo nunca mais.
— Ele virá para cá?
— Meu pai deu um mês para eu me decidir. Simon até mandou dizer
que entendia perfeitamente.
— Ele parece digno de confiança. — Nick deu uma boa gargalhada,
mas seus olhos mostravam frieza. — Conte-me mais. Você é filha
única?
— Eu vou ter uma família — afirmou ela.
— Eu entendi que você nunca iria se casar! — Nick encheu outra
xícara de café e olhou para ela, examinando-a.
— Eu mal posso acreditar que disse isso. — Ela jogou a cabeça para
trás, distraidamente.
— Bem, vamos esperar que suas filhas sejam tão bonitas quanto
você — disse ele, brincando. — Você está muito confusa, não está?
— Você está tentando me analisar?
— Hoje eu mal tive tempo, mas se você ficar aqui por um mês... —
Ele levantou-se e segurou-a pela cintura. — Está vendo? Você não
saiu correndo.
— Eu tinha que fazer isso? — Renée estava olhando para a própria
cintura e para os dedos magros dele segurando-a.
— O que você diz não é o que você sente. Simon conseguiu assustá-
la?
— Eu devo ser uma pessoa estranha.
— Você é, mas não é exatamente um tipo raro. O seu problema é que
foi mal orientada.
— Você quer perguntar mais alguma coisa? — O toque dos dedos
dele sobre sua pele era tão excitante que Renée não conseguia sair
do lugar.
— Não agora. Não seja tão sarcástica. Diga-me, você sabe andar a
cavalo?
Finalmente ele a tinha soltado, mas ela ainda estava trêmula.
— Sim, eu adoro cavalos. Meu pai me inscreveu num clube de
hipismo, quando eu era criança.
— Pelo menos descobrimos uma coisa em comum.
— Ainda bem — sorriu ela alegremente.
— Está bem, estamos combinados. Vou levar você para andar a
cavalo — disse Nick.
— Você é muito amável.
Ele se levantou e por alguns instantes Renée sentiu-se estranha,
quase tonta. Ela nunca tinha estado tão fisicamente consciente de um
homem em sua vida. Este pensamento deixou-a atordoada.

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Bem, a que conclusão você chegou? — perguntou ele, rindo.


— Você é um homem muito constrangedor.
— E isto assusta você? — Ele estava sendo muito gentil, e ela já
estava se arrependendo por tê-lo considerado rude.
— Quando o conhecer melhor eu respondo. — Renée também se
levantou e olhou para ele.
— Você sabe dirigir?
— Claro! — respondeu ela, com voz suave.
— Está vendo? Mais uma coisa em comum. E você já estava achando
que nós não tínhamos nada em comum. Vou lhe emprestar um carro.
Katie está andando por aí em um todo arrebentado. A última vez que
tentei entrar nele, quase perdi meus miolos.
— Você é muito alto! — Renée começou a rir, ao imaginar a cena. Os
olhos dele eram lindos. E sua boca! Mas o queixo era muito agressivo
e ela sabia que ele não faria nada para magoá-la. Nick era um
homem, e não um garoto petulante.
— Katie virá logo? — perguntou ele, como alguém que estivesse
falando com uma garotinha.
— Com certeza, sim. Eu darei seu recado a ela. Ele se aproximou
dela, até que ficaram lado a lado.
— Você é a única garota alta que eu conheço que consegue ser
delicada e pequena.
— Acho que é porque eu não estou usando saltos altos.
— Não é isso.
Alguma coisa no sorriso de Nick fez o coração dela pular. Renée
moveu-se para frente automaticamente, quando uma voz chamou da
varanda.
— Olá! Renée? Nick?
Era Katie, e quando ela chamou seus nomes, Nick pegou o braço de
Renée e empurrou-a para o hall.
— Olá!
— Achei que só iria ver você amanhã! — exclamou Katie, sorrindo. —
E eu posso jurar que você comprou um vestido novo.
— Sim, comprei! Quem lhe contou?
— Não fui eu! — exclamou Renée apressadamente.
— Você não pode dar um passo nesta cidade que eu não fique
sabendo. — Ele aproximou-se de Katie e levantou seu queixo. — O
que você está tentando fazer? Deixar Harry louco?
— Ah, Nick! — Por alguns instante, Katie ficou tão confusa quanto
uma criança. — Harry não me vê como uma mulher, apenas como
uma amiga artista.
— É um tipo de jogo. Todo mundo tem que jogar, às vezes. Por falar
nisso, amanhã vou mandar alguns homens para limpar o seu jardim.
Há muito mato perto da casa.
— Eu já estava pretendendo fazer isso — disse Katie.
— Fico contente que você não tenha tentado. É um trabalho muito
pesado para uma mulher.

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Obrigada, querido — disse Katie. — Para dizer a verdade, eu não


estava com muita vontade de pegar na enxada.
Nick sorriu e olhou para Renée.
— Venha me acompanhar.
— Está bem — Ela começou a andar e gritou para a tia. — Se você
quiser, tem café na cozinha, Katie.
— Ótimo. Eu preciso terminar de pintar aquele quadro para você,
Nick.
— Katie, eu já lhe disse que vou comprá-lo.
— Ah, não. Não vai! Você faz muitas coisas para mim, Nick, e eu
preciso recompensá-lo.
— Então, está bem — respondeu ele, sorrindo. — Até amanhã à
noite.
— Você quer um drinque antes de sair? — Katie estava parada na
porta do quarto de Renée, com uma garrafa na mão.
— O que é?
— Champanhe. — Katie entrou no quarto, não escondendo a surpresa
ao ver a aparência maravilhosa de sua sobrinha.
— Acho melhor não tomar! Posso ficar um pouco tonta! — exclamou
Renée, sorrindo.
— Eu também fico tonta, mas de maneira agradável. — Katie colocou
a garrafa em uma mesinha. —Adorei seu vestido, Renée.
— Você não acha que é muito...
— É claro que não. Todo mundo estará usando suas melhores roupas
e você pode ter certeza de que Sharon vai se esmerar. Assim está
ótimo.
— Você também está ótima. — Renée virou-se para olhar a tia.
— Combina com o meu humor. Você não acha que está muito jovial
para uma mulher da minha idade?
— Não. Você é uma mulher muito atraente e interessante.
— Você sempre incentivou o meu ego, querida. — Katie aproximou-
se de sua sobrinha e ambas se olharam no espelho. Katie estava
muito chique com o vestido longo de seda de algodão que tinha
comprado na cidade. Ficava muito bem em seu corpo e a cor era
muito bonita, acentuando o azul de seus olhos. O cabelo castanho
que ela costumava usar curto e liso, havia sido enrolado por Renée e
tinha ficado cheio e esvoaçante. Renée também a tinha maquilado,
deixando-a muito diferente.
— Realmente, querida, você me transformou em outra pessoa.
Apesar de ser pintora, eu nunca consegui me maquilar.
— Você não acha que precisava cuidar do seu rosto como você cuida
do seu trabalho?
— Você também é uma artista. Seu trabalho como cabeleireira
também está ótimo. — Katie aproximou-se do espelho para
examinar-se melhor. Da maneira como Renée a tinha maquilado,
parecia dez anos mais jovem. Elas tomaram um pouco de
champanhe.

Livros Florzinha - 28 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Nick vai mandar alguém nos buscar? — mencionou Renée.


— Sim, é muito gentil da parte dele.
— Provavelmente, ele acha que nós não chegaremos lá com o seu
carro.
— Acho que preciso comprar outro carro — murmurou Katie. — Agora
estou mais rica que nunca, já que os meus amigos não me deixam
gastar nada. — Ela afastou-se do espelho e pegou a garrafa. — Vou
colocar a rolha, assim a terminaremos quando voltarmos.
Dez minutos mais tarde elas estavam indo para Emerald, e Renée
estava sentindo uma mistura de nervosismo e excitação. Katie era
uma pessoa sociável por natureza, adorava festas, mas podia passar
muito bem sem elas. Houve poucas festas em que Renée não tivesse
que ser a anfitriã e das quais ela realmente tivesse gostado. Sua mãe
estava sempre lá, vigiando-a como se dependesse de Renée causar
uma boa impressão. Nenhuma festa estaria completa sem os Daltons
e seus pais gostavam de se mostrar superiores mesmo com os
próprios parentes.
A festa dessa noite prometia ser diferente. O motorista, chamado
Charlie, fez com que elas rissem durante todo o trajeto. Ele comentou
que a srta. Russell foi a primeira a chegar, com um vestido vermelho
que lhe ofuscou os olhos. O vestido de Renée brilhava um pouco à
noite, um vestido branco de crepe da China, sem mangas e com um
profundo decote. Ela estava usando suas jóias prediletas: um par de
brincos, bracelete e colar de ouro. Como estava fazendo muito calor,
ela tinha tentado fazer algo diferente com seu cabelo, prendendo-o
bem alto, de maneira que suas feições ficavam ainda mais refinadas
e seus olhos pareciam maiores. Ela sabia que estava bonita, mas
também achava que não estaria tão sexy quanto Sharon.
Quando elas chegaram a Emerald, Renée ficou estática por alguns
segundos. Era maior do que ela tinha imaginado: uma construção de
grandes proporções, construída a alguns metros do solo e
completamente rodeada de varandas, O pórtico de entrada era
ladeado por colunas duplas rodeadas de parreiras, com uma cumeeira
de madeira lindamente ornamentada, combinando com as
balaustradas e candeeiros de madeira das colunas da varanda.
Havia luzes acesas dentro da casa, que a deixavam parecida com um
navio no mar, e, como na fazenda, árvores e arbustos tropicais
circundavam toda a casa: uma maravilha de cores durante o dia, e
uma selva romântica à noite.
— É maravilhosa, não é? — perguntou Katie. — A casa original foi
destruída quase que completamente por um ciclone, no começo do
século, e por isso eles a reconstruíram. É a casa mais bonita que você
vai ver em Queensland. As varandas são essenciais com este clima. É
claro que o nosso povo trouxe essa idéia da Índia.
— Muito bem, senhoras! — Charlie deu a volta para abrir a porta do
carro e logo, Nick chegou perto delas.

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Bem-vinda a Emerald, Renée. — Ele pegou a mão dela e beijou o


rosto de Katie. — Eu nunca a vi tão bonita!
— É obra de Renée! O pardal tornou-se um lindo pássaro azul.
— Gostei! — exclamou ele, olhando-a novamente, e então virou-se
para Renée, ainda segurando-a pela mão, de forma que ela tinha que
ficar a seu lado. — Acho que você já deve saber que também está
maravilhosa.
Ela teve a sensação de que estava tremendo. Ou talvez estivesse
mesmo, porque Nick a segurava tão forte que parecia que ele queria
acalmá-la.
— Eu não sei a que horas você mandou o pessoal chegar, Katie, mas
já estão quase todos aqui.
— Ótimo! — Katie olhou para a casa, ansiosa.
— Harry ainda não chegou — disse Nick, conforme se aproximavam
da entrada.
O perfume de Sharon chegou antes que ela. A moça estava de pé no
saguão, sob um par de lustres, seu vestido de tafetá vermelho
brilhava e o rosto alegre irradiava um sorriso de anfitriã.
— Katie! Renée! Que bom que vocês chegaram!
Eles foram em direção a ela. Sharon arregalou os olhos quando
mediu Renée de cima a baixo.
Ela não gosta de mim, pensou Renée, quando Sharon pegou-lhe a
mão, como se estivesse esperando sua chegada para começar a
festa.
— Você está linda! — exclamou ela, provavelmente pensando que o
vestido de Renée era muito simples,
— Obrigada.
— Veja, todos vêm correndo para cumprimentar a convidada de
honra.
Nick pegou no braço de Renée e a conduziu para a sala, onde um
grande número de pessoas já estavam acomodadas. A maioria delas
pareceu gostar de conhecê-la, e apesar de Renée ter que sorrir
muitas vezes, não pareceu um esforço extraordinário, como acontecia
em outras ocasiões. Aonde quer que Nick a levasse, ela o seguia,
correspondendo à atenção de todos sem grandes esforços. Era difícil
lembrar-se de todos os nomes, mas de alguma forma ela conseguiu.
Durante a primeira hora, tudo parecia girar em torno de Renée. A
música, as risadas, o caleidoscópio de cores dos vestidos, a maneira
com que todos a tratavam e imediatamente chamavam pelo primeiro
nome. A casa era perfeita para uma festa. Era espaçosa, de forma
que todos os convidados podiam circular sem problemas. Era
mobiliada em grande estilo e Renée encontrou-se admirando o bom
gosto que havia criado tal ambiente. Grande como era, a casa era
decorada com conforto e uma mistura de estilo antigo e
contemporâneo.
Renée logo percebeu que Sharon estava se considerando a anfitriã, e
concordou que ela desempenhava muito bem o papel. Seu riso

Livros Florzinha - 30 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

agradável espalhava-se pela casa, conforme dividia seu tempo entre


os convidados. A atmosfera estava descontraída e, gradualmente,
Renée foi aliviando seu nervosismo e se acalmando.
O pai de Sharon era justamente como ela o imaginara: alto, forte e
parecido com a filha. Mas Philip, o irmão, foi uma surpresa. Ele era
quieto, quase tímido, fazendo Renée se sentir até uma habilidosa
conversadeira. Ela devia tê-lo atraído, porque, não importando para
que grupo ela fosse, Philip estava a seu lado, admirando-a o tempo
todo. Poderia até ter sido divertido, porque havia qualquer coisa nele
que tinha despertado simpatia em Renée. Ao contrário de Cy Russell
e Sharon, que impunham sua personalidade, Philip mal era ouvido e
não estava exatamente sendo visto.
Todas as portas que davam para a varanda tinham sido abertas e os
convidados já a estavam usando como pista de dança. Alguém pegou
na mão de Renée que, ao virar-se, um pouco assustada, viu Philip
sorrindo para ela.
— Você quer dançar comigo, Renée?
— Sim, gostaria. — Não era bem isso que ela queria, mas não seria
nada educado recusar.
— Você é a garota mais linda que eu já vi.
— Você está sendo muito gentil! — Ela tentou sorrir, mas ele estava
com um olhar sério.
— Eu não estou tentando ser gentil. — Ele a conduziu através da sala
para a varanda. — É a pura verdade!
— Obrigada, então. — Renée estava acostumada a ouvir elogios,
mas por que ele a estava olhando daquela forma?
Ao contrário do pai e da irmã, Philip tinha olhos claros, e embora
tivesse um bom físico, não era muito atraente. Ele não era muito
alto, de forma que olhava Renée diretamente nos olhos.
— O que é que você achou da casa?
— É maravilhosa!
— É lógico. Todo mundo gosta de uma festa em Emerald. Nós não
podemos fazer nada sem os Garbutt, o que hoje em dia quer dizer
Nick.
— Você trabalha para ele, não é? — Renée ficou surpresa com o
sarcasmo dele.
— A maioria de nós, por aqui, trabalha para as empresas dos
Garbutt, mas atualmente eu trabalho com meu pai.
— Seu pai é um homem muito impressionante — disse ela.
— Você não quer dizer isso!
— Não quero? Você não vê seu pai desta forma? — Renée deu um
leve suspiro.
— Eu o vejo como uma continuação de Nick. É tudo o que ele sempre
foi. Quero dizer, há muito tempo que ele deu sua vida para os
Garbutt.
— Parece que ele gosta disso — comentou Renée.

Livros Florzinha - 31 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Ah, sim. Meu pai é o responsável pelos negócios dos Garbutt e


acho que foi isso que o deixou rico.
— Você não gosta de trabalhar para eles? — perguntou Renée.
— Tudo o que eu quero é simplesmente sumir daqui. É o meu sonho.
— Seu olhar desconcertante dirigiu-se para o rosto
de Renée com uma grande intensidade. — Um dia eu crio coragem,
arrumo as malas e sumo daqui.
Eles estavam passando por uma porta quando Renée viu Nick
Garbutt. Ele estava de pé, a alguns metros de distância, alto, moreno
e tão cheio de vida que deixava Pliilip pálido, apesar deste estar
segurando-a em seus braços, passando-lhe a mão pelas costas como
se quisesse conhecer cada osso dela. Nick virou-se e, por alguns
instantes, Renée olhou para os olhos dele.
— Ele tem charme, não tem? — comentou Philip.
— Ele é muito gentil com minha tia — respondeu Renée.
— Katie? Ela é uma ótima pessoa, não é? Todo mundo gosta dela e
eu invejo seu talento.
— Eu também. — Renée deu um leve sorriso.
— Mas você tem tudo! — Philip levantou a mão para acariciar o
cabelo dela.
— Não! Eu não fiz nada até agora.
— Você não vai se casar, ou pelo menos é noiva? — perguntou Philip,
levando-a para a penumbra.
— Ainda não, Philip. — Contra a sua vontade, ela estava quase
consolando-o. Era absurdo, mas a expressão dele era de ansiedade.
— O que você quer dizer? — A pergunta confirmou a ansiedade deie.
— Quero dizer que no momento eu não tenho intenção de casar —
disse Renée calmamente, imaginando que a próxima pergunta dele
seria se ela acreditava em amor à primeira vista. Philip a estava
abraçando com mais força, de maneira que Renée tinha que se
inclinar para trás para evitar o contato físico que ela não queria.
— Espero que eu possa lhe mostrar os bonitos lugares que temos por
aqui. Conheço um ótímo lugar para nadar — comentou Philip.
— Acredito, você tem um bronzeado muito bonito — disse Renée,
diplomaticamente. Ele tinha de fato um bronzeado que combinava
muito bem com seu cabelo loiro e seus olhos claros.
— Então você irá?
— Obrigada pelo convite, Philip. Eu lhe direi. — Ela não tinha
propriamente aceitado, mas ele sorriu como se a data já estivesse
marcada.
— Sharon disse que você e Katie irão jantar em casa na próxima
semana.
— É verdade. Todo mundo está sendo tão gentil comigo.
— Não pode censurá-los! Eu nunca vi uma garota tão bonita e segura
como você.

Livros Florzinha - 32 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Então eu vou lhe contar um segredo. É apenas aparência. Por


dentro eu sofro as mesmas ansiedades e apreensões que todo
mundo.
— Você daria um passeio comigo amanhã? — Ele a olhou fixamente.
— Sinto muito, Philip. Nick já combinou algo para fazermos! — Não
era verdade, mas ela disse isso como uma saída.
— Então Sharon vai também?
— Realmente eu não sei, — Por que ela tinha dito uma mentira tão
estúpida?
— Você deve pensar que Nick tem monopolizado as atenções de
minha irmã por algum tempo. É certo que ela se casará com ele, e
não apenas pelo dinheiro dele. Sharon é louca por Nick e, se você
duvida disso, veja a maneira como o olha.
— E isso o aborrece?
— Não gosto de ver ninguém ser dominado. Quando nós éramos
crianças, Sharon era doce, agora ela é mais parecida com papai e eu
não gosto disso. Eu não consegui ter um momento de felicidade
desde que mamãe morreu.
— Ah, Philip, sinto muito! — Renée ficou tão triste e olhou com tal
compaixão para Philip que instintivamente ele a trouxe para mais
junto de si.
— A vida é assim mesmo. Minha mãe não se importava se minha
cabeça estava cheia de tolas ambições. Papai tem trabalhado
incansavelmente para os Garbutt. Para ele era fácíl ignorar mamãe e
a mim. Até agora eu tenho sido um grande desapontamento para ele
e acho que sempre serei. Sharon não precisa de incentivo. Ela será
uma maravilhosa esposa para Nick. Ambos são duros como diamante,
— Você me preocupa, Philip — disse Renée.
— Desculpe. Eu nunca converso com ninguém, embora vejo que me
abri bastante com você. Não me culpe, Renée. Eu não tenho uma
vida feliz.
— Acho que não. — Renée entendia muito bem o que ele queria
dizer. Uma casa confortável e dinheiro não eram o suficiente, ela
tinha certeza disso. — Mesmo assim, tenho certeza de que você tem
muitas coisas a agradecer, Philip.
— É claro, meu trabalho é seguro, mesmo que todo mundo saiba que
eu não sou muito bom nele.
— Então você mesmo se colocou em uma prisão?
— De fato, Renée! Eu estou em uma prisão. Quero sair mas não
posso.
Renée percebeu que a música tinha terminado, mas Philip ainda a
segurava, incapaz de libertar-se dos olhos verdes dela.
— Ei, vocês dois!
Para alívio de Renée, Sharon foi até eles, sorrindo como se achasse
ótimo vê-los aparentemente envolvidos. — Sobre o que vocês estão
conversando?

Livros Florzinha - 33 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Estou contando a Renée a história de minha vida — respondeu


Philip sarcasticamente, fazendo com que sua irmã corasse.
— Não fale assim, Pip — disse ela calmamente.
Renée não disse nada, sentindo-se mais embaraçada do que a
própria Sharon.
— Vou pegar alguma coisa para você beber — disse Philip, e colocou
a mão no braço de Renée.
— Obrigada.
— Há muita coisa para se beber — disse Sharon, sorrindo.
— Não desapareça — disse Philip. E então, quando Nick Garbutt
entrou na varanda, ele cumprimentou: — Olá, Nick.
— Como vai, Philip?
— Tentando me divertir um pouco.
— Então você está na festa certa. — Nick estava vestindo uma
camisa de seda e calça justa e usava uma corrente de ouro no
pescoço. Para um homem do campo, ele se vestia muito bem. Tinha
a aparência de um homem rico e, ao se mover, era soberbo e
confiante.
— Acho que Renée está fisgando meu irmão! — comentou Sharon
alegremente.
— Isto faz parte do treinamento das mulheres, não é verdade? —
Nick olhou para Renée. — Quer dizer, vocês todas aprendem isso.
— Você está querendo dizer que eu poderia fisgá-lo? — disse Sharon,
segurando-o pelo braço.
— Com certeza você tenta.
— Com muito boa vontade! — Sharon sorriu profundamente. Ele era
bem mais alto e ela precisava jogar a cabeça para trás para olhá-lo e,
ao fazer isso, revelava a bonita linha de seu pescoço e queixo. — A
festa está ótima, não é verdade?
— Deveríamos deixar que nossa convidada de honra nos
respondesse. — Nick olhou para Renée.
— Estou maravilhada com tudo! — Uma espécie de pânico passou por
Renée ao pensar que talvez ele estivesse aborrecido com ela por
alguma coisa.
— Mas você ainda não viu a casa toda. Estava apenas esperando a
oportunidade de mostrá-la a você.
— Não agora. — Sharon deu uma pequena risada. — Pip está
voltando com a bebida de Renée.
— Diga-lhe que eu estou mostrando a casa a Renée.
— É claro. — Sharon sorriu para Renée sem entusiasmo. — Esta casa
é absolutamente encantadora.
Quando eles se afastaram dela, Renée pôde sentir os olhos escuros
de Sharon devorando-a pelas costas, e então suspirou.
— Por que isso? — perguntou Nick.
— Acho que eu estava apenas pensando.
— Em quê?
— Nada importante, Nick.

