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Março de 2021
Marivaldo Júnior Monteiro de Oliveira
CDU 621.744
FOLHA DE APROVAÇÃO
Modelagem do fluxo mul fásico em canal de alto-forno com foco na melhoaria da eficiência de separação metal-escória
Membros da banca
Prof. Dr. Carlos Antônio da Silva - Orientador(a) - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Dr. Leandro Rocha Lemos - Universidade Federal de Minas Gerais
Eng. Dr. Weslei Viana Gabriel - Autônomo
Prof. Dr. Johne Jesus Mol Peixoto - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Carlos Antônio da Silva, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório Ins tucional da UFOP
em 08/04/2021
Documento assinado eletronicamente por Fernando Gabriel da Silva Araujo, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em
08/04/2021, às 17:06, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de
outubro de 2015.
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.003233/2021-94 SEI nº 0156752
À minha mãe pelo amor e apoio incondicional e que nunca mediu esforços para que eu
alcançasse meus objetivos. Ao meu pai, in memorian, continue olhando por mim.
À Ariane, minha companheira e amiga, pela paciência e incentivo. Tenho certeza que estará
comigo em todas conquistas que acontecerão em minha vida.
Agradeço aos mestres pela partilha do conhecimento, em especial, ao Prof. Carlos A. Silva pela
oportunidade de orientação neste trabalho, que vem desde os tempos da graduação, e ao Prof.
Johne J. Mol Peixoto pela coorientação.
Aos meus de amigos de Matipó e Ouro Preto, os quais são parte da minha história e que poderei
sempre contar.
Agradeço aos demais Professores da Redemat e Técnicos do DEMET que contribuíram para
que esse trabalho fosse possível.
II
EPÍGRAFE
“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém
ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.”
Arthur Schopenhauer
III
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1
2 OBJETIVOS....................................................................................................................... 3
IV
4.2 Modelagem Matemática ............................................................................................ 43
5.4 Avaliação da Separação Metal – Escória no Modelo Físico de Canal de Corrida .... 67
5.6 Comprimento Crítico de Canal para Separação Completa Gusa / Escória. ............... 81
6 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 93
V
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 - Alto-forno dotado de duas máquinas de lingotamento circulares giratórias. ......... 4
Figura 3.2 - Vista do interior do cadinho e da casa de corrida do alto-forno de uma usina
integrada. .................................................................................................................................... 5
Figura 3.3 - Canal principal e representação esquemática da casa de corrida. .......................... 6
Figura 3.4 - Tipos de operação do canal de corrida. .................................................................. 7
Figura 3.5 - Tempo de residência de gusa versus taxa de desgaste. .......................................... 8
Figura 3.6 - Regiões existentes no canal de corrida. .................................................................. 8
Figura 3.7 - Variação do nível de líquido no cadinho durante o vazamento. ........................... 10
Figura 3.8 - Descrição esquemático de fluxo estratificado em tubo inclinado. ....................... 12
Figura 3.9 - Representação da similaridade geométrica. ......................................................... 14
Figura 3.10 - Representação conceitual do fluxo em canal de corrida. ................................... 15
Figura 3.11 - Esquema conceitual de escoamento em canal de corrida proposto por He et al.
(2002). ...................................................................................................................................... 16
Figura 3.12 - Arraste de ar no jato de líquido. Acima: modelo água/ar. Abaixo: modelo
água/óleo/ar. ............................................................................................................................. 17
Figura 3.13 - Modelo físico em operação. ............................................................................... 18
Figura 3.14 - Representação esquemática do fluxo de água na região do skimmer. ................ 18
Figura 3.15 - Representação do canal de corrida proposto por Shestopalov et al. (1988). ...... 20
Figura 3.16 - Impacto do aumento do volume do canal no tempo de residência (CAMERON et
al., 2019). ................................................................................................................................. 23
Figura 3.17 - Impacto do ângulo e comprimento do furo de corrida no vazamento. ............... 23
Figura 4.1 - Modelo em acrílico do canal de corrida de um alto-forno. .................................. 35
Figura 4.2 - Representação esquemática da montagem experimental para realização de captura
de imagens pela técnica PIV. ................................................................................................... 38
Figura 4.3 - Representação esquemática da montagem experimental para realização dos testes
via condutivimetria. .................................................................................................................. 39
Figura 4.4 - Representação Curva DTR. .................................................................................. 40
Figura 4.6 - Representação esquemática da montagem experimental para realização dos testes
de eficiência de separação. ....................................................................................................... 42
Figura 4.7 - Representação da malha utilizada. ....................................................................... 44
Figura 4.8 - Condições de contorno aplicadas na simulação do canal de corrida. ................... 47
VI
Figura 5.1 - a) Comparação entre tempo de pico e b) comparação entre t2%; modelo matemático
e modelo físico, vazão 6L/min. ................................................................................................ 50
Figura 5.2 - Tendência do tempo de pico modelo físico e CFD. ............................................. 51
Figura 5.3 - Variação da concentração do traçador em função do tempo, vazão 3L/min. ....... 51
Figura 5.4 - Plano Vertical na posição P2 – PIV versus modelo matemático, vazão 9L/min. 52
Figura 5.5 - Plano Vertical na posição P3 – PIV versus modelo matemático, vazão 9L/min. 52
Figura 5.6 - Plano Vertical na posição P4 – PIV versus modelo matemático, vazão 9L/min. 52
Figura 5.7 - Plano Horizontal na posição P5 – PIV versus modelo matemático, vazão 9L/min.
.................................................................................................................................................. 52
Figura 5.8 - Regiões no canal de corrida, de acordo com o modelo matemático, vazão 6L/min.
.................................................................................................................................................. 53
Figura 5.9 - Dispersão de tinta, vazão 9L/min. ........................................................................ 54
Figura 5.10 - Arraste de gás na zona de impacto. Em a) caso base (BS), b) barreira posição B1
e c) barreira posição B2. ........................................................................................................... 55
Figura 5.11 - Efeito do controlador de fluxo, vazão de água 6L/min e querosene 3L/min. .... 55
Figura 5.12 - À esquerda, canal de escória e à direita, canal de gusa. ..................................... 56
Figura 5.13 - Perfis de velocidade obtidos por simulação CFD a) presença de recirculação pelo
fundo e b) assimetria de fluxo. ................................................................................................. 56
Figura 5.14 - Comparação entre os perfis de velocidade: a) 25mm, b) 35mm e c) 55mm. ..... 57
Figura 5.15 - Simulação da Tensão de Cisalhamento no fundo do canal de corrida, condição
água/ar. ..................................................................................................................................... 57
Figura 5.16 - Tensão de Cisalhamento nas paredes laterais do canal de corrida, condição
água/ar. ..................................................................................................................................... 58
Figura 5.17 - Simulação da Tensão de Cisalhamento na região do skimmer, fundo do canal de
corrida, condição água/ar. ........................................................................................................ 58
Figura 5.18 - Resultados de simulação CFD para valores de Energia Cinética Turbulenta (ECT)
para as condições de caso base (BS) e barreiras B1 e B2, condição água/ar. .......................... 59
Figura 5.19 - Fração volumétrica de água igual a 0,5, para condições sem modificador de fluxo
e quando este está presente....................................................................................................... 60
Figura 5.20 - Comparação caso base versus barreira B1. Vazão de 6L/min de água e 3L/min de
querosene. ................................................................................................................................. 60
Figura 5.21 - Comparação caso base versus barreira B2. Vazão de 4L/min de água e 3L/min de
querosene. ................................................................................................................................. 61
VII
Figura 5.22 - Distribuição de velocidades da água ao longo do modelo de canal de alto-forno.
Vazão 6L/min de água e 3L/min de querosene. Comparação caso base (BS) e controlador de
fluxo (B1). ................................................................................................................................ 61
Figura 5.23 - Fração volumétrica de ar no sistema a) vazão 6L/min de água e 3L/min de
querosene e b) vazão 4L/min de água e 3L/min de querosene. ................................................ 62
Figura 5.24 - Fração volumétrica de água no sistema a) vazão 6L/min de água e 3L/min de
querosene e b) vazão 4L/min de água e 3L/min de querosene. ................................................ 62
Figura 5.25 - Tendências dos tempos de a) tempo mínimo (t2%) e (b) tempo de pico no modelo
físico. ........................................................................................................................................ 63
Figura 5.26 - 5.26: Tempos a) de pico e (b) tempo mínimo (t2%) na máquina industrial. ...... 64
Figura 5.27 - Efeito das barreiras no fluxo da zona de impacto do jato, testes de dispersão, vazão
6L/min. ..................................................................................................................................... 65
Figura 5.28 - Influência dos modificadores de fluxo sob o tempo médio de residência na
máquina industrial. ................................................................................................................... 66
Figura 5.29 - Representação esquemática da Eficiência de Separação. ................................... 68
Figura 5.30 - Curva completa de separação. ............................................................................ 69
Figura 5.31 - Detalhe curva de separação. Em a) o período inicial de transiência e b) descreve
o regime permanente ................................................................................................................ 70
Figura 5.32 - Resultado para a razão A/Q, de acordo com a simulação matemática. .............. 70
Figura 5.33 - Representação esquemática da mudança de ângulo. .......................................... 71
Figura 5.34 - Tamanho de gotas de querosene. Em a) o tamanho de gota com a alteração da
vazão e em b) alterando a vazão dos fluidos. ........................................................................... 73
Figura 5.35 - Influência do modificador de fluxo em estado estacionário. Comparação entre
caso base (BS) e condições de emprego de barreira (B1 e B2). ............................................... 74
Figura 5.36 - Comparação caso base (BS) e barreira B1. Curva completa de separação, modelo
físico. ........................................................................................................................................ 75
Figura 5.37 - Resultados de razão A/Q de acordo com a simulação matemática. Comparação
entre caso base (BS) e condição de barreira (B1). ................................................................... 76
Figura 5.38 - Comparação Modelo Físico versus Modelo Matemático. .................................. 77
Figura 5.39 - Altura da camada de querosene após atingir regime estacionário medida com
auxílio do software ImageJ. ..................................................................................................... 79
Figura 5.40 - Altura da camada de querosene no canal de corrida. Resultado simulação
matemática. .............................................................................................................................. 79
VIII
Figura 5.41 - Evolução da razão A/Q nas condições “reais” de vazamento à esquerda e gráfico
de controle das vazões durante o experimento à direita. .......................................................... 80
Figura 5.42 - Resultados CFD e curva suavizada para evolução da razão da vazão de gusa pela
vazão de escória no canal de escória em porcentagem. ........................................................... 83
Figura 5.43 - Evolução da razão da vazão de gusa pela vazão de escória no canal em a) e em b)
a eficiência de separação no canal de alto-forno sem controlador de fluxo (BS) e quando este
está presente após tratamento estatístico por meio de média móvel. ....................................... 84
Figura 5.44 - Evolução da fração mássica de gusa no canal secundário de escória. Comparação
caso base (BS) e Barreira. ........................................................................................................ 85
Figura 5.45 - Novo design de canal de alto-forno. ................................................................... 86
Figura 5.46 - Fração volumétrica de ar na interface gusa-escória: caso base (BS) versus novo
design (ND). ............................................................................................................................. 87
Figura 5.47 - Perfis de Velocidade de gusa – acima caso base (BS) e abaixo novo design (ND).
.................................................................................................................................................. 87
Figura 5.48 - Perfis de Velocidade de escória – acima caso base (BS) e abaixo novo design
(ND). ........................................................................................................................................ 88
Figura 5.49 - Velocidade de gusa na interface gusa liquido/escória (BS: caso base; ND: Novo
Design). .................................................................................................................................... 89
Figura 5.50 - Velocidade de decantação de gusa ..................................................................... 89
Figura 5.51 - Fração volumétrica de gusa nos canais de corrida – acima caso base (BS) e abaixo
novo design (ND). .................................................................................................................... 90
Figura 5.52 - Evolução da razão da vazão de gusa pela vazão de escória no canal em a) e em b)
a eficiência de separação no canal de alto-forno tradicional (BS) e novo design (ND) proposto
após tratamento estatístico por meio de média móvel.............................................................. 91
IX
LISTA DE TABELAS
X
LISTA DE NOTAÇÕES
B1 – condição 1 de barreira
B2 – condição 2 de barreira
BOF – Basic Oxigen Furnace
BS – Caso base
CCD – Charge Coupled Device
Cd – condutivímetros
CFD – Computational Fluid Dynamics
CFX – software da Ansys Computational Fluid Dynamics
DTR – Distribuição de tempo de Residência
ECT – energia cinética turbulenta
FMP – fração mistura perfeita
Fr – número adimensional de Froude
FVM – fração volume morto
FVP – fração volume pistão
k - energia cinética turbulenta;
KCl – cloreto de potássio
ND – Novo design
PIV – Particle Image Velocimetry
Re – Número de Reynolds;
RH – Ruhrstahl-Heraeus
VF – Fração volumétrica
XI
RESUMO
Palavras chaves: Fluxo multifásico, Simulação numérica, Modelamento Físico, Canal de Alto-
forno; Separação metal-escória.
XII
ABSTRACT
Close to 95% of the world's hot metal production is from Blast Furnaces, reaching a production
of 1.3 billion tons in 2019 according to the World Steel Association. The trough is an important
equipment within the blast furnace manufacturing process, promoting the separation between
hot metal and slag after casting. However, the flow pattern inside the runner’s understudied due
to its complexity. Due to the turbulence in the trough during the casting there’s metal loss in
the slag and also slag entering the hot metal. The metal loss in the slag is the most critical
situation as it directly affects the efficiency of the operation. According to the literature, this
loss can be as high as 2.5wt% in the slag.
