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POLÍCIA MILITAR DA BAHIA

CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS 2008

PROTEÇÃO E VALORIZAÇÃO DA RAÇA HUMANA

SD PM LUANA MARTINS DANTAS


1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA........................................................ 03

2. OBJETIVOS DO CURSO......................................................................... 04

3. CONCEITOS: .......................................................................................... 05

3.1 RAÇA...................................................................................................... 05
3.2 ETNIA.................................................................................................... 06
3.3 RACISMO............................................................................................... 06
3.4 ETNOCENTRISMO................................................................................ 08
3.5 PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO.................................................... 09
3.6.MINORIAS SOCIAIS.............................................................................. 10

4. COR E GÊNERO NA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA............................... 11

5. AS MINORIAS SOCIAIS: NEGROS, MULHERES E HOMOSSEXUAIS NA 12


SOCIEDADE BAIANA...................................................................................

6. AÇÕES DA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA: NAFRO E CENTRO MARIA


FELIPA........................................................................................................ 21

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 24

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................
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SUMÁRIO
CFSd – Proteção e Valorização da Raça Humana

Apresentação

Nos últimos anos cresceu o debate acadêmico, bem como na sociedade


como um todo, sobre questões ligadas à discriminação, seja ela racial, social ou
de gênero. Esse crescimento em muito se deve a pressão dos movimentos
organizados que lutam por uma inserção digna e igualitária desses grupos
considerados “minoritários” na sociedade brasileira.
A Polícia Militar enquanto instituição que atua diretamente na sociedade
não pode ficar distante dessas discussões fundamentais para o entendimento da
dinâmica social. Observa-se que a instituição paulatinamente vem buscando se
adaptar as mudanças sociais, procurando estar atenta às necessidades da
população. Entretanto algumas práticas ainda dificultam o diálogo entre os
policiais militares e a sociedade civil como um todo.
Nesse sentido, essa disciplina tem como finalidade auxiliar no combate a
todas as formas de discriminação que emergem na atuação de alguns integrantes
da Polícia Militar da Bahia utilizando uma abordagem interdisciplinar e voltada
para o cotidiano profissional.
O combate a essas atitudes está regulamentado através da Constituição e
de leis específicas que precisam ser divulgadas, e mais que isso, colocadas em
funcionamento para que se possa erradicar, de uma vez por todas, as injustiças
sociais do nosso país. Salientamos, no entanto, que a existência e a aplicação das
leis não são suficientes para que a discriminação seja combatida. É necessário,
acima de tudo, consciência, sensibilidade e comprometimento com a causa.

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OBJETIVOS DA DISCIPINA

Apresentar ao Policial Militar em formação uma visão ampla sobre o seu


papel em uma sociedade plural, na qual o próprio PM está inserido, além de
introduzir no ambiente de formação profissional questões fundamentais para o
entendimento da sociedade, procurando, dessa forma, minimizar o distanciamento
construído entre a Polícia Militar da Bahia e a comunidade baiana.

Aproximar os policiais militares em formação de conceitos e discussões


fundamentais para a compreensão dos problemas sociais.

Debater de forma crítica a relação dos policiais militares com a comunidade em


que está inserido;

Compreender a construção, por parte de uma parcela dos policiais militares, de


discursos e estereótipos associados a determinados grupos e classes sociais;

Discutir os preconceitos que envolvem os grupos considerados minoritários na


sociedade;

Evidenciar as ações da Polícia Militar para diminuir as formas de preconceito e


discriminação entre os próprios policiais militares, bem como entre esses e a
sociedade.

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CONCEITOS

“(...) a discriminação parece se consolidar como alguma coisa que se


repete, que se reproduz. Não se pode esmorecer na hipocrisia e dizer que
o nosso jeito não é esse. Não, o nosso jeito está errado mesmo,  há uma
repetição de discriminações e há a inaceitabilidade do preconceito. Isso
tem de ser desmascarado, tem de ser, realmente, contra-atacado, não só
verbalmente, como também em termos de mecanismos e processos que
possam levar a uma transformação, no sentido de uma relação mais
democrática, entre as raças, entre os grupos sociais e entre as classes”.
(Fernando Henrique Cardoso, 1997).

RAÇA

A origem da palavra “raça” é  obscura. Alguns estudiosos entendem que a


sua etimologia  provém da palavra latina  “radix”, que significa  raiz ou tronco;
enquanto outros acham que ela tem origem na palavra italiana “razza”,  que
significa  linhagem ou  criação. Seja qual for a sua origem, ela foi introduzida na
literatura científica há cerca de 200 anos e desde então tem aparecido em tantos
diferentes contextos que até hoje a palavra “raça” não teve o seu significado
exatamente claro.
É necessário, contudo, deixar evidente que o conceito de raça não existe
cientificamente. Por outro lado, não devemos esquecer que até aproximadamente
a 2ª Guerra Mundial a idéia de raça ainda era legitimada pela ciência, embora não
houvesse nenhum critério verdadeiramente científico que comprovasse a
existência de raças. Principalmente depois da 2ª Guerra Mundial, com o
holocausto nazista, a ciência, isto é, a biologia, após vários estudos, concluiu que
não havia várias raças humanas. Chegou-se à conclusão de que havia uma única
raça, a humana.

