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ESTADO DE MATO GROSSO

PODER JUDICIÁRIO
2º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE CUIABÁ

SENTENÇA

Processo: 1014250-06.2021.8.11.0001.

REQUERENTE: JESUEL DA GUIA ALVES

REQUERIDO: OI S.A

Vistos, etc.

Trata-se de “AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


RELAÇÃO JURÍDICA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS”,
ajuizada por JESUEL DA GUIA ALVES contra OI S.A., distribuída no dia
10.4.2021.

Após o trâmite regular do feito, elaborado, pela Juíza Leiga, o projeto


de sentença de mérito, por via do qual julgados improcedentes os pedidos
iniciais e declarado extinto o processo, com resolução de mérito, condenando à
parte autora ao pagamento multa, custas processuais e honorários advocatícios,
nos seguintes termos (ID. 61375487):

“Vistos etc.

Dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei n. 9.099/95.


DA JUSTIÇA GRATUITA

O artigo 54 da Lei nº 9.099/95 assegura o acesso gratuito ao juizado especial, em


primeiro grau de jurisdição, ao passo que eventual peculiaridade sobre condições
de arcar com custas e despesas, deverá ser formulado em segunda instância, caso
haja prolação de recurso.

DA RELAÇÃO DE CONSUMO – DA INVERSÃO DO ÔNUS


PROBATÓRIO

No caso, conforme apontado anteriormente, a relação travada entre as partes é de


natureza consumerista, pois configurada a relação de consumo, nos termos do
artigo 2º e 3º CDC, razão pela qual devem ser aplicados, ao caso, os ditames
contidos no Código de Defesa do Consumidor, inclusive com relação ao ônus da
prova, cuja inversão, em favor da parte autora.

OPINO por para, nos termos do artigo 6º, VIII conceder a inversão do ônus
de prova, principalmente por considerar que a ré possui maior facilidade de
comprovar a legitimidade de suas atitudes, e o suporte ao autor na ocasião dos
fatos.

DA RETIFICAÇÃO DO POLO PASSIVO

Verifico que a parte autora ingressou com a presente ação em face de OI S.A.

Em defesa a parte requerida pretende que o polo passivo seja alterado, para que
passe a constar a empresa OI MOVEL S/A.

Assim, a fim de evitar futuras alegações de nulidades, OPINO por determinar


que a secretaria promova a retificação no cadastro do feito para constar como
parte ré OI MOVEL S/A.

DO VALOR DA CAUSA

Resta evidenciar que o valor dado à causa é discrepante daquele pretendido a


este título, em evidente descumprimento do art. 292, V, do Novo Código de
Processo Civil c.c. Enunciado nº 39/FONAJE.
Inviabilizada a possibilidade de correção pela parte, nesta fase.

A autora requer indenização por danos morais, ora sugerindo a quantia


correspondente a R$ 27.120,00 (vinte e sete mil e cento e vinte reais), e requereu
a declaração de inexistência do débito no valor de R$ 190,79 (cento e noventa
reais e setenta e nove centavos), de outro lado atribuiu a causa o valor de R$
10.000,00 (dez mil reais).

OPINO, portanto, em fixar o valor da causa em R$ 27.310,79 (vinte e sete mil


trezentos e dez reais e setenta e nove centavos).

DO JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO

Superadas essas nuances, analisando o processo, verifico que se encontra


maduro para julgamento, sendo desnecessária a produção de outras provas para a
formação do convencimento motivado do artigo 371 do CPC/15.

Indagadas a respeito do interesse na produção de prova, as partes em audiência


de conciliação (id. 58018628) a parte autora solicitou o julgamento
antecipado do mérito e a parte ré remeteu a defesa.

DA ANÁLISE DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Pela logística da responsabilidade civil, para que haja a condenação, faz-se


necessário a presença de três requisitos basilares: Ato ilícito, dano e nexo de
causalidade entre eles.

Trata-se de AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO


JURÍDICA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, proposta pela parte
Autora em desfavor da ré alegando que houve inscrição indevida de negativação
em seu nome no valor de R$ 190,79 (cento e noventa reais e setenta e nove
centavos), inscrito em 23/08/2020.
A parte autora na inicial não nega a existência de relação jurídica com a
parte ré, afirmando que no presente caso, houve fraude contratual.

