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XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.


Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

CIMENTO TIPO PORTLAND: UMA


APLICAÇÃO DA ANÁLISE DO CICLO
DE VIDA SIMPLIFICADA
elbert muller nigri (UFMG)
elbertnigri@yahoo.com.br
Eduardo Romeiro Filho (UFMG)
romeiro@ufmg.br
Sonia Denise Ferreira Rocha (UFMG)
sdrocha@demin.ufmg.br

No ritmo e sistemas atuais de produção e consumo tem-se uma


situação que num futuro próximo culminará no fim dos recursos
naturais e na completa mudança do mundo como se conhece. Tal
situação pode ser evitada aliando-se o consumo conscientee a um
sistema de produção sustentável. Para alteração do sistema produtivo
se faz necessário sua análise onde se indiquem etapas da produção que
são nocivas ao meio ambiente. Este trabalho apresenta uma aplicação
simples da Análise do Ciclo de Vida - ACV que consiste numa
ferramenta avaliativa dos impactos ambientais gerados durante todo
ciclo de vida de um produto, bem como seus resultados. A análise
demonstra que, durante o ciclo de vida do cimento tipo Portland, a
etapa de fabricação de cimento se constitui num processo prejudicial
ao ambiente onde se destacam o efeito estufa, causado pela queima de
combustíveis fosseis, a contaminação por metais pesados devido a
atividades mineradoras e a smog causada pela emissão de material
particulado.

Palavras-chaves: Análise do ciclo de vida; Consumo consciente;


Sistema produtivo.
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A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
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Artigo

1. Introdução
Atualmente, o mundo globalizado apresenta uma sociedade voltada ao consumismo e a busca
de um desenvolvimento tecnológico que acaba por proporcionar a geração de produtos cada
vez menos duráveis e, de um mercado que se empenha em suprir essa demanda a todo custo.
Custo esse que consiste na extinção de recursos naturais e na degradação do meio ambiente.
Tal situação impõe que sejam feitas modificações na relação entre o homem e a natureza antes
que se concretize um quadro sem retorno. O desenvolvimento sustentável se constitui numa
proposta que busca a alteração do sistema produtivo, suprindo as necessidades da sociedade e
garantindo a preservação de recursos naturais (RODRIGUES e ALMEIDA, 2007). Para
alteração do sistema produtivo se faz necessário sua análise onde se indiquem etapas da
produção que são nocivas ao meio ambiente e, após esta indicação, o próximo passo seria sua
reformulação. Um dos principais métodos utilizados para avaliação dos impactos ambientais
provocados pelos produtos industriais é chamado de Análise do Ciclo de Vida.

1.1. Histórico da Análise do Ciclo de Vida


Estudos envolvendo o ciclo de vida de produtos tiveram início na década de setenta nos EUA.
Como na época a questão ambiental não era tida como prioridade, somente em meados dos
anos oitenta houve uma maior preocupação quanto ao nível de degradação ambiental gerado
na fabricação de determinados produtos. Com isso surgiram metodologias nas quais eram
propostos cálculos de medição de impactos ambientais sendo que, a Society of Environmental
Toxicology and Chemistry (SETAC) foi uma das grandes responsáveis pelo desenvolvimento
dessas técnicas. Na década de noventa houve um notável crescimento desse estudo nos EUA e
Europa e, o termo Life Cycle Assessment (LCA) passou a ser utilizado.
Como os impactos ambientais gerados pelo desenvolvimento econômico e industrial da
sociedade passaram a ser vistos como um grande problema a ISO - International
Organization for Standardization, com o apoio da SETAC, criou o Comitê Técnico TC 207
com o objetivo de desenvolver normas envolvendo questões ambientais. Surgiu então a série
14000 com a missão de estabelecer uma padronização de processos produtivos que
utilizassem recursos extraídos do meio ambiente ou que gerassem algum dano ambiental.
Abaixo são citadas normas ISO relacionadas com Análise do Ciclo de Vida (ACV).
ISO 14040: Environmental management -- Life cycle assessment -- Principles and
Framework
ISO 14041: Environmental management -- Life cycle assessment -- Goal and scope definition
and inventory analysis
ISO 14042: Environmental management -- Life cycle assessment -- Life cycle impact
assessment
ISO 14043: Environmental management – Life cycle assessment -- Life cycle interpretation
ISO/TR 14049: Environmental management -- Life cycle assessment -- Examples of
application of ISO 14041 to goal and scope definition and inventory analysis
ISO/TS 14048: Environmental management -- Life cycle assessment -- Data documentation
format

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ISO/TR 14047: Environmental management -- Life cycle impact assessment -- Examples of


application of ISO 14042 (FERREIRA, 2004).

