Você está na página 1de 20

eLearning

TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO


Profª Sonia R. Arbues Decoster
TEORIA DA
BUROCRACIA

2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Apresentar as ideias da Teoria da Burocracia no campo da


Administração;
• Compreender pressupostos dessa teoria ligados à obra do sociólogo
Max Weber;
• Compreender como tais ideias exerceram influência nas
organizações.

3
4.2. Racionalidade burocrática
4.3. Vantagens da burocracia
SUMÁRIO
4.4. Disfunções da burocracia
5. Considerações finais
1. Introdução
2. Origens da burocracia
3. Conceitos de autoridade, poder e dominação
3.1. A autoridade tradicional
3.2. Autoridade carismática
3.3. Autoridade legal, racional ou burocrática
4. Conceito de burocracia
4.1. Características da burocracia
4.1.1. Caráter legal das normas e regulamentos
4.1.2. Caráter formal das comunicações
4.1.3. Caráter racional e divisão do trabalho
4.1.4. Impessoalidade nas relações entre as pessoas
4.1.5. Hierarquia da autoridade
4.1.6. Rotinas e procedimentos padronizados
4.1.7. Competência técnica e meritocracia
4.1.8. A especialização da administração é separada da
propriedade
4.1.9. Profissionalização dos participantes
4.1.10. Previsibilidade do funcionamento

4
mais complexos não encontrados nas duas teorias referidas.
• Do surgimento da chamada Sociologia da Burocracia, que
1. INTRODUÇÃO
propõe um modelo integrado de organização a partir da
descoberta dos trabalhos de Max Weber e que passa ser
A Teoria da Burocracia na Administração surgiu a partir de ideias
progressivamente adotado.
presentes na obra de Max Weber (1864 - 1920) ocupando um espaço
deixado vago após as críticas feitas ao mecanicismo que orientava a
Teoria Clássica. Essa lacuna dizia respeito a uma teoria da organização
abrangente que servisse de orientação para o administrador, mas
que superasse algumas limitações também da Teoria das Relações
Humanas. Segundo Chiavenato (2014), a Teoria da Burocracia surge
em meados da década de 1940, diante:

• De problemas oriundos da Teoria Clássica e da Teoria das


Relações Humanas que não possibilitavam uma abordagem
global e integrada dos problemas organizacionais por meio de
um enfoque mais amplo e completo tanto da estrutura como
dos participantes da organização.
• Da necessidade de um modelo de organização racional
que permitisse uma aplicação que não fosse apenas dirigida
somente à fábrica mas a todos os tipos de organização humana.
• De uma nova situação criada, envolvendo das empresas uma
complexidade crescente e que exigiu modelos organizacionais

5
Weber constatou que o capitalismo, a burocracia como forma de
organização e a ciência moderna constituem três tipos de racionalidade
2. ORIGENS DA BUROCRACIA
que surgiram a partir das mudanças religiosas ocorridas nos países
protestantes. Para melhor compreender a burocracia, o sociólogo
De acordo com Chiavenato (2014), as origens da burocracia remontam
estudou os tipos de sociedade e os tipos de autoridade, por meio dos
à época da Antiguidade, ainda como a base do moderno sistema de
quais pôde distinguir três tipos de sociedade (CHIAVENATO, 2014):
produção. Sua origem, de fato, é registrada na fase das mudanças
religiosas ocorridas após o Renascimento. Pode-se dizer que, desde
• A sociedade tradicional: na qual predominam características
seus primeiros formatos, a burocracia caracterizou-se por ser uma
patriarcais e patrimonialistas, como a família, o clã, a sociedade
forma de organização humana baseada na racionalidade, isto é, na
medieval, etc.;
adequação dos meios aos fins pretendidos, a fim de garantir a máxima
• A sociedade carismática: na qual predominam
eficiência possível no alcance de determinados objetivos.
características místicas, arbitrárias e personalísticas, como nos
grupos revolucionários, nos partidos políticos, nas nações em
Em sua obra, Max Weber argumenta que o sistema moderno de
revolução, etc.;
produção, racional e capitalista, não se originou das mudanças
• A sociedade legal, racional ou burocrática: na qual
tecnológicas nem das relações de propriedade, como afirmava Karl
predominam normas impessoais e racionalidade na escolha
Marx, mas de um novo conjunto de normas sociais morais que formam
dos meios e dos fins, como nas grandes empresas, nos estados
o que denominou ética protestante. Esta era marcada pela crença
modernos, nos exércitos, etc.
no trabalho duro e árduo, compreendido como dádiva de Deus, pelo
hábito da poupança e do ascetismo, que proporcionam a reaplicação
das rendas excedentes, em vez do seu gasto e consumo em símbolos
materiais e improdutivos de vaidade e prestígio.