Livros Florzinha - 34 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Enquanto passavam pelo salão, eram continuamente detidos, mas


Nick dizia-lhes educadamente que estava mostrando o resto da casa
para Renée. Katie, de muito bom humor, divertia-se em um canto do
salão e levantou a mão para acenar-lhes. Harry Caswell não tinha
aparecido, mas sua ausência não estava atingindo Katie. Ela estava
irradiando um prazer que entusiasmava todos ao seu redor.
Para todos os lados que Renée olhava havia beleza e eles andaram
pela grande casa com Nick explicando como seu bisavô tinha
importado a maioria das maravilhosas antiguidades para a nova
colônia. Cada cômodo tinha diferentes peças que seriam o sonho de
um colecionador e Renée ficou fascinada pela intenção dos Garbutt
em impor uma civilização mais culta no lugar que tinha sido uma
selva. Devia ter sido difícil transportar toda aquela mobília para lá.
Nick deixou passar o tempo, olhando-a mover-se graciosamente de
uma sala para a outra. Ela gostou particularmente da biblioteca, com
suas paredes altas completamente cobertas com livros encadernados
em belíssimas cores. Renée foi para trás da escrivaninha de mogno
maciço e correu os dedos levemente pelos ricos entalhes.
— Que peça bonita... e quantos livros!
— É a minha sala favorita. Todos da minha família gostam muito de
ler. Acho que tinha que ser assim, porque havia poucos divertimentos
antigamente. A maioria destes livros são bastante valiosos e dá muito
trabalho conservá-los em boas condições. Você será bem-vinda aqui
sempre que quiser.
— Eu adoraria. Está tudo catalogado?
— Está. — Nick apanhou uma fotografia da família, que estava sobre
uma mesa redonda entre duas poltronas confortáveis, e passou para
ela.
— A família Garbutt, quando estávamos todos juntos.
— Deixe-me ver. — Renée pegou a foto e olhou para o grupo familiar.
Era impossível não identificar Nick imediatamente, um bonito
adolescente ao lado de duas garotas morenas muito bonitas, uma
delas com o braço em volta do pescoço dele. Sua mãe estava sentada
em uma cadeira de espaldar alto, um pouco para a esquerda do
grupo, e atrás da cadeira via-se um homem alto com o mesmo corpo
que Nick. Todos estavam sorrindo e Renée sorriu involuntariamente.
— Todos vocês parecem muito contentes e felizes. Há amor nesta
foto.
— Parece que você não teve muito amor.
— Parece? — Ela o olhou, primeiro nos olhos, depois estudou sua
boca. Era estranho achar bonita a boca de um homem.
— Onde você estava agora? — perguntou ele, com voz suave, o que a
fez estremecer.
— Desculpe. Sinto muito.
— Você está novamente se desculpando. — Ele pegou a foto da sua
mão e a colocou sobre a escrivaninha atrás dela, de modo que os dois

Livros Florzinha - 35 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

se fitaram e Renée ficou com a cabeça erguida, como se estivesse


ouvindo uma voz interior. — Fale-me de sua infância.
— Não há nada para dizer. Nada.
— Nada que a tenha feito feliz? Diga-me. Eu gostaria de saber tudo a
seu respeito.
— Por quê?
— Quem era sua melhor amiga quando você era criança?
— Esqueci. Eu sei que tinha amigos, mas esqueci.
— Você já esteve apaixonada?
— Não! — Pela expressão do rosto dela, Nick deve ter pensado que a
tinha chocado.
— Por que não? Você não consegue se apaixonar?
— Eu não sou capaz de muitas coisas. Você deve ter notado.
— Nâo fique zangada comigo, Renée. — Ele sorriu, confortando-a.
— Não estou zangada — respondeu ela. — Minha vida não tem sido
tão colorida quanto a sua. Não tem havido nenhuma morte, nenhum
perigo, nenhum caso de amor, nenhuma ambição. Nada. Eu lhe disse.
— A verdade é que você tem medo de fazer alguma coisa. Medo de
sentir. Acredito que, de certa forma, você não cresceu.
— Você parece saber muita coisa a meu respeito. — Ela olhou
brevemente para aqueles olhos, tremendo, apesar dos esforços para
se controlar. — Eu até suspeito que é isso realmente o que você
pensa. — Renée estava corada e procurou se afastar, olhando para o
desenho de um magnífico tapete.
— Que escola você frequentou? — perguntou Nick, ignorando seus
movimentos.
Renée levantou a cabeça e mencionou com amargura o nome da
escola só para meninas. Sentiu-se novamente uma garoti-nha,
despreparada para o internato, contendo as lágrimas, apesar de sua
mãe falar com ela rispidamente. As outras garotas conversavam, mas
ela estava acanhada e, além do mais, angustiada, com a sensação de
estar sendo abandonada.
— Algumas vezes eu sonho que estou novamente lá — disse ela,
dando uma pequena risada. — Eu era uma boa aluna, mas não podia
esperar aqueles anos passarem. Eu fui muito melhor na universidade
e adorei o ano que passei na Europa. Foi realmente inesquecível, a
experiência visual, o passado e o presente misturados, a arte e a
arquitetura, as pinturas renascentistas, os palácios e o esplendor, o
nascimento da civilização...
— Mas nenhuma experiência sexual.
— E se eu disser que sim? — Renée o fitou.
— Eu não acreditaria. Não há paixão em seus olhos, Renée. Eles são
muito bonitos, mas são os olhos de uma criança que quer adiar a
maturidade o máximo possível.
— Você acha que eu deveria me entregar a um caso de amor? — Ela
ergueu o queixo, olhando-o com certa arrogância.

Livros Florzinha - 36 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Não com Philip Russel — respondeu Nick, com a voz levemente


gozadora. — Eu sei que você tem um coração muito sensível e Philip
provavelmente convenceu-a de que precisa que você sinta pena dele,
mas eu gostaria que você fosse sensata e não lhe desse ouvidos. Se
Philip já decidiu que se apaixonou à primeira vista, ele tentará tudo.
— Isso é um absurdo! — disse ela.
— Então você não consegue ver os sinais?
— Por favor, Nick, nós não podemos falar de outra coisa? —
perguntou ela, quase que timidamente.
— E claro. — Uma expressão estranha passou pelo rosto dele. Por
um minuto, Nick a olhou em profundo silêncio, então aproximou-se
dela e a segurou pelo braço. — Está bem, por hoje chega. Não vou
fazer você falar mais nada. Tentarei isso quando estivermos
completamente sozinhos.
Não havia em Renée nenhum impulso para se livrar dele e fugir.
Nenhuma rejeição física àquela mão magra e bronzeada sobre seu
braço, embora algo estivesse acontecendo dentro dela que fazia seu
corpo doer com a tensão. Nick era um homem duro, forte e qualquer
envolvimento com ele a conduziria a um caos turbulento e doloroso.
Não existia nela a grande paixão que ele estava pensando encontrar,
embora o toque dos dedos dele sobre sua pele nua despertasse sua
feminilidade. Até agora Renée nunca tinha experimentado tal
excitação. Tudo o que ela podia lembrar era da profunda e horrível
repugnância que sentira, quando Simon subjugou-a, segurando-a
freneticamente.
Talvez não haja mulheres frias, mas apenas mulheres que ainda não
tenham despertado para o amor, pensou ela.
Quando voltaram ao salão principal, Harry Caswell havia chegado. Ele
estava de pé, no meio da sala, um homem grande e forte, com
cabelos e barba grisalhos e olhos de um azul-claro penetrante. A
princípio ele parecia aterrador, como uma águia impossível de ser
domesticada, mas os minutos de apresentação passaram
rapidamente. Renée podia ver dignidade e bondade nos olhos dele.
Sua voz era calma, com uma ocasional e pro-funda explosão de
risada, e Renée gostou muito dele. De certa maneira, Renée se sentia
tão bem com ele quanto com Katie, de forma que Sharon pareceu
ressentir-se.
Enquanto Nick estava cuidando de sua convidada de honra, e sem
fazer o menor esforço para afastar-se de Harry Caswell, de Katie e do
resto do grupo, era óbvio que ele a estava negligenciando. Sharon
não gostava de Harry Caswell, um homem que usava roupas horríveis
e vivia como os pioneiros. Ela nunca conseguira entender por que
Nick gostava dele.
Sem pensar em sua hipocrisia, Sharon passou pela sala usando seu
sorriso mais brilhante.
— Pensei que o senhor não fosse aparecer, sr. Caswell — ela
reprovou-o, sorridente.

Livros Florzinha - 37 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Na verdade eu estava aguardando esta noite ansiosamente! —


Harry olhou-a fixamente, com os penetrantes olhos azuis. — A
senhorita está espetacular. O vermelho é sem dúvida uma cor que
lhe fica muito bem.
— Obrigada — respondeu Sharon, — Fiquei sabendo que o senhor
está tentando fazer uma exposição.
— Estou fazendo o melhor que posso.
— Realmente, você poderia ter me contado, — Katie parecia mais
surpresa que magoada.
— É verdade — admitiu Harry —, mas eu queria que fosse uma
surpresa. Quem lhe contou?
— Não fui eu! — disse Nick suavemente. — Não costumo fazer isso.
— Devo presumir que tenha sido Ken Thomas. Ele foi até o estúdio na
semana passada. Que língua de trapo!
— Como você é sensível! — comentou Sharon, brincando. — Você
não pretendia contar a ninguém?
— Nick sabia — Harry olhou para ela —, mas eu mesmo queria
contar a Katie.
— Estou emocionada da mesma maneira. — A expressão de Katie se
iluminou. — Eu até gosto de pensar que influenciei em sua decisão.
— Você sabe que sim, Katie. Você levaria Renée até o estúdio?
— Você está pedindo que eu o perdoe? — Katie olhou-o suavemente.
— Acredite-me, iria ser uma grande surpresa. Foi por isso que eu lhe
disse que não estaria livre quando você me telefonou.
— Está bem, então, eu o perdoo.
— Eu ficarei encantada em ir, sr. Caswell — disse Renée, sorrindo.
— Você não gostaria de me chamar de Harry?
— Claro.
— A mais bela jovem que eu já vi! — exclamou ele subitamente,
como que movido por alguma inspiração artística. — Eu fiz nome
como escultor. Este rosto me deu uma idéia. Quando nós nos
encontrarmos novamente, eu lhe mostrarei alguns esboços. Venha
me ver com Katie, logo que puder.
— Bem, eu acho isso o máximo! — disse Sharon, rindo. — Eu não
mereço ser esculpida?
Nick não permitiu que Harry respondesse.
— Tem certeza de que podemos permitir que ele a exiba? —
perguntou ele, sorridente. — Algumas das melhores esculturas são de
nus e ninguém pode negar sua sedução. Renée, por outro lado,
sugere mais a clássica jovem deusa eternamente casta.
— É exatamente isso! A visão é tudo. Estou pensando em termos de
uma escultura em bronze em tamanho natural. Há anos que eu não
tenho feito nada valioso, mas algo em Renée fixou uma idéia em
minha mente.
— Uma expressão de inatingível? — sugeriu Nick suavemente. — Foi
como você disse, uma deusa muito jovem que não tem permissão
para deixar o templo de mármore.

Livros Florzinha - 38 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Ah, isso não é encantador? — Sharon olhou para Renée e sorriu. —


Mas como você aguentará todas as sessões?
— Muito bem! — Renée riu involuntariamente. — Mas o que
acontecerá se eu descer para a terra no meio delas?
— Talvez seja o que você está precisando, Renée — disse Nick
secamente. — Agora quero lembrar-lhe que você tem que dançar
comigo pelo menos uma vez esta noite. — Pegou-a pela mão
enquanto os outros o observavam, e em um minuto ele a tinha
conduzido para a varanda.
Dançar com Nick foi o maior erro da vida dela. Quando ele a
aproximou de si, Renée não comentou nada. Não podia falar porque
sabia que não parecia natural. Philip os estava observando, seguindo-
os com os olhos enquanto eles se moviam pelas sombras.
— Por que você fica com os olhos fechados? — perguntou Nick.
— Não sei — disse ela cautelosamente. — Eu jamais gostei de
dançar.
— E agora você fica atormentada quando o faz.
— Parece que eu me traio facilmente.
— Por que você prendeu o cabelo?
— Por causa do calor — disse ela, e afastou-se para olhá-lo. — Você
não gostou?
— Gostei — respondeu ele suavemente —, mas prefiro-o solto e com
flores. O cabelo de uma mulher pode envolver um homem.
— Não você. Você seria um cativo contra a vontade.
— Vamos falar claramente.
— Não. — Junto ao corpo dele, seu coração disparou. Tudo nele
agradava aos seus sentidos: a visão, a voz, a fragrância masculina,
ainda que ela sentisse um estremecimento de medo. Não o medo de
recuar, mas o medo de ultrapassar seus limites. Nunca em sua vida
Renée tinha buscado uma aventura amorosa, e a sensualidade que
surgia poderia magoá-la.
— Finalmente você está deixando que eu a segure. Feche os olhos
de novo, se quiser.
Renée sentia-se ao mesmo tempo trêmula e segura. Nick acariciava
suas costas, como Philip fizera. Ele a dominava, mas sem nenhuma
tentativa de provocação. Ela desejava poder apoiar-se nele; desejava
que houvesse um modo de se relaxar, mas algo estranho estava
acontecendo com ela, alguma coisa que podia tornar sua vida mais
difícil.
— Você faria uma coisa por mim? — perguntou Renée.
— É claro. — Ele olhou para ela com um leve sorriso nos lábios. —
Receio que tenha feito algo errado novamente.
— Philip convidou-me para passar o dia com ele amanhã e eu disse
que tinha um compromisso com você.
— Eu não me importo. Acho que ele está indo muito rápido para
você.

Livros Florzinha - 39 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Falei sem pensar — tentou explicar. — É claro que se você já tiver


um compromisso...
— Não, amanhã estará ótimo. Teremos bastante tempo para
conversar.
— Acho que você gostaria de ser psicólogo — disse ela, um pouco
tensa.
— Olhe para mim, Renée.
Alguma coisa no tom de voz dele a fez corar.
— Vamos, admita, você me acha estranha — disse ela.
— Eu gosto de todos os tipos — respondeu ele, com tolerância.
— Você não me acha estranha? — insistiu ela.
— Há certas tensões arraigadas em você, Renée. Muitas pessoas as
têm, mas você é muito jovem e deve deixar que os outros a ajudem.
As lágrimas saltaram de seus olhos, fazendo-os brilhar como jóias, e
em um instante ele a trouxe para mais junto de si.
— Não chore — disse Nick, quase rudemente.
— Posso ver que você está terrivelmente atento.
— Pior do que isso.
Os nervos dela pareciam estar a ponto de romper. Renée sentiu um
calafrio, e ele também o sentiu, pois estavam muito próximos um do
outro.
— Por favor, deixe-me ir — implorou ela.
— Deixarei quando você estiver bem. — Ele virou-a para a claridade.
Ela estava linda e vulnerável, um pouco perdida, mas pelo menos
sem lágrimas.
— Aonde você gostaria de ir amanhã — perguntou ele.
— Eu não sei.
— Está bem. Eu arranjarei alguma coisa.
—Você vai convidar Sharon? — perguntou ela repentinamente.
— Só você poderia pensar nisso. Renée! — Nick estava com um ar de
zombaria no rosto.
— Eu apenas achei que você talvez fosse...
— Não, não amanhã. Iremos andar a cavalo, se você realmente é
tão boa nisso quanto diz.
— Ótimo! — Ela se afastou dele sorrindo, parecendo mais jovem e
feliz.
— Você está sorrindo para mim ou é porque está pensando nos
cavalos?
— Os cavalos são um milagre da natureza — respondeu ela, com
seriedade. — Eu os adoro.
Aparentemente, isso não o aborreceu. Sorrindo, ele conduziu-a
delicadamente por uma das portas e alguns minutos depois o jantar
foi servido.
Renée serviu-se juntamente com os outros, mas ela não estava com
muita fome. A comida era excelente e tão bem apresentada que era
fácil elogiar a governanta de Nick. Philip tinha reaparecido, parecendo
um pouco tenso, e pelo canto dos olhos Renée pôde ver Sharon

Livros Florzinha - 40 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

juntando-se a Nick, demonstrando que estava segura de que ele


queria a companhia dela para jantar.
Renée não se importou. Tudo acontecia tão rapidamente que ela
precisava de um pouco de ar. Sharon era sofisticada o suficiente para
lidar com um homem como Nick Garbutt, mas ele deixara Renée
confusa.
Quando Philip perguntou se podia ficar com ela, Renée sorriu,
aliviada, e os dois se afastaram do centro da festa para os fundos da
casa, onde haviam sido colocadas mesas e cadeiras em volta da
piscina.
Harry e Katie viram os dois se aproximando e Katie acenou para que
eles se sentassem à mesma mesa. Philip ficou parado por um
segundo, como se quisesse ficar a sós com Renée, mas ela respirou
fundo e sorriu.
— Vamos nos sentar com eles. Eu ainda não tive oportunidade de
conversar calmamente com o ar. Caswell.

CAPÍTULO IV

Na manhã seguinte elas acordaram tarde. Harry as tinha levado para


a fazenda e havia entrado para terminar a garrafa de champanhe
com Katie. Assim, eles ficaram conversando pelo menos mais de uma
hora. Tinha sido uma festa maravilhosa e Harry e Katie eram pessoas
que gostavam da noite, enquanto outras pessoas já estavam
morrendo de cansaço.
Renée acordou primeiro, fez o café e o levou em uma bandeja para o
quarto de Katie, sentindo-se orgulhosa. Ela até mesmo tinha
apanhado um botão de rosa e o colocara em um vaso azul de
cerâmica. Havia preparado ovos mexidos, torradas quentes e estava
aprendendo a arte de fazer chá. Katie era muito exigente com o chá e
ela não tinha esquecido o coador.
— Acorde, dorminhoca!
— Não é muito cedo, ainda? — Katie levantou a cabeça e sorriu para
a sobrinha.
— Vamos, isto está delicioso e quente. — Renée atravessou o quarto
e colocou a bandeja sobre a mesa.
— Você é uma garota maravilhosa. — Languidamente, Katie pegou
seu robe, um quimono japonês, e vestiu-o. — Estou contente de não
ter que ir com vocês. Hoje quero apenas me sentar a uma sombra e
esquecer da vida.
— Harry não tem que vir hoje?
— Sim, à tarde. — Katie escovou o cabelo e olhou-se no espelho. —
Que cara!
— Você está muito bem. — Renée sorriu. — Gostei de Harry.

Livros Florzinha - 41 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Ah, querida! — Katie suspirou e sentou-se na poltrona que ficava


perto da mesa. — Harry me faz sofrer um pouco, mas eu tenho que
ignorar isso. Ele valoriza muito a nossa amizade, mas eu não tenho
nada de excitante ou feminino. Vi uma fotografia da esposa dele. Ele
a amava muito e eu acho que ainda sente muito a falta dela.
— Como ela era? — perguntou Renée.
— Muito bonita e corajosa. Harry gosta de beleza. Ele ainda está
sofrendo muito por causa dela. Sente-se muito só.
— Tome seu suco — disse Renée, sentando-se em outra poltrona. —
Realmente sinto muito, Katie, mas você tem certeza de que Harry
não precisa de você?
— Como esposa? — Por um segundo os lábios de Katie tremeram. —
Eu nunca tive essa esperança, querida. Vovó costumava me dizer
que, se esperasse, eu acharia o homem certo. Mas agora que
finalmente o encontrei, já estou muito velha e Harry vive voltado
para o passado.
— Talvez Harry esteja esperando por outra mulher que ele possa
amar. — Renée tomou o suco rapidamente porque sua garganta
estava seca. — Eu acho que ele gosta muito da sua companhia. Ele
ficou aborrecido com Sharon por ela ter estragado a surpresa da
exposição.
— Ela fez isso deliberada mente. — Katie serviu-se dos ovos. —
Sharon é uma ótima garota, mas eu não acho que ela seja a pessoa
certa para Nick Garbutt, apesar de ele demonstrar que a admira.
— Ela desempenha muito bem o papel de anfitriã.
— O que você achou de Philip?
— Ele é muito inseguro.
— Pois saiba que parece que ele está terrivelmente apaixonado por
você.
— Não diga uma bobagem dessas, Katie!
— E verdade, querida. E é melhor você pôr um fim nisso.
— Nick disse a mesma coisa. Katie olhou para Renée e sorriu.
— Você acertou em cheio, foi Nick. E parece que você vai estragar o
domingo de Sharon.
— De que forma?
— Quanta inocência! Por acaso está achando que Sharon iria adorar
que você tirasse Nick dela, ainda que por um dia?
— Ele me disse que não iria fazer nada. — Renée parecia nervosa.
— Bem, não se surpreenda se ela aparecer em Emerald. Você
mencionou em frente a Philip que iria andar a cavalo e tenho certeza
de que Sharon irá correndo até a casa dela para vestir a roupa de
montaria. Não tem importância, ela não foi convidada. Tudo sai bem
no amor e na guerra.
Quando Renée e Nick pararam em frente de Emerald, Sharon e Philip
estavam na varanda, com roupas de montaria.

Livros Florzinha - 42 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Oi! — Sharon desceu as escadas da varanda. — Pip me disse que


vocês iriam andar a cavalo, e eu achei que seria mais divertido se
fôssemos nós quatro.
— Que ótima idéia! — disse Nick secamente. — Eu achava que você
não gostava disso.
— Não seja bobo, Nick. Acho que posso me aguentar em cima da
sela de um cavalo tanto quanto Renée.
Renée sorriu mas não disse nada, virando a cabeça quando Philip
desceu as escadas para juntar-se a eles.
— Espero que você não se importe, Nick. Sharon achou que não teria
problema.
— É claro que não. — Nick não hesitou. — Temos muitos cavalos.
— Eu quero um bem manso, porque mal sei montar — disse Philip,
rindo.
— Então por que você veio? — perguntou Renée, mostrando-se
interessada.
— Para ver você, só isso.
— Eu acredito. — Nick olhou para Renée com um olhar enigmático.
— Bem, já que estamos todos aqui, vamos!
Para alegria de Renée, eles deram um grande passeio e Nick
mostrou-lhe os cavalos que participavam de corridas. Os estábulos
eram muito bem cuidados e muito dinheiro havia sido investido neles.
Nick apresentou-a ao capataz e ao administrador e eles foram muito
gentis.
Apesar de seu talento em outras coisas, Sharon mostrou que não
sabia montar muito bem, nem ficava bem de culote, porque tinha as
pernas curtas. Entretanto, Renée observou que nenhum homem
deixaria de olhar para as curvas do corpo dela e para a sua blusa de
seda, que deixava à mostra seu belo colo. Renée sorriu para si
mesma, não se sentindo triunfante com a própria habilidade nem com
o fato de que, sendo
magra e alta, ficava muito bem em roupas de montaria. Ela não se
cansava de olhar para os cavalos, ao contrário de Sharon e Philip.
Eram animais tão bonitos e garbosos que era um prazer admirá-los e
ela quase teve o impulso de montar uma potranca.
— Você não quer vendê-la? — perguntou Renée, sorrindo para Nick.
— Você tem vinte e cinco mil à mão?
— Vinte e cinco! — Ela ficou sem ar.
— Bem, para você vinte.
— Pare de provocá-la, Nick — disse Sharon, um pouco impaciente. —
O fato é, Renée, que quando esse potranca começar a correr, vai
ganhar fortunas. Ela descende de campeões.
— Se você ficar aqui durante algum tempo, Renée, eu a levo para
ver uma corrida — prometeu Nick.
— Eu adoraria! — Ela sorriu para o homem que levou a potranca para
o estábulo. — Deve ser maravilhoso ser o proprietário.

Livros Florzinha - 43 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Oh, maravilhoso! — Parecia que Sharon estava rindo de Renée. —


Se você admira tanto os cavalos de corrida, pode montar um.
— Desculpe! — Renée não tinha intenção de se desculpar, mas o fez.
— Você não está com medo dos cavalos, está? — perguntou Nick.
— Deveria estar com medo?—Ela olhou para ele com surpresa.
— Muitas pessoas têm, eles impõem respeito. O cavalo é um animal
temperamental e tem muita força.
— Achei que eles gostassem de mim — confessou ela.
— E gostam. A potranca não fugiu quando você a tocou.
— Você já montou muitas vezes? — perguntou Philip.
— Não tanto quanto gostaria.
— Você fica muito bem com roupas de montaria. — Philip mediu-a de
cima a baixo.
— Não se preocupe, Renée, Nick achará um par de éguas mansas —
disse Sharon.
— Acabei de escolhê-las. — Nick deu um sorriso irónico. Ele virou-se
para dar a ordem ao empregado. — Traga as éguas.
Os animais surgiram da cocheira, sendo trazidos por dois meninos.
Todos eram lindos, especialmente a égua preta, mas Renée soube
imediatamente qual ela queria. Ela até deu alguns passos para a
frente.
— Espere um pouco, você está indo depressa demais! — gritou
Sharon.
— Posso ficar com a cinzenta, Nick? Por favor. — Renée nem tinha
ouvido a voz de Sharon. — Ela é tão linda! Veja que cabeça delicada
e que olhos meigos!
— Ela é arisca — preveniu ele.
— E quem não é? — respondeu Renée. — Eu realmente quero ficar
com ela.
— Está bem, então! Espero que você saiba como lidar com ela.
— Você está esperando muita coisa, não está, Nick? — Sharon
olhava-o com desaprovação. — Ela pode levar um tombo.
Mas Renée já tinha se aproximado da égua cinzenta, falando
suavemente com ela, com os olhos brilhando de tanta excitação.
— Qual é o nome dela? — Stardust.
— Como vai, Stardust? — Renée abaixou-se para conversar com a
égua.
— Olhe, parece que ela gostou! — exclamou Philip, rindo. — Você
sempre conversa com os cavalos?
— Claro! — Renée pareceu ficar surpresa com a pergunta. Nick
aproximou-se de Sharon para ajudá-la a montar em
uma égua não tão bonita e Philip ficou olhando para a sua
cuidadosamente.
— Fico contente de não ter que montar nesse diabo preto! — disse
Philip, montando em uma égua.
— Você não poderia! — gritou um dos meninos. — Este é o cavalo do
sr. Nick.

Livros Florzinha - 44 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Renée começou a andar como se estivesse ansiosa para se afastar.