The influence of geometric features of the tap hole, such as angle and diameter, the influence
of flow rate of fluids and also the effects due to flow control devices, on the flow pattern of
fluids inside the blast furnace trough have been assessed by means of physical and numerical
simulation. In the physical simulations, PIV (Particle Image Velocimetry) techniques were
used, as well as dye injection - dispersion combined with high-definition cameras, and saline
tracer injection to characterize the flow in the blast furnace trough. These techniques were used
to validate the mathematical modeling created in Computational Fluid Dynamics (CFX by
Ansys®). PIV and DTR results reached good agreement with the mathematical model.
Therefore, the mathematical model is able to predict the flow behavior in the trough and to
evaluate other parameters such as the separation efficiency between hot metal and slag. The
large emulsification of the phases (air, slag and hot metal) caused by the strong turbulence is
the main factor for hot metal loss in the process. Results suggest that a combination of casting
rates and internal geometry of the blast furnace trough (introduction of flow controller or design
change) can lead to optimization of the metal/slag separation process by minimizing hot metal
loss and increasing the metal yield of the operation. It is suggested that a new bottom design,
as proposed in this work, could result in savings of US$266.83 per tap.
Keywords: Multiphase flow, Numerical Simulation, Physical Modelling, Blast Furnace trough;
Slag-metal separation.
XIII
1 INTRODUÇÃO
O ferro-gusa é uma liga ferrosa obtida através da fusão redutora de minério de ferro ou seus
derivados aglomerados, pelota e sínter, a qual possui teor de carbono da ordem de 4,5%. O
ferro-gusa pode ser obtido através de três procedimentos mais comuns: por exemplo
Autoredução pelos processos FastMelt e RedSmelt, Fusão redutora por meio de Corex, HISmelt
e por fim, o processo que prevalece no mercado: produção através dos Altos-Fornos. Cerca de
95% da produção de ferro-gusa no mundo é realizada em Altos-Fornos de acordo com Rizzo
(2006).
O canal de corrida tem a função básica de promover a separação entre as fases gusa líquido e
escória, de modo que em termos ideais, no dique de gusa se apresente apenas gusa e no canal
de escória apenas escória. Contudo devido a turbulência no canal durante o vazamento pode-se
ter perda de metal na escória bem como escória entranhada no gusa líquido. A perda de metal
na escória é a situação mais crítica, pois afeta diretamente o rendimento metálico da operação.
A mistura metal-escória flui pelo canal de corrida, gusa líquido se desloca para a porção inferior
devido à diferença de densidades, enquanto a escória sobrenada, formando-se um fluxo
bifásico. O skimmer é um tipo de mobiliário que reduz a energia cinética dos fluidos,
aumentando o tempo de permanência dos fluidos no canal e assim, promove separação metal-
escória.
1
altas geram muita turbulência incrementando o grau de mistura metal-escória e então as perdas.
Já fatores geométricos como dimensões do canal, posição do skimmer podem ser alterados para
otimizar a eficiência na separação.
O foco deste trabalho é caracterizar o comportamento dos fluxos no interior do canal por meio
de modelagem física e matemática, visando melhorar a eficiência na taxa de separação.
Gotículas de gusa são arrastadas pela camada de escória e a perda de gusa líquido na escória
pode chegar até 2,2% em massa de escória, segundo Shestopalov et al. (1988). Considerando
um alto-forno de grande capacidade, aproximadamente 7000 ton/dia e um slag-rate da ordem
de 300 kg/ton, perde-se até 20 ton/dia de gusa. O preço da tonelada de gusa é de US$ 340,00.
Uma melhoria na separação gusa-escória pode trazer uma economia de até US$5.400,00 ao dia.
Adicionalmente é possível obter uma escória ‘pura’ como co-produto e diminuir gastos na
dessulfuração primária devido menor quantidade de escória passante no canal de gusa.
2
2 OBJETIVOS
3
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 O Alto-forno
De acordo com Peacey e Davenport (1979), o principal objetivo dos altos-fornos é produzir
ferro gusa com composição constante em regime de alta produtividade. A principal variável de
controle é temperatura de vazamento do ferro-gusa e escória, próximas a 1500ºC e 1550ºC
respectivamente, para que se garanta que ambos estejam no estado líquido. As composições
químicas do gusa e da escória são outros parâmetros de processo relevantes. As especificações
devem seguir às necessidades dos reatores posteriores de refino, por exemplo aciaria a oxigênio
ou elétrica, ou fundição, etc.
Estima-se que existam mais de 1000 alto-fornos operando ao redor do mundo que alcançaram
uma produção de 1,3 bilhão de toneladas em 2019 segundo os dados da World Steel Association.
A casa de corrida dos Altos-fornos é a região onde está localizado o sistema de canais (principal
e secundário) que destinam o gusa e escória produzidos no reator às etapas posteriores do
processo. As dimensões e robustez desses canais variam de acordo com a produção do alto-
forno. No caso de usinas siderúrgicas de pequeno porte o gusa vazado do cadinho é destinado
a lingoteiras giratórias com formatos e dimensões definidos, como observado na Figura 3.1.
Figura 3.1 - Alto-forno dotado de duas máquinas de lingotamento circulares giratórias.
Em usinas de médio a grande porte, o gusa e escória são vazados do cadinho em canais de
corrida principal e secundários onde ocorrerá a separação destes dois líquidos, sendo que a
4
escória será carreada até um recipiente próprio, pote de escória, onde será destinada ao seu
tratamento, e o gusa para os carros torpedos com destino à estação de pré-tratamento e
posteriormente a aciaria como ilustrado na Figura 3.2.
Figura 3.2 - Vista do interior do cadinho e da casa de corrida do alto-forno de uma usina
integrada.
Os altos-fornos de grandes dimensões possuem um canal principal composto por uma carcaça
metálica móvel, revestida de material refratário, que é ligada ao furo de gusa através de uma
carcaça metálica fixa. No canal principal existe uma barreira denominada dique de escória (ou
skimmer), que tem função de reter a escória sobrenadante no metal, desviando-a para um outro
canal lateral (canal secundário de escória) que a levará até o pote, poço ou granulador de escória.
O gusa será destinado aos carros torpedos, panelas ou até mesmo para as lingotadeiras
giratórias. Os canais secundários de gusa e escória tem inclinação máxima de 3º e 7º
respectivamente. A Figura 3.3 mostra em detalhe um canal principal e uma representação
esquemática do sistema de canais da casa de corrida.
5
Figura 3.3 - Canal principal e representação esquemática da casa de corrida.
O canal principal deve ser projetado de acordo com o layout e dimensões da casa de corrida do
alto-forno, tendo em vista o melhor aproveitamento do espaço físico disponível, os menores
custos de investimento, facilidade de manutenção e sobretudo eficiência na separação gusa-
escória. Por exemplo, existe uma tendência atual de emprego de canais menores, mais
retilíneos, de modo a garantir menor perda térmica e emissão de fumos, e maior facilidade de
manutenção e limpeza de acordo com Rizzo (2006).
O canal de corrida principal deve ser suficientemente longo para que a escória e gusa se separem
por completo (escória e gusa são líquidos imiscíveis e apresentam uma grande diferença de
densidade, que é a força motriz da separação). Além disso é desejável que o canal de corrida
possua cobertura refratária de modo a diminuir as perdas térmicas e garantir maior fluidez dos
líquidos no canal, além de promover maior segurança operacional.
Rizzo (2006) cita que altos-fornos de pequeno a médio porte costumam trabalhar com canais
curtos, rasos e estreitos, revestidos de material refratário de baixo custo e tecnologia simples.
Já aqueles de grande porte, que necessitam manter alta produção, operam com canais longos,
profundos e largos, revestidos de material refratário de alto custo e tecnologia de ponta.
De acordo com Ghosh et al. (1986), o canal de corrida é operado basicamente de três diferentes
maneiras:
Ghosh et al. (1986) também relaciona o tipo de operação do canal de corrida com o tempo de
residência de gusa líquido no interior do mesmo. O tempo de residência diminui à medida que
a inclinação do canal de corrida aumenta.
Portanto, o tipo de operação está diretamente relacionado com a taxa de desgaste do canal de
corrida. De acordo com Samanta et al. (2014), a corrosão/erosão no canal principal é causada
pela mistura turbulenta de metal e escória durante o vazamento e a taxa de desgaste aumenta
quando o tempo de residência de gusa e escória no canal é reduzido como mostra a Figura 3.5.
Samanta et al. (2014) ainda conclui em seu trabalho que o tempo mínimo de residência é de
aproximadamente 7 minutos para que se tenha uma completa separação entre gusa e escória.
7
Figura 3.5 - Tempo de residência de gusa versus taxa de desgaste.
Marinelli et al. (2008) identificaram três regiões no canal de corrida, Figura 3.6. A primeira
região é denominada Zona de Impacto, onde se tem fluxo turbulento ocasionando uma alta taxa
de mistura entre gusa e escória. Essa área se estende entre 2 a 3 metros do furo de corrida.
Estima-se que o tempo mínimo de residência da mistura nessa região seja de 10 segundos. A
segunda região é caracterizada pelo início da flotação das gotas de escória, separando-se da
mistura; portanto é denominada Zona de Separação Escória-Gusa. Essa região se estende entre
1 a 2 metros. Por fim, a terceira região é onde a gotas de gusa presentes na camada de escória
decantam, retornando ao seio do banho. Tem-se então a Zona de Separação Gusa-Escória. Esta
região está a aproximadamente a 10 metros do furo de corrida, já na parte final do canal.
8
3.1.3 Operação de Vazamento: Drenagem do Cadinho e Furo de corrida
Segundo Agrawal et al. (2017), é notável uma maior estabilidade e controle do forno quando
este opera com menor nível de líquido no cadinho. Esta estabilidade não está relacionada apenas
à taxa de produção constante, mas também com a permeabilidade aos gases que é parte
importantíssima do processo. Quando o forno apresenta um acúmulo de líquido no cadinho o
homem morto flutua, ocorre uma restrição ao fluxo dos gases, levando a uma descida lenta ou
irregular da carga, o que gera uma maior queda de pressão e aumento da carga térmica na região
inferior do alto-forno. Tudo isso leva a um aumento severo no desgaste do revestimento do
cadinho.
Tanzil et al. (1982) e He et al. (2011), descrevem de maneira semelhante que o comportamento
do processo de drenagem do cadinho de alto-forno é determinado pelo movimento das
interfaces. De modo geral, existem dois tipos de interfaces: i) gás-líquido – gás de alto-
forno/escória; ii) líquido-líquido – escória/gusa. A operação de vazamento depende da posição
destas interfaces com relação à posição do furo de corrida, principalmente a interface gás-
líquido, pois quando esta alcança a altura do furo é que se deve encerrar o vazamento, por
tamponamento do furo. No caso da interface escória/gusa, esta pode se apresentar em três
diferentes níveis com relação ao furo de corrida: acima do nível, mesmo nível e abaixo do nível.
9
Isso implicará em como os líquidos serão drenados. Em resumo tem-se que: quando a interface
escória/gusa está acima do nível do furo de corrida inicialmente somente gusa é vazado. Quando
a interface alcança o mesmo nível, gusa e escória são vazados simultaneamente até o fim do
vazamento (interface gás /escória atinge o nível do furo). O oposto acontece quando a interface
escória/gusa está abaixo do nível do furo de corrida. Neste caso, a escória é vazada primeiro e
em seguida escória e gusa vazam de forma simultânea. Embora o nível inicial de gusa esteja
abaixo do nível do furo de corrida, ainda é possível a drenagem do metal, pois gusa pode ser
arrastado ao furo de corrida devido ao grande gradiente de pressão que é formado devido ao
fluxo da escória altamente viscosa.
A Figura 3.7, devida a Upadhyay e Kundu (2013), mostra a variação do nível de líquido no
cadinho durante a operação do forno. Tem-se inicialmente o aumento do nível de líquido (gusa
e escória) no cadinho durante o intervalo entre vazamentos. No momento da abertura do furo
apenas gusa é vazado. O nível total de líquido continua crescente mesmo com o vazamento de
metal, pois o volume drenado é menor que o volume produzido. Por fim se tem o início do
vazamento de escória, e simultaneamente gusa; então o nível de líquido decresce até o fim do
vazamento.
Figura 3.7 - Variação do nível de líquido no cadinho durante o vazamento.
10
Em plantas industriais o furo de vazamento tem aproximadamente 3,5m de comprimento, com
inclinação de 10º. Nos estudos de He et al (2011), através de modelamento físico, observaram
que os fluxos apresentam um comportamento pulsante que, se operado de forma intermitente,
causa um maior desgaste no revestimento refratário do canal de corrida. Stevenson e He (2005)
conseguiram determinar que o entranhamento de gás no furo de vazamento é a causa para o
comportamento em “splash” (respingos) do fluxo. Tal comportamento torna a operação de
vazamento insegura e o seu descontrole compromete a segurança daqueles que trabalham no
vazamento do forno, além de onerar os custos do processo. Como dito anteriormente, um jato
com essa característica faz com que o furo tenha de ser obstruído mesmo antes do fim do
esgotamento do cadinho.
Devido às condições severas existentes durante o vazamento não há, na prática, formas de se
observar o comportamento dos fluxos no interior do furo. Então, tudo que foi estudado até o
momento é baseado em modelagem física e/ou computacional do processo de vazamento.
i) Fluxo estratificado: esse padrão de fluxo ocorre se as taxas de fluxo dos líquidos
forem da mesma ordem de grandeza. Cada fase mantém continuidade, com a
fase menos densa na parte superior e a fase mais densa na parte inferior do tubo.