6
Se a autoridade proporciona poder, o poder conduz à dominação. De
acordo com Chiavenato (2014) trata-se de um tipo de relação de poder
3. CONCEITOS DE AUTORIDADE, PODER E DOMINAÇÃO
em que a pessoa que impõe seu arbítrio sobre as demais, acredita ter o
direito de exercer o poder; aqueles que cumprem o que é determinado
De acordo com o pensamento de Weber, a cada tipo de sociedade
por essa pessoa consideram como sua obrigação obedecer suas
corresponde um tipo de autoridade. Conceitualmente ela significa a
ordens.
probabilidade de que um comando ou ordem específica seja
objetivo e representa o poder institucionalizado. Assim:
Weber estabelece uma tipologia da autoridade, baseando-se nas fontes
e nos tipos de legitimidade aplicados. A dominação requer um arcabouço
Poder implica potencial para exercer influência sobre as outras
administrativo, isto é, necessita de um pessoal administrativo para
pessoas. Poder significa, para Weber, a probabilidade de
executar as ordens e servir como ponto de ligação entre o governo e
impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo
os governados. A legitimação e o arcabouço administrativo constituem
contra qualquer forma de resistência. O poder, portanto, é a
os dois principais critérios para a tipologia weberiana, que aponta,
possibilidade de imposição de arbítrio por parte da pessoa
então, três tipos de autoridade legítima: a tradicional, a carismática e a
sobre a conduta das outras. (CHIAVENATO, 2014, p. 258).
racional, legal ou burocrática.

A autoridade proporciona o poder, sendo que isto não é uma via de


3.1. A autoridade tradicional
mão dupla, uma vez que ter poder nem sempre significa ter autoridade.
A autoridade e, consequentemente, o poder que dela decorre depende
Nesse tipo de autoridade, as ordens dos superiores são aceitas
da legitimidade, que é a capacidade de justificar uma determinada ação.
naturalmente, ou seja, são justificadas pelos subordinados porque
A legitimidade é o motivo que explica porque um determinado número
essa sempre foi a forma pela qual as coisas foram feitas. O domínio
de pessoas obedece às ordens de alguém, conferindo-lhe poder. Essa
patriarcal típico do pai de família, do chefe do clã e do despotismo real
aceitação, essa justificação do poder, é chamada legitimação.

7
representa o tipo mais simples de autoridade tradicional. A legitimação do superior com o qual se identificam. Carisma é um termo usado
do poder na dominação tradicional provém da crença no passado anteriormente com sentido religioso, significando uma espécie de dom
eterno, na justiça e na maneira tradicional de se agir. O líder tradicional gratuito de Deus. O sentido do termo próximo ao de Weber tem a ver
é o senhor que comanda em virtude de seu status de herdeiro ou com uma qualidade, até certo ponto indefinível, que ajuda uma pessoa
sucessor. a sobressair-se a outras em uma atitude de vanguarda.

A dominação tradicional – típica da sociedade patriarcal –, quando O poder carismático é um poder sem base racional, é instável e
envolve grande número de pessoas e um vasto território, pode adquire facilmente características revolucionárias. É a autoridade
assumir duas formas de arcabouço administrativo para garantir sua baseada na devoção afetiva e pessoal e no convencimento emocional
sobrevivência. A forma patrimonial, na qual os funcionários que dos seguidores em relação à sua pessoa. A legitimação da autoridade
preservam a dominação tradicional são os servidores pessoais do carismática provém das características pessoais carismáticas do líder
senhor – parentes, favoritos, empregados, etc. – sendo, em geral, e da devoção e do arrebatamento que impõe aos seguidores.
dependentes economicamente dele. A forma feudal, na qual o aparato
administrativo apresenta maior grau de autonomia com relação ao O arcabouço administrativo na dominação carismática envolve um
senhor; nesse tipo de autoridade, aqueles que recebem as ordens, de grande número de seguidores, discípulos e subordinados leais e
que podem ser exemplos os vassalos das sociedades medievais, são devotados, que desempenham o papel de intermediários entre o líder
aliados do senhor e prestam-lhe um juramento de fidelidade. carismático e a massa. Uma equipe pode ser escolhida e selecionada
segundo a confiança que o líder deposita nos subordinados, por
3.2. Autoridade carismática exemplo, sendo que, nesse caso, a seleção não se baseia na
qualificação pessoal nem na capacidade técnica, mas na devoção, na
Quando os subordinados aceitam as ordens do superior como autenticidade e na confiabilidade no subordinado. Se o subordinado
justificadas, por causa da influência da personalidade e da liderança deixa de merecer a confiança, ele passa a ser substituído por outro