— Vamos dar uma volta por Emerald.
Conforme eles se afastavam das cocheiras, Renée continuava
conversando com sua égua, que parecia muito inteligente. Ela tinha
certeza de que a égua havia entendido cada palavra. Era maravilhosa
a sensação de estai1 novamente em um sela, e o campo era tão
bonito que ela sentiu como se tivesse se libertado.
Todas as repreensões e a falta de sossego que Renée tinha passado
nestes últimos tempos pareciam ter ficado para trás. Ela respirou
fundo e quase deitou-se sobre a égua.
Renée correu muito, deixando todos para trás. Era uma sensação
mágica de alívio, de estar completamente livre. O boné estava
pendurado em suas costas e seu cabelo tinha-se soltado e voava
livremente. Tudo estava maravilhoso e brilhante, fresco como a
manhã, e o vento em seu rosto trazia a fragrância das flores que
cresciam por toda a margem do rio. Renée nem mesmo olhou para
trás quando ouviu o som de cascos do cavalo preto, que passou por
ela, com suas patas poderosas forçadas até o seu limite máximo e
mantendo a liderança. Embora veloz e cheia de vitalidade, a égua
não tinha nem a velocidade nem o vigor do cavalo; então Renée e
Nick começaram a diminuir a marcha e ficaram lado a lado.
— Eu mal posso acreditar! — Ele olhou o rosto transformado dela.
Renée parecia em êxtase, uma criatura maravilhosa, tão calorosa e
viva que parecia que tinham tirado um peso de rima dela.
— Foi maravilhoso! — A excitação estava estampada no rosto dela.
— Bem, aqui estamos, e os outros? — perguntou Renée, rindo.
— Acho que eles não conseguiram acompanhar você.
— Não conseguiram nos acompanhar. — Ela riu de novo. Renée
queria ficar sozinha com ele. Queria que ele a beijasse. Era uma
loucura!
— Continue falando — disse Nick. — Agora você até me deixaria
fazer amor com você.
— Não!
— Por que não? Pelo menos agora parece que você não está com
vontade de resistir.
— Você está me hipnotizando — disse ela.
— É o sol em sua cabeça. — Ele aproximou-se de Renée e ajeitou o
boné na cabeça dela. — Que gracinha!
— Você me faz sentir como se tivesse nascido de novo. — Agora ela
estava cheia de ternura, uma sensação que deixava seu rosto
aliviado.
— Detestei a idéia de Sharon e Philip juntarem-se a nós — disse
Nick, com um tom seco,
— Eu achei que você tinha ficado feliz.
— Achou, olhos verdes? Por quê?
— Bem, praticamente fui eu quem forçou este passeio.
— Mentirosa!

Livros Florzinha - 45 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Ela balançou a cabeça, sem saber como apagar o que estava


sentindo.
— Eles vêem vindo — Renée falou, em voz baixa.
— Hora de entrar de novo em sua concha.
— É fácil — disse ela.
— Mas eu não vou deixar.
— Vocês são muito engraçadinhos! — gritou Sharon.
— Eu não pude resistir. — Renée estava ciente da raiva de Sharon.
— Você é sempre tão impulsiva? — perguntou Philip, com sua voz
suave.
— Adoro galopar. É quase uma obsessão — disse ela, sorrindo.
— Nós não imaginávamos que você sabia montar tão bem — disse
Sharon. — Na verdade, você deveria ter nos contado.
— Por que razão? — Nick aproximou-se dela. — Parece que você está
com calor. Tem certeza de que está gostando?
— Desde que Renée não saia novamente em disparada. — Sharon
sorriu. — Apesar de que eu acho divertido uma exibição.
— É tão absurdo, querida! — Nick empurrou o boné de Sharon para
cima dos olhos. — Você não entende da exuberância de um jóquei,
você parece um gatinho indefeso.
— Apenas deixe-me montar com você. — Sharon colocou o boné no
lugar e olhou para ele com os olhos brilhantes.
— Está bem, fique do meu lado. Nós iremos pela beira do rio, que
tem bastante sombra.
A excitação acabou, mas o resto do dia foi uma mistura de
sensações: um mundo repleto de paisagens e sons desconhecidos,
gado movendo-se, pastando e descansando na sombra, o maravi-
lhoso rio, os raios solares por entre as árvores. A fazenda era tão
grande, que, por mais que eles andassem, nunca chegariam até o
fim. Ao norte, as florestas cresciam como uma proteção verde.
Papagaios e outras aves multicoloridas voavam sobre eles como
nuvens coloridas. As lagoas tinham uma beleza encantadora,
sombreadas por árvores e flores que iam do roxo até o branco. Mas,
enquanto os olhos de Renée se distraíam com a paisagem, seu prazer
era perturbado pela voz calma de Philip. Ele se manteve a seu lado,
implacável, embora não importuno, porque, de certa forma, ela
sentia pena dele, mas chegando a um ponto que Renée teve vontade
de disparar de novo.
Sharon estava toda lânguida agora com Nick a seu lado, e pela
expressão alegre de seu rosto, parecia que ela estava se divertindo
muito. Foi um choque quando ela mostrou suas garras. Eles tinham
voltado para a casa de Emerald e estavam se refrescando antes de
tomar um drinque gelado, quando Sharon perguntou o que a estava
preocupando.
— Você faz uma coisa para mim, Renée?
— Claro, o quê? — Renée abaixou a escova e afastou-se do espelho.
— Lembre-se de que Nick é meu.

Livros Florzinha - 46 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Por favor...
— Não me olhe com essa cara de ingênua. — Sharon ria
cinicamente. — Seja honesta comigo, ele atrai você?
— Talvez um pouco! Ele é um homem muito atraente. —
Propositalmente, Renée manteve a voz suave. — Eu não quero
prejudicar você, Sharon. Eu tenho muitas outras coisas em mente.
— Quais, por exemplo? Você é muito misteriosa, não é? — Sharon
mexeu suavemente no cabelo de Renée.
— Apenas comigo mesma — respondeu Renée, e depois comentou
casualmente: — Foi um dia adorável!
— Bem, certamente você deu um dia maravilhoso para Pip. Desde
que mamãe morreu, parece que meu irmão vive em outro mundo,
mas você tem algo de que ele gosta. Precisamos marcar um jantar na
próxima semana. Eu gostaria que você conhecesse a nossa casa. Nós
a decoramos há pouco tempo, e ela parece especial. Não como
Emerald, claro, mas agradável o suficiente para convidarmos nossos
amigos.
Sem esperar pela resposta de Renée, ela foi até a porta e colocou a
mão na maçaneta.
— Vou ajudar Nick com os drinques. Vejo você no terraço. Acho que
até vou nadar, eu deixei minhas roupas aqui. — Por um instante os
olhos negros dela olharam diretamente para os de Renée e a
mensagem que eles transmitiram não poderia ter sido mais clara:
"Afaste-se. Ele é meu!"

Alguns dias depois, Renée encontrou Ken Thomas, o artista, pela


primeira vez. Havia ido a Brisbane, explicou ele, visitando seu
marchand, senão teria adorado poder participar da festa. Ele tinha
ido até a fazenda naquela tarde, enquanto Katie estava terminando
um quadro e agora estava sentado confortavelmente em uma
cadeira, pedindo a Katie que se sentasse a seu lado.
— O que você está achando daqui? — perguntou ele a Renée. Para
um homem jovem, ele tinha um olhar cansado, mas estava se
esforçando para ser gentil com Renée.
— Estou adorando! — Ela sentou-se em uma cadeira. — Estou até
gostando do calor, apesar de me deixar um pouco preguiçosa.
— Você se acostumará, se ficar bastante tempo. Quanto tempo está
planejando ficar?
— Apenas mais alguns dias. Tenho que resolver alguns problemas.
— Aposto que o problema principal é um homem. — Ele riu.
— Mais do que isso. Algumas vezes ficamos irritados. Uma irritação
que ultrapassa a paciência — disse ela, com um suspiro.
— Tudo isso é tolice, você sabe — disse ele, encarando-a. — Por que
você simplesmente não se desliga?
— Não há nenhuma vantagem em fugir da vida. Eu gostaria de ser
suficientemente forte para enfrentá-la. Mas não vamos falar de mim.
Katie disse que você está fazendo muito sucesso.

Livros Florzinha - 47 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Querida, será que você não quer dizer que o meu trabalho é
vendido?
— Devo confessar que nunca vi um dos seus trabalhos.
— Você deve ter visitado as galerias erradas. Eu não tenho a classe
de Katie, nunca terei, mas há um mercado para o que faço e o preço
é alto. Além disso, tenho uma vida agradável. Eu sempre relutei em
trabalhar e isso veio fácil e de maneira agradável. Katie acha que
tudo é espantoso, mas ela é muito gentil em dizer isso. Caswell é de
certa forma frio, mas Nick Garbutt é cruel. Tenho certeza de que você
viu a colecão de Garbutt. Eu não me preocupo com o que Nick ou
qualquer outro homem pense.
— Eu gostaria de ver seu trabalho — disse ela, consolando-o.
— E verá. O que acha de ir agora? — Os olhos dele se fixaram nela
e, pela primeira vez, Renée teve consciência do charme dele. É certo
que era um charme vulgar, mas existia.
— Eu não sei... — Ela olhou incerta para dentro da casa.
— Ah, vamos agora, com certeza você não precisa de uma
acompanhante. Só vou levá-la até o meu estúdio. Estaremos de volta
em uma hora. — De repente ele segurou sua mão. — Vamos, Renée,
vamos nos deliciar com os meus quadros. Pessoas exóticas gostam
de pendurá-los em suas paredes.
— Tenho que avisar Katie.
— Ela não se importa quando está inspirada. — Não creio. Dê-me
apenas alguns minutos.
Katie deu uma risadinha seca quando Renée lhe disse que Ken a
havia convidado para ir ver seu trabalho.
— Vá, querida, mas não fique desapontada.
— Eu gosto dele — admitiu Renée.
— Eu também. Ken é um demônio convencido. Uma vez ele até fez
uma brincadeira com Sharon, e agora eles são inimigos mortais.
— Ninguém se compara a Nick—disse Renée imprudentemente.
— Hum! Eu gostaria de saber o que você acha dele. — Katie deu uma
outra risadinha, mas seus olhos estavam aguçados.
— Ah, Katie!
— Que gracinha! Vá, então, e divirta-se. Se você vive só o presente,
Ken é uma boa companhia.
Quando eles finalmente chegaram ao estúdio, Renée estava quase
que entorpecida para poder apreciá-lo. Ken Thomas era o pior
motorista que ela já tinha encontrado, não por ser imprudente, mas
por sua falta de consideração com o carro. Normalmente ela poderia
olhar pela janela e apreciar a paisagem, mas a maneira de Ken dirigir
e os roncos do motor davam a impressão de que ele estava
participando de uma batalha. Pelo menos nada de terrível poderia
acontecer realmente, pois o carrinho não tinha força para tanto, ou
ele tinha sempre sido dirigido tão mal que estava esgotado.
Foi ótimo abrir a porta e sair para o sol.

Livros Florzinha - 48 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Aqui estamos, não demorou muito! — Ken passou a mão pelo


cabelo.
— Graças a Deus! — Renée olhou para ele e riu. — Pelo menos deixe-
me dirigir na volta. Eu não me importo em trocar as marchas.
— Não seja maliciosa. Eu sei que não me importo com o carro. Mas
vamos entrar em meu castelo.
— É muito pitoresco.
— É só um chalé, mas eu o acho bonito.
— Você o construiu? — perguntou ela.
Renée viu uma construção simples de madeira que se tornava
atraente com as árvores, arbustos e videiras ao redor.
— Céus, não! Os únicos calos que eu tenho são dos pincéis
de tinta. Um dos carpinteiros da cidade o construiu para mim. Talvez
aguente um ciclone. Logo saberemos.
Renée percebeu que a porta da frente não estava trancada e ele a fez
entrar primeiro.
Era quase teatral, tudo era muito colorido.
— Muito agradável! — disse ela gentilmente.
— É confortável — respondeu Ken alegremente —, e quando eu quero
mudar de humor, apenas jogo uma outra cor nas paredes.
— Que excitante!
— Não tem sentido precisar de um decorador de interiores
profissional. A querida Sharon agora quer me dar conselhos. Acredito
que criei esta atmosfera para irritá-la.
— Você não gosta dela? — perguntou Renée.
— Não sei — respondeu ele. — Certa vez pensei que estivesse
terrivelmente apaixonado por ela, mas Sharon é muito interesseira.
— Em que sentido? — Renée pegou um elefante de madeira pintado
de vermelho e colocou-o de volta no lugar.
— A maneira como ela procura dinheiro. Você viu o jeito como ela
corre atrás de Garbutt? Parece dizer: "Dê o fora, Thomas, eu vou me
casar com um milionário".
— Ela realmente disse isso? — Renée parecia ter dúvidas.
— Disse isso e mais. Ela está ficando desesperada. Acha que mais
seis meses e ficará uma velha solteirona! Sharon tem a minha idade!
— Vinte e oito?
— Vinte e nove — disse Ken melancólica mente. — Ela não sabe, mas
tem um grande problema: Sharon está convencida de que pode ser a
esposa de quem Nick se orgulhe.
— Pelo que tenho visto, ela parece perfeita para o papel! — Renée
estava examinando algumas conchas sobre a mesa.
— Vamos esquecê-la. Só em pensar nela me estraga o bom humor. O
estúdio é nos fundos, é melhor por causa da luz. Você gostaria de
uma xícara de chá ou café? Estou esquecendo as boas maneiras.
— Prefiro café, se não der trabalho.
— Eu, realmente, fui até a casa da fazenda para fazer você
desaparecer misteriosamente. Eu não acho que Katie me aprove.

Livros Florzinha - 49 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Não é verdade. Ela gosta de você. — Renée seguiu-o pela sala.


— Eu disse aprova, querida. Ela também acha que o meu trabalho é
ruim.
— E o que você pensa do seu trabalho? — Renée olhou para ele com
seriedade.
— Eu sei que posso fazer melhor, mas não é fácil. Se eu tentar mais
alguma coisa, posso terminar pobre e subnutrido. Desta maneira,
pelo menos estou vivendo.
— Talvez com o tempo você fique livre para fazer o que quiser.
— Você é muito gentil. É realmente uma ótima garota. Eu pensava
que todas as mulheres fossem interesseiras.
— Talvez você não tenha sido bem tratado.
— Quando eu cheguei aqui, Sharon era bem diferente, afetuosa e
amiga, agora ela parece superior e arrogante, como se fosse a futura
dona de Emerald. O irmão dela, então, nem se fala!
— Ele não é má pessoa — protestou Renée.
— Marque minhas palavras, ele tornará a vida de uma mulher
insuportável, sempre ferindo, choramingando e fazendo observações
maliciosas. Culpa da mãe, é claro. Ela simplesmente o tratou como
um bebê até que morreu. Pelo menos Sharon se libertou e tem uma
cabeça boa. Herdou isso do pai, Cy é ótima pessoa. E quanto a você,
Renée, não tenha medo de dizer o que pensa.
— Eu não sei de nada.
— Talvez não, querida, mas você está acostumada a conviver com
pessoas de alto nível. Está escrito em seu rosto. Você é
positivamente bonita, como uma casta deusa grega.
— Espere até me conhecer melhor. Eu sou bastante humana.
— É verdade? — Ken deu uma risada de zombaria. — Não, é sério,
Renée, você pode confiar em mim. Eu não sou realmente um homem
de muitas mulheres, embora você deva ter ouvido o contrário por aí.
Agora, por que você não se senta aqui e eu farei maravilhas com o
meu pincel? Mas se você quer algo realmente bom, fale com Harry,
ele é um gênio. Ele até mesmo me deixou aproveitar algumas de
suas idéias.
— Ele quer esculpir a minha cabeça — disse Renée vagamente,
procurando um lugar para se sentar.
— Verdade? Em bronze?
— Acho que um busto em tamanho natural.
— O que deu nele? Há anos que ele não faz uma escultura. E com
toda aquela habilidade que Deus lhe deu!
— Não é fácil responder pelas outras pessoas. Acho que de certa
forma ele se isolou dentro de uma concha. Ele era devotado à esposa
e ela morreu tragicamente.
— Ah, mas isso foi há muitos anos!
— Talvez alguns sintam mais profundamente que os outros. Agora,
deixe-me ver seus quadros, se for possível.
— Você pediu por isso. Há muitos, muitos!

Livros Florzinha - 50 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

No final, Renée não ficou totalmente desapontada. De fato, de alguns


deles ela quase gostou, mas teria apreciado mais se tivessem sido
pintados com cores menos berrantes. Ken tinha pegado a vibração e
a exuberância dos trópicos, a sensação de se estar em um mundo
diferente, mas Renée achou que seria melhor se ele não tentasse
mostrar tudo com tanta força.
— Bem, vamos, já examinamos bastante — murmurou Ken, um
pouco ansioso.
— Com certeza, alguns aspectos do seu trabalho são excelentes —
disse ela.
— Você está me perguntando ou afirmando?
— Gostei de muitos, Ken, mas acho que você está tentando agradar a
um público menos observador.
— Já admiti isso. E desagradável, não é? — Ken colocou a cabeça
entre as mãos.
— Eu acho que você pode fazer algo melhor, muito melhor e com
facilidade. É fácil falar, porque sempre fui criada com todo o conforto,
mas acho que você pode vencer, se seguir sua própria visão do
mundo. Você sabe pintar.
— Obrigado. Harry mesmo me disse isso, mas eu comecei a querer
ganhar dinheiro.
— E claro que sim! — Renée sorriu para ele. — Não se pode fazer
nada sem ele.
— Aí está, você não gostou dos quadros?
— Eu não disse isso! — Renée começou a andar pela sala
novamente. — Olhe este. — Ela pegou um quadro pequeno. — Este é
realmente bom.
— Só que não consegui vendê-lo.
— Eu o comprarei. E outra coisa, faça mais como estes e leve para
outra galeria. Você não pode ficar sempre no mesmo lugar. Você tem
que se mexer.
— Por quem eu estou lutando, querida?
— Por você mesmo. — Ela olhou para ele, surpresa. — Como eu
deveria estar fazendo.
— Você não vai comprá-lo. É um presente. Acho que consigo viver
algum tempo com o que economizei. E não vá contar a Katie.
— Não contarei. Obrigada, Ken. E se você realmente vai fazer o que
eu disse com a sua pintura, vou guardá-lo como um tesouro.
— Acho que até vai ser uma surpresa para a sua querida tia. A que
ponto eu não sei, mas vai surpreendê-la.
— Por acaso você contou a Sharon sobre a exposição do sr. Caswell?
— Não! — Ken parecia surpreso.
— Gostaria de saber como ela descobriu.
— Bem, eu não contei — protestou Ken. — Eu sabia que Harry
estava mantendo segredo e Deus sabe que eu não quero que ele me
proíba de entrar em seu estúdio.
— Desculpe — disse Renée.

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Está tudo bem. Eu nem mesmo tenho visto Sharon. E se você


quer saber, ela era uma boa razão para que eu não fosse à festa em
Emerald. Eu teria que lutar contra o impulso de gritar e teria feito o
papel de tolo.
— Vamos tomar café — disse Renée.
— Espero ter alguma coisa para acompanhar o café.
Ken deixou que ela dirigisse na volta e, sendo tratado com mais
cuidado, o carro andou muito bem. Confirmando o que Katie dissera,
Ken era uma boa companhia, mas Renée achou que ele deveria ser
levado mais a sério por todo mundo, incluindo ele próprio. A vida dele
não tinha sido fácil; era filho único e ficara órfão ainda na
adolescência. A partir de então, começara a ir de um lugar para
outro, sem estudar, pegando qualquer trabalho que encontrava. Além
disso, ele sofrera de asma, que miraculosamente havia desaparecido,
segundo suas próprias palavras, "logo que comecei a pintar".
Quando Renée sugeriu que talvez fosse um mal psicológico, Ken não
discordou. Ela gostou dele e parecia que ele também tinha gostado
dela. Chegaram rindo à casa da fazenda, mas logo pararam quando
viram Sharon e Nick no jardim, conversando com Katie.
— Ah, meu Deus! — Ken parecia angustiado.
— Não se preocupe, você só tem que dizer olá e dar o fora. — Renée
tentou confortá-lo.
— Por que não consigo esquecê-la? Eu sou fraco, muito fraco!
— Pobre Ken!
Nick os estava olhando com indiferença, mas pareceu a Renée que,
para alguém sem qualquer envolvimento emocional, Sharon estava
positivamente lançando um olhar penetrante para Ken, e este havia
adotado uma atitude muito vivaz para encobrir seus verdadeiros
sentimentos.
— Olá! — A voz dele era alegre. — Renée é melhor do que ninguém
para apreciar os meus quadros!
— Verdade? Qual foi a sua reação, Renée? — perguntou Sharon, com
desdém.
— Como vai, Nick? — Renée olhou para Nick calmamente e então
respondeu à pergunta de Sharon. — Acho que Ken pode vir a
surpreendê-la.
— Vejam! Ela até mesmo examinou as condições da minha alma! —
comentou Ken.
— Duvido!
— Duvide ou não, nós nos divertimos muito, não é, Renée?
— É claro — respondeu ela, ciente da agonia que ele sentia, devido
ao olhar frio e insolente de Sharon. — Até mesmo ganhei um quadro
de presente.
— Vamos ver — sugeriu Nick.
— Vou pegá-lo no carro. — Ken afastou-se deles e voltou com o
pequeno quadro. — Renée gostou dele.

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Talvez ela apenas estivesse sendo educada — disse Sharon,


irritada.
— Não, Sharon, eu gostei realmente — corrigiu Renée.
— Então vamos olhá-lo com a luz certa — disse Katie, sem
demonstrar qualquer coisa com a expressão de seu rosto.
Todos foram até a varanda e Nick colocou a pintura sobre uma
cadeira, distanciando-se um pouco e ficando ao lado de Katie.
— Realmente, eu sempre achei que você poderia fazer algo tão bom
quanto este trabalho.
— Você gostou? — Ken estava nervoso.
— É bem mais expressivo do que tudo que você costuma pintar.
— Eu concordo com Nick. — Katie pegou o quadro, que representava
uma tempestade que se dissipava, e o examinou mais de perto. — Eu
não entendo, Ken. Se você pode pintar tão bem, por que perde tanto
tempo e energia com seu estilo comum?
— Eu nunca tive muito dinheiro em minha vida, portanto me
entreguei a um certo mercado. É uma sensação constrangedora não
ganhar dinheiro.
— Você só está usando isso como uma desculpa! — disse Sharon,
com a voz carregada de sentimento. — A verdade é que você é muito
preguiçoso para trabalhar sério. Este pequeno exercício intelectual é
uma exceção. Você precisa usar mais o seu talento.
— Ah, Deus! — Ken afastou-se dela e se jogou numa cadeira. — Que
megera você se tornou!
— Porque eu falei a verdade? — Sharon voltou-se para ele, furiosa.
Com seus olhos escuros, ela parecia magnífica e Renée podia ver que
Ken tinha consciência disso.
— Você não deve se importar com a crítica — disse Nick secamente.
— Se Sharon é incapaz de aceitar sua sinceridade e capacidade de
trabalho, eu acho que você deveria aceitar o desafio. Você não
morrerá de fome, eu posso financiá-lo até que você tenha trabalho
suficiente para fazer uma exposição séria.
— Como você pode confiar tanto? — perguntou Sharon.
— Eu acho que é uma sugestão maravilhosa! — gritou Renée, com
espontaneidade.
— Desculpe, Renée — disse Sharon —, mas eu acho que você não
entende muito disso.
— Na verdade, ela entende — interveio Katie e sorriu. — Realmente,
Nick, o que pode fazer um artista sem um protetor? Devo dizer que
esse quadro de Ken me surpreendeu, embora Harry já tivesse me
dito que ele estava desperdiçando talento.
— Eu não sei o que dizer, Nick! — Ken ainda estava sentado na
cadeira, parecendo chocado.
— É claro que você compreende que eu espero resultados.
— É só você me fiscalizar — Ken colocou a mão na testa, completa
mente deslumbrado.

Livros Florzinha - 53 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

A resposta de Nick foi um sorriso e Ken se levantou subitamente,


agarrou Renée e saiu rodopiando com ela pela varanda.
— Você parece um anjo, e é! Você me trouxe sorte. Até convenceu
Nick a me ajudar.
— Pare, você está me deixando tonta!
— Adoro você! — gritou Ken, e continuou rodopiando loucamente até
que Nick segurou Renée no momento certo e a manteve quieta, com
a mão sobre o ombro dela. Ela ficou parada, um pouco sem ar,
sorrindo e percebendo que Sharon estava contrariada por alguma
razão.
— Se você não se importa, Nick, eu preciso voltar! — disse Sharon,
jogando a cabeça um pouco para trás.
— Deixe-me levá-la — ofereceu Ken, aparentemente surpreendendo-
a. — Vou para o mesmo lado e soube por Renée que Nick vai ficar
para jantar.
— Vai? — A voz de Sharon explodiu, soando irritada.
— É claro que eu tenho tempo para levá-la para casa — respondeu
Nick suavemente, olhando, impassível, para Renée.
— Não se incomode! — Sharon respirou fundo, como que para se
acalmar. — Se Ken vai agora, ele pode me levar para casa. Eu não
posso dizer que sou tão solidária com ele quanto todos vocês, mas
posso aceitar uma carona.
— Você me julga mal, minha querida!
— Lembrem-se de que vão jantar conosco na quarta-feira! — O olhar
dela dirigiu-se a Katie e Renée. — Papai e Philip estão ansiosos por
isso.
— Tudo bem! — disse Katie.
— Vejo você amanhã, Nick — acrescentou Sharon, com fogo nos
olhos. — Obrigada pelas opalas. São maravilhosas.
— E combinam com você. — Nick sorriu. — Vejo você depois, Ken.
Telefone-me no fim da semana e combinaremos uma hora para
conversarmos seriamente.
— Muito obrigado, Nick! — Ken apertou com força a mão dele. —
Prometo que você não vai se arrepender.
— É o que espero — respondeu Nick, com moderada autoridade. Eles
ficaram em silêncio enquanto Ken ajudava Sharon a entrar no carro.
E então eles partiram, com Honey saindo do pomar e latindo para
eles.
— Não sei por que Ken disse que você iria ficar para jantar! — Renée
olhou para Nick.
— Pelo menos ele está certo quanto a nós jantarmos juntos.
— Quando você resolveu isso?
— No momento em que Katie me disse que queria ficar sozinha com
Harry.
— Eu não disse nada disso, querida. Mas se Nick quiser levá-la para
Emerald, você deve aceitar.
— Você não se importa?