COMO AS RAÇAS SÃO DESCRITAS

Os cientistas tradicionalmente descreveram várias raças colhendo um ou


mais traços de evidencia física, por meio do qual  o homem pode ser
classificado. Entre os traços utilizados mais comumente estão:  forma da pálpebra,
cor e forma do cabelo, o formato do nariz, a forma da cabeça, a pele e a cor dos
olhos e altura. Entretanto percebe-se que essa descrição traz sérios problemas
para o entendimento do conceito de raça visto que esses traços muitas vezes não

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são tão delimitados como a ciência costumava considerar, principalmente devido à


multiplicidade de grupos sociais que podem formar um povo como no caso
brasileiro. Nesse sentido se torna quase que impossível estabelecer de forma
evidente subdivisões de tipos raciais.
Entendemos, nesse contexto, o conceito de raça como uma definição
política, visto que os indivíduos pertencentes a uma mesma raça se reconhecem
como parte de um mesmo grupo, possuindo necessidades e experiências
próximas. Assim, biologicamente, não existem raças puras, como a ciência já
comprovou. Todavia é na experiência diária e na busca da identidade individual e
coletiva que cada ser humano encontra o seu grupo de pertencimento e se define
enquanto parte dele.

ETNIA
Devido à comprovação biológica da não existência de raças humanas, a
ciência procurou encontrar uma outra forma de classificar os indivíduos em
grupos. Nesse sentido o conceito de raça foi substituído pelo conceito de etnia.
Este termo então, tendo sido utilizado para  designar qualquer agregado  de
pessoas que podem ser identificadas como pertencentes a um  grupo. De acordo 
com este entendimento,  as pessoas que possuem os mesmos ancestrais,  ou
compartilham com as mesmas crenças ou valores, mesma linguagem  ou qualquer
outro traço social ou cultural são consideradas como integrantes de uma mesma
etnia. Essa ampla definição abre a porta para  muitos e sérios desentendimentos
sobre pessoas que a utilizam para caracterizar preconceito e discriminação.

RACISMO

A substituição do conceito de raça pelo conceito de etnia culminou por


enfatizar na sociedade o mito da não existência de racismo. Como pode existir
racismo se somos todos de uma única raça? Para entendermos essa relação cabe
analisar conceito de racismo.
Há vários conceitos de racismo. No Dicionário de Ciências Sociais
encontramos, entre outras definições, a seguinte: “racismo é bem diferente da

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mera aceitação ou do estudo científico e objetivo dos fatos da raça e da presente


desigualdade dos grupos humanos. Racismo envolve a afirmação de que a
desigualdade é absoluta e incondicional, isto é, que uma raça é por sua natureza
intrínseca superior ou inferior a outras, independentemente das condições físicas
do habitat e dos fatores sociais” (MEC/FGV, 1986, p. 1.023).
O Estado brasileiro, por exemplo, utilizou no Relatório do Comitê Nacional
para a Preparação da Participação Brasileira na III Conferência Mundial das
Nações Unidas Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Correlata, o seguinte conceito: “racismo consiste em um fenômeno histórico cujo
substrato ideológico preconiza a hierarquização dos grupos humanos com base na
etnicidade. Diferenças culturais ou fenotípicas são utilizadas como justificações
para atribuir desníveis intelectuais e morais a grupos humanos específicos” (MJ,
2001,p. 11).
Nós, particularmente, adotamos o seguinte conceito: racismo é a doutrina
ou o ideário que atribui inferioridade ou superioridade biológica e cultural a
determinados grupos sociais, especialmente em função do fenótipo e/ou cor/raça 
destes grupos, proporcionando assim o surgimento de crenças, atitudes e práticas
que têm como resultado discriminação e desigualdades raciais.
Cabe ressaltar, como já foi explicado anteriormente, que o conceito de raça
aqui utilizado está relacionado com uma concepção política e não biológica. Dessa
forma o racismo é percebido como um fenômeno social que procura justificar
ideologicamente a hegemonia política, histórica e econômica de alguns grupos
sociais sobre os outros.
O racismo foi utilizado muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio
de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a
história da humanidade.

O RACISMO NO BRASIL

O racismo no Brasil surgiu com a própria ocupação européia em nosso


território. Desde os primeiros contatos portugueses com os ameríndios, a idéia da

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superioridade racial européia foi externalizada e os diversos grupos indígenas que


aqui habitavam foram dizimados pela exploração européia.
O tráfico de escravos intensificou o racismo no Brasil. Diante do alto lucro
que o comércio de escravo trazia para a metrópole portuguesa, diversas teorias
foram desenvolvidas para justificar a escravidão negra, sustentáculo da economia
colonial. A idéia de superioridade européia sobre a africana foi então utilizada
como justificativa ideológica do sistema escravocrata do período. Os negros
escravizados, dessa forma, foram expostos as mais humilhantes situações, sendo
em muitos momentos, na escala hierárquica da sociedade, menos valorizados do
que um animal.
O fim da escravidão institucional no Brasil, entretanto não trouxe mudanças
substanciais para a estrutura social brasileira. O racismo continuou vivo na
sociedade e es negros permaneceram nos porões da sociedade, deixando
evidente que as diferenças sociais do país estão baseadas na questão racial.