1.2. Descrição da Análise do Ciclo de Vida


A análise do ciclo de vida de produtos estuda a interação entre toda a vida do produto, desde a
extração de matéria prima ao descarte, e o ambiente, procurando dimensionar os impactos
gerados à natureza.
Num estudo ACV de um produto ou serviço, todas as extrações de recursos e emissões para o
ambiente são determinadas, quando possível, numa forma quantitativa ao longo de todo o
ciclo de vida, desde que "nasce" até que "morre" - “from cradle to grave”, sendo com base
nestes dados que são avaliados os potenciais impactes nos recursos naturais, no ambiente e na
saúde humana (FERREIRA,2004).

Figura 1 – Estágios do ciclo de vida e possíveis entradas e saídas no sistema.

1.3. Fases do ACV


De acordo com a norma ISO 14040 o ACV é composto das seguintes etapas:
ISO 14040: Princípios e Estrutura:
ISO 14041: Definições de escopo e análise do inventário
ISO 14042: Avaliação do impacto do ciclo de vida
ISO 14043: Interpretação do ciclo de vida
(ISO 14040,2001)

1.3.1 Princípios e Estrutura


Nesta etapa devem estar descritos de forma clara o objetivo do estudo contendo justificativas,
seu âmbito e sua unidade funcional.

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1.3.2 Definições de escopo e análise do inventário


Na definição do escopo, o produto é caracterizado, seu processo de produção é descrito bem
como os insumos utilizados em sua fabricação e, também as tecnologias envolvidas. A partir
do processo produtivo são determinados sistemas e suas fronteiras delimitando as etapas que
serão incluídas ou não no estudo. Os sistemas são divididos em subsistemas ligados entre si
por fluxos de materiais, energia e descargas ambientais.
Os dados inclusos no estudo são colocados de acordo com a unidade funcional que estabelece
uma referência entre entradas e saídas do sistema. Na etapa final de definição de escopo são
estabelecidos quais os aspectos ambientais e categorias de impacto adotadas no estudo. Os
aspectos ambientais estão associados ao consumo de recursos naturais, materiais secundários
e energia e à emissão de resíduos, além de vibrações, radiação, odor e efluentes líquidos.
(VALT,2004).
A análise do inventário se constitui na coleta e quantificação dos dados ou variáveis
envolvidas no sistema. Esta etapa determina os fluxos, ou seja, as entradas e saídas de
materiais no sistema. Assim, a qualidade do trabalho varia de acordo com a qualidade dos
dados.

1.3.3 Avaliação do impacto do ciclo de vida


A avaliação do impacto do ciclo de vida determina a intensidade com que os aspectos
ambientais gerados durante o ciclo de vida do produto afetam o ambiente sendo que, os dados
são classificados e agrupados de acordo com as categorias determinadas e são atribuídos
valores de acordo com uma escala de importância definida previamente. Não existe um
consenso quanto à atribuição de valores ou pesos aos impactos ambientais.

1.3.4 Interpretação do ciclo de vida


Esta é a última fase da ACV, onde os resultados obtidos nas fases anteriores são avaliados de
acordo com os objetivos propostos no início da análise. De acordo com a ISO14043 esta fase
define um procedimento sistemático para identificar, qualificar, conferir e avaliar as
informações dos resultados do inventário do ciclo de vida ou avaliação do inventário do ciclo
de vida, facilitando a interpretação do ciclo de vida para criar uma base onde as conclusões e
recomendações serão materializadas no Relatório Final.

1.4. Benefícios do ACV


A Análise do Ciclo de Vida serve como auxilio na tomada de decisão de produção de
determinados produtos ou escolha de processos considerando os impactos causados ao
ambiente. Proporciona uma visão geral do real impacto causado pela fabricação de
determinado produto e, também determina as etapas críticas da produção que proporcionam
altas descargas ambientais ou que consumam grandes quantidades de recursos naturais. Com
isso pode-se comparar dois produtos ou processos e avaliar qual será a melhor opção.

1.5. Limitações do ACV


A Análise do Ciclo de Vida de produtos necessita de recursos e tempo, de maneira que
determinados estudos se tornam praticamente inviáveis variando sua aplicação de acordo com
o custo benefício de cada análise. Além disso, a ACV serve apenas como apoio à decisão,
pois não determina qual o melhor processo ou produto e os custos associados.

