Você está na página 1de 1

A Juridificação

Texto retirado do curso de Polícia Comunitária/REDE EAD

Denominada “colonização”, pelo direito das relações sociais, a juridificação reconstrói as


relações sociais anteriormente não sujeitas à regulação jurídica, trazendo-lhe incontáveis
e imprevisíveis efeitos colaterais indesejados.

A juridificação retira dos respectivos atores significativa parcela de responsabilidade. Em


outras palavras, pela fixação jurídica da responsabilidade, produz-se em grande medida a
“irresponsabilização” dos atores sociais.

A juridificação também não configura um fenômeno recente, nem tampouco, como já se


afirmou, peculiar a certo modelo de ordenação jurídico-política da sociedade.

Em diversos aspectos, o agigantamento do aparelho e das políticas estatais destinados à


proteção, mais além da promoção do bem-estar, passou a constituir, ele próprio, fator
indutor de crescentes demandas protecionistas, num mecanismo a um só tempo perverso
e retroalimentador. E isso é facilmente constatado nas relações familiares, em que
processos geram processos, as relações deterioram-se mais e mais, e os filhos
distanciam-se de seus pais, passando a ter no Estado pais com feições concretas,
distantes e não eficiente.

Nessa medida, vínculos afetivos projetam-se como vínculos jurídico-institucionais,


convertendo sujeitos ligados por compromissos morais recíprocos em atores ligados pela
titularidade de direitos, deveres e de obrigações.

Cuida-se de realçar um olhar pelo qual todas as partes possuem desejos e expectativas
potencialmente legítimas, ainda que não juridicamente exigíveis. E mais além, que a
construção e a manutenção de relações interpessoais não se contêm nem se resolvem
pela lógica binária do jurídico-não jurídico, do ganhador-perdedor, do vencedor-vencido.

Você também pode gostar