8
subordinado mais confiável. Daí a inconstância e a instabilidade do
arcabouço administrativo na dominação carismática (CHIAVENATO,
4. CONCEITO DE BUROCRACIA
2014).

A burocracia é o arcabouço administrativo que corresponde à


3.3. Autoridade legal, racional ou burocrática
dominação legal e que apresenta seu fundamento nas leis e na
ordem social. As regras são escritas e descrevem racionalmente a
Este tipo de autoridade se dá quando os subordinados aceitam as
hierarquia do arcabouço administrativo, os direitos e deveres inerentes
ordens dos superiores porque concordam com um conjunto de preceitos
a cada posição, métodos de recrutamento e seleção, etc. Como
ou normas que consideram legítimos. É o tipo de autoridade técnica,
aponta Chiavenato (2014), na sociedade moderna democrática, a
meritocrática e administrada. A ideia básica fundamenta-se no fato de
burocracia surge como uma organização típica das grandes empresas
que as leis podem ser promulgadas e regulamentadas livremente por
e da estrutura do Estado. Por meio do contrato ou do instrumento
procedimentos formais e corretos. Assim, a obediência deve-se a um
representativo, a relação de autoridade dentro da empresa capitalista
conjunto de regras e regulamentos legais previamente estabelecidos
assume as relações de hierarquia e constitui também os esquemas de
e a legitimidade do poder racional e legal baseia-se em normas legais
autoridade legal.
racionalmente definidas. O povo obedece às leis porque acredita que
elas são decretadas por um procedimento escolhido pelos governados
Weber enfatizou que a propagação da burocracia em organizações de
e pelos governantes.
grande porte, na Igreja, nas universidades, e grandes empresas, que
utilizavam regras racionais e impessoais, colocou o foco dos meios
de administração no topo da hierarquia. Diante disso, o sociólogo
identificou três fatores principais que favoreceram o aparecimento da
moderna burocracia:

9
i. O desenvolvimento de uma economia monetária, pois a de determinados serviços, e que passam, então, a ser sinônimo de
moeda não apenas facilita, mas racionaliza as transações ineficiência. Em suma, o termo burocracia é normalmente associado
econômicas, permitindo a centralização da autoridade e o a determinados defeitos do sistema, embora não necessariamente ao
fortalecimento da administração burocrática; sistema em si como um todo. Conceitualmente, porém, isso está bem
ii. O tipo burocrático de organização tem como essência arcar distante do que Weber propôs e do que pode ocorrer, dentro dessa
com as complexidades e o tamanho de tarefas administrativas matriz, em determinados contextos.
do Estado;
iii. O tipo burocrático de administração serviu como uma força De acordo com Chiavenato (2014), para Max Weber, as características
independente para impor sua soberania na superioridade da burocracia são as relacionadas abaixo:
técnica sobre qualquer outra forma de organização. Isso por
que se registrou uma crescente necessidade de se obter 4.1.1. Caráter legal das normas e regulamentos
controle e perseguir maior previsibilidade no funcionamento
das atividades. A burocracia é uma organização ligada por normas e regulamentos
previamente estabelecidos por escrito. Em outros termos, é uma
4.1. Características da burocracia organização baseada em uma legislação própria que define
antecipadamente como a organização burocrática deverá funcionar.
Segundo Weber, a burocracia caracteriza uma organização eficiente por As normas e os regulamentos são legais porque conferem às pessoas
excelência. É interessante que isso entre em conflito com a imagem que investidas de autoridade um poder de coação sobre os subordinados e
se costuma associar ao termo, que nos remete facilmente a situações os meios coercitivos capazes de impor a disciplina.
de atendimento demorado, a volumosas quantidades de documentos
que se multiplicam, ao apego excessivo de funcionários a regulamentos
e procedimentos que muitas vezes apenas atravancam o andamento