A interface entre as fases é suave, bem definida. A interface tende a ficar
ondulada (fluxo estratificado ondulado) ou até conterá pequenas gotículas de
cada fase (fluxo contínuo duplo) quando as taxas de fluxo forem aumentadas. A
Figura 3.8 mostra um esquema de fluxo estratificado.
ii) Fluxo Disperso: esse padrão de fluxo surge se a diferença entre as taxas de fluxo
dos líquidos for grande ou suficientemente alta para romper a estabilidade da
interface. A fase mais rápida pode, em geral, penetrar e dispersar a fase mais
lenta, gerando então uma mistura entre os líquidos.
11
Figura 3.8 - Descrição esquemático de fluxo estratificado em tubo inclinado.
Shao e Saxén (2013), trabalharam com inúmeras variáveis para validar o modelo e também para
validar os testes em planta, sendo elas: diâmetro e inclinação do tubo, viscosidade e densidade
dos líquidos. Apenas o diâmetro teve influência significativa no padrão de fluxo; concluíram
também que durante o vazamento, no interior do furo de corrida há uma maior probabilidade
de ocorrer o padrão de fluxo estratificado. Entretanto outras características, como por exemplo
rugosidade, que podem interferir na estabilidade das interfaces, não foram consideradas.
12
Tabela 3.1 - Valores médios das propriedades de água e ferro-gusa.
Temperatura ºC T 25 1500
Viscosidade
Pa.s 𝜂 0,890x10−3 6,4x10−3
dinâmica
Massa
kg/m³ 𝜌 1,0x103 6,8x103
específica
Viscosidade
m²/s ν 0,893x10−6 9,13x10−7
cinemática
Tensão
N/m 𝜎 0,07197 1,400
superficial
Contudo, para que os modelos físicos representem com precisão os processos industriais é
necessário que alguns critérios de similaridade sejam satisfeitos. Segundo Braga (2019), para
modelos isotérmicos, como neste trabalho, devem ser respeitados três critérios: similaridade
geométrica, dinâmica e cinemática. Similaridade geométrica implica em que as razões entre
quaisquer medidas homólogas do modelo e protótipo devem ser iguais ao fator de escala,
representado por (λ), como mostrado na Figura 3.9. A similaridade dinâmica representa em
resumo a similaridade das forças. Desta maneira, na similaridade dinâmica o foco será as forças
de inércia, de pressão, viscosa, gravitacional e de tensão superficial de ambos os sistemas. As
condições de similaridade dinâmica são representadas por meio da igualdade de números
adimensionais envolvendo as forças citadas como, por exemplo, o número de Froude e o
número de Reynolds como citado por Kruger (2010). Por fim, a similaridade cinemática
relaciona a razão entre a velocidade do fluido modelador com a velocidade do fluido no
processo industrial, e como a geométrica ela também deve ser fixa. Porém, de acordo com Braga
(2019), essa condição é imposta de forma indireta quando se garante as similaridades
geométrica e dinâmica.
13
Figura 3.9 - Representação da similaridade geométrica.
Como citado anteriormente não existem muitos estudos referentes à caracterização do fluxo no
canal de corrida de alto-forno através de modelagem física, o que destaca a relevância deste
trabalho. Trabalhos importantes com esse tipo de abordagem são o de Kim et al. (1998),
Luomala et al. (2001), He et al. (2002) e Begnis e Brandaleze (2005).
O padrão de fluxo descrito por estes autores indica que há um fluxo bifásico ao longo do canal,
composto por uma camada predominantemente formada por água na porção inferior e uma
mistura de fases na porção superior. Não foi observado uma camada composta
predominantemente por óleo nas condições experimentais testadas. Essa mistura de fases
apresentou uma densidade intermediária entre água e óleo. Kim et al. (1998), observaram um
aumento do nível de água na metade do canal criando uma espécie de barreira natural de fluxo
que se estende até a superfície. A Figura 3.10 apresenta um esquema conceitual do fluxo no
canal de corrida.
14
Figura 3.10 - Representação conceitual do fluxo em canal de corrida.
15
He et al. (2002) estudaram, em um modelo físico em escala 1:5, o comportamento do fluxo na
zona de impacto no canal de corrida e seu efeito no desgaste do refratário. Diferentemente de
trabalhos anteriores, os quais utilizaram uma mistura de água e óleo confeccionada em
reservatório em separado, a qual era posteriormente vazada no canal, He et al. (2002) bombeou
os líquidos separadamente e estes se misturavam apenas no interior do furo de corrida, onde
também era injetado ar comprimido. Acredita-se que essa metodologia seja mais realista
quando comparada as condições reais de operação.
Figura 3.11 - Esquema conceitual de escoamento em canal de corrida proposto por He et al.
(2002).
Begnis e Brandaleze (2005), por meio de modelagem física em escala 1:5 de um canal de corrida
de alto-forno com capacidade produtiva de 6800ton/dia, estudaram o fenômeno de separação
16
gusa/escória e desgaste do revestimento refratário. Água e óleo foram usados como fluidos de
modelagem. Estes eram misturados em um reservatório pressurizado e vazados no canal de
corrida. O aparato experimental utilizado é semelhante aos dos trabalhos de Kim et al. (1998),
Luomala et al. (2001). É importante ressaltar que em todos os estudos aqui referenciados, os
modelos físicos eram operados com canal do tipo piscina como descrito no item 3.1.2. O modelo
foi construído de modo a possibilitar a simulação de várias condições de processo como vazões,
inclinação do furo de corrida e da barragem de gusa, posição do skimmer, etc.
Figura 3.12 - Arraste de ar no jato de líquido. Acima: modelo água/ar. Abaixo: modelo
água/óleo/ar.
17
recirculatório, principalmente nas paredes laterais, contribui para o desgaste. Após a região de
impacto pode se observar duas fases bem definidas, separadas devido a diferença de densidade
(Figura 3.13) e que se movem com diferentes velocidades. A espessura da camada de escória
não é constante e está relacionada com a diferença entre os níveis dos canais secundários de
escória e gusa.
18
É oportuno ressaltar o modo de vazamento empregado nos trabalhos citados até aqui. Com
exceção de He et al. (2002), todos vazavam uma mistura entre água, óleo e ar no canal de
corrida, variando apenas a porcentagem volumétrica de água e óleo. Neste caso, como
observado pelas imagens do trabalho de Begnis e Brandaleze (2005), não se pode afirmar que
a fase que sobrenada o fluxo de água seja composta de apenas óleo. Kim et al. (1998) citam que
não se formou uma fase predominantemente oleosa no canal. O aspecto observado nas imagens
de Begnis e Brandaleze (2005) aparenta uma emulsão de óleo e água causada pelo modo de
misturamento dos líquidos (no reservatório onde estão armazenados antes de serem vazados no
canal.
Outro ponto importante está relacionado com o modo de vazamento. Os trabalhos até aqui
referenciados não replicaram o modelo de vazamento proposto por Tanzil et al. (1982), He et
al. (2011) e Upadhyay e Kundu (2013) em que nos primeiros momentos do vazamento flui
apenas gusa, posteriormente gusa e escória simultaneamente e finalmente apenas escória.
A reprodução exata do processo real no modelo físico é limitada, muitas vezes não é possível
levar em consideração todos os aspectos operacionais.
De um modo geral, nos trabalhos apresentados ainda são escassas as informações. Contudo,
observa-se semelhança nos resultados como por exemplo, zona de impacto com elevada
turbulência e entranhamento de ar com grande recirculação.
Com o advento de altos-fornos de grande porte, com vários furos de corrida, tornou-se
necessário repensar as práticas e estratégias de vazamento de modo a possibilitar altas taxas de
19
vazamento bem como uma redução dos custos operacionais relacionados aos revestimentos
refratários. Uma alternativa para se garantir tais demandas é otimizar o processo de separação
gusa-escória nos canais de corrida. Contudo, os poucos estudos neste segmento não trazem
resultados consistentes o bastante para serem replicados industrialmente.
Figura 3.15 - Representação do canal de corrida proposto por Shestopalov et al. (1988).
Escória
Gusa
Como já citado anteriormente, durante o vazamento gusa e escória fluem pelo furo de corrida
e chegam ao canal em altas velocidades. Esse comportamento provoca uma grande mistura
destes na região de impacto do jato. A perda de gusa, arrastado por escória, pode chegar até
2,2% em massa de escória vazada, segundo Shestopalov et al. (1988).
Nos testes industriais de Shestopalov et al. (1988), nos altos-fornos não equipados com o
skimmer adicional a perda de gusa em escória chegou a valores entre 1,15-3,83%. Já aqueles
que possuem o equipamento adicional foi de 0,52-1,65%. Em média, reduziram as perdas em
5,4kg/ton de gusa. A eficiência de separação neste caso está relacionada a criação de uma região
isenta de recirculação, entre os dois skimmers, o que reduz a capacidade da escória arrastar
gusa.
20
O skimmer adicional provoca uma modificação no padrão de fluxo aumentando o tempo de
residência dos fluidos no canal, garantindo que as gotas de gusa tenham tempo suficiente para
decantar para o seio do banho ao passo que as gotas de escória entranhadas no seio do banho
flotem.
Shestopalov et al. (1988), citam que o skimmer adicional e uma mudança nas práticas
operacionais de vazamento, além da redução da perda metálica levam também a uma redução
de 75% de escória passante no canal de gusa. Esse resultado está relacionado ao revestimento
do skimmer principal que diminuiu a erosão local, mantendo a seção transversal por mais tempo
durante o processo.
Kim et al. (1998) estudaram a eficiência de separação gusa/escória utilizando modelagem física.
Os autores determinaram a espessura da camada de cada fluxo, bem como o comportamento da
interface água/óleo.
De acordo com Kim et al. (1998) e Begnis e Brandaleze (2005), alguns fatores que afetam na
separação gusa-escória são:
21
Kim et al. (1998), concluíram que a espessura da camada de óleo e sua velocidade são variáveis
importantes no processo. À medida que a espessura da camada aumenta, tem-se maior
aprisionamento de água. Note-se que o entranhamento de uma fase em outra está relacionado
com a estabilidade da interface entre eles, como citado por Shao e Saxén (2013). A fase de
maior velocidade pode penetrar na de menor velocidade, o que explica um possível mecanismo
de entranhamento de água em óleo ou vice-versa. Logo, deve-se operar com vazões de óleo e
água (escória e gusa) semelhantes, mas não com valores elevados. Pois, quando se aumenta a
vazão total, tem-se maior turbulência na região de impacto do jato.
Kim et al. (1998), ao usar óleos com diferentes viscosidades, observaram que com o aumento
da viscosidade destes óleos houve maior arraste de água. Logo, o controle da composição
química da escória se faz um ponto importante, de modo a tornar possível prever sua
viscosidade antes do vazamento.
Como mencionado por Kim et al. (1998) e Begnis e Brandaleze (2005), o tempo de permanência
está relacionado diretamente com a geometria do canal. Dos fatores citados anteriormente este
é o mais controlável. Segundo Cameron et al. (2019), é possível aumentar o tempo de residência
apenas alterando a inclinação do canal vide item 3.1.2 Figura 3.4. Nesta melhor configuração –
“tipo piscina” tem-se uma maior região de fluxo laminar de fluxo pistonado provocado pela
diminuição considerável da velocidade dos fluxos. Kim et al. (1998) e Cameron et al. (2019)
citam que um aumento do volume do canal provoca um aumento do tempo de residência e
favorece a taxa de separação. Kim et al. (1998) obtiveram redução de 3% de perda de “metal”
na “escória”, com o aumento do volume do canal em cerca de 23%. Contudo, esse aumento
deve ser obtido pelo aumento de área de seção transversal, que produz melhores efeitos do que
a alteração do comprimento.
22
Figura 3.16 - Impacto do aumento do volume do canal no tempo de residência (CAMERON
et al., 2019).
Outro fator geométrico que pode ser alterado com o intuito de melhorar a eficiência de
separação é o ângulo de furo. Cameron et al. (2019) resumem a influência do furo de acordo
com a Figura 3.17. De um modo geral, o ângulo e comprimento do furo influem de maneira
significante no processo de mistura. Luomala et al. (2001), obteve as mesmas conclusões em
seu estudo. Com o aumento do ângulo há uma maior turbulência na zona de impacto do jato no
canal promovendo alta mistura além de considerável desgaste nas paredes e no fundo do canal.
23
Além disso, pode-se alterar a eficiência de separação alterando a posição do skimmer como
citado por Luomala et al. (2001). Segundo o autor, aumenta-se a eficiência de separação quando
é reduzida a diferença de altura entre os canais de escória e ferro, aumentando a altura do banho
ou reduzindo a altura da abertura sob o skimmer. Quando a altura do canal de escória é
diminuída, o tempo de residência fica menor. Por outro lado, a camada de escória se torna
menos espessa e, consequentemente, é necessário menos tempo para a decantação das gotas de
gusa entranhadas na camada de escória.
Ainda com todo avanço tecnológico dos softwares, hardwares, processadores e referências de
trabalhos anteriores, de acordo com Rezende (2008), existe ainda alguma insegurança com
relação a validade e aplicação desde modelos propostos computacionalmente. Por isso, muitas
vezes modelagens física e matemática trabalham atreladas de forma a se obter uma “validação
mútua” do processo a ser estudado.