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2. Estudo de caso
Cimento tipo: Cimento Portland

2.1. Princípios e objetivos


Sendo uma das matérias primas essenciais da sociedade moderna, o cimento tem feito parte de
nosso cotidiano estando presente em praticamente todas as edificações desenvolvidas pelo
homem. Torna-se difícil imaginar a sociedade sem o uso do cimento tendo em vista sua
tamanha importância.
Baseado na importância do cimento para a sociedade, bem como no impacto gerado ao
ambiente durante seu ciclo produtivo, a análise do ciclo de vida deste se mostra interessante.
Neste trabalho apresentaremos um modelo simplificado do Ciclo de Vida do Cimento.
Adotou-se como unidade funcional ou valor referência para a Análise do Ciclo de Vida do
Cimento a produção de 1 tonelada do produto ou vinte sacos de 50 quilos de cimento.

2.2 Definições de escopo e análise do inventário


O ciclo de vida do cimento, desde a retirada de suas matérias-primas da natureza, até sua
disposição final, está descrito no fluxograma a seguir.

Figura 2 – Fluxograma do ciclo de vida do cimento

2.2.1 Descrição do produto

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O cimento é um material cerâmico que, em contato com a água, produz reação exotérmica de
cristalização de produtos hidratados, ganhando assim resistência mecânica. É o principal
material de construção usado na construção como aglomerante (WIKIPÉDIA,2009).

2.2.2 Materiais que compõem o produto


Clínquer
Gesso
Escória siderúrgica
Argila pozolânica
Calcário

2.2.3 Descrição do ciclo de vida do cimento


2.2.3.1 Fabricação
Etapas do processo de fabricação do cimento
- Extração
Extração de calcário e de argila de jazidas geralmente a céu aberto no Brasil.

- Britagem
O calcário extraído é britado para adquirir dimensões adequadas ao processo industrial e
impurezas selecionadas. A argila por ser mole não é britada.

- Depósito
O calcário e a argila são depositados separadamente para serem submetidos a testes de
qualidade e para seguirem para uma pre- homogeneização.

- Mistura
Um composto de 90% de calcário e 10% de argila é dosado para ser misturado e triturado no
moinho cru.

- Moinho cru
A mistura passa por uma moagem de modo a obter um tamanho particulado de 0,050 mm em
média.

- Silos de homogeneização
A mistura, agora chamada de farinha passa por um processo de homogeneização para se
adquirir a quantidade exata de elementos que compõem o clínquer.

- Fusão
A farinha é introduzida no forno, passando antes por pré aquecedores que aproveitam os gases
provenientes do forno e promovem o aquecimento inicial da farinha transformando-a em
clínquer. Bolotas escuras.

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- Resfriador
Um resfriador promove a redução de temperatura a 80 ºC para que se complete a etapa de
clinquerização e o término das reações químicas que determinarão as características do
cimento.

- Mistura
Junto ao clinquer são adicionados: gesso, escória de alto forno, pozolana e calcário que
compõem o cimento tipo portland.

- Moagem final
A mistura é moada dando origem ao cimento tal como conhecemos.O cimento é estocado
analisado e segue para a etapa de empacotamento e expedição (ABCP,2009).

2.2.3.2 Transporte
O transporte de matérias prima que compõem o cimento e também do produto acabado é
feito, em sua grande maioria, por vias urbanas, proporcionando a emissão de CO2 na
atmosfera e contribuindo para o efeito estufa.

2.2.3.3 Utilização
Durante sua utilização em edificações ainda ocorrem emissões de material particulado
causadores de problemas respiratórios e irritações de pele e olhos.

2.2.3.4 Descarte/fim de vida


No final da vida útil do cimento, este geralmente é descartado na forma de entulho em aterros
ou locais impróprios. Uma parte já vem sendo utilizada para pavimentação de vias e
tapamento de valas.
O entulho também pode ser reprocessado e utilizado como agregado de cimento

2.2.3.5 Apresentação dos dados


A tabela1 abaixo apresenta dados de um estudo feito na indústria do cimento realizado nos
EUA. Os dados foram estimados para a produção de 1 tonelada de cimento. As fontes de
energia utilizadas no estudo apresentam a porcentagem de: carvão (70%), óleo combustível
(15%), e gás natural (15%). Estes valores variam de acordo com o processo utilizado.

INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE ELEMENTOS E DE ENERGIA PARA O PROCESSO DE


FABRICAÇÃO DE CIMENTO.
A energia, as emissões e insumos são divididos entre três grandes etapas de transformação.
ETAPA: Trituração, moagem e mistura
Energia (eletricidade)
Carvão GJ 0,224
Óleo GJ 0,048
Gás natural GJ 0,048
Emissões
Material particulado gr 5,44

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ETAPA: Pré-aquecimento e forno


Energia (calor)
Carvão GJ 3,230
Óleo GJ 0,693
Gás natural GJ 0,693
Emissões
Material particulado Kg 0,02
Dióxido de carbono Ton 0,51
Poeira de Cimento do forno Ton 0,10
ETAPA: Moagem e mistura de clinquer
Energia (electricidade)
Carvão GJ 0,322
Óleo GJ 0,069
Gás natural GJ 0,069
Emissões
Partículas gr 4,99

FONTE: (Adaptado Huntzinger e Eatmon, 2008.)


Tabela 1 – Inventário de emissões e energia no processo de fabricação do cimento

3. Avaliação do impacto do ciclo de vida


3.1 Avaliação de impactos ambientais segundo o método Eco-indicador 95
Um dos métodos empregados para avaliar os resultados obtidos pela ACV é a adoção de
categorias de impacto ambiental como aquecimento global, eutrofização, acidificação, efeito
fotoquímico e outros. Este método é denominado de Eco indicador 95.
O método Eco Indicador 95 quantifica o desempenho ambiental associado ao produto ou
processo ao longo de seu ciclo de vida. A avaliação é feita através da multiplicação de cada
dado normalizado por um fator de peso determinado de acordo com o prejuízo que cada
categoria de impacto pode causar ao meio ambiente. Este método permite a comparação entre
o ciclo de vida de produtos ou processos que atendam situações semelhantes, determinando a
quantificação dos mesmos quanto ao seu impacto ambiental. A Tabela 2 mostra fatores de
peso adotados para as categorias de impacto adotadas no método Eco Indicador 95.

MÉTODO ECO-INDICADOR 95

CATEGORIA DE IMPACTO FATOR DE PESO

EFEITO ESTUFA 2,5


ACIDIFICAÇÃO 10
EUTROFIZAÇÃO 5
SMOG 5
METAIS PESADOS 5
SUBSTÂNCIAS CANCERÍGENAS 10
FONTE: (Adaptado MARTINHO, 2006.)
Tabela 2 – Fatores de valoração de acordo com o método eco-indicador 95

3.2 Relação entre categorias de impactos ambientais e seus agentes causadores


O aquecimento global é resultado do efeito estufa. O efeito estufa consiste num processo que
ocorre quando uma parte da radiação solar refletida pela superfície terrestre é absorvida por
determinados gases presentes na atmosfera. Como conseqüência disso, o calor fica retido, não
sendo liberado ao espaço. O aumento de efeito estufa é provocado pela emissão de gases na

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atmosfera. Gases como, dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), Óxido nitroso (N2O),
CFC´s (CFxClx).
A eutrofização consiste no excessivo enriquecimento em nutrientes das massas de água e a
conseqüente degradação dos sistemas aquáticos, normalmente induzido direta ou
indiretamente por atividades humanas. Entre as principais substâncias responsáveis pela
eutrofização da água estão o nitrogênio (N2), o fósforo (P2), a amônia (NH3), compostos
nitrogenados, fosfatos, óxidos de nitrogênio (NOx), óleos e gorduras. A acidificação é o
aumento da acidez do meio resultante da volatilização de diversos compostos como dióxido
de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx) que são dissolvidos na água da chuva,
combinando-se com outros elementos formando ácidos. Os ácidos, ao atingirem a superfície
terrestre, alteram a composição química do solo e das águas, além de causarem dano em
estruturas metálicas e edificações.
O efeito fotoquímico é causado pela reação entre Compostos orgânicos voláteis VOC’s e
outras substâncias presentes na atmosfera, produzindo compostos oxidantes fotoquímicos.
Como conseqüência tem-se o aumento de doenças respiratórias. A contaminação de metais
pesados causada pela manipulação dos mesmos é medida
pela concentração máxima admissível em substancias ou materiais multiplicado pela emissão
deste. A carcinogenia é o aumento da presença de substâncias consideradas cancerígenas no
ambiente. Smog é um fenômeno caracterizado como a mistura de gases, fumaça e vapores de
água, formando uma grande massa de ar. Este é formado por óxidos de nitrogênio (NOx),
compostos voláteis orgânicos (VOC), dióxido de sulfureto, aerossóis ácidos e gases.

