Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
A caracterização do escoamento em canais com descarregadores laterais tem constituído,
desde o início deste século, objectivo de estudo de numerosos autores. Tais estudos advieram,
essencialmente, da utilização deste tipo de canais em obras de saneamento básico e de
irrigação e da necessidade daí resultante de se conhecer com rigor o seu funcionamento
hidráulico.
1
Engenheira Civil (IST), Mestre em Hidráulica e Recursos Hídricos (IST) – Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (LNEC), e-mail:isilva@ lnec.pt, Lisboa, Portugal
2
Engenheiro Civil (IST), Professor Auxiliar, – Instituto Superior Técnico (IST), e-mail:
apinheir@civil.ist.utl.pt, Lisboa, Portugal
1
1- INTRODUÇÃO
Um descarregador diz-se lateral quando se encontra inserido na parede de um canal e as
linhas de corrente do escoamento a montante do descarregador são paralelas a este.
Suprir tal lacuna constituiu um dos objectivos de um estudo mais geral realizado pelo
primeiro autor da presente comunicação sob a orientação do segundo autor.
2- COEFICIENTE DE VAZÃO
2.1- Considerações gerais
2
sendo Fr1 o número de Froude na secção de montante do descarregador, L o comprimento de
descarregador, B a largura do canal e h1 a altura do escoamento na secção de montante do
descarregador.
2 3Fr12
C= 0,611 1 − 2 ( 2)
3 Fr1 + 2
C=
2
(0,36 − 0,08 Fr1 ) ( 3)
3
HAGER (1987) propõe uma expressão para cálculo do coeficiente de vazão, só aplicável
em descarregadores laterais com declive do canal i e o ângulo de convergência das paredes do
canal ϕ muito próximos de zero. Nessas condições, o coeficiente de vazão pode ser calculado
pela expressão
( )
1/ 2
2 + Fr12
C = 0,485
( )
( 4)
2 + 3Fr12
Tal como nas expressões (2) e (3), o coeficiente de vazão depende apenas de Fr1.
RAJU et al (1979) realizaram um estudo experimental num canal com secção transversal
rectangular, com escoamento em regime lento, cujo descarregador lateral tinha 0,20 m de
comprimento, conforme se indica no Quadro 1. Os autores propõem considerar no cálculo da
vazão o comprimento efectivo do descarregador, Le , em que Le=L-0,05 m. Neste caso, o troço
não considerado devido ao efeito de fronteira representa 20 % do comprimento do
3
descarregador. Num descarregador de comprimento significativamente superior tal efeito teria
influência muito mais reduzida.
C=
2
(0,81 − 0,60 Fr1 )K (6)
3
4
p
C = 0,33 − 0,18 Fr1 + 0,49 (8)
h1
3- EXPERIMENTAÇÃO
3.1- Instalação experimental
O fornecimento de água à instalação é efectuado a partir do reservatório geral de
alimentação dos modelos exteriores do Núcleo de Hidráulica de Estruturas - NHE do
Laboratório Nacional de Engenharia Civil - LNEC por meio de uma conduta de fibrocimento
DN 350, onde está inserido o medidor de caudal e é controlado por uma válvula de cunha de
idêntico diâmetro - Figuras 2 a 5.
5
Figura 3 - Instalação experimental. Planta.
3
O confinamento do escoamento ocorre quando existe um condicionamento geométrico do tipo parede que
impõe linhas de corrente diferentes das que ocorreriam no caso de um descarregador lateral de parede delgada
em que a espessura do canal imediatamente a jusante fosse igual à do descarregador lateral.
6
Figura 6 - Funcionamento do descarregador lateral. Q = 100 l/s. QL/Q = 0,75. L=2,00 m.
Para minorar o erro na medição das alturas de escoamento e devido a uma ligeira flecha
nas barras longitudinais do coordinómetro, provocada pelo seu peso próprio, consequência do
grande vão longitudinal, tomaram-se como pontos de referência (zero) os pontos da crista do
descarregador lateral onde posteriormente se iriam fazer as medições.
7
4- RESULTADOS OBTIDOS
4.1- Andamento da superfície livre
Devido à referida semelhança dos perfis longitudinais e de modo a não tornar confusa a
representação gráfica, optou-se apenas pela apresentação dos perfis longitudinais nas secções
1L, 3L, 5L, 6L e 7L - Figura 7.
Os perfis transversais foram determinados nas secções 1T, 2T, 3T, 4T e 5T,
correspondendo a secções distando 0,40 , 0,80 , 1,20 , 1,60 m da secção de montante do
descarregador lateral, para um comprimento do descarregador igual a 2,00 m, e distando 0,30 ,
0,60 , 0,90 e 1,20 m da secção de montante do descarregador lateral, para um comprimento do
descarregador de 1,50 m, e ainda na secção 6T, correspondente à secção de jusante do
descarregador, Figura 8.