10
4.1.2. Caráter formal das comunicações 4.1.4. Impessoalidade nas relações entre as pessoas

A burocracia é uma organização ligada por comunicações escritas. As A burocracia apresenta um caráter impessoal e, em virtude dele, a
regras, decisões e ações administrativas são formuladas e registradas distribuição das atividades é feita impessoalmente, ou seja, em
por escrito. O caráter formal da burocracia é manifesto pelas ações termos de cargos e funções, não de pessoas envolvidas. O poder de
e procedimentos que são feitos para proporcionar comprovação e cada pessoa é impessoal e deriva do cargo que ocupa, assim como
documentação adequadas. Ela ainda se utiliza de rotinas a partir do a obediência devida ao superior pelo subordinado, que é também
fato de que as comunicações são feitas de forma repetida, de modo a impessoal. A burocracia precisa garantir a sua continuidade ao longo
facilitar o preenchimento de formulários para a sua formalização. do tempo, independentemente das pessoas ocupantes dos cargos e
funções.
4.1.3. Caráter racional e divisão do trabalho
4.1.5. Hierarquia da autoridade
A divisão do trabalho é uma espécie de pré-requisito da racionalidade,
sendo adequada ao objetivo primordial de eficiência na organização. O princípio da hierarquia estabelece que cada cargo inferior deve estar
Convém salientar que a burocracia é uma organização que se sob controle e supervisão de um posto superior e a burocracia é uma
caracteriza por uma sistemática divisão do trabalho, enaltecendo o organização que segue o princípio da hierarquia. Nenhum cargo fica
aspecto racional da burocracia. Com isso, cada participante tem um sem controle ou supervisão. A autoridade é inerente ao cargo, e não ao
cargo específico, funções específicas e uma esfera de competência indivíduo que desempenha o papel oficial. A distribuição de autoridade
e responsabilidade. Importante ratificar, ainda, que cada participante serve para reduzir ao mínimo o atrito e, como as ações de ambos
conhece os limites de sua tarefa, seus direito e poder, de forma a não processam-se dentro de um conjunto mutuamente reconhecido de
interferir na competência alheia nem prejudicar o sistema existente. regras, as ações do subordinado estão protegidas da ação arbitrária
do seu superior.

11
4.1.6. Rotinas e procedimentos padronizados é necessariamente o dono do negócio ou um grande acionista da
organização, mas um profissional especializado na sua administração.
O ocupante de um cargo não faz o que quer, mas o que a burocracia Os meios de produção, isto é, os recursos necessários para
impõe que ele faça. As atividades de cada cargo são executadas de desempenhar as tarefas da organização, não são propriedades dos
acordo com as rotinas e procedimentos e são desempenhadas segundo burocratas. A estrita separação entre os rendimentos e bens privados
padrões definidos, nos quais cada conjunto de ações relaciona-se com e públicos é a característica específica da burocracia e que a distingue
os objetivos da organização. dos tipos patrimonial e feudal de administração.

4.1.7. Competência técnica e meritocracia 4.1.9. Profissionalização dos participantes

Critérios racionais para toda a organização que levam em consideração Cada funcionário da burocracia é um profissional, pois ele:
a competência, o mérito e a capacidade do funcionário norteiam a
admissão, a transferência e promoção dos funcionários, não havendo • É um especialista: cada funcionário é especializado nas
espaço para critérios particulares e arbitrários nesse tipo de decisão. tarefas exigidas pelo seu cargo. Sua especialização varia
Daí a necessidade de exames, concursos, testes, teses e títulos para conforme o nível hierárquico: ao subir a posição na hierarquia,
admissão e promoção dos funcionários. mais generalista ela se torna.
• É assalariado: os funcionários da burocracia participam da
4.1.8. A especialização da administração é separada da propriedade organização e, para tanto, recebem salários correspondentes
ao cargo que ocupam. Quanto mais elevado o cargo na escala
Com a burocracia surge o profissional que se especializa em gerir a hierárquica, maior o salário e, obviamente, o poder. O trabalho
organização. Os membros do corpo administrativo estão separados na burocracia representa a principal ou única fonte de renda do
da propriedade dos meios de produção. Além disso, o dirigente não funcionário.