ETNOCENTRISMO
 
  Para refletirmos sobre etnocentrismo, utilizaremos um conceito muito
pertinente do antropólogo Everaldo P. Guimarães:
“O etnocentrismo é uma visão de mundo onde o nosso próprio grupo é
tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos
através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é
existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de
pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza,
medo, hostilidade, etc.”
(Everaldo Guimarães, 1993)

A definição clássica de etnocentrismo é considerar a própria cultura como


superior ou, no limite, a única válida. Com base nesse etnocentrismo assistimos o
massacre dos índios americanos, a escravização dos negros e os conflitos étnicos
e religiosos da humanidade.
Diante das diferenças que compõem a humanidade, é fundamental que os
indivíduos consigam perceber que o que parece normal para um grupo pode
estranho para o outro e vice-versa. A palavra de ordem no momento não é a
tolerância e sim o RESPEITO.

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PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
O preconceito decorre de uma opinião ou um conceito formado por
antecipação, geralmente com precipitação, destituído de análise mais profunda ou
conhecimento de determinado assunto, sem levar em consideração os
argumentos contrários e favoráveis, ou seja, sem a devida reflexão. O preconceito
está geralmente relacionado com a ignorância, aqui exposta como a ausência de
conhecimento acerca de determinado assunto. Em geral, se constitui em um
julgamento negativo por conta de um aspecto externo, que pode ser raça, cor,
sexo, preferência sexual, opção religiosa, idade ou outros.
A discriminação pode ser considerada como uma conseqüência do
preconceito, as atitudes que um preconceito pode ter como conseqüência. É um
modo injusto de negar os direitos de uma pessoa com base em critérios
estabelecidos por conceitos pré-estabelecidos.
Os casos de discriminação no Brasil são altamente representativos e estão
em todas as esferas da sociedade. Práticas racistas, homofóbicas e machistas
fazem parte do nosso cotidiano, muitas vezes sendo internalizadas por uma
grande parcela da sociedade. Destacamos nesse sentido a influência da mídia
que expõe em muitos momentos, grupos sociais menos favorecidos a situações
humilhantes e vexatórias, seja de forma explícita, com piadas, personagens de
programas humorísticos, etc.; ou implícita, através da transmissão de conteúdos
carregados de preconceitos.
Diante do quadro existente no país, políticas afirmativas se tornaram
necessárias para reverter os prejuízos causados pela discriminação. As cotas para
indígenas e afro descendentes em universidades, a liberação pelo SUS da cirurgia
de mudança de sexo para transexuais, são exemplos de ações afirmativas para
grupos discriminados na sociedade. A ciência jurídica, ainda, procura criar formas
de criminalizar essas práticas. Ressaltamos a lei 11340/2006 (Lei Maria da Penha)
como um exemplo de esforço jurídico, aliado a pressão dos movimentos sociais,
para trazer mais rigor aos casos de violência doméstica e familiar contra mulheres
no Brasil.
 

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MINORIAS SOCIAS

O termo “minoria” se refere etimologicamente aos grupos distintos dentro da


população numericamente inferiores. Entre as chamadas minorias sociais
brasileiras encontram-se os negros, mulheres, homossexuais, indígenas, etc.
Surge aí uma contradição. Será que realmente esses grupos são numericamente
inferiores na sociedade? Observa-se que muitos desses grupos têm
representatividade, ao contrário do que o termo refere-se, em uma grande parcela
da sociedade brasileira. Negros e mulheres, por exemplo, são maiorias na
população. Por que será então que esses grupos são considerados como minorias
sociais?
Entendem-se aqui as minorias sociais do ponto de vista qualitativo -
referente às formas de sua inserção social no mundo do trabalho e nas relações
políticas e sociais -, e não a partir do ponto de vista quantitativo, uma vez que
essas minorias atualmente apresentam expressiva representatividade numérica.
Nesse sentido, o conceito de minorias sociais é definido como aqueles
grupos que estão em uma situação de não dominância; que são vítimas de
discriminação; que possui um acesso restrito às instâncias de poder.
O surgimento de movimentos sociais que vêm lutando para que se possam
respeitar as diversas formas e escolhas da vida em sociedade, sem preconceitos,
estereótipos e discriminações marca a luta pela superação das diferenças e das
desigualdades. Esses grupos se organizam para protestar de diferentes maneiras,
a partir do reconhecimento de que em um regime democrático é possível e
necessário considerar a diversidade de expressões de interesses próprios, não
contemplados em função da intolerância e do controle social, econômico e cultural
nas definições de normas gerais de convivência.

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COR E GÊNERO NA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA


A sociedade brasileira historicamente foi construída sob os moldes da
sociedade européia branca e patriarcal. Sabe-se que no Brasil mulheres e negros
foram excluídos das principais funções sociais e políticas. As instituições do
Estado, não obstante, incorporaram a imagem da sociedade que a construiu,
naturalizando as discriminações de cor e gênero.
Na Polícia Militar da Bahia, a discussão de cor e gênero possibilita perceber
o quanto as instituições são espelhos da sociedade. Trata-se de uma corporação
negra, masculina e extremamente violenta com a população não-branca e as
classes baixas, em termos gerais.
O militarismo historicamente no Brasil foi utilizado como uma saída para a
situação de pobreza dos negros. Desde o período da escravidão os negros
procuravam as milícias e a marinha para fugir da escravidão e conseguir
sobreviver longe da exploração escrava. A partir da “Era Vargas”, quando o
governo criou cotas para a população brasileira nata nos serviços públicos, o
funcionalismo público se tornou uma via alternativa de emprego para a população
parda e negra, obviamente, marcada pela relação de clientelismo entre Estado e
população.
A tez da pele dos policiais militares continua predominantemente escura.
Levando-se em consideração a estreita relação da cor da pele com a classe
social, observa-se ainda que os policiais negros têm maior representação nos
escalões inferiores, apesar de entre os oficiais, os não–brancos também serem a
maioria.
No que diz respeito à questão da mulher na Polícia Militar da Bahia, sua
inserção teve início após o Decreto Governamental de número 2.509 de 12 de
outubro de 1989, que criou a Companhia de Polícia Militar Feminina. Após
concurso, foram incorporadas 27 sargentos e 78 soldados, que compuseram a
primeira tropa policial militar feminina da Bahia, instalada na Vila Militar dos
Dendezeiros.
A situação atual da mulher na PMBA possibilita inúmeras reflexões.