24
3.3.1 Caracterização do Escoamento em Canal de Corrida de Alto-forno por meio
de Modelagem Matemática
Um dos primeiros estudos utilizando fluidodinâmica computacional foi elaborado por Dash e
Ajmani (1996), ainda de forma bem simplificada, a fim de determinar os campos de velocidade
nas regiões do skimmer, barragem de gusa e uma pequena porção antes da do skimmer no canal
de corrida de alto-forno. Foi utilizado o software Phoenics para resolver o conjunto de equações
diferenciais considerando o modelo turbulento k-𝜀 através do método de volume finitos. A
camada de escória não foi considerada. Logo o problema foi simplificado considerando fluxo
monofásico e bidimensional no canal de corrida. As condições de contorno utilizadas no modelo
matemático foram:
Apesar das limitações computacionais da época, Dash e Ajmani (1996) obtiveram resultados
de caracterização do escoamento em canal de corrida muito semelhantes aos trabalhos citados
no item 3.2.1, como por exemplo, a presença de uma região de fluxo completamente
desenvolvido na porção intermediária do canal que compreende as regiões entre a zona de
impacto do jato (desconsiderada na análise) e a região do skimmer. Contudo, os autores indicam
a formação de uma zona de recirculação originada na região de barragem de gusa, e esta esteve
presente em todas as condições de inclinação da barragem. Esse comportamento não foi
observado nas modelagens físicas citadas anteriormente.
Chakraborty et al. (1998), criaram um modelo matemático (2D e 3D) do escoamento em canal
de corrida a fim de avaliar o processo de separação escória-gusa e minimizar a passagem de
escória no canal secundário de gusa. O software Phoenics foi utilizado inicialmente para criar
um modelo mais simples, bidimensional, mas que replicasse de forma consistente o
comportamento do fluxo observado na prática. Só após essa validação, foi realizada a
formulação tridimensional do modelo.
Tanto o modelo bidimensional quanto o tridimensional proposto por Chakraborty et al. (1998)
continham grandes simplificações, principalmente relacionadas a geometria do canal, e à
condição dos fluxos entrantes, neste caso estabelecendo gusa e escória com frações
25
volumétricas definidas. O canal de corrida foi reduzido a um “paralelepípedo” e o ângulo de
entrada do fluxo na superfície livre foi desprezado, ou seja, considerou-se um jato vertical
atingindo o banho. Além disso, para facilitar o cálculo foi desprezado o transbordo de escória
em seu respectivo canal, ou seja, escória (gotas com tamanho especificado e constante) só
poderia deixar o canal através do canal de gusa.
Apesar das simplificações, os resultados obtidos pelo modelo foram coerentes com as
observações em planta industrial de acordo com Chakraborty et al. (1998). Algo inimaginável
se comparado ao atual cenário, uma vez que se conhece a grande influência do ângulo de furo
e geometria do canal no processo de separação gusa-escória e que para validar esse tipo de
abordagem é necessário que o modelo seja o mais representativo possível do processo real.
Luomala et al. (2001) utilizaram o pacote comercial Phoenics 3.2 com o objetivo de caracterizar
o escoamento em canal de alto-forno e prolongar sua vida útil. Os resultados do modelo
matemático foram confrontados com a modelagem física e foram satisfatórios. Como Dash e
Ajmani (1996), a camada de escória e o fluxo à jusante do skimmer também não foram
considerados na simulação; contudo, foram mantidas as relações de altura do banho e vazão de
entrada, além das relações geométricas do canal de corrida. Foi empregado o modelo K-𝜀 e a
energia cinética turbulenta na entrada foi especificada em 2% da energia cinética média. As
demais condições de contorno não foram detalhadas. Mas, é notório um avanço no que se refere
a representatividade do modelo de Luomala et al. (2001) quando comparado à Dash e Ajmani
(1996). O primeiro convergiu após 5000 iterações ao passo que o segundo precisou de apenas
800 iterações.
26
de desgaste do refratário no canal de corrida, com exceção do trabalho de Rezende et al. (2008)
que tem como objetivo simular a colisão do jato em uma superfície livre, em todos os casos foi
importante compreender o comportamento dos fluidos no interior do canal.
Vale ressaltar que tais hipóteses e simplificações foram consideradas em todos os trabalhos
elaborados por Rezende et al. no período 2007-2014. Com o passar do tempo as simulações
foram se aperfeiçoando nas questões de refinamento de malha e no detalhamento dos
parâmetros físicos necessários para alimentar o modelo.
Rezende (2008) cita as dificuldades em se modelar o processo que ocorre nos canais de corrida
de altos-fornos, devidas às várias especificidades físicas das fases envolvidas. As simulações
iniciais incluíram apenas duas fases, água e ar. Uma análise das hipóteses consideradas permite
identificar algumas mais distantes da realidade e simplificações importantes; no entanto os
resultados de Rezende são significativos. Outras características como mudança de fase, reação
química, camada de escória, balanços de energia tornaram o problema ainda mais complexo,
para ser desenvolvido em um único trabalho.
27
Apesar das simplificações, Rezende et al. no período 2007-2014 conseguiram descrever com
bastante exatidão o escoamento fluido dinâmico no interior do canal e determinar o principal
mecanismo e as possíveis regiões de maior desgaste (que resultaram em acordo com modelos
físicos descritos no item 3.2). Rezende foi o precursor neste estudo, aplicando ferramentas de
engenharia de alto nível se tornando referência para os trabalhos futuros.
Wang et al. (2017), de maneira muito semelhante a Chang et al. (2014), utilizaram abordagem
numérica para descrever o escoamento de gusa e escória no canal e avaliar a eficiência de
separação. O modelo euleriano para um fluxo multifásico (ar, escória e gusa) foi implementado
no Fluent 6.2 e utilizado para resolver as equações de Navier-Stokes. Foi utilizado o modelo K-
𝜀 de turbulência devido ao comportamento na região de impacto do jato no canal. Para equações
de conservação, foram feitas as seguintes suposições:
O grande diferencial do trabalho de Wang et al. (2017), foi considerar a transferência de calor.
Neste caso, assume-se a presença de convecção forçada (devida à inércia dos jatos de gusa e
escória) bem como convecção de origem térmica (devida à diferença de temperatura de
vazamento dos fluidos e da parede vertical do canal).
28
▪ Inlet: velocidade média de gusa e escória foram calculadas através da taxa de vazamento
real de modo a manter uma relação 3:1 respectivamente;
▪ Outlet: Pressão atmosférica;
▪ A temperatura da parede é definida em 1773K;
▪ A temperatura dos fluidos na entrada é 1823K.
Wang et al. (2017), obtiveram resultados consistentes em seu trabalho, que pode ser validado
por exemplo pelo trabalho de Kim et al. (1998) e Luomala et al. (2001). Ambos autores
determinam que a eficiência de separação gusa-escória está relacionada com a taxa de
vazamento e com as características geométricas do canal: abertura do skimmer e altura dos
canais secundários de gusa e escória. Logo, esses são os parâmetros principais para manter a
eficiência de separação durante o vazamento.
A literatura indica que as características geométricas do canal de corrida têm maior influência
na eficiência de separação gusa-escória quando comparadas aos parâmetros de processo, como
por exemplo, taxa de vazamento. Os trabalhos de Kim et al. (1998), Luomala et al. (2001) e
Wang, Nan Pan e Cheng (2017) são exemplos desta conclusão. Kou et al. (2018), seguindo essa
linha de pensamento avaliou a eficiência de separação gusa-escória alterando as características
geométricas do canal de corrida através de modelo matemático. O grande diferencial da
abordagem trazida por Kou et al. (2018) é o modo em que os líquidos são vazados no canal de
corrida, tal como citado por Tanzil et al. (1982), He et al. (2011) e Upadhyay e Kundu (2013).
Para o modelamento matemático foram empregadas as seguintes suposições:
As condições de contorno adotadas por Kou et al. (2018) no modelo matemático foram:
29
▪ Inlet: velocidade média de gusa e escória foram calculadas através da taxa de vazamento
real;
▪ Outlet: Pressão atmosférica;
Kou et al. (2018), aplicaram o método VOF para descrever as interfaces presentes no modelo.
Este método baseia-se na fração volumétrica de uma determinada fase para definir o limite das
interfaces de fluidos imiscíveis. O valor de cada fração volumétrica varia entre 0 e 1, sendo que
a soma é igual a 1. Além disso, neste método considera-se que as fases compartilham a mesma
equação de conservação de quantidade de movimento, isto é o mesmo campo de velocidades.
Barral et al. (2019) avaliaram, por meio de modelagem matemática (utilizando Fluent), o
desgaste refratário em canais de alto-forno durante o vazamento. O trabalho apresenta modelos
interessantes com condições bem diferentes das simulações citadas até aqui. Neste caso, foram
avaliadas duas condições de vazamento: a primeira corresponde na avaliação do desgaste
durante o vazamento partindo com o canal de corrida cheio (situação mais comum) e a segunda
considera o canal vazio, seco, onde espera-se que o desgaste seja mais significante. As hipóteses
do modelo são semelhantes às propostas por Wang et al. (2017), contudo, o modelo de
turbulência empregado é diferente dos demais citados até o momento. Barral et al. (2019)
adotaram o modelo de turbulência SST K−ω.
Ge et al. (2020), em seu modelo empregando análise numérica via software livre OpenFoam,
avaliaram a velocidade dos fluidos, a tensão de cisalhamento e o perfil térmico do canal de
corrida durante o vazamento. As hipóteses do modelo são baseadas nos modelos de Chang et
al. (2014) e Wang et al. (2017) já comentados anteriormente. Os resultados encontrados são
validados pela literatura existente. A região de impacto do jato é onde se tem os maiores
gradientes de velocidade. O fundo do canal na zona de impacto apresenta os maiores valores de
30
tensão de cisalhamento quando comparado as paredes do canal; contudo, não é a região de
maior desgaste quando o canal é avaliado in loco. Isso sugere que o mecanismo de abrasão não
é a causa principal do desgaste do revestimento refratário. Além disso, a tensão de cisalhamento
na parede do canal principal aumenta com o aumento do ângulo do furo, resultado semelhante
obtido por Cameron et al. (2019).
De acordo com CFX theory guide (2018), o fluxo multifásico refere-se à situação em que mais
de um fluido está presente. Cada fluido pode possuir seu próprio campo de fluxo, caso do
Modelo Não Homogêneo, ou todos os fluidos podem compartilhar um campo de fluxo comum,
caso do Modelo Homogêneo. Dois modelos de fluxo multifásico distintos estão disponíveis no
CFX, um modelo multifásico Euleriano-Euleriano e um modelo multifásico Lagrangiano
Particle Tracking. O modelo Euleriano-Euleriano é o mais indicado para escoamentos
multifásicos em que se tem mistura de fases e as diferenças de velocidade entre elas são
consideráveis.
Segundo CFX theory guide (2018), o fluxo multifásico não homogêneo refere-se ao caso em
que existem campos de velocidade separados e outros campos relevantes para cada fluido. Os
fluidos interagem via termos de transferência entre fases. Ao passo que o fluxo multifásico
homogêneo é um caso limitante do fluxo multifásico Euleriano-Euleriano, em que todos os
fluidos compartilham os mesmos campos de velocidade, bem como outros campos relevantes,
como temperatura, turbulência etc. Em ambos modelos o campo de pressão é compartilhado
por todos os fluidos.
Sendo assim, a Equação de Continuidade para o modelo Não Homogêneo é dada por:
𝜕
(𝑓𝛼 𝜌𝛼 ) + ∇ ⋅ (𝑓𝛼 𝜌𝛼 𝑈𝛼 ) = 𝑆𝑀𝑆𝛼 + ∑𝑁𝑝
𝛽=1 Γ𝛼𝛽 (3.1)
𝜕𝑡
Onde 𝑆𝑀𝑆𝛼 descreve a fonte de massa específica; Γ𝛼𝛽 é taxa do fluxo de massa por unidade de
volume da fase α para a fase β.
O modelo não homogêneo possui subdivisões que são detalhadas nos itens a seguir.
31
De acordo com Paladino (2005), o modelo Homogêneo pode empregar uma única Equação de
𝜕 𝑚 𝑇 ))
(𝑈𝑚 𝜌𝑚 ) + ∇ ⋅ (𝜌𝑚 𝑈𝑚 𝑈𝑚 ) − ∇ ⋅ (𝜇𝑒𝑓𝑓 (∇ 𝑈𝑚 + ∇𝑈𝑚 + ∇P − 𝜌𝑚 𝑔 = 0 (3.2)
𝜕𝑡
O modelo homogêneo não precisa ser aplicado a todas as equações (CFX - Solver theory guide,
2018). Por exemplo, o campo de velocidade pode ser modelado como não homogêneo, mas
acoplado a um modelo de turbulência homogêneo.
Este é um modelo que trata as duas fases simetricamente. Pode ser adequado como uma
primeira aproximação ou como base dos modelos de transferência interfacial fornecidos pelo
usuário para o cálculo do fluxo bifásico líquido-líquido ou gás-líquido não disperso. Requer
que ambas as fases sejam contínuas e utiliza a densidade área interfacial, 𝐴𝛼𝛽 . (CFX - Solver
theory guide, 2018) dada por:
r r
𝐴𝛼𝛽 = 𝛼 𝛽⁄𝑑 (3.6)
𝛼𝛽
32
Na situação em que se tem um fluxo de óleo-água, no qual existam gotículas de água em óleo
(fase contínua) ou gotículas de óleo em água (fase contínua), nos limites r𝛼 e r𝛽 tendem a zero.