12
• É ocupante de cargo: o funcionário da burocracia é um funcionário utiliza as máquinas e equipamentos, mas não as
ocupante de cargo e este é a sua principal atividade dentro da possui.
organização, tomando todo o seu tempo de permanência nela. • É fiel ao cargo e identifica-se com os objetivos da empresa:
• É nomeado pelo superior hierárquico: o funcionário é um o funcionário passa a defender os interesses do cargo e da
profissional selecionado e escolhido por sua competência e organização, em detrimento dos demais interesses envolvidos.
capacidade, nomeado (admitido), assalariado, promovido ou
demitido da organização pelo seu superior hierárquico, o qual 4.1.10. Previsibilidade do funcionamento
toma decisões a respeito de seus subordinados.
• Seu mandato é por tempo indeterminado: quando um A consequência desejada da burocracia é a previsibilidade do
funcionário ocupa um cargo dentro da burocracia, o tempo de comportamento dos seus membros. O modelo burocrático de Weber
permanência no cargo é indefinido e indeterminado. parte do pressuposto de que o comportamento dos membros da
• Segue carreira dentro da organização: O funcionário na organização é perfeitamente previsível: todos os funcionários deverão
burocracia, à medida que demonstre mérito, capacidade e comportar-se de acordo com as normas e regulamentos da organização,
competência, ele pode ser promovido para outros cargos a fim de que esta atinja a máxima eficiência possível.
superiores, fazendo do trabalho a sua carreira, ao longo de sua
vida. Tendo como base o supracitado, segue relacionada no quadro abaixo
• Não possui a propriedade dos meios de produção e a essência de cada característica da burocracia.
administração: o administrador administra a organização em
nome dos proprietários, enquanto o funcionário, necessita das Quadro: Características da Burocracia
máquinas e equipamentos fornecidos pela organização para
trabalhar. O administrador administra a organização, mas não Característica da Burocracia Descrição

é o proprietário dos meios de produção, e paralelamente, o Caráter legal das normas e


É uma estrutura social legalmente organizada.
regulamentos

13
Caráter formal das É uma estrutura social formalmente Convém salientar que são as metas coletivas da organização, e não
comunicações organizada.
as dos seus membros individuais, que são levadas em consideração,
É uma estrutura social racionalmente
Caráter racional e divisão do
trabalho
organizada, porque é coerente com os porque quanto mais racional e burocrática torna-se a organização,
objetivos visados.
É uma estrutura social hierarquicamente mais as pessoas tornam-se engrenagens de uma máquina. Esta
Hierarquia da Autoridade
organizada.
racionalidade é denominada funcional.
É uma forma organizacional que fixa as regras
Rotinas e procedimentos
e normas técnicas para o desempenho de
padronizados
cada cargo.
É uma forma organizacional na qual a escolha Para Weber, a racionalidade funcional é alcançada pela elaboração
Competência técnica e das pessoas é baseada no mérito e na
meritocracia competência técnica, e não em preferências
– baseada no conhecimento científico – de regras que servem para
pessoais. dirigir, partindo de cima ao encontro da eficiência. Essa concepção
É uma forma organizacional que se baseia
Especialização da administração de racionalidade fundamenta a teoria de Administração Cientifica, que
na separação entre a propriedade e a
que é separada da propriedade
administração.
almeja a descoberta e a aplicação da melhor maneira de desempenho
É uma forma organizacional que se
Profissionalização dos
caracteriza pela profissionalização dos e de trabalho industrial. Weber usa o termo burocratização que coincide
participantes
participantes.
Tudo na burocracia é estabelecido no mais ou menos com o conceito de racionalização.
sentido de prever antecipadamente todas
Previsibilidade do funcionamento as ocorrências e padronizar e rotinizar sua
execução, para que a máxima eficiência do
sistema seja plenamente alcançada.
PARA SABER MAIS
Apesar de considerar a burocracia a mais eficiente forma
de organização criada pelo homem, Weber temia os
4.2. Racionalidade burocrática
resultados originados pela crescente burocratização do
mundo moderno, como sendo uma ameaça à liberdade
Este é um conceito atrelado à burocracia, Weber o utiliza para permitir
individual e à instituições democráticas (CHIAVENATO,
a adequação dos meios aos fins, que é interpretado como eficiência
2014).
no contexto burocrático. A implementação das metas é possibilitada
por uma organização racional que escolhe os meios mais eficientes.