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Devido ao acesso tardio das mulheres na Polícia Militar da Bahia,


associado com as políticas de promoção instituídas na corporação, o posto mais
elevado ocupado por uma mulher na PMBA atualmente é o de Cap. PM.
Aliado a isso, o número de vagas para mulheres nos concursos da PMBA
são muito inferiores às vagas oferecidas para homens, o que demonstra a falta de
tratamento igual para homens e mulheres na instituição no que diz respeito ao
acesso.
No cotidiano profissional, as policiais militares também sofrem com a
discriminação dos colegas de profissão e da sociedade em geral que ora
fragilizam a mulher, considerando-a incompatível com o serviço, ora a
masculiniza, determinando que toda policial que desempenha bem o serviço
ostensivo perde sua feminilidade.
Diante do contexto exposto, observa-se que, quase vinte anos após a
inserção das mulheres na Polícia Militar da Bahia, ainda se tem um caminho muito
longo a percorrer, no sentido de adaptar a instituição à inserção feminina em seus
quadros.

AS MINORIAS SOCIAIS: NEGROS, MULHERES E HOMOSSEXUAIS


NA SOCIEDADE BAIANA.

QUEM É O NEGRO NA SOCIEDADE?

Os primeiros contatos entre africanos e portugueses aconteceu muito antes


da colonização africana pelos europeus no século XIX. No primeiro momento
ocorreram muitos acordos comercias entre estes, o que incluiu o comércio escravo
já comum na cultura africana.
Entretanto cabe destacar que em África a situação era bem diferente a que
foi estabelecida com a inserção dos europeus nesse comércio. Entre os africanos
eram considerados escravos os vencidos de guerra ou os estrangeiros. Não havia
nenhuma relação entre escravidão e questão racial. Com a chegada dos europeus
as diferenças raciais tornaram-se justificativas para impor aos africanos a

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colonização européia. Os europeus difundiram a idéia de que aquela raça era


destinada por Deus e pela história a comandar o mundo e dominar as raças que
não eram européias, portanto, consideradas inferiores. Assim foi assegurado aos
europeus o direito de escravizar os africanos.
Entre as justificativas para a substituição da escravidão indígena pela
africana, admite-se a teoria de que o comércio de escravos da África trazia muitos
lucros para a metrópole. Os negros africanos tornaram-se a principal “mercadoria”
a ser comercializada pela metrópole portuguesa.
No Brasil os negros foram trazidos para serem escravos nos engenhos de
cana de açúcar. A igreja católica teve uma forte influência nesse processo pois foi,
a todo o momento, a favor da escravidão negra, considerando-os uma raça inferior
(tanto que se chegou a pensar na época, que um filho de branco com um negro
fosse estéril, assim como as mulas e desse pensamento surgiu a expressão
mulato).
Durante o período em que a história costuma linearizar com Brasil Colônia e
Império, a escravidão foi a principal forma de obtenção de mão-de-obra na
economia brasileira. O processo lento que propiciou a abolição da escravatura,
entretanto, não possibilitou aos negros brasileiros uma inclusão digna na
sociedade, fazendo com que esses continuassem a serem tratados como seres
inferiores e marginalizados.
O caloroso debate acerca da questão racial no Brasil nos faz refletir sobre o
dramático lugar do negro do mercado de trabalho, na educação, na afetividade,
enfim, em toda a sociedade. Os censos demográficos comprovam que o Brasil
possui a maior população negra fora da África. É a segunda maior população
negra do mundo, só inferior numericamente à população do mais populoso país
africano, a Nigéria. Entretanto esses mesmos dados comprovam que a
discriminação racial é um fato constante no nosso cotidiano. Nenhum outro fato,
que não a utilização de critérios discriminatórios baseados na cor dos indivíduos,
pode explicar os indicadores sistematicamente desfavoráveis aos negros, seja
qual for o aspecto considerado.