Então, um modelo simples para densidade de área interfacial que apresenta o comportamento
correto nesses dois limites é dado por:
6r𝛼 r𝛽 𝑟𝛼 𝑑 +𝑟 𝑑𝛼
𝐴𝛼𝛽 = ⁄ → 𝑑𝛼𝛽 = 𝛽 6 𝛽 (3.7)
(𝑟𝛼 𝑑𝛽 + 𝑟𝛽 𝑑𝛼 )
𝜇𝐶𝑝𝛼𝛽
𝑃𝑟𝛼𝛽 = (3.9)
𝜆𝛼𝛽
Onde 𝜌𝛼𝛽 , 𝐶𝑝𝛼𝛽 , 𝜇𝛼𝛽 , 𝜆𝛼𝛽 são a densidade, a capacidade calorífica específica, a viscosidade, e
a condutividade térmica da mistura, respectivamente. A viscosidade e a densidade da mistura
são dadas por:
𝜌𝛼𝛽 = 𝑟𝛼 𝜌𝛼 + 𝑟𝛽 𝜌𝛽 (3.10)
𝜇𝛼𝛽 = 𝑟𝛼 𝜇𝛼 + 𝑟𝛽 𝜇𝛽 (3.11)
O fluxo de superfície livre refere-se a uma situação multifásica em que os fluidos são separados
por uma interface bem definida, como descrito em CFX - Solver theory guide, (2018). Se são
apenas duas fases presentes utiliza-se a equação a seguir para o cálculo da densidade de área
interfacial.
𝐴𝛼𝛽 = |∇𝑟𝛼 | (3.4)
33
2|∇𝑟𝛼 ||∇𝑟𝛽 |
𝐴𝛼𝛽 = ⁄ (3.5)
(|∇𝑟𝛼 | + |∇𝑟𝛽 |)
Tendo sido realizada uma análise das abordagens relatadas na literatura este estudo toma como
base as metodologias numéricas utilizadas para a solução das equações que representam o
modelo de dois fluídos, que mais se adequam para o caso de escoamentos multifásicos como
ocorrem nos canais de corrida de alto-forno, tanto em escala laboratorial como industrial. O
software escolhido para tal é o CFX da ANSYS.
34
4 MATERIAIS E MÉTODOS
O modelo físico foi construído em acrílico, em escala 1:10, em relação ao canal de corrida real
de um alto-forno de capacidade de produção de aproximadamente 7000ton/dia. A taxa de
vazamento é da ordem de 6ton/min com um tempo médio de vazamento de 50 min. A Figura
4.1 apresenta o modelo utilizado nos experimentos.
Para a realização dos testes no modelo físico foi utilizado o critério de similaridade de Froude,
que relaciona a força peso com a força de inércia, o que implica na seguinte relação entre
modelo e protótipo:
𝐹𝑟𝑀𝑜𝑑𝑒𝑙𝑜 = 𝐹𝑟𝑃𝑟𝑜𝑡ó𝑡𝑖𝑝𝑜 (4.1)
O que sugere:
𝑉² 𝑉²
(𝑔𝐿) = (𝑔𝐿) (4.2)
𝑀 𝑃
Em que V é a velocidade característica do sistema (m/s), g é a aceleração da gravidade em
(m/s²), L é um comprimento característico do sistema (m).
35
𝐿𝑀
Dimensão: = λ; (4.3)
𝐿𝑃
𝐴𝑀
Área: = λ²; (4.4)
𝐴𝑃
𝑉𝑀
Volume: = λ³; (4.5)
𝑉𝑃
𝑉𝑀
Velocidade: = 𝜆0,5 ; (4.6)
𝑉𝑃
𝑄𝑀
Vazões volumétricas: = 𝜆2,5; (4.7)
𝑄𝑃
𝑡𝑀
Tempo: = 𝜆0,5 (4.8)
𝑡𝑃
Dados geométricos bem como valores de propriedades dos fluidos utilizados no modelo e
protótipo são apresentados na Tabela 4.1.
36
Tabela 4.2 - Propriedades do querosene utilizado na simulação física de acordo com Gabriel
(2019).
Nos experimentos de separação, onde água e querosene foram utilizados, o vazamento foi
simulado de acordo com o proposto por Tanzil et al. (1982), He et al. (2011) e Upadhyay e
Kundu (2013), tal que nos primeiros momentos do vazamento flui apenas gusa, posteriormente
gusa e escória simultaneamente e finalmente apenas escória.
Essa condição de vazamento foi empregada apenas nos testes nos quais foram avaliadas as
influências do modificador de fluxo e da camada de querosene no processo de separação. Para
a avaliação de fatores que afetam o processo de separação como: vazão dos fluidos, ângulo e
diâmetro do furo de vazamento e introdução de modificador de fluxo, a condição de vazamento
foi simplificada adotando somente o período simultâneo em que os fluidos são vazados.
37
fluxo. Utilizou-se uma câmera de vídeo de alta definição posicionada em várias regiões de
interesse do canal. Este procedimento foi realizado em duas etapas para todas as vazões:
1. Filmagens capturando toda vista lateral e superior do canal;
2. Filmagens capturando regiões específicas como: zona de impacto e skimmer.
O espalhamento e trajeto do corante no interior do canal foi observado e a partir das filmagens
foram selecionados frames (quadros) das regiões de interesse para posterior análise.
38
Segundo Braga (2019), a técnica se baseia na injeção de uma solução salina, traçador, em forma
de pulso no bico de vazamento. A variação da condutividade da água, medida pelos
condutivímetros dispostos ao longo do canal de corrida, é devida à alteração da concentração
de sal em cada região do canal. Os condutivímetros são conectados a uma placa de aquisição
de dados que faz a interface com um programa de computador; dados de cada ensaio são
armazenados e processados. Um esquema deste experimento no canal de corrida é mostrado na
Figura 4.3. A Tabela 4.3 mostra a posição de cada condutivímetro no canal de corrida.
Figura 4.3 - Representação esquemática da montagem experimental para realização dos testes
via condutivimetria.
Esta metodologia produziu como resultado uma curva de distribuição de tempo de residência,
ou DTR, Figura 4.4, que é amplamente empregada para caracterização macroscópica de fluxo
em modelos físicos, vide como exemplo o trabalho de Braga (2019).
Portanto, essa informação pode ser expressa através das variáveis adimensionais 𝐸𝜃 e 𝜃.
𝐸𝜃 = 𝑉 . 𝐶𝑠𝑎í𝑑𝑎 ⁄𝑀 (4.9)
𝜃 = 𝑡⁄𝜏 (4.10)
39
𝜏 = 𝑉⁄𝑄 (4.11)
Onde 𝜏 é o tempo nominal de residência do fluido no canal em (s), V é o volume do canal (m³)
e M é a massa do traçador (kg), Csaída é a concentração de sal em cada ponto distribuído ao longo
do canal em kg/m³; Q a vazão volumétrica (m³/s) e 𝜃 é o tempo adimensional. A curva 𝐸𝜃 (𝜃) é
derivada da curva DTR.
Fisicamente 𝐸𝜃 (𝜃) 𝑑𝜃 expressa a fração de material que apresenta tempo de residência entre 𝜃
e 𝜃 + 𝑑𝜃, de acordo com Braga (2019).
∞
∫0 𝐸𝜃 (𝜃)𝑑𝜃 = 1 (4.12)
A Equação 4.12 é uma expressão do balanço de massa do traçador injetado.
A injeção do pulso salino (cerca de 5mL) de solução aquosa saturada de KCl (cloreto de potássio),
foi realizada no bico de vazamento, sendo que a posição dos condutivímetros ao longo do canal foi
apresentada anteriormente na Figura 4.3. Foram realizados cerca de 5 testes para cada condição de
vazão e os dados foram tratados em planilha eletrônica para obtenção das curvas e dos tempos de
residência.
Foram introduzidos controladores de fluxo para avaliar os seus efeitos no comportamento dos
fluidos no interior do canal do alto-forno. Este controlador de fluxo visa restringir a turbulência na
região de impacto do jato. As dimensões do controlador de fluxo utilizado no modelo físico são:
espessura 5mm, largura 101mm, altura 26mm, borda superior (5mm de altura, 10mm de espessura),
posicionado a 110mm (condição b1) e 50mm (condição b2), a partir do ponto de impacto do jato.
40
Os ensaios do modificador de fluxo foram realizados apenas com vazão de 6L/min. A Figura 4.5
mostra um esquema desta condição.
41
Tabela 4.4 - Resumo das condições de trabalho testadas.
Vazão de Vazão de
Parâmetro Razão Fração Volumétrica
água Querosene
avaliado (Va/Vq) de querosene (%)
(L/min) (L/min)
Diâmetro 6 3 2:1 33%
Ângulo 6 3 2:1 33%
3 4 0.7:1 57%
3 3 1:1 50%
Vazão dos fluidos
4 3 1.3:1 43%
6 3 2:1 33%
3 3 1:1 50%
Modificador de
4 3 1.3:1 43%
fluxo
6 3 2:1 33%
Figura 4.5 - Representação esquemática da montagem experimental para realização dos testes
de eficiência de separação.
Num outro experimento para simular as condições de vazamento, água e querosene foram
bombeados em três períodos distintos de modo a avaliar a separação em cada instante. Uma
camada prévia de querosene foi adicionada ao canal de corrida e tomou-se 𝑡 = 0 quando água
foi admitida no sistema. A partir daí a sequência de vazamento foi:
i) apenas gusa (água durante 8 minutos);
ii) gusa e escória simultaneamente (água e querosene durante 4 minutos);
iii) apenas escória (apenas querosene durante 4 minutos).
42
Totalizando o tempo experimental de 16 minutos que corresponde a um tempo médio de
vazamento de 50 minutos no canal de corrida real. A avaliação da separação foi medida pela
razão água e querosene (A/Q) nas amostras recolhidas no canal de escória durante cada um dos
períodos de vazamento.
Essa condição de vazamento foi simulada para os casos onde se avaliou a influência da camada
de querosene e a introdução de modificadores de fluxo no processo de separação.
Conforme descrito por Melo (2019) e Peixoto (2019), as etapas para elaboração da modelagem
matemática neste trabalho foram:
i. Determinação dos parâmetros do processo empregados pelo software CFX 19.1
(Ansys®);
ii. Criação da geometria do modelo por meio do software Design Modeler baseado nas
dimensões do modelo físico descrita anteriormente;
iii. Elaboração da malha a partir do software Meshing Modeler;
iv. Descrição das condições de contorno via solver CFX-pre.
v. Execução da simulação (solver CFX) e análise de resultados via CFD-post.
A geometria do modelo matemático foi criada por meio do software Design Modeler, seguindo
as dimensões do canal (real e modelo físico) descritas na Tabela 4.1, Figura 4.7. A malha foi
desenvolvida pelo software Meshing Modeler, obtendo-se uma malha mista de elementos
tetraédricos e hexaédricos. A ferramenta inflation foi aplicada nas superfícies denominadas
43
“paredes”. Refinamento de malha foi aplicado na região do jato e nas interfaces (líquido/líquido
e líquido/gás). O teste de independência da malha foi realizado para os dois tipos de simulação:
bifásica (água/ar) e trifásica (água/óleo/ar e gusa/escória/ar).
Navier Stokes:
𝜕𝜌𝑈
+ ∇ ∗ (𝜌𝑈 ⊗ 𝑈) − ∇ ∗ (𝜇𝑒𝑓𝑓 ∇U) = −∇P + 𝜌𝑔 (14)
𝜕𝑡
Viscosidade Efetiva:
𝜇𝑒𝑓𝑓 = µ + µ𝑡 (15)
Energia Cinética Turbulenta:
𝜕𝜌𝑘 µ
+ ∇ ∗ (𝜌𝑈𝑘) = ∇ ∗ [(µ + 𝜎𝑡 ) ∇𝑘] + 𝑃𝑘 − 𝜌𝜀 (16)
𝜕𝑡 𝑘
Viscosidade Turbulenta:
𝑘²
𝜇𝑡 = 𝐶𝜇 𝜌 (18)
𝜀
45
As condições de contorno usadas para simulação são descritas a seguir e são representadas na
Figura 4.8.
▪ Condição de não deslizamento nas paredes laterais e fundo do canal (onde o fluido
possui velocidade zero);
▪ Inlet (entrada): o valor total de vazão mássica (kg/s) do(s) fluido(s) foi inserido
conforme Tabela 4.5, com uma intensidade de turbulência de 5%.
* VF - Fração volumétrica
▪ Outlet: Pressão atmosférica; nas saídas de gusa e escória;
▪ Condição de abertura (opening): na superfície, pressão relativa igual a zero.
Tabela 4.6 - Propriedades de gusa e escória utilizadas nas simulações matemáticas de acordo
com Wang et al. (2014).
46
Figura 4.7 - Condições de contorno aplicadas na simulação do canal de corrida.
Diferentemente dos trabalhos de Rezende (2008), Chang et al. (2014), que detalharam a
trajetória do jato (desde sua saída do alto-forno até incidir na superfície do banho no canal de
corrida) por meio de uma função, neste trabalho, de modo a simplificar o processo
computacional, o jato foi descrito apenas em sua porção final (no momento em que incide no
canal de corrida), a um ângulo de 50º com a superfície do banho de acordo com os resultados
obtidos por Begnis e Brandaleze (2005), de simulação do jato livre.