Livros Florzinha - 54 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Que bobinha você é, Renée — disse Nick, gozando. — Katie e


Harry se viram bem.
— Acho que o que ele quer, mesmo, é começar a escultura —
murmurou Katie.
— E isso é bom, considerando que Harry tem se escondido da vida há
muito tempo. Mas haverá outras ocasiões e eu tenho certeza de que
você não se importa. Agora vou levar Renée para Emerald.
— Posso trocar de roupa? — Renée olhou para a sua calça branca de
algodão, tentando desesperadamente esconder o nervosismo.
— Se você quiser.
— Use o vestido verde — disse Katie. — Você fica bem com ele.

CAPITULO V

Quando eles chegaram a Emerald, a casa estava tranquila.


— Martha saiu para praticar uma de suas boas ações — explicou Nick.
— Uma amiga dela que acabou de sair do hospital precisa de ajuda
por alguns dias.
— E quem é que vai fazer o jantar?
— Desculpe, eu não lhe disse que seria você — disse ele, sorrindo.
— Então é melhor você não ser muito exigente.
— Não se preocupe. Eu vou ajudá-la, mas nós ainda temos tempo,
antes de começarmos a prepará-lo. Quero que você tenha uma idéia
melhor de como nós trabalhamos aqui. Tudo pareceu sair errado
outro dia. Nem Sharon nem Philip estavam interessados na vida do
lugar ou em ver cavalos. Você parece gostar.
— É um sonho! E todos esses lugares são maravilhosos.
— Suficientes para renunciar a cidade e a tudo que ela oferece? —
Nick ficou olhando para Renée com um brilho zombeteiro em seus
olhos claros.
— Tudo depende do que consideramos uma vida boa. Eu não me
sinto particularmente atraída pelas cidades grandes, embora tenha
vivido numa delas toda a minha vida. Tenho medo das multidões. Eu
só quero que elas se afastem de mim.
— E você está preparada para entregar sua vida a Simon? Estou
surpreso.
— Você acha que eu devia voltar e dizer-lhe que está perdendo
tempo?
— É a única maneira de você poder cuidar de sua própria vida —
disse ele.
— Você não tem admiração por mim, tem? — perguntou Renée. com
tristeza. — Eu acho que é fácil para um homem como você ficar
impaciente com a falta de capacidade das outras pessoas.
— E do que você não é capaz? — perguntou Nick. — Tire essa
máscara e olhe para mim.

Livros Florzinha - 55 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Talvez eu esteja com medo do que você vai ver.


— Tenho certeza de que não será a mesma pessoa de uma semana
atrás. — Ele colocou a mão sobre o ombro de Renée e a virou,
sentindo mais do que vendo a excitação dela. Essa noite ela tinha
deixado o cabelo solto. — O que você quer da vida, Renée?
— Eu quero ser eu mesma — respondeu ela, rapidamente, mantendo-
se firme sob o toque da mão dele. — Eu não quero ninguém me
dizendo o que vestir, como agir ou com quem devo me casar.
— Bem, isso não são... coisas pequenas.
— Mas são importantes. Algumas pessoas nascem para mandar e
outras nascem para obedecer. Durante toda a minha vida fui
mandada, agora eu quero ser livre para fazer minhas próprias
escolhas.
— Inclusive o homem com quem quer se casar, ou você está
entusiasmada com a liberdade total?
— Você não está? — Ela olhou para ele, com os olhos verdes mais
vivos por causa da cor do vestido.
— Estou querendo me arriscar, Renée. O problema é encontrar a
mulher certa para amar — disse ele suavemente.
Então me ame!, gritava-lhe uma voz interior, e isso a chocou. Esta
era uma coisa que ela nunca quis que acontecesse. Ela não
conseguiria lidar com algo tão complicado, tão exigente como o amor,
e aí estava a real confusão, pois seu corpo estava se negando a
seguir sua mente.
— Vamos sair? — perguntou Renée, quase sem ar. — Já está quase
escurecendo e nós ainda temos tanta coisa para ver.
— Claro — concordou ele, mas pelo tom de voz parecia que estava
rindo dela.
Por quase uma hora eles passearam por Emerald e Nick respondeu
detalhadamente a todas as suas perguntas. Foi divertido. Os
empregados foram muito simpáticos e notaram que Renée não
somente era uma mulher bonita como também gostava realmente de
cavalos.
Quando eles voltaram para a casa, ela estava calma e sorridente, e
Nick levou-a para a cozinha e lhe ofereceu um avental de Martha.
— Vamos tentar fazer algo simples — disse ele suavemente. E como
ela estava tentando, com dificuldade, amarrar o grande avental sobre
seu vestido de jérsei verde, Nick sorriu.
— O que nós vamos fazer? — perguntou Renée. — Katie já me
deixou preparar uma salada.
— Então, para começar, faremos uma salada. Acho que con-
seguiremos fazer algo de bom. Que tal uns bifes grelhados, e ali
temos algumas batatas. Coloque-as para cozinhar antes de fazer a
salada.
— Pois não, chefe! — Renée imitou muito bem a voz de um menino.
— O que você acha de um drinque para tornar a tarefa mais fácil?
— Está bem, só um — disse ela. — A sua cozinha é bem grande.

Livros Florzinha - 56 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Aqui é o domínio de Martha. Como você sabe, eu gosto de dar


festas, e por isso tenho que deixar Martha feliz.
— Muitas mulheres achariam isso um sonho, mas eu estou
percebendo que não sei onde estão as coisas.
— Eu não lhe disse que a ajudaria?
E ajudou, dizendo, às vezes, coisas engraçadas que a deliciaram,
porque isso não combinava com a sua imagem de autoritário. Foi
Renée quem preferiu jantar no terraço dos fundos, porque era
maravilhoso poder ver as estrelas, tão grandes e-brilhantes que a
deixavam com falta de ar. Mas foi o rosto bronzeado de Nick que
seduziu seu olhar.
Sob a luz suave das estrelas, ele parecia muito entusiasmado e
dominador. Sua camisa de cor pálida desabotoada mostrava o peito
bronzeado, seus olhos eram quase da cor das estrelas e tinham a
mesma magia delas. Agora a conversa entre eles não era
inconsequente. Renée era uma mulher inteligente e ouvia com
atenção o que Nick lhe dizia sobre a sua preocupação com relação
aos direitos dos indígenas, sem os quais a família dele não teria
conseguido vencer o desafio de construir aquela grande cidade. Ainda
hoje seus principais ajudantes eram indígenas. Os "peritos" eram
homens brancos, mas os trabalhadores braçais e os excelentes
tratadores de cavalos eram descendentes dos "jacky-jackys".
— Eu conseguiria ouvir você falar eternamente — disse ela.
— Uma conversa muito séria para esta noite — disse ele, rindo. —
Vamos entrar. Você quer tomar café?
— Você faz o café enquanto eu tiro a mesa.
— Nossa sorte é que temos a máquina de lavar louça de Martha! —
Ele se levantou e deu a volta na mesa para puxar a cadeira de Renée.
— É melhor irmos. Posso elogiá-la pela excelente salada?
— Acho que a aparência tem muito a ver com isso.
— Você é realmente bonita — disse Nick repentinamente.
— Obri... obrigada. — Renée estava novamente gaguejando. Durante
toda a refeição, ela havia se divertido muito e ele nunca a havia
olhado daquela forma. Nick deixava-a embaraçada. Quando ele se
afastou, ela tomou um grande gole de vinho, como se isso fosse
ajudá-la a ficar mais confiante, ao invés de tão vulnerável.
Eles tomaram café na biblioteca e Nick mostrou-lhe os diários da
família, deixando que ela os pegasse na mão.
— Você vem de uma família de pessoas fortes e determinadas, não
é?
— Você está certa ao pensar que eu consigo tudo o que quero. Renée
riu novamente e respirou fundo.
— Eu imagino que você consegue.
Nick tirou os diários das mãos dela e os colocou sobre a escrivaninha.
— Venha aqui — disse ele, pegando-a pelo braço e levando-a para
um sofá de veludo.

Livros Florzinha - 57 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Acho que está na hora de ir para casa, Nick. — Ela mal conseguia
falar.
— Mais tarde eu a levo para casa.
Renée estava tremendo. Ela não tinha nada para dar a um homem e
logo ele iria perceber isso.
— Por favor, Nick, está ficando tarde! — Ela estava sendo levada pelo
pânico.
— Pare de tremer — disse ele, demonstrando também um pouco de
tensão. — Você já me atordoou por bastante tempo.
— Não, eu nunca quis fazer isso! — Sua voz estava fraca, e ela
tentou afastar-se, levantando inconscientemente a cabeça para
desafiá-lo.
— Seus olhos dizem a verdade!
Agora ela tinha sido descoberta. Nick tomou-a em seus braços e
dirigiu-se para o sofá, com um movimento curioso e gracioso.
— O que você espera, se você me provoca?
— Por favor, Nick!
— Você não pode deixar de perceber que eu quero beijá-la.
— Mas eu sou fria... frígida... um gelo!
— Você não é nada disso — murmurou ele. — Você é muito bonita.
Tão bonita!
— Você não sabe, Nick. É impossível você saber.
— Beije-me, eu preciso que você me beije.
Rapidamente, Renée atendeu ao pedido dele. Desde a primeira vez
que ela o vira, novas forças tinham entrado em ação. Agora ela tinha
que aceitar as consequências, tremendo, enquanto Nick a trazia para
mais perto de si e a abraçava com força, acariciando seu cabelo.
Quando ele encostou seus lábios sobre os dela, Renée ficou tensa,
quase chocada, por causa do contato íntimo.
— Renée! — A respiração dele a atingia como incenso e sua mão
tentava acalmá-la.
— Não posso, Nick — sussurrou ela, horrorizada com o que sentia.
— Tenho certeza de que você pode.
A voz dele parecia vir de muito longe e ela era incapaz de controlar o
que estava acontecendo. Nick apoiou-a um pouco em seu ombro para
poder beijá-il por todo o rosto e pescoço, provocando-a suavemente,
de forma que ela não conseguia relaxar, apesar de estar nos braços
dele.
Era bonito e terrível, a boca dele movendo-se por sobre sua pele. Se
Nick tocasse seus seios, ela morreria. Mas ele não o fez; continuou
beijando-lhe o rosto, o pescoço e orelhas, e Renée o apertou
convulsiva mente.
— Beije-me! — Ela nunca tinha pedido tal coisa em toda a sua vida.
Quando ela passou os braços em volta do pescoço de Nick, sentiu o
estremecimento do corpo dele e então abriu os lábios,
instintivamente, querendo sentir aquela excitação da mesma forma
que a temia.

Livros Florzinha - 58 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Ame-me! — Ela tinha dito isso, ou estava apenas pedindo com o


seu corpo, abraçada a ele, tentando desesperadamente satisfazer seu
desejo?
— Eu quero!
Ela deve ter pedido, porque ele correspondeu, e então ela sentiu,
pela primeira vez, toda a força de uma paixão.
Renée queria chorar ao mesmo tempo que queria tocá-lo. Ela passou
a mão pelo peito dele e fechou os olhos com força. Tudo nele a
estava deixando cega de desejo. Ela não tinha idéia do que estava
fazendo, tudo estava indo tão depressa...
Quando Nick, de repente, se afastou dela, Renée protestou, sentindo
seu corpo incendiado. Os olhos verdes brilhavam de desejo.
— Eu nunca conheci uma mulher como você — disse ele, tirando as
mãos dela de seu pescoço.
— Eu ainda sinto seus lábios nos meus — sussurrou ela.
— Eu sei. — Ele se afastou um pouco e a levantou, ajeitando-lhe o
cabelo, segurando-a com firmeza. — Para que você não me odeie
amanhã de manhã, vou levá-la para casa agora!
— Não era uma brincadeira, era, Nick? — Ela inclinou sua cabeça
contra ele, como se estivesse desesperada para saber.
— Pareceu uma brincadeira?
— Foi algo que nunca senti durante toda a minha vida! — Havia uma
certa dor em sua voz, mas ela ainda estava dominada pelas emoções.
No carro. Renée ficou em silêncio, agora consciente, porque ele tinha
voltado tão rápido ao normal.
— Não se envergonhe pelo que aconteceu, Renée — disse Nick,
secamente.
— Acho que nunca mais vou poder encarar você de novo.
— E isto ajudaria? — Ele deu um leve sorriso.
— Por favor, Nick. Será que você não percebeu que eu não quero me
envolver?
— O que você quer dizer? — perguntou ele, demonstrando um pouco
de cinismo. — Você está imaginando que eu posso forçá-la a se
tornar minha amante?
— Oh, Nick, por favor! — Os olhos dela se encheram de lágrimas.
— Vocá é tão estranha, Renée! — Ele estava com os olhos fixos na
estrada. — Uma pantera de olhos verdes e uma vestal virgem. Tenho
que levar você de volta para o meu divã como paciente. E não se
engane achando que você não sabe como corresponder a um homem.
Depois de hoje à noite, você pode se sentir feliz e jogar essa idéia
pela janela.
— Eu nunca...
— Acho que teria estrangulado você se você tivesse feito isso com
outro.
— Então, por que você me beijou? Porque achou que seria uma boa
terapia?

Livros Florzinha - 59 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Talvez eu quisesse isso desde que a vi na cidade. Eu nunca tive


preferência pelas loiras.
— Engraçado! — respondeu ela, com amargura.
— Não perca seu senso de humor.
— E Sharon? Por acaso você está dando suas últimas sai-dinhas
antes de se casar? — Ela olhou para ele, sentindo novamente um
grande desejo.
— Como você é engraçada! Você está sendo masoquista. — Seus
olhos brilharam, divertidos.
— Desculpe, eu sou mesmo. — Renée afastou o olhar, en-
vergonhada consigo mesma. — Eu vou até mandar-lhe um presente
de casamento.
— Obrigado. Eu até estou pensando realmente em me casar. Apenas
depois, sozinha em seu quarto e sem conseguir dormir,
Renée encontrou coragem para encarar seus sentimentos por Nick.
Ela queria chamar isto de fascinação, mas a resposta era tão fácil!
Além da violenta exaltação que ele lhe despertara, algo de muito
profundo começava a surgir dentro dela. Ele era um homem forte,
racional, inteligente, tinha princípios e era progressista.
Olhando para as estrelas, com o vento levantando sua camisola,
Renée reviveu todos os momentos que passara nos braços de Nick.
Desde o primeiro momento que ela o vira, soubera por instinto que
ele afetaria sua vida.
No jardim, as palmeiras estavam balançando e isto lhe deu uma
sensação de vertigem. Tinham acontecido muitas coisas naquela
noite e talvez ela fosse castigada por isso. Nick a tinha ensinado da
maneira mais cruel e esquisita que ela era mulher, com todas as
necessidades de uma mulher.
Naquela noite Renée dormiu inquieta, pois todos os seus sonhos
estavam voltados para Nick. Chegou até a acordar uma vez, certa de
que podia sentir a pressão dos lábios dele. Nick parecia estar ao lado
dela e Renée até mesmo procurou-o com a mão, mas era óbvio que
ele não estava lá. Ela sabia perfeitamente bem que Nick não a
amava, mas, de qualquer forma, ele tinha se decidido a ajudá-la.
Uma coisa era certa: depois de tal transformação emocional, ela não
aceitaria mais as ordens de seus pais. Simon a tinha feito acreditar
em coisas que simplesmente não eram verdadeiras e a aceitar sem
discutir, a opinião dele de que ela era frígida, porque nunca tinha
conhecido o desejo antes de encontrar Nick. Agora ela estava
surpresa com sua descoberta, mas ao mesmo tempo sabia que isso a
poderia deixar muito infeliz. Mesmo que Nick qiusesse cuidar dela,
Sharon certamente não iria deixar que Renée os afastasse. Sharon o
adorava e já o havia esperado por muito tempo.

De manhã, Renée estava pálida e quieta, mas isso aparentemente foi


bom para Harry Caswell. Katie levou a sobrinha ate o estúdio de
Harry, tomou um café e depois foi embora, prometendo voltar na

Livros Florzinha - 60 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

hora do almoço. Seu trabalho a estava esperando e, além disso,


Harry não iria deixar de maneira alguma que Katie ficasse.
O estúdio era separado da casa simples de madeira e ficava logo no
fim do jardim, rodeado por árvores floridas. Harry deixou que Renée
andasse por ali à vontade, observando as prateleiras cobertas de
cerâmicas e peças maravilhosas. A sala inteira parecia uma bagunça
organizada, com flores coloridas de plástico, latas de tinta, pincéis,
jarras, vasos, potes, livros empilhados e espalhados por cima da
mesa, e, no fim da sala bem iluminada, uma maravilhosa escultura
de bronze de uma mulher segurando o cabelo para trás.
— Que maravilha! — Renée parou em frente à escultura. Era em
tamanho natural, colocada em um pedestal, um rosto lindo e um
bonito corpo nu. Não era uma figura sensual, nem idealizada, mas o
suntuoso retrato de uma ninfa.
— É minha esposa — disse Harry, quase sem voz.
— É linda!
Por alguns segundos, Harry ficou em silêncio.
— Ela costumava posar para mim. Esta é a minha melhor obra, a
única. Eu nunca me desfarei dela.
— Ela parece tão jovem!
— Vinte e três anos, nessa época. Eu fiz essa escultura no início do
nosso casamento. Ela faleceu antes de completar quarenta anos.
— Sinto muito, Harry. — Rente olhou para ele. — Você deve ter
sofrido muito.
— Foi horrível, tanto física quanto emocionalmente, mas Beth me
incentivava muito. Quase no fim, ela ainda era a mais forte. Eu nunca
a esquecerei.
— E ela está aqui.
— É claro que está! — exclamou Harry.
— Eu entendo como você se sente, Harry. — As palavras vieram
rápidas quando ela, instintivamente, quis consolá-lo.
— Como você pode entender? Você é tão jovem! Você não sabe o
que é sentir-se sozinho e desolado. Quando Beth morreu, eu também
morri. É isto que a gente sente.
Quase sem perceber, Harry se aproximou da escultura e acariciou o
rosto e o lindo contorno dos lábios.
— Beth era uma artista por vocação, mas ela desistiu de tudo por
minha causa. Sempre me dizia que eu tinha mais talento do que ela e
por isso ficava feliz em me ajudar, mas ela morreu.
Renée aproximou-se e, então, pegou-o pelo braço.
— Mas você teve um grande amor. Isso não acontece com todo
mundo. Beth gostaria de vê-lo feliz e tenho certeza de que ela
também gostaria de ver você continuando seu trabalho.
— É o que faço, de certa forma. Foi fácil voltar para a cerâmica, mas
esculpir sempre foi a minha grande paixão. Katie está sempre me
atormentando para que eu volte a esculpir. Ela é uma mulher
maravilhosa. Tenho sido abençoado com a amizade dela.

Livros Florzinha - 61 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Mas ela quer mais, pensou Renée, sentindo vontade de ajudar Katie.
Entretanto, naquele gesto simples, mais do que em suas palavras,
Harry havia revelado o profundo sentimento que ainda tinha por sua
falecida esposa.
Harry afastou-se repentinamente da escultura.
— Bem, tudo isso deve ser muito deprimente para você e não quero
que seja assim. Eu vivia feliz quando não tinha essas lembranças tão
dolorosas, e o mais incrível é que você, a sobrinha de Katie, me deu
uma nova inspiração. Seu rosto é maravilhoso, muito sensível e
confiante. E quanto ao seu cabelo, acho que vou esculpi-lo em volta
do pescoço. Ele flui naturalmente sobre o contorno de sua cabeça.
Sente-se naquela cadeira.
— Nesta? — Renée tirou algumas revistas.
— Sim. — Harry estava moldando um pouco de cera nas mãos. — Eu
quero que esta seja uma imagem poética, mas forte. Há delicadeza
em seu rosto, mas também há uma força iatente. Esse seu queixo é
maravilhoso... — Da dor e da tristeza, a voz dele tinha ido para um
tipo de exaltação profissional. — Agora, quando você se aborrecer,
grite!
O tempo passou e Harry nem percebeu que Renée tinha afundado na
cadeira. Ela havia dormido tão pouco que suas pálpebras estavam
pesadas. Agora ela observava a expressão dele, o brilho nos seus
olhos, o ar de aprovação. Harry não falava com ela e Renée também
não devia falar com ele.
Quando Harry falou, ela quase caiu da cadeira por causa do susto.
— O quê?
— Eu disse que você é unia ótima garota, mas não vou deixar que
durma aí.
— Desculpe, mas eu não dormi bem esta noite.
— Por quê? — Harry pegou um pedaço de pano.
— Problemas. Não consigo me livrar deles.
— Não fuja deles! — Harry olhou para ela. — Eu fugi.
— Posso ver? — perguntou ela.
— Ainda não. Você terá que posar mais algumas vezes.
— Ficarei muito orgulhosa! — Renée levantou-se e se espreguiçou.
Harry sorriu ao ver sua pose graciosa e impensada. — Agora você
promete que vai me mostrar suas peças de exibição?
— Katie gosta delas. — Em contraste com seu humor anterior, Harry
parecia feliz e calmo, obviamente cheio de ideias na mente. — Veja,
não é o carro velho dela?
Renée riu e foi até a porta aberta do estúdio.
— Realmente, ela precisa de um carro novo. Mas desta vez tem que
ser um automático, pois a embreagem desse está com-pletamente
estragada.
— Falando de maus motoristas, Ken Thomas deve muito a você. — A
Nick, com certeza. — Renée parecia surpresa.

Livros Florzinha - 62 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Nick não teria feito isso se você não tivesse querido ajudar Ken.
Lembre-se, ele tem talento e Nick sabe como tirar proveito de todos,
mas você também fez o seu papel.
Harry também foi até a porta e os dois foram se encontrar com Katie.
Durante o almoço, Harry e Katie conversaram longa e en-
tusiasticamente sobre seus trabalhos, uma conversa interrompida por
algumas discussões, mas muito satisfatória para ambos. Renée ficou
sentada calmamente, prestando atenção, enquanto Harry gesticulava
muito e Katie se esquecia de comer para esperar o momento de
expor a sua opinião.
Olhando amorosamente para a tia, Renée imaginava se Harry sabia o
quanto ele dependia de Katie. Além de alimentá-lo várias vezes por
semana, Katie dava a palavra final em todas as ideias dele. E era
óbvio que Harry respeitava suas opiniões, apesar de ela, às vezes, ter
que lutar para que ele a ouvisse. Em tudo eles eram o par ideal, e
alguma coisa dizia a Renée que dentro em breve Harry deixaria o
passado de lado e procuraria uma vida nova...

— Foi um dia ótimo! — disse Katie, enquanto elas voltavam para a


fazenda. — Você percebeu como ele estava feliz?
— Tudo se resolverá na hora certa — disse Renée, sorrindo. — O que
você quer dizer com isso? — Katie ficou corada.
— Acho que Harry não demorará muito para perceber que não pode
viver sem você.
— Querida, eu já lhe disse que ele não pensa em se casar.
— Então faça-o pensar no assunto! — disse Renée. — Você não está
tentando tomar o lugar de Beth, você é você. Um novo capítulo na
vida dele.
— Então ele lhe falou de Beth?
Renée balançou a cabeça, sabendo que não podia abalar a confiança
de Katie.
— Ele disse muito pouco. Eu reparei na escultura, e Harry me disse
que era de sua esposa.
— Pelo amor de Deus, como eu poderia competir com ela?
— Você está aqui, Katie — observou Renée. — E você é uma pessoa
muito especial.
O jantar na casa dos Russel foi cancelado no último instante porque
Cy foi chamado inesperadamente para ir a Brisbane. Renée atendeu
ao telefonema de Sharon e elas conversaram amigavelmente e
marcaram outra data.
Mas na tarde seguinte Philip apareceu na fazenda, quando estava
voltando para casa, e convidou Renée para ir à primeira apresentação
de uma peça de uma companhia local.
— Qual é a peça? — Renée sorriu com doçura, pois ele parecia muito
ansioso.
— Hedda Gabler.
— Céus! E uma peça muito difícil.