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Apesar da tentativa jurídica de dar conta do problema da discriminação


racial, esse sucesso ainda não foi alcançado, principalmente pela precariedade de
eficácia dessas leis. Uma das causas basilares dessa ineficácia é o citado mito da
democracia racial, que “imposto” como ideologia oficial contribuiu para impedir, por
quase um século, que as práticas da discriminação racial fossem criminalizadas.
Muitos doutrinadores brasileiros foram influenciados por esta construção
ideológica que parece estar sedimentada no imaginário coletivo brasileiro. Outro
fator muito importante, que também contribui para a ineficácia de qualquer
legislação no Brasil, é a cultura da impunidade.
No exercício das suas funções, o policial militar por inúmeras vezes ratifica
o preconceito contra os negros em nossa sociedade. Apesar de algumas correntes
teóricas defenderem a intima relação entre miséria e criminalidade e da exposta
situação em que os negros fazem parte da parcela da sociedade mais carente dos
elementos essenciais para a sobrevivência, é lastimável perceber que muitos
policiais militares relacionam o negro sempre como o principal suspeito de um
crime.
Sabe-se que existe no cotidiano policial militar um estereótipo de suspeito e
em uma observação mais criteriosa conclui-se que essa construção do suspeito
leva a maioria das vezes para a imagem do negro. Isso fica evidente em
abordagens policiais no policiamento ostensivo geral ou em eventos especiais
onde se percebe a diferença de tratamento entre os cidadãos negros e brancos.
É importante que o policial militar procure sempre cumprir o seu dever de
tratar todos os cidadãos de forma isonômica, respeitando as suas diversidades
sociais, econômicas e culturais. Sabemos que em muito a sociedade já procura
reparar os erros que se comete a séculos com os negros no Brasil. Entretanto
ainda se tem muito a fazer para oferecer aos afro-brasileiros pleno acesso aos
direitos humanos fundamentais, sendo fundamental expor o tema no debate com
as instituições públicas, bem como com a sociedade civil como um todo.

O LUGAR RESERVADO A MULHER EM NOSSA SOCIEDADE

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A formação da sociedade brasileira foi fortemente marcada pelo


patriarcalismo. Aos homens sempre coube o papel de ditar normas de conduta
para as mulheres, assim como julgá-las. Apesar de em vários momentos da
história existirem mulheres que ultrapassaram o domínio masculino e controlaram
a sua própria existência, as regras sociais mostram que a mulher está a todo o
momento submissa ao homem. A violência contra as mulheres - definida como
todo e qualquer ato embasado em uma situação de gênero, na vida pública ou
privada, que tenha como resultado dano de natureza física, sexual ou psicológica,
incluindo ameaças, coerção ou a privação arbitrária da liberdade - faz parte da
história feminina no mundo ocidental.
Na Grécia antiga a mulher estava restrita à manutenção do lar e ao cuidado
para com os filhos. Somente os homens tinham acesso as atividades públicas
como a filosofia, a política e a arte. A situação não se modificou muito no Império
Romano, quando a legislação garantia ao homem o absoluto poder sobre a
mulher, filhos e escravos.
Durante a Idade Média muitas mulheres assumiram a chefia da família
quando se tornaram viúvas. Há também registros de mulheres que estudaram nas
universidades da época, e muitas que desempenhavam profissões até então
destinadas somente a homens. Percebe-se, porém, que as atividades
desempenhadas por essas mulheres ainda era muito inferior, em número, se
comparada à atuação masculina.
Com a desestruturação do modo de produção feudal e o início das
primeiras formas capitalistas de produção, a condição da mulher na sociedade
ocidental fica cada vez mais precária. A mão-de-obra feminina e infantil passa a
ser explorada nas grandes fábricas e muitas mulheres começam a acumular as
funções de chefe do lar e trabalhadora fabril.
É somente a partir das grades revoluções que as mulheres, organizadas,
começam a incorporar um cunho reivindicatório, unindo-se a alguns partidos
políticos de esquerda e movimentos operários. Nesse período a idéia era que os
direitos conquistados pelas revoluções deveriam se estender a ambos os sexos,
por serem os direitos naturais de mulheres e homens iguais.

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Aos poucos o movimento feminista alcançou êxito em suas reivindicações


(direito ao voto, escolarização e acesso ao mercado de trabalho). A possibilidade
da mulher trabalhar ganhou força principalmente no contexto das duas grandes
guerras. Com grande parte dos homens envolvidos com a guerra, as mulheres
ocuparam os postos de trabalho vagos. Ao fim de ambas as guerras surgiram
campanhas para desvalorizar o trabalho feminino, mostrando que os avanços
conseguidos estavam ainda restritos ao âmbito legislativo.
Analisando a história da mulher na sociedade ocidental pode-se perceber o
espaço que a ela sempre foi destinado, apesar da luta do movimento feminista
que, ao longo dos anos vem revelando como as relações de gênero ocorrem na
sociedade.
Vários exemplos podem ser explicitados que comprovam a discriminação
contra a mulher em nossa sociedade. No mercado de trabalho, as mulheres ainda
ocupam cargos inferiores em relação aos homens. Isso se comprova através de
estudos recentes, revelando que para elas alcançarem os mesmos cargos que os
homens, em empregos formais, necessitam de uma vantagem de cinco anos de
escolaridade. Esses dados agravam-se quando relacionados à mulheres negras,
que necessitam de oito a onze anos de estudo a mais em relação aos homens.
Em casos onde mulheres e homens recebem o mesmo salário ocupando o mesmo
cargo, observa-se que existe ainda um preconceito quanto a capacidade da
mulher em realizar certas atividades.
A violência conjugal também faz parte da realidade feminina e tem forte
impacto sobre a saúde física e mental das mulheres. Os atos ou ameaças de
violência doméstica infundem medo e insegurança. Muitas mulheres ficam
submissas aos seus maridos por motivos que variam desde a dependência
financeira, passando pelo poder físico, até a falta de crença na justiça. Acobertada
pela cumplicidade da sociedade e pela impunidade, a violência doméstica contra a
mulher ainda é um fenômeno pouco visível.
A luta feminista, o surgimento das delegacias de defesa da mulher e o
debate público sobre a questão contribuíram para que muitas mulheres
vencessem a barreira do medo e da vergonha e denunciassem os maus-tratos