Para obter as curvas de tempo de residência, injeção de traçador, foram realizadas simulações
bifásicas (água/ar) em regime transiente. A função Additional Variables representa o traçador
e utilizou-se a opção escalar volumétrica (kg/m³). O pulso de sal teve duração de 1s, com vazão
mássica de 0,005kg/s de sal. O passo de tempo (timestep) igual a 0,02s foi escolhido em função
do número de Courant. Além disso, utilizou-se esquema de advecção de 2ª ordem para
discretização do tempo (Second Order Backward Euler no CFX).
47
meio da ferramenta Expert Parameters do CFX foram desabilitadas as resoluções de todas as
equações, exceto aquela referente ao transporte de massa do escalar (Additional Variables).
Resultando ao final uma simulação com 450s de dispersão do traçador em aproximadamente
120h.
Os resultados da simulação foram avaliados com base na quantidade de água ou gusa que sai
pelo canal de escória, calculado pelo fluxo de massa em (kg/s) pela função Mass Flow. Para
avaliação de tensão de cisalhamento nas paredes e fundo do canal de corrida foi usada a função
Wall Shear Stress.
Foram criados pontos de monitoramento (“Monitor Point”) para avaliar o processo de
separação dos fluidos nas simulações matemáticas do canal de alto-forno. Os pontos são:
48
iv. Vazão de escória no canal de escória: escoria.massFlow()@saidaescoria
v. Vazão de escória no dique de gusa: escoria.massFlow()@saidagusa.
Lembrando que nas simulações em escala laboratorial os fluidos modeladores são água e
querosene simulando gusa e escória respectivamente. Já nas simulações do equipamento em
escala industrial o modelo matemático foi alimentado com as propriedades físicas dos fluidos
reais como mostrado nas Tabelas 4.5 e 4.6.
49
5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A Figura 5.1 apresenta resultados de tempo mínimo de residência (t2%) e tempo de pico para
os testes em modelo físico e modelo matemático em regime permanente na vazão de 6L/min.
A mesma tendência de resultados é obtida para vazões de 3 e 9L/min.
Figura 5.1 - a) Comparação entre tempo de pico e b) comparação entre t2%; modelo
matemático e modelo físico, vazão 6L/min.
A Figura 5.2 mostra resultados da tendência do tempo de pico correlacionado à vazão para os
condutivímetros cd4 e cd3, zona de impacto do jato e início da região laminar, respectivamente.
Tal comportamento é esperado: à medida que se tem aumento da vazão tem-se diminuição de
valores de tempo. Contudo, este decréscimo não é linear devido à elevada turbulência e mistura
na região de impacto do jato. A Figura 5.3 apresenta variação da condutividade da água, medida
pelos condutivímetros dispostos ao longo do canal de corrida devida à alteração da
concentração de sal em cada região do canal. Poucos pesquisadores caracterizaram o fluxo
macroscópico no interior do canal de corrida através da técnica de condutimetria.
50
Figura 5.2 - Tendência do tempo de pico modelo físico e CFD.
Os resultados de PIV também foram usados para validar as simulações CFD. Alguns resultados
são mostrados nas Figura 5.4 a 5.7 considerando vazão de 9L/min; o mesmo comportamento
foi observado para vazões de 3 e 6L/min.
51
Figura 5.4 - Plano Vertical na posição P2 – PIV versus modelo matemático, vazão 9L/min.
Figura 5.5 - Plano Vertical na posição P3 – PIV versus modelo matemático, vazão 9L/min.
Figura 5.6 - Plano Vertical na posição P4 – PIV versus modelo matemático, vazão 9L/min.
Figura 5.7 - Plano Horizontal na posição P5 – PIV versus modelo matemático, vazão 9L/min.
52
Devido ao grande arraste de ar na região de impacto os resultados de PIV nesta região foram
descartados. O feixe de luz do laser refrata nas bolhas de ar e se espalha e assim o software não
consegue resultados precisos para elaborar o mapa de velocidades.
Observa-se como os valores de velocidade variam. De acordo com a Figura 5.4 as maiores
velocidades estão próximas à interface água – ar. Uma vez que o jato se choca com o fundo do
canal e direciona-se para cima. Já de acordo com as Figuras 5.5 e 5.6: onde o fluxo passa pela
abertura do skimmer, é observado aumento da velocidade devido a redução da área de seção
transversal, como esperado. A Figura 5.7 indica que o fluxo é levemente assimétrico, sendo que
maiores velocidades são encontradas próximas à parede que se encontra o canal de escória.
O fluxo dentro deste reator é altamente complexo, variando de fluxo turbulento podendo ser
bifásico ou multifásico ao redor da zona de impacto até quase laminar próximo ao skimmer. No
entanto, as medições de PIV e os resultados de DTR mostram boa concordância com o modelo
matemático. Sendo assim, considera-se que o modelo matemático é capaz de prever o
comportamento do fluxo no canal de corrida podendo ser utilizado para avaliar outros
parâmetros como a eficiência de separação entre gusa e escória no canal de corrida em altos-
fornos.
Figura 5.8 - Regiões no canal de corrida, de acordo com o modelo matemático, vazão 6L/min.
De acordo com a Figura 5.9, é possível observar que o padrão de escoamento ao longo do canal
é predominantemente laminar na região central, o que é favorável à separação da escória –
53
metal, conforme já apontado por Luomala et al. (2001). Esta região começa a cerca de 1,0m do
ponto de impacto e mede 2/3 do comprimento do canal.
54
Figura 5.10 - Arraste de gás na zona de impacto. Em a) caso base (BS), b) barreira posição B1
e c) barreira posição B2, comparação modelo físico versus matemático.
Figura 5.11 - Efeito do controlador de fluxo, vazão de água 6L/min e querosene 3L/min.
55
Figura 5.12 - À esquerda, canal de escória e à direita, canal de gusa.
A Figura 5.13 mostra os efeitos esperados pela introdução das barreiras, tal como previsto por
CFD. Além da zona de impacto, o fluxo não é puramente fluxo de pistão. Uma camada superior
de líquido se move em direção ao skimmer e um refluxo de recirculação considerável pode ser
notado por baixo dela, Figura 5.13 a). Esta recirculação pode ser atribuída à ação do skimmer e
do modificador de fluxo, bem como à falta de simetria de fluxo, uma vez que uma fração de
líquido é drenada lateralmente através da porta de descarga de escória, Figura 5.13 b).
Figura 5.13 - Perfis de velocidade obtidos por simulação CFD a) presença de recirculação
pelo fundo e b) assimetria de fluxo.
a) b)
Nota-se que o fluxo incide no fundo do canal e é direcionado para à interface água/ar. Uma
camada superior de líquido se move em direção ao skimmer com maior velocidade quando
comparada às camadas inferiores. A Figura 5.14 mostra a comparação entre os perfis de
56
velocidade em três planos horizontais dispostos em alturas distintas: a) 25mm, b) 35mm e c)
55mm.
Segundo Duarte et al. (2005), na zona de impacto do jato (soleira/fundo e paredes laterais) é
onde se observam as maiores taxas de desgaste devido principalmente à temperatura e
distribuição de velocidade dos fluidos vazados. Como pode ser observado nas Figuras 5.15 e
5.16. simulações no modelo matemático sugerem que estas regiões estão sujeitas aos maiores
valores de tensão de cisalhamento causada pelo fluxo.
57
Figura 5.16 - Tensão de Cisalhamento nas paredes laterais do canal de corrida, condição
água/ar.
Além disso, a Figura 5.16 mostra que a parede lateral próxima da região de descarga de escória
é uma região propensa a altas tensões de cisalhamento. Este comportamento se deve à condição
de assimetria do fluxo no interior do canal de corrida. Ao longo do canal a tensão de
cisalhamento assume, modo geral, valores muito baixos. Contudo, devido a redução da seção
transversal na região do skimmer e consequentemente ao aumento velocidade nesta região, há
um aumento dos valores da tensão de cisalhamento, Figura 5.17.
Logo, o principal mecanismo de desgaste nestas regiões pode ser termo-erosão causada pelo
fluxo.
58
Resultados de simulação CFD para valores de Energia Cinética Turbulenta (ECT) para as
condições de caso base (BS) e barreiras B1 e B2 são apresentados na Figura 5.18. Um dos
parâmetros relacionados a esta variável é a difusividade turbulenta. Quando se tem um aumento
da ECT configura-se no aumento da mistura, transporte de massa, quantidade de movimento e
energia. Valores excessivos de ECT nas proximidades da interface água-óleo podem estar
ligados ao entranhamento de fases, sendo, portanto, desfavoráveis à separação metal – escória.
Mistura é a antítese de fluxo pistonado (espera-se que fluxo pistonado propicie melhor
separação). Comparando o caso base com a condição de barreira B1 há apenas uma leve redução
da ECT na região depois da barreira. Já com a barreira B2 é observada uma grande restrição da
turbulência e uma redução dos valores de ECT depois da barreira.
Figura 5.18 - Resultados de simulação CFD para valores de Energia Cinética Turbulenta
(ECT) para as condições de caso base (BS) e barreiras B1 e B2, condição água/ar.
59
Figura 5.19 - Fração volumétrica de água igual a 0,5, para condições sem modificador de
fluxo e quando este está presente.
De modo a comparar o processo de separação nos casos onde a barreira está presente, traçou-
se um plano horizontal que segue a interface água-querosene ao longo do canal de alto-forno.
As Figuras 5.20 e 5.21 mostram a comparação entre as condições simuladas onde se tem ou não
a presença dos controladores de fluxo (barreiras) para as taxas de vazamento específicas.
Observa-se que a fração volumétrica de água fora da região de impacto no plano analisado
assume valores mais baixos na condição onde se tem o controlador de fluxo.
Figura 5.20 - Comparação caso base versus barreira B1. Vazão de 6L/min de água e 3L/min
de querosene.
60
Figura 5.21 - Comparação caso base versus barreira B2. Vazão de 4L/min de água e 3L/min
de querosene.
61
O excesso de turbulência na região de impacto provoca na interface água querosene
(metal/escória) a emulsificação da camada de óleo (escória). O efeito prático deste fenômeno é
o aprisionamento de gotículas de água no seio da camada de querosene sendo assim o principal
fator para perda de água no experimento ou gusa no processo real.
Portanto, se faz necessário avaliar essas interações dos fluidos (água e querosene) com o ar e
prover que a emulsificação seja minimizada. A Figura 5.23 apresenta a fração volumétrica de
ar ao longo do canal para situações onde o dispositivo de controle de fluxo está ou não presente.
Estes dados foram obtidos a partir de uma linha criada sob o plano horizontal que segue a
interface água-querosene ao longo do canal de alto-forno. É possível concluir que para ambas
taxas de vazamento testadas as barreiras são eficientes em expulsar o ar do sistema mais
rapidamente quando comparado ao caso onde não há o dispositivo. Logo, reduz-se a
emulsificação no sistema.
Figura 5.23 - Fração volumétrica de ar no sistema a) vazão 6L/min de água e 3L/min de
querosene e b) vazão 4L/min de água e 3L/min de querosene.
62
5.3 Tempo de Residência por Condutimetria
Como já citado, poucos são os estudos de caracterização macroscópica de fluxo via adição de
traçador, em modelos físicos de canais de corrida. Tal técnica é utilizada amplamente em
distribuidores de lingotamento contínuo. O tempo de pico, onde a concentração atinge valor
máximo na curva de concentração versus tempo, foi utilizado neste caso como estimativa para
o tempo médio de residência e também para validação do modelo matemático. Já o tempo
mínimo de residência, t2%, foi utilizado como parâmetro visando a melhoria na eficiência de
separação metal – escória.
A Figura 5.25 apresenta resultados de tempo de mínimo de residência e tempo de pico no
modelo físico para as vazões testadas. Nota-se que para se garantir valores de t2% favoráveis ao
processo é necessário a combinação entre taxas de vazamento e características geométricas do
canal. A tendência observada é esperada. Tempos mínimo de residência e pico diminuem com
o aumento das taxas de vazamento. Contudo, o decaimento não é linear desde que a intensidade
de mistura aumenta para vazões mais elevadas.
Figura 5.25 - Tendências dos tempos de a) tempo mínimo (t2%) e (b) tempo de pico no
modelo físico.
63
(2008). Samanta et al. (2014) estimam um tempo mínimo de residência de 420 segundos (vazão
de 4,5 ton/min e capacidade do canal de 32 ton) para total separação gusa – escória.
Considerando cd2 como ponto de monitoramento e vazamento de 6ton/min (condições
operacionais reais do processo), o tempo disponível para separação é de 405 segundos. Portanto,
novamente há boa correlação, Figura 5.26. Contudo, este valor ainda se encontra abaixo do
tempo nominal, tempo disponível para separação, do canal de corrida real que é de
aproximadamente 11 minutos, considerando apenas o volume útil do reator que está disponível
para o processo de separação (2/3 do canal de corrida).
Além da maior eficiência de separação, tempos de residência mais longos garantem menores
taxas de desgaste do revestimento refratário do canal do alto-forno.
Figura 5.26 - Tempos a) de pico e (b) tempo mínimo (t2%) na máquina industrial.
64
Figura 5.27 - Efeito das barreiras no fluxo da zona de impacto do jato, testes de dispersão,
vazão 6L/min.