Livros Florzinha - 63 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— É verdade, mas eles realmente são bons. Hedda será


representada por uma professora da escola local. Ela é peque-nininha
até que esteja no palco. Honestamente, com a maqui-lagem ela pode
até mesmo parecer terrível. Você verá?
— Eu adorarei. — Não era totalmente verdade, mas Philip lhe
inspirava simpatia.
— Espero que você goste! — Com sua roupa tipo safári cor creme,
Philip ficava muito bem e havia um sorriso em seus lábios, como se
ele estivesse se desculpando. — É claro que todos nós nos
conhecemos, portanto não somos muito críticos, mas acho que você
gostará da apresentação. Ultimamente, representar tem sido uma
das minhas fugas. Eu fui o protagonista em nossa última peça, The
Anniversary. No final eu me suicido.
— Então, talvez tenha sido melhor eu não ter visto — disse Renée,
sorrindo. — Você se transforma muito?
— Eu me entrego ao papel. Virei buscá-la às sete, isso nos dará
bastante tempo para acharmos nossos lugares. Cumprimente Katie
por mim.
— Está certo. — Renée acompanhou-o até o carro. — Obrigada pelo
convite.
— Eu estava desesperado para arranjar uma desculpa para vê-la! —
Os olhos que a admiravam eram insistentes. — Ah, por falar nisso,
todos se vestem a rigor. Você sabe, o elenco se sente melhor.
— Prometo que você não sentirá vergonha de mim.
— Jamais! — Por um momento ele passou os olhos pelo rosto, pelo
corpo dela, depois entrou no carro. — Até logo, Renée!
Ela sorriu e se afastou, olhando o carro até que desaparecesse. Então
Honey apareceu e cutucou-a com uma velha bola de ténis que
segurava na boca. Renée jogou a bola em direção às mangueiras.
Ela já estava quase pronta quando Katie a chamou para atender ao
telefone.
— É sua mãe, querida. Você precisa falar com ela.
— Eu sei. — Renée afastou-se da penteadeira e seguiu Katie pelo
corredor, pegando o fone e sentando-se ao mesmo tempo.
— Olá, mamãe.
Katie afastou-se, com o rosto preocupado, mas Renée acenou para
que ela voltasse. Sua mãe deixou bem claro que estava
extremamente aborrecida com a filha por causa de seu
comportamento.
— Estou lhe avisando que vou até aí! — gritou Alice.
— Por favor, mamãe, deixe-me falar — interrompeu Renée.
— A ultima coisa que eu quero fazer é irritá-la ou fazê-la infeliz, mas
resolvi que é impossível casar-me com Simon. Eu não o amo.
A resposta de Alice fez com que Renée corasse e levantasse a cabeça
para olhar nos olhos de Katie.
— Bem, se Simon está aí, eu falarei com ele.

Livros Florzinha - 64 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Ah, querida! — Katie estava tremendo e ficou ao lado de Renée,


apertando as mãos.
— Olá, Simon! — disse Renée ao telefone. Ela ficou calma enquanto
Simon falava, mas aos poucos ia se tornando mais pálida. — Eu
tenho que ficar aqui... não, não é uma questão de me decidir. Eu não
o amo, Simon... Você está me fazendo sentir-me muito magoada...
Não me interessa o que minha mãe diz... Você tem sido paciente! —
Ela deu uma risadinha cética. — Posso lembrá-lo de que esta é a casa
de minha tia...
— No momento em que Katie ia lhe tirar o fone, Renée deu uma
gargalhada e bateu o telefone...
— Quero saber o que ele disse! — disse Katie, exaltada. — — Ele
disse que vem para cá.
— Deixe que venha, mas ele não ficará aqui!
— Não se irrite, Katie. — Renée podia perceber a irritação no rosto da
tia. — É muito triste, mas eu nunca conseguirei me comunicar com
minha mãe.
— E eu vou lhe dizer por quê — disse Katie, com veemência.
— Alice nunca ouviu ninguém. Eu vou escrever para ela... ou melhor
ainda, vou até Sídnei.
— Você não fará isso! — Renée levantou-se e colocou a mão no
ombro de sua tia. — Esta briga é minha, Katie, e eu não vou desistir.
Amo minha mãe, mas não vou deixar que ela conduza minha vida.
Sei que a deixei pensar que eu faria o que ela decidisse, mas não vou
me casar com Simon. Ele não me diz nada, e eu estou livre das
zombarias dele.
— Zombarias? — perguntou Katie, ansiosa. — O que ele poderia ter-
lhe dito?
— Que eu sou uma estátua que, entre outras coisas não quer gozar
a vida. — Por nada no mundo ela teria mencionado as coisas brutais
que Simon dissera.
— Ele deve ser louco! — disse Katie. — Ele não colocará os pés nesta
fazenda. Vou pedir a Nick que o expulse daqui, se ele aparecer.
— Por favor, Katie, não diga nada a Nick. Eu não quero que ele me
considere uma pessoa completamente desprezível. Vou resolver isso
à minha maneira. Além do mais, Simon não poderá vir antes do fim
de semana porque o pai precisa mais dele do que ele de mim.
— Meu Deus! — Katie olhou para o espelho sem ver.
— Esqueça isso! — Renée voltou para o quarto. — Eu ainda não
acabei de me vestir. Que tal estou?
— Adorável! Uma loira realmente fica bem de preto e esse vestido de
chiffon salpicado com dourado é maravilhoso.
— Não é muito sofisticado?
— Bem, eu acho que você está acostumada a ser observada, mas
todas as pessoas estarão a rigor. Com certeza você encontrará Nick e
Sharon. Nick tem que frequentar esses lugares, quer ele goste, quer
não. Tudo isso faz parte das obrigações de um Garbutt: dar incentivo

Livros Florzinha - 65 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

e o exemplo. Harry e eu normalmente vamos a algumas


apresentações.
— Philip me disse que foi o protagonista da última apresentação.
— Acredite ou não, ele se saiu muito bem. Philip é um jovem
bastante curioso, é um amontoado de repressões, mesmo quando
entra em cena. Eu realmente não gosto que você saía com ele.
— Céus, Katie. — Renée ficou surpresa.
— Não se mostre muito gentil com Philip, querida — disse Katie, com
seriedade. — Ele pode entender de outro modo.
— É claro que não! — Por dentro ela estava tão assustada pelo
pensamento de ver Nick de novo que não poderia pensar seriamente
em Philip,
— Acho que ele já se imagina apaixonado por você.
No jardim, Honey estava latindo, uma indicação certa de que alguém
estava chegando. Assim, Renée pegou sua carteira e foi em direção à
tia.
— Eu lhe prometo que não direi ou farei nada que possa ser mal
interpretado.
— É a melhor coisa — disse Katie, sorrindo. — Mas eu acho que você
não compreende a extraordinária atração que exerce sobre os outros.
Talvez isso tenha algo a ver com sua educação.
— Não me fale nela! — Renée beijou a tia no rosto. — Vamos deixar
de lado o assunto sobre mamãe e Simon. Quero me divertir esta
noite.
Quando ela abriu a porta, o olhar de Philip embaraçou-a.
— Você está linda!
Era uma frase que ela ouvia frequentemente, mas nunca com tanto
fervor.
— Obrigada.
— Como vai, Katie?
— Bem, obrigada. Vão e divirtam-se. Espero-os para jantar. Por um
segundo, Philip pareceu confuso.
— Muito obrigado, Katie, mas eu reservei uma mesa no Carlo's.
— Tudo bem, só peço que não cheguem muito tarde. Renée tem que
ir até o estúdio de Harry pela manhã, porque ele está trabalhando em
uma escultura dela. Espero que ela lhe conte sobre isso.
No carro, Renée escondeu um sorriso de divertimento. Não era do
feitio de Katie comportar-se como "titia", portanto ela deveria ter
notado algo em Philip que Renée não via.
A caminho da cidade. Philip comentou sobre sua participação no
teatro amador e seus sucessos anteriores, por isso não havia
necessidade de Renée empenhar-se em falar. Discorrendo sobre o
que gostava, Philip parecia outra pessoa e não o jovem amargurado
que ela tinha conhecido na festa.
Eles não tiveram dificuldade em encontrar um bom local para
estacionar perto do antigo teatro, que agora era usado para outros

Livros Florzinha - 66 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

propósitos. Somente quando já estavam sentados em seus lugares é


que Philip falou:
— Nick nos deixa usá-lo, embora ele ainda seja dono da propriedade.
O dinheiro dos Garbutt iniciou esta cidade e trouxe os colonos.
Acredito que você saiba que ele ainda é dono da maior parte de tudo
aqui.
— Pelo que eu tenho visto e ouvido, ele é muito generoso com o
próprio tempo e o seu dinheiro.
Renée virou-se na poltrona para olhar em volta. As paredes tinham
sido pintadas recentemente de verde-claro, e as cortinas verde-
esmeralda pareciam suntuosas. Até mesmo as poltronas eram
confortáveis, embora algumas delas rangessem um pouco. Quinze
minutos antes de as cortinas se abrirem, a sala já estava bastante
cheia e nos últimos cinco minutos o afluxo de público foi maior. Nick
chegou com Sharon, que estava usando um vestido amarelo,
segurando no braço dele e com os olhos procurando algo e parando
em Renée e Philip.
Ela acenou e Renée respondeu, tremendo tanto por dentro que
parecia estar sendo agredida. Como ela poderia suportar quando Nick
se casasse com Sharon? Só aos poucos Renée percebeu que Philip a
encarava.
— Qual é o problema? — perguntou ele.
— Como assim? — ela conseguiu finalmente dizer.
— Você está esquisita. Está distante.
— Estava pensando. Recebi um telefonema de casa antes de sair.
— Espero que não sejam más notícias. — Philip se aproximou dela,
preocupado.
— Ah, não!
Renée viu Nick e Sharon sentarem-se algumas fileiras à frente deles
e, de repente, tudo parecia opressor, o ar e a multidão. Depois
daquele primeiro minuto, Nick nem mesmo olhou para o lado dela e
isso a aborreceu, fazendo-a sentir-se abandonada. Se pelo menos
nunca o tivesse encontrado... Sentia que não conseguiria esquecê-lo.
A peça, a roupagem e a atuação eram tão boas que Renée começou a
respirar novamente. Não era a primeira vez que ela assistia à peça,
mas a professora da escola local era muito boa para desempenhar o
papel de Hedda, uma mulher com niuita força de vontade e inflexível.
Ao final do primeiro ato houve um curto silêncio, antes de os
aplausos explodirem. Philip olhou de lado para Renée, com uma
curiosa mistura de súplica e apreensão nos olhos.
— Alguma coisa a está inquietando, não é?
— De certa forma, eu acho que é a peça! — Ela olhou Para o
programa que estava em seu colo. — A srta. Grayson é muito boa.
— É, sim. Eu acho que ela está desperdiçando talento com o teatro
amador. O desempenho de Tesman já não foi tão bom. O que você
acha?

Livros Florzinha - 67 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Renée respondeu qualquer coisa, tentando desviar os olhos de Nick.


Era insuportável vê-lo com Sharon. Ela percebeu que não deveria ter
aceito o convite de Philip. Ele a estava olhando com tanta curiosidade
que foi um alívio quando as cortinas se abriram novamente. A força
de suas próprias emoções aumen-tava a dramaticidade da peça.
No final da noite, Renée estava realmente angustiada. Mes-mo assim
ela aplaudiu, como todo mundo, até que as palmas de suas mãos
estivessem vermelhas.
— Vamos até os bastidores cumprimentar o elenco — disse Philip,
segurando-a pelo braço e guiando-a através da multidão.
Philip não lhe deu chance de resistir. Quando eles chegaram aos
bastidores, Nick estava beijando o rosto da professora, di- zendo-lhe
qualquer coisa que a fez rir muito.
Renée não podia voltar. Não lhe era possível fazer outra coisa a não
ser deixar Philip feliz, conhecendo e cumprimentando seus amigos.
Vista de perto e com uma maquilagem verdadeiramente profissional,
Thea Grayson, que havia feito: o papel de Hedda, era uma garota
feiosa. Isso foi um choque para Renée, pois no palco ela parecia
bonita. Mas apesar de ser uma ótima atriz, ela não conseguia
esconder seu interesse por Philip, com os olhos azuis brilhando
constantemente quan- do olhava para o rosto dele.
— Você vai à festa, não vai? — Ela ficou ao lado de Philip, olhando
incerta para Renée. — Vocês dois, é claro.
— Sinto muito. — Renée não conseguia parecer alegre quando se
sentia a ponto de chorar. — É muito gentil da sua parte me convidar,
mas eu tenho um compromisso amanhã cedo.
— Ah, que pena! — Thea procurou parecer animada. — Talvez você
possa levar a srta. Dalton para casa e depois voltar. — Os olhos dela
se fixaram no rosto de Philip.
— Não esta noite! — O tom de voz de Philip não era muito educado e,
ao ouvi-lo, Sharon se aproximou.
— Ah, vamos, mesmo que seja só para jantar. Você disse que iria,
Pip!
— Desculpe, mas Renée está com dor de cabeça.
Se antes ela não estava, acabou ficando, pois Nick se juntou a eles.
— Olá! — disse ele, olhando para Renée. — Não me diga que a peça
aborreceu-a.
— Eu a apreciei mais do que ninguém. — Ela procurou sorrir
educadamente, ciente da leve hostilidade que havia nele.
— Olá, Philip — ele cumprimentou-o friamente.
— Boa noite, Nick. Você vai à festa?
— Não vamos todos? — Ele olhou para Renée. — Acho que você vai
gostar.
— É claro, vamos, não seja desmancha-prazeres! — Havia um tom de
provocação no sorriso charmoso de Sharon.
— É que eu não estava esperando — disse Renée, e sorriu para Thea
desculpando-se. — Se você me aceitar, gostaria de ir.

Livros Florzinha - 68 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Ótimo! — Thea estava visivelmente alegre. — Vou tirar a


maquilagem.
Quando Renée finalmente voltou para a fazenda, a luz do quarto de
Katie estava acesa. Eles haviam ficado na festa mais de uma hora,
que parecera muito longa a Renée, pois Nick estava tão frio e mordaz
que ela poderia tê-lo esbofeteado ou desatado a chorar. Quando ele a
convidara para dançar, a princípio Renée havia recusado, mas ele a
puxara como se quisesse machucá-la, dizendo-lhe claramente que ela
não se envolvesse com Philip, mesmo que por compaixão.
E não era compaixão o que Philip queria de Renée, como provara no
carro, segurando a cabeça dela com ambas as mãos e beijando-a na
boca, antes de deixá-la ir.
— Perdoe-me, mas eu não pude me conter!
Ela gostaria de ter lhe dito que aquele beijo não representava nada,
mas ele ligara o carro imediatamente, dizendo que lhe telefonaria.
—Você chegou tarde — disse Katie, tirando os óculos de leitura.
— Houve uma festa depois da apresentação.
— Eu deveria ter previsto. Você não parece feliz.
— Eu não posso fingir para você, Katie. Você estava certa quanto a
Philip. Acredito que ele me ache atraente.
— Ele leva tudo muito a sério.
— Nick estava lá. — Renée tirou os brincos como se eles a estivessem
incomodando. — E Sharon também.
— É claro! — Katie socou o travesseiro. — Acho que você se
apaixonou por ele.
— Seria difícil não me apaixonar. Mas esta noite ele agiu como se
nem mesmo gostasse de mim.
— Como assim?
— Como você, ele me preveniu sobre Philip. Há alguma coisa com
Philip que eu não sabia?
— Depois da morte da mãe, ele teve uma espécie de colapso nervoso
e talvez esteja sujeito a outros. Eu sei que Cy estava muito
preocupado com ele e Nick lhe deu um bom emprego para ajudá-lo.
Não que eles tenham se esforçado em vão, Philip melhorou bastante,
mas eu não acho que ele tem uma personalidade forte. Pela maneira
como Philip fala do pai, pode-se imaginar que ele seja um tirano, mas
Cy é um bom homem e tem procurado fazer o melhor por seus filhos.
— Eu não posso deixar de ter pena dele — disse Renée. — Tenho
certeza de que aquela garota que representou Hedda está apaixonada
por ele.
— Thea? — Katie pegou um copo de água e tomou um gole,
colocando-o de volta na mesa. — Você me assusta.
— Ela olhava para ele com o coração nos olhos! — disse Renée, e
depois beijou Katie na testa. — Vou para a cama. Eu deveria ter
vindo mais cedo. Nick e eu não brigamos de fato, mas havia uma
certa arrogância nele esta noite.

Livros Florzinha - 69 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Talvez ele estivesse realmente preocupado com a influência que


você pode ter sobre Philip. Provavelmente, você deve ter visto o
garoto contemplando-a.
— Não, realmente. — Renée ficou quieta. A imagem de Nick estava
clara em sua mente, mas ela podia lembrar-se do olhar de adoração
de Philip com total feita de interesse. — Você acredita em amor à
primeira vista? — perguntou ela, sonhadora.
— Alguns têm sorte de ver seus sonhos realizados. — Katie riu
meigamente, — Você está me dizendo que se apaixonou por Nick à
primeira vista?
— Na verdade, ele antes me amedrontava — confessou Renée.
— Mas você superou isso?
— Não há jeito de dar certo, Katie — disse Renée, com tristeza,
desviando o rosto do olhar insistente de sua tia. Mas bem ou mal, eu
nunca o esquecerei.
— Por que você não fica comigo durante todo o verão? — sugeriu
Katie.
— Não posso, querida, não se houver algo entre Sharon e Nick. —
Renée ficou de pé junto à porta, a luz brilhando em seu cabelo. Ela
parecia muito frágil, quase delicada, seu rosto mais vivo por causa
dos sentimentos.
— Eles não estão comprometidos — disse Katie. — Por que estariam?
Apesar de sua aparência conservada, Sharon já não é tão jovem.
— Ela o ama — disse Renée.
— Talvez. Mas o culto dos heróis não é amor e tem que terminar um
dia.
— De qualquer forma, não há maneira de fasciná-lo — disse Renée.
— Posso apagar a luz?
— Obrigada, querida — Katie sorriu. — Eu prepararei o café da
manhã. Você precisa dormir.
— Pelo menos Nick foi bastante gentil em dizer que eu posso montar
Stardust a hora que quiser.
— Ele está sendo muito gentil com você! — disse Katie suavemente.
— Festas, cavalos, até mesmo um carro.
— Ele está apenas sendo educado. Boa noite, Katie.
— Tenha bons sonhos, querida — desejou Katie, e Renée pôde sentir
a provocação em suas palavras.

Na manhã seguinte, Renée foi de carro até a casa de Harry, para


mais uma sessão, e na volta encontrou Ken Thomas vindo em sentido
contrário, com seu carrinho barulhento.
— Encoste!
Ela desatou a rir, vendo-o falar e gesticular como um louco, e parou o
carro que Nick lhe havia emprestado. Pelo retrovisor viu Ken dando a
volta depois parando um pouco mais à frente.
— Olá, amiga! — Ken tinha saído do carro e caminhava em direçâo a
ela, portanto Renée saiu do carro também.

Livros Florzinha - 70 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Como vai, Ken?


— Trabalhando como um escravo!
— Que ótimo! — A voz dela era quente e encorajadora.
— Quero agradar a todo mundo. — Os olhos de Ken bridavam. — A
todos. Você, Nick, à querida Sharon, que é tão doce quanto um
veneno! — Os vizinhos passavam em seus carros e Ken erguia a mão
para cumprimentá-los. — Acredite ou não, doçura, ela está com
ciúme de você.
— De mim? — Renée podia sentir o sangue subir-lhe pelo rosto. —
Por quê?
— Você deve saber! — Ken estava caçoando dela. — Isto foi um
pequeno presente de Nick, não foi? — Ele passou a mão pelo capô do
carro.
— Somente enquanto eu estiver aqui — murmurou ela. — Você deve
saber que ele é muito generoso.
— Concordo, mas você ainda tem influência sobre ele, e eu lhe sou
extremamente grato, por isso. Como vai Harry?
— Trabalhando muito bem.
— Fico contente em ouvir isso — Ken afastou-se um pouco para olhá-
la. — Você sabe que é atraente?
— Você quer dizer que eu estou agitando as coisas por aí?
— De muitas maneiras! Sharon até mesmo perguntou se eu poderia
me apaixonar por você.
— O que você disse? — Os olhos dela ficaram mais verdes.
— Disse que seria fácil — respondeu ele alegremente. — Você sabe,
ela parece estar com ciúme.
— Então, não me use para provocar crises — ela o avisou. — Por isso
mesmo vou voltar logo para casa.
— Por quê? Você acabou de chegar!
— Estou adorando este lugar, mas preciso dar um jeito na minha
vida.
— Aquele cara de quem você está noiva?
— Eu não estou noiva! — Renée respirou fundo. — Quem lhe disse
isso?
— Sharon. Tenho quase certeza de que ela me disse que você estava
noiva ou iria ficar.
— Não. Talvez Sharon não confie em seus próprios sentimentos com
relação a você.
— Se pelo menos eu pudesse acreditar nisso. — Ken respirou
profundamente e sorriu. — A única coisa que ela deseja é que Nick a
peça em casamento. Com certeza, se ele for fazê-lo, deve ter
decidido nestes últimos dias.
— Quem sabe o que Nick tem na cabeça? — suspirou Renée.
— Não me diga que você também está caída por ele? — perguntou
Ken, mostrando surpresa na voz.

Livros Florzinha - 71 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Ele é uma pessoa muito romântica! — respondeu Renée enquanto


por dentro estava se odiando por ter revelado seus sentimentos. —
Todo mundo tem que estar apaixonado por ele?
— Minha garota parece que sim! — Ken olhou para o chão e chutou
uma pedrinha. — O que você acha de irmos nadar amanhã? Podemos
ir até o lago. Tenho trabalhado tanto que acho que posso tirar um dia
de folga.
— Desculpe, Ken, mas já tenho um compromisso. Minha mãe vem
para cá neste fim de semana.
— Algum problema? — perguntou Ken, demonstrando preocupação.
— Apenas algo que precisamos resolver — respondeu Renée. Depois
colocou a mão na testa para poder enxergar melhor.
— Aquele não é o carro de Sharon?
— Que inferno! — Ken não conseguiu se controlar. Ele deu a volta
rapidamente, justo quando Sharon parou do outro lado da estrada,
colocou a cabeça para fora da janela e gritou, com sarcasmo!
— O que é isso? Algum romance novo?
— Entenda como quiser, querida! Conte outra piada.
— Olá, Sharon! — disse Renée, educadamente.
— Oi! — Os olhos de Sharon estavam brilhando. — Tenho certeza de
que vocês não pensavam em me encontrar aqui.
— Alguma objeção? — Renée não conseguiu se controlar.
— Não. Eu já consegui o homem que quero.
— Você está falando de Nick? — Ken levantou as sobrancelhas.
— Acho que você está levando a coisa muito a sério, querida.
— É melhor eu ir — disse Renée. — Katie está me esperando para o
almoço.
Com estas palavras, Sharon pareceu ficar mais calma, já que ela
tinha descido do carro e atravessado a estrada.
— Fiquei contente que você gostou da peça ontem à noite.
— Sim, gostei mesmo. — O olhar de Renée foi claro e direto.
— Hedda foi maravilhosa.
— Vocês querem dizer que eu perdi algo importante? — Perguntou
Ken. — Bem, de qualquer forma, eu trabalhei até as três da manhã.
— Que mudança! — exclamou Sharon, sorrindo. — Na próxima vez
você vai dizer que irá abandonar sua vida de solteirão irresponsável?
— Eu não quero me casar com você! — exclamou ele.
— Coitado!
Renée, que não estava gostando dessa troca de gentilezas, abriu a
porta do carro.
— Vocês não vão se importar se eu for agora, vão?
— Antes de você ír, quero dizer o quanto Philip gostou da sua
companhia ontem à noite. Ele só falou de você durante todo o café da
manhã.
— Por que você não vai embora? Renée mal sabe da existência de
seu irmão — disse Ken.