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sofridos. Mas os casos que chegam às delegacias são apenas a minoria. Cabe
destacar que os boletins de ocorrência das delegacias revelam um número
significativo de registros provenientes das classes A e B, contrariando a tese de
que a violência contra a mulher é resultado de uma cultura da pobreza ou da baixa
escolaridade.
O preconceito contra a mulher sempre foi tão incumbido na sociedade,
principalmente em países mais patriarcalistas como o Brasil, inclusive por conta do
enraízamento cultural de papéis masculinos e femininos cristalizados, que gerou
nelas mesmas uma visão auto-depreciativa de sua posição nas relações sociais e
como tal no mercado de trabalho.
A mulher, independentemente de sua classe social, raça e idade, sofre a
violência de gênero. Se ela pertence às classes menos favorecidas, sofre a
violência de classe. Se ela não for branca, sofre a violência racial. Pode ser vítima
de uma violência agravada, por exemplo, se for negra e pobre. Mas a violência de
gênero está ligada à questão da subordinação feminina culturalmente construída
e, nesse sentido, ela está presente em todas as esferas da sociedade. Assim cabe
a todos os cidadãos reconhecer e superar as relações assimétricas entre os
gêneros femininos e masculinos, buscando oferecer tratamentos iguais a homens
e mulheres.

PRECONCEITO ANTI-HOMOSSEXUAL

"Não adianta comemorar o cinqüentenário da Declaração dos Direitos


Humanos, se práticas injustas que excluem os homossexuais dos direitos
básicos continuam ocorrendo. É preciso que o Executivo, o Legislativo e
o Judiciário tomem consciência e tenham percepção de que é necessário
enfrentar essa situação de grave adversidade por que passam os
integrantes deste grupo extremamente vulnerável."
(Ministro Celso Mello, Presidente do Supremo Tribunal Federal, 1998).

Nestes últimos quatro mil anos da história humana, o Ocidente repetiu que
o amor e o erotismo entre pessoas do mesmo sexo eram "o mais torpe, sujo e
desonesto pecado", e que por causa dele, Deus castigava a humanidade com
pestes, inundações, terremotos, etc. Ainda hoje, muitos cristãos atribuem o flagelo

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CFSd – Proteção e Valorização da Raça Humana

da Aids ao castigo divino contra a revolução sexual e o movimento gay, reforçando


a intolerância incendiária da Santa Inquisição, que condenava à morte os amantes
do mesmo sexo. Primeiro a pedradas, depois na fogueira.
A mesma sanha machista mandava igualmente apedrejar a mulher adúltera
e a donzela impura que se fingisse virgem ao se casar. Com o fim do Tribunal do
Santo Ofício da Inquisição (1821) e a subseqüente medicalização da
homossexualidade, quando então se cunhou o termo "homossexual" (1869), não
mais os padres, mas os delegados de polícia passaram a reprimir os infelizes, a
que chamavam de "pederastas", sob alegação de atentado ao pudor e aos bons
costumes.
Para justificar e racionalizar a perseguição policial, os cientistas da época
inventaram teorias e terapias as mais cruéis (chegaram até a realizar implante de
testículo de macaco nos indefesos "uranistas"), tendo como inspiração a mesma
ideologia machista que obriga o homem ao desempenho de papéis sociais
violentos, castrando-lhe sentimentos delicados, tratando de forma maniqueísta o
masculino e o feminino.
Foi nessa mesma época que outros "cientistas" inventaram as abomináveis
teorias racistas que serviram de background teórico para o nazismo, defendendo a
inferioridade natural dos negros, judeus e outras populações, e a existência de
criminosos natos e do "terceiro sexo": mais de 300 mil homossexuais foram presos
nos campos de concentração.
No Brasil, durante os três primeiros séculos de história, a
homossexualidade era considerada um dos piores crimes a ser cometido.
Condutas anti-sociais extremamente ameaçadoras, como o estupro, a violência
contra menores, o canibalismo e até o matricídio, eram consideradas crimes
menos graves do que o amor unissexual. Foi somente às vésperas de nossa
Independência, com a extinção do abominável Tribunal da Inquisição, que a
sodomia deixou de ser crime e, por influência liberalizante do Código de Napoleão,
nosso Código Penal (1823) igualmente descriminalizou o amor unissexual. Foi o
primeiro passo a caminho da cidadania dos "pederastas" – termo comum utilizado
no período citado.