14
4.3. Vantagens da burocracia tomados nas mesmas circunstâncias;
• Confiabilidade, pois o negócio é conduzido por meio de regras
Segundo Chiavenato (2014), Weber relacionou as seguintes vantagens conhecidas e os casos similares são metodicamente tratados
da burocracia: dentro da mesma maneira sistemática;
• Previsibilidade nas decisões, por ser despersonalizado no
• Precisão na definição do cargo e na operação, pelo sentido de excluir sentimentos emocionais;
conhecimento exato dos deveres; • Benefícios para as pessoas na organização, pois a hierarquia
• Rapidez nas decisões, pelo fato de que cada um conhece o é formalizada, a divisão do trabalho é feito de maneira ordenada
que deve ser feito e por quem; entre as pessoas e estas são treinadas para se tornarem
• Interpretação inequívoca por conta da regulamentação especialistas, podendo seguir carreira na organização em
específica e escrita, sendo que a informação é dirigida apenas função de seu mérito pessoal e competência técnica.
a quem deve recebê-la;
• Uniformidade de rotinas e procedimentos, o que favorece a 4.4. Disfunções da burocracia
padronização, a redução de custos e de erros;
• Perenidade da organização, por meio da substituição do Alguns teóricos constataram algumas consequências imprevistas
pessoal que é afastado; que levaram esse modelo à ineficiência, chamadas de disfunções da
• Critérios de seleção de pessoal baseada na capacidade e não burocracia. Elas demonstram como, em certa medida, a preocupação
competência técnica; excessiva com a previsibilidade de determinados procedimentos
• Redução do atrito entre as pessoas, pois cada funcionário terminam por torná-la uma estrutura ineficiente. Além disso, outro
conhece o que é exigido dele e quais os limites entre suas ponto não previsto por Weber seria a variabilidade do comportamento
responsabilidades e as dos outros; humano dentro da organização, isso porque a burocracia assenta-se
• Constância, pois os mesmos tipos de decisão devem ser em uma visão padronizada do comportamento humano. O autor não

15
chegou a considerar também a presença da organização informal, que
de certa forma, insere algumas variáveis imprevistas da dinâmica nas
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
organizações.

Os princípios burocráticos propostos por Weber com sua Teoria da


Burocracia foram importantes para o contexto das organizações. Com
a finalidade de evitar o caos organizacional e elevar a eficiência de
seus processos, uma série de procedimentos e regras foram criadas a
partir disso. Muitos conceitos presentes nessa teoria, apesar da época
em que surgiram, ainda existem e são aplicados pelas organizações,
com adaptações e melhorias no processo, de modo a acompanhar o
ritmo das organizações formais modernas.

Seguem abaixo considerações de comentadores sobre os


conceitos de Max Weber aqui discutidos:

Tipo ideal: Na Sociologia compreensiva de Max Weber,


um conceito adquire uma relevada importância como uma
ferramenta metodológica de análise: o tipo ideal. Segundo
Weber, o cientista social precisaria construir uma ferramenta
analítica que torne possível comparar realidades diferentes
entre si, mas que guardem certas características em comum.

16
Não seria exatamente possível, por exemplo, comparar a tenha claro que o tipo ideal weberiano não deve ser confundido
economia francesa, a inglesa, a estadunidense, a japonesa com proposições generalizantes, essencialistas e normativas
e a brasileira. Isso porque são realidades muito particulares (do que é ser brasileiro, por exemplo); pelo contrário, é uma
e totalmente diferentes. Por esse motivo, Weber propunha ferramenta que constrói um parâmetro que nos auxilia na
a criação de uma tipologia abstrata, desprovida de caráter compreensão da realidade.
avaliativo, sem as contaminações e imprecisões da realidade.
Mesmo provinda da realidade pelo procedimento indutivo, A ética protestante e o espírito do capitalismo: É
racional, essa ferramenta não deveria se confundir com ela. interessante notar que a análise de Max Weber sobre a
Esse tipo puro ou tipo ideal serviria como um guia para a burocracia como modelo organizacional próprio da sociedade
interpretação da própria realidade e suas variações. Retomando moderna é bem mais conhecida dos estudantes de gestão,
o exemplo, de acordo com essa teoria de Weber, se quisermos sendo abordada em livros de teorias da administração, do
comparar as economias dos países citados acima, eu preciso que seu livro A ética protestante e o espírito do capitalismo.
usar o método indutivo: eu as comparo, observo o que elas têm Nessa obra Weber demonstra como um determinado ethos
em comum, construo um conceito (Capitalismo) e só depois, religioso, o protestantismo, especialmente aquele professado
sim, eu consigo compará-las. Assim, “O Capitalismo” é, na por Lutero e Calvino, representou um lastro importante para o
verdade, um conceito, uma abstração, um tipo ideal que foi desenvolvimento da forma de conduta econômica que é própria
obtido ao se compararem sistemas econômicos de sociedades ao sistema capitalista. Sempre revisitado, o livro é um clássico
capitalistas e, ao mesmo tempo, ele serve de parâmetro para das ciências sociais, considerado um dos mais importantes já
compará-los entre si. O mesmo procedimento pode ser feito escritos no século XX. Ele tem servido de estímulo para influentes
com várias categorias sociais com um certo tom generalizante: sociólogos da atualidade, que empreenderam reflexões sobre
por exemplo, o que é ser “brasileiro”. É importante que se as novas feições do capitalismo contemporâneo. Este é o caso