IMPACTO AMBIENTAL POR CATEGORIA


(método Eco-indicador)

EFEITO ESTUFA 0,088


ACIDIFICAÇÃO 0,043
EUTROFIZAÇÃO 0,006
METAIS PESADOS 0,204
CARCINOGÉNEOS 0,003
SMOG 0,039
FONTE: (Adaptado Huntzinger e Eatmon, 2008.)
Tabela 3 – Valores de impactos gerados na fabricação do cimento segundo o métodp eco-indicador 95

4. Impactos ambientais gerados durante o ciclo de vida do cimento


A produção de cimento pode gerar impactos ambientais locais como ruídos, diminuição da
qualidade do ar, mudança no ecossistema local devido a extração de matérias-primas como
argila, calcário, minério e outros. Regionalmente pode provocar chuva ácida devido a emissão
de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de azoto (NOx) e outros. Já a queima de combustíveis
fósseis como óleo, carvão e gás natural pode provocar mudanças climáticas em escala
mundial.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE) a produção de cimento gera uma média
mundial de emissão de CO2 de 0,81 kg por kg de cimento produzido. Em média, cerca de 1
tonelada de concreto é produzido cada ano para todos os seres humanos em todo o mundo.
Estima-se que cerca de 5% das emissões globais de CO2 provêm a partir da fabricação de
cimento. Além da geração de CO2 no processo de fabricação do cimento, são produzidas

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milhões de toneladas de resíduos (pó forno de cimento) a cada ano contribuindo para a
poluição e riscos à saúde respiratória.
A calcinação, processo de retirada de CO2 para formar CaCO3 em CaO, contribui para cerca
de metade do CO2 emitido, enquanto o restante provêm do consumo de energia durante o
processo de produção.
Devido às características do processo tecnológico e às propriedades físico-químicas e
toxicológicas das matérias-primas e insumos empregados na fabricação do cimento, do
clínquer e do próprio cimento, as plantas cimenteiras apresentam riscos para a saúde dos
trabalhadores, para a saúde pública e para o meio ambiente, associados, principalmente, à
exposição ao material pulverulento que permeia toda a cadeia de produção e às emissões de
substâncias poluentes, que ocorrem de forma continuada, e mesmo em concentrações
reduzidas, caracterizam o risco crônico. (SANTI e SEVA, 2004).
O processo de fabricação de cimento, incluindo todas as etapas, se constitui num potencial
risco ao ambiente, desde a mineração e a preparação do calcário, a homogeneização e
moagem das matérias-primas, a fabricação do clínquer, a moagem até o ensacamento e
expedição do cimento. Além do risco associado ao uso final do cimento.
Pode-se observar pela tabela 1 que todas as etapas de fabricação do cimento geram impacto ao
ambiente. Observa-se também, que grande parte da energia utilizada no processo concentra-se
na etapa de utilização de fornos e, conseqüente emissão de material particulado no ar.
Durante a extração de matéria surgem impactos ambientais como a retirada de vegetação local
para a atividade de mineração, o assoreamento de rios, a contaminação de lençóis freáticos
devido ao material particulado gerado na extração entre outros.
Durante a britagem, moagem e homogeneização, assim como praticamente em todo o
processo de fabricação, ocorre a emissão de material particulado e de substâncias voláteis
para o ambiente de trabalho e para a atmosfera podendo causar diversos problemas de saúde.
Na etapa de utilização do forno ou etapa de fusão é a que consome mais energia e, portanto,
tem o maior impacto ambiental. Isto se deve, não somente à queima de combustível fóssil que
libera metais pesados além de CO2 e SO2, mas, também, pelo processo de calcinação. Somado
a isto, ocorre a liberação de partículas (poeiras forno de cimento). Uma grande porção desta
poeira é eliminada indevidamente em aterros. Devido à sua natureza cáustica a poeira pode
causar irritações na pele, olhos, e causar problemas respiratórios.
Após a fusão, novamente se destaca a emissão de material particulado nas etapas de mistura,
moagem, embalagem e expedição.
A etapa de uso também proporciona a emissão de resíduos sólidos.
Na vida útil do cimento, presente em edificações, não ocorre emissões de partículas, gases
poluentes ou agentes poluidores em geral. No entanto, seu descarte na forma de entulho se
constitui num grande problema.
Com o aumento das cidades e a redução da vida útil de edificações, a geração de entulho tem
se tornado cada vez maior e, muitas vezes, seu descarte tem sido feito de maneira indevida.
Assim, lotes vagos e regiões têm servido de locais para descarte proporcionando poluição
visual, crescimento da população de insetos e proliferação de doenças.
Devido aos grandes impactos gerados pelo ciclo de vida do cimento, estudos têm sido
realizados com o fim de amenizá-los. No Brasil, estudos demonstram que o uso de resíduos