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CFSd – Proteção e Valorização da Raça Humana

Há décadas, modernas e sólidas pesquisas multidisciplinares internacionais


garantem que "a homossexualidade não constitui doença, distúrbio ou perversão".
Freud, já em 1935, escrevia em Carta a uma mãe americana: "O
homossexualismo não é vício nem degradação. Não pode ser classificado como
doença”. Esses estudos comprovam que a homossexualidade em si não implica
em prejuízo do raciocínio, estabilidade, confiabilidade ou aptidões sociais e
vocacionais, razão pela qual se opõem a toda discriminação e preconceito, tanto
no setor público quanto no privado, contra os homossexuais de ambos os sexos.
Apesar dos avanços em que se encontram as pesquisas sobre o tema,
percebe-se que o preconceito anti-homossexual continua ativo e implacável em
nossa sociedade. Após meio século da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, lastimavelmente, o Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) ainda
tem muito a denunciar: a cada dois dias um homossexual continua sendo
brutalmente assassinado no Brasil, vítima da homofobia.
No quadro abaixo podemos comprovar que a intolerância, violência e
assassinatos de gays, lésbicas e travestis tem se mantido nos últimos anos
praticamente nos mesmos patamares de selvageria e impunidade. Esses números
são apenas a ponta desse iceberg de sangue e ódio.

Não obstante pode-se destacar ainda no nosso discurso cotidiano frases


que confirmam a nossa posição de discriminação e preconceito com os
homossexuais:

- "Prefiro ter um filho ladrão a homossexual"!

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CFSd – Proteção e Valorização da Raça Humana

- "O homossexualismo é uma anormalidade, uma profanação do nome de Deus,


pois a homossexualidade é uma maldição divina e por isto todos os homossexuais
serão conduzidos pelo diabo à perdição eterna". (Pastor Túlio Ferreira, da
Assembléia de Deus de São Paulo).

- "Gostaria de ver todos os homossexuais condenados à morte num forno


crematório e mesmo assim, lamentava que sobrassem as cinzas." (Jornalista Ivan
Leal, São Paulo, 1986)

Pesquisas científicas comprovam ainda que os homossexuais também são


alvo de discriminação entre as instituições públicas, criadas para principalmente
para assegurar o direito de igualdade, protegido pela Carta Magna do país. É
comum notar que os crimes praticados contra homossexuais são tratados com
mais descaso no meio policial, estando sempre atribuídos a crimes passionais.
Entretanto percebe-se que a maioria desses crimes é motivada pela ideologia
preconceituosa dominante em nossa sociedade machista, que vê e trata o
homossexual como presa frágil, efeminado, medroso, incapaz de reagir ou contar
com o apoio social quando agredido. Tais crimes são caracterizados por altas
doses de manifestação de ódio: muitos golpes, utilização de vários instrumentos
mortíferos, tortura prévia.
Cabe ainda destacar que cresce em nossa sociedade o número de casos
onde policiais agridem homossexuais, chegando até a cometer homicídio, muitas
vezes por um motivo considerado torpe pelo direito penal e pela sociedade. Entre
eles, os travestis são os principais alvos desse tipo de ação.
Nossa sociedade é fortemente influenciada pela cultura judaico-cristã e
nesse sentido possui padrões morais muito rígidos, muitas vezes propiciando a
difusão de práticas preconceituosas. Podemos considerar a homofobia como
sendo fruto de conceitos equivocados. Estimular valores da cordialidade e
amizade pode ser um passo importante para combater o preconceito e promover
uma sociedade mais saudável.

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CFSd – Proteção e Valorização da Raça Humana

ACÕES NA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA: NAFRO E CENTRO


MARIA FELIPA

Diante das novas demandas da sociedade atual e dos movimentos sociais,


a Polícia Militar da Bahia, aos poucos vem se inserindo nas discussões
acadêmicas e sociais que evidenciam as contradições da sociedade baiana. A
qualificação profissional e acadêmica dos seus integrantes e a pressão dos
movimentos sociais organizados, contribuiu substancialmente para as mudanças
que, paulatinamente, transformam a corporação. Atualmente várias ações são
desenvolvidas na PMBA, seja de forma autônoma ou em parceria com outras
instituições, buscando minimizar os preconceitos e discriminações dentro e fora da
instituição. Destacamos, nesse sentido, o papel do NAFRO e do Centro Maria
Felipa enquanto núcleos integrantes da Polícia Militar da Bahia que procuram
levantar discussões e combater a discriminação racial, religiosa e de gênero na
PMBA.

NÚCLEO DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA: O NAFROPM, entidade


constituída no âmbito da Polícia Militar do Estado da Bahia para congregar
policiais militares adeptos das religiões de raiz africana, foi criado em 2005, e já
agrega mais de 200 integrantes, tendo sido pioneiro no Brasil.

HISTÓRICO DO NÚCLEO
No dia 30 de junho de 2005 foi realizado em Salvador o I Congresso
Religioso da Polícia Militar tendo com tema “A Paz”. O sargento da PMBA Eurico,
sacerdote de uma religião de matriz africana e pertencente à irmandade da
Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, ao
tomar conhecimento do evento, por meio de um folder de divulgação, observa que
no encontro haveria representantes das religiões católica, protestante e espírita,
entretanto, não fora convidado nenhum representante das religiões de matriz
africana.

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CFSd – Proteção e Valorização da Raça Humana

Procurando a organização do evento, o sargento obteve como resposta que


não houve uma representação dessas religiões pois não havia um grupo
organizado na PMBA para ser convidado. O citado sargento solicitou, por escrito,
uma audiência com o Comandante Geral da PMBA objetivando a autorização para
a criação de um Núcleo de Religiões de Matriz Africana. O pedido foi autorizado e,
além disso, sabendo o comando da falta de representação das religiões de matriz
africana no citado evento, imediatamente foram incorporados representantes
dessas religiões no congresso.