Livros Florzinha - 72 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Não é bem isso que eu tenho ouvido! — exclamou Sharon com um


sorriso irónico.
— O problema é que Philip sempre conta as coisas como ele quer —
respondeu Ken. — Renée seria muito gentil se o colocasse no lugar
certo.
— Como você é insensível! — Sharon deu um pulo, como se quisesse
bater em Ken. — Você nunca apreciou Philip.
— Não é que eu não goste dele, apenas acho que ele é fraco. — Ele é
fraco?
Renée ligou o carro e gritou.
— Vou deixar vocês conversarem à vontade. Até logo. Sharon
readquiriu o controle e acenou. Quando Renée olhou
pelo retrovisor, viu Ken pegando Sharon pelos ombros e colocando-a
dentro do carro dele. Um minuto depois ela não os viu mais porque
entrou em uma curva, mas a lembrança permaneceu.
Katie a estava esperando com o almoço pronto. Elas conversaram
sobre os acontecimentos da manhã e a respeito da volta do
entusiasmo de Harry até a hora de Katie voltar ao trabalho.
Enquanto Katie estava trabalhando, Renée resolveu andar a cavalo.
Muitos sentimentos de medo que precisavam ser li-bertados estavam
surgindo em seu íntimo, e também o fato de saber que Philip havia
falado dela deixou-a mais abalada. Está certo que ele a beijara, mas
Renée não pudera evitar que aquelas mãos magras pegassem seu
rosto para dar-lhe um beijo não solicitado. Não fora desagradável,
mas como tudo que Philip fazia, não tivera valor.
Um dos cocheiros selou a égua para Renée e assim que ela deixou o
estábulo percebeu que um cachorro a estava seguindo.
— Vá para casa! — gritou ela, quando o cachorro se aproximou mais.
— Vá para casa!
Mas o cachorro a ignorou, como se nada pudesse tirar o que ele tinha
em mente. Era normal seguir os cavalos, e Renée achou que ele o
faria por apenas um ou dois quilômetros. A égua não estranhou a
companhia do cachorro, e, na verdade, sua presença estava
aumentando a alegria do passeio.
Quando o brilho distante de uma lagoa atraiu a atenção de Renée, o
cachorro começou a latir.
— O que foi, hein?
Renée freou a égua e olhou para a linha verde-escura formada pelas
árvores. A grama estava crescendo mais espessa e mais alta e flores
azuis espalhavam-se pelo gramado. Eles já tinham se afastado muito
da casa, pois já estavam passeando há mais de uma hora. Um bando
de pássaros voou por cima deles e imediatamente o cachorro os
afugentou, latindo sem parar, até que as aves alcançaram o próximo
agrupamento de árvores, onde ficaram espalhadas.
Renée hesitou por alguns segundos, e então foi em direção à água. O
cenário era maravilhoso e ela olhava a mata virgem ao redor, como
se quisesse gravar tudo em sua mente para sempre. Emerald era

Livros Florzinha - 73 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

uma imensidão em todos os sentidos: o infinito céu azul e o ilimitado


oceano. Alguns poderiam até achar esmagador o espaço vasto e
infindável, sem nenhum som, exceto o do vento e o canto dos
pássaros, mas ela estava ciente de um tremendo sentimento de
afinidade física e espiritual com a paisagem.
Mas a vida no campo não poderia existir sem os incidentes. Quando a
égua sentiu o frescor da lagoa, começou a galopar, levando Renée
em sua jornada para a água. A distância, o cachorro começou a latir,
um som que estava vagamente aborrecendo Renée, porque parecia
um aviso. E justamente quando ela virou a cabeça para trás, a égua
tropeçou em algo que estava deitado na grama e jogou Renée ao
chão.
Quando abriu os olhos, apenas alguns segundos depois, Renée sentiu
dores e ficou assustada. Passou a mão pela cabeça dolorida c
começou a gritar, horrorizada, quando percebeu que um por-co-do-
mato estava olhando para ela. Por um instante o pânico deixou-a
gelada, depois recuperou-se rapidamente e levantou-se, Pegando o
mesmo caminho que a égua. Ela não sabia o que esperar do animal
preto e feroz, mas sabia que ali não poderia ficar. Porcos selvagens
eram imprevisíveis e eles eram conhecidos os maiores provocadores
de acidentes com cavalos.
Um pouco à sua frente, o cachorro pulava na grama, latindo
ferozmente para algo que estava atrás dela, e quando Renée se
virou, em pânico, o porco-do-mato estava pronto para atacar,
fazendo seu pulso disparar. Se pelo menos pudesse espantá-lo para
as árvores! Lembrou-se da égua, mas esta tinha desaparecido por
entre a savana. Renée estava dolorida e trémula, e, quando saltou
por cima de alguns galhos caídos e raízes, uma armadilha prendeu-se
no seu pé e a fez cair.
Ela caiu pesadamente, o sangue latejando em seus ouvidos e
têmporas. O cachorro começou a latir. Ao tentar se mover, Renée .
quase desmaiou de uma dor tão forte no tornozelo que ela não tinha
forças nem para gritar. Renée reprimiu um suspiro quando viu com
horror que o porco-do-mato e o cachorro estavam se aproximando e
só conseguia pensar que o cão a estava protegendo, latindo tanto
que o outro animal escavava o chão.
Parecia que o porco estava se decidindo se atacava ou não, mas em
poucos segundos ele correu para a frente e investiu contra o cachorro
com suas presas. Renée começou, de repente, a ver um caleidoscópio
de cores: poeira, grama e sangue. Suas unhas estavam enfiadas no
chão e ela tentou afastar-se, certa de que o porco-do-mato mataria o
corajoso cachorro. Se pelo menos houvesse um modo de ajudá-lo...
mas Renée estava quase desmaiando de dor e sua cabeça latejava
tanto que mal conseguia pensar.
Havia um galho atrás dela. Se peio menos conseguisse alcançá-lo...
Mas o que faria com ele? Renée sentia-se muito fraca. Os animais

Livros Florzinha - 74 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

travavam uma luta cerrada e ela mal podia vê-los, devido às lágrimas
que escorriam por seu rosto pálido.
Ouviu-se um tiro, depois outro, e Renée deitou-se no chão, tremendo
e soluçando, até que Nick apareceu a seu lado. O rosto dele estava
tão tenso que parecia de bronze, seus olhos tão brilhantes que
pareciam um raio de luz.
— Está tudo bem. Renée. Tudo bem! — Nick colocou a espingarda no
chão cuidadosamente e então virou sua atenção para o corpo dolorido
dela.
Ao primeiro toque suave das mãos dele, a dor pareceu diminuir.
— É o meu tornozelo — conseguiu ela dizer, com grande esforço. — O
esquerdo.
— Meu Deus! — exclamou ele. — A égua tropeçou...
— Psiu! Não fale. Nós percebemos que havia algo errado quando ela
começou a galopar pelo campo. Dê-me aquela faca, Tom. — Nick
levantou a mão para um de seus empregados.
— O que aconteceu ao cachorro? — perguntou Renée. — Parecia que
ele estava me protegendo.
— E, estava. — Ele olhou-a profundamente. — Vou ter que tirar esta
bota, Renée. Depois vou levá-la para casa. — Nick levantou a cabeça
para falar com um de seus empregados. — Geoff, vá e chame o dr.
Stevens. Quero que ele esteja em casa o mais rápido possível. Conte-
lhe o que aconteceu. Kelly, volte também e traga o jipe.
— Você ainda não me disse nada sobre o cachorro! — Renée estava
tão pálida que sua pele parecia de papel.
— Ele está bem! — respondeu Nick, acomodando-a melhor.
— Foi tudo culpa minha! Você não me disse a verdade, disse? —
perguntou ela, chorando.
— Fique quieta! Vou tentar ser o mais cuidadoso possível. Renée
ouviu vagamente a ordem, mas quando ficou livre
da bota, já tinha desmaiado.
A volta para casa foi tumultuada, e o médico chegou dez minutos
depois de Nick ter colocado Renée dentro de casa. Ela havia sofrido
uma contusão no tornozelo, apenas isso.
— Você teve sorte, minha querida! — disse o médico. — Mas acho
que você já sabe.
— Sim — respondeu Renée, olhando para aquele rosto calmo. —
Ninguém vai me contar o que aconteceu com o cachorro? O que
aconteceu?
— Nós não conseguimos salvá-lo, querida. — O médico acariciou a
mão de Renée. — Mas ele fez o que realmente inten-cionava fazer:
protegeu você.
— Eu nunca vou esquecer! — Seus olhos se encheram de lágrimas e
ela virou a cabeça para o outro lado. — Ele estava tão feliz, correndo
ao lado da égua. E pensar que morreu!
— Ele não podia deixar que o porco ferisse você. — Disse-lhe o dr.
Stevens. — Uma vez tive um cachorro que se atirou na minha frente

Livros Florzinha - 75 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

quando eu ia ser atacado por uma cobra. Eu tenho um grande


respeito por cachorros, por sua inteligência e devoção. Os cavalos são
imponentes, mas eles não gostam das pessoas como os cães.
— Eu acho que eles até sabem quando existe perigo.
— Talvez. Nós não temos os problemas das cidades grandes, mas
acho que Nick tem que organizar uma caçada. Porcos selvagens
podem ser muito perigosos pois atacam sem ser provocados.
— Eu sei.
— Bem, isso é tudo. — O médico levantou-se. — Você precisa fícar de
repouso para não ter problemas mais sérios. Faça compressas
alternadas de água fria e quente no tornozelo. Vou deixar alguns
analgésicos para você tomar durante a noite.
Renée agradeceu e deitou-se confortavelmente, fechando os olhos
para esconder as lágrimas. Ela estava muito triste com a morte do
cachorro; se lembraria do incidente durante um bom tempo das
coisas agradáveis que sentira antes do ataque desastroso. Ela nunca
deveria ter ido para aqueles lados, mas pelo menos a égua estava
salva.
— Renée?
Nick tinha entrado no quarto e estava olhando para ela.
— Desculpe-me, Nick. — Ela já tinha melhorado um pouco e seu
cabelo, espalhado pelo travesseiro, brilhava como ouro.
— Por que você galopou daquela forma? — perguntou ele.
— Porque sou uma boba! — respondeu ela, com dificuldade.
— Eu sei que você me disse para ficar perto da margem do rio, mas
eu simplesmente não pensei no perigo. Eu sou uma garota da cidade
e hoje comprovei ísso.
— Você me fez passar pelos piores momentos da minha vida
— disse ele calmamente, e então foi para a porta que dava para a
varanda e retirou a tela. — Achei que você tivesse um pouco mais de
responsabilidade.
— Por favor, Nick! — As lágrimas es correram-lhe pelo rosto.
— Acho que você precisa tirar essas roupas de montaria. — O que
vou vestir?
— Qualquer coisa. Um dos meus robes, por exemplo. Katie trará suas
roupas. Eu mandei um empregado até lá para esperar por ela,
— Ela deve estar na casa de Harry. — Renée parecia confusa.
— Katie estava trabalhando quando eu saí e não me disse que iria
sair também.
— Ela não está na casa de Harry. Talvez tenha ido até a cidade. De
qualquer forma, Katie não é o problema.
— Eu não tenho que ficar aqui, Nick.
— Não vou deixar que você fique longe da minha vista. Eu não
aguentaria. — Ele permaneceu sem se mover, olhando para ela. — Eu
também tive culpa. Eu nunca deveria ter deixado você sair sozinha.

Livros Florzinha - 76 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Você nunca vai me perdoar pela morte do seu cachorro não é?


Desculpe-me, Nick. Estou bem mais triste do que você pode imaginar
— disse ela, tremendo de desespero.
— Eu estava apenas preocupado com você. Quando a égua entrou
pelo campo adentro, eu estava me preparando para encontrá-la de
pescoço quebrado. — Nick falou quase sem emoção, mas sem afastar
os olhos de Renée. — Agora, só quero ter certeza de que você está
bem, por isso não vou deixá-la voltar para a fazenda.
Ele parecia tão arrogante e Renée sentiu uma grande dor no coração
e medo.
— Vou esperar até que Katie chegue, para trocar de roupa.
— Não, eu vou ajudá-la. Você vai me achar muito competente. Havia
algumas lágrimas brilhando nos olhos verdes de Renée. — Por que
você está sendo tão cruel comigo?
— Cruel... Meu Deus! Você passou por um mau pedaço, Renée, mas
eu também. Agora deixe-me procurar algo para você vestir. Este é o
quarto de minha mãe.
Ela sentiu-se incapaz de fazer algum comentário, quando viu que
Nick se aproximou do guarda-roupa. Ele seria bem capaz de
prosseguir com seus planos e tirar as roupas rasgadas de Renée.
O quarto era grande e bem feminino, decorado em branco e azul,
acentuado com alguns toques de turquesa. Em outras circunstâncias
ela teria adorado o luxo daquele aposento, mas agora estava com os
nervos à flor da pele só de pensar no que Nick tencionava fazer.
— Este vai ficar bem em você. — Nick aproximou-se dela, wm um
robe de seda vermelha nas mãos.
— Obrigada. Nick, saia por favor — implorou ela, mesmo querendo
que ele ficasse.
— Para quê? — Ele deslizou os olhos por todo o corpo dela. — Você
acha que eu vou fícar escandalizado ao ver o corpo de uma mulher?
— Eu não posso brigar com você! — exclamou ela, tremendo quando
tentou se sentar.
— Então não tente! — A expressão de Nick suavizou-se
milagrosamente ao se aproximar dela, segurando-a com muita
gentileza quando Renée tentou tirar as pernas de cima da cama para
colocá-las no chão.
— O que está acontecendo comigo? Estou completamente sem
forças. — Ela estava encostada no braço dele, com lágrimas
escorrendo-lhe pelo rosto.
— Em primeiro lugar, você ainda está em choque e deve estar com o
corpo todo dolorido. Deixe-me ajudá-la, garotinha, e prometo que
não vou machucá-la. Depois você pode se deitar e dormir.
— Não.
— Você vai. Aquela injeção que você tomou vai começar a fazer
efeito.
Renée tentou desabotoar a camisa, mas sua cabeça parecia que
estava girando.

Livros Florzinha - 77 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Deixe que eu faço isso.


Em poucos segundos, Nick tinha desabotoado a camisa dela. Renée
cruzou os braços sobre o peito no momento em que ele lhe tirou a
sutiã, que caiu sobre o tapete. Nick fez com que ela vestisse o robe
de seda.
— Agora deite-se. Eu cortei tanto a sua calça que ela vai sair com
facilidade.
Olhou para o rosto sério de Nick e gritou quando ele puxou a calça da
perna que estava machucada.
— Desculpe, Renée. Desculpe mesmo! — A voz dele veio baixa e
cheia de compaixão. — Vamos, agora relaxe.
Os raios de sol entravam pela porta da varanda, fazendo seu cabelo
loiro brilhar como ouro. Ela parecia extremamente frágil e ele se
abaixou para ajeitar o travesseiro.
— Você quer algo para se cobrir?
— Não. — Renée estava deitada por cima das cobertas, mas o robe já
era suficiente.
— Não pense em nada, Renée. Apenas procure dormir. Ela não
respondeu, mas abriu os olhos.
— Você não vai contar a ninguém que me ajudou a trocar de roupa?
— Isso deixaria você preocupada?
— Tudo em você me deixa preocupada. É tão difícil não fazer o que
você diz.
— Então feche os olhos — disse ele. — Quando você acordar, Katie
estará aqui.
Quando Katíe chegou, gritando e com o rosto pálido de ansiedade,
Renée estava dormindo profundamente. Havia uma luz suave no
quarto, que iluminava seu corpo calmo e relaxado e seu rosto
delicado.
— Oh, Nick! — exclamou Katie.
— Ela está bem! — Nick aproximou-se de Katie e a abraçou, — Eu
não deveria ter deixado que isso acontecesse, mas aconteceu, e
graças a Deus ela está bem.
— O que o dr. Stevens disse?
— O que eu já lhe disse. Ela apenas teve uma contusão no tornozelo.
— Eu a amo tanto... minha sobrinha querida!
Nick pegou uma das mãos trémulas de Katie e a beijou.
— O que você precisa é de um drinque. E eu também!

CAPITULO VI

Quando Renée acordou, não conseguia se lembrar de onde estava e a


primeira palavra que disse foi um nome.
— Nick!

Livros Florzinha - 78 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Estou aqui. — Ele foi para o lado da cama,' fixando seus olhos no
rosto confuso dela. — Como você está se sentindo?
— Confusa. — Ela passou a mão pelos olhos.
— Você dormiu quase dez horas. São três horas da manhã.
— Você ficou acordado? — Ela olhou para ele como que fascinada.
— Mas é lógico! Eu queria estar a seu lado quando você acordasse.
Você está em Emerald.
— Eu sei! — Ela olhou para todo o quarto. — Onde está Katie?
— Ela já esteve aqui, mas voltou para a fazenda. Com a confusão,
deixou Honey trancado dentro de casa. Ela sabe que você está sendo
bem cuidada e que eu vou levá-la mais tarde para Já.
— Coitada de Katie! — Renée estava tremendo, e o que ela queria
naquele momento era que Nick a tomasse em seus braços e a
confortasse. Não, não que a confortasse. Ela sabia perfeitamente bem
o que queria. — Posso tomar um pouco de água?
— Você pode ter tudo o que quiser. Para mim já é suficiente poder
vê-la bem.
— A dor de cabeça passou. — Seus olhos verdes estavam fixos nele.
Nick ainda estava usando as mesmas roupas do dia anterior e agora
Renée sabia que ele realmente não tinha dormido. — Você está sendo
maravilhoso comigo, Nick.
Ele ergueu-a gentilmente, segurando-a enquanto ela bebia. —
Maravilhoso é bem diferente de cruel.
— Eu nunca imaginei que poderia deixar alguém...
— Fique quietinha. — Ele a deitou novamente no travesseiro. — Eu
sou do tipo cavalheiro.
— Mesmo assim... — Com um suspiro, ela ergueu o braço.
— Katie confia em mim — murmurou Nick, segurando a mão dela.
— Eu também.
— Você é que não deveria! — Ele a soltou, com um sorriso nos lábios.
— Você acha que vai dormir de novo?
— Não,
— Parece decidida.
— Eu nem tenho certeza se tudo isso não está acontecendo em um
sonho. Nunca tive um homem em meu quarto, antes.
— Nunca? — O tom de voz dele era suave.
— De vez em quando papai ia até o meu quarto para dizer boa-noite,
quando eu era criança.
— Ele é um homem de muita sorte por ter uma filha tão bonita.
— Acho que ele já contava com isso. Você não viu minha mãe. —
Você não aproveitou muito a sua infância, não é verdade? — Nick
sentou-se novamente na poltrona.
— Por que você se afastou de mim? — perguntou ela.
— Achei que era uma boa idéia — disse ele suavemente.
— Você é a única que tem certeza da força do meu desejo.
— Só se Sharon estivesse aqui conosco.
— Não tenho resposta para ísso. Durma, pequena. E melhor.

Livros Florzinha - 79 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Meu tornozelo está doendo. — E estava mesmo, mas isso pouco


parecia lhe importar.
— Então acho que podemos fazer os banhos.
— Eu não quero me mexer. — A meia-luz, seus olhos verdes
pareciam imensos e excitados. — Você acha que eu posso tomar
outro gole de água? Estou com muita sede.
— Isso não vai adiantar — ele a avisou, e levantou-se para encher o
copo com água.
— O que não vai adiantar? — perguntou ela, e ficou imediatamente
corada. — Parece engraçado você estar me avisando. Eu não estou
tentando atraí-lo para a minha cama.
— Isso é ótimo. Neste exato momento, eu estou sem forças.
— Nick olhou-a e aproximou-se da cama, erguendo-a enquanto
colocava o travesseiro em suas costas.
— É estranho. A primeira coisa que eu notei em você foi seu
dinamismo — disse ela, tensa.
— É, mas está se desintegrando.
Renée quase arrancou o copo da mão dele, humilhada pelo senso de
humor dele.
— Obrigada!
— De nada. — Ele ficou olhando-a enquanto ela bebia, depois pegou
o copo e o colocou sobre a mesinha de cabeceira — Será que se eu
lhe desse um beijo de boa-noite você relaxaria?
— Tenho certeza de que estas não são as ordens médicas — disse
ela secamente.
— Por que você está zangada?
A pergunta dele pegou-a desprevenida. Renée estava zangada.
Zangada com ele e consigo mesma, por estar tão tolamente tentando
provocá-lo, ou melhor, seduzi-lo. Essa atitude não tinha nada a ver
com o seu jeito de ser ou será que a sua verdadeira personalidade
estava vindo à tona?
— Você pode ir agora! — Com as últimas forças que tinha, ela lhe deu
uma ordem imperiosa, dando-lhe as costas.
Nick deu uma risada divertida, como se ela tivesse contado uma
piada.
— Você merece um beijo por isso. — Havia uma mudança na voz
dele. Um orgulho masculino.
Renée sentia a presença dele com angústia. Então, no momento
seguinte, ele se inclinou sobre ela, segurando-a pelas costas.
— Onde você gostaria de receber este beijo puro? Na testa, no rosto
ou no nariz?
— Em qualquer lugar. Nestes lugares todos. — Ela reagiu
freneticamente àquela zombaria.
— Então vou fazer o que você disse. — Os olhos dele se moveram
vagarosamente, partindo do rosto e descendo até a curva de seus
seios, consumindo-a de tal forma que Renée teve que fechar os olhos
para controlar unta tempestuosa explosão de paixão.

Livros Florzinha - 80 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Vou dormir, Nick, realmente vou. — Até sua voz tremia.


— Chegue mais perto, Renée.
A sensualidade na voz dele estava revestida por uma ternura
arrasadora, uma terrível persuasão que a fez dar um pequeno
gemido. Ela fechou os olhos e abriu os lábios, inundada pela delicada
lembrança de quando ele a tinha beijado antes.
A mão forte e bem-feita dele estava em seu pescoço. A força do
corpo dele, o calor e a proximidade eram tão emocionantes que
Renée tinha a curiosa sensação de estar saindo para o espaço...
flutuando... desintegrando-se... para fora de seu corpo. Ela nunca
desejara nada tanto quanto o toque da boca dele, e quando isto
aconteceu, cada vez mais profundamente, ainda não era suficiente.
Nick segurava-a tão próxima que ela podia sentir o sangue correndo
pelas veias dele. Sentimentos tumultuados a estavam assaltando,
com uma exigência que a chocava. Se ele parasse agora, ela
morreria.
— Nick? — A voz dela estava carregada de angústia. — Quero que
você me ame. Por favor... Isto é insuportável!
— É uma loucura! — disse ele.
Renée segurou a mão dele e levou-a até seu peito, tenso pela
ternura, gemendo um pouco pelo prazer que isso lhe dava.
— Deus!
Ela ouviu a respiração ofegante dele, como se um chicote o açoitasse.
Então, as mãos de Nick reclamaram os contornos acetinados de seus
seios.
O robe de seda escorregou até a cintura dela, enquanto Renée o
segurava em êxtase, sua pele clara em contraste com a seda
vermelha. Havia esperado tanto tempo para se sentir assim, para
saber que era uma mulher, que agora ela não podia esperar mais.
— Você me faz sentir linda! — A voz suave dela soava como música.
— Você é linda.
Renée fechou os olhos e a boca de Nick tocou seus seios.
— Eu amo você — disse ela suavemente a princípio, e continuou a
dizer com mais furor. Ele ficou tenso e afastou-se, segurando-a
firmemente pelas mãos.
— Escute-me, Renée. Escute. — Ele falou asperamente, fazendo um
grande esforço. — Amor é uma palavra muito forte. Deve significar
alguma coisa, algo poderoso, uma ligação muito forte. Não vou deixar
que você a use levianamente.
— Mas eu amo você! — Ela estava tão chocada, tão entristecida que
não conseguia erguer a cabeça do travesseiro. — Não posso imaginar
a vida sem você. Isto é lógico, não é? Eu nunca deixei ninguém me
tocar, exceto você. Você não fica impressionado com todo o poder
que exerce sobre mim? Deveria!
Quase que distraidamente, ele puxou o robe sobre o corpo branco
dela.
— Daqui a pouco irá amanhecer.