Em defesa a parte ré alegou que a relação contratual foi firmada pelo próprio
autor e que o autor ao ajuizar a ação 8024666-16.2018.811.0001 apresentou
como documento para comprovar a sua residência uma fatura emitida pela ré em
janeiro de 2018, sendo inconteste a sua veracidade, considerando que o próprio
autor anexou naqueles autos a fatura para comprovar a sua residência.

A parte ré apresentou ainda, três gravações mais quais uma senhora, em nome do
autor pretendeu a alteração da senha utilizada na internet contratada.

A parte autora apresentou impugnação a parte autora inova no pedido, afirmando


que a fatura apresentada nos autos 8024666-16.2018.811.0001, possuía outra
numeração de contrato, reconhecendo a relação contratual e negando o débito.

Sendo assim, a parte ré conseguiu comprovar a existência de relação contratual


entre as partes, e de outro lado, a parte autora confessou que de fato houve a
contratação dos serviços da parte ré.

Destarte, apesar de a presente ação tratar de relação de consumo a parte


Reclamante não está dispensada de cooperar para o deslinde do feito. Outrossim,
não podemos confundir a inversão do ônus da prova, deferida em casos de
hipossuficiência do consumidor, com a ausência de dever pela parte Reclamante
de consignar ao menos indícios de suas alegações.

Desta forma, não há que se falar em inscrição indevida de negativação ou de


inexistência de relação jurídica, tendo a parte autora confessado a contratação
dos serviços ora questionados.

Considerando a inovação após a fixação dos limites da lide, OPINO PARA


AFASTAR os pedidos da impugnação que demonstram claramente inovação na
tesse recursal.
Diante do exposto, OPINO por julgar IMPROCEDENTE os pedidos em face
da ré.

DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E DO PEDIDO CONTRAPOSTO

A parte autora afirma em sua petição inicial que não possui relação jurídica com
a empresa ré e que foi negativada de forma indevida.

Após a apresentação de contrato escrito devidamente assinado pela parte autora


o vínculo contratual restou comprovado.

É evidente que a parte demandante litiga de má-fé. Os documentos juntados pela


demandada são provas irrefutáveis desta situação.

O Enunciado 136 do FONAJE quanto ao tema, assim se posiciona:

ENUNCIADO 136 – O reconhecimento da litigância de má-fé poderá implicar


em condenação ao pagamento de custas, honorários de advogado, multa e
indenização nos termos dos artigos 55, caput, da lei 9.099/95 e 18 do Código de
Processo Civil (XXVII Encontro – Palmas/TO).

Tendo em vista que a parte reclamante faltou com seu dever processual e
deduziu uma pretensão totalmente desrevestida de fundamento fático e jurídico,
resta caracterizada a litigância de má-fé, devendo, por consequência imperiosa,
ser-lhe aplicada a multa prevista no art. 81 do CPC, que ora OPINO seja
arbitrada em 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa e demais
prejuízos que poderão ser comprovados nos autos.

Quanto ao pedido de condenação do patrono da parte autora a condenação


por litigância de má-fé de, OPINO por indeferir, considerando que os
advogados não estão sujeitos a aplicação da pena em razão de atuação
profissional, conforme entendimento do STJ.

Ademais, OPINO pela condenação da parte autora ao pagamento das custas do


processo, bem assim dos honorários do advogado, que sugiro sejam fixados no
montante de R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do art. 55 da Lei n.º
9.099/95.

Quanto ao pedido contraposto, registro que não consta nos autos prova quanto
a existência do débito questionado, apenas prova quanto a relação jurídica
inicialmente negada pela parte autora.

DISPOSITIVO

Diante de todo o exposto e fundamentado, OPINO para:

1. POSTERGAR a análise de direito a justiça gratuita.

2. DEFERIR o pedido de retificação do polo passivo para OI MÓVEL S.A.

3. INDEFERIR a preliminar arguida pela parte ré.

4. RECONHECER a relação de consumo entre as partes e deferir a inversão


do ônus da prova em favor da parte autora, nos termos do art. 6º, VIII do CDC.