MISSÃO DO NAFROPM
Além de ações sociais, o NAFRO possui a missão de proteger as tradições das
religiões de matriz africana, difundindo seus fundamentos e garantindo o exercício
da prática religiosa de policiais e servidores da corporação militar.

OBJETIVOS E FINALIDADES DO NAFROPM


 Proteger e manter as tradições das religiões de matriz africana;
 Defender as religiões de matriz africana contra quaisquer tipos de ações de
intolerância religiosa;
 Combater as práticas que objetivem desmerecer, mediante comentários
pejorativos, os policiais militares e servidores civis da PM adeptos de religiões de
matriz africana em razão de sua crença;
 Promover a difusão do conhecimento dos fundamentos das religiões de matriz
africana no âmbito da Polícia Militar da Bahia;
 Propiciar o acompanhamento religioso dos policiais militares e seus familiares;
 Acompanhar os policiais militares dependentes químicos e psíquicos;
 Garantir o exercício das práticas religiosas dos policiais militares e servidores
civis da PM adeptos de religiões de matriz africana.
 Lutar contra quaisquer formas de preconceito dentro e fora da polícia Militar da
Bahia.

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CFSd – Proteção e Valorização da Raça Humana

CENTRO MARIA FELIPA: O Centro de Referência da Mulher Policial Militar -


Centro Maria Felipa – foi criado em 10 de março de 2006, através da portaria nº.
14 do Exmº Sr. Cel. PM Antônio Jorge Ribeiro de Santana.

QUEM FOI MARIA FELIPA


Maria Felipa, nativa da localidade de Ponta de Areia, na Ilha de Itaparica,
teve papel fundamental na batalha contra o domínio português, em 1822, ao
comandar dezenas de homens e mulheres, negros e índios, na operação que
culminou com a queima de 42 embarcações de guerra aportadas na Praia do
Convento, com o objetivo de atacar Salvador. Sua coragem lendária foi decisiva
para a Independência da Bahia. Hoje é vista como símbolo da Independência da
Bahia e do fortalecimento e participação das mulheres negras na construção da
sociedade baiana e brasileira.

OBJETIVO DO CENTRO MARIA FELIPA


Implantar ações sistematizadas, objetivando estabelecer um núcleo de
estudos, consultas e assessoramento para o segmento feminino na PMBA, onde
as policiais militares possam encontrar todos os subsídios necessários para
nortear suas atividade profissionais.

ATRIBUIÇÕES DO CENTRO MARIA FELIPA


 Realizar estudos relativos à saúde ocupacional da policial, na prática do
serviço militar;
 Fornecer suporte em assuntos correlatos ao gênero, no âmbito da instituição;
 Oferecer suporte psicossocial;
 Possibilitar às policiais acesso aos cursos que melhorem o desempenho da
sua atividade laboral;
 Realizar pesquisas institucionais para a melhoria dos equipamentos,
instalações e serviços atribuídos a mulher policial;
 Fornecer suporte aos policiais militares masculinos em assuntos profissionais
correlatos ao segmento feminino;

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CFSd – Proteção e Valorização da Raça Humana

 Combater todas as formas de discriminação;


 Realizar palestras e seminários, com temas referentes à questão de gênero;
 Atuar em apoio ao projeto polícia Cidadã;
 Trabalhar questões sobre todos os tipos de violência, em especial: a violência
sexual e doméstica, no intuito em que as mulheres que sofrerem este tipo de
agressão, tenham toda uma atenção especializada, com acesso a advogados,
psicólogos, assistentes sociais, dentre outros profissionais, para que sejam
oferecidos a elas todo um suporte, buscando resgatar a auto-estima e dignidade.

PUBLICO ALVO
Policiais femininas, esposas, filhas companheiras de militares e funcionárias civis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O período de formação, em muitos casos, é a única oportunidade
institucional para se debater questões relevantes no serviço policial militar. É
importante inserir, nos cursos de formação, discussões que sejam fundamentais
para o entendimento da sociedade em que esse policial está inserido, seja como
cidadão ou como profissional.
Na sociedade atual, a pressão dos movimentos sociais tem revelado os
preconceitos e discriminações que sofrem, no cotidiano, vários grupos sociais.
Procuramos nessa apostila destacar discussões sobre minorias sociais que
permeiam a sociedade e o ambiente policial militar.
Destacamos neste estudo os conceitos de raça, etnia, racismo,
etnocentrismo, preconceito, discriminação e minorias sociais. Partindo desse
entendimento conceitual, procuramos discutir a situação das mulheres, negros e
homossexuais na sociedade como um todo, bem como no contexto policial, seja
debatendo a relação dos policiais com esses grupos na sociedade, ou discutindo
como esses grupos são tratados dentro da corporação.
Apesar dos esforços de alguns membros da PMBA para diminuir o
distanciamento construído entre a corporação e a comunidade baiana, a luta por

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CFSd – Proteção e Valorização da Raça Humana

uma sociedade mais humana ainda tem muitos obstáculos a serem encarados.
Perceber as diferenças e enfrentá-las com respeito é o primeiro passo para se
construir uma polícia que valorize todos os indivíduos como pertencentes à raça
humana.

BIBLIOGRAFIA:

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violência letal contra travestis no município do Rio de Janeiro. Physis. v.16 n.2  Rio
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