Livros Florzinha - 81 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— E nós podemos fingir que isso não aconteceu. — Os olhos dela se


encheram de lágrimas.
— Não parece tão inconsolável! — Gentilmente, Nick bei-jou-a nos
lábios. — E todos os problemas que você tem que resolver? Eu não
vou dar uma solução para eles. Você mesma tem que fazê-lo. Se se
acha realmente mulher, é melhor terminar com Simon. Ele não vem
até aqui?
— E que importância tem isso? — Ela enxugou as lágrimas.
— Você deixou que isso acontecesse. — Nick segurava-a pelo queixo,
de forma que ela tinha que olhar para ele.
— Eu disse para ele não vir.
— Evidentemente, ele não dá muita importância ao que você diz.
— Isso é minha culpa — admitiu ela tristemente. — Tudo é minha
culpa.
— Então saia de seu mundo fechado. Eu não vou me envolver.
— Por que você se envolveria? — Renée olhou para ele, com uma
expressão de desespero no rosto. — Eu realmente o amo, Nick. Sinto
muito se isso o deixa embaraçado. Eu nunca quis que isso
acontecesse.
— Você supõe que me ama — disse ele, com um pouco de
crueldade. — Como sabe que não é apenas excitação?
— Ah, pare com isso! — implorou ela. — Como poderia me enganar
com um sentimento tão profundo? Eu nem mesmo sabia que era uma
pessoa sensual. Tudo isso foi um choque. Não faça com que eu me
odeie!
— Não é nada disso — disse ele decisivamente. — Se você ficou se
conhecendo um pouco mais, eu estou contente. Mas você tem que
dar uma solução à sua própria vida.
— Acho que devo mesmo.
— Você deve!
Nick levantou-se rapidamente, parecendo tão duro e determinado
que Renée só conseguia encará-lo sem dizer nada. Sua mente voltou
ao momento em que ela o conhecera. Nick não era diferente agora.
Só ela tinha mudado.
Fazer valer seus direitos foi tão difícil quanto Renée imaginara, pois
sua mãe chegou com Simon arrastando as mesmas agitações
emocionais. Renée até estava contente de estar com o tornozelo
machucado, pois era uma desculpa para ficar deitada no sofá. Alice e
Simon chegaram em um táxi da cidade. Ela estava vestida com
sofisticação e olhava em volta tão desdenhosamente que era óbvio
que considerava a pequena casa de sua irmã um pobre substituto
para um lar.
— Bem, não adianta me esconder, é melhor eu ir recebê-los —
murmurou Katie, deixando Renée com dor de estômago.
Aquela manhã o tornozelo da moça tinha doído muito, por isso Nick
dissera que seria melhor se elas ficassem na casa dele, assim pelo

Livros Florzinha - 82 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

menos ele estaria por perto quando Renée precisasse ser carregada.
Katie estava quase concordando, quando Alice apareceu.
Ela estava muito bonita e fria, querendo saber o que acontecera com
sua filha.
— Apenas um pequeno acidente, mamãe. Não é nada! — Renée
beijou o rosto macio e maquilado de sua mãe. — Como vai?
— Aborrecida, e mais, transtornada. Você poderia me arranjar uns
dois comprimidos, Katie? Estou com uma terrível dor de cabeça. É
esse sol horrível! E péssimo para a pele. Renée, espero que você
esteja usando um chapéu nesses dias.
Simon foi até ela para beijar seus lábios, mas Renée impediu-o,
esticando a mão.
— Olá, Simon, o que o trouxe aqui? Tenho certeza de que não foi o
prazer de viajar.
— Tenho sentido saudade de você — disse ele ardentemente, e
mesmo seus olhos estavam cheios de sentimento. — Você realmente
me ama, querida? Você não quer voltar conosco? É tão quente aqui!
— Eu gosto do calor.
— Não posso acreditar! — Alice a encarou. — O que você tem a dizer
sobre esse tombo do cavalo? Você nunca fez nada semelhante nos
últimos doze anos.
— Acidentes acontecem, mamãe. — Renée ergueu a cabeça quando
Katie entrou na sala. — Mas não se preocupe, é só uma distensão.
— Você parece pálida. — Simon acariciou o cabelo dela e Renée teve
o terrível desejo de dar um tapa na mão dele. Como pudera alguma
vez achá-lo atraente? Ele parecia positivamente tolo, sorrindo para
ela, um manequim de alfaiate, com um rosto suave e bonito.
— Vocês vão ficar? — perguntou Katie à irmã, enquanto ela tomava
as aspirinas.
— Obrigada, não. — Mesmo fazendo careta, Alice parecia
excepcionalmente bela. — Nós reservamos as passagens de volta e
garantimos uma passagem para Renée.
— Mas ela não vai embora...
— Ela já deve ter resolvido o que a estava atormentando — disse
Alice, cruzando os longos dedos. — É hora de ela voltar à vida
normal.
Renée queria gritar, mas se reprimiu. Sua mãe era sempre tão
controlada, mesmo quando estava furiosa, e Renée tinha que
obedecer-lhe toda a vida.
— Sinto muito, mamãe, mas eu não vou — disse ela calmamente.
— O que você disse? — Alice apertou os lábios, os olhos soltando
faíscas.
— Eu não vou me casar com Simon, sinto muito. Gostaria que você
tivesse me ouvido quando eu lhe disse pelo telefone, e isso teria
evitado uma viagem desnecessária.
— Acho que você deve estar louca! — Alice levantou-se. — Não pode
continuar assim, fugindo das responsabilidades. Você já não é mais

Livros Florzinha - 83 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

uma criança e nem mesmo pode me dar uma boa razão para estar
aqui. No mínimo, a próxima coisa que vai me dizer é que vai se casar
com um fazendeiro.
— O que há de errado nisso? — interveio Katie. — Pelo menos ela
não morreria de fome.
— Você poderia nos preparar uma xícara de chá, Katie? — Alice sorriu
friamente para a irmã. — Espero que você não tenha enchido a
cabeça de Renée com bobagens.
— Vou preparar o chá — disse Katie rapidamente, recusando-se a
permitir que a arrogância de Alice a atingisse. — Também toma chá,
sr. Nichols?
— Chame-me de Simon, por favor! — Ele desviou os olhos de Renée
e olhou para o chão.
Katie estava mais calma, agora, tanto que fez uma observação
curiosa com relação ao poder. Alice o havia exercido a vida toda por
intermédio da sua beleza e da riqueza do marido,
mas sempre o usara muito mais do que era necessário. Por outro
lado, Katie sabia que Nick tinha um poder real, exercido apenas
quando necessário para não se tornar opressor. Talvez esse fosse o
segredo para se governar com mérito.
Quando Katie voltou para a sala, Alice ainda estava usando o mesmo
tom prepotente. Ela tinha gasto tanto tempo regulando todos os
aspectos da vida de sua filha que agora não podia aceitar a recusa de
Renée em se casar com Simon.
— Você não imagina o quanto está preocupando seu pai! — Alice
olhou para o rosto curiosamente tranquilo da filha.
— Por quê? Certamente não há com o que se preocupar; afinal,
estou com a minha tia favorita.
— A preocupação dele é de que você esteja neurótica! — salientou
Alice, com raiva. — As pessoas perguntam de você o tempo todo.
Que vamos dizer a elas? Estas férias com sua tia não podem
continuar. Já passou quase um mês e está na hora de voltar para
casa.
— Por que, mamãe? — Renée perguntou tão diretamente que por
instantes Alice ficou paralisada.
— Por mim! — Simon parecia chocado. — Querida, eu nunca mais
farei nada que a aborreça, mas por favor, vamos ficar oficialmente
noivos!
— Você não me ama — disse Renée.
— Amo. É claro que amo! — Ele se aproximou dela ansioso,
segurando-a pelas mãos. — Eu viria até aqui se não a amasse?
— Sim. — Mesmo quando disse isso, o rosto de Renée ficou corado.
— Você é um esnobe e é muito possessivo. Acontece que eu me
ajusto à sua idéia de uma esposa adequada, não perfeita, porque há
muitas coisas em mim que não o atraem, mas eu sirvo e minha
família tem o dinheiro. De fato, eu tenho muito pouco de mim
mesmo.

Livros Florzinha - 84 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Então é melhor ir para casa! Se imagina que vai herdar


automaticamente, eu devo corrigi-la. Não lhe faltou nada a vida toda
e agora deve confiar em nós. Você se casará com Simon logo que
tudo possa estar arranjado. Você nunca teve dúvidas antes, agora
está agindo como um coelhinho tímido.
— Deixe-me fazer uma pequena correção. — Havia raiva no rosto de
Katie. — Ela está agindo segundo sua própria vontade. Você nunca foi
uma pessoa sutil, Alice, mas eu nunca pensei que fosse tão cruel.
Renée disse que não ama esse jovem. Eu não duvido que tenha sido
um choque para você, pois nunca lhe perguntou nada durante toda a
vida.
— Nós não podemos ir juntos até algum lugar, Renée? — Simon
apertou os lábios. — Eu poderia colocar as coisas em seus devidos
lugares. Só quero que você saiba que eu a amo e que farei qualquer
coisa para fazé-la feliz.
— Então volte para casa, Simon. — Renée ergueu a cabeça para olhar
para ele — É difícil acreditar que você se importa comigo tanto
quanto diz, mas, de qualquer forma, eu não me importo com você.
— Há outro homem! — exclamou Simon.
— O quê? Aqui? — Alice olhou em volta e riu. — Não acredito.
— O fato é que Renée já tem três admiradores — disse Katie, e deu
uma xícara de chá para a irmã.
— Ah, Renée, Renée! Será que você perdeu o juízo?
— Quer leite, Simon? — perguntou Katie educadamente, e Simon
recostou-se na cadeira, com ar de um homem profundamente
transtornado.
A conversa continuou exaustivamente por todo o dia, e uma hora
antes de eles terem que partir Nick chegou, ficando imediatamente
ciente da tensão mas não dando nenhum sinal disso.
Pelo menos a chegada dele proporcionou a Katie e Renée um pouco
de diversão, pois Alice, preparada para reinar sobre um tipo qualquer
do interior, viu, espantada, que era manejada, já que foi Nick quem
os levou em seu carro grande e com ar condicionado, tornando-se o
dono da situação.
Alice estava sorrindo, e até mesmo levantou a mão para acenar.
— Bom Deus! — disse Katie. — Quem acreditaria nisso?
— Mamãe nunca conseguiu resistir a um homem atraente —
comentou Renée secamente, da varanda onde Nick a tinha deixado.
— O mesmo não aconteceu com Simon, ele parece furioso! —
sussurrou Katie, com um sorriso hipócrita, acenou. — Até logo,
querida. Até logo, Simon!
Alice pressionou o botão que abaixava o vidro e sorriu.
— Cuide-se, querida. Esperarei notícias suas.
— Sim, mamãe. — Vagarosamente, Renée ergueu a mão, não
querendo nada mais do que sumir dali. Depois de um dia assim, a
mãe dela estava deslumbrada pelo charme e poder de atração de
Nick, e por ele ser dono de uma das maiores fazendas do país e de

Livros Florzinha - 85 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

metade da cidade de Garbutt. Nick já tinha Alice nas mãos, porque


ela havia chegado à conclusão de que ele era um dos "admiradores"
de Renée. Não era verdade, mas isso tinha dado uma fácil solução ao
problema. Alice até mesmo a perdoaria por não se casar com Simon
se ela conseguisse um prêmio tão fantástico quanto Nick Garbutt.
— Bem! — disse Katie, desatando a rir. — Você já viu uma atriz tão
boa?
— Você também não se saiu mal! — Renée sentia-se a ponto de
chorar.
— Ah, querida, isso foi muito para você!
— Eu tentei, Katie. Eu tentei, mas mamãe mal escuta uma palavra do
que eu digo. Eu não sei o que aconteceria se Nick não tivesse vindo.
— Acho que ele também percebeu isso — disse Katie, pensativa. —
Nick não veio por acaso, você sabe. Ele estava aqui com o propósito
de nos dar apoio. Nossos esforços pareceram vãos. Eu nem sei o que
Alice planejava fazer; pedir ajuda ou carregar você ã força.
— Bem, ela encontrou um rival à altura.
— Sem dúvida alguma! — disse Katie. — E com todo aquele charme!
Alice não percebeu o que estava acontecendo até que entrou no
carro. Honestamente, eu nunca esquecerei isso. Nem aquele jovem
esquecerá o momento em que lhe deu um beijo
de adeus!
Quando Nick retornou, deu uma olhada para o rosto cansado de
Renée. Então disse a ambas que deveriam ir para Emerald até que
Renée pudesse se mover.
— Eu não tive .tempo de arrumar nada! — desculpou-se Katie. —
Obrigada, Nick, por vir nos ajudar. Foi um dia cheio.
— Eu vi! — Com um sorriso, ele pegou Renée no colo e a levou de
volta à sala, colocando-a confortavelmente sobre o sofá. — Eu acho
que disse para você resolver os seus próprios problemas, mas não
para ficar tão exausta.
— Não me maltrate, Nick.
— Céus, eu estou do seu lado. — Ele puxou uma cadeira e sentou-
se. — Parece que você está precisando de uns analgésicos.
— Preciso mesmo!
— Estão na cozinha — disse Katie.
— Vou apanhá-los enquanto você arruma algumas roupas para levar
— disse Nick, já na porta da cozinha. — Mas não precisa levar muita
coisa. Acho que você vai querer trabalhar um pouco, portanto vou
arrumar alguém para levá-la de um lado para o outro. Martha só vai
voltar na segunda-feira.
— Então eu vou ser a dama de companhia! — disse Katie. — Eu não
me saí muito bem neste trabalho ontem à noite.
— Tem certeza de que não foi uma estratégia? — Nick sorriu para
ela.
— Não, querido. Foi culpa de Honey. É melhor você levá-lo. Na
manhã seguinte, Renée estava sozinha no terraço com

Livros Florzinha - 86 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Honey quase adormecido ao seu lado, quando Sharon chegou. Nick


tinha saído logo depois do café da manhã, prometendo voltar à hora
do almoço.
— Olá! — gritou Sharon, atravessando a porta de vidro que dava para
o terraço.
— Oi! — respondeu Renée, sentando-se melhor. — Receio que eu
seja a única que está em casa. Nick saiu e Katie foi até a fazenda
para buscar algo que tinha esquecido.
— Tudo bem, era você mesma que eu queria ver. Acho que você está
se julgando muito inteligente, não é?
— Não — disse Renée calmamente. — Tenho certeza de que não
sou. Há algo errado, Sharon?
— Você ainda pergunta? — Ela demonstrou hostilidade no olhar.
Sentou-se em uma cadeira e ficou olhando para Renée.
— Eu ouvi falar do seu pequeno acidente.
— Você não parece estar triste com isso.
— Por que deveria? — perguntou Sharon com agressividade.
— Foi algo planejado, não foi?
— Você acha mesmo? — perguntou Renée, indignada. — Foi horrível!
Deus foi testemunha.
— Ah, sim. Mas você não é a garotinha tímida que eu acreditava que
fosse. Quando você resolve fazer algo, faz muito bem-feito. Quer
dizer, eu sei que você passou a noite nesta casa e também sei que
Martha não estava aqui e muito menos sua tia. E não adianta negar
porque tenho certeza absoluta.
— Eu não pretendia ficar — disse Renée, calmamente. — E você está
preocupada com a minha reputação?
— Eu acho que você é muito fácil! — respondeu Sharon.
— Obrigada. E você está tendo como certa a sedução de Nick. —
Você é muito engraçada! — gritou Sharon. — Nick é um homem!
— E você me deixa embaraçada, Sharon.
— Você está tentando me dizer que não aconteceu nada?
— Eu não tenho que lhe dizer nada! — Renée começou a demonstrar
raiva. — Se você e Nick são tão amigos, por que não pergunta isso a
ele?
— Eu não faria isso, porque sei que ele não gosta dessas coisas. —
Sharon continuou olhando Renée com inimizade. — Você se esquece
do tipo de homem que ele é?
— Eu não, mas você sim! — respondeu Renée, desejando apenas
poder levantar-se e sair.
Sharon estava quase para responder furiosamente, mas de-teve-se,
com certeza tentando controlar-se.
— Você está me censurando? — perguntou Sharon friamente.
— Eu sei que você não tem nenhuma justificativa para vir até aqui e
me fazer este tipo de pergunta. Você não é a esposa de Nick e nem
mesmo sua noiva —. respondeu Renée.

Livros Florzinha - 87 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Eu o amo! Você acha que eu o estou constantemente perseguindo


sem razão? Nick é um homem de paixões fortes. Talvez você mesma
possa confirmar este fato. Quando ele fez amor com uma mulher, ela
fica tão vulnerável que não consegue negar.
— Você deve saber muito mais sobre isso do que eu sei. — Renée
ficou chocada com a afirmação de Sharon.
— Então você está com ciúme? Eu sabia! — Sharon levantou-se. —
Você está apaixonada por ele? Por que não? Eu não posso fazer nada
para evitar isso. O poder que Nick exerce sobre as mulheres é bem
conhecido por aqui, mas ele não se casou com nenhuma delas.
—Ele está se guardando para você. — Renée levantou a cabeça.
— Não — respondeu Sharon. — No que me diz respeito, nós já
estamos casados há muito tempo. Só que ainda não assinamos
nenhum papel.
— Então está na hora de Nick lhe dar o sobrenome dele. — Renée
colocou a mão na testa. — Desculpe, eu não tinha percebido essa
situação.
— Não. Você pode entender como eu me sinto quando acho que ele
está me traindo.
— O que eu não entendo é por que vocês não são casados — disse
Renée. — De qualquer forma, eu sempre achei Nick um homem muito
honrado.
— Então você deve me perdoar! — implorou Sharon. — Eu quero que
nós sejamos amigas. Deve saber que Philip está apaixonado por
você.
— Como ele pode estar apaixonado por mim? Ele mal me conhece e
eu também mal o conheço. — Renée parecia confusa.
— Você deixou que ele a beijasse. — As palavras de Sharon estavam
se tornando acusadoras.
— Ele disse isso? — Renée tentou se levantar, mas não conseguiu
por causa da dor.
— É claro que disse. Pip nunca conseguiu guardar um segredo —
respondeu Sharon. — É quase óbvio que você o incentivou, e se não
era isso que queria, você se deu mal.
— Realmente — disse Renée secamente. — Primeiro Nick, agora
Philip. Que tal Ken Thomas?
— Ele tem preferência por mim! — respondeu Sharon, com um
orgulho inesperado. — Uma vez até me pediu em casamento.
— Apesar de você se considerar casada com Nick? — perguntou
Renée, com sarcasmo. — Diga-me, que coisas vergonhosas você fez?
— Como você se atreve! — Por um segundo, Sharon pareceu ficar
louca. Então agarrou o cabelo de Renée, puxando-o violentamente. —
Por que você não vai embora? Ninguém quer você aqui!
— Solte! — Chocada, Renée pareceu indefesa, mas Honey veio
correndo, mordeu o vestido de Sharon e a puxou para longe. Pareceu
tão engraçado que Renée quase caiu na gargalhada, mas o vestido de
Sharon rasgou, ela cambaleou e caiu.

Livros Florzinha - 88 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Você é um estúpido! — Sharon estava roxa de raiva e não fez


nenhuma tentativa para se levantar.
— Honey, venha cá! — Renée respirou fundo, tentando pegar Honey.
— Calma, querido. Agora está tudo bem.
— Está? — gritou Sharon. — Então olhe para o meu estado! — Oh,
desculpe! — Entre divertida e desanimada, Renée olhou para Sharon,
que estava se levantando. — Seu vestido era tão bonito!
— Agora está todo rasgado! — Sharon estava gritando, com os olhos
cheios de lágrimas. — Vou contar tudo para Nick!
— Vai contar o quê?
Nick estava entrando no terraço sem fazer barulho.
— Venha cá, Honey!
O cão reagiu instantaneamente à voz autoritária, correu até Nick e
deitou-se, esperando um carinho.
— O que está acontecendo? — perguntou ele, indo ajudar Sharon a
se levantar.
— Oh, Nick! — Ela encostou-se ne!e, passando a mão pelos olhos
para limpar as lágrimas. — Renée mandou o cachorro me atacar.
— Eu não. Eu não seria capaz de fazer isso. — Renée olhou para Nick,
achando que iria desmaiar de tanta angústia. Com certeza, depois de
tudo isso, ele se casaria com ela.
— Ela mandou, sim! — insistiu Sharon. — Você não acha que ele me
atacaria sem razão, acha? E olhe para o meu vestido!
— Ainda apoiada em Nick, ela levantou um pouco o vestido para
mostrar-lhe o buraco.
— Nós vamos providenciar outro. — Nick franziu a testa ao ver o
prejuízo. — E o que você fez para Renée agir dessa forma?
— Eu não fiz nada — disse Renée, encostando-se na espreguiçadeira.
Ela não tinha intenção de continuar se defendendo. Sharon poderia
dizer o que bem entendesse.
— Foi por causa de Philip — disse Sharon.
— Ah, sim, Philip — repetiu Nick. — O que tem ele?
— Eu não sei o que Renée pretende, mas o caso é que ela o está
incentivando a tal ponto que ele não consegue falar de mais nada. Ele
é muito sensível, você sabe. Meu irmão acha que Renée é a coisa
mais importante que aconteceu com ele, e tudo isso por causa
daquela noite que nós fomos ao teatro.
— O que aconteceu naquela noite? — perguntou Nick. — Philip
sonhou que ela foi até o quarto dele?
— Não ria, Nick! — implorou Sharon.
— Quem está rindo? — Os olhos dele pareciam soltar faíscas.
— Agora eu posso entender, a encantadora menina de olhos verdes
está brincando com a sensibilidade desse menino ingênuo.
— Ela não está apenas brincando com os sentimentos dele!
— exclamou Sharon sarcástica mente. — Ela ficou jogando charme
para cima dele, deixando até que ele a beijasse.
— Na verdade, não foi muito agradável! — disse Renée.

Livros Florzinha - 89 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Você deixou? — Nick olhou para ela. — Pobre coitado!


— Para você é muito fácil ficar aí rindo — gritou Sharon. — Você já
aproveitou muito a vida, mas Pip... ele ainda é uma criança, um
menino indefeso!
— Ele é um tolo! — comentou Nick, com os olhos brilhando. — Philip
ficou apaixonado por Renée desde a primeira vez em que a viu. Ela
ainda o incentivou, sendo gentil e amável, mas você não deve culpá-
la pelas fantasias dele. Se seu irmão quer alguém para cuidar dele,
eu sugiro que continue saindo com Thea Grayson, terá bem mais
chance com ela.
— Então você aprova o que ela fez? — As lágrimas inundaram os
olhos de Sharon e ela se afastou dele como se algo a tivesse
machucado.
— Não, ela vai ter que acertar as contas comigo! — Nick levantou a
cabeça. — Eu ainda estou esperando ouvir a verdadeira história.
— Vamos dizer que Renée está com ciúme de mim. — Sharon
respirou fundo e continuou: — Eu gosto dela, mas ela não gosta de
mim.
— Geralmente as mulheres bonitas não gostam de concorrência. Nick
olhou Renée de cima a baixo.
— Nós poderíamos ter sido amigas — salientou Sharon. — Eu vim até
aqui para ver como Renée estava passando, mas só encontrei
hostilidade e aquele maldito cachorro.
— É? Ele mordeu você? — A fisionomia de Nick ficou um pouco
gozadora. — Normalmente ele é muito manso. Desculpe, Sharon. Vou
providenciar um vestido novo. Foi uma pena, porque este fica muito
bem em você.
— Está bem, Nick! — Sharon parecia mais calma. — Não foi culpa
sua!
— Suponho que a culpa tenha sido minha! — disse Renée,
impulsivamente. — O que foi exatamente que eu disse para que
Honey avançasse em você?
— Acho que já o aborreci muito. — Sharon virou-se para olhar Nick,
um pouco corada. — De qualquer forma, eu pretendo esquecer este
incidente.
— É muito gentil da sua parte, Sharon — respondeu ele suavemente.
— Seria bom que você aconselhasse Philip. Tenho certeza de que
futuramente ele vai lhe agradecer por isso. Esqueça Renée. Receio
que ela não sirva para ele.
— Pelo que vejo, eu vim aqui fazer uma boa ação e acabo sendo
agredida — disse Sharon.
— Então você deixou tudo bem claro. — Nick olhou para Sharon, viu
as lágrimas em seus olhos, colocou o braço na cintura dela e a puxou
para perto de si. — Você realmente não veio aqui para brigar? —
perguntou ele calmamente.
— Não, Nick! — sussurrou ela, levantando a cabeça para olhar nos
olhos dele.

Livros Florzinha - 90 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

— Você, de fato, gosta de falar abertamente, mas deixe que das


minhas coisas cuido eu.
— Sim, Nick! Não fique zangado comigo, eu apenas achei necessário
conversar com Renée sobre Philip. Eu não suportaria vê-lo mais
infeliz.
— Se for necessário, eu vou falar com ele — respondeu Nick
secamente. — Talvez todos nós tenhamos sido muito tolerantes e
gentis com Philip. Ele tem a tendência de deixar suas emoções
flutuarem. Com certeza ele sabe que Renée já está planejando se
casar com outra pessoa.
— Verdade? — Os olhos de Sharon brilharam de alegria e alívio. —
Por que você não me contou antes, Renée? Eu ouvi falar que você
recebeu visitas. Você sabe, aqui é uma cidade pequena.
Renée permaneceu em silêncio, descobrindo naquele instante que o
silêncio valia ouro.
— Podemos ser amigas? — A fisionomia de Sharon suavizou-se
milagrosamente e, afastando-se de Nick, ela aproximou-se de Renée
pegando sua mão.
— Por que não? Talvez seja mais seguro — respondeu Renée, e
aguentou o falso aperto de mão.
— Está tão quente hoje... Eu estava pensando se poderia vir aqui à
tarde e nadar um pouco.
— Por que não? — Renée sentou-se e jogou o cabelo para trás, —
Como pode ver, eu não vou poder fazer companhia a você.
— Você se esquece de que eu estou acostumada a dirigir a casa —
respondeu Sharon com alegria. — Bem, agora, se vocês me
desculparem, vou para casa. Papai vai levar um amigo para o almoço
e eu ainda não resolvi o que vou servir.
— Eu levo você até o carro — disse Nick, hesitando. — Diga a seu
pai que amanhã irei falar com ele.
— Você irá? — Sharon ficou na ponta dos pés e beijou o rosto de
Nick. — Faz muito tempo que você não vai jantar em casa.
— E, você tem razão. — Ele pegou no braço dela e a virou em
direção à porta. — Diga adeus à nossa pequena paciente.
— Tchau, Renée! — gritou Sharon. — Espero que você logo fique boa.
— Eu também. — Renée fez força para não rir, ou chorar. — Desculpe
pelo seu vestido.
— Não tem importância! — Sharon deu um largo sorriso por cima do
ombro. — Afinal, Nick me prometeu um vestido novo.
Entre outras coisas!, pensou Renée, reclinando-se novamente e
fechando os olhos. Na quinta ou sexta-feira seguinte ela já poderia
ficar em pé. Renée estremecia ao lembrar-se das cenas amorosas
com Nick. Ela esforçou-se para não pensar. Durante quanto tempo
Sharon tinha esperado que Nick a pedisse em casamento? Se ela o
conheceu durante toda a sua vida, há muitos anos o estava
esperando. Pobre Sharon! Renée estava com o mais profundo
sentimento de desilusão.