Assim, qualquer melhoria no campo de fluxo dentro dos canais que traga um aumento da fração
de fluxo pistonado (medida por t2%) levará a uma separação mais eficiente. Um arranjo físico
de um canal com um modificador de fluxo foi proposto, Figura 4.7 e Figura 5.27. O jato de
gusa atinge o fundo do canal e é parcialmente contido pelas barreiras B1 e B2. O condutivímetro
cd4 está localizado entre as barreiras B1 e B2. Portanto, do ponto de vista do condutivímetro
cd4, não é esperado mudança significativa nos valores obtidos por este medidor de
condutividade quando a barreira B1 foi utilizada. Ao contrário disto, uma mudança
considerável é esperada quando B2 é inserida. As alterações de fluxo foram medidas pelos
demais medidores de condutividade. Os resultados dos testes com modificadores de fluxo no
modelo físico e matemático são apresentados nas Tabelas 5.1 e 5.2, respectivamente.
Tabela 5.1 - Dados de modelagem física: Tempo mínimo de residência (t2%) e tempo de pico
considerando o caso base (BS), modificador de fluxo nas posições (B1) e (B2); 6L/min de água.
BS B1 B2 %B1 % B2 BS B1 B2 % B1 % B2
65
Tabela 5.2 - Dados de modelagem CFD: Tempo mínimo de residência (t2%) e tempo de pico
considerando o caso base (BS), modificador de fluxo nas posições (B1) e (B2); vazão de 6L/min
de água.
cd4 0,66 0,54 1,32 0 101 cd4 2,11 2,02 5,37 0 154
Considerando os valores de %B1 e %B2 obtidas via modelo físico (Tabela 5.1) e analisando
somente a região de interesse, ponto de descarga de escória, pode ser inferido ganho
significativo do uso das barreiras no tempo médio de residência na máquina industrial. Em
termos práticos alterar as configurações geométricas do reator é o mais indicado para otimizar
o fluxo pistão, obtendo um tempo médio de residência de aproximadamente 9 minutos, Figura
5.28.
Figura 5.28 - Influência dos modificadores de fluxo sob o tempo médio de residência na
máquina industrial.
66
Como citado anteriormente, o canal de corrida pode ser dividido em três parcelas volumétricas:
fração de volume pistão, fração de volume morto e fração de mistura perfeita que são descritas
pelas Equações 5.1 a 5.3.
2𝑇𝐴𝑈
∫0 𝑡. 𝐸(𝑡)𝑑𝑡⁄
𝐹𝑉𝑀 = 1 − 𝑇𝐴𝑈 (5.2)
O volume total do modelo é igual à aproximadamente 14L. Considerando o volume útil, aquele
disponível para separação (aproximadamente 2/3 do volume) e vazão de 3L/min obtém-se
tempo nominal de 186,67s. A Tabela 5.3 mostra resultados de fração do volume pistão do
modelo.
No interior do canal, duas camadas principais podem ser encontradas: uma camada inferior de
ferro-gusa líquido com gotas de escória dispersas e uma camada superior com gotículas de
ferro-gusa líquido dispersas na escória. Esta última situação é a mais crítica, pois determina a
67
perda de gusa por oclusão, que afeta diretamente o rendimento metálico da operação. Sendo
assim propõe-se estimar a eficiência de “limpeza” da camada de escória, tal como se segue.
Supõe-se que uma gota de gusa se movimenta na camada de escória a uma velocidade dada
pela Lei de Stokes:
2
𝑉𝐷 = 𝑅 2 𝑔 (𝜌𝑔𝑢𝑠𝑎 − 𝜌𝑒𝑠𝑐ó𝑟𝑖𝑎 ) (5.4)
9 𝜂𝑒𝑠𝑐
Assim, próximo ao canal de descarga de escória espera-se uma camada de escória limpa cuja
altura é dada por:
𝐻 = 𝑉𝐷 𝑡𝑢 (5.6)
Onde, VD é a velocidade terminal das gotas de gusa; R é o raio das gotas de gusa; 𝜂𝑒𝑠𝑐 é a
viscosidade da escória; 𝑔 é a aceleração da gravidade; 𝑡𝑢 tempo disponível para separação; 𝛼
fração do reator que se comporta como fluxo pistão, L e W são comprimento e largura do canal
respectivamente, 𝑉𝑒𝑠𝑐 velocidade média de escória; Q vazão de escória; 𝐻𝑜 altura da camada de
escória e H é altura da camada de escória limpa.
68
Como já apresentado no item 3.2.2 existem alguns fatores que afetam a separação gusa-escória,
citados por Kim et al. (1998) e Begnis e Brandaleze (2005). Alguns destes fatores foram
avaliados e os resultados são apresentados a seguir.
Há uma velocidade crítica entre as fases, que se excedida e a depender da tensão superficial,
pode gerar entranhamento de uma em outra, ou seja, gotas de metal podem ser aprisionadas na
camada de escória e vice-versa. Sendo assim, foi avaliada a influência da velocidade das
camadas de água e óleo no processo de separação. Observou-se que quando se aumenta as
vazões de ambos os fluidos, sejam eles água ou querosene, há maior quantidade de água nas
amostras, considerando o momento que água e querosene são vazados simultaneamente.
As taxas de fluxo seguiram uma razão de 1:1 (3L/min de água e 3L/min de querosene), 2:1
(6L/min de água e 3L/min de querosene) e 0,7:1 (3L/min de água e 4L/min de querosene). A
separação é medida pela razão A/Q (água/querosene) no canal de descarga de escória. Pode ser
visto na Figura 5.30 que o fluxo inicial do canal de escória é principalmente de água que é
progressivamente deslocada pelo querosene até que um estado estacionário seja alcançado.
69
As Figuras 5.31a e 5.31b mostram com maior detalhe a evolução da razão A/Q, em função do
tempo de amostragem. Na Figura 5.31a se mostra o período inicial de transiência; enquanto a
Figura 5.31b descreve o regime permanente, para o qual a razão A/Q varia muito pouco.
De forma análoga aos resultados anteriores, a Figura 5.32 mostra os resultados de simulação
matemática alterando as condições de vazão. As linhas horizontais representam o valor médio
da razão A/Q nos 10s finais de simulação.
Figura 5.32 - Resultado para a razão A/Q, de acordo com a simulação matemática.
Os resultados sugerem que quando se aumenta a vazão total tem-se maior turbulência na região
de impacto do jato, o que acarreta maior grau de mistura das fases e consequentemente maiores
perdas.
70
5.4.2 Influência do Ângulo de Vazamento
Conforme mencionado anteriormente, neste trabalho a forma que o jato é simulado difere da
abordagem empregada por outros pesquisadores. Tanto quanto à maneira que os fluidos são
injetados (sem mistura prévia), mas principalmente pela desconsideração de uma possível
trajetória parabólica a partir da saída do furo de vazamento. Nestes experimentos um tubo em
acrílico define o diâmetro do jato e o ângulo deste com a horizontal. Quando o ângulo de
incidência do jato com a superfície foi aumentado ou diminuído com relação ao caso base, 50º,
tem-se um ganho e redução da região disponível de separação, respectivamente. Um esquema
é apresentado na Figura 5.33.
Note-se que para ângulo de jato igual a 50º o ponto de impacto está localizado a 260mm da
extremidade do canal; para 60º e 30º estas distâncias foram de 200 e 300mm respectivamente.
Ou seja, o ponto de impacto foi modificado o que afeta diretamente a região turbulenta
deslocando-a dentro do canal. Além disso, a trajetória do jato pôde ser considerada retilínea
pois os testes foram realizados na situação de mais altas vazões.
Os resultados da razão água/querosene em (%) são apresentados na tabela 5.4.
71
As diferenças provocadas pela alteração do ângulo foram mais significativas nos instantes
iniciais, entre as amostras 1 e 5. Comparando os valores finais, quando o sistema atinge regime
permanente, a diferença relacionada ao aumento ou redução do ângulo é de 2% com relação ao
ângulo de 50º, mas se comparados os extremos, 30 e 60º, esta diferença sobe para 4%.
Tabela 5.5 - Resultados dos testes de alteração do diâmetro interno do bico de vazamento.
Tempo de Desvio
Amostras 8mm 10mm 11mm 13mm Média
amostragem padrão
1 30 425% 436% 423% 431% 429% 5%
2 60 120% 124% 102% 101% 112% 10%
3 90 51% 51% 54% 56% 53% 2%
4 120 35% 39% 40% 35% 37% 2%
5 150 30% 30% 30% 29% 30% 0%
6 210 28% 27% 28% 27% 27% 1%
7 300 25% 25% 26% 24% 25% 1%
8 480 25% 24% 24% 22% 24% 1%
9 660 20% 20% 22% 21% 21% 1%
10 840 20% 20% 21% 21% 21% 0%
Figura 5.34 - Tamanho de gotas de querosene. Em a) o tamanho de gota com a alteração dos
diâmetros e em b) alterando a vazão dos fluidos.
a) b)
Sendo assim, o tamanho da gota não é fortemente afetado pelas condições de fluxo e/ou
geometria do furo de vazamento. Portanto a principal fonte de melhoria da eficiência de
separação parece ser o aumento do tempo de residência, conforme determinado anteriormente
no item 5.3.
Uma camada de querosene bem definida pode ser observada em estado estacionário com certa
quantidade de água fluindo no canal de escória. Como determinado anteriormente, tanto t2%
quanto o tempo de pico aumentam com a introdução adequada de um dispositivo de controle
de fluxo. Isso permite mais oportunidades de separação. Os efeitos do modificador de fluxo são
mostrados a seguir.
As taxas de fluxo seguiram uma razão de 1:1 (3L/min de água e 3L/min querosene) e 1,3:1
(4L/min de água e 3L/min de querosene) para o caso base BS e barreira B2; e 2:1 (6L/min de
água e 3L/min de querosene) também para o caso base BS, mas com barreira na posição B1.
Em baixas taxas de fluxo (3 L/min de água e 3 L/min de querosene), os efluentes em estado
estacionário não são distinguíveis, devido a erros experimentais inerentes à técnica empregada.
73
Tabela 5.6 - Resultados de separação água-querosene, vazões 3L/min de água e 3L/min
querosene, para os casos sem e com modificador de fluxo.
A evolução da razão A/Q também é ilustrada na Figura 5.35, já após serem alcançadas
condições de estado estacionário, para taxas de fluxo de 6 L/min de água e 3 L/min de querosene
e 4 L/min de água e 3 L/min de querosene (fluxo menos turbulento).
74
a condição de vazão crítica 2:1 (6L/min de água e 3L/min de querosene) nos casos base BS e
barreira na posição B1, Figura 5.36.
A maior parte de água (gusa) que se dirige ao canal de escória o faz no período de transiência.
A transiência se mostra relacionada com a evolução da camada de querosene (escória). À
medida que a camada de querosene se forma, ou seja, a fração volumétrica deste no interior do
canal aumenta, a perda de água no canal de escória tende a diminuir.
Figura 5.36 - Comparação caso base (BS) e barreira B1. Curva completa de separação,
modelo físico.
75
Observa-se que as curvas referentes à condição de barreira estão sob as curvas do caso base
durante todo período amostrado mostrando que o valor da razão A/Q é inferior nas condições
onde a barreira é empregada.
De maneira análoga à Figura 5.35, avaliou-se via CFD a influência do modificador de fluxo em
estado estacionário comparando caso base (BS) e condições de emprego de barreira B1 para as
vazões de 6L/min de água e 3L/min de querosene. Como esperado, o valor da razão A/Q é
inferior nas condições onde a barreira é utilizada (Figura 5.37).
Figura 5.37 - Resultados de razão A/Q de acordo com a simulação matemática. Comparação
entre caso base (BS) e condição de barreira (B1).
76
Figura 5.38 - Comparação Modelo Físico versus Modelo Matemático.
No que se refere à Eficiência de Separação 𝜀, proposta por Wang et al. (2017), equação 5.8,
para cada condição acima os resultados são apresentados na Tabela 5.7 a seguir.
𝑄𝑎𝑔𝑢𝑎 𝑛𝑜 𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑐ó𝑟𝑖𝑎
𝜀(%) = (1 − ) 𝑥 100% (5.8)
𝑄á𝑔𝑢𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
A Eficiência de Separação 𝜀(%) foi avaliada via CFD para a condição onde água e querosene
fluem, cada qual, a 3L/min. O valor obtido foi de 96% com razão de A/Q próximo à 8%.
Os resultados sugerem que um controlador de fluxo pode garantir uma melhora na separação
água-querosene. Além disso, a validação dos resultados permite concluir que a estratégia de
simulação possa ser estendida ao processo industrial, considerando o sistema com gusa líquido
e escória.
77
5.5 Simulação das Condições Reais de Vazamento dos Fluidos
Upadhyay e Kundu (2013) estudaram a forma que os fluidos são vazados do cadinho e Kou et
al. (2018) avaliaram como esse padrão de vazamento interfere no processo de separação metal-
escória no canal de corrida.
Como dito anteriormente, no início do vazamento somente gusa é vazado do cadinho para o
canal, em seguida gusa e escória vazam simultaneamente e próximo ao fim do vazamento
somente escória. Além disso, altos-fornos de grande produtividade trabalham com vazamentos
intermitentes. Entre um vazamento e outro há um intervalo de aproximadamente 20 minutos.
Ou seja, o canal de corrida não é completamente esgotado e no seu interior haverá uma camada
de escória e gusa provenientes do vazamento anterior.
A pouca literatura existente sugere que a perda de gusa ocluso na camada de escória é algo em
torno de 2,2 (Shestopalov et al. 1988) a 2,5% (Begnis e Brandaleze, 2005) em massa de escória
vazada e Antonov et al. (1984) avaliaram que as perdas podem alcançar 0,299kg/ton de gusa.