5. JULGAR IMPROCEDENTE a pretensão deduzida na inicial, declarando


extinto o feito com resolução de mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do
CPC.

6. CONDENAR a parte reclamante ao pagamento da multa de 5% (cinco por


cento) sobre o valor atualizado da causa, bem como ao pagamento das custas do
processo e honorários do advogado, que sugiro sejam fixados no montante de R$
1.000,00 (um mil reais), nos termos do art. 55 da Lei n.º 9.099/95.

7. JULGAR improcedente o pedido contraposto e de condenação de


responsabilidade do patrono da parte autora.

Sem custas processuais e sem honorários advocatícios, nos termos dos artigos 54
e 55, ambos da Lei nº 9.099/95.

À consideração do Excelentíssimo Juiz de Direito do 2º Juizado para apreciação


e homologação, de acordo com o artigo 40 da lei 9.099/95.

Homologada, intimem-se as partes, através de seus patronos.


Amanda de Castro Borges Reis

Juíza Leiga”.

O respectivo projeto foi homologado, pelo Excelentíssimo Juiz de


Direito, Dr. Jorge Alexandre Martins Ferreira, em substituição legal, no dia
28.7.2021 (ID. 61375487).

Dessa sentença, opostos, tempestivamente, em 09.8.2021, pela parte


autora, qual seja, JESUEL DA GUIA ALVES, EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO (ID. 62538930), considerando haver omissão quanto à
análise dos fatos e documentos apresentados nos autos.

Instada a manifestar-se (ID. 64791525), a parte promovida/embargada


deixou o prazo transcorrer “in albis”.

É o que merece ser relatado. DECIDO.

Os embargos de declaração estão previstos no ordenamento jurídico


brasileiro, com relação às decisões proferidas pelos juízes e tribunais, dispondo
os artigos 48 e 49, da Lei n.º 9.099/95, que:

“Art. 48. Caberão embargos de declaração contra sentença ou acórdão nos casos
previstos no Código de Processo Civil.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente,


no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão”.

Por sua vez, o artigo 494, do Código de Processo Civil, estabelece


que:

“Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:

I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais


ou erro de cálculo;

II - por meio de embargos de declaração”.

E o artigo 1.022, desse mesmo Código (CPC), especifica as hipóteses


de cabimento, nos seguintes termos:

“Art. 1022: Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial


para:

I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;

II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz


de ofício ou a requerimento;

III - corrigir erro material.

Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:

I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos


ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento;

II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º”.

No caso sob apreciação, conforme relatado, os presentes embargos


foram opostos, pela parte autora/embargante, alegando existir omissão quanto à
análise dos fatos e documentos apresentados nos autos.
Entretanto, a despeito dos arrazoados da parte embargante, não houve
omissão a ser suprida, na decisão hostilizada.

Com efeito, basta uma leitura da sentença dantes mencionada


(ID. 61375487), para se constatar que a argumentação ali utilizada foi, deveras,
consoante os fatos narrados e contestados, encartados nesta lide.

Vê-se, pois, que a parte embargante tenta a reforma da decisão perante


este juízo. Incabível, contudo, a via eleita, devendo ela valer-se, querendo, do
recurso apropriado e hábil ao reexame da causa.

Diante do exposto e ante tudo o mais que dos autos consta,


CONHEÇO dos presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (ID.
62538930), porque preenchidos os requisitos de admissibilidade do recurso,
porém, os REJEITO, em face da inexistência de omissão entre as proposições
na sentença embargada (ID. 61375487), persistindo essa, em consequência, tal
como está lançada.

Intimem-se e prossiga, na forma do procedimento.


Cumpra-se, observando as formalidades legais.

Cuiabá, MT, data registrada no sistema.

Maria Aparecida Ferreira Fago

Juíza de Direito

Assinado eletronicamente por: MARIA APARECIDA FERREIRA FAGO


https://clickjudapp.tjmt.jus.br/codigo/PJEDAJRXRJYSC

PJEDAJRXRJYSC

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