Livros Florzinha - 91 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
Bianca no. 65

Dez minutos depois, quando Nick voltou, encontrou-a ainda de olhos


fechados e com uma forte expressão de melancolia em seu rosto
pálido.
— O que está acontecendo com você? — perguntou ele secamente.
— Eu a deixei por dez minutos e quando volto encontro uma pessoa
completamente diferente.
— E quem é você? — perguntou ela, olhando-o profimdamente.
— Será que estou detectando censura nesses lindos olhos? — Ele
estava olhando para ela com atenção, mas não tinha perdido seu
sorriso goza dor.
— De qualquer forma, não é da minha conta. — Renée tentou se
levantar, mas ele inclinou-se sobre a espreguiçadeira e a manteve
deitada, segurando-a pelos ombros.
— Fique quietinha!
— É claro que eu vou ficar. Não vou fazer nada que você não me
diga.
— Você realmente está com ciúme? — perguntou Nick, com um
sorriso irónico.
— Eu não. Estou apenas de passagem por aqui.
— Mas não pensava assim ontem!
— Você é um estúpido! — exclamou ela, sentindo-se agitada e
nervosa.
— O que me incentiva a beijá-la outra vez. — Ele se reclinou sobre
ela, segurou sua cabeça entre as mãos e a beijou com violência.
— Isto quer dizer que você vai me beijar quando eu não posso me
defender — sussurrou ela, com o pulso e o coração disparados.
— Então vamos para um lugar onde você possa! — exclamou Nick,
sem afastar os olhos do rosto dela.
— Eu prefiro que você não faça isso! — Renée tentou afastá-lo.
— Então? Nós provamos que você não é frígida. O que quer dizer este
insulte nos seus olhos? É algo que Sharon lhe disse?
— Ela ama você.
— Que ótimo! — Os olhos dele soltavam faíscas de raiva.
— E você acha que eu devo sair correndo e me casar com ela?
— Acho que você já deveria ter feito isso há muito tempo
— disse ela, com amargura.
— Meu Deus! — Ele se afastou bruscamente dela, irradiando uma
forte masculinidade. — Eu nunca, nem uma vez...
— Ela me disse que já! — Renée interrompeu-o bruscamente.
— Por que você está se dando ao trabalho de mentir? Eu já lhe disse
que não é da minha conta!
— Não é? Você jura que não é mesmo?
— Mas é claro! Você pode fazer o que bem entender. Eu agradeço de
qualquer forma. — Ela deu uma risada histérica.
— Pare com isso! Procure se controlar.
— Eu quero entrar. — Renée apoiou-se em um braço para conseguir
descer as pernas da espreguiçadeira. —- Aii!

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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Imediatamente, Nick ficou a seu lado, levantando-a no colo.


— Você parece um pássaro machucado.
— Eu estou machucada — disse ela suavemente.
— Nós ainda temos uma hora, antes que Katie esteja de volta. Não
acha que devemos aproveitá-la ao máximo? — Ele a olhou
profundamente nos olhos.
— Parece que você não tem coração!
— Sou um animal insensível, mas é só a você que eu quero.
— Por quanto tempo?
— Quem pode dizer? — Ele passou os olhos por todo o corpo dela.
Um arrepio frio correu-lhe por todo o corpo quando Nick a carregou
para dentro de casa, e então ela deitou sua cabeça no ombro dele.
— Eu gostaria de nunca ter conhecido você.
— Não, minha boneca de olhos verdes, você não pensa isso!
— A voz dele era rude e Renée engoliu em seco.
— Aonde você está me levando?
— Você parece nervosa.
— Você me deixou nervosa desde a primeira vez em que eu o vi.
Agora eu sei que você é um homem cruel e desatencioso.
Nick entrou na biblioteca e sentou-se no sofá com ela no colo.
— Você se lembra daqui?
— Eu não quero me lembrar. — Havia um pouco de violência na voz
dele e Renée arregalou os olhos.
— Você vai se desculpar por me considerar um estúpido?
— De jeito nenhum, Nick.
— Como você quiser! — disse ele, acariciando os cabelos dela.
— Eu não quero que você me beije. Por favor, Nick.
— Eu sei que você me quer, da mesma forma que eu a quero.
Quando você estiver bem, vou lhe provar isso.
— O quê? Você já perdeu o interesse?
— Então eu vou lhe provar agora mesmo!
Em vão Renée tentou se afastar. Nick acariciou o cabelo dela,
segurando sua cabeça onde ele queria que ficasse. — Foi você quem
pediu isso.
— Sim. Porque eu sou louca.
— Ótimo. Eu adoro você.
Nick moveu a mão para acariciar os seios dela, fazendo-a ficar tensa.
Então ele a beijou, não forçando, mas criando tal excitação que o
corpo dela começou a tremer. Renée sentiu medo, medo do poder
que ele exercia sobre ela. Ela não estava usando sutiã, e Nick logo
percebeu isso e a beijou com mais força, na boca, no pescoço e nos
seios. Pequenos beijos. Beijos terríveis, tão terríveis à luz do dia
quanto tinham sido à noite. Talvez até piores.
— Você é linda! — Ele acariciou o rosto e os cabelos dela. — Você
quer ser minha, Bela Adormecida?
— Não à luz do dia! — A resposta deixou-a mais chocada do que a
ele.

Livros Florzinha - 93 -
Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— É delicioso. Você me faz sentir tremer por dentro! É tão estranho!


— Ele virou a cabeça dela para beijar-lhe o lóbulo da orelha e a nuca.
— Nenhuma mulher conseguiu isso antes.
— Então coloque-me no topo da lista. Quantas vêm depois? —
perguntou Renée.
Nick falava suavemente. Havia um desejo nele que correspondia ao
dela; a respiração ofegante, os músculos tensos. Renée tremeu
quando ele a beijou novamente. Beijos que ela nunca mais
conseguiria esquecer.
— Por que você não está dizendo que me ama? — Ele mordeu a
orelha dela enquanto sua mão acariciava-lhe os seios.
— O que é o amor? — Renée sentia-se frustrada por que ele não
tinha os mesmos sentimentos que ela. — O que é? Por favor, me
responda!
— Não, Renée. — Nick levantou a cabeça para olhá-la. — Eu vou
deixar que você descubra isso sozinha.

CAPÍTULO VII

Passaram-se três meses até que fosse inaugurada a exposição de


Caswell, em Sídnei. Três meses de mudanças. Renée tinha
encontrado um emprego de assistente da gerente de produção de
uma revista de moda, e, com um bom salário, ela encontrou um
apartamento minúsculo mas agradável.
Pelo menos era dela e os novos amigos sempre apareciam. Não as
pessoas da alta sociedade que a tinham rodeado a vida toda, mas as
pessoas que trabalhavam com ela e o grupo de propaganda. A
princípio Renée estava certa de que a sua posição social tinha-a
ajudado a arrumar o emprego; uma aparência realçada pelas roupas
caras de sua vida anterior, mas quando ela escutou Lucy Kaplan
descrevendo-a como "meu braço direito", suas dúvidas
desapareceram.
O trabalho era sua salvação. Lucy mantinha-a ocupada o dia inteiro,
ao menos assim ela não tinha tempo para pensar, exceto em
momentos como esse, quando ia se deitar.
A noite, quando o apartamento parecia insuportavelmente silencioso,
mudava os móveis de lugar, lavava o cabelo ou anotava novas ideias
para a chefe. Lucy parecia gostar delas e dizia que Renée tinha
talento, até mesmo para decorar o apartamento.
Alice havia se recusado a ir até lá, mas seu pai tinha ido, olhando ao
redor com uma espécie de angústia. Então ele colocou um braço
sobre os ombros àa filha e levou-a para jantar, dizendo-lhe que tinha
avisado a mulher de que isso iria acontecer.
Renée nunca mais vira Simon, o que era ótimo. Simon pertencia ao
passado, era uma figura sombreada, alguém indistinto e sem rosto.

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Sendo loira e atraente, ela tinha muitos admiradores, e tentar afastá-


los era algo que a mantinha ocupada. Renée havia se iludido muito
no passado. Um dia aceitaria alguém, quando tivesse esquecido tudo.
Nick. Emerald. Apenas aquilo ela não conseguia esquecer. Na-
turalmente, Renée manteve-se em contato com Katie através de
cartas e telefonemas. Ela adorava ouvir a voz de Katie, mas quando a
tia mencionava Nick, o que era frequente, seu coração doía muito.
Era nessas noites que ela chorava até dormir, para então sonhar com
ele. Nick, sua aparência soberba e sua monstruosa arrogância.
Apaixonar-se por ele tinha sido vergonhoso, mas memorável. Renée
não conseguia tirá-lo de sua mente.
Agora Harry, com seu trabalho terminado, estava em Sídnei para a
inauguração da exposição. Renée o tinha visto na televisão, na noite
anterior, sentindo-se muito orgulhosa e triste. Ele havia agradecido
publicamente o incentivo de Katie, Kat-herine Anne Ingram, uma
famosa artista.
Renée sentara-se em frente do pequeno aparelho de televisão
alugado, deixando o café esfriar, enquanto as lágrimas escorriam por
seu rosto. Harry trouxera tudo de volta: Emerald, os trópicos, a
explosão de emoções. A única época de sua vida em que ela
realmente tinha vivido. Agora tudo estava acabado.
Renée foi para a cama cheia de tristeza, mas ainda conseguiu
escolher um vestido novo para usar na exposição. Katie iria chegar de
avião uma hora antes da inauguração, que seria às seis horas, e
prometera ficar alguns dias com Renée. Só havia um quarto no
apartamento, mas Renée não se importava em dormir no sofá. Ela
não se sentia bem em nenhum lugar e já tinha emagrecido tanto que
parecia muito fraca.
Não havia tempo para voltar para casa depois do trabalho, mas
quando ela se arrumou no escritório e trocou de vestido, sabia que
estava bonita. Lucy e alguns colegas ficaram esperando para admirá-
la e os comentários deveriam ter levantado seu moral, no entanto,
havia desespero em seus olhos verdes. Katie tinha-lhe dito que Nick
insistira em levar todos em seu avião e, por experiência, Renée sabia
o efeito que ele tinha sobre ela. A única diferença era que agora ela
trabalhava em uma cidade grande e não havia nada de errado com
sua inteligência ou com sua habilidade para lidar com as pessoas.
Trabalhar com Lucy havia provado isso.
Renée parecia linda como um lírio, com o cabelo longo preso em
coque e um vestido de seda branca. Lucy disse que o vestido era bem
talhado, mas que para usá-lo era preciso ser alta e magra. Se ela
pudesse agir tão calmamente quanto desejava, isto seria ótimo.
Quando Harry a viu no meio da multidão, imediatamente afastou-se
do grupo de admiradores que estavam à sua volta e foi na direção
dela.
— Renée, será possível que você está ficando cada vez mais bonita?

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Você está adorável, Harry! — disse ela, sorrindo. — Eu o vi na


televisão a noite passada. Você causou muito boa impressão.
— Eu fiz pensamento positivo antes de vir. Katie e Nick ainda não
chegaram. Você sabe que eles virão de avião?
— Sim. — Renée viu amabilidade e compreensão nos olhos dele. —
Não se preocupe, vai ser uma noite maravilhosa. Tudo parece
extraordinário e tão bem exposto.
— Goldman sabe trabalhar. — Harry olhou para as cerâmicas e
esculturas. — Espero que você esteja disposta a posar ao lado da sua
escultura. Já causou muita admiração. Na verdade, há muita gente
olhando para você agora.
— Então você não pode garantir o meu anonimato? — Ela olhou para
os penetrantes olhos azuis dele, desejando que passasse o frio que
sentia no estômago,
— Sinto muito, querida, mas você está me tornando famoso e vice-
versa. Já há quatro compradores e eu só fiz seis peças. Sinto-me até
embaraçado em lhes dizer o preço, mas é claro que Goldman tem
que procurar fazer o melhor negócio.
O tempo passou. Renée ficou com Harry, conversando com diferentes
grupos. Todo mundo parecia estar se divertindo. Renée subitamente
ouviu aplausos à sua esquerda e Harry voltou a cabeça naquela
direção. Então ela se virou levemente e viu Katie na entrada, fazendo
um caloroso gesto com as mãos. Houve mais aplausos dos amigos
artistas, e então apareceram Sharon, Ken Thomas e... Nick.
— Harry! — gritou Katie, e Harry correu para encontrá-la, com uma
forte demonstração de ansiedade.
Não foi fácil segui-lo, mas o orgulho de Renée a fez ir. Katie a
abraçou e lhe disse que estava maravilhosa. De alguma forma, ela
encontrou forças para olhar para Nick.
— Como vai, Nick? — Ela esticou a mão, como era de se esperar. Ele
não hesitou e beijou-a no rosto.
— O que você tem feito, Renée? Você parece fraca. E está bem
magra...
— Na verdade eu nunca me senti tão bem! — Aquilo soou frio e seus
olhos dirigiram-se para Sharon. — Você está linda!
Ken cumprimentou-a com um beijo, mas os olhos escuros de Sharon
tinham um brilho peculiar.
— Você emagreceu mesmo, Renée — murmurou ela.
— Talvez um pouco! — Renée deu uma risada. — É difícil acreditar
que já se passaram três meses.
— Três meses, uma semana e quatro dias — disse Nick
inesperadamente.
Não era hora de ficar conversando, pois Harry tinha que circular e, se
possível, falar sobre seu trabalho. E Nick estava olhando com
interesse para a sala, para as esculturas lindamente colocadas sobre
colunas altas, para as magníficas peças em cerâmica e para os potes,

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travessas e jarros colocados sobre mesas compridas e baixas ou no


chão.
— Uma coleção notável, Harry.
— Sim, eu estou indo muito bem — disse Harry, demonstrando
felicidade. — Há algumas pessoas que eu quero que vocês conheçam,
Nick... Katie — Ele virou-se para ela, pegando-a pelo braço. — Vocês
vêm, meninas?
Da passagem que dava para outra sala alguém chamou:
— Ken Thomas! — E Ken, usando um terno muito elegante e uma
camisa listrada, virou a cabeça e respondeu:
— Você, que surpresa!
Por um momento ele ficou paralisado e então virou-se para Renée e
Sharon, que ainda não haviam seguido os outros.
— Desculpem-me, meninas. Um minuto só. Não vou deixar que vocês
conheçam aquele sujeito até que eu tenha certeza de que ele está
absolutamente sóbrio.
— Fique à vontade! — disse Sharon.
Agora elas estavam sozinhas e Ronée percebeu hostilidade no sorriso
de Sharon. Ela estava muito charmosa e, quando levantou a mão
para tirar um fio de cabelo da testa, Renée percebeu o brilho de um
lindo solitário.
— Surpresa? — perguntou Sharon, com malícia.
Derrotada, pensou Renée, sem conseguir responder imediatamente.
Como ela conseguiria aguentar essa noite?
— Então você ainda o ama? — perguntou Sharon, pensativa.
— Foi o que pensei.
— Ao contrário, gostaria de lhe desejar muitas felicidades
— disse Renée corajosamente, diante da crueldade de Sharon.
— Diga-me, quando vai ser o casamento?
— Logo. — Sharon olhou novamente para a mão. — Vamos passar a
lua-de-mel no Havaí e na costa oeste dos Estados Unidos. Não fique
tão desiludida! — Havia um risinho em seus lábios.
— Sinto muito, mas não estou. — Renée estava surpresa por
conseguir ser tão fria, mas estava muito pálida. — Você me dá
licença, Sharon? Percebo que está tentando me irritar, portanto não
há motivo para eu ficar aqui.
— Pobre Renée! Quem foi que realmente a tirou do paraíso? Não fui
eu!
Angustiada, Renée a encarou e então desviou o olhar. Era um prazer
amargo saber que Sharon ainda a via como uma rival, mesmo
estando com o anel de Nick no dedo. Ele não deveria saber, mas teria
por toda a vida uma esposa terrivelmente ciumenta.
— Querida Renée!
Alguém se aproximou dela e segurou seu braço, e quando ela olhou
viu que era um amigo de seu pai, um ávido colecio-nador de
esculturas.
— Sr. Harrington, que bom encontrá-lo!

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— Acabei de chegar — disse ele. — Helen está admirando aquela


esplêndida escultura. E de você, não é?
— Sim, eu fui o modelo. — Renée sorriu para aqueles olhos astutos
mas gentis.
— Eu gostaria de ter uma cópia, embora já haja compradores
interessados. Onde está seu pai?
Clive Harrington levou-a até sua esposa, que estava aparentemente
cativada pela escultura, mas a recebeu calorosamente. Helen
Harrington era uma pessoa agradável e sincera, e só de estar com ela
Renée recuperou-se para suportar mais uma hora. Se suas mágoas
ficassem à mostra, as pessoas desviariam os olhos com horror.
Katie aproximou-se dela e conversou por um momento, apertando as
mãos, extasiada.
— Está indo tudo maravilhosamente bem. Até Roger adorou tudo! —
Ela mencionou um dos mais influentes críticos do país.
— Katie — Clive Harrington segurou-a pelo braço — você tem que
fazer o possível para que eu consiga uma dessas esculturas. É
maravilhosa! Eu soube imediatamente que era de Renée.
— Mas há somente seis, querido! .
— Neste caso, então, eu devo procurar outra. Sorrindo, Renée pediu
licença. Poderia ter sido uma noite
divertida, mas por dentro ela estava abalada. Por que abalada?,
perguntou ela a si mesma. Ela não sabia que isso iria acontecer? Ken
ainda estava conversando alegremente com seu amigo, mas Renée
não conseguia ver Sharon ou Nick. Eles deveriam estar na outra sala,
o que significava que ela não deveria ir até lá. Se pelo menos sua
cabeça parasse de latejar! Nunca em sua vida ela tinha se sentido tão
miserável, mas Renée não poderia permitir que os outros notassem.
Nick, eu o perdi... perdi. Você nunca o teve, dizia-lhe uma voz
interior.
Alguém agarrou seu braço com um movimento surpreendentemente
forte e rápido, e quando ela olhou espantada, Nick disse:
— Bem, eu já fiz de tudo, já gastei alguns milhões de dólares, agora
só vou olhar para o que me pertence.
— E o que eu tenho a ver com isso? — perguntou Renée,
sarcasticamente, ainda querendo-o e precisando muito dele, apesar
de tudo estar terminado.
— Venha comigo e eu lhe direi. Agora! — Havia uma expressão no
rosto dele que lhe dizia para não contrariá-lo.
— Pelo amor de Deus, Nick! — De alguma forma ele a tinha forçado
a sair e eles estavam indo em direção a um dos carros estacionados
no pátio. — Você gosta de fazer coisas desse gênero? Você acha que
é divertido?
— Fique quieta! — respondeu ele rudemente. — Tive um dia muito
cansativo.
— Você não sabe que deixou uma noiva lá dentro?

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Ninguém foge do amor (The butterfly and the baron) Margaret Way
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— Mas o que você pensa... sua pequena tola! — disse ele


bruscamente, e a empurrou para dentro do carro. — Onde é o seu
apartamento? — perguntou Nick, com voz irritada.
— Você não está pensando que...
— Eu perguntei onde, — Ele não gritou, mas também não precisava.
— Não é longe. Primeiro vire à direita, depois vá até o semáforo.
Renée nem sabia o que esperar, estava apenas assustada.
— E agora? — Os olhos de Nick estavam sobre ela quando eles
pararam no sinal vermelho. — Apenas me indique o caminho, isso é
tudo.
Estranhamente intimidada, ela fez o que ele disse, e depois de quinze
minutos eles chegaram.
— Abra — ordenou Nick.
— Eu não consigo achar a chave.
— É claro que não! — Ele pegou a bolsa dela, remexeu dentro,
encontrou a chave e abriu a porta. — Entre.
Renée olhou Nick, tentando avaliar o estranho humor dele, mas não
havia muita luz.
— Então é aqui que você vive! — disse Nick, com desprezo na voz.
— Foi o melhor que eu pude achar, com o meu salário. — As pernas
dela tremiam tanto que Renée teve que se sentar. Há muito ela já
tinha desistido de tentar descobrir o que estava acontecendo. Nick
lhe diria quando achasse que era hora.
— Ah sim, Katie falou sobre o seu trabalho. Agora você provou que é
uma garota esperta. — Ele parou, pegou um enfeite e o colocou de
volta no lugar. — Devo olhar para você daqui?
— Isto não é gentil, Nick — disse ela. — O que é que você quer de
mim?
— A verdade! — Ele virou a cabeça e Renée viu um brilho assustador
em seus olhos. Ela sentiu-se sucumbir, amedrontada e sem forças
para se mover. Nada tinha mudado. Sempre seria dessa forma com
Nick. Renée abaixou a cabeça e começou a chorar.
É claro que ele estava lá e ela o queria, mas Renée tinha aprendido
que não se podia viver sem amor-próprio.
— Não, Nick! Não...
— Não o quê? Eu não devo beijá-la?
Aninhada nos braços dele, Renée ainda o olhava firmemente.
— Eu não posso suportar esta terrível situação.
— Está certo, então me fale sobre isso — incentivou-a Nick,
mantendo-a afastada.
— Você nunca pensou em fidelidade?
— Eu tirei isso da minha mente no momento em que a conheci —
Nick sorriu e afastou uma mecha loira que estava na nuca dela. —
Você foi fiel a mim durante este curto exílio?
— Por favor, Nick, por favor. Você não está pensando em Sharon? —
Renée estava gemendo de desespero, um som que foi cortado
quando Nick colocou violentamente sua boca sobre a dela e a

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segurou com tanta força que ela teve que se agarrar a ele para não
desmaiar. E então não havia mais nada no mundo além de Nick, seu
ardor e sua força, o incrível e vertiginoso desejo que a deixava
inconsciente, insensata.
— Eu a amo, Renée — disse ele.
— Não, Nick.
— Eu a amo! — A voz dele era tão doce, tão possessiva como nos
sonhos dela.
— Eu também o amo! — disse ela, e então toda a alegria
desapareceu. — Eu quero que você me fale de Sharon.
Os olhos dele cobiçaram ardentemente o corpo bonito e magro de
Renée. Ele não poderia beijá-la dessa forma, torturá-la e depois
voltar para Sharon.
— Você não sabe? — disse Nick secamente. — Ela ficou noiva de
Ken.
— O quê? — Os olhos dela se arregalaram e ele os beijou
delicadamente.
— Não faz mais do que uma semana. Então é isso? Ela lhe disse que
ficou minha noiva?
— Não, não. — Renée olhou novamente para ele. — Fui eu que
imaginei.
— Esqueça, querida. Eu conheço Sharon. — Ela vai mesmo se casar
com Ken?
— Acho que sim — disse Nick, sem interesse. — O que quer que
Sharon lhe tenha dito a meu respeito, simplesmente não é verdade.
Eu nunca amei outra mulher em minha vida antes de você. Na
verdade, apaixonei-me por você no mesmo dia em que a levei para a
casa de Katie. Tudo aconteceu tão rápido...
— E você me deixou sofrer todos esses meses?
— Você está certa! — Ele beijou-a novamente, com louca paixão. —
Diga-me, querida, você sofreu muito? Tem sido um inferno não tê-la
junto a mim, mas eu sempre sentia a sua presença quando estava
sozinho. Na casa. Na floresta. Eu a quero para sempre.
— E você achou que eu não conhecia meus próprios sentimentos? —
O rosto dela refletia seus sentimentos tão claramente quanto um
espelho. — Mas é incrível!
— Você tem que ter certeza, querida, porque eu nunca vou deixá-la ir
embora. Só no dia em que eu morrer a deixarei ir. — Ele a puxou
para mais perto de si e então viu lágrimas em seus olhos.
— Se essa é uma sentença de vida, eu agradeço a Deus!
— Renée. — Pela primeira vez ela viu o desejo claro no rosto dele, o
amor sem o qual ela não podia ficar.
— Eu tenho sido tão infeliz! — sussurrou ela.
— Agora você me tem. — Nick beijou-a suavemente. — Pelo menos
até que Katie e Harry cheguem. Eles vêm para cá.
— Então Katie sabe?

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— Querida, Katie sempre soube — murmurou ele, e interrompeu


todas as perguntas com um beijo.

F I M

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