0,32
h(m)
0,30
0,28
0,26
0,24
0,22
0,20
0,00 0,40 0,80 1,20 1,60 2,00
B (m)
1L 3L 5L 6L 7L
Figura 7 - Perfis longitudinais da superfície livre. L=2,00m. Q1 = 150 l/s. QL/Q1= 0,50.
8
0,32
h (m)
0,30
0,28
0,26
0,24
0,22
0,20
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60
B (m)
1T 2T 3T 4T 5T 6T
Figura 8 - Perfis transversais da superfície livre. L=2,00m. Q1 = 150 l/s. QL/Q1= 0,50.
1 n
hmed = ∑ (hi + hi+1 )∆x
L i =1
( 9)
9
sendo n o número total de leituras na secção longitudinal considerada, hi e hi+1 a leitura na
secção i e i+1, respectivamente, ∆x a distância entre a secção i e i+1 e L o comprimento do
descarregador lateral.
De modo a serem desprezáveis os efeitos provocados pela tensão superficial, foi
decidido só efectuar ensaios com hmed≥0,02 m.
O coeficiente de vazão experimental, para cada ensaio, foi calculado de acordo com a
expressão
QL
C= ( 10)
L 2 g (h − p )
3/ 2
10
Na Figura 9 representa-se a variação do coeficiente de vazão, C, com o número de
Froude na secção de montante do descarregador, Fr1, com base nos resultados obtidos
experimentalmente. Verifica-se a diminuição do coeficiente de vazão com o número de Froude
na secção de montante do descarregador lateral.
0,50
C
0,45
0,40
0,35
0,30
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Fr 1
Valores calculados L=2,00m V a l o r e s c a l c u l a d o s L = 1,5 0 m C - regressão linear
Figura 9 - Variação do coeficiente de vazão com Fr1. Curva obtida pelo método dos
mínimos quadrados.
A recta de regressão, obtida pelo método dos mínimos quadrados, tem um coeficiente de
correlação de 0,74 e desvio-padão de 0,019 entre o coeficiente de vazão calculado através da
regressão e o calculado com base nos resultados experimentais - Figura 9.
O valor do coeficiente de correlação é relativamente baixo, o que leva a concluir que este
parâmetro, não é suficiente para explicar a variação do coeficiente de vazão num
descarregador lateral.
0,50
C
0,45
0,40
0,35
0,30
0 100 200 300 400 500 600 700
L/(V12/2g)
Valores calculados L=2,00m Valores calculados L=1,50m
11
Os pontos representados na Figura 10 têm um andamento não linear tendo a
particularidade de apresentarem uma tendência assimptótica para um valor Cmax, que se afigura
próximo de 0,45.
La dim
C=a ( 12)
b + La dim
1 b 1 1
= + ( 13)
C a La dim a
e aplicando o método dos mínimos quadrados. Assim, obteve-se a expressão (17) com um
coeficiente de correlação de 0,84 e desvio-padrão de 0,023, para 1/C, entre o coeficiente de
vazão calculado através da regressão e o calculado com base nos resultados experimentais -
Figura 11.
La dim
C = 0 ,44 ( 14)
3 ,78 + La dim
0,50
C
0,45
0,40
0,35
0,30
0 100 200 300 400 500 600 700
L/(V12/2g)
Valores calculados L=2,00m Valores calculados L=1,5 0 m C- regressão não Linear
Figura 11 - Variação do coeficiente de vazão com L/(V12/2g). Curva obtida pelo método dos
mínimos quadrados.
Na Figura 12 representa-se a variação do coeficiente de vazão, C, com a relação entre a
altura do escoamento e a altura do descarregador lateral em relação à soleira do canal, h/p. O
coeficiente de vazão diminui com o crescimento de h/p, de acordo com a expressão
h
C = 0 ,607 − 0 ,147 ( 15)
p
com um coeficiente de correlação de 0,76 e desvio-padrão de 0,026 entre o coeficiente de
vazão calculado através da regressão e o calculado com base nos resultados experimentais.
12
0,50
C
0,45
0,40
0,35
0,30
1,00 1,20 1,40 1,60 1,80
h/p
Valires calculados L=1,50 m Valores calculados L=2,00 m C - calculado por regressão
y = a 0 + a1 x1 + a 2 x 2 + a 3 x 3 + ...+ a m xm ( 16)
sendo y função dos parâmetros x1,..., xm e a0,..., am os coeficientes da regressão.
1 1 1 h
y= , x1 = , x2 = e x3 = ( 17)
C Fr1 La dim p
1 1 1 h
= 1,57 + 0 ,127 + 7 ,45 + 0 ,52 ( 18)
C Fr1 La dim p
13
Quadro 1- Características geométricas dos descarregadores laterais utilizados por diferentes
autores e gama de valores de Fr1 dos escoamentos ensaiados.