De fato, quantificar a perda de gusa no processo, tanto no modelo físico quanto na máquina
industrial é algo complexo devido principalmente as características de transiência em que o
mesmo ocorre, além do complexo padrão de fluxo em si já discutido.
É importante ressaltar que além da forma em que os fluidos são vazados, neste caso, foi
adicionado ao canal de corrida uma prévia camada de querosene de aproximadamente 25mm.
Esse valor corresponde, de acordo com os experimentos anteriores, à espessura de camada de
querosene que se alcança em regime permanente durante vazamento simultâneo. Esta espessura
pode ser comparada com aquela prevista pela simulação matemática (a camada de querosene
formada no modelo físico foi de 24,6mm enquanto que no modelo matemático o valor obtido
foi de 26mm). Ver Figuras 5.39 e 5.40.
78
Figura 5.39 - Altura da camada de querosene após atingir regime estacionário medida com
auxílio do software ImageJ.
A Figura 5.41 mostra os resultados das amostragens em cada etapa do vazamento e o controle
das vazões durante o experimento. Durante o vazamento simultâneo foi mantido a razão 2:1
entre fluxo de água e querosene.
79
Figura 5.41 - Evolução da razão A/Q nas condições “reais” de vazamento à esquerda e gráfico
de controle das vazões durante o experimento à direita.
A razão A/Q, como esperado, varia para cada etapa do vazamento. Na etapa i) os valores de
A/Q crescem de maneira quase exponencial. Isso ocorre principalmente pela remoção da
camada prévia de querosene somada a elevada emulsificação das fases geradas na zona de
impacto do jato. Em ii) novamente a camada de querosene é formada, as pressões dinâmica
(ocasionada pela velocidade do escoamento) e hidrostática (gerada pela altura da camada) criam
um “obstáculo” a ser vencido para que o fluxo de água escape pelo canal de escória. Por fim
em iii) onde somente querosene é vazado a perda é necessariamente caracterizada por gotículas
de água que não tiveram tempo suficiente para decantar e foram arrastadas pela camada de
querosene.
O mesmo padrão de vazamento foi realizado para a condição com o modificador de fluxo. A
Tabela 5.8 traz os resultados.
Tabela 5.8 - Comparação caso base (BS) e barreira posição B2 na evolução da razão A/Q nas
condições “reais” de vazamento.
tempo %
Vazamento Amostras BS B2
(s) Redução
1 180 281,3% 319,8% -13,7
i 2 300 711,1% 1414,0% -98,8
3 420 2014,3% 2820,0% -40,0
4 540 88,5% 87,3% 1,3
ii
5 660 25,9% 19,4% 24,9
6 780 7,8% 6,6% 15,5
iii
7 900 5,3% 3,2% 39,9
A razão A/Q, varia para cada etapa do vazamento como antes. Em i) a barreira inicialmente
aparenta ser prejudicial ao processo uma vez que aumenta a razão A/Q. Nesse período do
80
vazamento tem-se a remoção da camada de querosene. A barreira nesse sentido auxilia para a
remoção desta camada num menor intervalo de tempo. Já nos intervalos ii) e iii) redução se
torna considerável finalizando em quase 40% de redução da razão A/Q.
A razão A/Q na etapa inicial do vazamento mostrou redução significativa quando o canal foi
partido com a camada de querosene com espessura de 45mm; nos períodos ii) e iii) os resultados
se mantiveram quase inalterados, reforçando a hipótese de que as pressões dinâmica e
hidrostática causadas pelo escoamento da camada de escória (querosene) criam um obstáculo
efetivo a ser vencido para que água flua pelo canal de descarga de escória. Ver Tabela 5.9.
81
Seguindo os resultados deste trabalho e tomando os valores das propriedades físicas de uma
escória de alto-forno típica a 1500ºC com densidade de 2600kg/m³, viscosidade de 0,2Pa.s e
um slag-rate de 300kg/ton (1,80ton de escória/min), com camada de escória de 0,12m de
espessura, o comprimento necessário é dado em função do raio da gota de gusa e da
configuração geométrica do canal (aqui identificado como condições BS, B1 e B2). Conforme
mostrado na Tabela 5.10 controlar a geometria do canal de corrida pode ser realmente benéfico.
Raio
VD (m/s) L (m) para BS L (m) para B1 L (m) para B2
(mm)
1,70 0,132 0,21 0,19 0,16
0,850 0,0331 0,84 0,76 0,65
0,425 0,00827 3,38 3,06 2,60
0,213 0,00207 13,50 12,23 10,38
0,106 0,000517 54,01 48,90 41,52
82
Figura 5.42 - Resultados CFD e curva suavizada para evolução da razão da vazão de gusa pela
vazão de escória no canal de escória em porcentagem.
83
Figura 5.43 - a) Evolução da razão da vazão de gusa pela vazão de escória no canal. b)
Eficiência de separação no canal de alto-forno. Comparação entre caso base (BS) introdução
de barreira, após tratamento estatístico por meio de média móvel.
Portanto, nota-se que em a) a curva que representa uma redução razão entre as vazões de gusa
e escória no canal de escória ao mesmo que em b) se tem aumento da eficiência de separação
do canal na condição onde a barreira está instalada. Considerando os instantes finais de
simulação houve um ganho de aproximadamente 2% na eficiência. Já razão entre as vazões de
gusa e escória no canal de escória esse valor é ainda mais significativo: uma redução de 6% na
condição onde a barreira esteve presente.
Kim et al. (1998) obtiveram redução de 3% de perda de “metal” na “escória”, com o aumento
do volume do canal em cerca de 23%. Neste caso, os autores propõem que o aumento do volume
deve ser feito aumentando a seção transversal e não pelo comprimento. Comparando com os
84
resultados obtidos pode-se dizer que a barreira é uma opção mais vantajosa considerando a
relação custo e benefício, uma vez que não há necessidade de realizar nenhum aumento nas
dimensões do canal de alto-forno e consequentemente gastos com nova carcaça metálica,
refratário etc.
Nota-se nas imagens apresentadas até aqui um comportamento oscilatório dos resultados.
Rezende (2008) já havia comentado sobre tal. Segundo o autor o principal motivo que explica
esta oscilação é a interação do jato com a superfície livre. Assim que ocorre a colisão do jato
com a superfície do banho há propagação de uma onda na direção do escoamento. Esta onda
colide com o skimmer que então a reflete na direção contrária ao escoamento, provocando o
comportamento oscilatório do jato na zona de impacto, modificando as zonas de recirculação
existentes.
Ainda de acordo com Rezende (2008) o jato é uma perturbação contínua na superfície e o
domínio tem dimensão finita com paredes que refletem toda e qualquer perturbação. Sendo
assim, o processo apresenta uma frequência natural de oscilação.
85
Este comportamento do fluxo no interior do canal de alto-forno explica o real motivo das
oscilações nos resultados de razão entre vazão de gusa e vazão de escória no canal e eficiência
de separação. Este comportamento pode ser suavizado, mas não evitado, com um maior
refinamento da malha de simulação. Contudo, com maior refinamento da malha requer-se maior
esforço computacional e tempos mais longos de simulação. A malha utilizada foi aquela que
melhor trouxe resultados considerando tempo de simulação e qualidade dos resultados.
Fundamentado nos resultados apresentados observou-se que a eficiência de separação pode ser
aumentada quando é introduzida uma barreira para controle de fluxo. O que sugere a
oportunidade de alteração do design do canal, com este objetivo. A Figura 5.45 apresenta uma
nova proposta de geometria de canal. A principal diferença quando comparado ao modelo
tradicional é observada na área de impacto do jato. Comprimento e inclinação são mantidos.
O novo modelo tem como objetivo otimizar a eficiência de separação por meio do aumento do
tempo de residência e fração de fluxo pistão como foi mostrado no item 5.3; a separação é mais
fácil com o canal operando em regime de fluxo pistão.
86
A mudança da geometria interna do canal de corrida tem efeito sobre o padrão de fluxo na
região da zona de impacto. Os fluidos são bem mais direcionados à superfície do banho na nova
geometria. Esse direcionamento é semelhante ao efeito da barreira, já discutido no item 5.2, e
faz com que o ar seja expulso do sistema mais rapidamente e consequentemente reduzindo a
emulsificação, Figura 5.46. Tal qual acontece nas simulações do modelo físico, item 5.2, nota-
se uma camada superior de líquido se move em direção ao skimmer com maior velocidade
quando comparada às camadas inferiores devido. Como as vazões de gusa e escória assuem os
mesmos valores nas simulações é esperado que os níveis (intensidades) dos vetores velocidade
estejam no mesmo range, como pode ser observado nas imagens 5.47 e 5.48.
Figura 5.46 - Fração volumétrica de ar na interface gusa-escória: caso base (BS) versus novo
design (ND).
Figura 5.47 - Perfis de Velocidade de gusa – acima caso base (BS) e abaixo novo design
(ND).
87
BS
ND
Figura 5.48 - Perfis de Velocidade de escória – acima caso base (BS) e abaixo novo design
(ND).
BS
ND
88
Figura 5.49 - Velocidade de gusa na interface gusa liquido/escória (BS: caso base; ND: Novo
Design).
89
Se observa, a partir das simulações matemáticas, uma interface bem definida entre as camadas
gusa e escória e esta se mantém horizontal em quase sua totalidade, semelhante ao trabalho de
Kou et al. (2018). Mas, é possível notar na Figura 5.51 que no novo design a interface apresenta
menores perturbações, muito se devendo à redução da velocidade dos fluidos nesta região como
discutido anteriormente.
Figura 5.51 - Fração volumétrica de gusa nos canais de corrida – acima caso base (BS) e
abaixo novo design (ND).
Na Figura 5.52 são mostrados os resultados de razão entre a vazão de gusa e vazão de escória
no canal de escória (a) e eficiência de separação (b), comparando os casos de canal tradicional
– caso base (BS) – e novo design do canal de corrida (ND). Tal como no caso da introdução de
barreira, é observada uma redução da vazão de gusa pelo canal de descarga de escória.
Consequentemente há aumento na eficiência de separação.
90
Figura 5.52 - Evolução da razão da vazão de gusa pela vazão de escória no canal em a) e em
b) a eficiência de separação no canal de alto-forno tradicional (BS) e novo design (ND)
proposto após tratamento estatístico por meio de média móvel.
Portanto, de acordo com os dados obtidos via simulação matemática, a Tabela 5.11 mostra os
valores médios de vazão de gusa e escória no canal de escória.
91
escória vazada e por fim, o canal com o novo design proposto o valor praticamente se mantém
inalterado, 0,126kg de gusa por quilo de escória vazada.
Segundo dados de mercado (Steel on Net) de dezembro de 2020, gusa com alto teor de fósforo
é comercializado por US$ 340,00 por tonelada. Considerando um Alto-forno com capacidade
de produção de 7000 ton/dia, com vazamento médio de 50 minutos (com 12 minutos de
vazamento simultâneo de gusa e escória), os ganhos econômicos são apresentados na Tabela
5.12.
Tabela 5.12 – Economia com redução da perda de gusa pelo canal secundário de escória.
92
6 CONCLUSÕES
O canal de alto-forno se apresenta como uma combinação de 3 (três) reatores ideais: mistura
perfeita na zona de impacto do jato, fluxo aparentemente pistão ao longo do canal e pequenas
regiões de zona morta como a porção inicial. A zona de impacto pode ser considerada uma zona
de mistura perfeita devido ao alto nível de turbulência fornecida pelo jato de entrada e sua
extensão pode ser controlada por modificadores de fluxo. Além disso, o fluxo fora da zona de
impacto não é puramente fluxo de pistão. Observou-se uma camada superior de líquido se move
em direção ao skimmer e um refluxo de recirculação considerável pode ser notado abaixo desta
camada. Mas, pode-se considerar que o fluxo fora desta região seja majoritariamente de fluxo
do pistão, conforme necessário para a separação metal/escória.
A busca por fluxo do tipo pistão deve ser concentrada na geometria interna do canal de corrida,
uma vez que a produtividade não deve ser prejudicada. As condições para uma melhor
separação podem ser inferidas se a fração de fluxo do pistão, a profundidade da camada de
escória e a lei de Stokes forem levadas em consideração.
A grande emulsificação das fases (ar, escória e gusa) causada pela forte turbulência na região
de impacto é o principal fator para perda de gusa no processo.
Os resultados sugerem que quando se aumenta a vazão total dos fluidos tem-se maior
turbulência na região de impacto do jato, o que acarreta maior grau de mistura das fases e
consequentemente maiores perdas.
A altura da camada de escória atua como uma barreira efetiva na perda de gusa devido à fatores
ocasionados pelas pressões dinâmicas (causadas pelo escoamento de escória) e hidrostática
(altura da camada de escória).
O novo design para canais de corrida de alto-forno se mostrou efetivo na redução da perda de
gusa ocluso na camada de escória. A redução foi de aproximadamente 28% gerando um retorno
de US$266,83 por corrida vazada.
Simulações matemáticas sugerem o fundo do canal de alto-forno, bem como as paredes laterais
ao redor da zona de impacto, e a parte inferior do skimmer como regiões de maiores taxas de
cisalhamento. Dependendo também das reações químicas envolvendo refratários, metal e
escória, essas podem ser regiões de alto desgaste refratário. Contudo, somente estudos
dedicados a este tema podem comprovar os reais mecanismos de desgaste presentes no
processo.
94
7 SUGESTÕES DE TRABALHO FUTURO
Realizar alterações nas alturas do canal secundário de escória e dique de gusa e também na
posição do skimmer de modo a avaliar a influência na eficiência de separação.
95
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