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agrícolas pode diminuir o uso de cimento e, assim, reduzir a emissão de CO2. As cinzas do
bagaço de cana, da casca de arroz e os resíduos da indústria cerâmica são candidatos para
entrar na preparação do concreto e diminuir a presença do cimento na elaboração desse
produto. Além disso, a indústria brasileira de cerâmica produz cerca de 5 a 6 milhões de t de
resíduos na produção de telhas, tijolos e pisos. Esse material, depois de calcinado e moído,
pode substituir até 20% do total de cimento (SETOR RECICLAGEM, 2009). Outra maneira
de amenizar o impacto ambiental consiste na utilização do entulho como agregado de
cimento. O entulho já vem sendo utilizado para pavimentação de vias urbanas e fechamento
de valas (ZORDAN, 1997).
A utilização do método eco-indicador tabela 3 demonstra que realmente a fabricação de
cimento se constitui num processo prejudicial ao ambiente onde se destacam o efeito estufa,
causado pela queima de combustíveis fosseis, a contaminação por metais pesados devido a
atividades mineradoras e a smog causada pela emissão de material particulado.

5. Referências

ABCP - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - Portal. Disponível em:


<http://www.abcp.org.br/home.shtml> Acesso em: mar. 2009.
FERREIRA, J.V.R. Gestão Ambiental - Análise do ciclo de vida dos produtos. (ESTV/IPV) Instituto
Politécnico de Viseu, Viseu. 2004.
HUNTZINGER, D. N.; EATMON,T. D. A life-cycle assessment of Portland cement manufacturing:
comparing the traditional process with alternative technologies. Journal of Cleaner Production xxx (2009) 1-8.
MARTINHO, A. P. Análise de Ciclo de Vida de produtos ou serviços.Universidade do Algarve. 2006.
Disponível em: <w3.ualg.pt/~lnunes/Textosdeapoio/Disciplinas/Gestao_Aud/GAA6.pdf> Acesso em maio de
2009.
NBR ISO 14040. Gestão Ambiental - Avaliação do ciclo de vida - Princípios e estrutura, ABNT, São Paulo,
Novembro 2001. 10p.
RODRIGUES, A.J.M.; ALMEIDA, C.M.V.B. A Contabilidade Ambiental na Metodologia do Ecodesign:
Utilizando a Emergia como uma Medida Quantitativa de Avaliação de Carga Ambiental. O Caso das
Embalagens PET. IV Conferência Paulista de Produção Mais Limpa, Universidade Paulista, São Paulo. 2007.
SANTI, A. M. M.; SEVÁ FILHO, A. O. Combustíveis e riscos ambientais na fabricação de cimento; casos na
Região do Calcário ao Norte de Belo Horizonte e possíveis generalizações. II Encontro nacional de pós-
graduação e pesquisa em ambiente e sociedade – ANPPAS. Campinas, 2004.
SETAC - Society of Environmental Toxicology and Chemistry, Guidelines for Life-Cycle Assessment: A 'Code
of Practice', SETAC, Brussels, 1993.
SETOR RECICLAGEM - Portal. Disponível em:
<http://www.setorreciclagem.com.br/modules.php?name=News&file=print&sid=665> Acesso em: mar. 2009.
VALT, R.B.G. Análise do ciclo de vida de embalagens pet, de alumínio e de vidro para refrigerantes no Brasil
variando a taxa de reciclagem dos materiais. 2004. 193 f. Dissertação (Programa de Pós-graduação em
Engenharia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2004.
WIKIPÉDIA, A ENCICLOPÉDIA LIVRE - Portal. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%ADnquer > Acesso em: mar. 2009.

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ZORDAN, S. E. A Utilização do Entulho como Agregado na Confecção do Concreto. Campinas:


Departamento de Saneamento e Meio Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de
Campinas. Dissertação (Mestrado), 1997. 140p.

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