17
dos livros O novo espírito do capitalismo, dos franceses Luc
PARA SABER MAIS
Boltanski e Eve Chiapello; e A cultura do novo capitalismo, do
estadunidense Richard Sennett.
Especial do G1
sobre inovações de
Ademais, toda uma corrente da Sociologia se desenvolveu nos startups para evitar
burocracia
últimos anos em diálogo com esta obra de Weber e também
de outros clássicos do pensamento sociológico. Trata-se da
chamada Sociologia Econômica, que procura evidenciar como
Matéria do CDTV
os fenômenos econômicos estão enraizados em dinâmicas sobre estratégias
sociais, culturais, religiosas, políticas etc. Tal corrente aborda jurídicas adotadas
por startups
temas centrais para a formação dos administradores, a exemplo
da construção social dos mercados, do empreendedorismo,
entre outros.
PAINEL 1: O que as
startups ensinam
Fonte: JAIME & LUCIO (2017, p. 46). para as grandes
empresas?

18
INDICAÇÕES DE LEITURA OBRIGATÓRIA REFERÊNCIAS

GARTON, E. Sua empresa desperdiça tempo. Saiba CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. 4ª
como resolver isso. Harvard Business Review Brasil. ed. São Paulo: Manole, 2014.

CLIQUE AQUI PARA ACESSAR


JAIME, P.; LUCIO, F. Sociologia das organizações:
conceitos, relatos e casos. São Paulo: Cengage, 2017.
MACHADO, C. A burocracia weberiana e sua
aplicabilidade na administração federal brasileira: os LACOMBE, F.; HEILBORN, G. Teoria geral da
estudos de caso da década de 1970 e dos dias atuais. administração. São Paulo: Saraiva, 2009.
Revista Ensaios, Vol. 9, jul. / dez, 2015.
MAXIMIANO, A C A. Teoria geral da administração:
CLIQUE AQUI PARA ACESSAR
da evolução urbana à Revolução Digital. 7ª d. São
Paulo: Atlas, 2017.

SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São


Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.

WHITE, R. W. Motivation reconsidered. Psychological


Review. Vol. 66, p. 297-333, 1959.

19
© FIPECAFI - Todos os direitos reservados.

A FIPECAFI assegura a proteção das informações contidas nesse


material pelas leis e normas que regulamentam os direitos autorais,
marcas registradas e patentes. Todos os textos, imagens, sons,
vídeos e/ou aplicativos exibidos nesse volume são protegidos pelos
direitos autorais, não sendo permitidas modificações, reproduções,
transmissões, cópias, distribuições ou quaisquer outras formas de
utilização para fins comerciais ou educacionais sem o consentimento
prévio e formal da FIPECAFI.

CRÉDITOS
Coordenação Educacional: Manoel Farias e Jhonatan Hoff
Autoria: Sonia R. Arbues Decoster
Supervisão Geral: Juliana Nascimento
Design Instrucional: Patricia Brasil
Design Gráfico e Diagramação: Aline Silva
Captação e Produção de Mídias: Erika Alves, Vinícius Gomes e
Maurício Leme
Revisão de Texto: Patricia Brasil e Thiago Batista

20

Você também pode gostar