Características geométricas do
Autor descarregador lateral Fr1
p L Qmin/Qmax
(m) (m) (l/s)
SUBRAMANYA E AWASTY(1972) 0,00-0,51 0,10 a 0,15 * 0,02-0,80
RAJU et al (1979) 0,05-0,25 0,20 a 0,50 * 0,10-0,50
HAGER (1987) 0,00-0,20 1,00 * 0,30-0,80
SWAMEE (1988) * * * *
CHEONG (1991) * 0,277 a 0,97 * 0,20-0,90
SINGH et al (1994) 0,06-0,12 0,10-0,20 10/14 0,20-0,40
SILVA (1996) 0,20 1,50 e 2,00 25/150 < 1,00
* não mencionado
14
C (SUBRAMANYA E AWASTHY, 1972)
0,50 0,50
C (RAJU et al , 1979)
0,40 0,40
0,30 0,30
0,20 0,20
0,10 0,10
0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50
Cexp (SILVA,1997) Cexp (SILVA,1997)
0,50
0,50
C (SWAMEE, 1988)
C(HAGER, 1987)
0,45
0,45
0,40 0,40
0,35 0,35
0,30 0,30
0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50
Cexp (SILVA,1997) Cexp (SILVA,1997)
0,50
0,50
C (CHEONG, 1991)
C (SINGH, 1994)
0,45 0,45
0,40
0,40
0,35
0,35
0,30
0,30 0,25
0,3 0,35 0,4 0,45 0,5 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50
Cexp (SILVA,1997) Cexp (SILVA,1997)
5- CONCLUSÕES
As expressões analisadas foram, na sua maioria, estabelecidas tendo por base resultados
obtidos em instalações de reduzida dimensão (Quadro 1), o que poderá condicionar a
aplicabilidade dessas expressões a canais com descarregadores laterais de maiores dimensões,
em que os efeitos de fronteira têm importância relativa menor.
Afigura-se que, de entre as expressões analisadas, aquela com que se obtêm resultados
mais correctos é a (8), proposta por SINGH et al (1994). Esta expressão, apesar de ter sido
formulada com base em ensaios efectuados numa instalação experimental de dimensões
reduzidas, como anteriormente referido, por nela intervirem dois parâmetros, h/p e Fr1, que
influenciam o coeficiente de vazão, conduz a resultados muito satisfatórios.
15
Justificou-se, assim, a realização de um estudo que permitiu propor a expressão (21)
para o cálculo do coeficiente de vazão em descarregadores laterais inseridos em canais
rectangulares, na qual intervêm três parametros que se afiguram essenciais para calcular o
coeficiente de vazão num descarregador lateral.
SIMBOLOGIA
E - espessura da parede do descarregador;
G - aceleração da gravidade;
H - altura do escoamento;
h1 - altura do escoamento na secção de montante do descarregador;
i - declive do canal;
p - altura do descarregador;
B - largura do canal;
C - coeficiente de vazão;
Fr1 - número de Froude na secção de montante do descarregador;
K - coeficiente empírico obtido em função de (h1-p)/e (Figura 1);
L - comprimento do descarregador lateral;
Ladim - comprimento adimensionalisado do descarregador lateral;
Le - comprimento efectivo do descarregador, RAJU et al (1979)
QL - caudal descarregado lateralmente;
Q1 - caudal na secção de montante do descarregador;
BIBLIOGRAFIA
CHEONG, H. - Discharge coefficient of lateral diversion from trapezoidal channel, J. of
Irrigation and Drainage Engineering, ASCE, 117 (4), 1991, 461-475.
HAGER, W.H. - Lateral outflow of side weirs, Proceedings ASCE, J. of Hydraulic Enginnering,
vol. 113, HY4, 1987, 491-504.
SILVA, N.- I. - Descarregadores laterais. Modelação física e matemática. Tese submetida ao
grau de Mestre, IST, Lisboa, 1997.
RAJU, R.K.G., PRASARD, B., e GUPTA, S.K. - Side rectangular channel, J. of Hydraulic
Engineering, ASCE, 105(5), 1979, 547-554.
REHBOCK, T. - Discussion of “Precise measurements” by Turner, K.B., Translation, ASCE,
93, 1929, 1143-1162.
SINGH, R. MANIVANNAN, D. e SATYANARAYANA, T. - Discharge coefficient of
rectangular side weirs. J. of Irrigation and Drainage Engineering, 1994, vol 120, no 4, 814-819.
SUBRAMANYA, K. e AWASTHY, S.C. - Spatially varied flow over side weirs, J. of Hydraulic
Engineering,1972, ASCE, 98(1), 1-10.
SWAMEE, P.K. - Generalized rectangular weir equations, J. of Hydraulic Engineering, ASCE,
1988, 114(8), 945-949.
SWAMEE, P.K., PATHAK, S.K. e ALI, M.S. – Side weir analysis using elementary discharge
coefficient, Proceeding. ASCE, J. of Irrigation and Drainage Division, 1994, vol. 120, no. 4, 743-755.
16